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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS NATÂNIA SILVA FERREIRA

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Academic year: 2021

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ECONOMIA E SOCIEDADE DE UMA CIDADE DO SUL DE MINAS GERAIS:

VARGINHA NA PASSAGEM DO SÉCULO XIX PARA O XX

Fonte:http://www.memoriasdevarginha.com/2010/11/fotos-antigas.html

Varginha/MG 2014

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ECONOMIA E SOCIEDADE DE UMA CIDADE DO SUL DE MINAS GERAIS:

VARGINHA NA PASSAGEM DO SÉCULO XIX PARA O XX

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal de Alfenas, como

requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas com Ênfase em Controladoria.

Orientador: Prof. Dr. Thiago Fontelas Rosado Gambi

Varginha/MG 2014

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ECONOMIA E SOCIEDADE DE UMA CIDADE DO SUL DE MINAS GERAIS: VARGINHA NA PASSAGEM DO SÉCULO XIX PARA O XX

A Banca examinadora abaixo-assinada, aprova a monografia apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas com Ênfase em Controladoria da Universidade Federal de Alfenas.

Aprovada em: Varginha, 04 de FEVEREIRO de 2014

________________________________________________ Prof. Dr. Thiago Fontelas Rosado Gambi

_______________________________________________ Prof. Dr. Bruno Aidar Costa

________________________________________________ Prof. Ms. Roberto Pereira Silva

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“Toda a sabedoria vem do Senhor Deus, ela sempre esteve com ele. Ela existe antes de todos os séculos.” (Eclo 1,1).

“A sabedoria foi criada antes de todas as coisas, a inteligência prudente existe antes dos séculos!” (Eclo 1,4).

Dedico este trabalho para minha mãe e minha irmã

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Agradeço a meus professores, Thiago Fontelas Rosado Gambi e Alexandre Macchione Saes, por todos os conhecimentos que me passaram ao longo da graduação e pelo apoio e atenção que me foram oferecidos durante a realização dessa pesquisa.

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Quando estudamos a formação econômica e capitalista do Brasil na transição do século XIX para o XX, nos deparamos com muitos estudos que destacam a cidade e o estado de São Paulo porque essa região foi a que melhor absorveu as consequências desse modo de produção, sobretudo, devido à introdução da cultura cafeeira, que dinamizou a economia paulista por ter auxiliado o nascimento de comércios, indústrias, ferrovias e bancos. Quando chegamos a Minas Gerais, os estudos geralmente destacam a Zona da Mata porque foi essa região do estado que melhor absorveu os efeitos da economia capitalista em fins do século XIX e início do século XX, também, em grande parte, devido à cultura cafeeira no estado que, assim como ocorreu em São Paulo, dinamizou a economia da zona da Mata na época, embora de forma menos intensa como ocorreu no estado paulista. Entretanto, para o sul de Minas Gerais, os estudos ainda são poucos e menos ainda para as cidades que compõem essa região. Assim sendo, essa pesquisa procurou entender como ocorreu a formação da cidade de Varginha, situada no sul de Minas Gerais, na passagem do século XIX para o século XX. Para entendermos, então, como ocorreu a constituição da cidade, nós utilizamos de documentos históricos, do período de 1881 a 1920 que mostraram, muito detalhadamente, como a cidade nasceu e se desenvolveu. Antes de chegarmos à cidade de Varginha, primeiro procuramos saber, através da historiografia, como aconteceu a formação do sul de Minas Gerais. Posteriormente, escrevemos um pouco sobre a história e a economia da cidade de Varginha, dando destaque para o café, o comércio, as indústrias, os bancos e as ferrovias, que são fatores essenciais quando tratamos do modo de produção capitalista. Após essa etapa, estudamos Varginha através da análise de inventários e, por fim, utilizamos a leitura das atas da Câmara para entender como as decisões dos vereadores afetaram o desenvolvimento da cidade. Com a análise dessas fontes primárias, nós vimos que muitas das decisões que foram tomadas naquela época, tanto pela elite agrária, na forma de investir seu monte-mor, como pelos vereadores em suas reuniões da Câmara, transformaram Varginha numa das mais importantes cidades sul-mineiras, tanto naquele tempo como atualmente.

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When we study the capitalist and economic formation of Brazil in the transition from the nineteenth to the twentieth century, we come across many studies that highlight the city and state of São Paulo because this region was better absorbed the consequences of this mode of production, especially because of the introduction of coffee culture, which has spurred the state economy by having aided the birth of trades, industries, railroads and banks. When we arrived in Minas Gerais, the studies generally highlight the zona da Mata region because it was the region of state that best absorbed the effects of the capitalist economy in the late nineteenth and early twentieth century, too, largely because of the culture coffee in the state, which as well as occurred in São Paulo, dynamized the economy in the Zona da Mata at the period, although less intense form how in the occurred state of São Paulo. However, to the south of Minas Gerais, the studies are still few and even less for the cities that make up this region. Thus, this research sought to understand how occurred the formation of the city of Varginha, located in south of Minas Gerais, in the transition nineteenth to the twentieth century. To understand, then, how occurred the constitution of the city, we use historical documents from the period 1881 the 1920 that demonstrated, in great details, as the city was born and developed. Before we get to the city of Varginha, first we tried to know through history, as happened the formation of the south of Minas Gerais. Subsequently, we write a bit about the history and economy of the city of Varginha, highlighting the coffee, commerce, industries, banks and railroads, which are essential when treating the capitalist mode of production. After this step, Varginha is studied through the analysis of inventories and, finally, we used the reading of the Minutes of the Board for understand how the decisions of aldermen affected the development of the city. With the analysis these primary sources, we saw that many of the decisions that were made at that time, both by landed elite, in the form of investing your lot chancel, as by aldermen at meetings of the Chamber, transformed Varginha in a of the most important cities of southern -mining, both at the time as currently. Keywords: Capitalism. South of Minas Gerais. Varginha.

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Figura 1 - Composição da Riqueza de Matheus Tavares da Silva...28

Figura 2 - Composição da Riqueza de Antonio Justiniano dos Reis...29

Figura 3 - Dívidas Ativas e Passivas de Antonio Justiniano dos Reis e Matheus Tavares da Silva...32

Figura 4 - Alqueires de terras de Matheus Tavares da Silva e Antonio Justiniano dos Reis..33

Figura 5 - Divisão das terras de Matheus Tavares da Silva...34

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Quadro 1 - População Varginhense (1890-1920)...19

Quadro 2 - Composição do Monte-Mor dos Inventariados...28

Quadro 3 - Animais e Quantidades para cada Inventariado...30

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1. INTRODUÇÃO... 10

2. A FORMAÇÃO DO SUL DE MINAS GERAIS... 12

3. HISTÓRIA E ECONOMIA DA CIDADE DE VARGINHA... 16

3.1. Café, Comércio, Ferrovia, Indústrias e Bancos na transição do XIX para o XX.... 20

4. VARGINHA ATRAVÉS DE UM ESTUDO DOS INVENTÁRIOS POST MORTEM (1881 / 1920)... 25

4.1. Elite Agrária na Cidade de Varginha através da Análise de Inventários... 25

5. ATAS DA CÂMARA MUNICIPAL DE VARGINHA (1882 / 1920) – UMA ANÁLISE... 41

5.1. As primeiras Reuniões e Determinações da Câmara de Varginha... 41

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 63

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1. INTRODUÇÃO

Quando observa-se a historiografia para o entendimento da economia brasileira na transição do século XIX para o século XX, nos deparamos com muitos estudos que destacam a cidade e o estado de São Paulo. Autores como Cano1, Cardoso2, Dean3 e Tosi4 escreveram sobre São Paulo na passagem de um século ao outro. Isso ocorre porque nessa época, São Paulo foi o estado brasileiro que mais se desenvolveu economicamente - mesmo que o capitalismo brasileiro seja considerado “tardio”5

- sobretudo devido à introdução da cultura cafeeira no estado. Essa cultura possibilitou que em São Paulo – mais precisamente no vale do rio Paranaíba - se desenvolvesse um “complexo cafeeiro”, que desencadeou as atividades do comércio, da indústria, das ferrovias e dos bancos6. Isso não significa dizer que os cafeicultores se tornaram, eles próprios, comerciantes, industriais ou banqueiros, mas o capital gerado pela economia cafeeira, este sim, teve grande participação na dinamização da economia de São Paulo.

Se pensarmos em Minas Gerais na transição do século XIX para o século XX, observa-se que os autores destacam a região da zona da Mata porque esta, se comparada às outras regiões do estado mineiro, foi a que mais se desenvolveu economicamente no período. Esse desenvolvimento também se deve, especialmente, à cultura do café. Autores como Lanna7, Lima8 e Pires9 mostram a importância do café para a zona da Mata mineira.

Quando chegamos ao sul de Minas Gerais, nota-se que os estudos para a região não são muitos. Entretanto, podemos destacar, por exemplo, Martins e Saes10, Gambi et al11, e

1 CANO, Wilson. Raízes da Concentração Industrial em São Paulo. 1975. Tese (Doutorado em Ciências

Econômicas) - Universidade Estadual de Campinas.

2

CARDOSO, Fernando Henrique. Mudanças Sociais na América Latina. São Paulo: Brasiliense, 1969.

3 DEAN, Warren. A Industrialização de São Paulo. 2 ed, São Paulo: Difel, 1977.

4 TOSI, Pedro Geraldo. FALEIROS, Rogério Naques. TEODORO, Rodrigo da Silva. Crédito e Pequena

Cafeicultura no Oeste Paulista: Franca/SP 1890-1914. RBE Rio de Janeiro v. 61 n. 3 / p. 405–426 Jul-Set 2007.

5

MELLO, João Manual Cardoso de. O Capitalismo Tardio. São Paulo: Brasiliense, 1986.

6CANO, Wilson. Ensaios sobre a Formação Econômica Regional do Brasil. Campinas, São Paulo: Editora

Unicamp, 2002.

7

LANNA, Anna. A transformação do trabalho: a passagem para o trabalho livre na Zona da Mata mineira: 1870-1920. 1985. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Estadual de Campinas.

8 LIMA, João Heraldo. Café e Indústria em Minas Gerais (1870-1920). 1977. Dissertação (Mestrado em

Economia) - Universidade Estadual de Campinas.

9

PIRES, Anderson. Café, Finanças e Bancos: Uma Análise do Sistema financeiro da zona da Mata de Minas Gerais: 1889/1930. 2004. Tese (Doutorado em História Econômica) - Universidade de São Paulo.

10 MARTINS, Marcos Lobato e SAES, Alexandre Macchione. Org(s). Sul de Minas em Transição - A

Formação do Capitalismo na passagem para o século 20. São Paulo: EDUSC, 2012.

11 GAMBI, Thiago Fontelas Rosado et al. O processo de Urbanização no sul de Minas em transição. In: XV

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também Saes et al12. Só que mesmo havendo esses estudos para o sul de Minas Gerais, ainda

há cidades sul-mineiras importantes para a região que não foram profundamente estudadas. Dessa forma, este trabalho tem como meta, primeiramente, analisar como ocorreu a formação da região sul de Minas Gerais na passagem do século XIX para o século XX. Isso será feito para que se possa cumprir, depois, o principal objetivo desse estudo, que é entender o papel da elite varginhense e dos membros da câmara Municipal de Varginha – cidade situada na região sul de Minas Gerais - em seu desenvolvimento econômico e social.

Para tentar entender, então, como se formou a região sul-mineira, vamos utilizar textos que foram escritos sobre essa região. No entanto, para escrevermos sobre a formação da cidade de Varginha e seu desenvolvimento, com ênfase para o papel da elite e dos vereadores varginhenses na evolução de capitalismo, utilizaremos materiais primários, que são inventários post mortem e atas da Câmara Municipal, que vão do período de 1881 a 1920. Os inventários se encontram no Arquivo Municipal da cidade a as atas, no Museu de Varginha. A pesquisa com inventários se mostrou muito relevante para estudar o desenvolvimento da cidade. De aproximadamente 300 documentos, selecionamos os dois que apresentavam os inventariados com o maior monte-mor para que pudesse ser analisada a composição da fortuna desses personagens e como eles influenciaram o processo de formação da cidade.

As atas da Câmara também foram muito relevantes, pois com a leitura e análise desse material, conseguimos observar como as decisões tomadas pelos vereadores e pela sociedade varginhense impactaram no desenvolvimento da economia e da sociedade do município. Foram lidos, aproximadamente, 400 documentos. Esses documentos foram divididos em dois grupos: o primeiro grupo foi formado por atas do período de 1882 a 1892, sendo essas atas fielmente transcritas; já o segundo grupo foi composto pelas atas de 1893 a 1920 e foi feito um resumo de cada uma das atas.

Podemos dizer, sem dúvida, que com os inventários post mortem e com as atas da Câmara, temos a própria história da cidade nas mãos. São documentos primários, originais, que traduzem fielmente os acontecimentos de Varginha na transição do século XIX para o século XX.

12

SAES et al. Sul de Minas em transição: ferrovias, bancos e indústrias na constituição do capitalismo na passagem do século XIX para o século XX. In: XIV Seminário de Economia Mineira. Diamantina: Cedeplar, 2010.

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2. A FORMAÇÃO DO SUL DE MINAS GERAIS

Desde 1737, estava devassado, oficialmente, o Sul de Minas. Oficialmente, em razão do ato possessório de Cipriano José da Rocha, ouvidor da Comarca de São João d’El Rei, quando de sua visita de represália aos quilombos e à deserção do precioso minério, recambiado para São Paulo13.

Embora existissem registros de que a região sul já havia sido visitada em 1737, foi, de fato, 52 anos depois dessa data que ela se constituiu como região independente. A região do sul de Minas Gerais foi emancipada da cidade de Campanha, que recebia o nome de Campanha da Princesa, em 1789.

Localizada originalmente na Comarca do Rio das Mortes, que havia se emancipada da região mineradora central com a fundação de sua sede em São João D’El Rey no ano de 1713, Campanha tornar-se-ia, então, a sede da Comarca do Rio Sapucaí a partir de 1833. Quase que naturalmente, a região que passou a formar a Comarca do Rio Sapucaí teria suas fronteiras delimitadas no Norte pelo Rio Grande e no Sul e Sudeste pelos contrafortes da Mantiqueira. Assim, o berço do Sul de Minas é Campanha, cidade que seria desmembrada ainda na primeira metade dos oitocentos nas cidades de Baependy (1814), Jacuhy (1814), Pouso Alegre (1831), Lavras (1831), Jaguary (1840), Itajubá (1848) (...) Uma dinâmica regional que seria afirmada ainda na primeira metade do século XIX, personificada nos movimentos separatistas liderados pela cidade de Campanha nas últimas décadas do século XIX. Região cujos determinantes avançam aos existentes na urbanização da região mineradora: agricultura e comércio de abastecimento constroem sua identidade e vocação14.

A Comarca do Rio das Mortes já existia em Minas Gerais desde 1822, juntamente com outras três comarcas: Vila Rica, Serro e Rio das Velhas. O nome “Rio das Mortes” deve-se ao fato da comarca ter estado localizada junto a um rio deste nome, que já era conhecido desde o século XVII.

Em 1874, o sul de Minas Gerais contava com oito comarcas. Eram elas Rio Verde, Jaguary, Sapucahy, Cabo Verde, Baependy, Três Pontas, Itajubá e Jacuhy. A região também contava com dezessete municípios.

Já na primeira metade do século XIX, a região do sul de Minas possuía relações comerciais com o Império; na transição do XIX para o XX, as relações entre essa região e São Paulo passariam a se intensificar mais. O sul passaria de uma região que produzia gêneros de abastecimento para uma região voltada para a atividade exportadora, graças à cultura do café.

Foi no último quartel do século XIX que a estrada de ferro chegou à região, juntamente com os bancos, que supriam apenas necessidades pequenas, pois os negócios

13 LEFORT, José Patrocínio do, 1950 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 90.

14

SAES et al. Sul de Minas em transição: ferrovias, bancos e indústrias na constituição do capitalismo na passagem do século XIX para o século XX. In: XIV Seminário de Economia Mineira. Diamantina: Cedeplar, 2010, p. 14/15.

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maiores eram supridos por fontes governamentais ou por bancos do Rio de Janeiro e de São Paulo. E foi nessa época que o capitalismo começou a se desenvolver na região, com o surgimento de pequenas fábricas e a intensificação do setor comercial.

As cidades se caracterizavam por ser de médio porte, com populações entre vinte e quarenta mil habitantes. A partir de 1890, podia ser observado o aumento do número das cidades e a expansão da rede ferroviária. Isso fez com que se aumentasse a capacidade de exportação da região para outros locais vizinhos, mas também ampliava a competição dos mercados locais com produtos importados.

Através dos números, podemos observar o crescimento das cidades sul-mineiras. Entre 1872 e 1920, a região apresentava a maior taxa de crescimento do estado. Em 1920, era a região com a maior população de Minas Gerais, contando com 20% da população mineira. Em 1972, a região concentrava 260 mil habitantes, passando eles para 730 mil em 1907 e, finalmente, para aproximadamente 1 milhão em 1920. Já na observação das cidades individualmente, em 1920, nenhuma delas (considerando-as como núcleos urbanos) apresentava mais de 20 mil habitantes15.

A introdução no café na região, a partir do início do século XX, faria se desenvolver novos municípios16.

(...) juntamente com a ampliação da população (...) era nítido o crescimento do número de cidades. Alfenas, Boa Esperança, Três Corações e Varginha, por exemplo, faziam parte de uma primeira fase de emancipação de municípios, entre as décadas de 1860 e 1880, como resultado da introdução do café na região17.

No ano de 1911, os municípios sul-mineiros aumentariam, passando de 36 para 48. Dessa forma, a região Sul passava a ser mais dinâmica, expandindo suas atividades econômicas, se comparando com outras regiões do estado. Entretanto, desses 48 municípios, apenas 5 apresentavam população entre sete e doze mil habitantes, outros 4 contavam com uma população entre cinco e sete mil habitantes; e 3 apresentavam população entre quatro e cinco mil habitantes18.

Diferentemente da Zona da Mata com Juiz de Fora, da área central a partir da década de 1920 com Belo Horizonte e de Teófilo Otoni para o Vale do Mucuri, a região do Sul de Minas seria marcada por uma profunda fragmentação de sua população em

15GAMBI, Thiago Fontelas Rosado et al. O processo de Urbanização no sul de Minas em transição. In: XV

Seminário sobre Economia Mineira. Diamantina, Cedeplar: 2012.

16

WIRTH, J. D. O Fiel da Balança: Minas Gerais na Federação Brasileira (1889-1937). Rio de Janeiro: Paz e terra, 1982.

17 SAES et al. Sul de Minas em transição: ferrovias, bancos e indústrias na constituição do capitalismo na

passagem do século XIX para o século XX. In: XIV Seminário de Economia Mineira. Diamantina: Cedeplar, 2010, p. 19.

18 GAMBI, Thiago Fontelas Rosado et al. O processo de Urbanização no sul de Minas em transição. In: XV

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cidades pequenas e medianas, sem um centro irradiador das atividades econômicas19.

As ferrovias no sul de Minas chegaram por volta de 1880, mas antes disso já haviam chegado na zona da Mata e no oeste . Vieram por meio de quatro empresas: Estrada de Ferro Rio Verde, que depois passou a ser chamada de Minas e Rio; Viação Férrea Sapucaí; Estrada de Ferro Muzambinho; e Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, está originária de São Paulo, chegou à região sul de Minas Gerais nos primeiros anos do século XX, para atender o Triângulo e o sul. A falta de um centro irradiador para o transporte fez com que, a princípio, na região do sul de Minas houvesse uma integração de suas ferrovias com mercados exteriores, e não entre as próprias cidades da região.

Ainda que provisoriamente, é possível pensar que as ferrovias no Sul de Minas Gerais começaram a se instalar para atender uma região dinâmica e promissora voltada para o comércio de abastecimento do Rio de Janeiro e de São Paulo, e para o plantio e exportação de café. E, mais importante, o que se observa é a constituição do sistema ferroviário com interligação do Sul de Minas com os portos do Rio de Janeiro e Santos, ou com os mercados dos Estados vizinhos, uma modernização do transporte que poderia surgir como condição para fortalecer o mercado interno, mas que ao que parece, surge para estreitar as relações, inclusive de dependência, com outras regiões20.

Surgiram então, no sul de Minas Gerais as primeiras fábricas. Se comparadas com as da zona da Mata e da região metalúrgica, eram mais precárias, geralmente ligadas ao abastecimento ou à economia agrário-exportadora cafeeira e com uma média de quatro funcionários por estabelecimento. Além disso, as indústrias sul-mineiras tinham por característica os empreendimentos familiares, como artesanatos, e os voltados para o ramo alimentício, sobretudo para o consumo local.

Pequenas e rudimentares manufaturas deviam concorrer com os produtos importados de outros estados ou do exterior. A empresa se realiza como um empreendimento familiar, arcaico, distante das características da moderna grande indústria. Nesse sentido, o Sul de Minas tornou-se mais um caso específico dentro do “mosaico” mineiro: uma região historicamente dinâmica, tanto por sua função de abastecimento da corte imperial, como em transformação por causa da expansão das lavouras de café na transição para o século XX, mas que não conseguiu se aproximar do ritmo e da pujança econômica dos estados vizinhos, Rio de Janeiro e São Paulo21. Na década de 1920, a região sul passou a ampliar sua produção industrial, ficando em segundo lugar nesse setor, pois a região metalúrgica estava na primeira posição. Isso ocorreu devido à continuidade de uma estrutura industrial arcaica na metalúrgica e à maior

19 SAES et al. Sul de Minas em transição: ferrovias, bancos e indústrias na constituição do capitalismo na

passagem do século XIX para o século XX. In: XIV Seminário de Economia Mineira. Diamantina: Cedeplar, 2010, p. 19.

20 Idem, p. 22. 21 Idem, p. 17.

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representatividade da indústria do sul na economia industrial mineira. Entretanto – mesmo tendo elevado sua produção industrial, revelando uma maior representatividade na produção industrial mineira e estando em segundo lugar no setor industrial mineiro - a indústria sul-mineira não havia deixado de ser arcaica, pois faltava um mercado consumidor maior e a capacidade de acumulação era reduzida.

Em relação aos bancos da região, o desenvolvimento desse setor seguia o precário desenvolvimento industrial: apesar de no período de 1910 a 1920 ter ocorrido uma significativa expansão do número de bancos no sul de Minas, devido à cultura do café e ao surgimento das ferrovias e das indústrias, o grosso das operações bancárias estava localizado em bancos externos, em cidades como Juiz de Fora (banco de Crédito Real) e Belo Horizonte (banco Hipotecário e Agrícola e banco Comércio e Indústria). Estes três bancos eram responsáveis por aproximadamente 90% dos depósitos em conta corrente de Minas Gerais entre 1920 e 1925. Os bancos do sul de Minas eram pequenos e destinados a atender a comunidade local22.

Embora o desenvolvimento da região sul do estado, na passagem do século XIX para o XX, possa até ser considerado precário, foi nessa época que o capitalismo na região começou a ganhar sua forma. É importante destacar que na transição do século XIX para o século XX, apenas três regiões do estado mineiro passaram por uma transição para o sistema capitalista de produção: o sul, a zona da Mata e o centro.

As transformações nas relações socioeconômicas pelas quais a região passou na transição do XIX para o XX – crescimento e desenvolvimento de cidades, cultivo do café, surgimento das indústrias, intensificação do comércio, desenvolvimento das ferrovias e dos bancos – direcionavam a região para uma maior integralização com mercados externos, fazendo crescer as relações capitalistas de produção23.

E Varginha? No meio das cidades que surgiam no sul de Minas Gerais com a expansão da cultura cafeeira na região, na passagem do século XIX para o XX, nasce, em 1881, Varginha, que primeiramente foi chamada de Espírito Santo das Catanduvas. E é do desenvolvimento econômico e social varginhense e da formação de seu capitalismo, que vamos tratar a partir de agora.

22

COSTA, Fernando Nogueira da. Bancos em Minas Gerais (1889-1964). 1978. Dissertação (Mestrado em Economia) – Universidade Estadual de Campinas.

23SAES et al. Sul de Minas em transição: ferrovias, bancos e indústrias na constituição do capitalismo

na passagem do século XIX para o século XX. In: XIV Seminário de Economia Mineira. Diamantina: Cedeplar, 2010.

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3. HISTÓRIA E ECONOMIA DA CIDADE DE VARGINHA

Deu-se nascente povoado o nome de Catandubas ou Catanduvas que significa “Mato Serrado”, muito encontrado naquela cidade. Em virtude do padroeiro da capela passou a ser chamada de Espírito Santo das Catandubas. Em 1806 o arraial contava com 1000 pessoas. Nesse mesmo ano foi feita a doação do território que constitui o primitivo patrimônio do núcleo em desenvolvimento. Um ano depois foi oficializado o povoado do Espírito Santo, possuindo uma pequena e modesta vila agrícola. Em 1850 foi elevado a freguesia (...) originando o bairro da Vargem situado a 1 km a nordeste do arraial24.

Espírito Santo das Catanduvas se transformaria no município de Espírito Santo da Varginha, em 22/09/1881, pela Lei nº 278525. Um município pode ser definido como uma divisão administrativa de uma região, com autonomia administrativa, possuindo uma Prefeitura e uma Câmara Municipal.

Para se constituir como município, a região precisa apresentar pelo menos 10.000 habitantes, sendo que dessa quantidade, 10% precisam ser eleitores 26. O nome Varginha se origina da situação topográfica da cidade, aproximando-se a uma elevada colina, a um vale anguloso.

Em 07/10/1882, pela Lei nº 2950, o município passou a ser chamado de cidade27. As características de uma cidade são as seguintes:

Aglomeração humana de certa importância, localizada numa área geográfica circunscrita e que tem numerosas casas, próximas entre si, destinadas a moradia e/ou a atividades culturais, mercantis, industriais, financeiras, e a outras não relacionadas com a exploração direta do solo28.

Sales29 fez um esquema sobre a evolução das categorias pelas quais passou Varginha:  1763? – 1807: Povoado – Lugar que reúne poucas pessoas, como um vilarejo ou uma

aldeia.

 1807 – 1850: Curato – Aldeia ou freguesia com uma administração eclesiástica. Cura era o pároco do lugar.

 1850 – 1881: Paróquia (Freguesia) – Além de um maior número de pessoas, havia também uma capela, uma paróquia.

 1881 – 1882: Vila – É uma povoação superior a da aldeia, mas que não chega a ser a população de uma cidade.

24

Varginha - História e Desenvolvimento. Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 9/10.

25

Revista Correio do Sul: 1882 – Espírito Santo das Catanduvas. Varginha, 1982.

26 SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920). Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003. 27 Revista Correio do Sul: 1882 – Espírito Santo das Catanduvas. Varginha, 1982.

28

SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920). Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 197.

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 1881: Município – A região passa a ser uma divisão administrativa do estado, distrito ou região. A partir daí, a localização pode contar com uma Prefeitura e uma Câmara Municipal.

 1882: Cidade – O município passa a ter uma área circunscrita, com numerosas casas, próximas entre si, e lugares destinados a atividades culturais, industriais e sociais.  1890: Comarca – A comarca designa circunscrição judiciária. Dessa forma, a cidade

passa a ter um ou mais juízes de direito.

Muito antes de Varginha se tornar uma cidade e também um município, suas terras já eram povoadas. Alguns anos antes de 1806, o casal Francisco Alves da Silva e Dona Tereza Clara Rosa da Silva adquiriu as terras onde mais tarde se localizaria Varginha. Esse casal vendeu essas terras ao alferes Manoel Francisco de Oliveira no ano de 1806 e mais tarde, essas terras foram doadas a diocese da Campanha30.

Em 1820, Varginha (ainda conhecida como Espírito Santo das Catanduvas) possuía “6 casas de telhas e alguns ranchos de capim, construídos todos próximo à capela, no local onde hoje se vê a Avenida Rio Branco”31. Já em 1870, Varginha contava com 213 casas. No período de 1850 a 1881, foram construídas as primeiras obras destinadas ao serviço público, como prédios para escolas32. Em 1881, Varginha contava com 300 edificações, sendo algumas de dois pavimentos33.

Em 1890, houve a criação do primeiro jornal varginhense, a Gazeta de Varginha. Em 1892, a estrada de ferro que chegava a cidade: era a Estrada de Ferro Muzambinho, que chegou ao município com a ajuda de investimentos financeiros do primeiro presidente da Câmara, Matheus Tavares da Silva.

Em 1892, a cidade contava com 13 ruas, 6 praças, 2 edifícios públicos (sendo um para funções do município, como a cadeia) e 3 igrejas (Matriz, São Sebastião e Rosário). Em 1896 foi fundado o Colégio Varginhense, somente destinado às moças, mas havia também uma escola para rapazes.

No ano de 1899, Varginha contava com um crescente número de casas e, assim, se iniciou o serviço de calçamento na cidade.

Em 1901, graças ao Maestro Marciliano Braga, foi fundada uma banda na cidade: Banda Musical Santa Cruz, que animava as festas religiosas e acontecimentos sociais

30 Idem. 31

Idem, p. 219.

32 SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920). Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003. 33Revista Correio do Sul: 1882 – Espírito Santo das Catanduvas. Varginha, 1982.

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varginhenses. Em 1904, foi inaugurado o Theatro Municipal e, em 1913, a cidade já contava com um sistema telefônico. A luz elétrica, como veremos mais à frente nas atas da Câmara, surgiu em 1914 e o mercado municipal, no ano de 1915.

Esses acontecimentos mostram que a cidade tomava uma dinamização importante para sua modernização. A criação de um jornal, a chegada da estrada de ferro, o aumento do número de ruas e de casas, além da criação de estabelecimentos culturais e educacionais são fatos que mostram avanço do município em seu desenvolvimento econômico e social.

Em 1915 foi criado o primeiro clube de futebol da cidade. Em 1918, a cidade contava com 2.200 casas e aproximadamente 400 prédios. Nesse ano, o Colégio Marista se estabelecia na cidade. Na década de 1920, foi construído o Hotel do Comércio. O primeiro cinema da cidade foi o Cine Brasil.

Na época o cinema era mudo, e o motor que gerava o aparelho cinematográfico era o óleo diesel, e fazia tanto fumaça na sala de projeção que entre uma parte e outra do filme era preciso fazer um intervalo e jogar água na tela, para que a projeção ou a luminosidade melhorasse34.

Na década de 20 surge o Cinema Íris, um empreendimento de imigrantes italianos. Em 1923, foi fundado o Colégio dos Santos Anjos, por três religiosas. Em 1927, empreendido também por italianos, se inaugurou o Teatro Capitólio. A construção demorou dois anos para ficar pronta e foram gastos cerca de 403:000$000 (quatrocentos e três contos de réis)35.

De estilo Toledino foi construído pelos irmãos Antônio e Celestino Pires, cuja planta levantada pelo engenheiro Frizoti Agostini, foi modificada, à pedido da Empresa. Os portões, grades e demais ferragens, foram fabricados na Indústria Navarra por Luiz “Almofadinha”. A decoração da fachada e do interior é atribuída ao italiano Alexandre Vallati36.

Com o desenvolvimento cultural e social da cidade, também crescia sua população. Na verdade, era a população que, com o passar do tempo só aumentava, demandava, cada vez mais, produtos e serviços, fazendo com que Varginha se tornasse, aos poucos, uma importante cidade para toda a região do sul de Minas Gerais.

No quadro abaixo, podemos observar o crescimento da sociedade varginhense, considerando o período de 1890 a 1920:

34 História de Varginha. Disponível em:

<http://www.camaravarginha.mg.gov.br/downloads/historia_varginha.pdf>, p. 20.

35

História de Varginha. Disponível em: <http://www.camaravarginha.mg.gov.br/downloads/historia_varginha.pdf>.

(20)

Quadro 1: População Varginhense (1890-1920) ANO POPULAÇÃO 1890 24.819 1900 29.322 1907 31.417 1908 31.728 1909 32.042 1910 32.359 1911 32.690 1912 20.690 1913 21.029 1914 21.237 1915 21.447 1916 21.659 1917 21.874 1918 22.080 1919 22.309 1920 22.457

Fonte: LEFORT, 1950, p. 130-131 apud SALES, 2003, p. 58

Podemos observer que de 1890 até 1911 a população varginhense aumentou bastante, passando de 24.819 habitantes para 32.690 habitantes nesse período; embora até o ano 1911, se incluísse na população de Varginha os moradores de Carmo da Cachoeira e Elói Mendes. Após esse ano, Elói Mendes foi emancipada e, por isso a população varginhense diminuiu. Carmo da Cachoeira se emancipou de Varginha apenas 37 anos depois da emancipação de Elói Mendes, em 1938.

Aliás, veremos nas atas da Câmara Municipal que cidades e distritos vizinhos, além das citadas Carmo da Cachoeira e Elói Mendes, eram em muitos momentos auxiliados por Varginha. Podemos mencionar Três Pontas, Paraguaçu e Boa Esperança, que receberam recursos varginhenses que ajudaram em seus processos de crescimento.

A partir de 1912, mesmo com a emancipação de Elói Mendes, vimos que a população da cidade de Varginha foi sempre aumentando, embora a uma taxa menor da que se observava anteriormente, até 1911. Todavia, nos dois períodos – de 1890 a 1911 e de 1912 a 1920 - , a população da cidade nunca diminuiu, apenas cresceu.

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Varginha também contou, em fins do século XIX e início do século XX, com elementos que podem ser considerados relevantes quando tratamos formação do modo capitalista de produção em uma região.

Abaixo, vamos tratar um pouco sobre a importância desses fatores para a formação da cidade de Varginha e para a evolução de seu capitalismo.

3.1. Café, Comércio, Ferrovia, Indústrias e Bancos na transição do XIX para o XX

Por volta do fim do século XIX, o mercado do café entrou a expandir-se mais depressa. A procura nos Estados Unidos e na Europa crescia à medida que a industrialização aumentava a produtividade; o café do Brasil, de qualidade inferior, se apropriava ao consumo das massas. O transporte tornou-se mais barato e mais seguro a proporção que os vapores de casco de ferro passaram a seguir as rotas marítimas do Atlântico Sul. O sistema comercial foi-se tornando mais eficiente e mais amplo à medida que se estendiam os cabos submarinos, se fundavam as casas importadoras e se iniciavam as operações bancárias ultramarinas. São Paulo [o Estado brasileiro que mais se beneficiou com modernização econômica que teve início com a introdução do café no Brasil] passou a experimentar a mesma eufórica prosperidade que se registrava simultaneamente em outras partes da América Latina37.

Café, primeiramente, e comércio, indústrias, ferrovias e bancos são componentes essenciais quando tratamos do processo de modernização e urbanização do Brasil, pois esses elementos possibilitaram o desenvolvimento do capitalismo em nosso país.

No fundo, foi o café o grande responsável pelo processo de industrialização do Brasil porque a maioria dos comércios, das indústrias e das construções de ferrovias, sobretudo no estado de São Paulo, ocorreram devido à produção, comercialização interna e exportação do café. O capital gerado pela economia cafeeira financiou muito de nosso processo de crescimento. Além desses fatores, o trabalho assalariado também é condição importantíssima para a sobrevivência do sistema capitalista em qualquer região.

Muitos autores, dentre eles Celso Furtado38, Caio Prado Júnior39, Werner Baer40 e Sérgio Silva41, estudaram o processo de formação do Brasil, destacando o café, as indústrias e as ferrovias.

O comércio do café não gerou apenas a procura da produção industrial: custeou também grande parte das despesas gerais, econômicas e sociais, necessárias a tornar proveitosa a manufatura nacional. A construção de estradas de ferro proveio, toda ela da expansão do café. As linhas foram construídas pelos próprios plantadores com

37

DEAN, Warren. A Industrialização de São Paulo. 2 ed, São Paulo: Difel, 1977, p. 9.

38

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22 ed, São Paulo: Editora Nacional, 1987.

39 JÚNIOR, Caio Prado. História Econômica do Brasil. 43 ed, São Paulo: Brasiliense, 2012.

40 BAER, Werner. A Industrialização e o Desenvolvimento Econômico no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação

Getúlio Vargas, 1966.

41 SILVA, Sérgio. Expansão Cafeeira e Origens da Indústria no Brasil. 3ª reimpressão, São Paulo: Alfa

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os seus lucros ou por estrangeiros seduzidos pela perspectiva do frete do café (...). As primeiras fábricas também se viram incalculavelmente beneficiadas pela transformação social já operada pelo café, em particular pela mão-de-obra, assim imigrante como nativa, afeita à necessidade do trabalho constante (...). O surto do café proporcionou o movimento (...) indispensável para que a industrialização se processe e para que sejam superadas as resistências inerentes às economias estagnadas42.

Também em Minas Gerais e no sul do estado mineiro, foram esses fatores – o café, o comércio, as indústrias, as ferrovias, os bancos e o trabalho assalariado – que auxiliaram no processo de modernização e urbanização da região. No caso de Varginha, os fatores citados acima também tiveram sua importância no processo de formação do capitalismo na cidade.

A cultura do café foi introduzida no município por volta de 1870. Veremos agora o que alguns escritores locais do século XX mencionavam sobre o café em Varginha:

As terras do município são ubérrimas e prestam-se a qualquer cultura. (...) O município de Varginha é o verdadeiro Eldorado do Café do Sul de Minas, sendo esta preciosa rubiácea muito conhecida e apreciada em todos os mercados – nacionais e estrangeiros – pela sua excelente qualidade que igual não se encontra em parte nenhuma43.

Sobre a ascensão da cultura:

O café constitui a principal fonte de riqueza do município. Depois (...) da Zona da Mata, Varginha é o município do Estado de Minas que mais café exporta, com a diferença que por sua qualidade, o Café “Varginha” é reputado único e excepcional (...). O grau de desenvolvimento a que atingiu a lavoura do café neste próspero município, deve-se à prodigiosa fertilidade da terra, cuja composição química mais homogênea e resistente à vida do cafeeiro, faz que se avantaje até mesmo a terra cafeeira por excelência, que é São Paulo44.

O café foi, pelo que se vê com essas citações, a primeira grande riqueza de Varginha e os elogios a cultura na cidade continuam:

O nosso café, de tão excelente qualidade, é superior a todo o congênere do Brasil, café especialmente encomendado pelos mercados consumidores do velho continente, ante a sua qualidade superlativa e seu aprimorado beneficiamento, chegando ao requinte de alguns importadores de Gênova exigir café de Varginha e da Fazenda tal, como acontece com o café tipo Emilio, da propriedade agrícola do Cel. Emílio de Rezende (...) A cultura do café dilata-se por todo o município, cultivada com esmero e ótimos resultados pecuniários, mantendo, em trabalho permanente pelas fazendas, numerosas colônias, que fazem o operariado valoroso do seu progredimento, refletindo-se, na ampliação da cidade e seu desenvolvimento, como consequência da prosperidade agrícola45.

42

DEAN, Warren. A Industrialização de São Paulo. 2 ed, São Paulo: Difel, 1977, p. 14/15.

43 CAPRI, Roberto, 1918 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920). Varginha:

Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 284.

44

Idem.

45 FONSECA & LIBERAL, 1920 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

(23)

Em 1893, se inaugurou no município a primeira máquina de beneficiar café. Aliás, o desenvolvimento do café foi muito importante para a atividade comercial no município. Foi o café o produto que deu forças para o nascente comércio da cidade, na transição do século XIX para o século XX.

A atividade do comércio do café era intensa e, graças ao sucesso da cultura no município, em 1920, Varginha já contava com 113 estabelecimentos de beneficiar café, “tendo eles produzido 23.916 quintais, nos seus 4.394.000 pés de café”46

.

O café foi um produto de suma importância para Varginha, a primeira grande riqueza da cidade. Porém, não era o único bem cultivado em Varginha. Na verdade, antes do café, já se cultivava cana-de-açúcar município.

Bem cedo, no alvorecer de sua vida, os alcantis das serras e as depressões marginais do Rio Verde revelaram o alto coeficiente da cana-de-açúcar. Eram os engenhos, dia e noite trabalhando pelo braço escravo; eram os fazendeiros, enriquecendo-se com o amanho da terra, ubertosa e fecunda; era a aurora de um grande dia, esparramando sua luz benéfica no decurso da história varginhense47.

Além do café e da cana-de-açúcar, em Varginha também se cultivavam outros cereais, basicamente o milho e o feijão, para o consumo local.

Passando agora para o comércio, os estabelecimentos varginhenses serviam não apenas a cidade de Varginha, mas também a outros municípios vizinhos.

O comércio de Varginha pode ser considerado o mais importante de todo o Sul de Minas, pois importantes casas atacadistas servem as praças de Elói Mendes, Três Pontas, Dores de Boa Esperança, Campos Gerais, Paraguaçu, Carmo da Cachoeira e Vila Nepomuceno (...). O comércio de Varginha é representado por casas atacadistas muito importantes. Pode-se afirmar, sem receio de exagero, que Varginha é o grande empório comercial do sul-mineiro48.

Os primeiros estabelecimentos comerciais vendiam artigos diversos. Um mesmo estabelecimento vendia, por exemplo, farinha de trigo, cal, sal, querosene, açúcar, arroz, arame farpado e outros produtos.

A cidade contava, também, com estabelecimentos comerciais diversos para a época: eram farmácias, consultórios médicos, comércios de venda por atacado e varejo, salões de barbeiros e cabeleireiros, alfaiatarias, hotéis, pensões, oficinas de sapateiros, selarias, dentistas, açougues, relojoarias, depósitos de mobílias, atelier de fotografias e de costura. Entretanto, essa diversidade não implicava grande quantidade desses estabelecimentos.

46 LEFORT, José Patrocínio do, 1950 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 285.

47

Idem, p. 286.

48 RUBIÃO, Luis José Álvares, 1919 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

(24)

A atividade da pecuária também merece ser lembrada, apesar de não ser tão relevante como a agricultura e o comércio:

A indústria pastoril tem-se desenvolvido na inverna ou engorda de bois oriundos de outros pontos do Estado, o triângulo mineiro preferente, sendo pouco desenvolvida a criação vacum, que se faz ultimamente com seleção de raças, entre as quais prevalecem o caracú e o zebú (...)49.

Todavia, havia no município muitas fazendas que se dedicavam à criação de gado. Dados da época mostram em números as criações50:

 Gado vacum (bois, vacas e touros): 22.000 cabeças.  Gado suíno (porcos domésticos): 45.000 cabeças.  Gado cavalar (cavalos): 8.400 cabeças.

 Lanígero e caprino (ovelhas e cabras):10.000 cabeças.

Depois das atividades agropecuárias, destacamos o surgimento da ferrovia em Varginha, que foi um marco muito importante para o desenvolvimento econômico da cidade e da região sul de Minas Gerais.

É indubitável que a passagem da via férrea por Varginha contribuiu enormemente para o desenvolvimento da cidade e da região. No entanto, a notícia da inauguração recebeu apenas uma pequena nota, sem título, no Minas Gerais, órgão oficial dos poderes do Estado, coluna “Várias Notícias’, em 30 de maio de 1892: “Foi inaugurada a Estação da Varginha, da Companhia Muzambinho”51.

Depois de vermos a importância da cultura cafeeira e do comércio para Varginha e cidades vizinhas, além da chegada da ferrovia, passaremos às indústrias. A primeira indústria varginhense surgiu em 1893: a fábrica de vinho produzia 5 pipas anualmente, sendo 300$000 (trezentos mil réis) cada uma. As 5 pipas produzidas por ano correspondiam a 2.486.000 litros de vinho, que era consumido localmente. Além da fábrica de vinho, em 1893, Varginha contava com uma fábrica de meias de lã.

O café, que era o principal produto de exportação do município, também estava diretamente ligado a indústria. “Entre os principais estabelecimentos industriais, destacam-se os destinados ao beneficiamento e rebeneficiamento do café, todos localizados em proximidade da estação férrea de Varginha52”.

49 FONSECA & LIBERAL, 1920 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 289.

50

RUBIÃO, Luis José Álvares, 1919 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920). Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 289.

51 SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920). Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p.

180.

52 RUBIÃO, Luis José Álvares, 1919 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

(25)

Além desses estabelecimentos, se destacavam as indústrias de: aguardente, rapadura, manteiga, e as oficinas mecânicas. Havia também fábricas de gelo, de balas e caramelos, de bebidas, as serrarias e carpintarias; as máquinas de aluguel de beneficiar arroz, as oficinas de ferreiros, as padarias e uma fábrica de banhas.

Fator também importantíssimo para o progresso de qualquer região é o desenvolvimento das instituições bancárias. “Como elementos propulsionadores do grande comércio varginhense, que se irradia por grande extensão do sul do Estado, de modo a dar-lhes merecidamente a primazia comercial, conta a cidade dois magníficos estabelecimentos”53

.

Em 1915, foi inaugurada na cidade uma agência do Banco Hypotecário e Agrícola do Estado de Minas Geraes. Também foi inaugurada nessa época uma agência do Banco do Brasil.

As necessidades crescentes de nossa lavoura, o movimento sempre em progressão do nosso comércio, o lugar em destaque que gozava no Sul de Minas, Varginha, como centro produtor e comercial do café, vinha de longa data exigindo um estabelecimento de crédito nesta praça. É admirável, como pode esta cidade, com uma pletora enorme de capitães, com um recorgitamento crescente de economias, com um vai-vem contínuo de transações, sustentar toda uma enorme circulação fiduciária sem uma casa bancária54.

Vimos então, com a ajuda da historiografia, como Varginha passou de um arraial a uma cidade na transição do século XIX para o século XIX, observando seu crescimento urbano e modernização, com o aumento do número de ruas e casas, além da introdução e importância do café para a cidade na época. Chegamos também a observar algumas características dos comércios, das primeiras fábricas, a chegada da ferrovia e os bancos no município.

A elite agrária da cidade também foi muito importante para seu progresso. Fazendeiros, plantadores de café e negociantes ajudaram Varginha a fazer sua história. A seguir, vamos analisar a fortuna dessa elite, mostrando no que ela investia seu dinheiro e analisando a contribuição que ela forneceu para o progresso varginhense.

Depois, veremos alguns dos principais acontecimentos da cidade por meio das atas da Câmara e entenderemos como os vereadores e a sociedade varginhense almejavam seu crescimento e desenvolvimento econômico e social.

53 FONSECA & LIBERAL, 1920 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 281.

54 RUBIÃO, Luis José Álvares, 1919 apud SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920).

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4. VARGINHA ATRAVÉS DE UM ESTUDO DOS INVENTÁRIOS POST MORTEM (1881 / 1920)

Os documentos históricos fornecem informações muito valiosas a respeito de uma determinada região. As fontes primárias que utilizamos para reconstruir a história econômica de Varginha na transição do século XIX para o XX - que são os inventários post mortem a as atas da Câmara Municipal, do período de 1881 a 1920 – possuem muitos detalhes sobre o que foi Varginha naquela época, além de nos auxiliar no entendimento do que vem a ser a cidade atualmente.

A análise desses documentos serve para complementar o que já escrevemos sobre a história e economia da cidade. De aproximadamente 300 inventários, selecionamos os dois que possuíam o maior monte-mor, ou seja, a maior riqueza, sendo os inventariados então, os moradores que formariam a elite varginhense da época. Com os inventários, que se encontram depositados no Arquivo Municipal de Varginha, observa-se como as atividades desempenhadas por essa elite contribuíram para a evolução do processo de modernização de Varginha.

4.1. Elite Agrária na Cidade de Varginha através da Análise de Inventários

O desenvolvimento econômico da cidade de Varginha, a partir de 1881, pode ser analisado através de importantes personagens da cidade, que foram responsáveis por algumas das transformações econômicas e sociais do município.

Um inventário é um documento histórico que estrutura fatos sobre a vida e os bens do inventariado. Quando o chefe ou a chefe de uma família falecia, os membros da família que restavam – o marido ou a esposa, os filhos e netos ou outros parentes – geralmente requeriam parte da herança deixada. Dessa forma, se estruturava um inventário55. Esse documento é composto por alguns elementos principais:

a) Título de Herdeiros: São listados, nessa parte, os nomes de todos os membros da família que vão dividir a herança deixada pelo(a) falecido(a). Essa listagem ocorre de uma forma bastante minuciosa na maioria dos inventários, pois além do nome do(a) herdeiro(a), era descrito pelo escrivão a idade desses herdeiros, se eram casados ou solteiros e onde residiam.

55Para mais detalhes sobre e definição de um inventário, ver: PINSKY, Carla Bassanezi et al. Fontes Históricas.

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b) Testamento: Em alguns inventários, não em todos, era descrito o Testamento deixado pelo(a) inventariado(a).

c) Descrição dos Bens: Nessa parte, todos os bens do(a) inventariado(a) eram descritos, com seus respectivos valores e quantidades. Os principais eram bens móveis, bens imóveis, animais, escravos (que eram considerados como mercadorias), dívidas ativas e passivas.

d) Soma dos Bens: Depois que eram descritos os bens, era feita uma soma de cada categoria. Eram obtidos os valores totais dessas categorias e se obtinha o monte-mor, que pode ser definido como a totalidade, em valores monetários, de todos os bens que possuía o(a) inventariado(a). Compunham o monte-mor os bens móveis e imóveis, além dos animais, os escravos e as dívidas ativas. Assim, o valor das dívidas passivas era retirado do monte-mor, juntamente com os impostos e as “custas” com a morte do(a) inventariado(a). O valor que sobrava se chamava monte-partível, que era o valor real que seria dividido entre os familiares. Esse valor era dividido em duas partes iguais, o que se denominava “meação”. A esposa, ou o esposo, ficavam com uma das partes e a outra era dividida entre os demais herdeiros, cada um deles receberia então a sua “legítima”. Caso o cônjuge já tivesse morrido, o valor do monte partível seria diretamente dividido entre os herdeiros sem a necessidade da meação.

e) Divisão dos Bens: Depois da contagem a avaliação dos bens, estes eram divididos entre os familiares. E novamente, se descrevia nos inventários, de forma muito detalhada, que bens seriam destinados a cada um dos herdeiros.

Então, citados acima, foram os principais elementos que compõem um inventário. De aproximadamente 300 inventários de Varginha para o período de 1882 a 1920, dois foram selecionados e serviram para nos auxiliar a mostrar as transformações econômicas ocorridas no município nesse período inicial do seu crescimento. O major Matheus Tavares da Silva e o coronel Antonio Justiniano dos Reis foram pessoas importantes para sociedade varginhense. Matheus Tavares da Silva foi o primeiro presidente da Câmara da cidade, logo em 1882. Varginhense, fazendeiro, comerciante e negociante, ele foi um dos primeiros plantadores de café da região. Com a ajuda de seus investimentos, a primeira ferrovia foi instalada em Varginha, no ano de 1892.

Matheus Tavares da Silva teve atitude contrária, ele não comente quis que a ferrovia passasse por Varginha mas arrumou com recursos financeiros próprios a efetivação

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desse projeto (...). O projeto inicial da Rede Mineira de Viação, responsável pela construção da ferrovia, não previa a passagem por Varginha56.

Como foi visto, a ferrovia passaria por outra cidade, se não fosse a ajuda financeira oferecida por Matheus Tavares. O major investiu 100:000$000 (cem contos de réis) nas obras. Ele possuía uma parte da ferrovia, já que ajudou financeiramente para que ela passasse pela cidade. Uma parte de seu inventário continha a informação: “Declarou mais o inventariante que o espólio possui uma cautela da Estrada Muzambinho”57. Essa “cautela” da estrada correspondia a 50:000$000 (cinquenta contos de réis).

Abaixo segue uma foto da chegada da ferrovia em Varginha, no ano de 1892:

Chegada do trem a Varginha, na inauguração da linha em 1892, pela Estrada de Ferro Muzambinho. Como pode ser visto pela imagem, o número de pessoas que foi prestigiar a novidade na cidade era grande.

(http://www.blogdomadeira.com.br)

O monte-mor de Matheus Tavares da Silva correspondia a 443:079$264 (quatrocentos e quarenta e três contos, setenta e nove mil e duzentos e sessenta e quatro réis). Ele faleceu em Varginha, em 1905, deixando dois filhos e cinco netos. Como sua esposa também já havia falecido, seu inventariante foi seu genro, o capitão Antonio Justiniano de Paiva.

Já Antonio Justiniano dos Reis era coronel e, com um monte-mor de 315:874$166

56

SALES, José Roberto. Espírito Santo da Varginha (1763 – 1920). Varginha: Gráfica Sul-Mineira, 2003, p. 182.

(29)

(trezentos e quinze contos, oitocentos e setenta e quatro mil e cento e sessenta e seis réis) – a segunda maior herança do município no período de 1881 a 1920 – foi importante fazendeiro do município de Carmo da Cachoeira. Faleceu em 1918, deixando onze filhos e a esposa, Dona Idalina Elisa da Costa Reis, que foi sua inventariante.

A composição do patrimônio dos dois personagens inventariados pode ser melhor entendida no quadro e nas figuras apresentados abaixo, que contemplam as porcentagens e valores dos bens:

Quadro 2Composição do Monte-Mor dos Inventariados

COMPONENTE Matheus Tavares da Silva % Antonio Justiniano dos Reis % Bens Móveis 21:524$340 4,85 13:970$000 (incluindo animais) 4,42

Bens Imóveis 282:277$500 63,70 235:631$250 74,60

Animais 10:010$000 2,25 __________ ____

Dinheiro 70:786$670 16,00 __________ ____

Dívidas Ativas 58:480$754 13,20 66:272$916 20,98

Total (Monte-Mor) 443:079$264 100 315:874$166 100

Fonte: Elaboração própria a partir de dados extraídos dos Inventários de Matheus Tavares da Silva (1905) e Antonio Justiniano dos Reis (1918)

A seguir, os gráficos dão uma ideia do que cada componente ou cada categoria de bens representava dentro da riqueza total de cada um dos inventariados:

Figura 1 – Composição da Riqueza de Matheus Tavares da Silva

Fonte: Elaboração própria a partir de dados extraídos do inventário de Matheus Tavares da Silva (1905) 4,85% 2,25% 63,70% 16,00% 13,20% Bens Móveis Animais Bens Imóveis Dinheiro Dívidas Ativas

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Figura 2 – Composição da Riqueza de Antonio Justiniano dos Reis

Fonte: Elaboração própria a partir de dados extraídos do inventário de Antonio Justiniano dos Reis (1918)

Vamos agora observar o que se compreendia em cada componente do monte-mor dos dois inventariados:

1. BENS MÓVEIS

Geralmente, compõem os bens móveis as mobílias de dentro das casas, como mesas, cadeiras, sofás, bacias, tachos, pratos e talheres; além desses, joias, máquinas de beneficiar café e carros de bois. Esses bens estavam presentes no inventário de Matheus Tavares da Silva, entretanto, no inventário de Antonio Justiniano dos Reis, o único bem móvel descrito era um carro de bois. Certamente, existiam outros bens móveis que não foram contabilizados ou descritos no inventário, ou ainda, esses bens móveis podem ter sido contabilizados junto com as casas do inventariado, que estão nos bens imóveis58.

A porcentagem da fortuna dos dois inventariados aplicada em bens móveis era parecida (4,85% para Matheus Tavares da Silva e 4,42% para Antonio Justiniano dos Reis),

58

O valor de 4,42% da riqueza de Antônio Justiniano dos Reis que se destinava aos bens móveis se deve, principalmente, ao número e valor dos animais do inventariado já que o único bem móvel descrito no inventário foi um carro de bois, que valia 50$000 (cinquenta mil réis). Entretanto, não podemos simplesmente retirar o valor de 50$000 do bem móvel e dizer que o restante se deve aos animais porque o valor encontrado para esta categoria no final do inventário, na página do monte-mor, era de 13:970$000 (treze contos, novecentos e setenta mil réis), diferente do encontrado ao final da contabilização dos animais, quando foi feita a descrição, que era de 11:530$000 (onze contos, quinhentos e trinta mil réis). Mesmo que somássemos o valor do carro de bois no valor total dos animais, o valor total não corresponderia ao final, de 13:970$000, e sim a 11:580$000 (onze contos, quinhentos e oitenta mil réis). Alguns erros desse tipo são vistos em alguns inventários, quando a soma do que estava descrito não corresponde fielmente a soma apresentada no final do inventário.

4,42% 74,60% 20,98% Bens Móveis (incluindo animais) Bens Imóveis Dívidas Ativas

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todavia, no inventário de Antonio Justiniano dos Reis, os animais foram contabilizados juntamente com os bens móveis. Como apenas um carro de bois foi contabilizado como bem móvel no inventário do coronel, essa porcentagem foi parecida para os dois inventariados, sobretudo devido o valor dos animais.

2. ANIMAIS

Os animais comuns aos dois inventariados eram: bois de carro, novilhos, vacas, cavalos, touros e burros.

No quadro abaixo se torna mais fácil o entendimento das criações que possuíam os dois inventariados:

Quadro 3 – Animais e Quantidades para cada Inventariado

Fonte: Elaboração própria a partir de dados extraídos dos Inventários de Matheus Tavares da Silva (1905) e Antonio Justiniano dos Reis (1918)

Descrição dos Animais Quantidades Matheus Tavares da Silva Antonio Justiniano dos Reis Bois de carro 58 24 Bois 0 1 Novilhos de carro 14 0 Novilhos (as) 20 0 Vacas 33 22 Novilhas e Vacas 0 24 Cavalos 10 07 Touros 4 1 Bezerros 0 56 Garrotes 0 50 Burros 6 2 Éguas 26 0 Porcos 18 0 Leitões 20 0 TOTAL 209 187

(32)

Apenas 2,25% do monte-mor de Matheus Tavares da Silva estava aplicado em animais. Para o caso de Antonio Justiniano dos Reis, como vimos, os animais foram contabilizados juntamente com os bens móveis, sendo sua porcentagem de 4,42% da riqueza. Alguns bens móveis de Antonio Justiniano dos Reis, como já dissemos, podem ter sido contabilizados junto com as casas que a família possuía.

3. DINHEIRO

O dinheiro, que se apresenta apenas no inventário de Matheus Tavares da Silva, correspondia a 16% de seu patrimônio, ou seja, 70:786$670 (setenta contos, setecentos e oitenta e seis mil e seiscentos e setenta réis), um valor importante, se comparado com os outros componentes do monte-mor. Estava em poder do inventariante, seu genro, e seria dividido juntamente com os outros bens na partilha aos herdeiros. No inventário não havia especificação sobre a espécie do dinheiro, mas acredita-se que seja papel-moeda.

Em alguns poucos inventários havia dinheiro disponível, que se encontrava com algum outro membro da família e que passava a fazer parte do monte-mor para depois ser dividido entre todos quando da partilha dos bens.

4. DÍVIDAS ATIVAS E PASSIVAS

As dívidas ativas de Matheus Tavares da Silva correspondiam a pouco mais de 13% do seu monte-mor, mas não se viu no inventário, descrição dessas dívidas. Já as dívidas ativas referentes ao coronel Antonio Justiniano dos Reis eram compostas por Apólices da Dívida Pública, e correspondiam a quase 21% de seu monte-mor. As dívidas passivas não fazem parte do monte-mor, e geralmente elas precisam ser pagas pela família do inventariado, antes que seja dividida a herança. Do valor total do monte-mor, se subtraem as dívidas passivas, as custas e alguns outros impostos. Assim se obtém o monte-partível, que é a herança a ser dividida entre os familiares do requerido.

No inventário de Antonio Justiniano dos Reis não foi identificada nenhuma dívida passiva, mas certamente elas existiam porque pela análise de seu inventário, retirando-se do monte-mor as custas e os impostos, um valor de aproximadamente 61:000$000 (sessenta e um contos de réis) ficava sem explicação. Esse valor, provavelmente, seria das dívidas passivas. Já para Matheus Tavares da Silva, o valor correspondente às dívidas passivas era de 69:656$775 (sessenta e nove contos, seiscentos e cinquenta e seis mil e setecentos e setenta e cinco réis). O valor dessas dívidas era pouca coisa menor que o valor do dinheiro que estava em poder do inventariante, que correspondia a 70:786$670 (setenta contos, setecentos e oitenta

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e seis mil e seiscentos e setenta réis), e bastante maior que a riqueza de muitos moradores varginhenses da época.

No gráfico abaixo podemos ver uma comparação entre as dívidas ativas e passivas de cada inventariado59:

Figura 3 – Dívidas Ativas e Passivas de Antonio Justiniano dos Reis e Matheus Tavares da Silva

Fonte: Elaboração própria a partir de dados extraídos dos inventários de Matheus Tavares da Silva (1905) e Antonio Justiniano dos Reis (1918)

No caso de Antonio Justiniano dos Reis, as dívidas ativas eram pouca coisa maior do que as dívidas passivas. Já observando o caso de Matheus Tavares da Silva, vemos que as dívidas passivas existem em quantidade maior que as dívidas ativas.

Esse gráfico serve para mostrar que, mesmo a elite da cidade de Varginha tendo investido seu patrimônio, especialmente, em bens imóveis, ela mantinha dinheiro emprestado a terceiros, mas também pedia emprestado a terceiros. Essa era uma forma de articulação da riqueza desses personagens, pois mostra que havia preocupação em fazer com que o dinheiro circulasse na economia, talvez até para fora de Varginha, rendendo juros para os inventariados que mantinham esses empréstimos.

59 Assumimos, por hipótese, a partir da observação no inventário, que as dívidas passivas de Antonio Justiniano

dos Reis equivaliam a 61:000$000.

54,36% 47,93%

45,64%

52,07%

Matheus Tavares da Silva Antonio Justiniano dos

Reis

40% 45% 50% 55% 60%

DÍVIDAS ATIVAS

(34)

5. BENS IMÓVEIS

Deixamos por último os bens imóveis, por serem os que mais se destacam na totalidade da fortuna dos dois inventariados. Dentre os bens imóveis dos inventariados estão casas de morada (na zona rural e nas cidades, particularmente Varginha e Carmo da Cachoeira), casas de empregados, terras virgens, terras com culturas e fazendas.

Mais detalhadamente, vamos analisar a composição desses bens imóveis. Matheus Tavares da Silva investia 63,70% de sua riqueza nos bens imóveis, o que correspondia a 282:277$500 (duzentos e oitenta e dois contos, duzentos e setenta e sete mil e quinhentos réis) de seu monte-mor e Antonio Justiniano dos Reis investia 74,60% de sua riqueza em bens imóveis, o que representava 235:631$250 (duzentos e trinta e cinco contos, seiscentos e trinta e um mil e duzentos e cinquenta réis) de seu patrimônio.

Matheus Tavares da Silva detinha uma extensão territorial de 1.413,50 alqueires de terras e, Antonio Justiniano dos Reis, 1.369,75 alqueires de terras. Nos gráficos abaixo poderemos compreender melhor o que continha nessas terras:

Figura 4 – Alqueires de terras de Matheus Tavares da Silva e Antonio Justiniano dos Reis

Fonte: Elaboração própria a partir de dados extraídos dos inventários de Matheus Tavares da Silva (1905) e Antonio Justiniano dos Reis (1918)

O café, que foi o principal produto responsável pelo nascimento da cidade de Varginha, não representava muito das terras dos inventariados. Entretanto, Matheus Tavares

1.300 1.330 1.360 1.390 1.420

EXTENSÃO TERRITORIAL (em mil alqueires)

Matheus Tavares da Silva Antonio Justiniano dos Reis

Referências

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