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Acordam no Tribunal da Relação de Évora

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Academic year: 2021

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________________________________________________________________________ PN: 569/001; AP.: TC Montemor-o-Novo; Ap.e2: Ap.o3: . ________________________________________________________________________

Acordam no Tribunal da Relação de Évora

1. O Ap.o [A.] demandou os Ap.es [RR.], pedindo que fossem condenados a pagar- lhe de indemnização, pelos danos e paragem prejudicial de um veículo, o montante global de Pte. 527 458$00, acrescido de juros, à taxa legal, contados da citação:

(a) Em 97.10.27, pelas 16.40h, na EN 114, ao Km 140.4, Montemor-o-Novo, o veículo ligeiro de mercadorias, S, que lhe pertencia, e era conduzido por , no sentido de marcha Montemor/Santarém, a velocidade moderada, numa recta, embateu num cão, pertença dos RR., que inopinadamente se atravessou na frente, e foi colhido de morte;

(b) Do sinistro resultaram danos materiais para o veículo, cuja reparação orçou em Pte. 427 458$00;

(c) Esteve este imobilizado, na oficina durante 5 dias, durante os quais não pôde utilizá-lo no giro comercial de carros verdes a que o tinha adstrito;

(d) Sofrendo por isso um prejuízo de Pte. 100 000$00;

(e) Os danos e o prejuízo auferidos não se teriam verificado se os RR. tivessem perseverado na vigilância do animal.

1 ML (557.00) MM (42/2000) 2 Adv.: Dr.. 3 Adv.: Dr.

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2. Os RR. contestaram:

(a) O acidente deveu-se a desatenção do condutor do veículo automóvel, e a excesso de velocidade;

(b) O cão, de raça epagnol bretton, pesava no máximo 10Kg, e o veículo sinistrado colheu o animal com a parte da frente do lado direito: não podia ter causado os danos alegados que se localizam na parte inferior do mesmo;

(c) Por outro lado, não é lícito ao A. reclamar a quantia correspondente a IVA, porque tem direito a reembolso.

3. Ficou provado:

(a) Em 97.10.27, pelas 16.40h, na EN 114, ao Km 160.4, ocorreu um embate entre o canídeo dos RR. e o veículo ligeiro de mercadorias, VW Golf TDI,de matrícula , pertença do A., mas conduzido por

que seguia de Montemor para Santarém; (b) No local, a estrada configura uma recta;

(c) Na ocasião do sinistro, provindo do lado esquerdo da faixa de rodagem, atento o sentido de marcha do IS, o animal de raça canina surgiu

inesperadamente acerca de 2/3m, a atravessar a via;

(d) Perante tal circunstância, o condutor do veículo não pôde evitar o embate no canídeo;

(e) Em consequência deste, o IS sofreu danos no pára-choques da frente, nos dois faróis, na protecção do fundo do motor, à frente, no reforço do pára- choques, no radiador, no líquido do radiador, no tubo do radiador (água), no tubo do ar condicionado, no plástico da roda, na grelha da frente, nos dois frisos do pára-choques, na carga do ar condicionado, no farolim pisca com vidro lateral, na grelha do pára-choques, na matrícula e nas lâmpadas;

(f) Na reparação do IS, o A. despendeu o montante de Pte. 427 458; (g) O canídeo era de raça epagnol bretton;

(h) E pesava no máximo 10Kg;

(3)

(j) O embate entre o veículo referido e o cão deu-se a 2.30m da berma, atento o sentido de marcha que aquele levava;

(k) A faixa de rodagem no local tem uma largura de 6.30m;

(l) O A. exerce a actividade de comerciante de carros verdes na praça municipal de Mirandela;

(m) O A. e são responsáveis pelo abastecimento de carnes ao estabelecimento do A, que compram em todo o país;

(n) Durante os 5 dias em que o IS esteve imobilizado na oficina, para

reparação, o A. deixou de efectuar o seu giro comercial, na sequência do que teve prejuízos de valor indeterminado.

3.1 A convicção do tribunal, na ausência de testemunhas presenciais do embate, a não ser o condutor do veículo automóvel, fundou-se no depoimento deste, do agente da autoridade ( ) que tomou conta da ocorrência, e de 3

vizinhos (

), que depuseram com isenção e sinceridade, revelando ter algum conhecimento dos factos, por terem observado a via logo após o sinistro. Também na factura das reparações, e no depoimento de um empregado e do dono da oficina.

4. Com base na matéria assente, a sentença recorrida julgou procedente o pedido, condenando os RR. no pagamento da indemnização no montante de Pte. 427 458$00,

e no mais que vier a liquidar-se em execução de sentença até ao limite de Pte. 100 000$00, relativamente aos prejuízos advenientes da indemnização, respectivos juros

de mora legais, devidos a partir da citação:

(a) Na situação em análise, a conduta do…condutor não foi a causa única ou

exclusiva, determinante e juridicamente censurável, da ocorrência do acidente e, logo, da produção dos danos dele decorrentes, nem sequer resulta do quadro factual apurado que tenha contribuído para o resultado danoso;

(b) …deve considerar-se, antes do mais, que o condutor do veículo sinistrado

(4)

surpreendido pela interposição do canídeo, a atravessar a via, vindo do lado esquerdo da faixa de rodagem, atento o sentido de marcha do automóvel, a cerca de 2 a 3 m, o que levou a que colhesse o animal com a parte da frente do lado esquerdo;

(c) E comprovada ficou…a existência de danos por parte do A., proprietário do veículo, , encarados como repercussão patrimonial da colisão ocorrida, ou seja, como consequência de teor negativo na esfera patrimonial do A. da danificação do veículo advinda do embate e da consequente impossibilidade temporária de utilização do mesmo;

(d) Especificamente, além do custo integral da reparação, ficou apurada a existência de prejuízos decorrentes da impossibilidade de utilização do veículo durante o período em que esteve imobilizado na oficina para reparação…e não se vislumbra fundamento legal, no regime jurídico tributário, para sustentar não ser lícito pedir a quantia reclamada a título da facturação do IVA, mas, no que diz respeito aos danos decorrentes da imobilização, dado que não foi apurado o

seu valor, e revelando-se inviável a sua fixação equitativa, dada a inexistência de quaisquer quantitativos que pudessem balizá-la, deve ser relegada a fixação da indemnização para execução de sentença, até ao limite do pedido, sem prejuízo da condenação imediata na parte líquida.

5. Concluíram os recorrentes:

(a) Na sentença recorrida não se fez cabal aplicação do dispositivo contido no art. 659º/2 CPC;

(b) Com efeito, da prova existente no processo impunha-se resposta negativa

aos quesitos 2º, 3º, 4º e 5º4, e resposta positiva ao quesito 6º5, por forma a assim

serem considerados em sede da matéria assente, no âmbito da sentença;

4 Quesito 2º - Provindo detrás de um talude, e do lado esquerdo da faixa de rodagem, atento o sentido de marcha do

IS, surgiu inesperadamente [ao condutor do veículo ], a cerca de 2 a 3m, um animal de raça canina, o qual atravessava a via? Provado apenas que na altura, provindo do lado esquerdo da faixa de rodagem, atento o sentido de

marcha do IS, surgiu inesperadamente, a cerca de 2 a 3m, um animal de raça canina, o qual atravessou a via; Quesito 3º - Perante tal circunstância o condutor do veículo não pôde evitar o embate no canídeo? Provado; Quesito 4º - Em consequência do embate, o IS sofreu danos no pára-choques da frente, nos dois faróis, na protecção

do fundo do motor, à frente, no reforço do pára-choques, no radiador, no líquido do radiador, no tubo do radiador (água), no tubo do ar condicionado, no plástico da roda, na grelha da frente, nos dois frisos do pára-choques, na

(5)

(c) Por via da errada apreciação da matéria de facto, a subsunção jurídica ficou inquinada, tendo originado deficiente imputação da responsabilidade na produção do acidente;

(d) E em consequência não foi dada correcta interpretação aos ditames contidos nos art.s 487º, 483º, 570º, 562º e 566º CC;

(e) A sentença recorrida deve ser revogada, após reapreciação da matéria de facto, em ordem a nova decisão onde se r eponha a legalidade, com procedência da tese dos recorrentes.

5.1 Juntaram transcrição dos depoimentos gravados: (a)

P – O cão vinha de um lado onde não havia nenhuma barreira, nenhum obstáculo, ou vinha atrás de qualquer coisa?

R – Sr. Dr. Juiz, ali não há, nem nunca houve nada; P – Não há ali um talude?

R – É uma recta, não há talude, não há barreira, não há andaimes, não há obras, não há nada, nem nunca houve, naquele sítio;

P – Seria possível ao condutor do veículo do A., ao aproximar-se, ver o cão do lado esquerdo da estrada, de onde efectivamente saiu?

R – Ali, aquilo tem uma visibilidade de mais de 100m;

P – Naquele local, nas proximidades do sítio onde ocorreu o embate, como é que são as bermas? O que é que está para lá das bermas?

R – Não há nada Sr. Dr., é terreno limpo, tudo limpo.

(b) R.

P – A Sr.ª sabe de onde é que veio o cão, relativamente à marcha do veículo?

carga do ar condicionado, no farolim pisca com vidro lateral, na grelha do pára -choques, na matrícula e nas lâmpadas? Provado;

Quesito 5º - Na reparação do IS, o A. despendeu o montante de Pte. 427 458$00? Provado.

(6)

R – por aquilo que falam as pessoas, o animal vinha da frente do lado esquerdo…, ali, numa recta bastante visível; claro que o condutor, se viesse atento, tinha que ver o animal, porque ali não há nada à volta, está tudo limpo;

P – O cão não terá surgido detrás de um obstáculo, algo que só permitisse vê-lo quando ele já estivesse na estrada?

R – Não…, naquela parte da estrada, a pessoa, se for atenta, vê tudo; P – O condutor do veículo seguia desatento?

R – Sim, pela experiência que tenho da estrada, pois também tenho carta de condução;

P – Naquele local, havendo casa de habitação, existem canteiros à frente dessas casas, ao pé da estrada?

R – Não, está tudo limpo, está tudo visível… na direcção de onde saiu o animal não há casas;

(c) , condutor P – A que distância é que o Sr. viu o cão?

R – Apercebi-me dele mesmo em cima de mim, a 1m, 2m, no máximo; P – E bateu-lhe de que lado?

R – Bati-lhe do lado esquerdo;

P – O Sr. teve tempo de esboçar qualquer travagem? R – Não, porque o cão apareceu muito de repente; P – Qual é o modelo do carro que conduzia? R – É um VW Golf TDI;

P – Qual é a largura da estrada?

R – Não sei ao certo, mas sei que da borda da faixa para lá tem, no máximo, 1m;

P - …Consta da participação que não houve rasto de travagem…

R – Não houve rasto de travagem, porque eu, à velocidade que vinha - o animal apareceu muito de repente – nem sequer tive tempo para travar;

P – Qual foi a sua atitude depois de ter verificado que tinha atropelado o cão? R – Parei;

(7)

P – Deixou ficar o carro no sítio do embate?

R – Isso é que já não me lembro; recordo-me que o animal ficou perto do local do embate; se parei na altura o carro, é que já não me recordo;

P – O Sr. disse que o carro era novo – já tinha tido algum acidente? R – Não;

P – Quantos dias é que o carro esteve imobilizado? R – Cerca de um mês, um mês e tal;

P – Quando se reclama o pagamento da indemnização referente à imobilização, refere-se cerca de um mês – é isso?

R – Sim;

P – O Sr. não passou por cima do cão? R – Passei por cima do cão;

P – Esse carro é comercial? R – É;

P – O carro esteve um mês na oficina? R – Esteve;

P – É que há testemunhas, que são empregados da oficina, que dizem que o carro só lá esteve durante 5 dias…

R – Não; esteve lá cerca de um mês… e até acabei por andar com ele ainda sem algumas peças;

P – E durante esses 30 dias o seu pai não pôde comprar carne? R – Não;

(d) Cabo da GNR

P – O cão era um animal de grande porte, de médio porte ou de pequeno porte? R – Ao pé de um pastor alemão era pequeno; talvez médio;

P – O animal estava muito esfacelado? R – Não estava;

P – O animal apresentava características de ter andado debaixo do carro? R – Penso que não.

(8)

(e) , mecânico

P – O carro era novo, estava em perfeito estado?

R – O carro estava bem encarado;… O condutor tinha-me dito até que há 8, 15

dias, tinha saído da oficina, porque tinha tido uma saída de estrada, e o carro tinha sido reparado nessa altura;

P – É normal que as pessoas, quando têm acidentes, queiram pôr tudo de novo? R – É normal que isso aconteça;

(f) , vizinho

P - …O condutor do veículo seguia desatento?

R – Ouvi o barulho que o veículo fez depois de bater no cão; aproximei-me da rede e vi o cão já estendido, morto, no meio da estrada; e vi o senhor ainda em andamento – chegou lá mais à frente, fez marcha a trás e parou ao pé do cão;

P – Esse – lá mais à frente – foi muito? R – Salvo erro uns 40 a 45m;

P – O Sr. conhece bem o local? É uma estrada que tenha ratoeiras?

R – Conheço, moro ali há muitos anos; a estrada tem boa visibilidade; é uma recta – tem boa visibilidade;

P – O que o faz pensar que o condutor vinha desatento?

R – Se ele viesse a 40 ou 50Km/h não ia para tão longe do acidente;

(g) , vizinha

P – Ouviu um barulho, chegou à janela – e o que é viu?

R – Vi uma coisa…, caída ali no meio da estrada, e vi o carro ir um bocado à frente; nisto vi o carro a recuar, e vir parar mesmo ao lado do cão; o senhor saiu do carro e olhou para cima; viu-me e disse: ó minha senhora, sabe de quem

é este cão?

P – O cão estava colocado num sítio que mesmo ainda dentro da estrada, pôde o carro estacionar ao lado dele?

R – Sim, ficou mesmo ao lado; o senhor parou mesmo ao lado; P – Quantos metros é que o carro foi para a frente após o embate?

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R – 40 ou 50m para a frente;

(h) , vizinha

P – A Srª referiu que o carro andou bastantes metros após o embate…

R – Vi o carro a andar e os plásticos do carro a partirem-se e a saltarem para o lado;

P – Se a Srª viu isso, viu o carro a passar por cima do cão? R – Não vi não, Sr. Dr.;

P – Qual foi a distância que o carro percorreu até se imobilizar? R – Cerca de 40, 50m.

6. Não houve contra-alegações.

7. O recurso está pronto para julgamento.

8. Comecemos por abordar o tema da prova do montante da reparação das avarias do automóvel com origem no atropelamento do cão. Não se vê como é que dos depoimentos transcritos se pode infirmar terem sido outras que não aquelas a que se refere a factura da oficina onde foram reparadas – cumpria ter sido esta impugnada, como não foi.

E a circunstância de um dos empregados de Reparautos ter dito que o veículo sofrera

pouco antes um despiste, que deu lugar a reparações, não é suficiente para pôr em causa o que resulta do documento, confirmado pelos depoimentos desse e de um outro.

Nesta parte não assiste razão ao depoente, para além do mais, porque nenhum dos outros depoimentos transcritos se refere, como muito bem podia ter acontecido, ao perfil das destruições da frente do veículo, e que necessariamente observaram, depois

do sinistro. Aliás, um deles, refere expressamente que o condutor parou de seguida, sugerindo que o fez em virtude de terem caído partes, em plástico, isto é, muito provavelmente do pára-choques do automóvel.

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9. Mesmo que se entenda que o quesito 2º contém matéria conclusiva, e que por isso

não mereceria resposta, o certo é que tal conclusão sempre decorreria de dados que têm de dar-se por fixados, a saber: surto inopinado do animal, na frente do condutor,

impossibilidade de se dizer a que velocidade é que seguia. Na verdade, o único depoimento presencial afirma a surpresa, e a moderação, e nenhum dos outros fornecem elementos em contrário, a não ser que o local do atropelamento tem boa visibilidade, de longe. Porém, não se segue, que o arranque do obstáculo à

progressão do automóvel não tenha surgido de repente, como muitas vezes acontece no atravessamento das estradas por parte dos animais, perante velocidade prudente, já sem possibilidades de se evitar o embate. Por outro lado, a circunstância de o condutor ter parado 40 ou 50m para além do local do atropelamento, tratando-se de um animal, e não lhe sendo exigível por isso que logo se imobilizasse, (não é devido

socorro instante) também não significa indício de excesso de velocidade, sendo certo que, como se disse, uma das testemunhas sugere até ter tido a imobilização causa na

revelação para o condutor de avarias de monta, e da necessidade de ressarcimento, determinadas pelo atropelamento (plásticos a cair; pergunta: de quem é o cão?).

Também nesta parte não assiste razão aos recorrentes.

10. Sendo estes os dois únicos temas recursivos, haveremos de concluir que improcede o recurso.

11. Atento o exposto, vistos os art.s 487º/1, 493º/1 (350º/2), 570º/1.2 CC e 566º/1 CC, 661º/2 CPC, decidem mater inteiramente a decisão recorrida.

12. Custas pelos Ap.es, sucumbentes.

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