Ano 02 || Edição 09 || Agosto 2015
Profa. Sílvia Corrêa
CRMV-SP 32.026Médica veterinária formada pela Universidade Anhembi Morumbi. Jornalista formada pela Universida-de Universida-de São Paulo (USP). Residência em Clínica Médica e Cirúrgica Universida-de Pequenos Animais pela USP com especialização em Medicina Intensiva de Pequenos Animais. Colunista da Folha de S. Paulo e professora da Universidade Anhembi Morumbi.
C
ães que se coçam, se lambem ou se mordiscam com intensidade e frequência maiores do que os proprietários consideram tolerável (ou a ponto de lesionar a pele) são os pacientes mais comuns na clínica de pequenos animais.1 O prurido, embora seja o principal motivo da busca por um médico veterinário, não caracteriza a doença;1,2 trata-se de uma manifestação clínica genérica de alterações tão variadas como as neurológicas, sistêmicas ou dermatológicas.2 O leque de afecções potencialmente prurigino-sas é amplo, mas já está bastante documentado que as alterações tegumentares respondem pela maioria dos casos e devem ser imediatamente investigadas.1Na Dermatologia Veterinária, o prurido é um divisor de águas, pois sua presença ou ausência nos permitem listar uma série de diagnósticos diferenciais. Considerando um paciente com dermatopatia pruriginosa, é preciso descartar a presença de es-cabiose, malasseziose, foliculite, linfoma cutâneo e doenças autoimunes (complexo pênfigo e lúpus eritematoso) antes que se possa afirmar, com algum grau de certeza, que se está diante
de um caso de alergia.
Esse processo diagnóstico é um dos maiores desafios da clínica de pequenos animais. A mesma coleta de dados que descartará algumas doenças será a responsável por fornecer ao médico veterinário indícios acerca da presença de outras. Portanto, deve ser bem feita. Isso significa que, a exemplo do que ocorre em alterações de qualquer outro sistema orgânico, uma boa anamnese, um atento exame físico e alguns exames complementares serão fundamentais para o correto diagnósti-co das dermatopatias alérgicas. No fundo, essa é uma investi-gação. E você não pode perder as pistas.
Cinco passos para o diagnóstico
Passo 1: identifique
O primeiro passo deve ser sempre identificar o paciente, pois há afecções cutâneas mais prevalentes em algumas raças, que se manifestam preferencialmente em determinadas faixas etárias e cuja frequência está relacionada ao sexo do animal. As dermatopatias alérgicas, por exemplo, são mais comuns em adultos jovens, sem predisposição de sexo.1 E a lista de raças acometidas por atopia já está tão extensa que não faz mais sentido falarmos de predisposição racial.
Passo 2: entenda a doença
Identificado o animal, procure compre-ender em que idade os problemas de pele começaram e qual foi a manifestação clíni-ca inicial: lesão ou prurido. Como a doença progrediu e se algum tratamento prévio teve resultado também são informações valiosas. Nas doenças parasitárias, o pruri-do costuma ter aparecimento súbito. Já na dermatite atópica ou na hipersensibilidade alimentar, ele evolui de forma progressiva.1Passo 3: conheça o paciente
Em seguida, é hora de construir um detalhado panorama da saúde do animal, considerando sistemas nervoso, respira-tório, cardiovascular, urinário e digestório. As características da dieta e a presença de alterações gastrintestinais (vômito, diarreia, fezes pastosas, flatulência e frequência de defecação) devem ser detalhadas, conside-rando a suspeita de uma doença alérgica.1-3 Faça perguntas específicas. Se você in-dagar apenas se o paciente tem alterações gastrintestinais, estará assumindo que a percepção do proprietário do que é nor-mal é a mesma que a sua, o que pode não ser verdade. Não basta perguntar o que o animal come. A resposta “ração” virá pron-tamente na maioria dos casos. Questione se ele gosta de pizza, de queijo, de pão. A resposta poderá evidenciar a diversidade da dieta, que talvez não tenha sido revela-da em um primeiro momento.
Passo 4: rastreie o ambiente
Investigue também as condições de saúde dos contactantes e as característi-cas do ambiente em que o animal vive. Os donos ou os outros animais se coçam? Os animais saem à rua, tomam banho em pet shop ou têm contato com grama, piso de taco, carpete?Essas informações serão fundamen-tais na hora de descartar a presença de ectoparasitas. No caso das pulgas, para cada grupo de até cinco indivíduos adul-tos que estão sobre o animal, há cerca de 50 ovos, 35 larvas e 10 pupas no ambien-te, altamente dependentes de umidade e avessos ao sol.1-4 Isso deverá ser conside-rado ao se estabelecer um protocolo de combate e prevenção.
Não se limite a perguntar se há controle periódico de ectoparasitas. A resposta invariavelmente é “sim”. Algo que é feito anualmente não deixa de ser periódico, mas está longe de ser eficaz. Então, é preciso saber que produto é usado, com que frequência e como essa frequência é controlada. Proprietários que não se lembram do nome ou da data de administração do produto dão indícios de que não exercem uma rígi-da prevenção aos ectoparasitas. Afinal, quem não sabe em que dia aplicou um antipulgas spot-on, por exemplo, como poderá manter as aplicações a cada 15, 21 ou 28 dias?
Passo 5: examine em detalhes
Com o histórico completo, é hora de examinar o animal. Comece pelo exame físico geral. No exameder-matológico, estabeleça uma sequência de inspeção e
pro-cure respeitá-la em todos os pacientes. Vá do focinho à cauda. Animais com
do-enças de pele frequentemente têm lesões em regiões que o proprietário não per-cebeu. Fique atento a interdígitos, axilas, junções mucocutâneas, cavidade oral, orelhas e linfonodos. Coloque o animal em decúbito dorsal para uma boa análise da região ventral.
Exames citológicos de pele e de ce-rúmen ótico são sempre necessários em um animal que se coça e podem indicar a presença de bactérias ou leveduras. O parasitológico de raspado cutâneo tam-bém deve ser feito e pode ser útil na busca por ácaros. Micológicos de pela-me podem ser solicitados e ajudarão a estreitar as possibilidades diagnósticas. É preciso ter em mente que a doença de base pode não ser pruriginosa (caso da demodiciose), mas infecções secundárias por fungos e bactérias levarão o animal a se coçar. Esse é um dos motivos pelos quais saber como a doença começou e como progrediu é extremamente útil.
Se você chegou até aqui e suspei-ta que está diante de um alergopasuspei-ta, o próximo passo será transformar o pro-prietário em um aliado incondicional. O correto diagnóstico das dermatopatias alérgicas consome tempo, exige esforço e requer uma abordagem sequencial e lógica, na qual a atuação do proprietário é fundamental.
Parece alergia?
Controle as pulgas
Diferentemente dos pacientes hu-manos alérgicos, que frequentemente manifestam alterações respiratórias, cães apresentam problemas de pele e gastrin-testinais. Há três tipos principais de der-matopatias alérgicas: doença alérgica à picada de ectoparasitas (DAPE), hipersen-sibilidade alimentar e dermatite atópica. Do ponto de vista clínico, as três aler-gopatias causam as mesmas lesões der-matológicas. Epidemiologicamente, não há características de raça, sexo e idade que nos permitam excluir uma delas de maneira categórica. E, infelizmente, não há um exame laboratorial que conduza a essa diferenciação. Diante desse cená-rio, o que a maioria dos autores propõe é um diagnóstico por exclusão, essen-cialmente clínico. E o primeiro passo é descartar a DAPE (Figura 1).
A DAPE é apontada como uma das afecções dermatológicas mais comuns em cães e a principal causa de dermatite miliar em gatos,5 embora a frequência e a severidade da doença tenham diminuído em regiões onde há amplo uso de novos produtos de combate a esses parasitas.1
A DAPE caracteriza-se por uma res-posta imunológica exacerbada à presença de um dos 15 alérgenos que compõem a saliva dos ectoparasitas, tanto pulgas como carrapatos.3,4,6 Entre as pulgas, a espécie que causa problemas com maior frequência é a Ctenocephalides felis felis, identificada em 92% das infestações cani-nas e 99% das felicani-nas,6,7 mas os alérgenos são comuns a todas as espécies. Entre os carrapatos, o Rhipicephalus sanguineus é o mais incriminado nas infestações de animais que vivem em regiões urbanas, mas os muitos Amblyommas que existem nas zonas rurais e periurbanas do país são igualmente capazes de desencadear um processo alérgico.
O esperado é que um animal com pulgas e carrapatos não apresente lesões de pele, a menos que seja alérgico, o que acontece com metade dos cães e gatos com puliciose.3,6 Não há predisposição de sexo, raça ou idade, mas não é comum que as manifestações clínicas apareçam em animais com menos de seis meses, sendo o período entre um e cinco anos o
mais comum para o surgimento dos pri-meiros sinais.1-3
Não há um padrão de lesão típico da DAPE que nos permita diferenciá-la das demais dermatites alérgicas. Os pacientes, seja qual for a origem da hipersensibilida-de, tendem a apresentar pápulas, crostas, hiperpigmentação, hiperlignificação, eri-tema e alopecia.3 Por muito tempo se ten-tou estabelecer as áreas corpóreas mais
acometidas em cada uma das dermatites alérgicas. Lesões dorso-lombares, por exemplo, foram verificadas em 76% dos casos de DAPE, mas também apareceram em 36% dos animais atópi-cos,3 o que gradualmente reduziu o peso diagnóstico dos dermogramas, sobretu-do havensobretu-do a possibilidade de o animal apresentar alergias concomitantes.
O diagnóstico de DAPE exige uma aten-ta anamnese, um bom exame físico e rápidos exames complementares que descartem ou-tras causas de dermatopatias pruriginosas. Piodermite ou malasseziose secundárias são comuns e devem ser tratadas, independen-temente da doença de base.
Não condicione seu diagnóstico à vi-sualização de pulgas e carrapatos ou de fezes dos parasitas: em pelo menos 15% dos casos de DAPE não há sinais de infes-tação.3 A presença do verme Dipylidium
caninum pode ser um indício de puliciose,
mas, na ausência de achados incontestá-veis, deve-se partir para o diagnóstico terapêutico, com tratamento de infecções secundárias e a adoção de um protocolo
Figura 2 - Ciclo de vida da pulga: a maioria está no ambiente Figura 1 - Passo a passo para o diagnóstico das dermatopatias alérgicas
SUSPEITA DE ALERGOPATIA
Controle de ectoparasitas elimina o prurido e as lesões?
Sim. DAPE Não ou parcialmente. Manter controle de pulga e partir para dieta de eliminação.
Combinação elimina o prurido e as lesões?
Sim. HIPERSENSIBILIDADE ALIMENTAR
(acompanhada ou não de DAPE) Não. ATOPIA
PUPAS:
• Representam 10% • Das pupas emergem
as pulgas adultas
PULGAS ADULTAS: • Representam 5%
LARVAS: • Representam 35% • Das larvas formam-se
as pupas
OVOS:
• Representam 50% • Dos ovos nascem
as larvas
Bayer HealthCare - Saúde Animal
400-2000 ovos 2-12 dias 9-20 dias 7-365 dias
de controle de ectoparasitas, com avalia-ção da resposta do paciente.
A ausência de pulgas pode tornar mais difícil o convencimento do proprie-tário de que ectoparasitas são a origem do problema. Muitas vezes, essa é a par-te mais desafiadora do diagnóstico. Um caminho é explicar aos clientes o ciclo das pulgas (Figura 2), para que se con-vençam não apenas da possibilidade de elas responderem pelo prurido, como também da necessidade de tratamento do ambiente em que o animal vive.
Como toda reação alérgica, a DAPE de-pende do grau de hipersensibilidade do pa-ciente e do volume de antígeno ao qual ele está sendo exposto.5 Essa combinação expli-ca por que alguns animais apresentam redu-ção do prurido mesmo tendo sido tratados com produtos que só matam as pulgas após terem sugado o sangue do hospedeiro ao menos uma vez. Embora esses princípios ativos não evitem a picada inicial, eles impe-dem que o parasita volte a se alimentar e se reproduza, reduzindo o número de pulgas sobre o hospedeiro e, consequentemente, o volume de antígeno nele inoculado.5
A priori, no entanto, não é possível
in-ferir o grau de hipersensibilidade de cada paciente a uma única picada de pulga, pois não se sabe o montante de saliva necessá-rio para que apareçam as manifestações de dermatite alérgica em cada indivíduo.2 Por esse motivo, produtos que evitem a picada poderiam ter resultados mais rápidos e efe-tivos sobre o controle do prurido.
Outro aspecto a ser considerado é o da duração da ação dos inseticidas. Dry-den (2009)5 fez um apanhado de estudos nos quais diferentes antiparasitários, em várias concentrações, foram usados ex-perimentalmente em cães e gatos que, em seguida, foram expostos a colônias de pulgas. Os diversos produtos conseguiram impedir que até 95% das pulgas se alimen-tassem do sangue dos hospedeiros nos 14 dias iniciais de ação. Após esse período, entretanto, as reduções progressivamente deixaram de ser significativas, desapare-cendo o efeito após 28 dias.
Isso significa que alguns inseticidas precisam ser reaplicados em prazos ainda mais curtos do que aqueles previstos em bula, sob pena de atrasos nessa reaplicação comprometerem a eficácia do tratamento e o diagnóstico da doença. Nesse sentido, produtos de longa duração podem ser mais interessantes, evitando falhas diagnósticas decorrentes do mecanismo de ação dos inseticidas ou de falta de atenção dos pro-prietários ao cronograma de prevenção.
Há relatos de que o rigoroso controle de pulgas e carrapatos pode levar à remis-são da DAPE em 30 dias,8 período em que infecções secundárias por fungos e/ou bac-térias devem ser combatidas. Esse controle inclui a aplicação de produtos antipulgas nos contactantes do paciente e o tratamen-to químico e mecânico do ambiente em que ele vive (lavagem, aspiração, remoção de plantas mortas etc.).3 Xampus podem
ser usados como medida adjuvante, pois só a ação mecânica do banho já será extrema-mente útil. Essas formulações, todavia, têm mínima ação residual,3 podendo haver rein-festação praticamente imediata. Por isso, devem ser combinadas com produtos de longa duração.
Em geral, o uso de glicocorticoides não é necessário. Mas, se o prurido for muito intenso, eles podem ser administra-dos (1 mg/kg/24h) por no máximo cinco dias. Esse uso não deve ser prolongado, pois isso impedirá que se diferencie a DAPE das demais dermatopatias alérgicas.
Se esse conjunto de medidas elimi-nar o prurido, o diagnóstico de DAPE poderá ser firmado. Caso contrário, será preciso seguir adiante, voltando a inves-tigação para a exclusão da hipersensibi-lidade alimentar.
Não é DAPE?
Controle as pulgas
Nos últimos anos, o efetivo controle de ectoparasitas revelou um número maior de casos de hipersensibilidade alimentar e der-matite atópica, antes subdiagnosticados. O prurido era totalmente atribuído à alergia à picada de pulgas e carrapatos, sem que se considerasse a presença de doenças alérgicas concomitantes.1 Com o controle das pulgas e a redução apenas parcial do prurido em alguns pacientes, proprietários e médicos veterinários perceberam que es-tavam diante de animais mais amplamente alérgicos do que se imaginava.
A hipersensibilidade alimentar é uma dermatopatia pruriginosa associada a um dos componentes da dieta, que passa a ser reconhecido como antígeno pelo organis-mo do paciente.3 Comumente, os
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tários relutam em aceitar essa possibilida-de diagnóstica, argumentando que seus
pets sempre foram submetidos ao mesmo
tipo de alimentação e não apresentaram nenhum problema anterior. Mas o que parece ser uma contestação pode ser, de fato, a explicação para a alergia.
A hipersensibilidade alimentar é uma alteração que o animal desenvolve, sem nenhuma relação com a inclusão de novos ingredientes em sua dieta. A patogênese da doença não está com-pletamente esclarecida, mas se supõe que, em algum momento, tenha havido uma quebra da barreira de defesa intes-tinal (por parasitismo ou infecção, por exemplo), permitindo a algumas molé-culas alcançarem a circulação, ativarem a resposta imunológica e passarem a ser identificadas como antígenos.3 Que moléculas são essas? Em geral, as que existiam nos alimentos mais consumidos pelo paciente. Esse é o motivo por que os componentes mais comuns das die-tas são exatamente os mais frequente-mente relacionados à hipersensibilidade alimentar (Quadro 1).
Em cães, não há predisposição de sexo, raça ou idade para hipersensibili-dade alimentar, mas os animais podem ter menos de um ano no início dos sinais clínicos, o que não é comum na DAPE. Em gatos, animais siameses responderam por 30% dos casos em dois estudos.3 Ma-nifestações gastrintestinais acompanham de 10 a 15% dos casos em cães, mas pa-recem ser mais comuns em gatos.3
O diagnóstico da hipersensibilida-de alimentar exige que o animal seja alimentado por 8 a 13 semanas com uma fonte de proteína e uma fonte de carboidrato às quais ele nunca tenha
sido exposto.1-3 Daí a importância de um histórico preciso. O alimento escolhido deve ser mantido por todo o período de investigação, sem que nada mais seja oferecido ao animal, inclusive ossinhos e petiscos.
Durante esse período, infecções se-cundárias devem ser combatidas e o controle de ectoparasitas deve se man-ter extremamente rigoroso, para que se evitem erros diagnósticos. Imagine um animal com DAPE e com hipersensibi-lidade alimentar. O controle de pulgas terá reduzido o nível de prurido, mas sem levar à remissão do quadro. A dieta poderá eliminar a manifestação clínica, levando ao correto diagnóstico. Mas, se o paciente for submetido a um falho controle de pulgas e carrapatos durante a investigação da alergia alimentar, con-tinuará a se coçar e, assim, veteri-nário e proprietário poderão concluir que a dieta não teve efeito sobre o quadro, seguindo para um diag-nóstico errôneo de atopia.
Estudos indicam que a hipersensibilidade alimentar responde por cerca de 15% dos casos de dermatopatias alérgicas em cães, sendo me-nos frequente do que a DAPE e a atopia. Mas, em 75% des-ses casos, ela ocorre
em conjunto a estas, ficando sua mani-festação clínica tolerável quando a outra alergia é controlada.3 Em gatos, a doença é mais frequente do que a atopia e res-ponde por 17% dos problemas alérgicos, com 25% dos pacientes apresentando DAPE ou atopia de forma concomitante.
Se o animal responder à dieta de clusão, pode ser submetido a uma ex-posição provocativa, com a reintrodução de um dos ingredientes suspeitos por 10 a 14 dias. A intenção é identificar o com-posto que desencadeia a reação alérgica e buscar uma dieta comercial que não o inclua em sua formulação. Alguns au-tores afirmam, porém, que de 20 a 30% dos cães e gatos com hipersensibilidade alimentar não podem consumir nenhu-ma dieta comercial e devem ser nenhu- manti-dos com dietas caseiras.3
Quadro 1 - Alguns componentes da dieta já implicados em alergia alimentar em cães. No caso de gatos, o óleo de fígado de bacalhau aparece na lista
Aditivos artificiais Ovos
Carne bovina Peixes
Frango Farinha de aveia
Milho Batata
Leite de vaca Arroz
Biscoitos caninos Soja
Se o prurido persistir a despeito do controle de pulgas e da dieta de exclusão, pode-se fazer o diagnóstico presuntivo de dermatite atópica.
Atopia?
Controle as pulgas
A dermatite atópica consiste numa predisposição genética do organismo a reagir de forma excessiva a alérgenos ambientais3 com os quais ele toma con-tato inalando, ingerindo ou absorvendo por via percutânea. Isso significa que é uma doença sem cura, que poderá ape-nas ser controlada.
A atopia manifesta-se em adultos jo-vens e, do ponto de vista clínico, tem a mesma apresentação das demais dermati-tes alérgicas, com alta frequência de infec-ções secundárias, sobretudo otite externa. Há indícios de que os atópicos tenham mais acometimento de lesões faciais do que os demais pacientes alérgicos, mas di-versos estudos indicam que entre 75 e 80% deles são também hipersensíveis a picadas de ectoparasitas,3 o que mais uma vez sugere que não se adote o dermo-grama das lesões como única ferramenta diagnóstica.
Quadro 2 - Medidas necessárias no manejo do paciente atópico Redução da exposição a antígenos (plantas, ácaros, umidade etc.) Prevenção à estimulação do sistema imune
(combate a ectoparasitas e infecções fúngicas e bacterianas) Reforço e higienização da barreira epidérmica (banhos frequentes, hidratantes, administração oral e ômegas)
Redução da inflamação
(anti-histamínicos, glicocorticoides e/ou outros imunossupressores) Modificação da resposta imunológica (imunoterapia)
A alta prevalência de DAPE entre atópicos explica o motivo pelo qual um rígido controle de ectoparasitas é ne-cessário nesses pacientes. A medida, no entanto, apesar de ser fundamental, está longe de ser suficiente para o bom ma-nejo da atopia.
O paciente atópico exige um tra-tamento multimodal que considere o princípio da soma de efeitos (Quadro 2). Esse conceito fica claro se imaginarmos um animal com um nível leve de hiper-sensibilidade a alérgenos ambientais, mas combinado à infestação por ecto-parasitas, piodermite e pele ressecada. Não há dúvida de que esse paciente terá um desconforto maior do que manifestaria se tivesse apenas a hi-persensibilidade inicial.3
Nesse contexto, diferente-mente do que se tende a fazer na prática clínica, a abordagem da atopia não pode se restringir à administração de glicocorticoides.
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Osvilõesdas dermatOpatiasalérgicas,
pOisnaimensamaiOria dOscasOslevarãOO
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.
É preciso combinar terapias e medidas profiláticas para manter o paciente ató-pico equilibrado com a menor dose de medicamentos possível e o menor risco de efeitos colaterais.
Infecções de pele, pulgas e carrapa-tos são, portanto, os vilões das derma-topatias alérgicas, pois na imensa maio-ria dos casos levarão o paciente à crise. No que diz respeito aos ectoparasitas, porém, esse não é o único argumento que sustenta a necessidade de instituir protocolos rígidos de prevenção a todos os nossos pacientes, independentemen-te de serem ou não alergopatas.
Pulgas sabidamente transmitem ver-mes, sendo o mais comum o Dipylidium
caninum, causador de diarreia e melena.
Referências:
1. IHRKE, P. J. Pruritus. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Textbook of Ve-terinary Internal Medicine, 7ª ed, Philadelphia: Sauders, p. 70-75, 2010. 2. STÄNDER, S.; WEISSHAAR, E.; LUGER, T.A.; Neurophysiological and
neurochemical basis of modern pruritus treatment. Experimental Dermatology, v. 17, n. 3, p. 161-169, 2008.
3. SCOTT, D.W.; MILLER JR., W.H.; GRIFFIN, G.G. Small animal dermato-logy. Philadelphia: Sauders, p. 574-601, 615-24, 627-31, 2010. 4. BLAGNURN, B.L.; DRYDEN, M.W. Biology, treatment and control of
flea and tick infestation. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 39, n. 6, p. 1.173-200, 2009.
5. DRYDEN, M.W. Flea and tick control in the 21st century: challenges and
opportunities. Veterinary Dermatology, v. 20, n. 5-6, p. 435-40, 2009. 6. SOUSA, C.A. Fleas, flea allergy and flea control. In: ETTINGER, S.J.;
FELDMAN, E.C. Textbook of Veterinary Internal Medicine, 7ª ed, Phi-ladelphia: Sauders, p. 99-101, 2010.
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8. BRIANTI, E.; FALSONE, L.; NAPOLI, E.; PRUDENTE, C.; GAGLIO, G.; GIA-NETTO, S. Efficacy of a combination of 10% imidacloprid and 4,5% flu-methrin (Seresto) in slow release collars to control ticks and fleas in highly infested dog communities. Parasites & Vectors, v. 6, n. 210, 2013.
“As opiniões aqui refletidas são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da Bayer.”
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a primeiracOnsulta aO diagnósticOdeum casOdeatOpia,
pOr exemplO,
prOprietáriO,
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detestes
.
A perda de sangue agrava a anemia que já pode decorrer da própria puliciose: 72 pulgas fêmeas consomem 1 mL de sangue ao dia.1-4 Não bastasse, a Ctenocephalides
felis também tem sido implicada na
trans-missão de Rickettsia e Bartonella, além de
Mycoplasma e Yersinia.4 Carrapatos, por sua vez, dispensam apresentação no que diz respeito ao seu potencial patogênico, sendo vetores de conhecidas hemoparasi-toses (erliquiose, babesiose e rangeliose), muitas vezes fatais.
Ectoparasitas, logo, devem ser com-batidos. Sempre! E, especialmente para o sucesso no diagnóstico e no controle das alergopatias, esse combate é o pon-to central e deve ser ininterruppon-to, ainda que o caminho seja longo e cansativo. Da primeira consulta ao diagnóstico de um caso de atopia, por exemplo, proprietário, paciente e médico veterinário podem ter de enfrentar três meses de testes. Nesse
período, não pode haver falhas no controle de ec-toparasitas, sob pena de todo o esforço ser per-dido. A conscientização dos donos é, portanto, um passo fundamental para o bom manejo de um alergopata.
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