Contribuições para a geração de requisitos projetuais do posto de trabalho,
Carteira Escolar: Estudo de Caso.
Contributions for the generation of projectual requirements of work position, the
School Desk: Study of Case.
Sileide Aparecida de Oliveira Paccola Mestranda em Design
Programa de Pós-graduação em Desenho Industrial, FAAC-UNESP-Bauru, sileidepaccola@yahoo.com.br Franciane da Silva Falcão
Mestranda em Design
Programa de Pós-graduação em Desenho Industrial, FAAC-UNESP-Bauru, francifalcao@yahoo.com.br Mariana Falcão Bormio
Mestranda em Design
Programa de Pós-graduação em Desenho Industrial, FAAC-UNESP-Bauru, marianabormio@uol.com.br José Carlos Plácido da Silva
Professor Titular
Programa de Pós-graduação em Desenho Industrial, FAAC-UNESP-Bauru, placido@faac.unesp.br Luis Carlos Paschoarelli
Doutor em Engenharia de Produção
Programa de Pós-graduação em Desenho Industrial, FAAC-UNESP-Bauru, lcpascho@faac.unesp.br Abílio Garcia dos Santos Filho
Professor Livre Doscente
Programa de Pós-graduação em Desenho Industrial, FAAC-UNESP-Bauru, abilio@feb.unesp.br
Palavras chave: Carteira escolar; Postura sentada; Posto de trabalho.
Resumo: Através da caracterização da carteira escolar como posto de trabalho foi possível a realização de uma análise ergonômica da mesa dupla para CAD, material didático fabricado e utilizado pelo SENAI, seguindo um check list de Dul e Weerdmeester (2004), para fatores biomecânicos, fisiológicos e antropométricos, e fatores relativos à postura - Postura sentada, dando enfoque ao fator risco e tendo por finalidade a geração de requisito para possíveis melhorias projetuais neste posto.
Abstract: Through the characterization of the school desk as work position was possible the accomplishment of an ergonomics analysis of the double table for CAD, didactic material manufactured and used by SENAI, following a check list of Dul and Weerdmeester (2004), for biomechanic, physiologic and antropometrics factors, and relative factors to the posture - Seated posture, giving focus to the factor risk and tends for purpose the generation of the requirement for possible projectual improvements in this position.
1. Introdução
O posto de trabalho é considerado um conjunto de sistemas – ferramentas, máquinas e
mobiliário, que auxiliam especificamente no desenvolvimento de atividade humana, aspectos de conceituação e caracterização têm sido amplamente abordado em bibliografias recentes. Destaca-se, dentre os postos, o mobiliário ligado à tarefa de aprendizagem, onde são
desenvolvidas as atividades de ler, escrever,
sentar e se comunicar. Vale ressaltar que o design do mesmo “influencia efetivamente o bem estar físico, o conforto e o desempenho do operador” (SOARES, 2001, p. 138).
Ao caracterizar o mobiliário escolar como posto de trabalho, compreende-se todos os
constrangimentos a que é submetido o sujeito a esse sistema. O presente artigo aborda os estudos ligados as ferramentas disponibilizadas pela ergonomia, aplicadas especificamente à
- Definições dos componentes da mesa e da cadeira;
carteira escolar Mesa Dupla para CAD,
analisando os fatores biomecânicos, fisiológicos e antropométricos da postura sentada e o fator risco, para a geração de requisitos atribuídos a possíveis melhorias projetuais neste posto. 2. Revisão Bibliográfica
2.1. Carteira Escolar Como Posto de Trabalho
Para Santos (1991, apud Neto, 2005), em um posto de trabalho deve-se ter um enfoque ergonômico, que vise adequar as características psico-fisiológicas do trabalhador, reduzindo as exigências biomecânicas posturais, procurando colocá-lo em uma boa postura de trabalho, adequando os equipamentos, ferramentas e objetos ao alcance dos movimentos corporais. Desta forma, a ergonomia procura focalizar o ser humano no projeto de trabalho e nas atividades cotidianas. As condições de insegurança, insalubridades, desconforto e ineficiência podem ser eliminadas quando são adequadas às capacidades e limitações físicas e psicológicas do mesmo (DUL &
WEERDMEESTER, 1995).
Considerar a sala de aula como ambiente de trabalho do aluno, e delimitar a carteira como sendo seu posto de trabalho, no qual
desenvolverá suas tarefas escolares, tais como ler, escrever, sentar e se comunicar, nos permite entender e aceitar a necessidade da aplicação dos processos ergonômicos, atribuídos normalmente a um posto de trabalho convencional, conferindo-lhe segurança, conforto e usabilidade.
Paschoarelli (1997) aponta que as carteiras escolares são um ponto importante e oportuno, a ser considerado nos projetos voltados aos
estudantes de instituições educacionais, nas quais o sucesso de sua atribuição se relaciona diretamente com as condições de bem estar e usabilidade proporcionados pela carteira. Como conseqüência negativa, da assunção de hábitos posturais inadequados na fase infantil, pode ocorrer uma transferência para o indivíduo
adulto refletido na sua postura, condição física e queda da qualidade do trabalho. Contudo, presume que a utilização de uma carteira, que possibilite ao aluno a adoção de posturas adequadas a sua tarefa, terá reflexos positivos quanto a futuras posturas de trabalho, e também nos conceitos de qualidade empregados na vida adulta.
2.2. Carteira Escolar X Atividade Humana Partindo da demanda gerada pela atividade humana, o sistema seguinte ilustra a caracterização de um mobiliário carteira escolar, a partir das suas funções básicas: - Acomodar o aluno na posição sentada; - Oferecer superfície plana para efetuação das
atividades da aula.
Essas funções tornam possível determinar os componentes cadeira e mesa, que agregam então os sub-componentes necessários para sua
configuração.
Figura 1 – Sistema Carteira X Atividade Humana. 2.3. Normas para Mobiliário Escolar A NBR 14006 define os critérios para a fabricação de mobiliário escolar. Desses critérios fazem parte:
- Requisitos: Materiais; Dimensões; Acabamento; Resistência mecânica e de estabilidade; Amostragem; Métodos de ensaios; e Marcação e identificação.
Neste estudo, serão apresentadas as
recomendações para dimensões e acabamento, como requisitos básicos para a discussão.
2.3.1. Dimensões
Dadas as peculiaridades das escolas brasileiras, as dimensões mínimas de profundidade e
largura do tampo da mesa foram definidas como 450mm X 600mm.
A superfície da mesa especificada nesta Norma é horizontal. Entretanto, se for necessária uma superfície inclinada, esta não deve ter uma inclinação maior que 10°. A borda da mesa mais próxima ao aluno deve altura especificada para mesa plana. Se for colocado um porta objeto sob o tampo da mesa, o espaço livre entre eles deve ter no mínimo 60mm de altura.
A inclinação do assento deve ter no máximo 4°. A superfície do assento pode ser plana ou ter conformações. Qualquer conformação deve estar nos 2/3 do assento.
As dimensões para o conjunto aluno (definição para mesa e cadeira) estão estabelecidas nas tabelas 1 e 2, e figuras 1 e 2.
Algumas das dimensões estabelecidas tomam como base medidas antropométricas, resultando em dimensões funcionais.
2.3.2. Acabamento
– As quinas e arestas devem ser arredondadas com um raio de curvatura mínimo de 1,0 mm, com exceção do tampo da mesa, onde o raio de curvatura deve ser no mínimo 2,5, para a a face de contato com o usuário.
– As saliências não devem apresentar
características cortantes ou perfurantes capazes de causar ferimentos ou danos em vestimentas. 2.4. Riscos Atribuídos a um Posto de
Trabalho Sentado
Os riscos pertinentes ao posto de trabalho sentado estão associados aos fatores ambientais, humanos e projetuais desse posto.
Com relação aos fatores ambientais: - Ruído, Iluminação e Temperatura;
Com relação aos fatores humanos:
- Assunção postural inadequada, Ausência, de alternância postural, Monotonia e Fadiga. Com relação aos fatores projetuais:
- Ausência de ajustes, para regulagens de altura e inclinação, da superfície, assento e vídeo-terminais; Incompatibilidade de altura entre a superfície de trabalho e assento; Ausência de apóia pés; Ausência de apoiador de braço; Dispositivos e controles localizados fora de alcance dos braços; Falta de espaço para as pernas e pés, ou sua restrição; e Regulagem.
3. Materiais e Métodos 3.1. Objeto de Estudo
A mesa Dupla para CAD é um mobiliário criado e adotado pela Escola de Produção do SENAI de Lençóis Paulista, e faz parte da relação dos produtos da linha de mobiliários escolares, presente no seu catálogo de fabricação.
Figura 2 - mesa Dupla para CAD: Visão geral
Esta mesa é destinada ao Laboratório de CAD, onde também são ministradas aulas de Desenho Técnico, em horários alternados. Sua função é atender a essa demanda, caracterizada por expectativas de interface diferentes, voltadas a um mesmo mobiliário.
Para atender a essas expectativas diversas, a Mesa Dupla para CAD dispõe de:
- 2 Pranchetas, com régua paralela; Gaveta sob cada prancheta; Espaço para monitor;
Suporte para teclado; Suporte para CPU; e Cadeira com altura do assento e encosto reguláveis.
3.2. Procedimentos
Para realização desta investigação exploratória do posto Mesa Dupla para CAD, foram feitos: - registros fotográficos;
- medições do mobiliário;
- Verificações de conformidades e incorformidades, por meio do check list proposto por Dul e Weerdmeester (2004), relacionados aos fatores biomecânicos, fisiológicos e antropométricos; os fatores relativos à postura - postura sentada; e complementadamente com os fatores de risco. O referido check list é recomendado por Dul e Weerdmeester (2004) para finalidades como:
o Evitar esquecimento de aspectos
projetuais; Prevenção de problemas; Medir os efeitos das intervenções no projeto; e Fonte de idéias e alternativas.
4. Resultados e Discussão Foram analisados os aspectos de desenvolvimento da tarefa, tais como:
segurança, conforto, usabilidade e satisfação.
Figura 3 - Utilização da prancheta de desenho
Figura 4 – Utilização de teclado, mouse, gaveta.
da pra Figura 5 – Utilização ncheta
s Biomecânicos,
As conformidades
bservando as figuras, constata-se que este
po,
As inconformidades
s figuras 3, 4 e 5, evidenciam o espaço restrito
usuário de porte maior é desconsiderado ça a da mesa
ue
sses problemas identificam-se com os tópicos
.2. Considerando os Fatores Relativos à
As conformidades
cadeira adotada dispõe dos requisitos básicos
tampo da mesa apresenta ajustes de
rece a
ssas características atendem ao check list nos 4.1. Considerando os Fatore
Fisiológicos e Antropométricos. 4.1.1.
O
mobiliário atende a alguns critérios no que refere-se ao posicionamento, visto que este proporciona satisfatória aproximação do cor e um bom posicionamento do tronco. Assim são evitadas possíveis posturas contorcidas e
inclinadas apontadas pelo check list. 4.1.2.
A
para o posicionamento das pernas, e a resultante dificuldade de movimentação destes membros. O
quanto à altura do tampo da mesa, que o for inclinar o tronca para frente, se estiver desenvolvendo sua tarefa com o tampo
na horizontal. Também a gaveta estando aberta ou fechada (fig. 3 A), representa obstáculo e risco, que se confirma verificando a pressão q esta faz nas pernas do aluno, mostrado nas figuras.
E
do check list relacionados a: variação de postura e movimentos; diferenças antropométricas e inclinação do corpo para frente.
A B C
4
Postura – Postura Sentada 4.2.1.
A
necessários para a tarefa, tais como os ajustes da profundidade do encosto e da altura do assento.
D E F
O
inclinação, que junto com a cadeira, ofe
conjugação necessária e adequada para altura a exigida na relação: Aluno x Superfície x Tarefa. E
G
do assento à tarefa; possibilidades de ajustes; conjugação entre a altura da superfície de trabalho e do assento; presença de superfíc inclinada para leitura e outras tarefas visuais; postura do assento e do encosto ajustáveis.
ie
As inconformidades
omo já observado nas figuras apresentadas, os de
mesa apresenta três alturas de superfícies
um te. localização do mouse está distante da ideal
r
ssas inconformidades correspondem aos itens
balho à 4.2.2.
C
espaço para o posicionamento das pernas é restrito, que limita no aluno os movimentos abertura e extensão desses membros. Esse fator é agravado quando se trata de usuários de porte maior, que neste caso sofre a pressão da gaveta na parte superior das coxas.
A
destinadas a: prancheta, teclado e monitor. Entretanto, apenas a prancheta possui regulagem adequada. O teclado possui dispositivo retrátil, mas não de altura e a superfície do monitor é desprovida de ajus A
em relação ao usuário, que é forçado a estende o braço, permanecendo numa posição
inadequada para a tarefa. E
do check list referentes à: espaço suficiente para as pernas sob a superfície de trabalho;
adequação da altura da superfície de tra
tarefa; conjugação entre a altura da superfície de trabalho e do assento.
Figura 6 - mesa Dupla para CAD: Distribuiç dos
.3. Considerando os Fatores de Risco As conformidades
risco de DORT, de que trata o check list, é
e
As inconformidades
mobiliário apresenta vários pontos de
a altura da canela: A presença do suporte da
em
rranhões e raspões: Os cantos vivos,
inferior
de risco de surgimento de DORT é
nência
- ole
- apoio para os braços, tanto na
. Considerações Finais
carteira escolar Mesa Dupla para CAD para
ltado
mobiliário estudado neste artigo, apresenta partir tiva, ão espaços 4 4.3.1. O
evitado pela mesa, no que se refere ao ajuste d dispõe. Também as características gerais da cadeira atendem esse aspecto.
4.3.2. O
inconformidades relacionados a risco de acidentes físicos causados por batidas. N
CPU na zona central de posicionamento das pernas, assim como de uma placa frontal da carteira, com dimensões exageradas, constitu risco claro para a canela do aluno.
A
existentes no suporte do teclado, na face da frente da gaveta e no tampo da prancheta, possibilitam acidentes dessa natureza. O
evidenciado nas seguintes ocorrências: - Flexão forçada das pernas para perma
tanto nas laterais como na parte central do mobiliário, causada pela falta de espaço nessas laterais e pelo suporte da CPU. Extensão exagerada do braço para contr do mouse.
Ausência de
cadeira como na mesa. 5
A
apresenta-se com os elementos necessários que os usuários desenvolvam sua tarefa, no entanto a simples disponibilidade desses elementos não garante a eficiência no resu final no que diz respeito ao aluno.
O
uma extensa relação de inconformidades, referente a todos os aspectos pontuados, a do check list de Dul e Weerdmeester (2004). Contudo, as inconformidades verificadas neste mobiliário quanto ao aspecto risco, mostram a existência potencial de riscos físicos, que justifica a intervenção da ergonomia corre numa configuração ergonômica efetivamente
adequada à tarefa.
Os benefícios à saúde e segurança psíquico-o
á que prestar os devidos méritos aos trabalhos
ontudo os vícios de projeto, frequentemente ntes ção. ale ressaltar que, na questão do mobiliário
m
partir dos passos iniciais em direção a um
al eensão
. Bibliografia
LBERTON, Anete. Uma metodologia para m
x/indx_ane.htm>.
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r/ la
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ASCHOARELLI, Luis Carlos. O posto de ma
ra,
OARES, Marcelo Marcio. Contribuições Da
: a
6 p. AQUEIRO, Carlos Fernandes. Ergonomia no física do aluno no ambiente educacional, e as
contribuições do mobiliário para a eficiência d desenvolvimento de sua tarefa de aprendizagem, são resultados desejados para os quais esse estudo procura contribuir.
H
já iniciados nos vários setores da ciência, voltados a este tema.
C
fundados no conhecimento empírico, e a aplicação de materiais inadequados, prese na fabricação desse tipo de mobiliário, representam um grande desafio de corre V
escolar ainda perduram muitas lacunas a sere preenchidas.
A
caracterização do mobiliário escolar como posto de trabalho, acreditamos que vários equívocos de projeto deixarão de ocorrer. T direcionamento apresentou-se como um caminho sólido, no que se refere à compr real de problemas, do referido posto, como de fato ele se apresenta, juntamente com a consideração de suas variáveis.
6 A
auxiliar no gerenciamento de riscos e na seleção de alternativas de investimentos e segurança. Disponível em: <
www.eps.ufsc.br/T disserta96/anete/inde Acessado em 06/06/2005. A
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B
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