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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

Departamento de Educação – Campus VIII - Paulo Afonso - BA

Programa de Pós-Graduação em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental

THAYSE MACEDO DOS SANTOS LIMA

ESTADO DA ARTE SOBRE ENTEROPARASITOS EM INDÍGENAS E USO DE PLANTAS ANTIPARASITÁRIAS PELOS KANTARURÉS, BAHIA, BRASIL

Orientador: Dr. Artur Gomes Dias Lima

PAULO AFONSO - BA ABRIL/2015

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THAYSE MACEDO DOS SANTOS LIMA

ESTADO DA ARTE SOBRE ENTEROPARASITOS EM INDÍGENAS E USO PLANTAS ANTIPARASITÁRIAS PELOS KANTARURÉS, BAHIA, BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental, da Universidade do Estado da Bahia, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental.

Orientador: Dr. Artur Gomes Dias Lima

PAULO AFONSO - BA ABRIL/2015

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Eva Dayane Jesus dos Santos CRB-5 1670

L732e

Lima, Thayse Macedo dos Santos

Estado da arte sobre enteroparasitos em indígenas e uso plantas antiparasitárias pelos Kantarurés, Bahia, Brasil/ Thayse Macedo dos Santos Lima. – Paulo Afonso, 2015. ?f.; il.

Orientador: Prof. Dr. Artur Gomes Dias Lima.

Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado da Bahia. Programa de Pós-graduação em Ecologia Humana. 2015.

Contém referências.

1. Parasitologia. 2. Indígenas. 3. Kantaruré (BA). 4. Glória (BA). I. Lima, Artur Gomes Dias. II. Universidade do Estado da Bahia. Programa de Pós-graduação em Ecologia Humana.

CDD 616.96

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AGRADECIMENTOS

E vou concluindo mais uma etapa, com o coração cheio de alegrias por saber que não caminhei sozinha durante esses dois anos de mestrado...

Agradeço a Deus por nunca me abandonar e ser a minha força sempre;

Á minha família, em especial meus pais Maria Aparecida e Izidoro, e ao meu irmão João Victor, por todo apoio, compreensão, ajuda, carinho e amor;

Ao meu orientador Artur Dias, sempre presente em cada passo dado, desde a sementinha plantada antes mesmo de pensar em fazer a seleção do mestrado, até os frutos que hoje já começamos a colher. Que esses anos de convivência, amizade, parceria, dedicação e paciência comigo se multipliquem. Meu muito obrigada!;

Aos Kantarurés das aldeias Baixa das Pedras e Batida pela receptividade, carinho e contribuição no desenvolvimento dessa pesquisa; aos caciques João, Juracy, José Ailton (Dota) por apoiarem o desenvolvimento do trabalho;

A Secretaria de Saúde indígena (SESAI - Polo Paulo Afonso); ao coordenador Jandson, ao médico Tales, a enfermeira Glaucia, motoristas e técnicos de enfermagem, pelo apoio com caronas, material informativo e intermédio com esclarecimento da pesquisa aos membros das aldeias;

A Prof. Erika, por todo o apoio dado e pela oportunidade de fazer parte da equipe LAPPEF; a Deyvison, Rosseany e Breno pelos ensinamentos e parceria.

As minhas irmãs de mestrado e para toda vida; Elaine e Marcella por cada sorriso, gargalhada, desabafo, compreensão, companheirismo, história compartilhada, confiança e amizade; Lidiane por sempre me lembrar de que a humildade é um sentimento mais que grandioso; Melina por toda sua alegria; Muito obrigada por terem deixado essa trajetória mais leve e feliz;

Aos amigos que fui colhendo durante a trajetória; Kessia, Thiago, Luanna, Luiza e Arthur, obrigada pelos ensinamentos, tanto acadêmicos, quanto na vida pessoal;

A Diane, Vivian e Francislainy pelo acolhimento e alegrias diárias; A Eva e Naiara, por serem as melhores vizinhas/amigas do mundo;

A todos os meus amigos por compreenderem minha ausência, meus momentos de tensão e surtos acadêmicos;

Ao Prof. Marcos Vannier, por ter aceitado o convite para participar da banca;

Aos funcionários do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental: Prof. Eliane Nogueira, Prof. Adriana Cunha, Helena e Leonardo, pelo apoio, dedicação, serviços prestados e pelo excepcional trabalho desenvolvido para o bom funcionamento do mestrado;

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Aos funcionários da Universidade do Estado da Bahia, campus Paulo Afonso, por toda ajuda e auxilio;

Ao Herbário da Universidade do Estado da Bahia – Coleção Paulo Afonso e Alagoinhas, pelo apoio logístico e no processamento e identificação do material botânico;

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de mestrado para desenvolvimento e conclusão da pesquisa;

E a todos que de forma direta ou indireta contribuíram para mais uma conquista.

“... mas sonho que se sonha junto é realidade!” Meus verdadeiros agradecimentos!

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LISTA DE FIGURAS

Capítulo I

Figura 01: Fluxograma da seleção dos artigos da revisão

sistemática...28

Figura 02: Distribuição das produções cientificas por décadas, sobre enteroparasitas em populações indígenas do Brasil... 29

Figura 03: Abrangência geográfica das produções cientificas sobre a presença de enteroparasitas em comunidades indígenas nas diferentes regiões do Brasil...30

Capítulo II

Figura 01: Localização da comunidade indígena Kantaruré Baixa das Pedras, Glória-Ba, Brasil...52

Figura 02: Número de espécies citadas por gênero com ação antiparasitária, na aldeia indígena Baixa das Pedras, etnia Kantaruré, Bahia...55

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LISTA DE TABELAS

Capítulo I

Tabela 01: Produção científica, em ordem cronológica, abordando o enteroparasitismo em populações indígenas no Brasil...31

Capítulo II

Tabela 01: Espécies etnobotânicas citadas pelos entrevistados na aldeia indígena Baixa das Pedras, Bahia, com seus dados etnobotânicos...58

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9 SUMÁRIO Página INTRODUÇÃO GERAL ... 9 OBJETIVO GERAL ... 11 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 11 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 19

CAPITULO I - ESTADO DA ARTE SOBRE ENTEROPARASITOS EM COMUNIDADES INDÍGENAS DO BRASIL ... 22

Resumo... 23 Abstract... 24 Resumen... 24 Introdução... 25 Material e Método... 27 Resultados... 29 Discussão... 36 Considerações Finais... 38 Referências Bibliográficas... 39

CAPITULO II - PLANTAS MEDICINAIS COM AÇÃO ANTIPARASITÁRIA: CONHECIMENTO TRADICIONAL NA ETNIA KANTARURÉ, ALDEIA BAIXA DAS PEDRAS, BAHIA, BRASIL... 46

Resumo... 47 Abstract... 48 Introdução... 49 Material e Método... 51 Resultados e discussão... 55 Agradecimentos... 60 Referências Bibliográficas... 61 CONCLUSÃO GERAL... 65

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INTRODUÇÃO GERAL

Os estudos em Ecologia Humana pretendem averiguar quais são os ecossistemas com os quais as populações interagem, a natureza dessas interações e as consequências dessas relações para o homem e para o ambiente (Moran, 1990). No Brasil, parte dos estudos realizados na área está voltado para a área de saúde, particularmente epidemiologia.

Begossi (1993) aponta que os estudos de ecologia humana, baseados em teorias e princípios da ecologia, enfocam temas como estratégias de forrageio, discussões sobre otimização, amplitude de nicho, diversidade de recursos, territorialidade, dinâmica demográfica, estabilidade e resiliência.

Outro termo que faz referência à interação pessoas e ambiente é a Etnoecologia, que tem suas raízes na antropologia, apesar de possuir influências de outras áreas (Toledo, 1992). Fowler (2000) a define como um estudo da ecologia de um dado grupo étnico, algo único na história deste grupo – e, segundo, fazendo referência às percepções ou visões do grupo indígena/local sobre o fenômeno em questão.

Outras áreas relacionadas às ciências naturais adjetivadas pelo prefixo “etno” possuem um histórico menos recente que a etnoecologia, como a etnobotânica e a etnozoologia (Hanazaki, 2006). A etnobotânica é a área correlata à etnobiologia e à etnoecologia com maior volume de pesquisas. Porém, diferente da etnobotânica, que pode ser situada dentro da botânica, a etnoecologia atualmente não pode ser situada apenas dentro da ecologia.

Há uma estreita relação entre questões da etnobotânica e da saúde. Mesmo quando se trata de outras categorias utilitárias de vegetais, como, por exemplo, plantas alimentares e espécies vegetais para a construção, há relações com a saúde, de maneira geral, das populações envolvidas. O bem estar pessoal e coletivo desses grupos depende dos conhecimentos que se tem sobre recursos de origem vegetal e dos usos que se faz desse recurso (Haverroth, 2013). Os povos indígenas, por questões históricas, culturais e do ambiente onde a maioria desses povos vive, a relação costuma ser mais estreita. Pode-se afirmar que todo o cotidiano de uma aldeia indígena gira em torno do manejo de recursos naturais ou cultivo de plantas.

Os povos indígenas no Brasil apresentam um complexo e dinâmico quadro de saúde, diretamente relacionado a processos históricos de mudanças sociais, econômicas e ambientais atreladas à expansão e à consolidação de frentes demográficas e econômicas da sociedade nacional nas diversas regiões do país (COIMBRA, 2005). Desde os tempos anteriores à colonização europeia, os indígenas possuem seus sistemas tradicionais de saúde, que articulam os diversos aspectos da sua organização social e da sua cultura, a partir do uso das plantas medicinais, rituais de

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cura e práticas diversas de promoção da saúde, sob a responsabilidade de pajés, curadores e parteiras tradicionais.

Para os povos indígenas, a saúde está intimamente relacionada com a terra e o equilíbrio da natureza. Altini et al (2013) abordam que os fatores determinantes da saúde indígena estão relacionados à garantia de sua plena cidadania, com autonomia, posse territorial, uso exclusivo dos recursos naturais e integridade dos ecossistemas específicos. Os autores ainda afirmam que acima de tudo a saúde deve estar a serviço da cultura e das formas próprias de organização, e é uma construção coletiva, que se conquista através da participação e do fortalecimento do seu protagonismo e poder de decisão.

No processo de exclusão social, econômica e cultural, que perdura há cinco séculos, as populações indígenas localizadas em território brasileiro, amparadas por conquistas e direitos sociais já garantidos por Carta Magna, continuam à mercê do acaso e o esquecimento. Seus territórios, aldeias, vilas e moradias, não são atendidos por políticas públicas voltadas ao saneamento básico e a má disposição dos dejetos possibilita o contato do homem com parasitas responsáveis por ancilostomose, ascaridíase, amebíase, esquistossomose, entre outras enteroparasitoses.

As consequências trazidas por essas doenças são diversas e incluem o atraso do desenvolvimento físico, do aproveitamento escolar em crianças, o agravamento de quadros de desnutrição, diarreia, má absorção da alimentação e anemias. As crianças em idade escolar são as mais atingidas e prejudicadas pelas doenças parasitárias, uma vez que seus hábitos de higiene são, na maioria das vezes, inadequados e sua imunidade ainda não é totalmente eficiente para a eliminação de parasitos (Uchôa, 2001; Marrone, 2004; Incerti, 2013).

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OBJETIVO GERAL

Realizar um trabalho de revisão bibliográfica sobre enteroparasitos e identificar o conhecimento dos indígenas Kantaruré aldeia Baixa das Pedras localizada no município de Glória-Ba, sobre os usos da flora local na prevenção e tratamento de parasitos gastrointestinais buscando a relação entre conhecimento tradicional local e saúde.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Produzir um artigo de revisão bibliográfica sobre enteroparasitas em indígenas do Brasil, objetivando reunir os trabalhos de significância sobre o tema;

 Realizar o levantamento das plantas utilizadas como medicinais com ação antiparasitária, pela aldeia indígena Kantaruré de Baixa das Pedras;

 Quantificar a saliência cultural e as formas de uso das plantas indicadas com ação antiparasitária pela aldeia indígena Kantaruré.

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Povos Indígenas no Nordeste

Comunidades Tradicionais, de acordo com o Decreto nº 6.040, o qual Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais

São grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.

A definição que os antropólogos dão sobre o que vem a ser índio é: ser descendente genealógico de uma comunidade silvícola de origem pré-histórica, possuir a cor morena, olhos e cabelos pretos e lisos, estatura mediana baixa e aspectos fisionômicos de mongóis. Essas características fortalecem a tese dos estudiosos de serem os ameríndios originários de grupos imigrantes asiáticos, australianos ou malaio-polinésios (Machado, 2009).

Uma definição técnica das Nações Unidas (1986), abordada por Gersem (2006), é de que:

As comunidades, os povos e as nações indígenas são aquelas que, contando com uma continuidade histórica das sociedades anteriores à invasão e á colonização que foi desenvolvida em seus territórios, consideram a si mesmos distintos de outros setores da sociedade, e estão decididos a conservar, a desenvolver e a transmitir às gerações futuras, seus territórios ancestrais e sua identidade étnica, como base de sua existência continuada como povos, em conformidade com seus próprios padrões culturais, as instituições sociais e os sistemas jurídicos.

A presença humana no Brasil está documentada no período situado entre 11 e 12 mil anos atrás, mas novas evidências têm sido encontradas na Bahia e no Piauí que comprovariam ser mais antiga esta ocupação (Assis, 2010). Segundo a Funai (2009), a migração ocorrida no Brasil pelos portugueses em 1500, até o início do século XX, foi a responsável pela extinção de muitas sociedades indígenas que viviam no território.

Coimbra Jr. (2002) ressalta que o expansionismo europeu marcou as comunidades nativas das Américas trazendo aos índios no Brasil consequências que afetaram profundamente, como por exemplo: epidemias de doenças, trabalho forçado, morte violenta, marginalização e até mesmo extinção de inúmeras etnias.

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Os índios da região Nordeste apresentavam uma grande diversidade étnica. Ao longo do tempo, tiveram um extenso contato com as frentes de extensão agropecuárias e estas frentes marginalizaram os índios, afirmando que eram grupos residuais. Estas concepções deviam-se ao fato da homogeneidade linguística e cultural presente no litoral muito distinta da realidade vista no sertão (Silva, 2010). Por conseguinte, passou-se a dividir os povos indígenas em dois polos: os índios do litoral e mata tropical e os índios do interior e caatinga. Desta maneira, segundo estudos de Dantas, Sampaio e Carvalho (1992), a articulação entre tamanha diversidade entre o litoral e o sertão e o volume modesto de informações disponíveis tornam a leitura acerca dos povos do sertão.

De acordo com Silva (2010):

Estudos reconhecem a predominância de etnias da família Kariri, presente desde o Ceará e a Paraíba até a porção setentrional do sertão baiano. A leste o vale do rio era dominado pelos Proká e Pankararu (parentes dos Pankararé) até a cachoeira de Paulo Afonso, enquanto a oeste onde localizam-se as atuais cidades de Juazeiro e Petrolina há registros da presença dos Okren, Sakrakrinha, Tamakin, Koripó, Massakará e Pimenteiras. No sertão ao sul do rio São Francisco, predominavam os grupos Kariri (kiriri) e os Payayá, muitos deles deslocados para aldeamentos no Paraguaçu, no Jaguaripe e no litoral de Camamu, a fim de defender a Bahia de Todos os Santos do avanço dos Aimoré. Além dos Tupi e Jê, outros três grupos possuem grande relevância, visto que possuem graus de diversidade interna distintos. São as famílias dos Botocudos, Maxakali, Kamacã e Pataxó.

A hipótese mais aceita acerca desta grande diversidade étnica no período colonial refere-se à expulsão destes povos do litoral nordestino pelo avanço dos portugueses e dos índios Tupi, visto que os povos indígenas guerreavam entre si, geralmente em busca de novos territórios (Sampaio, 1992; Silva, 2010).

Os missionários e curraleiros se concentraram no submédio São Francisco e fizeram do sertão de Rodelas. Deste local prosseguiram para Pernambuco, Paraíba, Rio Grande, Ceará, Piauí e Maranhão. No São Francisco, os capuchinhos franceses foram os primeiros a chegar antes de 1671 e fundaram a missão de Rodelas e a dos Aramuru, no baixo São Francisco, bem como a de Pambu (Sampaio, 1992). Este movimento missionário atingiu o seu apogeu por volta da segunda metade do século XVI e nas primeiras décadas do século XVII.

Tal configuração histórica demonstrou que enfrentando as compulsões decorrentes da implantação do projeto colonial português, os índios habitantes do Nordeste chegaram ao século XIX vivendo situações distintas. Os poucos indígenas que viviam isolados passaram a entrar em contato com os neobrasileiros por meio das chamadas guerras justas. De modo geral, a maior parte

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dos índios da região vivia aldeada ou já tinha vivido em aldeamentos, que agrupavam grupos étnicos diversos (Silva, 2010).

Ainda na década de 1850, índios que tinham abandonado as aldeias transitavam entre as fronteiras da Paraíba e do Piauí, vivendo de caça e da coleta, mudando constantemente de local de acampamentos, por conta da perseguição dos fazendeiros (Sampaio, 1992; Silva, 2010).

Dados recentes do Censo (2010) indicam que há mais de 800 mil pessoas identificadas na categoria “índio”, o que representa 0,4% da população brasileira. Essa população está distribuída em 683 Terras indígenas e em algumas áreas urbanas. Há 77 referências de grupos indígenas não contatados, os chamados “isolados”, das quais 30 foram confirmados (Haverroth, 2013). Além desses, há grupos reivindicando o reconhecimento de sua condição indígena junto à Fundação Nacional do Índio (FUNAI, 2012).

Silva e Freire (2013) discutem que no Brasil, atualmente estão sendo desenvolvidas diversas pesquisas interdisciplinares, voltadas para saberes e práticas dos povos indígenas. As equipes são formadas por conhecedores tradicionais, jovens, homens, mulheres, professores, pesquisadores indígenas ou não. Para esses mesmos autores, esses projetos incluem temáticas diversas, como: sistema de classificação, manejo da flora e fauna, experiências cotidianas e rituais, procedimentos xamânicos, práticas de processamento e consumo alimentar, doenças, benzimentos, etc. Diferente do cenário atual, nos séculos XVI e XVII, esses conhecimentos e práticas eram filtrados pelo olhar do europeu e, hoje, podem ser recuperados na documentação histórica. É o caso do emprego da flora na cura contra doenças.

Ecologia Médica

O estudo de todas as doenças em grupos de pessoas em relação a ambos os seus ambientes bióticos e abióticos é o que define a Ecologia Médica (Vaughn, 1978). Dias-Lima (2012) também conceitua essa área como o estudo das doenças e seus fatores relacionados ao homem, meio ambiente e seus desequilíbrios. Apesar de pouco difundida, quanto aos seus conceitos, saberes e aplicações, foi com Hipócrates, no seu tratado sobre “Ares, Aguas e Lugares”, que surgiram as primeiras idéias sobre ecologia médica (Avila-Pires, 2000). E segundo este autor, a ecologia médica

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só teve condições de se desenvolver após a comprovação das teorias de Darwin e Pasteur, e seu progresso deveu-se, em grande parte, às investigações epidemiológicas sobre os ciclos complexos das zoonoses, no século XX.

Pugliesi (2012) salienta que o termo Ecologia Médica, foi “expressado” em 1939, pelo microbiologista francês René Dubos. Durante suas pesquisas sobre infecções tropicais, que culminou na descoberta de um potente antibiótico, Dubos descobriu o quanto o meio ambiente interage no tratamento das doenças. Desde então, a expressão vem sendo empregada sempre que questões ecológicas se relacionam com a medicina.

Pode-se ainda relacionar numa interface comum a ecologia médica com a geografia médica. Lacaz (1972) diz que a geografia médica nasceu também com Hipócrates, aproximadamente 480 a.C., Nesta época, ele já demonstrava a relação dos fatores ambientais com o surgimento das doenças. Avila-Pires (2000) salienta que a ecologia médica constitui, além disso, um dos pilares em que se apoia a geografia médica, sendo esta, apenas aquela que mapeia a área de ocorrência das doenças sem explicar a razão dos padrões patogeográficos.

Assim, ecologia e geografia médicas constituem a base essencial para a compreensão dos mecanismos íntimos de ação de doenças infecciosas e parasitárias e para o equacionamento das medidas gerais de controle racional dessas enfermidades (Dias-Lima, 2012). E para esse mesmo autor, em tempos de geoprocessamento e georreferenciamento, estas seriam então importantes ferramentas para a geografia e ecologia médica. A ecologia médica seria ainda importante, no sentido de fornecer subsídios à Epidemiologia, para que esta possa estabelecer programas de vigilância ambiental tanto no aspecto preventivo como no controle das enfermidades.

Dias-Lima (2012) contextualizou algumas das ciências aplicadas aos estudos da Ecologia Médica, o que se fez necessário refletir sobre a Antropologia Médica. O discurso antropológico revela que o estado de saúde de uma população é associado ao seu modo de vida e ao seu universo social e cultural. A antropologia médica se inscreve, assim, numa relação de complementaridade com a epidemiologia e com a sociologia da saúde, salientam Uchôa e Vidal (1994). De acordo com estes autores, inúmeros estudos revelam que os comportamentos de uma população frente a seus problemas de saúde, incluindo a utilização dos serviços médicos disponíveis, são construídos a partir de universos socioculturais específicos.

Ainda, tais estudos apontam a necessidade de enraizarem-se os programas de educação e o planejamento em saúde em conhecimento prévio das formas características de pensar e agir predominantes nas populações junto às quais se quer intervir. Na maioria das vezes, a medicina dá atenção ao doente e não a doença.

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Saúde indígena no Brasil

O perfil epidemiológico dos povos indígenas ainda é muito pouco conhecido, o que decorre da exiguidade de investigações, da ausência de inquéritos e censos, assim como da precariedade dos sistemas de informações sobre morbidade e mortalidade. Qualquer discussão sobre o processo saúde/doença dos povos indígenas precisa levar em consideração, além das dinâmicas epidemiológicas e demografia, a enorme sociodiversidade existente (Santos & Coimbra, 2005). Estatísticas vitais, como por exemplo, coeficiente de mortalidade infantil, esperança de vida ao nascer e taxas brutas de natalidade e mortalidade, essenciais para compreender a dinâmica demográfica, para monitorar o perfil de saúde/doença e para planejar ações de saúde e educação, raramente são disponíveis.

Pesquisa sobre o histórico da saúde no Brasil, realizada por De Paula e Viana (2011), aponta que do final da década de 1960 ao início da década de 1990, todas as ações do governo brasileiro voltadas para os povos indígenas concentravam-se na Funai, ligada ao já extinto Ministério do Interior. E ainda conforme esses autores, a partir de 1990, essa situação foi mudando,

Primeiro, a Funai passou a estar subordinada ao Ministério da Justiça. Depois, por forca de quatro decretos presidenciais deixou de ser formalmente a única agência governamental para o atendimento das demandas sociais indígenas. As políticas públicas para povos indígenas, antes formuladas e executadas exclusivamente por ela, passaram a ser de responsabilidade, também, de outros ministérios e órgãos federais.

No ano de 1991, dois decretos presidenciais transferiram para a alçada do Ministério da Saúde (MS), especificamente para a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), a responsabilidade pela assistência à saúde indígena, atribuição que antes pertencia a Funai. Uma nova mudança importante na estrutura administrativa que ampara o atendimento a saúde indígena ocorreu em 2010, que foi a criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada diretamente ao Ministério da Saúde, e não mais a Funasa (De Paula e Viana, 2011).

A atual Política de Saúde Indígena estabelece que os serviços de saúde indígena devem respeitar e incorporar a comunidade local, oferecendo atenção diferenciada. Langdon (2013) aponta que as reformulações das políticas de saúde para os povos indígenas fazem parte da reforma sanitária que vem sendo implantada no Brasil, onde compartilham os mesmos princípios e problemas encontrados nas estratégias de atenção básica dirigidos a outros segmentos da sociedade brasileira. Os povos indígenas são considerados como “segmentos da população expostos a situação de risco” pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que fez com que o Estado brasileiro organizasse um subsistema de atenção primária nas áreas indígenas (De Paula e Viana, 2011).

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A legislação referente à saúde indígena aponta a necessidade de respeito às práticas culturais e aos saberes tradicionais das comunidades, inserindo-os sempre que possível, nas rotinas do trabalho em saúde (Brasil, 2002), e também, nas práticas indígenas de saúde. Com isso pode-se observar a preocupação na legislação brasileira com a necessidade de articular as práticas sanitárias oficiais com as diversas formas indígenas de auto atenção.

Haverroth (2004) aborda que dadas as condições precárias da saúde dos povos indígenas e de problemas na sua resolução, as pesquisas apontam,

A necessidade de haver planejamento de programas e ações voltadas à saúde preventiva e curativa considerando os aspectos ambientais, sociais e culturais específicos de cada população juntamente com outros fatores, entre eles, o problema da falta de conhecimento da realidade sociocultural local por parte dos profissionais responsáveis. Planejadores e gestores de programas dirigidos a essas populações devem refletir, em conjunto com o movimento indígena, sobre em que nível haverá intervenção. Há medidas que agem sobre fatores mais imediatos, mas não se podem desprezar as questões mais amplas que afetam as condições gerais da vida de cada grupo.

Estudos demonstram que, em geral, as doenças aparecem com maior prevalência e incidência entre as populações indígenas quando comparadas à população nacional não indígena. Basta et al. (2012) esclarecem que o perfil epidemiológico dos povos indígenas no Brasil é bastante complexo, sendo que as doenças infecciosas e parasitárias permanecem como importante causa de morbimortalidade. Ao mesmo tempo, vem ocorrendo um variado processo de transição, no qual novos agravos passam a exercer forte pressão sobre os perfis de adoecimento e morte preexistentes. É o caso das doenças crônicas não transmissíveis, dos transtornos mentais e comportamentais e das causas externas de adoecimento e morte.

Uma característica marcante da grande maioria das áreas indígenas é a precariedade das condições de saneamento. Raramente os postos indígenas onde convivem funcionários administrativos, agentes de saúde, escolares e visitantes, dentre outros, dispõem de infraestrutura sanitária adequada. É comum também a ausência de infraestrutura destinada à coleta dos dejetos e a inexistência de água potável nas aldeias. Nesse cenário, não é de surpreender que as parasitoses intestinais sejam amplamente disseminadas.

Etnobotânica e cuidados com a saúde indígena

Para Posey (1992), o conhecimento tradicional é o acumulo de práticas adquiridas por determinada sociedade ao longo do tempo, como resultado de seus valores, de suas crenças, de suas

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descobertas e de suas vivências experimentadas e os resultados de todas essas experiências compõem o acervo cultural dessa sociedade.

A biodiversidade existente e protegida hoje foi e continua sendo em grande parte possível devido à presença das chamadas populações tradicionais que com o seu modo de vida preservam estes ambientes e, portanto, a conservação da diversidade biológica e cultural deve caminhar de forma consolidada (Diegues, 1996).

O uso de recursos naturais de origens diversas, principalmente vegetais, pelos povos indígenas é marcante desde os tempos imemoriais até os dias atuais. A relevância dos conhecimentos ameríndios foi reconhecida pelos jesuítas, que criaram verdadeiros “laboratórios” de pesquisa e experimentos, cujo objetivo, entre outros, era estudar a utilização de plantas no tratamento de certos males. Com a flora, aprenderam a localizar e identificar espécies, bem como conhecer algumas práticas e técnicas da medicina indígena (Da Silva & Freire, 2013).

Os conhecimentos ameríndios e os deles originados foram imprescindíveis no combate às enfermidades da população colonial: febres, doenças de pele, cólicas, doenças venéreas, como a sífilis, problemas oculares, verminoses, chagas, mordidas de cobras, paralisias, tumores, dores de cabeça, sarampo, varíola e tantas outras.

Segundo Silva (2002), a etnobotânica é a ciência que estuda a inter-relação entre plantas e o homem. Essa etnociência proporciona o registro do conhecimento botânico tradicional relacionado ao uso dos recursos da flora (Guarim Neto et al, 2000; Costa, 2013).

A pesquisa em etnobotânica baseia-se em dois pontos principais: a coleta de plantas e a coleta de informações sobre o uso delas (Costa, 2013). Para Amorozo (1996), quanto mais detalhadas forem as informações, maiores serão as chances da pesquisa trazer subsídios de interesse para se avaliar a eficácia e a segurança do uso de plantas para fins terapêuticos. Para Haverroth (2013), a marcante presença de plantas ou vegetais nas práticas curativas nativas ou populares com origens nas mais diversas tradições, há uma tendência, dentro da ciência acadêmica, em prospectar plantas e substâncias de origem vegetal visando o desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos ou fármacos.

A sociedade indígena pode ser considerada ainda a maior e mais confiável fonte do conhecimento empírico existente, pois ainda detêm na grande quantidade de informações inexploradas pela ciência sobre formas de como lidar com o ambiente biologicamente diversificado e que podem ser úteis para a compreensão destes ecossistemas e para o desenvolvimento de atividades produtivas menos predatórias (Santos et al, 2010; Leite, 2014).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTINI, E.; RODRIGUES, G.; PADILHA, L.; MORAES, P. D.; LIEBGOTT, R. A. 2013. A Política de atenção à saúde indígena no Brasil - Breve recuperação histórica sobre a política de assistência à saúde nas comunidades indígenas. Conselho Indigenista Missionário, Brasília.

AMOROZO, M. C. M. A abordagem Etnobotânica na Pesquisa de Plantas Medicinais. In: DI STASI, L. C. (org.). Plantas Medicinais: Arte e ciência – um Guia de Estudo Interdisciplinar, Botucatu, 1996.

AVILA-PIRES, F.D. Princípios de ecologia médica. Editora UFSC, Florianópolis, 328p, 2000.

Basta PC, Orelana JDY, Arantes R. Perfil epidemiológica dos povos indígenas no Brasil: notas sobre agravos selecionados. In: L. Garnelo & A. L. Pontes (orgs.) Saúde Indígena: uma introdução ao tema. Brasília, MEC-SECADI 2012; Pp. 60-107.

BEGOSSI, A. Ecologia Humana: um enfoque das relações homem-ambiente. Interciência: Caracas, Venezuela, v.18, n.3, p. 121-123, 1993.

COIMBRA JR., C.E.A.; SANTOS, R.V; ESCOBAR, A.L. Epidemiologia e saúde dos povos indígenas no Brasil [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ; Rio de Janeiro: ABRASCO, 260 p., 2005.

COSTA, A. R. 2013. A identidade e o conhecimento etnobotânico dos moradores da Floresta Nacional do Amapá. 2013. 104f. Dissertação (Mestrado em Biodiversidade Tropical) - Universidade Federal do Amapá, Amapá.

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(23)

22

CAPÍTULO I

ESTADO DA ARTE SOBRE ENTEROPARASITOS EM COMUNIDADES INDÍGENAS DO BRASIL

Thayse Macedo dos Santos Lima & Artur Gomes Dias-Lima

Trabalho submetido à Revista Cadernos de Saúde Pública Estrato para áreas de Avaliação: Interdisciplinar – A1

(24)

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“ESTADO DA ARTE SOBRE ENTEROPARASITOS EM COMUNIDADES INDÍGENAS DO BRASIL”

RESUMO

O objetivo dessa pesquisa foi realizar uma revisão sistemática da literatura acerca das pesquisas científicas sobre a ocorrência das enteroparasitos em povos indígenas no Brasil, de acordo com as diretrizes PRISMA. Para a pesquisa foram usadas as bases de dados Scielo, LILACS, MEDLINE via PubMed, Embase, Scopus, Bireme, Biblioteca de Manguinhos, Biblioteca Lincoln de Freitas Filho e o banco de teses da USP. Foram selecionadas 55 produções científicas. Do total, 44 artigos, 8 dissertações, 1 tese, 1 monografia e 1 relatório técnico. Os estudos sobre enteroparasitos em indígenas aumentaram significativamente nos últimos anos, entretanto, a maioria foi desenvolvida na região Norte e Centro-Oeste. Isso demonstra uma escassez de pesquisas sobre a temática nas demais regiões do país, a exemplo da Nordeste, que possui um grande número de etnias distribuídas em seu território, e poucos trabalhos vêm sendo desenvolvidos.

Palavras-chave: Populações indígenas, enteroparasitismo, produção científica, saúde pública, Brasil.

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ABSTRACT Status of the art enteroparasites in indigenous communities in Brazil

This research was carried out a systematic review of literature on scientific research on the occurrence of intestinal parasitic infections among indigenous peoples in Brazil, according to the PRISMA guidelines. For the research were used databases Scielo, LILACS, MEDLINE via PubMed, Embase, Scopus, Bireme, Manguinhos Library, Lincoln Freitas Filho Library and the bank of USP. Were selected 55 scientific studies. Of the total, 44 articles, 8 dissertations, one doctoral thesis, 1 graduation dissertation and 1 technical report. Studies have increased significantly in recent years, however, most have been developed in the North and Midwest region. This demonstrates a lack of research on the subject in other regions of the country, like the Northeast, which possess a large number of ethnic groups distributed in its territory, and few studies have been developed.

Key words: Indigenous peoples, intestinal parasites, scientific, public health, Brazil.

RESUMEN Estado del arte enteroparásitos en las comunidades indígenas en Brasil Esta investigación se llevó a cabo una revisión sistemática de la literatura sobre la investigación científica sobre la aparición de infecciones parasitarias intestinales entre los pueblos indígenas de Brasil, de acuerdo con las directrices de PRISMA. Para la investigación se utilizaron las bases de datos SciELO, LILACS, MEDLINE vía PubMed, Embase, Scopus, BIREME, Manguinhos Biblioteca, Lincoln Freitas Filho Biblioteca y en la base de datos de la USP. Hemos seleccionado 55 publicaciones. Del total, 44 artículos, 8 tesis de maestrías, 1 teisis doctoral, 1 tesis de graduación y 1 informe técnica. Los estudios han aumentado significativamente en los últimos años, sin embargo, la mayoría se han desarrollado en la región Norte y Centro-Oeste. Esto demuestra que todavía hay una escasez de investigación sobre el tema en otras regiones del país, dado que otras regiones, como el Noreste, que poseen un gran número de grupos étnicos distribuidos en su territorio, y pocos estudios se han desarrollado

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INTRODUÇÃO

A configuração atual da saúde dos povos indígenas no Brasil resulta de complexa trajetória histórica marcada por conflitos fundiários associados à expansão das fronteiras demográficas nacionais, degradação ambiental e, em muitos casos, omissão por parte do Estado¹.

Dados oficiais do Censo 2010 apontam que há mais de 800 mil pessoas identificadas na categoria “índio”, o que representa 0,4% da população brasileira². Essa população está distribuída em 683 Terras Indígenas (TI) e em algumas áreas urbanas. Há ainda 77 referências de grupos indígenas não contatados, os chamados “isolados”, e existem grupos reivindicando o reconhecimento de sua condição indígena junto ao órgão³.

Estudos realizados em diversas etnias a partir dos anos de 1990 têm destacado o contexto das desigualdades sociais em saúde que marcam a fronteira entre ser indígena e não indígena no Brasil4,5. Embora precários, os dados disponíveis indicam em diversas situações taxas de morbidade e mortalidade três a quatro vezes maiores que aquelas encontradas na população brasileira geral6.

A atenção básica à saúde indígena é uma área relevante para a pesquisa, sobretudo para as políticas públicas, uma vez que o conhecimento das condições da saúde de populações indígenas é fundamental para ações de prevenção e controle, e representa valiosa contribuição nos programas de saúde implantados pelo Ministério da Saúde, sob responsabilidade da FUNASA, através da Coordenação do Índio (COSAI), Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI)7.

Dados apontam que o ser indígena no país implica maior chance de não completar o primeiro ano de vida, sofrer de desnutrição e anemia durante o período de crescimento, conviver com elevada carga de doenças infecciosas e parasitárias e estar exposto a rápido processo de transição nutricional, responsável pela emergência de agravos como obesidade, hipertensão arterial e diabetes mellitus, constatados em número crescente de comunidades8,9,10 .

O papel das diversas doenças infecto-parasitárias no perfil de morbimortalidade indígena tem grande destaque, incluindo endemias como tuberculose, malária e leishmaniose, bem como das gastroenterites e infecções respiratórias. Mesmo havendo poucos estudos sobre o enteroparasitismo, esse é um componente importante do perfil epidemiológico dos povos indígenas no país11. A prevalência e o espectro do enteroparasitismo apresentam variações de acordo com a localidade em decorrência de fatores climáticos, socioeconômicos, educacionais e de saneamento12.

A precariedade das condições de saneamento é uma característica marcante da maioria das áreas indígenas, que reflete a escassez de investimentos públicos. É comum também, a ausência de infraestrutura destinada à coleta dos dejetos e a inexistência de água potável nas aldeias, cenário esse que não é de surpreender a ampla disseminação de parasitoses intestinais6.

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As enteroparasitoses podem interferir na absorção de nutrientes e causar complicações significativas, como obstrução intestinal, prolapso retal e formação de abcessos. As enteroparasitoses apresentam padrões de morbidade significativos. Onde é representativo com a presença de múltiplos parasitas, associados a estados de carência e de desnutrição grave, o que pode causar consequências desastrosas ao individuo13.

A realização de uma revisão sistemática da produção científica pode oferecer subsídios importantes para um delineamento da complexidade que envolve a questão da saúde indígena. Nesse contexto, este trabalho objetivou revisar sistematicamente a literatura em saúde pública acerca das pesquisas científicas sobre o enteroparasitismo em populações indígenas no Brasil.

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MATERIAL E MÉTODO

Estratégia e bases de busca

A revisão sistemática foi conduzida de acordo com as orientações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta Analyses (PRISMA)14 (Figura 1). A busca foi iniciada em setembro de 2013 e atualizada em agosto de 2014.

Foram analisadas as produções científicas publicadas no período de 1952 à 2014, sob a forma de artigos científicos, teses, dissertações, monografias e relatórios. Os artigos publicados em periódicos indexados foram localizados através das seguintes bases de dados: SciELO, LILACS, MEDLINE via PubMed, Embase, Scopus e Bireme. A pesquisa de teses e dissertações foi realizada através do sistema de busca da Biblioteca de Manguinhos, Biblioteca Lincoln de Freitas Filho, ambas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e no banco de teses da USP que possuem catálogos de teses e dissertações de várias instituições.

Palavras-chave para busca

Para pesquisa nas bases de dados bibliográficas virtuais, na língua portuguesa, utilizou-se as palavras-chave: doenças parasitárias, enteroparasitoses, parasitoses intestinais, helmintoses intestinais, protozooses intestinais, índios sul-americanos, epidemiologia, prevalência, incidência, parasitologia, saneamento, higiene, Brasil, América Latina, e populações indígenas. Na língua inglesa, a busca foi executada através das seguintes palavras-chave: parasitic diseases, intestinal parasites, intestinal helminths, intestinal protozoa, south american indians, epidemiology, prevalence, incidence, parasitology, sanitation, hygiene, Brazil, Latin America, native south american indians.

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29

RESULTADOS

Foram encontradas e analisadas 55 produções científicas (Tabela 01) referentes à pesquisa sobre enteroparasitismo em populações indígenas no Brasil, entre os anos de 1952 e 2014. Do total, quarenta e quatro foram em forma de artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais, oito dissertações de mestrado, uma tese de doutorado, uma monografia de graduação e um relatório técnico.

Do total de produções, a mais antiga foi a de Oliveira (1952), cuja pesquisa foi realizada no ano de 1950. Na década de 60 e 70 foram escassas as publicações, com duas e quatro respectivamente, havendo um aumento significativo nas décadas seguintes. A década de 80 com sete publicações, os anos 90 com dez e os anos 2000 com trinta e uma publicações (Figura 01).

Quanto à abrangência geográfica (Figura 02), os estudos e pesquisas foram desenvolvidos em cinco regiões diferentes, onde a região Norte destaca-se com 48% das produções, seguida pelas regiões Centro-Oeste com 23%, Sul e Sudeste com 12,7% cada e o Nordeste com 3,6%.

Figura 02: Distribuição das produções cientificas por décadas, sobre enteroparasitas em populações indígenas do Brasil. 0 5 10 15 20 25 30 35 50 60 70 80 90 2000 Nº de Publicações Décadas

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Figura 03: Abrangência geográfica das produções científicas sobre a presença de enteroparasitas em comunidades indígenas nas diferentes regiões do Brasil.

48,00% 23,00% 3,60% 12,70% 12,70% Norte Centro-Oeste Nordeste Sudeste Sul

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31

Tabela 01

Produção cientifica, em ordem cronológica, abordando o enteroparasitismo em populações indígenas no Brasil.

Autor/Ano Tipo de produção Estado Etnia Técnica Protozoários Helmintos

Oliveira, H. 15 (1952) Artigo Tocantins Karajá NI NI Al

Aytai, D.16 (1966) Artigo Mato Grosso Mamaindê NI NI Al, Anc

Neel et al 17 (1968) Artigo Mato Grosso Xavante

Ritchie (centrifugação por formalina-éter)

Gl, Cm, Ec, Eh, Em, Ib

Al, Anc, Ss, Tt, Ev

Knight & Prata18

(1972) Artigo Amazonas NE

Exame direto, Ritchie (concentração

por formol-éter) Enh, Gl, Ec, Ib, Cm, En, Eh

Anc, Al, Tt, Ss

Perez et al19 (1972) Artigo São Paulo Guarani, Kaiangang e Terena

Lutz ( Hoffman), Faust e Willis

Gl, Eh, Ec, Esp., Ib, En, Cm , En

Tsp., Hn, Al , Anc, Ss, Ev, Tt, Sm

Fagundes Neto20

(1977) Artigo Mato Grosso

Aweti, Waurá, Kalapalo, Kuikuro, Yawalapiti, Mehinako,

Matipu-Nahukwá, Trumai

Harada-Mori e Kato-Katz

Ec, G1, Ib, Eh, Cm Anc, Al, Ss, Tt, Ev

Bruno21 (1978)

Dissertação de

mestrado Amapá Karipuna, Palikur, Galibi Exame Direto Eh , Ec , En, Ib, Gl,Eth, Ec

Al, Hn, Anc , Tt, Ss, Ev

Lawrence et al22

(1980) Artigo Amazonas Yanomami e Kaxinawá

Exame Direto e Ritchie (concentração por

formalina-éter

Ec, Eh, Eth, Ib, Enh, Bc, Gl,

Cm, Df Al, Anc, Ss, Tt

Coimbra Jr. et.al23

(1981) Artigo Rondônia Suruí

Lutz (Hoffman), Faust e

Willis Gl , Eh Al , Anc, Ss, Tsp., Tt, Hn, Ev

Genaro & Ferraroni24

(1984) Artigo Amazonas Nadeb-Maku Ritchie

Ec, Em, Gl, Eh, Cm, Ph Al, Anc, Tt, Ss

Santos et al25 (1985) Artigo Rondônia

Pakaanovo, Massaká, Ajuru, Canoe, Jaboti, Mequém,

(33)

32 Kameyama26 (1985) Dissertação de

mestrado Mato Grosso

Aweti, Kalapalo, Kamayurá, Kuikuru, Yawalapiti, Mehinaku,

Nahukwá, Matipu, Waurá, Kayabi, Juruna, Suyá, Trumai

Lutz (Hoffman), Faust, Willis, Stool &

Hausseer

Gl, Cm, Eh, Enh, Ec Al , Ss, Tt, Anc, Ev

Confalonieri et al27

(1989) Artigo Roraima Yanomami Lutz

Eh , Gl Al, Anc, Tt, Ss, Ev

Chenela &

Thatcher28 (1989) Artigo Amazonas Tukano e Maku

Faust (microflutuação), Harada-Mori e Lutz

Ec, Cm , Eh , En, Ib, Eth,

Gl, Bc Tt , Al, Na, Ev , Ss

Coimbra Jr. et al29

(1991-a) Artigo Rondônia Suruí Lutz ( sedimentação) Gl , Eh, Ec, Ib, Cm, Em Anc, Al, Ss, Tt, Ev Hn Ferreira et al30 (1991) Artigo Mato Grosso Yawalapiti Lutz (Hoffman), Faust,

Willis ou Exame Dierto Ec, Gl, En, Ib Anc, Al, Ev, Hn Coimbra Jr. et al31

(1991-b) Artigo Mato Grosso Zoró Lutz (sedimentação) Gl , Bc, Eh Anc , Tt, Hn Ferrari et al32 (1992) Artigo Rondônia Karitiana Lutz (Hoffman), Faust

,Willis Eh , Ec Al , Anc, Tt, Ev, Hn

Linhares33 (1992) Artigo Amazonas NE NI NI NI

Santos et al34 (1995) Artigo Mato Grosso Xavante Lutz (sediemntação) e Simões Barbosa

Ec , Eh, Em, Gl , Ib. Al, Anc, Ss, Tt, Ev, Hn

Lanelli et al35 (1995) Artigo Mato Grosso Xavante Lutz (sedimentação) Gl, Eh, Ec, Em, Ib Al, Anc, Ss Serafim36 (1997) Artigo Amazonas, Rondônia, Pará Suruí, Pacaánova, Guaporé,

Mamoré, Yanomámi, Tiriyó

Lutz (Hoffman), Faust, Willis

Gl, Ib, Ec, En, Eh Al, Tt, Anc, Ss, Hn

Miranda et al37

(1998) Artigo Pará Parakanã

Lutz (Hoffman), Faust,

Willis, Exame Direto Eh, Gl Al, Anc, Tt, Ss, Ev Miranda et al38

(1999) Artigo Pará Tembé

Lutz (Hoffman), Faust,

Willis, Exame Direto Gl , Eh Al, Anc, Tt,

Scolari et al39 (2000) Artigo Paraná NE Kato-Katz SR Al, Anc, Tt

Fontbone et al40

(2001) Artigo Pernambuco Pankararu Lutz (sedimentação) Ec, Gl, Eh, Ib

Al, Anc, Tt, Ts, Ss

Carme et al41 (2002) Artigo Amapá Waiãpi

Exame Direto, Kato-Katz e Baermann &

Moraes

Gl, Eh/Ed, Ec, Cm Al , Tt, Ev

Vieira42 (2003) Dissertação de

mestrado Rio de Janeiro NI NI SR

(34)

33 Haverroth et al43

(2003) Relatório Rondônia NE NI SR

SR Gilio et al44 (2006) Artigo Paraná Kaiangang, Rani e Xetá Lutz (Hoffman),

Ritchie

Gl, Eh, Ec, En Al, Tt, Hn

Aguiar et al45 (2007) Artigo Mato Grosso do Sul Terena Lutz (sedimentação espontânea)

Gl, Eh, Ec, Em, Bh, Ib Al, Na, Ss, Hn

Carvalho-Costa et

al46 (2007) Artigo Amazonas Tukano e Aruak

Ritchie, Kato-Katz, Baermann-Moraes

Gl, Eh, Bh Al, Na, Tt, Ss, Hn

Rios et al47 (2007) Artigo Amazonas Tariano, Tukano, Piratapuia,

Wanano, Hupda, Desana, Juriti Lutz (sedimentação)

Gl, Hh, Ec, Em, Bh Al, Na, Tt, Ss, Hn Ev

Moreira48 (2008) Dissertação de

mestrado Minas Gerais Krenak

TF-Teste ® (centrifugação e dupla

fikltragem)

Gl, Eh, Ec Al, Anc, Ss, Hn

Toledo et al49 (2009) Artigo Paraná Kaingang

Lutz (sedimentação espontânea),

kato-katz

Gl, Eh, Ec, Em, Ib Al, Anc, Tt, Hn, Ss, Ev, Ts

Borges et al50 (2009) Artigo Pará Oriximiná

Lutz, Exame Direto, Centrífugo-flutuação (sulfato de zinco)

Gl, Ec, Eh, En, Ib Al, Ev, Hn

Boia et al51 (2009) Artigo Amazonas Tariana, Baniwa e Hupda Croprotest ® Gl, Eh Al, Tt, Anc Zardinello et al52

(2009) Artigo Paraná Avá Guarani Faust e Lutz (Hoffman)

Gl, Eh, Ec, Em, Ib Anc, Hn, Ss

Palhano-Silva et al53

(2009) Artigo Amazonas Suruí

Lutz (sedimentação), Flutuação (sulfato de

zinco)

Gl, Eh, Ec, Em, Ib, Bh Anc, Hn, Ss

Moura et al54 (2010) Artigo Paraná Kaingang Lutz (sedimentação), Baermann, Faust

Gl, Esp, Em, Bh Al, Tt, Anc, Ts, Ss, Hn,

Pardo et al55 (2010) Artigo Amazonas NI Lutz (Hoffman) Gl, Ec, Eh, Ib Al, Hn, Sm, Anc Assis56 (2010) Dissertação de

mestrado Minas Gerais Maxakali

TF-Teste ® (centrifugação e dupla

filtragem)

Gl, Ec, Em, Eh Al, Ss, Anc, Tt, Hn, Sm

Silva57 (2010) Dissertação de

mestrado Mato Grosso Xavante

Lutz (sedimentação) Kato-Katz

Gl, Ec, Eh, En Al, Anc, Hn, Ev, Tt, Es

Neves58 (2010) Dissertação de

mestrado São Paulo Guarani Mbya

Lutz (Hoffman), Exame direto

Gl, Ec, En Al, Hn

Carvalho59 (2011) Dissertação de

mestrado Minas Gerais Xakriabá

TF-Teste ® (centrifugação e

sedimentação)

(35)

34 Pardo et al60 (2011) Artigo Amazonas Ikpeng, Kaiabi, kisêjê Lutz (Hoffmann) Gl, Ec, Ib Al, Anc, Hn Malheiros61 (2011) Tese de doutorado Mato Grosso Tapirapé

Lutz (Hoffman), Ritchie, Coloração de

Kinyoun a frio

Gl, Ec, Eh, Em, Bh Al, Anc, Ss, Hn

Scherette62 (2011) Monografia Rio grande do Sul NI NI SR SR

Brandelli et al63

(2012) Artigo Rio Grande do sul Mbyá-Guarani

Lutz (sedimentação espontânea), Centrifugo-flutuação e

Kato-Katz

Gl, Eh, Ec, En Al, Ev, Hn, Ss, Anc, Tt

Junior et al64 (2013) Artigo Minas Gerais Caxixó

TF-Teste ®

,Centrifugação-flutuação

Gl, Eh, Ec Al, Anc, Ss

Cerqueira et al65

(2013) Artigo Mato Grosso Xavante NI SR SR

Oliveira et al66(2013) Artigo Bahia Pankararé Lutz (Hoffman), Willis,

Kinyoun Gl, Eh, Ec, En Anc, Hn Andrade et al67

(2013) Artigo Pará Kayapós Lutz (Hoffman) Gl, Ec, En Al, Hn

Malheiros et al68

(2014) Artigo Mato Grosso Tapirapé Microscopia direta SR Ss

Malheiros et

al69(2014) Artigo Amazonas Tapirapé

Lutz (Hoffmann) e

Ritchie Hn SR

(NI) Não indicado (NE) Não especificado (SR) Sem resultado

Al: Ascaris lumbricoides; Anc: Ancilostomídeos; Bc: Balantidium coli; Bh: Blastocystis hominis; Cm: Chilomastix mesnili; Ec: Entamoeba coli; En: Endolimax nana; Eh: Entamoeba histolytica; Enh: Entamoeba hartmanni; Esp: Entamoeba sp.; Eth: Enteromonas hominis; Ev: Enterobius vermicularis; Gl: Giardia lamblia; Hn: Hymenolepis nana; Ib: Iodamoeba bütschlii; Na: Necator americanus; Ph: Pentatrichomonas hominis; Ss: Strongyloides stercoralis; Sm: Schistosoma mansoni; Ts: Taenia saginata; Tsp.: Taenia sp. OBS: Lutz: As técnicas descritas pelos autores como Hoffmann, Pons e Janer, sedimentação de Lutz e sedimentação são referidas como “Lutz”.

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Os trabalhos foram desenvolvidos em diversas comunidades indígenas (Tabela 01), sendo que, alguns desses em mais de uma ao mesmo tempo. Os povos mais investigados foram Xavante com cinco produções, Suruí com quatro, seguindo pelos Kaiangang e Tapirapé com três, e os demais com duas ou uma produção.

As técnicas de diagnóstico utilizadas demonstram uma grande heterogeneidade nas escolhas. A distribuição das técnicas de diagnóstico (Tabela 01) nos 50 estudos onde houve pesquisa de prevalência foi: Lutz (66%), Faust (22%), Exame direto (18%), Willis (18%), Ritchie (16%), Kato-Katz (14%), TF-Teste ® (8%), Centrifugo-flutuação (8%), Baermann&Moraes (6%), Harada-Mori (4%), Coloração de Kinyoun a frio (4%), Stool & Hausseer (2%), Simões Barbosa (2%), Coprotest® (2%), Flutuação com sulfato de zinco (2%), Microscopia direta (2%). Do total de trabalhos encontrados, 28 utilizaram mais de uma técnica para o diagnóstico.

A ampla maioria dos estudos pesquisados (Tabela 01) evidenciou a presença de protozoários e helmintos enteroparasitas. Dentre os protozoários destacaram-se: Giardia

lamblia, Entamoeba histolytica, Entamoeba coli, Endolimax nana, Balantidium coli, Entamoeba hartmanni, Chilomastix mesnili, Iodamoeba bütschlii, Blastocystis hominis, Pentatrichomonas hominis, Entamoeba hartmanni; Enteromonas hominis. E entre os

helmintos: Ascaris lumbricoides; Ancilostomídeos, Enterobius vermicularis, Hymenolepis

nana, Strongyloides stercoralis; Schistosoma mansoni; Taenia saginata e Taenia sp.

Os cinco trabalhos apontados como revisão tratam de aspectos gerais dentro da saúde indígena, incluindo o enteroparasitismo como foco principal ou como subtópicos da pesquisa. O primeiro33 aborda a epidemiologia das infecções diarreicas entre populações indígenas na Amazônia; O segundo42 faz uma revisão sistemática das produções cientificas que abordam a epidemiologia das enteroparasitoses em populações indígenas no Brasil; O terceiro43 faz um relatório sobre as infecções intestinais no Estado de Rondônia, baseado em dados secundários cedidos pelo Distrito Sanitário Especial indígena (DSEI); O quarto62 traz uma revisão integrativa sobre as demandas de saúde das populações indígenas; e o ultimo65 faz uma correlação da influência das condições socioeconômicas e ambientais com a incidência de parasitoses intestinais na população indígena Xavante, baseado em dados secundários obtidos em um hospital local.

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DISCUSSÃO

Diversas publicações têm tratado sobre a epidemiologia entre povos indígenas e sobre as peculiaridades das patologias nessas populações, quando comparada à população geral do Brasil70,71,72,73 . Esses estudos demonstram que, em geral, as doenças aparecem com maior prevalência e incidência entre populações indígenas quando comparadas à população nacional não indígena.

As doenças infecciosas e parasitárias persistem como as principais causas de morbimortalidade de indígenas no país. O perfil de morbimortalidade é um importante parâmetro de avaliação das condições de vida de uma população, sendo o resultado da interação de diversos fatores interdependentes42. Ainda, segundo este autor, o mesmo aponta também que não é possível separar o nível de morbimortalidade de sua estrutura e de sua relação com fatores históricos, socioeconômicos, demográficos, ambientais, culturais e ecológicos advindos da interação com a sociedade não ameríndia.

Pode-se observar que houve um considerável aumento da produção científica nos anos analisados, em principal na década atual. Em trabalho semelhante realizado44, já havia demonstrado um aumento na produção científica sobre enteroparasitismo em comunidades indígenas no Brasil desde a década de 80. Quanto à distribuição geográfica dos estudos, pôde-se obpôde-servar que quapôde-se metade dos trabalhos foram realizados na região Norte, pôde-seguido pelo Centro-Oeste, Sudeste, Sul e Nordeste.

A região Nordeste, apesar de ser a segunda região com maior número de indígenas declarados (208.691 indígenas) ², foi a menos estudada nessa temática, num total de dois trabalhos. Somente na Bahia, são 21 etnias, das quais 16 são reconhecidas pela Funai74 e apenas foi estudada quanto aos enteroparasitas um percentual dos indígenas pertencentes as três aldeias da etnia Pankararé, encontrando 37,1% de amostras positivas em 134 analisadas66. Dados levantados² apontam também que mais de 40% da população indígena do Brasil está na região da Amazônica e os demais grupos pelas demais regiões do país. Esse resultado pode ser comparado a pesquisa anteriormente realizada42, onde a região Norte também teve destaque com o maior número de trabalhos, indicando assim uma alta concentração de produções.

Na extensão nacional existe cerca de 305 etnias² onde as mais populosas são: Tikúna (46 mil), Guarani Kaiowá (43,4 mil), Kaingang (37,4 mil), Makuxí (28,9 mil), Terena (28,8 mil) e Tenetehara (24,4 mil). Confrontando os resultados apontados, a etnia que teve maior

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número de pesquisas desenvolvidas foi a Xavante, seguida por Suruí, Kaiangang e Tapirapé. A facilidade no acesso as comunidades estudas pode ter sido um dos pontos positivos para o desenvolvimento do trabalho, sendo que muitos grupos indígenas ainda vivem isolados em áreas de difícil acesso.

As técnicas de diagnósticos utilizadas demonstram grande diferença entre os trabalhos. A escolha da técnica de diagnóstico é uma etapa crucial das pesquisas sobre enteroparasitismo. Estudos comparativos acerca das técnicas coprológicas ressaltam as diferenças de especificidade e de sensibilidade, bem como de outros fatores, como a facilidade de execução, custo e capacidade de indicar, da maneira mais expressiva possível, a intensidade do processo infeccioso, em termos individuais e populacionais42,75.

A técnica de Lutz pode ser destacada como a mais utilizada entre os trabalhos pesquisados sobre enteroparasitismo em populações indígenas, seguida por Faust, Willis, Exame direto, Ritchie e Kato-Katz. As demais técnicas utilizadas foram citadas em um número menor de trabalhos. Resultado semelhante foi encontrado42, destacando que o método de Lutz é de fácil execução e baixo custo. Porém, apresenta pouca sensibilidade e especificidade para certas espécies parasitárias. Para se obter com segurança a determinação do um diagnóstico parasitológico completo, é necessário que se utilize um conjunto de técnicas. Das produções listadas vinte e oito utilizaram mais de uma técnica para análise.

Nos trabalhos analisados dentre os enteroparasitos patogênicos que estiveram presentes na quase totalidade dos estudos, destacam-se os helmintos A. lumbricoides, Ancilostomídeos, T. trichiura, S. stercoralis e os protozoários G. lamblia e E. histolytica. O entendimento da epidemiologia da infecção intestinal em comunidades pobres isoladas é importante na elaboração de estratégias eficazes para combater estas doenças tropicais negligenciadas76.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As enteroparasitoses são doenças de baixa prioridade para a saúde pública. Em ambientes rurais ou comunidades descaracterizadas por introdução de costumes diferentes de sua cultura, o contato contínuo com o ambiente poluído propicia a infecção por grande diversidade de parasitos.

A meta-analise mostrou que os estudos sobre enteroparasitoses em comunidades indígenas têm aumentando significativamente nos últimos anos, entretanto, a maioria foram desenvolvidos na região Norte e Centro-Oeste. Isso demonstra que ainda existe uma escassez de pesquisas sobre a temática nas demais regiões do país, tendo em vista que outras regiões, a exemplo da Nordeste, possui um grande quantitativo de etnias e aldeias distribuídas em sua extensão territorial, e mínimas trabalhos vêm sendo desenvolvidos na região.

Mesmo havendo um aumento considerável das produções, quando comparado à importância epidemiológica da temática dentro da saúde, esse número ainda é escasso, necessitando de maiores pesquisas e estudos sobre as enteroparasitoses nas diversas comunidades indígenas em torno do país, podendo assim delinear um perfil epidemiológico para futuras ações de prevenção e cuidado da saúde humana e ambiental.

Referências

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