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CULTURA E ALIMENTO: ECOLOGIA HUMANA E SUSTENTABILIDADE PARA POPULAÇÕES RIBEIRINHAS DO RIO MADEIRA.

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Academic year: 2021

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CULTURA E ALIMENTO: ECOLOGIA HUMANA E

SUSTENTABILIDADE PARA POPULAÇÕES

RIBEIRINHAS DO RIO MADEIRA.

Priscila Silva de Carvalho1 Josué da Costa Silva2

RESUMO:

A importância em entender o modo de vida de populações ribeirinhas, levando em consideração a maneira de produzir, viver e interagir com os recursos naturais é necessário frente ao processo de reorganização econômico, social e ecológico a que o mundo está passando, para não excluir do modelo de desenvolvimento regional lugarejos a exemplo do Distrito de Nazaré, no Estado de Rondônia. Nosso ponto de partida foi compreender o universo cultural a partir dos hábitos alimentares. Para tal foi necessário tratar da cultura alimentar nesta comunidade criando uma teia de relações intrínseca por se referir a um tema protegido pela população. Dentre os dados observados está a influencia dos modelos econômicos vivenciados pelo grupo, como o ciclo da borracha e que resultaram em hábitos alimentares peculiares ao grupo.

PALAVRAS-CHAVES: hábitos alimentares, adaptações e ciclo da borracha

1. INTRODUÇÃO

A busca por melhores condições de vida faz o homem interagir constantemente com toda a diversidade amazônica, incorporando o que foi observado ao cotidiano de vida, desde a Pré-história, constituindo e enriquecendo sua cultura e, ao mesmo tempo, “resistindo” a certas mudanças no decorrer do tempo, como resultado de experiências oriundas da vivencia com o ambiente levando o grupo a tomada de decisões que grantissem com relativos sucesso a manutenção da vida.adaptativas dos seus costumes com relativo sucesso (CORRÊA, 1994).

As populações que se firmaram nas regiões do seringal tiveram de adaptar suas vidas por imposição do barracão e, assim, manter preservada as seringueiras. Estas adaptações ocorreram no meio social, na paisagem, na cultura, na educação e no habitat de cada individuo ou grupo social em decorrência de mudanças na conjuntura política mundial e nacional.

1 Bolsista / CNPq

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Por vários motivos, as adaptações ocorridas entre o homem e o meio ambiente, entre as populações ribeirinhas, surgidas durante o segundo ciclo da borracha, expôs o soldado da borracha a alguns problemas, entre eles, os alimentares, já que o sustento destes trabalhadores ficou garantido pelo consumo de produtos enlatados e industrializados. Esta alimentação perdurou por muitos anos, a partir do segundo ciclo da borracha, criando a este grupo social um hábito alimentar característico.

É certo que há 50 anos este era um modo de vida adequado. E hoje, o que mudou? Eles ou a realidade externa? Evidentemente toda a sociedade mundial passa por uma brutal organização dos seus valores tanto econômico, quanto social. Assim a estratégia de sobrevivência do ribeirinho está desatualizada e desvinculada dos planos e modelos de desenvolvimento regional?

2. OBJETIVOS

O processo de reorganização econômico, social e ecológico mundial aponta para a necessidade de reconhecimento dos saberes locais. Neste aspecto dá-se a importância de um modo de vida como a dos ribeirinhos, levando em consideração a maneira de produzir, viver e interagir com os recursos naturais.

Programas de desenvolvimento sustentável em comunidades como a do Distrito de Nazaré, localizada a 150 km de Porto Velho, no Estado de Rondônia, escolhida pelo grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia para o desenvolvimento do Projeto Beradão, visa obter o perfil histórico e cultural vivenciado pelas populações ribeirinhas da Amazônia, onde a intenção é buscar meios de melhoria da qualidade de vida, usando os recursos naturais disponíveis da mata, como castanha do Brasil, andiroba, copaíba e que pudessem ser exploradas de forma sustentável sem prejuízos ao ecossistema, a fim de, ter uma sustentabilidade adequada ao ambiente em que vivem, tendo conhecimento das potencialidades da região. Desta forma diminuir as desigualdade social e garantir a oferta alimentar mais igualitária para toda população e construir o processo de sustentabilidade a longo prazo e contínuo que seja garantido nos domínios: econômico, político, social, cultural e humano.

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3. METODOLOGIA

A pesquisa e sua aplicação tiveram como suporte a cotidianidade, considerando a historicidade de seus processos, nas situações em seu movimento e nas aproximações com a totalidade. Quanto ao conhecimento da realidade nos embasamos em um olhar etnográfico e por obras de pesquisadores que consideram o cotidiano como “locus” imprescindível na pesquisa. Procuramos através deste “olhar” etnográfico compreender a comunidade em seus mais amplos aspectos, buscando sua organização social e produtiva. Para isso, o Projeto Beradão (projeto interdisciplinar desenvolvidos por pesquisadores da Universidade de Rondônia atuando com comunidades ribeirinhas), nos deu todas as condições necessárias, desde o debate com o grupo de pesquisa nas suas mais diversas investigações até as estadias junto à comunidade. Com o decorrer da pesquisa, os moradores se interessaram pelo conteúdo do estudo e houve a participação no sentido de facilitar o desenvolvimento dos trabalhos.

Para a formação de nosso banco de dados, aplicou-se como método investigativo o uso de observações proporcionadas pela convivência com as famílias e que foram complementadas com a aplicação de entrevistas semi-estruturadas que poderiam ser re-orientadas a qualquer momento conforme o encaminhamento do diálogo e com a aplicação de entrevista com questionários fechados (MURRIETA – 1998).

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Compreenderam-se as relações sociais do grupo e que permitiram minimizar a ausência de alimentos, representado pela troca entre “compadres e comadres”. Esta relação de troca amortiza as dependências à um dos mais sérios conflitos do qual a comunidade passa: a aquisição de produtos alimentares não ofertados pela floresta, com forte conotação as condições econômicas de cada família, em contraste com a cultura alimentar do grupo.

Se por hábito alimentar compreende-se num costume a que um grupo social tem na sua forma mais conveniente de utilizar o alimento em função de uma cultura (Morán, 1990; Murrieta, 1998 & Machado, 1984), o costume alimentar da comunidade de Nazaré não se exclui deste contexto.

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Desta forma, o conflito formado em torno do hábito alimentar está motivado pela presença de recursos financeiros provenientes das reorganizações culturais efetivas para a sobreviver em um modelo econômico de exploração da borracha na Amazônia e gerou o sistema do barracão. Tais hábitos perduram até os dias atuais.

A formação cultural proveniente do encontro do povo nordestino e as nações indígenas amazônica configuram-se em uma seletividade especifica dos alimentos, obrigando a estrutura de restrições e tabus alimentares. Tal estrutura, além de sua configuração cultura, possui forte herança do modelo econômico ao qual a região amazônica foi submetida.

O grupo social ainda tem presente os itens oferecidos pelo barracão e que caracteriza em problema alimentar, pois a potencialidade da oferta alimentar local é secundarizada tal situação cria para as famílias que não possuem renda, a condição de fome por ausência de nutrientes (CASTRO, 2001)

Criou-se portanto, uma produção histórica do imaginário na comunidade de Nazaré baseada na época da borracha, onde o acesso a produtos industrializados e a outros alimentos importados era imposto pelo barracão, sem medir os impactos que poderiam ocorrer na formação de uma nova cultura e posterior criação de categorias sociais.

Contudo, na medida em que a estabeleceu uma herança cultural habilitou-se também o grupo a entender o seu ambiente, garantindo sua sobrevivência, favorecendo a uma manutenção tecnológica desatualizada, baixa escolaridade e frágil conhecimento das instituições financeiras, que não os habilitou para criar um modo economicamente sustentável, corroborado pela historia exclusão dos modelos de desenvolvimento regional.

5. CONCLUSÃO

Esta produção agrícola, apesar de insipiente, atrelada a órgãos intervencionistas municipais, estaduais ou federais, resultou em mudanças na organização social após o declínio do período áureo da Borracha, com a criação das seguintes categorias sociais: funcionários públicos, produtores rurais e aposentados.

É importante que se esclareça a preocupação em distribuir corretamente os produtos alimentícios para consumo, aproveitando

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todas as suas partes comestíveis, e com isso beneficiar a saúde pública. Informar a importância da castanha-do-brasil, como alimento diário para a reposição de cálcio é uma ação de caráter educativo imediato para atuais e futuras gerações. Porém o que se vê do hábito alimentar desta comunidade é um fenômeno ligado exclusivamente a história econômica, já que está muito acostumada ao hábito alimentar não extrativista.

O extrativismo da borracha criou um hábito alimentar artificial totalmente vinculado ao barracão tendo como estratégia a manutenção do poder sobre o seringueiro. Tal hábito, ainda poder ser caracterizado na atualidade levando-os a dependência aos produtos da mercearia.

Não houve, portanto, a substituição da lista de alimentos comprados no barracão do período de extração da borracha com a lista dos itens que compram atualmente na mercearia. Isto significa que muito destes itens poderiam ser substituídos por itens de produção própria. Exemplo: biscoitos por macaxeira; feijão carioca, por feijão de corda ou de praia; etc. Ou seja, continuam endividados com o “novo barracão” – a mercearia - , desnecessariamente.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTRO, Josué de. Geografia da fome. Rio de Janeiro/ RJP. Editora Civilização Brasileira. 2001

CAVALCANTI, Clóvis. Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas públicas. 4 ed – São Paulo: Cortez: Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 2002.

CORRÊA, Conceição Gentil; et alli - O processo de ocupação humana na Amazônia: considerações e perspectivas. In: Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Antropologia, 9 N 1, MCT/CNPq, 1994: 3-54.

D'INCAO, M. Angela - Estruturas familiares e unidades produtivas na Amazônia. Uma avaliação das entidades fixas e transitórias. In: Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Antropologia, 10(1), MCT/CNPq, 1994: 57-73.

FLANDRIN, Jean-Louis; MONTANARI, Massimo. História da Alimentação. São Paulo: Estação Liberdade, 1998.

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Cortez Editora, 1984.

MAUÉS, Maria Angélica & MAUÉS, Raymundo Heraldo. Hábitos e crenças alimentares numa comunidade de pesca. Belém / PA. Mimeografado. 1977.

MORÁN, Emílio F. A ecologia humana das populações da Amazônia. Petrópolis/ RJ. Vozes. 1990

MURRIETA, Rui Sergio S.; et alli - Estratégias de subsistência da comunidade de praia Grande Ilha de Marajó Pará Brasil. In: Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Antropologia, 8 (2), MCT/CNPq, 1992: 185-201.

MURRIETA, Rui Sergio S. – Dialética do sabor: alimentação, ecologia e vida cotidiana em comunidades ribeirinhas da Ilha de Ituqui, Baixo Amazonas, Pará. In: Revista de Antropologia, 44 (2), USP, 2001: 39-88.

MURRIETA, Rui Sérgio S. – O dilema do papa-chibé: consumo alimentar, nutrição e práticas de intervenção na Ilha de Ituqui, baixo Amazonas, Pará. In: Revista de Antropologia, 41 (1), USP, 1998: 97-150.

MURRIETA, Rui Sérgio Sereni. O dilema do papa-chibé: consumo alimentar, nutrição e práticas de intervenção na Ilha de Ituqui, baixo Amazonas, Pará. Rev. Antropol., 1998, vol.41, n.º.1, p.97-150.

SOUZA, M.P. Contexto de uma comunidade ribierinha. In: AMARAL, J.J.O; et alli. Pesquisa na Amazônia – volume 1. Porto Velho/ RO. EDUFRO. 2001.

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