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CATARATAS DO IGUAÇU E ITAIPU BINACIONAL: APROXIMAÇÕES TRANSFRONTEIRIÇAS PELO TURISMO

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Academic year: 2021

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INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE ARTE, CULTURA E HISTÓRIA (ILAACH)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO INTERDISCIPLINAR EM ESTUDOS LATINO-AMERICANOS (PPG IELA)

CATARATAS DO IGUAÇU E ITAIPU BINACIONAL: APROXIMAÇÕES TRANSFRONTEIRIÇAS PELO TURISMO

ÂNGELA MARIA FERREIRA DA SILVA

Foz do Iguaçu, PR 2018

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INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE ARTE, CULTURA E HISTÓRIA (ILAACH)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO INTERDISCIPLINAR EM ESTUDOS

LATINO-AMERICANOS (PPG IELA)

CATARATASDOIGUAÇUEITAIPUBINACIONAL:APROXIMAÇÕES TRANSFRONTEIRIÇASPELOTURISMO

ÂNGELA MARIA FERREIRA DA SILVA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, como requisito parcial à obtenção do título de Mestra em Estudos Latino-Americanos.

Orientadora: Profª Drª Maria Eta Vieira

Foz do Iguaçu, PR 2018

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ÂNGELA MARIA FERREIRA DA SILVA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, como requisito parcial à obtenção do título de Mestra em Estudos Latino-Americanos.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Orientadora: Profª Drª Maria Eta Vieira

UNILA

________________________________________ Prof. Dr. André Luis André

UNILA

________________________________________ Prof. Dr. Mauro José Ferreira Cury

UNIOESTE

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Dedicatória

Dedico este trabalho a minha tia-mãe Dina, para meus filhos Inácio e Caetano e para meu companheiro Lucas Kerr de Oliveira. Por vocês e para vocês busco evoluir sempre.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, à República Federativa do Brasil, por propiciar que seus cidadãos tenham acesso a Programas de Pós-Graduação Strictu Sensu públicos, gratuitos e de qualidade, como o PPG-IELA. Semelhantemente, agradeço ao Estado brasileiro pela criação de universidades federais públicas, gratuitas e de excelência, no interior do país e em regiões de fronteira, como a UNILA.

Semelhantemente, agradeço à UNILA, em especial ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos Latino-Americanos, pela oportunidade de cursar um Mestrado de excelência, voltado para tema tão estratégico para o Brasil, que é o estudo da região na qual o país está inserido, a América do Sul e a América Latina, e suas sub-regiões, como o Cone Sul e a Bacia Platina, onde se destaca o tema desta pesquisa, com foco no nível local da Fronteira Brasil-Argentina-Paraguai. Agradeço imensamente a minha orientadora, profª Maria Eta Vieira, não só pela constante orientação na escrita deste trabalho, mas, principalmente pela sua amizade e apoio em todos os momentos felizes e tristes. Sua dedicação e sua força foram essenciais para a finalização desta árdua, mas gratificante dissertação.

Neste contexto, agradeço especialmente ao conjunto de docentes do PPG-IELA, que me ajudaram a identificar e refinar a delimitação do objeto desta pesquisa. Agradeço também a Newton Camargo pelo profissionalismo e pela atenção com que atende a todos no PPG-IELA.

Agradeço a minha família, especialmente a minha tia-mãe Dina, que sempre me incentivou e apoiou durante toda minha trajetória de formação acadêmica, mesmo à distância, você é meu exemplo e minha inspiração.

Agradeço ao meu companheiro Lucas Kerr Oliveira, por me apoiar e por acreditar na minha capacidade, mesmo nos momentos mais difíceis.

Agradeço a minha sogra Tânia Kerr de Oliveira, pelas orações, apoio e carinho em todos os momentos dessa jornada.

Agradeço, às minhas amigas que me apoiaram, mesmo à distância, nesse processo complexo e solitário de escrever, muito obrigada a Danitza Diandeiras, Fernanda Simões, Fabiana Voltatódio, Fernanda Terra, Sabrina Feitosa e Marianne Felken, vocês são irmãs que a vida me presenteou.

Agradeço a Maristela Felismino, seu carinho e apoio, seus cuidados comigo foram fundamentais para enfrentar essa jornada.

Agradeço a Franciele Merlo, Greicy Andersen e Isabel Schmidt, vocês são amigas que a vida me presenteou.

Agradeço a Luisa Fernanda Gomes e Carlos Andres Martinez pela amizade, parceria e por estarem sempre a meu lado nos momentos bons e ruins.

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Agradeço às amigas Paula Quinteros, Natasha Verza, Alejandra Sánchez e Yudi Bravo, vocês foram minha rede de apoio em um período crítico para que conseguisse continuar estudando. Aprendi com cada uma de vocês a força da mulher latino-americana, adelante siempre compañeras.

Agradeço a Scharliane Lima por cuidar de mim tão bem e com tanto carinho. Agradeço a Nani Leitão e Francilene Leitão por cuidarem tão bem da minha tia-mãe. Vocês me deixaram tranquila para que eu conseguisse concluir essa pesquisa.

Agradeço a minha canina Mel por estar sempre a meu lado. Ela foi minha grande companheira nessa jornada de escrever.

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“Jamais poderão aprisionar nossos sonhos”. Luiz Inácio Lula da Silva

"Eu não aguentava mais dizer para mim mesmo que não ia dar. Precisava dar um basta naquilo e entender que o que tinha me levado até ali me levaria para o próximo nível; afinal, se fosse fácil, todo mundo faria".

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RESUMO

Esta dissertação propõe uma análise descritiva do turismo na Fronteira Argentina-Brasil-Paraguai, a partir do contexto regional. Nesta fronteira, existem diferentes patrimônios naturais, culturais e arquitetônicos que fazem com que a região possa ser considerada como uma área turística única em processo de integração, que representa uma significativa contribuição para o turismo do Mercosul. A livre circulação de pessoas instituída no Mercosul é considerada um fator que incentiva o turismo entre os países-membro do bloco, o que favorece, maior acesso e possibilidade de conhecer e visitar locais com paisagens, culturas e arquiteturas diversas. Esta pesquisa procura descrever os dois principais atrativos turísticos binacionais da região, especificamente, um patrimônio natural, as Cataratas do Iguaçu e outro, arquitetônico, a Itaipu Binacional. Para atingir nossos objetivos foi realizada uma revisão bibliográfica pertinente ao assunto.

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RESUMEN

Esta disertación propone un análisis descriptivo del turismo en la frontera Argentina-Brasil-Paraguay, a partir del contexto regional. En esta frontera, existen diferentes patrimonios naturales, culturales y arquitectónicos que hacen que la región pueda ser considerada un área turística única en proceso de integración, que representa una significativa contribución para el turismo del Mercosur. La libre circulación de personas instituida en el Mercosur es considerada un factor que incentiva al turismo entre los estados partes del bloque, lo que favorece, a un mayor acceso y a la posibilidad de conocer y visitar lugares con paisajes, cultura y arquitecturas diferentes. Esta investigación busca describir los dos principales atractivos turísticos binacionales de la región, específicamente un patrimonio natural, las Cataratas de Iguazú y otro arquitectónico, la Itaipu Binacional. Para alcanzar nuestros objetivos, se hizo una revisión bibliográfica.

Palabras-clave: Turismo. Mercosur. Frontera. Cataratas. Itaipu. P:

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ABSTRACT

This dissertation proposes a descriptive analysis of tourism in the Argentina-Brazil-Paraguay Border, from a regional context. At this border, there are different natural heritages, cultural and architectural that allow the region to be considered as a unique and integrated tourist attraction or in the process of integration, which represents a significant contribution to the Mercosul tourism. The free movement of people established in Mercosul is considered a factor that encourages tourism among the member countries of the bloc, which favors, greater access and possibility to know and visit places with landscapes, cultures and different kind of architectures. This research tries to describe the two main binational tourism attractions of the region, specifically a natural heritage, the Iguaçu Falls and, another, architectural heritage, the Itaipu Binacional. To achieve our objectives, to a bibliographic review. Key-words: Tourism. Mercosul. Border. Iguazu Falls. Itaipu.

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1. Total de visitantes na Itaipu Binacional (1977-2017)...36

GRÁFICO 2. Crescimento do Turismo interno: desembarques nacionais (domésticos) de passageiros em aeroportos do Brasil - 2006-2016...53 GRÁFICO 3. Crescimento do Turismo Mundial: Total de chegadas internacionais de turistas e receita cambial do turismo no mundo (2010-2016)...64

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LISTA DE FIGURAS

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LISTA DE MAPAS

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1. Origem de visitantes do Parque Nacional do Iguaçu (2018)...31

TABELA 2. Turismo no Mundo (em milhões de turistas) 2015 e 2016...52 TABELA 3. Chegadas de turistas ao Brasil, segundo continente de origem (2017)..54 TABELA 4. Chegadas de turistas por países de residência (2017)...54

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ALADI – Associação Latino-Americana de Integração ALALC – Associação Latino-Americana de Livre Comércio ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil

ANDE – Administración Nacional de Electricidad APN – Administración de Parques Nacionales CASA – Comunidade Sul Americana de Nações CEMIG – Companhia de Energia de Minas Gerais

CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe CHESF – Companhia Hidrelétrica do São Francisco

CODIF – Comissão Permanente para o Desenvolvimento e a Integração da Faixa de Fronteira

COPEL – Companhia Paranaense de Energia

COSIPLAN – Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento ELETROBRÁS – Centrais Elétricas Brasileiras

EUA – Estados Unidos da América GW – Gigawatts

ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

IIRSA – Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana IPG – Instituto Presidente João Goulart

IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ITCG – Instituto de Terras, Cartografia e Geologia do Paraná JK - Juscelino Kubitschek

MERCOSUL – Mercado Comum do Sul Mtur – Ministério do Turismo

MW – megawatts

NAFTA – Tratado Norte-Americano de Livre Comércio OMT – Organização Mundial do Turismo

ONS – Operador Nacional do Sistema ONU – Organização das Nações Unidas OPA – Operação Pan-Americana

PICE – Programa de Integração e Cooperação Econômica Argentina-Brasil UE – União Européia3

UNASUL – União das Nações Sul-Americanas

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNILA – Universidade Federal da Integração Latino-Americana

UNWTO – World Tourism Organization

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 17

CAPÍTULO1 ... 21

ASTERRITORIALIDADESTRANSFRONTEIRIÇAS ... 21

1.1. Fronteira, Território e Transfronteirização ... 22

1.2. Cataratas do Iguaçu: Atrativo Natural Binacional Brasil-Argentina...29

1.3. Itaipu Binacional na Fronteira Brasil-Paraguai...31

CAPÍTULO2 ... 37

COMOOTURISMOFOISENDOCONSTRUÍDO ... 37

37 2.1. Globalização, Regionalização e Blocos Regionais na América Latina, América do Sul e no Mercosul...39

2.2. América do Sul, Cone Sul e Mercosul...43

2.3. Turismo e a Identidade na América Latina, América do Sul e Caribe...49

2.4. O Turismo no âmbito do Cone Sul e no Brasil... 52

CAPÍTULO3 ... 54

OQUEESSESATRATIVOSREPRESENTAMEMDIMENSÕESTERRITORIAIS ... ....54

3.1. Turismo e Lazer...57

3.2. O Direito ao Ócio e ao Lazer na Sociedade Capitalista...61

3.3. O Turismo Contemporâneo...63

3.4. Turismo e diversidade cultural ...67

3.5. Identidade Cultural...68

3.6. Atrativos Turísticos Arquitetônicos...71

3.7. Atrativos Turísticos Naturais e Ambientais...73

CONSIDERAÇÕES FINAIS...76

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INTRODUÇÃO

O tema dessa pesquisa é “Cataratas do Iguaçu e Itaipu Binacional: aproximações Transfronteiriças pelo Turismo”. O eixo principal da pesquisa é analisar como esses dois atrativos turísticos se tornaram mundialmente visitados, principalmente nos últimos vinte e sete anos.

A princípio, a perspectiva da pesquisa era fazer uma reflexão mais abrangente da Fronteira Trinacional, mas essa análise não foi possível dadas as condições de aprimoramento da análise e a metodologia usada, bem como a dificuldade para encontrar material bibliográfico nos três países. Portanto, para fins dessa análise, a escala de pesquisa é o município de Foz do Iguaçu.

O objeto de pesquisa são os dois atrativos mais visitados de Foz do Iguaçu, as Cataratas do Iguaçu e a Itaipu Binacional. A partir de uma perspectiva histórica, esses atrativos são de suma importância para o contexto nacional. Entretanto, apesar do amplo valor histórico que possuem, o período de análise do presente estudo são os últimos vinte e sete anos (1991-2018), período que parte da criação do Mercosul e chega até os dias atuais.

A grande maioria dos turistas que visitam esses atrativos são oriundos da Argentina, sendo que esse fenômeno foi impulsionado principalmente após a criação do Mercosul. Paralelamente, esse período coincide, no plano mundial, com a intensificação da circulação de pessoas de um país para outro.

Partindo das premissas acima apresentadas e da constatação de que o segmento turismo de massa ainda é o que mais cresce e desloca pessoas no Brasil e no mundo, faz-se necessária a análise sobre a crescente relação do turismo com os processos de integração na Fronteira Trinacional. Desta forma, será apresentada uma análise das “Cataratas do Iguaçu e Itaipu Binacional: aproximações Transfronteiriças pelo Turismo”, onde partimos de uma realidade empírica para analisarmos um momento histórico de organização na América do Sul.

Na livre circulação de pessoas como prática do turismo, apresentam-se como diferenciais a espontaneidade e o interesse prévio dos envolvidos pela busca de maior conhecimento e de novas experiências e sensações, não apenas nas paisagens naturais, na arquitetura de um país, mas em especial crescimento sobre o

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patrimônio cultural de um povo, na medida em que permite o contato com sua língua, culinária, folclore e costumes. Nota-se, ademais, que o conhecimento mútuo dos bens culturais entre os países do Mercosul ainda é reduzido e não tem sido adequadamente utilizado como forma de aproximação entre povos.

O turismo cultural tem como principal produto os patrimônios culturais, que entre outras definições, assumem o sentido de herança familiar, principalmente se forem relacionados aos bens materiais. Para a construção deste trabalho, analisaremos os bens culturais como aquilo que pertence a um povo, que foi deixado através de uma herança cultural, passando de geração em geração, transmitindo um legado de representações e saberes que, por si só, diferenciam as civilizações umas das outras. Goidanich & Moletta (1998) definem o turismo cultural como sendo o:

Acesso ao patrimônio cultural, ou seja, à história, à cultura e ao modo de viver de uma comunidade. Sendo assim, o turismo cultural não busca somente lazer, repouso e boa vida. Caracteriza-se, também, pela motivação do turista em conhecer regiões onde o seu alicerce está baseado na história de um profundo respeito à cultura (GOIDANICH; MOLETTA, 1998 p. 46).

A relação entre o Turismo, os bens culturais regionais e a construção de representações da América Latina é de grande relevância para compreender as múltiplas relações socioculturais que ocorrem de forma isolada entre os países do Mercosul.

Nas últimas décadas, organizações como o Mercosul passaram a incluir o desenvolvimento turístico nas pautas conjuntas na América do Sul. Dentre os objetivos do Mercosul destaca-se o de favorecer a livre circulação de pessoas no continente1, com vistas a favorecer o turismo intrabloco e a integração regional.

Especificamente na Fronteira Trinacional Brasil, Argentina e Paraguai, onde estão localizadas as cidades de Foz do Iguaçu, Puerto Iguazú e Ciudad del Este, nota-se a construção de um processo que mescla estas variáveis, com a integração regional sendo construída (mesmo que lentamente) no nível local, com o favorecimento da livre circulação de pessoas e a aglomeração de atrativos turísticos

1Considerando que a livre circulação de pessoas tende a favorecer o turismo e o conhecimento mútuo entre os povos da região, necessário para a construção de uma identidade comum e impulsiona o processo de integração regional, que por sua vez, impulsiona maior circulação, constitui um "ciclo virtuoso" e retroalimentado de "livre circulação", "turismo" e "integração regional".

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em um espaço geográfico relativamente reduzido e concentrado. Este processo fica mais claro devido à pseudo-conurbação nesta região, onde as três cidades encontram-se bastante interconectadas. Os principais atrativos turísticos dessa pesquisa são de natureza binacional, as Cataratas do Rio Iguaçu (patrimônio natural), e Itaipu Binacional (patrimônio arquitetônico). Conforme Ferreira Cury & Cesar Fraga (2013):

A presença das Cataratas do Iguaçu e de Itaipu, os dois atrativos turísticos principais localizados em áreas limites e transfronteiriças promovem pelo turismo a aproximação e o estabelecimento de relações que desenvolveram uma única mancha urbana. (FERREIRA CURY & CESAR FRAGA, 2013, p. 473).

A dissertação está organizada da seguinte maneira: O Capítulo 1 faz uma breve abordagem dos conceitos de Fronteira, Território e Transfronteirização. Neste capítulo, também são descritos os atrativos turísticos centrais dessa pesquisa, as Cataratas do Iguaçu e Itaipu Binacional. No Capítulo 2, pretendemos desenvolver uma breve delimitação histórica da América do Sul e a importância do bloco Mercosul. Neste capítulo, é demonstrada a importância do fenômeno turístico no contexto dos processos de integração regional. O Capítulo 3 inclui uma breve Delimitação Teórico-Conceitual e considerações para a Análise do Fenômeno Turístico, tendo em vista o contexto do Mercosul. Este capítulo tem como objetivo principal abordar uma breve discussão dos conceitos de Turismo.

Este trabalho se inicia com a pesquisa de revisão bibliográfica acerca dos principais temas descritos nos capítulos. O foco principal envolve dois atrativos turísticos que se localizam na Fronteira Trinacional Brasil-Argentina-Paraguai, especificamente as Cataratas do Iguaçu (na fronteira Brasil e Argentina) e a Usina de Itaipu Binacional (na fronteira Brasil e Paraguai). Apesar desses dois atrativos turísticos serem transfronteiriços, foi analisado somente o lado brasileiro de cada atrativo, que está localizado no município de Foz do Iguaçu-PR.

A partir da descrição dos temas abordados, pretende-se fazer uma breve análise de como esses atrativos turísticos influenciam na dinâmica do município de Foz do Iguaçu. O primeiro ponto a ser analisado é sobre quais os benefícios que o fenômeno turístico trouxe para o município de Foz do Iguaçu. O segundo ponto de

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análise é se essa atividade turística tornou-se uma forma de segregação entre turistas e moradores locais.

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CAPÍTULO 1

AS TERRITORIALIDADES

TRANSFRONTEIRIÇAS

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AS TERRITORIALIDADES TRANSFRONTEIRIÇAS

Esse capítulo aborda uma breve descrição dos conceitos de fronteira, território e transfronteirização, bem como uma descrição dos atrativos turísticos centrais dessa pesquisa, as Cataratas do Iguaçu e Itaipu Binacional. Esses dois atrativos têm um valor histórico de suma importância dentro do contexto nacional, sendo que nesta pesquisa buscamos analisar como esses dois atrativos turísticos se tornaram pontos centrais de grandes fluxos de pessoas do mundo todo.

1.1. Fronteira, Território e Transfronteirização

Para entender o conceito de fronteira, faz-se necessário, primeiramente, a compreensão das diferenças conceituais de faixa de fronteira, zona de fronteira e linha de fronteira para chegar a discutir a complexidade da realidade das cidades gêmeas.

No campo da geografia, a definição mais simples e tradicional é de que fronteira é uma linha definida no mapa, que marca ou delimita a posição entre dois Estados. A maioria das fronteiras que existem na atualidade são resultantes de acordos políticos e diplomáticos, ou de conflitos armados e contendas militares. Atualmente, o conceito de fronteira é mais associado às noções de zona fronteiriça e faixa de fronteira, entendidas como regiões complexas onde as culturas se misturam de maneira dinâmica.

O Brasil tem ao todo 15.179 km de fronteiras, sendo que as maiores são com a Bolívia (cerca de 3,4 mil km), Peru (2,9 mil km) e Venezuela cerca de (2,2 mil km). Conforme estabelecido na Lei n. 6.634/1979, no Brasil a faixa de fronteira2 é considerada como sendo a faixa interna ao território nacional, de 150 km de largura, em paralelo à linha divisória ou linha de fronteira com os países vizinhos (BRASIL, 1979). As zonas de fronteiras são espaços heterogêneos e com peculiar desenvolvimento cultural por parte dos países que as compõem.

Ferrari (2011) afirma que para tratar a zona fronteiriça como espaço que remete à ideia de ligação entre territórios é necessário considerar também “o

2Por sua vez, no site do Ministério da Integração Nacional (2017) a faixa de fronteira é caracterizada como sendo uma faixa de 150 km de largura ao longo de 15.719 km da fronteira brasileira, na qual abrange 11 unidades da Federação e 88 municípios, sendo Foz do Iguaçu o maior deles.

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conjunto territorial de ambos os lados do limite”, pois segundo a autora, trata-se de outra territorialidade que reconfigura todo o espaço.

Conforme Lima Silva & Zagury Tourinho (2016, p. 97), a fronteira seria apenas uma “linha mapeada cartograficamente e descrita em seus marcos geodésicos com a finalidade de separar duas ou mais unidades espaciais”. E prosseguem explicando que:

Se assim o fosse, os problemas relativos aos limites territoriais se restringiriam à tecnologia empregada para proceder referido traçado e descrição. Quando se mencionam os termos “limite territorial” ou “fronteira”, é necessário remeter-se às noções mais amplas de “território” e de “territorialidade (LIMA SILVA & ZAGURY TOURINHO, 2016, p. 97).

Pode-se considerar, portanto, que as fronteiras têm duplo sentido: podem ser limite de uma região e divisória de pessoas, línguas e culturas. Considerando as principais características das faixas de fronteira é possível perceber com relativa facilidade que estas apresentam grande diversidade de características geográficas, físicas, políticas, econômicas, sociais e culturais.

Abaixo, no mapa 1, é demonstrado segundo o CDIF (2012) os municípios que compõem a faixa de fronteira no Brasil.

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MAPA 1: Municípios na Faixa de Fronteira

Fonte: Comissão Permanente para o Desenvolvimento e a Integração da Faixa de Fronteira (CDIF, 2012).

É importante notar que no Brasil a maior parte das faixas de fronteira é de reduzida população e de baixa concentração urbana, sendo que a maior parte das cidades e aglomerações urbanas na faixa de fronteira do país estão concentradas próximas, na Região Sul do país (OLIVEIRA, 2014). Essa seria a região fronteiriça mais desenvolvida e urbanizada, justamente porque é, segundo o autor, a mais integrada aos países vizinhos, onde destacam-se as fronteiras com países membros-fundadores do Mercosul, Argentina, Uruguai e Paraguai (idem). Também é nesta região que está localizada a maioria das cidades-gêmeas da Faixa de Fronteira brasileira.

O Ministério da Integração Nacional publicou em 2014 a Portaria nº 125 que estabelece legalmente o conceito de cidades gêmeas, sendo assim considerados os municípios cortados pela linha de fronteira, seja essa seca ou fluvial, articulada ou não por obra de infraestrutura, que apresentem grande potencial de integração econômica e cultural, podendo ou não apresentar uma conurbação ou

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semi-conurbação com uma localidade do país vizinho, assim como manifestações "condensadas" dos problemas característicos da fronteira, que aí adquirem maior densidade, com efeitos diretos sobre o desenvolvimento regional e a cidadania.

Portanto, cidades gêmeas podem ser pares ou trios de cidades que se localizam na junção dos limites entre dois ou mais países e que se caracterizam pela interação transfronteiriça da região. Segundo Rückert & Dietz:

Regiões transfronteiriças e o processo de transfronteirização são conceitos em construção o que reflete a tentativa teórico-metodológica de explicitar os atuais processos em curso em diferentes realidades macro e microrregionais. Isto, por sua vez, impõe análises diferenciadas em um universo com realidades fronteiriças muito particulares de inúmeros casos localizados em vários continentes. Ambos os conceitos podem ser entendidos como diferenciações territoriais – isto é, múltiplas formas territoriais emergentes nos cenários de reestruturações territoriais contemporâneas (RÜCKERT & DIETZ, 2013, s/p).

Outro conceito cuja definição faz-se necessária é o de território, que segundo Lages, Braga e Morelli (2004) vem do latim, territorium, que deriva de terra e que significa pedaço de terra apropriado. O conceito primário de território remete ao espaço físico e concreto, compreendendo o conjunto da infraestrutura dos recursos naturais: “limitados na horizontalidade de suas fronteiras e na verticalidade dos recursos encontrados em seu subsolo” (CURY, 2010, p. 44). O autor defende que: “O território se forma a partir do espaço, sendo, nesse sentido, uma ação conduzida por um ator sintagmático”. Já o conceito de territorialidade seria mais limitado, pois seria a:

(...) qualidade necessária para que haja a construção do território; é incorporada ao espaço quando esse medeia uma relação de poder que efetivamente o utiliza como forma de influenciar e controlar pessoas, coisas e/ou relações sociais. Trata-se, simplificando, do controle de pessoas e/ou recursos pelo controle de uma área (SACK, 1986 apud CURY, 2010, p 44).

Importa destacar, ainda, que espaço e território podem ser considerados conceitos distintos. Segundo Lages, Braga & Morelli (2004):

O espaço representa um nível elevado de abstração, enquanto que o território é o espaço apropriado de um ator, sendo definido e delimitado por e a partir de relações de poder, em suas múltiplas dimensões (...)

O território não se reduz então à sua dimensão material ou concreta; ele é também um campo de forças, uma teia, uma rede de relações sociais que se projetam no espaço (...)

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O território assume ainda significados distintos em cada formação socioespacial (LAGES, BRAGA & MORELLI, 2004, p. 26).

As diferenças e as desigualdades territoriais podem ser notadas tanto nas características físicas e sociais como também nas formas estruturais mais amplas. Sendo assim, cada território é formado a partir de condições e forças externas e internas, que devem ser compreendidas como parte da totalidade espacial.

Nesse contexto, para Lages, Braga & Morelli (2004), o conceito de territorialidade refere-se às:

Relações entre indivíduo ou grupo social e seu meio de referência, manifestando-se nas várias escalas geográficas – uma localidade, uma região ou um país e expressando um sentimento de pertencimento e um modo de agir no âmbito de um dado espaço geográfico.

No nível individual, territorialidade, refere-se ao espaço pessoal imediato, que em muitos contextos culturais é considerado um espaço inviolável. Em nível coletivo, a territorialidade torna-se também um meio de regular as interações sociais e reforçar a identidade do grupo ou comunidade (LAGES, BRAGA & MORELLI, 2004, p. 28).

Assim, pode-se afirmar que a territorialidade, como atributo humano, está primordialmente associada às normas sociais e aos valores culturais, que variam de sociedade para sociedade. Estas territorialidades são perceptíveis no controle aduaneiro das populações que vivem ou visitam a fronteira.

É nesse contexto de fronteira e território que abordamos a questão da transfronteirização na fronteira trinacional Brasil-Argentina-Paraguai, para melhor compreender a importância dessa região no marco temporal dessa pesquisa. Assim, a transfronteirização é um conjunto de ações que valoriza e viabiliza uma fronteira, é vista como um limite territorial que faz a separação de dois ou mais sistemas políticos, econômicos e/ou socioculturais.

Carneiro Filho (2013) relata que a transfronteirização pode ser analisada como um processo positivo e que favorece o desenvolvimento dos mercados, como também pode ter processos negativos, como no caso dos diversos tipos de tráfico (drogas, armas e pessoas) que se valem das vantagens e oportunidades da fronteira. Assim, nota-se uma complexidade no que se refere aos arranjos regionais, pois há um grande fluxo de pessoas e mercadorias que atravessam as fronteiras diariamente.

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Por fim, considerando os processos de regionalização e transfronteirização, destaca-se a análise de Aldomar Ruckert & Circe Dietz (2013):

Múltiplas formas de transfronteirização têm emergido nas fronteiras Brasil-Argentina-Paraguai. Após os estabelecimentos dos limites fronteiriços com o Uruguai e a Argentina, por sucessivos tratados de limites e conquistas territoriais na Guerra do Paraguai (1864-1870), os Estados Nacionais isolaram-se enquanto as populações mantinham vida cotidiana transfronteiriça. Isto apenas começou a transformar-se na década de 70 durante a união dos governos totalitários do Brasil e do Paraguai com a construção da Usina de Itaipú no rio Paraná. Neste sentido, Carneiro Fº (2011a, 2011b), por exemplo, considera que, além dos impactos determinados por Itaipú na região transfronteiriça trinacional ou por outras iniciativas governamentais é preciso também abordar os efeitos negativos da transfronteirização (aumento da criminalidade, do contrabando e diversos tipos de tráfico) que produzem diferentes impactos nas escalas local, regional e nacional.

A construção da Usina Binacional de Itaipu nos anos 70 e o estabelecimento de suas sedes em Ciudad del Este e Foz do Iguaçu; o reconhecimento dos patrimônios históricos jesuítico-guaranis pela UNESCO como patrimônio da humanidade nos anos 80; a criação de uma zona franca em 2003 em Ciudad del Este (antiga Ciudad Presidente Stroessner) além da clássica importância das Cataratas do Iguaçu começaram a mudar a configuração da região produzindo mudanças urbanas, no comércio legal / ilegal, na atração de turismo histórico, ambiental e paisagístico internacional. Ao mesmo tempo aumentaram diversas formas de cruzamentos fronteiriços pelas populações dos três países, inclusive com grande fluxo de migrações de agricultores brasileiros, principalmente, para o Paraguai a partir dos anos 70 (RUCKERT & DIETZ, 2013, s/p).

Nesse contexto, como podemos notar, a transfronteirização pode viabilizar uma fronteira, com aspectos positivos e negativos que transpassam para além da desta. A partir desta perspectiva é que pretendemos abordar os fenômenos sociais e culturais envolvidos na fronteira trinacional Brasil-Argentina-Paraguai.

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1.2. Cataratas do Iguaçu: Atrativo Natural Binacional Brasil-Argentina

O foco principal da análise que será desenvolvida nas próximas páginas é o estudo do processo pelo qual o atrativo turístico das Cataratas do Iguaçu tornou-se conhecido nacional e mundialmente e qual sua representatividade na atualidade, retomando brevemente o contexto histórico deste processo.

Segundo a Administración de Parques Nacionales da Argentina, a criação do Parque Nacional Iguazú do lado argentino ocorreu primeiro, em 1934, sendo que o parque está localizado no norte da província de Misiones, a 7 quilômetros da entrada de Puerto Iguazú.

As Cataratas do Iguaçu, do lado brasileiro, estão localizadas dentro do Parque Nacional do Iguaçu. Segundo o IPHAN (2017) o Parque Nacional do Iguaçu foi criado em 10 de janeiro de 1939, através do Decreto-Lei nº 1.035, no governo do Presidente da República Getúlio Vargas. Em 28 de novembro de 1986, foi inscrito na Lista do Patrimônio Natural Mundial, pela Unesco. A criação do Parque Nacional ocorreu em um contexto da política nacional e regional em que os governos da América do Sul idealizavam a integração territorial da região. Portanto, a criação dos Parques Nacionais servem como um elemento de ordenamento do território nacional e de demarcação de fronteiras. Segundo Fernández (2011):

Os parques devem ser percebidos como artefatos culturais dinâmicos, resultantes de concepções e valores (em disputa) acerca da relação homem-natureza, de projetos políticos e de determinadas conjunturas presentes no ato de sua criação, os quais têm sido reelaborados permanentemente ao longo de sua existência (FERNANDEZ, 2011, p. 02).

As Cataratas do Iguaçu consistem no principal atrativo turístico do município de Foz do Iguaçu. Segundo o ITCG (Instituto de Terras, Cartografia e Geologia do Paraná) as Cataratas do Iguaçu estão no Rio Iguaçu na fronteira Brasil-Argentina, localizada 23 quilômetros a montante da Foz do Rio Iguaçu, que faz parte da bacia hidrográfica do rio Paraná. Em guarani a palavra Iguaçu significa água grande. O número de saltos varia entre 150 e 300, dependendo da vazão do rio Iguaçu, tendo em média cerca de 270 saltos, com uma média de 60 metros de altura cada. Os

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grandes saltos são 19, sendo 3 do lado brasileiro e 16 do lado argentino,. O lado brasileiro possui 20% e o lado argentino 80% das quedas d’água.

O ITCG relata que as Cataratas do Iguaçu se formaram a cerca de 1 a 1,5 milhões de anos na confluência dos rios Iguaçu e Paraná. A principal teoria do surgimento das Cataratas é de uma falha geológica que foi sendo escavada pela erosão do rio Paraná. Este desnível entre os leitos dos rios Paraná e Iguaçu é devido à maior força de erosão do rio Paraná, que esculpiu seu canal mais profundamente que o rio Iguaçu. A erosão avançada do turbilhão de quedas d’água gerou um recuo das Cataratas e formou a Garganta do Diabo, que é a queda com o maior fluxo das cataratas. A Garganta do Diabo tem aproximadamente 150 metros de largura e 80 metros de altura.

O espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca foi o primeiro homem branco a ver as Cataratas do Iguaçu, em 1542, que permaneceram “cobertas” até o final do século XIX, quando foram redescobertas por Carlos Bosetti e Jordan Hummel. Em 1876, o engenheiro André Rebouças faz uma proposta ao Imperador D. Pedro II para a criação de um parque nacional. No ano de 1916, Santos Dumont conheceu as Cataratas do Rio Iguaçu e ficou impressionado com sua beleza, utilizou seu prestígio pessoal para pedir a criação de um parque nacional para o governador do Paraná, Afonso Camargo. Na época, o local era propriedade particular e teve que ser declarado como local de interesse público.

Atualmente, o Parque Nacional do Iguaçu é dirigido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão federal responsável pela gestão das Unidades de Conservação no Brasil. Ao final do século XX, o Parque Nacional do Iguaçu (Brasil) e o Parque Nacional de Iguazú (Argentina) receberam o título de Patrimônio da Humanidade. O título do parque argentino saiu em 1984 e do parque brasileiro em 1986, fazendo com que o Parque Nacional do Iguaçu fosse a primeira Unidade de Conservação do Brasil a ser instituída como Sítio do Patrimônio Mundial Natural pela UNESCO.

Segundo dados obtidos pelo Parque Nacional do Iguaçu (2018), as Cataratas do Iguaçu receberam aproximadamente 1,5 a 1,78 milhões de visitantes por ano, no período de 2015 a 2017.Desse número de visitantes, a maior parte é de brasileiros, seguidos por argentinos e paraguaios, como pode ser observado na tabela abaixo:

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TABELA 1. Origem de visitantes do Parque Nacional do Iguaçu (2018)

Total de visitantes por país (2017)

País de origem Número de visitantes

Brasil 992.038

Argentina 407.282

Paraguai 56.218

Fonte: Quadro editado pela autora a partir dos dados fornecidos pela Chefia do Parque Nacional do Iguaçu, por e-mail em janeiro de 2018. (PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU, 2018).

Apesar do grande fluxo de turistas ser provenientes de outras regiões do Brasil, o Parque Nacional do Iguaçu recebeu, no ano de 2017, um total de 61.171 visitantes com passe comunidade, oriundos de Foz do Iguaçu e municípios do entorno como Capitão Leônidas Marques, Lindoeste, Santa Lúcia, Serranópolis do Iguaçu, Capanema, Matelândia, Santa Terezinha de Itaipu, Vera Cruz Do Oeste, Céu Azul, Medianeira, Santa Tereza do Oeste, Ramilândia e São Miguel do Iguaçu (PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU, 2018).

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1.3. Itaipu Binacional na Fronteira Brasil-Paraguai

A grande estrutura arquitetônica da Usina Hidrelétrica de Itaipu foi idealizada e construída entre os anos de 1975 e 1982, um período geopolítico muito importante para o Brasil devido ao contexto da Guerra Fria e, ambos os países, Brasil e Paraguai, estavam em período de ditadura militar.

A geografia da região, um complexo hidrográfico centrado no caudaloso rio Paraná, responsável pelo escoamento de uma grande área de clima tropical úmido e subtropical úmido, combinado com o relevo irregular de planalto, com inúmeras quedas d'água, viabilizou a construção de inúmeras usinas hidroelétricas na região ao longo do século XX. Principalmente entre 1940 e 1950, a partir do segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954) e do governo Juscelino Kubitschek (1956-1961), foram construídas importantes hidrelétricas como as de Furnas, Bariri, Mascarenhas de Moraes e Engenheiro Souza Dias (na Bacia do Paraná), assim como Paulo Afonso e Três Marias (Bacia do São Francisco), além de viabilizarem a criação da CHESF, da CEMIG e da ELETROBRÁS, sendo que esta última foi efetivamente criada em 1961 (BRASIL, 1961), após duas décadas de disputas entre grupos de interesses rivais (VIZENTINI, 1999 e 2002; OLIVEIRA, 2014).

Estes governos também deram início a uma série de estudos de aproveitamento hidrográfico que viabilizaram dezenas de outras hidrelétricas que foram construídas nos governos posteriores, desde os anos de 1960 e durante o período dos governos militares. De forma resumida, a construção de dezenas de hidrelétricas no país neste período entre os anos 1940 e 1980 pode ser considerada parte de uma política de Estado voltada para alcançar maior segurança energética de longo prazo, com vistas a sustentar o crescimento econômico e o desenvolvimento urbano e industrial do país com caráter desenvolvimentista (OLIVEIRA, 2014).

Neste sentido, foi nos anos 1950 que teve início uma série de estudos sobre o aproveitamento hidroelétrico no Paraná na região nas proximidades das Sete Quedas, que resultaria anos depois na construção de Itaipu. A história da construção da usina envolveu uma forte crise política entre Brasil e Paraguai nos anos 1960 e mobilizou importantes esforços diplomáticos brasileiros, paraguaios e inclusive a Argentina. Especificamente, entre 1960 e 1964, desde o fim do Governo JK, e

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durante os governos Jânio Quadros e João Goulart, foi realizada uma série de estudos para o aproveitamento deste potencial hidroelétrico (SOUZA, 2011; ITAIPU, 2008).

Uma das vertentes defendidas inicialmente pelo setor privado estrangeiro, que controlava grande parte das companhias de geração e distribuição de eletricidade no país, era a construção de uma série de hidrelétricas na região ao norte das Sete Quedas, proposta defendida pelo engenheiro brasileiro Marcondes Ferraz, posteriormente presidente da Eletrobrás (SOUZA, 2011; ITAIPU, 2008). A sequência de pequenas hidrelétricas teria a mesma potência total instalada que uma grande usina, mas não teria a mesma capacidade de armazenamento de água para os períodos de estiagem, gerando, portanto, menor quantidade de energia por ano. Uma segunda opção, estudada durante o governo Jânio Quadras, foi a de uma grande usina totalmente nacional ao norte de Guaíra. Ambos os projetos sofreram críticas do governo paraguaio pois excluíam a participação do país em qualquer uma das alternativas.

Durante o governo do Presidente João Goulart, começou a ser estudada a opção de uma usina de grande porte com apoio dos soviéticos (SOUZA, 2011; ITAIPU, 2008; IPG, 2014). A equipe de engenheiros soviéticos que veio ao Brasil analisar a região e desenvolver o projeto em 1963, liderada pelo engenheiro Ivan Komin, era a mesma que havia projetado a Usina de Assuã, no Egito, para o governo do então Presidente Nasser. O projeto teria turbinas soviéticas capazes de gerar entre 10 e 12 GW, assim como financiamento da URSS a juros baixíssimos e facilidades para pagar os empréstimos em produtos nacionais, como café, açúcar e alimentos industrializados (SOUZA, 2011; ITAIPU, 2008; IPG, 2014). O acordo negociado com o governo soviético incluía, ainda, obras para a construção de uma interconexão hidroviária interligando a Bacia Amazônica e a Bacia Platina, além do fornecimento, pela URSS, de produtos como petróleo e combustíveis. Contudo, esta aproximação como parte da Política Externa Independente, iniciada no governo Jânio Quadros e aprofundada por Jango, acabou interrompida com o Golpe Militar de 1º de abril de 1964.

A partir deste período, voltou a ser analisada pelo governo militar brasileiro a opção da “Usina de Ilha Grande”, barragem totalmente nacional que seria construída ao norte de Guaíra, na porção montante das Sete Quedas. O projeto foi debatido

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publicamente entre 1964 e 1965 pelo governo militar brasileiro, o que levou a uma forte crise com o Paraguai, que ficaria completamente excluído do projeto. Além disso, a usina mais ao norte inviabilizava a construção de outra na região das Sete Quedas, local onde sua construção seria necessariamente binacional (BETIOL, 2008; SOUZA, 2011).

Este processo levou a uma forte crise política em 1965-1966, quando o governo paraguaio do Presidente Stroessner voltou a reivindicar a área objeto de litígio, localizada entre as Sete Quedas e a parte norte da Serra de Maracajú (BETIOL, 2008; CORTÊS, 2009; PAULA, 2014). Após a instalação de presença militar brasileira na área, os trabalhos da Comissão Mista de Demarcação da Fronteira foram interrompidos, o Paraguai protestou classificando o ato como uma invasão de seu território e reagindo, inicialmente, com um protesto diplomático (PARAGUAI, 1965), seguido de tensionamentos que ameaçavam escalar para uma confrontação militar. Para evitar um conflito armado entre os dois regimes militares, os corpos diplomáticos dos dois países empreenderam intensos esforços para viabilizar um acordo diplomático (BETIOL, 2008; CORTÊS, 2009).

Devido às pressões paraguaias, o governo brasileiro recuou e mudou sua estratégia, passando a considerar novamente a opção de uma hidrelétrica binacional (BETIOL, 2008; CORTÊS, 2009; OXÍLIA, 2009; SOUZA, 2011; PAULA, 2014). O acordo, formalizado na Ata das Cataratas em 1966, previa que qualquer empreendimento hidrelétrico na região seria binacional e não poderia resultar na alteração da fronteira, tendo sido detalhado nos anos seguintes através da formação de uma Comissão Mista Técnica Brasileiro-Paraguaia, formada por engenheiros e diplomatas dos dois países, que finalizou o relatório para a construção da usina em 1972. Esses esforços viabilizaram o Tratado de Itaipu, assinado em 26 de abril de 1973 (BETIOL, 2008, p. 37-41; OXÍLIA, 2009), que estabelece em seu Artigo VII:

As instalações destinadas à produção de energia elétrica e as obras auxiliares não produzirão variação alguma nos limites entre os dois países, estabelecidos nos Tratados vigentes (BRASIL & PARAGUAI, 1973, p. 3).

Com a posterior assinatura do Tratado Tripartite Argentina-Brasil-Paraguai em 1979 ficou acordado que a Usina de Itaipu teria seu tamanho máximo limitado a fim de não inviabilizar a Usina de Corpus Christi, ao sul, na Argentina. Assim, a solução

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encontrada acabou resultando em um lago menor do que o previsto inicialmente, não inundando toda a área disputada entre os dois países como se imaginava nos acordos de 1966 e 1973, e o restante da área disputada acabou sendo transformada no Refúgio Biológico de Maracaju, administrado pela Itaipu Binacional.

A construção da usina teve início em 1974, logo após da criação da empresa Itaipu Binacional, para construir e gerenciar a usina. O lago da Itaipu começou a ser formado em 13 de outubro de 1982, tendo sido cheio em apenas duas semanas devido às fortes chuvas daquele período.

As obras principais foram concluídas em 1984, quando a Usina começou a gerar energia e as turbinas foram instaladas ao longo dos anos seguintes, sendo que as últimas duas unidades geradoras começaram a funcionar em 2007, totalizando 20 turbinas, cada uma pesando ao todo 3.360 toneladas e com capacidade de 700 megawatts (MW).

Itaipu entrega a energia produzida na usina até os pontos de conexão com o Sistema Interligado. No lado brasileiro, a conexão é localizada na subestação de Foz do Iguaçu de propriedade de Furnas, que transmite a energia até os centros de consumo juntamente com a COPEL-Companhia Paranaense de Energia. A conexão do lado paraguaio é realizada na subestação Margem Direita, situada na área da usina de Itaipu. No Brasil, a coordenação e controle da operação do sistema elétrico é de responsabilidade do ONS (Operador Nacional do Sistema) e, no Paraguai, a responsabilidade é da Ande (Administración Nacional de Electricidad).

A construção da Hidrelétrica de Itaipu Binacional remodelou a dinâmica da fronteira, com a chegada de milhares de operários vindos de todos os Estados do Brasil dispostos a enfrentar duras horas de trabalho. Esses operários fizeram com que a pequena cidade de Foz do Iguaçu, na época com cerca de 20 mil habitantes, aumentasse para aproximadamente 101.447 habitantes entre os anos de 1970 e 1980. Esse salto populacional, ocorrido em um período muito curto, remodelou toda a estrutura urbana da cidade e do seu entorno (SILVA, 2014).

Apesar de Itaipu Binacional ser uma grande geradora de energia e empregos para a cidade de Foz do Iguaçu, não pode-se deixar de mencionar o grande impacto ambiental e a desapropriação de centenas de famílias, das quais muitas não foram devidamente indenizadas até os dias atuais.

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Atualmente, o turismo é uma das mais importantes atividades complementares da Itaipu, pois além de viabilizar que a Usina seja uma grande atração turística, a empresa Itaipu atua na promoção da atividade turística como forma de estimular o desenvolvimento do turismo da região trinacional entre Brasil, Paraguai e Argentina.

Considerando desde a fase inicial da construção da Usina até 2017, Itaipu Binacional já recebeu mais de 21,78 milhões de visitantes, sendo 15,7 milhões do lado paraguaio, conforme os dados disponíveis na página oficial da Itaipu, utilizados para a elaboração do gráfico a seguir.

GRÁFICO 1. Total de visitantes na Itaipu Binacional (1977-2017)

Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados estatísticos disponíveis na página de Itaipu (ITAIPU, 2018).

O gráfico acima demonstra três fases na exploração turística da Usina de Itaipu. Na primeira fase, obteve quase zero visitantes até receber um grande número de visitantes nos seus primeiros anos de funcionamento (715.990 em 1985; 788.275 em 1986; 778.705 em 1987; 745.573 em 1988). Nos anos 1990, ocorre uma queda no total de visitantes, predominando períodos em que a visitação se situou em torno de 500 mil por ano (1991-1993), na faixa de 584-595 mil por ano (1994-1995) e no período seguinte abaixo de 473 mil (1996-2000), alcançando 359 mil em 2002.

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A partir de 2003, passa a ocorrer uma nova expansão, chegando a 650 mil visitantes em 2005. Apesar da pequena queda no período de 2008-2010, que pode ser relacionada à redução do fluxo de turistas em escala mundial, desde então o número de visitações vem crescendo ano a ano ultrapassando a marca de 979 mil em 2017. Atualmente, Itaipu Binacional é o segundo atrativo mais visitado de Foz do Iguaçu e colabora com a grande estruturação do turismo na região, principalmente no eixo Brasil-Paraguai.

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CAPÍTULO

2

COMO O TURISMO FOI SENDO

CONSTRUÍDO

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COMO O TURISMO FOI SENDO CONSTRUÍDO

O objetivo principal deste capítulo é fazer uma abordagem sobre os conceitos de globalização, regionalização e blocos regionais na América do Sul e no Mercosul, com o intuito de gerar uma breve discussão acerca dos temas abordados. Este capítulo apresenta tais conceitos a partir de uma breve revisão bibliográfica, buscando demonstrar a importância do fenômeno turístico no contexto dos processos de integração regional.

2.1. Globalização, Regionalização e Blocos Regionais na América Latina, América do Sul e no Mercosul

Embora vários autores refiram-se à globalização como um processo moderno, autores como Sen & Kliksberg (2010) relatam que a globalização não é um processo novo, nem ocidentalizada e tão pouco uma maldição. Para os autores, a globalização vem atuando no mundo por milhares de anos.

Por milhares de anos a globalização tem contribuído para o progresso do mundo por meio da viagem, do comércio, da migração, da difusão de influências culturais e da disseminação do conhecimento e do saber (SEN & KLIKSBERG, 2010, p 18).

Jameson defende que o conceito de globalização é extremamente ambíguo, porque ora se mascara, ora transmite os significados culturais. Para o autor, pós-modernidade e globalização são o mesmo fenômeno. Jameson (apud THRIFT, 1996, p. 236) analisa que a cultura pós-moderna e a experiência de pós modernidade são, simultaneamente, solução e problema do processo de globalização. Haesbaert (2010) afirma que a globalização está longe de ser um consenso, pois não representa um processo uniforme e, portanto, não é propriamente “global”.

A sua vez, o principal desafio de entender o conceito de região é entendê-lo a partir de seu caráter polissêmico, ou seja, são diversas as formas de definir e/ou conceituar o significado de região e entendê-la não apenas por uma visão geográfica. Etimologicamente o conceito de região vem do latim regio e pode

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significar direção ou caminho. Na geografia, pode ser definida como uma porção de terra com identidade espacial e que tem elementos naturais e humanos.

No século XX, a conceitualização de região passou a ter diversas revisões e na atualidade o conceito é mais ambíguo, pois compreende-se que a região não tem na sua origem apenas uma realidade natural, mas contém também uma divisão do mundo social.

Thrift (1996) faz uma análise da região em três perspectivas, buscando na geografia clássica e em autores como Max e Jameson seus conceitos mais atuais. Jameson (apud THRIFT 1996, p. 236), relata que precisamos de novos “mapas cognitivos” para uma cartografia que nos permitirá compreender nosso posicionamento na qualidade de sujeitos individuais e coletivos.

Para Thrift (1996, p. 239, p. 240), três problemas são permanentes quando se trata de região. O primeiro é que a região está se fragmentando e se tornando “deslocada”, se consideramos as regiões como áreas contínuas e desmarcadas. Em segundo lugar ocorre a fragmentação dos espaços e em terceiro lugar ocorre a espacialização da cultura e o consequente crescimento de simulacros que fornecem apoio afetivo para essa fragmentação. O mesmo autor relata:

Assistimos ao surgimento de um novo localismo, “globalizado”, um localismo sistematizado e racionalizado que visa absorver as mercadorias ao produzir e reproduzir consumidores. Essa nova sociedade globalmente local é, obviamente, muito difícil de ser assimilada pelo geógrafo regional (THRIFT, 1996, p. 240).

Segundo Haesbaert (2010) pensar em região é pensar, antes de tudo, em processos de regionalização. Para o autor a regionalização deve estar articulada em uma ação dos sujeitos que produzem o espaço e na interação que eles estabelecem entre si. Ao abordar o conceito de regionalidade, o mesmo autor enfatiza que:

A regionalidade envolveria a criação concomitante da “realidade” e das representações regionais, sem que elas possam ser dissociadas ou que uma se coloque, a priori, sob o comando da outra – o imaginário e a construção simbólica moldando o vivido regional e a vivência e produção concretas da região, por sua vez, alimentando suas configurações simbólicas (HAESBAERT, 2010, p. 08).

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Ainda, uma região, compreendida enquanto espaço efetivamente construído e diferenciado, é, sem dúvidas, uma criação histórica. Haesbaert conceitua região como:

[...] um espaço (não-institucionalizado como Estado-nação) de identidade cultural e representatividade política, articulado em função de interesses específicos, geralmente econômicos, por uma fração ou bloco regional de classe que nele reconhece sua base territorial de reprodução (HAESBAERT, 2010 apud HAESBAERT, 1988, p.25).

Haesbaert (1999, p. 33) afirma que com a reformulação do papel do Estado-nação e sua relativa perda de poder no ordenamento territorial a partir especialmente da última virada de século, definir região frente ao Estado-nação também se torna problemático. Oliveira (2014) complementa que para a realidade do Brasil e da América do Sul o debate sobre região seria central:

Ao pensarmos a integração regional em termos continentais, considerando a América do Sul uma região - continente, mostra - se ímpar considerar os desafios tecnológicos, produtivos, infraestruturais e energéticos que enfrentamos hoje. Faz - se necessário considerar o desafio da interiorização do desenvolvimento e da infraestrutura; da construção de uma infraestrutura energética e logística mais eficiente e sustentável, que viabilize e acelere a integração regional e o desenvolvimento de regiões historicamente esquecidas pelos seus respectivos governos. Nota - se que o enfrentamento do conjunto desses desafios passa necessariamente pela identificação das regiões fronteiriças como centrais para a integração regional (OLIVEIRA, 2014, p. 83-84).

O debate sobre região e regionalização é necessário para compreendermos o fenômeno turístico na fronteira trinacional, marcado por um grande fluxo de turistas do mundo todo. Neste sentido, abordaremos os blocos regionais na América do Sul, uma vez que o modelo de regionalização estudado viabiliza a análise dos fluxos de turistas, atraindo visitantes oriundos de países da região e também de outras partes. A seguir será feita uma breve análise da importância da América do Sul e dos blocos regionais para os turistas que visitam a Tríplice Fronteira.

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2.2. América do Sul, Cone Sul e Mercosul

Para uma melhor definição analítica da realidade regional envolvida nesta pesquisa, partiremos da delimitação da América do Sul, diferenciando-a do conceito de América Latina enquanto região. O recorte analítico aqui utilizado implica na necessidade de definir diferentes escalas geográficas envolvidas nesta pesquisa, partindo do mais abrangente, que envolve a América do Sul, o Cone Sul e Mercosul, e que encontra-se no nível regional, utilizado por alguns autores como sinônimo ou conceito intercambiável por subcontinental (COSTA, 2009) ou continental (VIZENTINI, 2003 e 2008; OLIVEIRA, 2014). A partir deste nível mais abrangente geograficamente faremos um segundo refinamento para o mais específico, entendido como nível sub-regional ou local, em que o recorte delimita a área próxima à fronteira trinacional Brasil, Argentina e Paraguai. Mais precisamente, refere-se à localidade ou sub-região que envolve o conjunto de cidades dos três países, sendo na porção brasileira o Município de Foz do Iguaçu, na porção argentina a Municipalidad de Puerto Iguazú, e que na porção paraguaia desta fronteira envolve três cidades, Ciudad de Este, Hernandarias e Presidente Franco.

O nível mais abrangente, que analisa a região a partir da perspectiva subcontinental ou continental, ou seja, da América do Sul e Cone Sul e Mercosul, será o tratado neste capítulo. Para os fins desta pesquisa, importa destacar que a América do Sul pode ser analisada em suas diversas sub-regiões ou regiões geográficas, sendo a divisão mais comum a que aponta três grandes sub-regiões ou regiões sul-americanas, sendo uma Andina, uma Amazônica e outra Platina, muitas vezes tida como similar ou sinônimo de Cone Sul. Também é comum a divisão em mais sub-regiões, como a Caribenha (por vezes incluída na Andina ou na Amazônica) e a Patagônica (também geralmente incluída na Platina ou no Cone Sul).

Para os fins desta pesquisa, as classificações consideradas mais úteis são aquelas que incluem ou viabilizam o uso dos conceitos sócio-linguístico-culturais e político-institucionais, incluindo tanto a menção à delimitação geográfica da Bacia Platina como à delimitação política dos países do Cone Sul do continente sul-americano.

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Sob uma perspectiva de longa duração, pode-se dizer que a história da América do Sul e da delimitação das fronteiras internas no continente foi marcada pela ascensão e declínio de impérios locais (como os impérios Andinos) e ainda mais fortemente marcados pelos processos de dominação estrangeira, envolvendo as denominadas “colonizações” por parte dos europeus. Posteriormente foi marcada pelas independências e processos de disputas envolvendo a delimitação de fronteiras. Só nas últimas décadas que os processos de integração regionais avançaram suficientemente para se tornarem uma variável importante na relação entre esses países, ao ponto de que grande parte destas fronteiras passaram a ser entendidas não mais como objeto de disputas, mas como vetores de integração.

Segundo Wanderley Messias da Costa (1999), só contemporaneamente se tornou possível analisar a geopolítica da América do Sul de forma mais completa e detalhada, de forma a viabilizar a compreensão dos complexos elementos envolvidos nas reduzidas interações e compartilhamento de processos de desenvolvimento e integração:

No que toca ao subcontinente da América do Sul, entretanto, só agora, nestes últimos anos, é que podemos observar movimentos mais efetivos do país na direção de políticas territoriais explicitamente integracionistas, capazes de envolver o amplo conjunto de países - a maioria dos quais fronteiriços - com os quais pouco compartilhou até agora o seu processo de desenvolvimento econômico, social, político e cultural (COSTA, 1999, p. 25-26).

O mesmo autor afirma ainda que, sob a perspectiva geopolítica contemporânea, não é possível analisar essa entidade abstrata e politicamente indefinida chamada América Latina enquanto objeto teórico ou empírico das relações internacionais. Isto porque a porção norte da denominada América Latina e Caribe, incluindo México e América Central, fazem parte de uma realidade geopolítica muito específica, a da América do Norte, enquanto a América do Sul apresenta uma realidade geopolítica completamente distinta e separada (COSTA, 1999, p. 26-28; COSTA, 2009). Nas palavras do autor:

Do ponto de vista político (ou geopolítico), entretanto, o mais interessante desses processos que se desenvolvem no Continente na atualidade, é aquele representado pelo conjunto de iniciativas e articulações envolvendo a América do Sul e que estão promovendo-a rapidamente para a posição de uma região geopolítica, isto é, uma entidade política transnacional dotada

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de unidade mínima e arcabouço institucional baseados em princípios e macro-objetivos comuns nas relações internacionais. (COSTA, 2009, p. 4).

Neste contexto, os processos de construção política de blocos regionais, definidos prioritariamente como blocos comerciais pelos economistas, expressam-se, em primeiro lugar, na estruturação de grandes Blocos Regionais que são o Pacto Andino, o MERCOSUL, a UNASUL, que, por si só, já desde o seu surgimento, tornavam a América do Sul uma região geopolítica separada da realidade da América do Norte, onde se estruturam blocos como o NAFTA, entre Estados Unidos, Canadá e México. Nesta análise, pode-se acrescentar as considerações mais recentes do mesmo autor referentes ao papel da CASA e da UNASUL, especialmente considerando que a América do Sul se consolida dentro do contexto geopolítico regional como:

(...) Uma das ideias que podemos extrair desse campo aparentemente dominado pelas incertezas quanto ao futuro da integração regional, é que os atores principais à frente desse processo, não dispõem de outra opção, no campo das estratégias, que não seja o da sua rápida consolidação. A alternativa à integração é o percurso do alinhamento automático de cada estado isolado a uma Grande Potência e a sua dependência política e econômica, um status político que sociedade alguma deveria almejar em qualquer tempo (COSTA, 2009, p. 39).

Contudo, as possibilidades de fracasso da integração regional não representam apenas um problema teórico ou econômico, mas também político visto que:

(...) é indubitável que as dissensões e as fricções internas tenderão a se agravar, estimuladas pelas assimetrias de poder, as disparidades de todo tipo entre os parceiros e, sobretudo, os impactos das ingerências externas ao sistema, mas é preciso ter em conta que, caso elas não sejam enfrentadas internamente, divergências poderão tornar-se fraturas, e estas promoverão, ao cabo, o definhamento do Bloco Regional (COSTA, 2009, p. 22).

Nesta região importa reforçar que o processo de integração regional vai muito além da simples integração comercial e precisa ser interpretado à luz da geopolítica da região. De forma bastante resumida, pode-se considerar que as iniciativas modernas de integração tiveram início no âmbito regional a partir das tratativas de recriação do Pacto ABC entre Argentina, Brasil e Chile, no começo dos

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anos 1950, por iniciativa dos governos de Vargas e Perón. Tal processo acabaria duramente atacado pelos setores mais conservadores e geralmente chauvinistas em ambos os países.

Nos anos 1950 e 1960 a CEPAL apresentou importantes aportes teóricos e conceituais, assim como propostas para auxiliar na construção de um processo de integração para a América Latina. O governo JK em 1958 lança a proposta de criação da Operação Pan-Americana (OPA) em prol da união entre os países latino-americanos, a qual foi criticada pelos Estados Unidos, que lançaram o projeto concorrente “Aliança para o Progresso”, iniciativa que teve como um de seus resultados práticos a criação da Associação Latino Americana de Livre Comércio (ALALC) em 1960. Posteriormente a ALALC acabaria sendo substituída pela ALADI, em 1980, organização com características menos ambiciosas em termos integracionistas e com foco mais comercialista.

Posteriormente, Paraguai e Uruguai seriam incorporados nas negociações bilaterais que levariam à criação do Mercado Comum do Sul, Mercosul, uma organização intergovernamental que foi criada a partir do Tratado de Assunção em 1991. O documento assinado em 26 de março de 1991 entre a Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai foi criado com a intenção de criar um mercado que fosse comum a esses países, o qual posteriormente passou a ser chamado de Mercosul, em língua portuguesa, sendo que na língua espanhola chama-se Mercado Común del Sur e em guarani Ñemby Ñemuha. Em 1994 o Protocolo de Ouro Preto foi assinado como um complemento do Tratado de Assunção e estabeleceu-se o reconhecimento do bloco criado através do Tratado de Assunção como uma organização.

Abaixo tem-se o cartograma dos países membros do Mercado Comum do Sul – Mercosul em 2015.

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FIGURA 1. Cartograma: Países Membros do Mercosul (2015)

Fonte: Portal Brasil (2015), com informações do Ministério das Relações Exteriores e Mercosul.

Esta região se destaca para esta pesquisa, além dos motivos até aqui mencionados, pelo fato da Fronteira Brasil-Argentina-Paraguai ser considerada central para o Cone Sul e a América do Sul, em termos geopolíticos. Esta importância se deve não apenas à relevância das instituições de integração regional que se sobrepõem nesta região e que congregam iniciativas integracionistas mas também pelo acúmulo histórico destas iniciativas.

Outro dado importante para essa pesquisa é que a temática do turismo vem sendo destacada e discutida no âmbito do Mercosul desde o início da década de 2000, quando foi realizada a 1ª reunião de Ministros e Ministras de Turismo dos países do Mercosul. Um tema recorrente nas reuniões dos anos 2000 foi a

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necessidade de união entre os países do bloco para atrair turistas para a região, além da necessidade de redução das barreiras físicas e de integração de infraestrutura (aérea e rodoviária) para viabilizar o aumento do fluxo de turistas entre os países do bloco.

Ademais, outro tema abordado nas reuniões foi a necessidade de padronização e integração dos processos de elaboração de dados estatísticos regionais sobre o turismo. Um dos programas criados nesta direção foi o “Programa de Cooperação para Harmonização dos Sistemas de Estatísticas Turísticas do Cone Sul” (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2011). Foi discutida também a questão da necessidade de se criar programas para facilitar o ensino de língua espanhola no Brasil. Em 2014, o Brasil recebeu 6,4 milhões de visitantes; a Argentina, 5,57 milhões; o Uruguai, 2,81 milhões; a Venezuela, 1,08 milhões; e o Paraguai, 610 mil turistas. Por fim, outro tema que ganhou destaque no âmbito destas reuniões na última década foi a necessidade de atrair mais turistas asiáticos para a região, levando a iniciativas para divulgar os atrativos turísticos do Mercosul e da América do Sul conjuntamente em países como Japão, China e Coréia do Sul. Em 2017 foi firmado um acordo unânime para que os países do Mercosul apresentassem a candidatura conjunta da Argentina e do Uruguai para sediar a Copa do Mundo de Futebol em 2030.

Referências

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