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Variação ponderal e comportamento alimentar: restrição, alimentação intuitiva e consciente e autoeficácia alimentar

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Academic year: 2021

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Mestrado

NUTRIÇÃO CLÍNICA

Variação ponderal

e comportamento alimentar:

restrição, alimentação intuitiva e

consciente e autoeficácia alimentar

Francielle Rodrigues da Fonseca Rech

M

(2)

Variação ponderal e comportamento alimentar:

restrição, alimentação intuitiva e consciente e autoeficácia alimentar

Weight variation and eating behavior:

Restriction, intuitive and mindful eating and eating self-efficacy

Francielle Rodrigues Da Fonseca Rech

Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto

Orientador: Rui Poínhos

Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto Coorientadora: Lydiane Bragunci Bedeschi

Instituto de Alimentação Consciente e Intuitiva

Dissertação de candidatura ao grau de Mestre em Nutrição Clínica apresentada à Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto

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(4)

Agradecimentos

Ao Grando Poderoso, Criador de Tudo. À minha família pelo amor e presença, mesmo distante. Ao estimado Professor Rui Poínhos pela orientação, apoio, conhecimento e ensinamentos.

E estende-se este agradecimento à Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP). À Lydiane Bragunci pela grandiosa contribuição, disponibilidade e partilha. Aos amigos que compartilharam desta experiência e ofereceram seu incentivo e contribuição.

(5)

Resumo

Introdução: A dificuldade na manutenção do peso perdido e consequente variação cíclica

ponderal envolve aspectos comportamentais alimentares relevantes. Enquanto as restrições alimentares têm apresentado implicações desfavoráveis sobre o comportamento alimentar, as dimensões do comportamento alimentar baseadas na alimentação intuitiva e consciente, tal como a autoeficácia alimentar, parecem fortalecer a construção de atitudes alimentares adaptativas.

Objetivo: Relacionar as dimensões do comportamento alimentar (controle rígido e flexível,

alimentação intuitiva, alimentação consciente e autoeficácia alimentar) com o estado ponderal, a variação ponderal e os motivos associados.

Metodologia: Estudou-se uma amostra de conveniência composta por 252 adultos portugueses

(71,8% do sexo feminino) com idade média de 37 anos (DP = 12) e média do IMC de 24,5 kg/m2

(DP = 4,6). Os dados antropométricos (altura, peso atual, peso desejado e variação de peso no último ano) foram autorelatados. A variação de peso foi classificada em: “peso estável”, “perda de peso”, “ganho de peso” e “peso cíclico”. Para estudar o comportamento alimentar aplicaram-se as Sub-Escalas de Controlo Flexível e Rígido do Comportamento Alimentar, a Escala de Alimentação Intuitiva, o Questionário de Alimentação Consciente e a Escala de Auto-Eficácia Alimentar Global.

Resultados: O controle rígido foi associado ao maior IMC e ambos tipos de controle (rígido e

flexível) apresentaram relação com a variação cíclica ponderal. No sentido oposto, houve uma relação entre alimentação intuitiva e a estabilidade de peso, tal como uma associação com o menor IMC. A autoeficácia alimentar, além de estar associada ao menor IMC, indicou uma relação com a perda de peso. A relação da alimentação consciente total para com as variáveis do peso não apresentou diferença estatística significativa, exceto para alguns dos seus componentes.

A regressão linear indicou como preditores de maior IMC no sexo feminino níveis superiores de

controle rígido e inferiores de autoeficácia alimentar. Num modelo de regressão logística,

destaca-se o controle rígido e a alimentação intuitiva como preditores dos grupos de evolução ponderal no sexo masculino, e destes se verificou que os grupos com ganho de peso e “peso cíclico” tinham um nível mais baixo de alimentação intuitiva do que o grupo com peso estável.

Considerações finais: Futuras pesquisas longitudinais podem esclarecer e aprofundar a direção

destas relações. Todavia, esta pesquisa salienta a implicação clínica de estratégias comportamentais, baseadas nos princípios da alimentação intuitiva, na consciência alimentar e na autoeficácia relacionada à alimentação, que visem a gestão do peso.

Palavras-Chave: Comportamento alimentar, estabilidade do peso, alimentação intuitiva,

(6)

Abstract

Introduction: The difficulty in maintaining lost weight and consequent weight cycling involves

relevant eating behavior features. While eating restriction have had unfavorable implications on eating behavior, dimensions of eating behavior based on intuitive and conscious eating, such as eating self-efficacy, seem to strengthen the construction of adaptative eating attitudes.

Objective: To relate eating behavior dimensions (rigid and flexible control, intuitive eating,

mindful eating and eating self-efficacy) with the ponderal status, weight variation and associated motives.

Methodology: We studied a convenience sample composed of 252 Portuguese adults (71.8%

female) with a mean age of 37 years (SD = 12) and mean BMI of 24.5 kg/m2 (SD = 4.6). The

anthropometric data (height, current weight, desired weight and weight variation in the last year) were self-reported. The weight variation was classified as: "stable weight", "weight loss", "weight gain" and "cyclic weight". To study eating behavior the Subcales of Flexible and Rigid Control of Eating Behavior, the Intuitive Eating Scale, the Mindful Eating Questionnaire and the Global Eating Self-efficacy Scale were applied.

Results: Rigid control was associated to higher BMI and both types of control (rigid and

flexible) presented a relationship with the cyclic variation in weight. In the opposite direction, there was a relationship between intuitive eating and weight stability, as with lower BMI. Eating self-efficacy, besides being associated with lower BMI, was related to weight loss. The relationship of mindful eating (total) with the weight variables did not present significant statistical difference, except for some of components. Linear regression indicated as predictors of higher BMI among females higher levels of rigid control and lower levels of eating self-efficacy. In a logistic regression model, rigid control and intuitive eating were predictors of weight evolution groups among males, but only the groups with weight gain and "cyclic weight" had a lower level of intuitive eating than the group with stable weight.

Final remarks: Additional longitudinal researches may investigate and clarify the direction of

these relationships. However, this research highlights the clinical implication of behavioral strategies based on the principles of intuitive eating, mindful eating and eating self-efficacy aimed at weight management.

Keywords: Eating behavior, weight stability, intuitive eating, mindful eating, eating

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ÍNDICE

Agradecimentos ... 12

Resumo ... 13

Abstract ... 14

Lista de Siglas e Acrónimos ... 17

Lista de Figuras ... 18

Lista de Tabelas ... 19

1. INTRODUÇÃO ... 21

1.1 Comportamento alimentar, restrição alimentar e aspectos ponderais ... 23

1.2 Dimensões do comportamento alimentar... 26

1.2.1 Controle rígido e flexível ... 26

1.2.2 Alimentação intuitiva ... 27

1.2.3 Alimentação consciente ... 28

1.2.4 Autoeficácia alimentar ... 29

1.3 Relações entre dimensões do comportamento alimentar ... 30

2. OBJETIVOS ... 32

2.1 Objetivos Geral ... 32

2.2 Objetivos Específicos... 32

3. HIPÓTESES ... 33

4. MATERIAL E MÉTODOS ... 34

4.1 Sub-escalas de Controlo Rígido e Flexível ... 35

4.2 Escala de Alimentação Intuitiva ... 36

4.3 Questionário de Alimentação Consciente ... 36

4.4 Escala de Auto-Eficácia Alimentar Global ... 37

(8)

5. RESULTADOS... 38

5.1 Caracteristicas antropométricas ... 38

5.2 Trajetória e motivos da variação ponderal ... 39

5.3 Relação do comportamento alimentar com outras variáveis ... 42

5.3.1 Comportamento alimentar por sexo ... 42

5.3.2 Estado ponderal e a relação com o comportamento alimentar ... 43

5.3.3 Trajetória da variação ponderal e sua relação com o comportamento alimentar ... 46

5.3.4 Motivos da variação ponderal e o comportamento alimentar ... 50

6. DISCUSSÃO ... 56

6.1 Trajetória e motivos da variação ponderal ... 57

6.2 Relação entre as dimensões do comportamento alimentar e outras características ... 60

6.2.1 Comportamento alimentar por sexo ... 60

6.2.2 Estado ponderal e a relação com o comportamento alimentar ... 62

6.2.3 Trajetória da variação ponderal e sua relação com o comportamento alimentar ... 64

6.2.4 Motivos da variação ponderal e o comportamento alimentar ... 67

7. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 71

(9)

Lista de Siglas e Acrónimos

AC: Alimentação consciente AC-C: Consciência

AC-DIS: Distração AC-DES: Desinibição AC-EX: Estímulos Internos. AC-RE: Respostas Emocionais

AEA: Escala de Auto-eficácia Alimentar AI: Alimentação intuitiva

AI-PIC: Permissão incondicional para comer

AI-ARF: Alimentação por razões físicas em vez de emocionais AI-CSI: Confiança em sinais internos de fome e saciedade CF: Controle flexível

(10)

Lista de Figuras

Figura 1 - Regressão linear para o peso desejado a partir do IMC, por sexo. ... 39 Figura 2 - Caracterização da trajetória do peso auto-reportada da amostra, por sexo. ... 40 Figura 3 - Média e desvio padrão do IMC para a trajetória do peso por sexo. ... 40

(11)

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Classificação por classes de IMC (n = 252). ... 38 Tabela 2 - Motivos relacionados à variação ponderal por sexo. ... 41 Tabela 3 - Comportamento alimentar por sexo. ... 42 Tabela 4 - Correlações entre o IMC e o comportamento alimentar, por trajetória do peso, para o

sexo feminino. ... 44

Tabela 5 - Correlações entre o IMC e o comportamento alimentar, por trajetória do peso, para o

sexo masculino. ... 45

Tabela 6 - Regressão linear múltipla para prever IMC a partir da idade e comportamento

alimentar. ... 46

Tabela 7 - Média e desvio-padrão para o comportamento alimentar e a trajetória do peso, para o

sexo feminino. ... 47

Tabela 8 - Média e desvio-padrão para o comportamento alimentar e a trajetória do peso, para o

sexo masculino. ... 48

Tabela 9 - Modelo de Regressão multinominal logística para prever a variação do peso a partir

das variáveis idade, IMC e do comportamento alimentar, para o sexo feminino. ... 49

Tabela 10 - Modelo de Regressão multinominal logística para prever a variação do peso a partir

das variáveis idade, IMC e do comportamento alimentar, para o sexo masculino. ... 49

Tabela 11 - Comportamento alimentar em função dos motivos reportados para a perda de peso,

por sexo feminino. ... 52

Tabela 12 - Comportamento alimentar em função dos motivos reportados para a perda de peso,

por sexo masculino. ... 53

Tabela 13 - Comportamento alimentar em função dos motivos reportados para o ganho de peso,

por sexo feminino. ... 54

Tabela 14 - Comportamento alimentar em função dos motivos reportados para o ganho de peso,

(12)
(13)

1. INTRODUÇÃO

O comer, em uma visão ampla, é uma função que tem influência dos aspectos econômico, político, social, cultural, existencial e fisiológico. Assim, o ato de comer está relatando a história pessoal do sujeito, pois o que se come, o como e o quando se come, são elementos repletos de significações e assegura a sua humanidade, através do dinamismo das relações sociais (1).

Crenças, pensamentos, sentimentos, comportamentos e relacionamentos com os alimentos definem a atitude alimentar. O comportamento alimentar está inserido nas atitudes alimentares e se refere ao como comemos e as ações relacionadas neste ato, influenciando as escolhas alimentares. Assim, para mudar comportamentos é preciso considerar os afetos, cognições e as crenças sobre comida (2, 3).

O comportamento alimentar é constituído por conceitos teóricos ou construtos no âmbito da alimentação, incluindo consumo, modo de comer e outras questões relacionadas ao alimento (sabor, prazer, aparência, valor nutricional), mas seus principais determinantes são biológicos (baseados nos mecanismos de regulação fisiológica, especificamente fome e saciedade), psicológicos, sociais, culturais e contextuais (2, 4). A escolha alimentar pode ser um comportamento que envolve decisões conscientes, mas outras automáticas e habituais (5).

Alterações emocionais e sociais influenciam as mudanças no comportamento alimentar, podendo, consequentemente, trazer influências à saúde dos indivíduos. Conceitualmente, saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social, transcendendo a ausência de doenças (6). Alterações no comportamento alimentar, portanto, influenciam o bem-estar e, junto com outros fatores, podem contribuir na determinação ponderal, podendo promover o excesso de peso, que afeta quase 30% da população mundial (2.1 bilhões) e 57% da população adulta em Portugal (2017) (7, 8).

Muitas evidências na literatura referem o impacto do excesso de peso na saúde por estar associado a inúmeras patologias e distúrbios metabólicos, tais como: resistência à insulina, Diabetes Mellitus tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemia e alterações psiscológicas, com impacto no bem-estar do indivíduo (9-12). Porém, o peso não deve ser o único indicador de saúde, uma vez que as alterações metabólicas não são encontradas em todos os obesos (13-15). Além de que estratégias para redução deste parâmetro por meio das restrições alimentares não

(14)

têm apresentado efeitos significativos em indicadores de saúde, podendo contribuir para a diminuição da saúde (16, 17).

No entanto, frente aos padrões sociais e culturais e ao ambiente “obesogênico” e de culto ao corpo, há um aumento de indivíduos, tanto com excesso de peso ou normoponderais, que buscam a prática de restrições alimentares ou energéticas, afetando significativamente suas escolhas alimentares e a forma como se relacionam com a comida (18-20). Tais restrições e privações, além de evidenciarem ciclos repetidos de perda e recuperação de peso, têm apresentado consequências negativas sobre o comportamento alimentar, distúrbios alimentares, preocupação com o corpo, sofrimento ao realizar escolhar alimentares, além da redução da auto-estima e aumento da ansiedade (21-26).

Apesar de todas as relevantes questões acerca dos problemas relacionados ao excesso de peso, o manejo do peso nos indivíduos ainda é um desafio global, tendo que nos últimos 33 anos nenhum país conseguiu reduzir índices de obesidade (12). Neste contexto, o aumento na prevalência de excesso de peso à nível global (de 36,7% de 2007 para 2017) vem provocando outros problemas na saúde humana e ambiental (27, 28).

Especificamente em relação ao excesso de peso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda como estratégia estudar os fatores que influenciam a adesão à terapêutica dietética e a manutenção da perda de peso e suas várias interfaces (10). No entanto, as intervenções restritivas para o controle de peso têm demonstrado que os efeitos são pequenos e, as vezes prejudiciais ao comportamento alimentar, além de pouco sustentáveis no longo prazo (12, 29, 30). Neste sentido, parece que estabelecer uma atitude alimentar adaptativa e consciente e incrementar competências autorregulatórias e de autocontrole podem contribuir para o estado ponderal, gestão do peso e comportamento alimentar (31-34).

O comportamento alimentar adaptativo tem como indicadores a ausência de características relacionadas com perturbações alimentares, como restrição alimentar e compulsão alimentar (35). Neste contexto, estudos referem que a alimentação intutiva e consciente podem mapear o comportamento alimentar adaptativo (16, 36-38). Isso em razão de que a alimentação consciente baseia-se em aumentar a consciência no momento presente, praticando o não-julgamento associado ao comer e observar as sensações do corpo, pensamentos e emoções, possibilitando identificar os fatores emocionais e externos ou físicos (como fome e saciedade) relacionados ao comer (39). E a alimentação intuitiva enfatiza confiar nos sinais internos (fome e

(15)

saciedade), a permissāo para comer e, também, relaciona-se com a mudança congnitiva ao reduzir o comer emocional e aumentar a aceitação corporal (40).

Pesquisas recentes que objetivaram conhecer aspectos e efeitos destas dimensões destacam que há distinções entre elas, mas ainda que tais teorias sejam baseadas em premissas diferentes em relação às cognições e comportamentos alimentares, compartilham conteúdo similar e fortalecem a construção de atitudes alimentares favoráveis e funcionais (34, 36).

Reconhece-se que a restrição na alimentação e perturbações no comportamento alimentar têm sido muito investigados e, paralelamente a este foco, outras pesquisas se concentram na avaliação das atitudes alimentares e medidas adaptativas do comportamento alimentar, especificamente às dimensões da alimentação consciente e da alimentação intuitiva (40-43). No que se refere a repercussão do comportamento alimentar na gestão do peso, a autoeficácia alimentar também tem sido associada à perda de peso e considerada um bom preditor nas atitudes alimentares (44-46).

1.1 Comportamento alimentar, restrição alimentar e aspectos ponderais

Conforme o aumento nos índices de excesso de peso, pesquisas vêm quantificando e delimitando os aspectos do comportamento alimentar, bem como as relações entre o comer e os aspectos da saúde dos indivíduos envolvidos. O processo de redução e manutenção de peso é árduo e envolve interações complexas entre fatores comportamentais, fisiológicos, ambientais e cognitivos/psicossociais (47).

Pesquisadores concluem que as atuais estratégias de tratamento não cirúrgico da obesidade, até mesmo intervenções baseadas na restrição energética ou alimentar e na atividade física, não estão a conseguir alcançar uma perda clinicamente significativa e sustentada do peso corporal e sugerem investigações para desenvolver políticas de saúde pública mais efetivas (29, 48, 49).

Um estudo longitudinal realizado no Reino Unido, analisou durante 9 anos (2004-2014) dados de 76 704 mil homens obesos e 99 791 mil mulheres obesas e obtiveram que a probabilidade anual de atingir o peso normal pelos indivíduos com Obesidade grau I (Índice de

(16)

Massa Corporal - IMC entre 30,0 e 34,9 kg/m2) era de 1 em 210 para os homens e 1 em 124 para

as mulheres (49).

A restrição alimentar ou energética possibilitam a redução de peso a curto prazo, mas os indivíduos tendem a ganhá-lo de volta ao longo do tempo (entre 2 a 5 anos), indicando que a recuperação do peso é a resposta comum a longo prazo, e não a exceção (17, 21). Outros estudos retratam uma taxa de sucesso global na manutenção de peso em apenas 10-20% dos indivíduos (48, 50). E, em torno de 90% dos indivíduos referem tentativas anteriores sem sucesso (51). Por outro lado, o menor número de tentativas de perda de peso anteriores está associado ao sucesso na perda de peso e na manutenção do peso perdido (33, 52).

Em Portugal, 198 adultos que participaram do Registo de Controlo de Peso Português, mesmo que reportaram manutenção do peso perdido (média de 17,4 kg) durante 29 meses em média, no entanto, relativamente ao número de tentativas de redução do peso reportadas, 73% indicaram já ter realizado até três tentativas anteriores de perda de peso (53).

Um estudo de coorte realizado com 4129 gêmeos, entre 16 e 25 anos, investigou a associação entre o ato de realizar restrição alimentar com objetivo intencional de perda de peso e o ganho de peso e encontrou as chances de excesso de peso significativamente maiores em indivíduos com uma ou duas situações de perda de peso intencional, quando comparado com aqueles sem perda de peso intencional (54). A longo prazo, o resultado da restrição alimentar ainda pode ser o oposto do objetivo desejado, ou seja, aumentar o risco de ganho de peso (55).

Contudo, esta prática restritiva não se limita às pessoas com excesso de peso. Mesmo em indivíduos normoponderais, estudos prospectivos prevêem fortemente o ganho de peso no futuro (18). Neste contexto, a ciclagem de peso foi associada à vários fatores de risco metabólicos e cardiovasculares em indivíduos com peso normal (56).

Entre as barreiras específicas que promovem a recuperação de peso estão as adaptações fisiológicas e metabólicas (18, 47). A privação de alimentos afeta também a interocepção, especificamente, os sinais de fome e saciedade, influenciando a ingestão alimentar (57, 58). Outra possível explicação que permeia este paradoxo da restrição e peso é a ingestão desinibida de comedores restritivos, que é também um fator de estresse, fonte de frustação e potencial fator promotor da hiperemocionalidade em indivíduos restritivos com excesso de peso ou não (59-61). Adicionalmente, quando o foco está na perda de peso, esta preocupação interfere na sua habilidade de realizar escolhas conscientes e baseadas nos seus sinais intuitivos (40).

(17)

Alguns autores enfatizam a influência do processo de condicionamento na alimentação e apetite, e indicam que as privações alimentares para perda de peso não desfazem permanentemente os efeitos do condicionamento (62, 63).

Um estudo apontou quatro principais fatores considerados como barreiras para a manutenção da perda de peso: fome hedônica: o alimento como prazer; sofrimento psicológico: eventos estressantes, demandas excessivas, ansiedade; compulsão alimentar: perda de controle alimentar, associadas ao tédio e fissura alimentar; e desmoralização: sentimento de baixa autoeficácia, baixa motivação e falta de apoio social. A identificação destas vulnerabilidades durante os primeiros anos após a perda de peso permite e reforça a necessidade de reavaliar as diferentes abordagens que possam ser utilizadas no sentido de minimizar as dificuldades na manutenção da perda de peso (64).

Em resumo, as evidências apontam a baixa aplicabilidade e sustentabilidade dos tratamentos atuais baseados na restrição alimentar e exige-se refletir e investigar o comportamento alimentar em outras dimensões que visem a eficácia e a mudança comportamental, mantendo a saúde física e mental. Princípios baseados na redução da alimentação emocional e na promoção de uma alimentação flexível, com auto-regulação alimentar e uma abordagem não dicotómica apresentam-se mais eficazes na manutenção de peso (65). Alguns autores referem alguns determinantes psicológicos, como a autoeficácia relacionada à aspectos alimentares, relevantes na mudança de comportamento (66).

Outras dimensões no âmbito do comportamento alimentar adaptativo têm sido adotados e incentivados abstraindo o foco da restrição e controle alimentar, entre eles destacam-se a alimentação intuitiva e a consciente (67). Em ambos, apesar do emagrecimento não ser um objetivo específico, referem processos alimentares que se baseiam na conexão mente-corpo e consciência e parecem se relacionar com menor peso, regulação do peso e condutas alimentares mais saudáveis (34, 67, 68).

(18)

1.2 Dimensões do comportamento alimentar

1.2.1 Controle rígido e flexível

As estratégias de controle rígido na alimentação são determinadas pela restrição alimentar, enquanto que o controle flexível se refere à uma menor ingestão alimentar, no entanto com atitudes menos drásticas e expectativas de perda de peso mais moderadas (22).

Portanto, a Teoria da Restrição, proposta por Herman e Polivy, está associada a um padrão alimentar caracterizado por ciclos de restrição intercalados por ciclos de desinibição (61). Enquanto, o controle flexível ao usar de normas menos restritas, envolvendo o consumo de porções menores de alimento para regular o peso ou por compensação, associa-se por isso a menor desinibição (22, 69).

A distinção entre controle flexível e rígida pode ser relevante para compreender como os esforços cognitivos para restringir a ingestão alimentar podem influenciar o controle de peso (65). O "comedor rígido" valoriza a restrição do aporte energético e não o fazer, pode originar uma resposta emocional negativa e uma maior probabilidade de comportamentos compensatórios, incluindo uma restrição ainda mais rigorosa, exercício compulsivo, ou comportamentos contra-regulatórios, tais como compulsão alimentar (70).

Estudos mostram que existe uma associação positiva entre restrição alimentar e peso, o que indica que um padrão restritivo do comportamento alimentar está intimamente relacionado com o excesso de peso e pode prever o aumento do IMC após alguns anos (22, 23, 55, 71).

O controle rígido também está associado com a perda de controle e dificuldade da auto-regulação no comportamento alimentar (22, 60, 72). Além da privação, outros fatores desinibidores são os fatores cognitivos e emocionais, tal como o humor disfórico, que indicam que comedores restritivos procuram conforto e consolo na comida (60, 73).

Assim, comportamentos alimentares restritivos e rígidos dificultam a manutenção de peso a longo prazo, provavelmente por estar relacionada à desibinição, a dicotomização dos alimentos (alimentos permitidos vs. proibidos) e por promover desejos alimentares, enquanto que pessoas que referem um controle flexível apresentam maior sucesso neste aspecto, se permitindo desfrutar de todos os alimentos e compensando as refeições mais energéticas que ocorrem

(19)

naturalmente nas refeições subsequentes. Talvez um padrão mais flexível de auto-regulação alimentar possa estar associado negativamente ao IMC (74), o que poderia representar uma estratégia adaptativa com vantagens no controle de peso a longo prazo, enquanto o controle rígido possa estar associado ao fracasso (22, 65, 72).

Apesar desta flexibilidade ser mais interessante ao comparar com a rigidez nas atitudes alimentares, um estudo de Tylka, Calogero e Daníelsdóttir (2015) refere que este tipo de controle, mesmo que se aproxime da dimensão de comportamento alimentar mais adaptativa e intuitiva, ainda apresenta intersecções representativas com o controle rígido (75).

1.2.2 Alimentação intuitiva

A alimentação intuitiva envolve a capacidade de se conectar e compreender a fome e sinais de saciedade, em vez de se envolver em comportamentos alimentares reativos por meio de estímulos externos ou emocionais (40). Algumas características específicas desta dimensão são o reconhecimento de sinais de fome e saciedade interna para determinar quando e quanto comer e a confiança nos sinais do corpo; comer por razões físicas e não emocionais ou para aliviar ou evitar a aflição emocional; e a permissão incondicional para comer, o que inclui o não julgamento ou dicotomização dos alimentos (40, 76).

Esta dimensão do comportamento alimentar é composta por princípios baseados em aumentar ou cultivar a consciência: honrar sua fome, respeitar sua saciedade, descobrir o fator de satisfação; e remover os obstáculos que impedem a consciência corporal: evitar o julgamento e pensamentos dicotômicos dos alimentos, honrar seus sentimentos sem usar a comida; e respeitar o corpo e honrar a saúde praticando uma alimentação gentil (40).

Os princícios com o foco em sinais físicos, como fome e saciedade, promovem que nossas sensações internas devem ser nosso guia para comer e atender a fome é fundamental para comer uma quantidade que satisfaçam as necessidades de nossos corpos. Da mesma forma, sentir a saciedade e respeitá-la exige comer com atenção, estar atento aos sinais do corpo e considerar o fator de satisfação (40).

Comer por razões físicas e não emocionais se apresenta como um dos fundamentos mais relevantes nesta dimensão, devido a relevância e influência das emoções no ato de comer, na

(20)

maioria emoções negativas como ansiedade, depressão, raiva e solidão (40, 77). Estudos têm observado associação direta do comer emocional para com o peso (78, 79).

A alimentação intuitiva foi associada ao menor peso, menor perda de peso desejado e a estabilidade do peso, tal como com um comportamento alimentar adaptativo e saúde física e mental (38, 41, 75, 80-84). Um estudo de coorte, com 1491 indivíduos durante 8 anos (2010 a 2018), contribuiu para fortalecer esta base de evidência do efeito da alimentação intuitiva ao examinar o seu potencial associado aos seguintes comportamentos alimentares: menor probabilidade de compulsão alimentar e de comportamentos não saudáveis ou extremos de controle de peso; e ainda, prevê longitudinalmente uma melhor saúde psicológica, por exemplo menos sintomas depressivos e maior autoestima e satisfação corporal (85). Estes resultados fortalecem o reconhecimento das competências envolvidas na alimentação intuitiva serem favoráveis para melhorar mediadores do comportamento alimentar (85).

1.2.3 Alimentação consciente

A alimentação consciente advém do conceito de “mindfulness”, traduzido em atenção plena e desenvolvido por Jon Kabat Zinn. Atenção plena relaciona-se com a qualidade da consciência, e é definida pelo ato de estar atento de forma intencional e com postura de aceitação e não julgamento às experiências, pensamentos, sensações e sentimentos que surgem no momento presente, estando em pleno engajamento com o ambiente e a atividade desempenhada, sendo esse um estado oposto ao modo automático de funcionamento (86).

No contexto da nutrição, a alimentação consciente (mindful eating) refere-se a uma abertura, gentileza, curiosidade e não julgamento em suas experiências alimentares e ao relacionamento prazeroso e compassivo com o corpo e a comida. Estar atento ao ato de se alimentar parece aumentar a consciência do sinais internos no ato de comer, ao invés do fatores externos, possibilitando escolhas alimentares conscientes relacionadas à qualidade e quantidade ao comer (42, 87).

O conceito da alimentação consciente também incentiva que o indíviduo esteja consciente do momento presente enquanto come, do efeito da comida sobre os sentidos e das sensações físicas e emocionais em resposta à alimentação (43, 68, 88).

(21)

Intervenções baseadas em atenção plena demonstraram sua eficácia no comportamento alimentar relacionado à compulsão alimentar, perda de peso, capacidade de identificar sinais de fome e saciedade e um maior autocontrole, que possivelmente reduz o consumo impulsivo em resposta a estressores emocionais (87-89).

O interesse nesta área tem abrangido também a população normoponderal. Uma revisão de literatura, que avaliou os efeitos de intervenções baseadas em Atenção Plena ou alimentação consciente realizada com ambos os grupos (excesso de peso ou não), encontraram resultados positivos em relaçāo ao peso e comportamento alimentar, em especial na compulsão alimentar, comer emocional, influência de fatores externos, desejos alimentares, atitudes alimentares, consciência da fome e escolhas alimentares (34). Outras investigações sugerem ser uma estratégia no tratamento dos transtornos alimentares e para promover atitude e comportamento alimentar saudável (39, 88, 90-94).

Estudos apontam que, ao relacionarar o nível de atenção plena e alimentação consciente com o peso, aqueles indivíduos que são mais conscientes na vida diária e/ou que tenham uma alimentação consciente tendem a ter menores índices de massa corporal (IMC), uma redução de peso corporal (39, 90, 94-97) e, em específico a atenção plena, indicou manutenção de peso a longo prazo (98). Mesmo que alguns autores apontam que talvez esta dimensão baseada na consciência alimentar seja mais preventiva ao aumento de peso, inferindo que há falta de evidências consistentes no manutenção de peso, todavia, há que ressaltar a relevância dos princípios e aspectos desta dimensão no incremento de benefícios substanciais relacionados ao comportamento alimentar e atitudes alimentares (34, 96).

1.2.4 Autoeficácia alimentar

A autoeficácia é advinda da Teoria Sociocognitiva de Bandura, a qual explica o comportamento humano baseado na interação do indivíduo com o meio ambiente que está inserido e os seus processos cognitivos e emocionais (99, 100). Neste conceito, a autoeficácia é definida pela crença na capacidade de auto-regular um comportamento e o juízo do indivíduo relacionado à sua capacidade de organizar e executar planos de ação para alcançar resultados; refere-se à sensação que o mesmo tem sobre os próprios comportamentos, podendo não

(22)

corresponder à realidade, mas sim ao julgamento que faz (99). Indivíduos com baixa autoeficácia podem evitar atividades e ambientes por se sentirem incapazes de lidar com dificuldades, uma vez que tendem a focar em suas deficiências (101).

Os processos envolvidos na regulação da eficácia são o cognitivo, a motivação, o afetivo e o de seleção. E são quatro os fatores que formam a expectativa de autoeficácia: realizações pessoais, baseadas em experiências de sucesso que se generalizem a outras situações; observação de experiências bem sucedidas que geram no observador a expectativa de possibilidade; persuasão verbal que estimulam a enfrentar situações diversa; e respostas emocionais advindas de situações geradoras de estresse e que podem interferir na percepção da competência pessoal (100).

Aplicado ao contexto da alimentação, a autoeficácia alimentar pode ser desafiada por aspectos relacionados a estados internos, como estado emocional ou externos como atividades sociais ou situações com fácil acesso à comida (45, 46, 102).

A autoeficácia apresenta-se promissora nos diversos comportamentos de saúde, mais concretamente na alteração de comportamentos alimentares incluindo a gestão do peso, ao considerar que esta variável determina a iniciação, manutenção e abandono de estratégias e comportamentos (32, 52, 103). Investigações revelam que indivíduos que referem maior autoeficácia geral e alimentar apresentavam menor IMC (104, 105), maior êxito na redução de peso (106-108) e manutenção de peso (45, 109). Observou-se também uma associação entre a baixa autoeficácia alimentar relacionada com as desordens alimentares, inclusive compulsão alimentar (99, 103, 110).

1.3 Relações entre dimensões do comportamento alimentar

Conceitualmente, o controle flexível tem um efeito favorável associado com a manutenção do peso, quando comparado ao controle rígido (22, 65, 69). Mas comparado à alimentação intuitiva, outros achados obtiveram que o controle flexível esteve relacionado em uma direção positiva ao controle rígido e ao maior peso, e sugerem que promover princípios alimentares intuitivos seja mais efetivo (26, 75).

(23)

Quando nos remetemos à estabilidade do peso, a alimentação intuitiva foi associada positivamente, enquanto o controle rígido (restringir a ingestão de alimentos com o objetivo de controlar o peso corporal) e flexível (comer porções menores de alimentos para controlar o peso e compensação) foram relacionados à maior instabilidade do peso, retrospectivamente, durante um ano (26).

Um estudo que observou a relação entre constructos alimentares, encontrou associações negativas entre as medidas alimentares adaptativas (alimentação intuitiva e consciente, regulação do comer excessivo) e a restrição alimentar e ingestão emocional e externa, sendo as mais fortes entre as subescalas da alimentação intuitiva e a ingestão emocional e restrição alimentar (34, 67). A alimentação intuitiva apresenta resultados semelhantes à alimentação consciente em relação ao peso e atitudes alimentares favoráveis, como a maior capacidade de lidar com compulsão alimentar, com a ingestão emocional e de comer em resposta à estímulos externos (34). O programa de intervenção Eat for Life que integrou ambas dimensões combinando princípios intuitivos e de consciência alimentar indicou um aumento significativo nos níveis de de apreciação corporal e uma redução do descontrole alimentar (68).

Apesar dos resultados ainda não esclarecem completamente suas relações, autores sugerem ser conceitos representativos do comportamento alimentar que se complementam (67, 83, 111). Enquanto a alimentação intuitiva promove uma mudança cognitiva e de mentalidade em relação ao comer, na consciência da fome e da saciedade, no comer emocional e na aceitação corporal, a alimentação consciente oferece consciência corporal e emprega práticas de atenção plena com resultados positivos no comer em excesso com a intenção de normalizar o consumo e quantidade no momento de comer (34, 41, 89).

Face ao exposto, realizou-se um aprofundamento desta temática para avaliar as relações destas dimensões do comportamento alimentar associados aos aspectos ponderais, que permite fornecer maior suporte em contextos do comportamento alimentar em Portugal. Esta pesquisa evidencia atitudes alimentares e sua relação na estabilidade do peso que possibilitará reflexões, conhecimentos e ações mais efetivas em contextos de saúde e qualidade de vida.

(24)

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivos Geral

Relacionar o comportamento alimentar de adultos portugueses com o estado ponderal, a variação ponderal e os motivos associados a esta variação.

2.2 Objetivos Específicos

- Caraterizar a amostra em termos de IMC atual e IMC correspondente ao peso desejado, variação ponderal no último ano e motivos associados a essa variação;

- Estudar a relação entre dimensões do comportamento alimentar (controle rígido e flexível, alimentação intuitiva, alimentação consciente e autoeficácia alimentar) e o IMC atual, a variação ponderal ocorrida no ano anterior e os motivos associados a essa variação.

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3. HIPÓTESES

Foram formuladas as seguintes hipóteses:

- O controle rígido e flexível está associado a maior IMC atual e a maior variação ponderal no ano anterior.

- Níveis mais elevados de alimentação intuitiva e consciente e de autoeficácia alimentar estão associados a menor IMC atual e menor variação ponderal no ano anterior.

- As dimensões do comportamento alimentar, especificamente o controle rígido e flexível, alimentação intuitiva e consciente e autoeficácia alimentar, tem uma relação significativa com os motivos da variação ponderal.

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4. MATERIAL E MÉTODOS

A recolha de dados foi realizada no período de novembro de 2019 a março de 2020. A amostra foi de conveniência, composta por adultos portugueses com nacionalidade e residência em Portugal (idades compreendidas entre os 18 e os 64 anos). Foram critérios de exclusão: gestantes ou mulheres com partos há menos de 12 meses e pessoas submetidas a cirurgia bariátrica. Foi efetuado cálculo de tamanho amostral, sendo que para uma correlação de 0,2 ser significativa com alfa = 0,05 e beta = 0,2 o tamanho amostral mínimo seriam 194 participantes. Foram contactados 334 potenciais participantes da população geral (em escolas, instituições privadas, serviços de retalho e através de contatos pessoais), dos quais 272 aceitaram participar no estudo (taxa de participação de 81,4%). Foram excluídos da análise os dados de participantes com preenchimento incompleto dos questionários (n = 16). Posteriormente, e devido ao reduzido número de participantes com obesidade mórbida (IMC ≥ 40,0 kg/m2; n = 4) e grande dispersão

desses valores de IMC, os dados destes foram também excluídos da análise. No total, foram analisados neste trabalho dados de 252 participantes.

A pesquisa teve parecer favorável pelo Comissão de Ética da Universidade do Porto (Parecer N 86/CEUP/2019). Os participantes foram recrutados por contato pessoal pelos investigadores e aos indivíduos que optaram por participar da pesquisa foram entregues o documento informacional, bem como a Declaração de Consentimento.

Os dados coletados foram baseados em características sóciodemográficas e antropométricas auto-relatadas, entre elas a altura, peso (atual e desejado) e a variação ponderal obtida a partir do relato de peso mínimo e máximo no último ano. O IMC foi calculado e classificado de acordo com a Organização Mundial de Saúde - OMS (112).

Para conhecer a variação ponderal no último ano e os motivos associados foi elaborado no âmbito desta pesquisa um questionário específico. Por esse motivo, o mesmo foi submetido a um pré-teste, na sequência do qual foram reformuladas algumas questões e itens. Na versão final foi pedido aos participantes que indicassem a sua concordância ou não com cada uma das seguintes afirmações: “Durante o último ano o meu peso manteve-se estável”; “Houve períodos durante o último ano em que o meu peso diminuiu”; e “Houve períodos durante o último ano em que o meu peso aumentou”.

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A partir destas respostas, a trajetória ponderal no último ano foi classificada em: “peso estável”, “perda de peso”, “ganho de peso” e “peso cíclico” que indica que o indivíduo referiu variações no peso em ambas direções no último ano.

Como opções que motivaram a perda ou ganho de peso as alternativas dadas foram: “De forma intencional (por exemplo, fazer dieta para reduzir/aumentar o peso)”; “Por efeito directo de doença física ou tratamento”; e “Por outro motivo. Qual?”. Em função das respostas obtidas, os motivos de perda ou ganho de peso foram reagrupados da seguinte forma: Alimentação; Atividade física; Fatores psicológicos/emocionais/sociais; e Doença ou alterações fisiológicas. O motivo “alimentação” incluiu, em termos de perda de peso, a perda intencional por alteração na alimentação (por exemplo: “fazer dieta para reduzir o peso”), e em termos de ganho de peso por alteração na alimentação (por exemplo: “descuido com a alimentação”). Nos motivos envolvidos no ganho de peso acrescentou-se o aumento de peso intencional, que se refere a indivíduos que aumentaram de peso intencionalmente através do aumento da massa muscular ou por se acharem muito magros. Estresse e ansiedade foram incluídos nos fatores psicológicos, de acordo com a classificação do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - DMS 5) (113).

Para conhecer o comportamento alimentar aplicaram-se os seguintes questionários:

4.1 Sub-escalas de Controlo Rígido e Flexível

Para avaliação da restrição foram utilizadas as sub-escalas de Controlo Flexível e Controlo Rígido do comportamento alimentar propostas por Westenhoefer et al. (1999) (22) e adaptadas e validadas para a população portuguesa por Poínhos et al. (2013) (74). Este instrumento inclui 25 itens (11 correspondentes à sub-escala de Controlo Flexível e 14 à de Controlo Rígido), alguns com 4 possibilidades de resposta e outros como “Verdadeiro” ou “Falso”, sendo variáveis as respostas cotadas. As pontuações nas sub-escalas podem variar entre 0 e 11 e entre 0 e 14 pontos, respectivamente para o Controlo Flexível e para o Controlo Rígido, sendo que pontuações superiores correspondem a nível mais elevado do respectivo tipo de restrição.

(28)

4.2 Escala de Alimentação Intuitiva

Esta escala avalia a capacidade do indivíduo em reconhecer as pistas internas ao se alimentar, ao invés das pistas externas ou emoções. A versão portuguesa de Pinto-Gouveia e Azevedo (2013) (36), obtida a partir da versão original (Intuitive eating Scale - IES) de Tylka (2006) (35), é composta por 20 itens distribuídos em 3 subescalas: permissão incondicional para comer (9 itens); comer por razões físicas em vez de razões emocionais (5 itens); e confiança em pistas internas de fome e saciedade (6 itens). Cada item é respondido numa escala de Likert de 1 “Discordo fortemente” a 5 “Concordo fortemente”, permitindo pontuações entre 20 e 100, sendo que pontuações superiores indicam nível mais elevado de Alimentação Intutiva, tal como nas subescalas.

4.3 Questionário de Alimentação Consciente

Para estudar a consciência associada a alimentação utilizou-se o Questionário de Alimentação Consciente, elaborado por Framson et al. (2009) (90) com tradução e adaptação para Português do Brasil por Lucena-Santos, Oliveira e Pinto-Gouveia (2013) (114). Dada a ausência de versão em Português Europeu, os autores da pesquisa fizeram alterações para adequação às normas do mesmo.

O questionário é composto por 28 itens que avaliam o grau de atenção no momento de comer e a capacidade de responder aos indicadores de fome e saciedade, graduando em cinco etapas de fatores alimentares conscientes: desinibição (8 itens): continuar comendo mesmo depois de estar satisfeito; consciência (7 itens): estar atento e apreciar a comida e seus efeitos nos sentidos; estímulos externos (6 itens): comer em resposta a estímulos ambientais; resposta emocional (4 itens): comer em resposta a estados emocionais; e distração (3 itens): estar atento ou focar-se em outras coisas enquanto come (114).

Cada item é respondido numa escala de Likert de 4 pontos, variando de 1 “Nunca/quase nunca” a 4 “Quase sempre/sempre”; quatro itens possuem uma opção adicional indicando que aquela situação não se aplicava. As médias da subescalas e do total podem variar de 1 a 4, sendo que quanto maior a pontuação maior a consciência alimentar.

(29)

4.4 Escala de Auto-Eficácia Alimentar Global

Esta escala (Poínhos et al., 2013) (115) permitiu avaliar os aspectos gerais de Auto-Eficácia Alimentar Global, e é composta com 5 itens (avaliados numa escala de cinco pontos, entre “Não concordo” e “Concordo muitíssimo”). A pontuação total é obtida através do somatório das cotações de cada item, numa escala de 5 a 25: quanto maior for a pontuação obtida maior a autoeficácia alimentar do indivíduo.

4.5 Análise estatística

Os dados foram analisados com o programa IBM SPSS versão 25.0 para Windows. A estatística descritiva consistiu no cálculo de frequências absolutas (n) e relativas (%) e de médias (M) e desvios-padrão (DP). A normalidade das variáveis cardinais foi avaliada pelos coeficientes de simetria e de achatamento. Calculou-se o coeficiente de correlação de Pearson (r) para avaliar o grau de associação entre pares de variáveis. O teste t de student foi utilizado para comparar médias de pares de amostras independentes e emparelhadas. A comparação de mais de duas amostras independentes foi realizada através da ANOVA One-Way, sendo realizados testes post-hoc com correção de Bonferroni sempre que aplicável. A independência entre pares de variáveis foi feita através do teste exato de Fisher. Foram ainda feitos modelos de regressão linear e de regressão multinomial logística. Rejeitou-se a hipótese nula quando p < 0,05.

Devido às diferenças em termos de comportamento alimentar entre sexos, toda a análise foi realizada separadamente por sexos.

(30)

5. RESULTADOS

5.1 Caracteristicas antropométricas

Os 252 participantes tinham uma média de idade de 37 anos (DP = 12). A maioria (n = 181; 71,8%) era do sexo feminino e 18,3% (n = 46) eram profissionais da área da saúde (18 enfermeiros, 11 profissionais de Ciências da Saúde, 7 médicos, 6 de desporto/ educação física e 4 nutricionistas). Os participantes eram maioritariamente normoponderais, com cerca de um terço a apresentar excesso de peso (Tabela 1).

Tabela 1 - Classificação por classes de IMC (n = 252). Sexo Feminino n (%) Sexo Masculino n (%) Total n (%) IMC (kg/m2)* Baixo peso (< 18,5) 3 (1,7%) 1 (1,4%) 4 (1,6%) Normoponderabilidade [18,5; 25,0[ 129 (71,3%) 35 (49,3%) 164 (64,1%) Pré-obesidade [25,0; 30,0[ 34 (18,8%) 28 (39,4%) 62 (24,2%) Obesidade grau I [30,0; 34,9[ 12 (7,2%) 3 (4,2%) 16 (6,3%) Obesidade grau II [35,0; 39,9[ 2 (1,1%) 4 (5,6%) 10 (3,9%) *OMS, 2000 (112).

A média do IMC da amostra foi 24,5 kg/m2 (DP = 4,6), sendo significativamente inferior

nas mulheres (média = 23,6 kg/m2 e DP = 3,7 vs. 25,7 e DP = 3,9; p < 0,001). Já quando

questionados sobre o peso desejado, a média do IMC correspondente foi para 22,6 kg/m2 (DP =

2,5), sendo também inferior nas participantes do sexo feminino (média = 21,9 kg/m2 e DP = 2,3

vs. 24,4 e DP = 2,1; p < 0,001). A média de IMC desejado foi inferior à do IMC atual (p < 0,001 para ambos os sexos).

Calcularam-se modelos de regressão linear simples para prever o IMC desejado a partir do IMC atual. Para ambos os sexos os modelos foram significativos (p < 0,001), sendo que para as mulheres o modelo explicava cerca de dois terços da variância do IMC desejado (R2 ajustado

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Figura 1 - Regressão linear para o peso desejado a partir do IMC, por sexo.

5.2 Trajetória e motivos da variação ponderal

Na Figura 2 apresenta-se a trajetória do peso auto reportada pelos indivíduos no último ano. A estabilidade de peso foi verificada em 35,9% (n = 88) da amostra, indicando que o restante teve variação de peso no último ano, perda ou ganho de peso (n = 51 e n = 48, respectivamente) ou ambos (“peso cíclico”) (n = 65), em média de 3,7 kg (DP = 3,0). Os homens referem em maior proporção estabilidade no peso, enquanto que nos demais grupos de evolução ponderal os resultados são semelhantes em ambos os sexos, apenas em destaque um percentual maior de mulheres que aumentaram de peso.

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Figura 2 - Caracterização da trajetória do peso auto-reportada da amostra, por sexo.

Quando o IMC foi avaliado de acordo com a trajetória do peso (Figura 3) obteve-se diferença significativa de IMC entre os quatro grupos (p = 0,042), porém os testes post-hoc não revelam diferenças entre quaisquer pares de grupos. Ao fazer esta análise por sexo, há diferenças apenas para o sexo feminino (p = 0,016), e os testes post-hoc revelam diferenças apenas entre os grupos com peso estável e ganho de peso (p = 0,021).

* p = < 0,05 entre os grupos

(33)

Os motivos relacionados com a alteração do peso no último ano por sexo estão descritos na Tabela 2. O principal motivo citado para a diminuição de peso foi reduzir intencionalmente através da alimentação (restrição energética, controle alimentar ou redução de algum alimento específico). Outros motivos menos prevalentes foram fatores psicológicos, emocionais e sociais (ansiedade, estresse emocional ou profissional, mudança de país); questões relacionadas com doença ou alterações fisiológicas (gastrite aguda, anemia, diminuição do uso de corticoterapia); e aumento na prática da atividade física ou inatividade que promoveu perda de massa muscular.

Referente os aspectos relacionados à alimentação como motivos para o aumento de peso, justificativas como “descuido com a alimentação”, “deixar ou sair da dieta”, comer mais determinados alimentos (hidratos de carbono, gordura ou doces) e por ter mais apetite foram mais prevalente. Entre outros motivos referidos encontram-se fatores psicológicos emocionais e sociais (ansiedade, estresse, depressão e alterações no âmbito de trabalho); doenças ou alterações fisiológicas (alteração na tireóide, alterações hormonais, efeito de anticoncepcional ou medicamento e metabolismo lento); ausência ou pouca atividade física; e o aumento intencional para aumento da massa muscular.

Para as variáveis relacionados à variação do peso de acordo com o sexo verifica-se que, significativamente, as mulheres referiram em maior proporção (do que os homens): diminuir de peso por fatores psicológicos/emocionais/sociais e aumentar de peso por questões de doença ou fator fisiológico associadas, principalmente, às alterações hormonais.

Tabela 2 - Motivos relacionados à variação ponderal por sexo.

Motivo Sexo Feminino

n (%) Sexo Masculino n (%) p* Total n (%) Perda de peso Alimentação 47 (26%) 22 (31%) 0,435 69 (27,4%) Fatores pscicológicos, emocionais e sociais 21 (11,6%) 2 (2,8%) 0,029 23 (9,1%) Doença ou fator fisiológico 12 (6,6%) 5 (7%) 1,000 17 (6,7%) Atividade física 7 (3,9%) 5 (7%) 0,327 12 (4,8%)

Ganho de peso

Alimentação 29 (16,0%) 14 (19,7%) 0,464 43 (17,1%) Fatores psicológicos, emocionais e sociais 16 (8,8%) 3 (4,2%) 0,292 19 (7,5%) Doença ou fator fisiológico 17 (9,4%) 1 (1,4%) 0,028 18 (7,1%) Atividade física 10 (5,5%) 8 (11,3%) 0,171 18 (7,1%) Intencional 7 (3,9%) 5 (7%) 0,327 12 (4,8%)

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5.3 Relação do comportamento alimentar com outras variáveis

5.3.1 Comportamento alimentar por sexo

A comparação do comportamento alimentar entre sexos está descrita na Tabela 3. As mulheres relatam maior controle rígido e flexível, mas apenas para o controle flexível a diferença foi significativa. Indivíduos do sexo masculino tinham valores significativamente maiores na alimentação intuitiva total e afirmam maior permissão incondicional para comer e se alimentar por razões físicas em vez de emocionais.

Apesar da ausência de diferenças na pontuação total da alimentação consciente entre os participantes do sexo feminino e masculino, relativamente às suas componentes os homens reportaram signifitivamente maior consciência alimentar em termos de desinibição, enquanto que mulheres reportaram significativamente maior consciência alimentar na resposta emocional associada à comida.

Tabela 3 - Comportamento alimentar por sexo.

Comportamento alimentar Sexo feminino [n = 181] Média ± DP Sexo masculino [n = 71] Média ± DP p* Controle rígido 5,7 ± 3,0 4,9 ± 2,8 0,052 Controle flexível 6,3 ± 3,0 5,3 ± 2,6 0,007 Alimentação intuitiva -Total 64,8 ± 10,0 69,7 ± 8,9 < 0,001 Permissão incondicional para comer 27,4 ± 5,6 29,8 ± 5,7 0,003 Alimentação por razões físicas

em vez de emocionais

14,9 ± 4,8 17,5 ± 4,8 < 0,001 Confiança em sinais internos

de fome e saciedade

22,5 ± 3,1 22,4 ± 3,0 0,841 Alimentação consciente - Total 2,1 ± 0,3 2,2 ± 0,3 0,200 Consciência 2,2 ± 0,5 2,3 ± 0,5 0,079 Distração 2,3 ± 0,6 2,3 ± 0,7 0,744 Desinibição 2,0 ± 0,6 2,2 ± 0,6 0,004 Respostas emocionais 1,9 ± 0,6 1,7 ± 0,7 0,042 Estímulos externos 2,3 ± 0,6 2,5 ± 0,6 0,110 Autoeficácia alimentar 11,3 ± 3,9 11,2 ± 4,0 0,979 * Teste t de Student para amostras independentes

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5.3.2 Estado ponderal e a relação com o comportamento alimentar

As associações entre o IMC e as dimensões do comportamento alimentar, quer no total quer por grupos da trajetória de peso (estável, redução de peso, ganho de peso, “peso cíclico”) estão descritos na Tabela 4 e 5, respectivamente para o sexo feminino e masculino.

Especificamente nas mulheres, as associações encontradas foram fracas ou muito fracas. Quanto ao controle rígido e flexível, apenas o controle rígido apresentou uma associação positiva com o IMC. Considerando separadamente os quatro grupos de evolução ponderal, esta associação verificou-se unicamente no grupo com “peso cíclico”.

A alimentação intuitiva (total e subescalas permissão incondicional para comer e confiança em sinais internos) foram associadas negativamente com o IMC. Referente aos grupos, a alimentação intuitiva total e a permissão incondicional para comer apresentaram esta associação no grupo com “peso cíclico”.

Na alimentação consciente, a consciência alimentar em termos de estímulos externos apresentou uma associação positiva com o IMC. Quando investigada esta dimensão nos grupos, verificou-se esta associação nos grupos com peso estável e “peso cíclico”.

A autoeficácia alimentar se associou negativamente com o IMC e, relativamente aos grupos, esta associação verificou-se nos grupos com perda de peso e ganho de peso.

(36)

Tabela 4 - Correlações entre o IMC e o comportamento alimentar, por trajetória do peso, para o sexo feminino.

Comportamento alimentar Peso estável [n = 61] r (p) Perda de peso [n = 37] r (p) Ganho de peso [n = 36] r (p) Peso Cíclico [n = 47] r (p) Total [n = 181] r (p) Controle rígido 0,190 (0,142) 0,074 (0,663) 0,192 (0,261) 0,407 (0,005) 0,248 (< 0,001) Controle flexível 0,150 (0,250) -0,019 (0,913) -0,154 (0,369) -0,269 (0,068) 0,085 (0,255) Alimentação intuitiva - Total -0,139

(0,286) -0,314 (0,058) -0,294 (0,082) -0,308 (0,035) -0,275 (< 0,001) Permissão incondicional para comer -0,178

(0,170) -0,203 (0,228) -0,196 (0,251) -0,319 (0,029) -0,251 (< 0,001) Alimentação por razões físicas

em vez de emocionais 0,041 (0,756) -0,261 (0,119) -0,219 (0,200) -0,097 (0,515) -0,110 (0,142) Confiança em sinais internos

de fome e saciedade -0,183 (0,157) -0,305 (0,066) -0,200 (0,243) -0,281 (0,055) -0,265 (< 0,001) Alimentação consciente - Total 0,217

(0,093) 0,232 (0,168) 0,200 (0,242) -0,003 (0,986) 0,136 (0,069) Consciência 0,205 (0,113) 0,080 (0,638) -0,046 (0,790) -0,037 (0,806) 0,018 (0,809) Distração 0,085 (0,513) 0,066 (0,696) 0,086 (0,619) -0,106 (0,477) 0,021 (0,777) Desinibição 0,111 (0,395) 0,115 (0,497) 0,230 (0,177) -0,079 (0,598) 0,075 (0,314) Respostas emocionais -0,087 (0,505) 0,217 (0,196) 0,207 (0,227) -0,083 (0,580) 0,055 (0,466) Estímulos externos 0,271 (0,035) 0,202 (0,231) -0,018 (0,915) 0,291 (0,047) 0,194 (0,009) Autoeficácia alimentar -0,069 (0,598) -0,342 (0,038) -0,338 (0,044) -0,265 (0,072) -0,215 (0,004)

r = coeficiente de correlação de Pearson.

Para os homens (Tabela 5), foram constatadas correlações com associação moderada apenas considerando separadamente os quatro grupos evolução ponderal. Verificou-se uma associação positiva do controle rígido com o IMC unicamente no grupo com perda de peso e uma associação negativa entre a confiança nos seus sinais de fome e saciedade (alimentação intuitiva) e o IMC unicamente no grupo com “peso cíclico”.

(37)

Tabela 5 - Correlações entre o IMC e o comportamento alimentar, por trajetória do peso, para o sexo masculino.

Comportamento alimentar Peso estável [n = 27] r (p) Perda de peso [n = 14] r (p) Ganho de peso [n = 12] r (p) Peso Cíclico [n = 18] r (p) Total [n = 71] r (p) Controle rígido -0,055 (0,787) 0,548 (0,043) -0,199 (0,535) -0,010 (0,970) 0,057 (0,637) Controle flexível 0,073 (0,716) 0,307 (0,286) -0,298 (0,347) -0,377 (0,123) -0,044 (0,716) Alimentação intuitiva - Total -0,045

(0,824) 0,072 (0,806) -0,414 (0,181) -0,202 (0,423) -0,186 (0,120) Permissão incondicional para comer -0,014

(0,944) -0,091 (0,756) -0,227 (0,477) 0,035 (0,889) -0,064 (0,598) Alimentação por razões físicas

em vez de emocionais 0,056 (0,780) -0,139 (0,637) -0,251 (0,432) -0,114 (0,653) -0,129 (0,285) Confiança em sinais internos

de fome e saciedade -0,017 (0,935) -0,122 (0,677) -0,353 (0,261) -0,543 (0,020) -0,228 (0,055) Alimentação consciente - Total 0,255

(0,199) -0,040 (0,892) 0,205 (0,522) 0,308 (0,214) 0,219 (0,067) Consciência 0,060 (0,768) -0,249 (0,390) -0,124 (0,702) 0,048 (0,850) -0,011 (0,930) Distração 0,184 (0,359) -0,236 (0,416) 0,174 (0,590) 0,022 (0,930) 0,074 (0,537) Desinibição -0,003 (0,988) -0,065 (0,826) 0,295 (0,352) 0,341 (0,165) 0,136 (0,260) Respostas emocionais -0,139 (0,490) 0,299 (0,300) 0,265 (0,405) 0,415 (0,087) 0,212 (0,077) Estímulos externos 0,244 (0,220) 0,201 (0,295) -0,174 (0,589) -0,059 (0,817) 0,124 (0,302) Autoeficácia alimentar -0,216 (0,279) 0,275 (0,342) -0,061 (0,851) -0,246 (0,325) -0,131 (0,278)

r = coeficiente de correlação de Pearson.

Foram feitos modelos de regressão linear múltipla para prever, separadamente para mulheres e homens, o IMC atual a partir da idade e das pontuações nas escalas de comportamento alimentar: controle rígido, controle flexível, alimentação intuitiva (total), alimentação consciente (total) e autoeficácia alimentar (Tabela 6).

Para o sexo feminino o modelo foi significativo (p < 0,001), explicando cerca de um

quinto da variância do IMC (R2 ajustado = 0,189). Níveis superiores de controle rígido e

(38)

elevada. As pontuações do controle flexível e nas escalas de alimentação intuitiva ou alimentação consciente não foram preditores significativos do IMC atual.

Quanto ao sexo masculino, o modelo não foi significativo (p = 0,122; R2 ajustado =

0,061), e apenas uma idade mais elevada se associou significativamente a maior IMC.

Tabela 6 - Regressão linear múltipla para prever IMC a partir da idade e comportamento alimentar.

Sexo Feminino Sexo Masculino

β* p β* p

Idade 0,282 < 0,001 0,273 0,032

Comportamento alimentar

Controle rígido 0,305 0,003 0,158 0,369 Controle flexível - 0,117 0,253 - 0,153 0,380 Alimentação intuitiva - Total - 0,087 0,324 - 0,073 0,611 Alimentação consciente - Total - 0,013 0,878 0,238 0,093 Autoeficácia alimentar - 0,191 0,017 0,013 0,921 * Coeficientes padronizados

5.3.3 Trajetória da variação ponderal e sua relação com o comportamento alimentar

Ao analisar as trajetórias da variação do peso, os resultados referente às dimensões do comportamento alimentar para o sexo feminino (Tabela 7) indicaram diferenças entre as médias dos grupos (peso estável, perda de peso, ganho de peso, “peso cíclico”) em ambos os tipos de controle alimentar (rígido e flexível) e na autoeficácia alimentar. E para a alimentação intuitiva e consciente, mesmo não apresentando diferenças significativas na sua dimensão como um todo, no entanto os valores nas componentes permissão incondicional para comer e confiança em sinais internos de fome e saciedade da alimentação intuitiva e a componente consciência da alimentação consciente apresentaram diferenças entre os grupos.

Os testes post-hoc revelaram que participantes do sexo feminino com “peso cíclico” referiram maior controle rígido e flexível comparado aquelas com peso estável. Aquelas em que o peso aumentou relataram menor controle rígido do que aqueles que referiram “peso cíclico”. Relativamente à alimentação intuitiva, aqueles indivíduos com peso estável afirmaram se permitir comer incondicionalmente, comparado com aqueles que referiram “peso cíclico”; e,

(39)

ainda, maior confiança nos sinais do corpo (fome e saciedade) no grupo com estabilidade de peso ao comparar com o grupo que aumentou de peso. Para a alimentação consciente em termos de consciência não revelou-se diferenças entre quaisquer pares. E, verificou-se maior autoeficácia alimentar naquelas que referiram perda de peso em comparação com aquelas que aumentaram de peso.

Tabela 7 - Média e desvio-padrão para o comportamento alimentar e a trajetória do peso, para o sexo feminino. Peso estável [n = 61] Média ± DP Perda de peso [n = 37] Média ± DP Ganho de peso [n = 36] Média ± DP Peso cíclico [n = 47] Média ± DP p Controle rígido 4,7 ± 2,7 ab 6,0 ± 2,5 ab 5,4 ± 3,1a 7,1 ± 3,1 b < 0,001 Controle flexível 5,6 ± 3,1 a 6,8 ± 2,6 ab 5,9 ± 3,7 ab 7,3 ± 2,1 b 0,016

Alimentação intuitiva - Total 67,0 ± 10,1 65,2±10,5 64,1 ± 8,8 62,3 ± 10,1 0,116 Permissão incondicional para comer 29,2 ± 5,8 a 26,6 ± 5,3 ab 27,6 ± 4,5 ab 25,5 ± 5,9 b 0,007

Alimentação por razões físicas em vez de emocionais

14,9 ± 4,8 15,8 ± 5,0 15,4 ± 4,9 14,1 ± 4,4 0,388 Confiança em sinais internos

de fome e saciedade

23,0 ± 3,1 a 22,8 ± 3,0 ab 21,0 ± 3,1 b 22,7 ± 2,9 ab 0,017

Alimentação consciente - Total 2,2 ± 0,3 2,1 ± 0,3 2,1 ± 0,3 2,2 ± 0,3 0,462 Consciência 2,4 ± 0,5 a 2,1 ± 0,5 a 2,2 ± 0,5 a 2,1 ± 0,5 a 0,034 Distração 2,3 ± 0,6 2,2 ± 0,6 2,3 ± 0,6 2,4 ± 0,7 0,477 Desinibição 2,0 ± 0,6 1,9 ± 0,5 1,9 ± 0,6 2,0 ± 0,6 0,502 Respostas emocionais 1,8 ± 0,6 1,7 ± 0,6 1,9 ± 0,6 2,0 ± 0,6 0,433 Estímulos externos 2,4 ± 0,6 2,4 ± 0,5 2,4 ± 0,6 2,2 ± 0,6 0,216 Autoeficácia alimentar 10,9 ± 4,0 ab 12,6 ± 3,4 a 10,2 ± 4,1 b 11,5 ± 3,7 ab 0,047

Nota: A presença da mesma letra em expoente indica ausência de diferença entre pares nos testes post-hoc.

No sexo masculino (Tabela 8), apenas o controle rígido e a subescala da alimentação intuitiva: confiança em sinais internos de fome e saciedade apresentaram diferenças entre os grupos de evolução ponderal. Enquanto que os testes post hoc indicaram diferenças apenas nos homens com estabilidade de peso que afirmaram confiar mais em seus sinais internos, comparado aqueles com “peso cíclico” ou que tiveram ganho de peso.

(40)

Tabela 8 - Média e desvio-padrão para o comportamento alimentar e a trajetória do peso, para o sexo masculino. Comportamento alimentar Peso estável [n = 27] Média ± DP Perda de peso [n = 14] Média ± DP Ganho de peso [n = 12] Média ± DP Peso cíclico [n = 18] Média ± DP p Controle rígido 4,2 ± 2,6 a 6,4 ± 2,7 a 3,7 ± 2,9 a 5,6 ± 2,7 a 0,026 Controle flexível 5,0 ± 2,8 5,9 ± 2,8 4,8 ± 2,8 5,5 ± 2,2 0,635 Alimentação intuitiva - Total 72,9 ± 8,7 69,4±6,9 68,3 ± 9,5 66,0 ± 9,2 0,072 Permissão incondicional para comer 30,4 ± 6,2 28,7 ± 4,5 31,7 ± 5,8 28,5 ± 5,7 0,405 Alimentação por razões físicas

em vez de emocionais

18,5 ± 4,8 18,7 ± 3,6 15,6 ± 5,8 16,2 ± 4,7 0,151 Confiança em sinais internos

de fome e saciedade

24,0 ± 2,0 a 21,9 ± 3,4 ab 21,1 ± 3,2 b 21,3 ± 2,8 b 0,003

Alimentação consciente - Total 2,2 ± 0,3 2,2 ± 0,2 2,2 ± 0,4 2,2 ± 0,3 0,909 Consciência 2,3 ± 0,5 2,5 ± 0,5 2,3 ± 0,6 2,4 ± 0,4 0,476 Distração 2,4 ± 0,7 2,4 ± 0,6 2,1 ± 0,7 2,2 ± 0,7 0,661 Desinibição 2,2 ± 0,6 2,8 ± 0,5 2,1 ± 0,6 2,3 ± 0,5 0,820 Respostas emocionais 1,7 ± 0,8 1,4 ± 0,3 1,9 ± 0,9 1,7 ± 0,6 0,276 Estímulos externos 2,5 ± 0,7 2,5 ± 0,6 2,5 ± 0,4 2,5 ± 0,5 0,997 Autoeficácia alimentar 10,7 ± 4,5 10,9 ± 2,8 12,5 ± 4,4 11,4 ± 4,1 0,636

Nota: A presença da mesma letra em expoente indica ausência de diferença entre pares nos testes post-hoc.

Foi usado um modelo de regressão multinomial logística para prever, separadamente para

mulheres e homens, os grupos de evolução ponderal (considerando o grupo peso estável como

referência) a partir do sexo, idade, IMC e das pontuações nas escalas de comportamento alimentar: controle rígido, controle flexível, alimentação intuitiva (total), alimentação consciente (total) e autoeficácia alimentar (Tabelas 9 e 10).

No sexo feminino o modelo previu significativamente os grupos de evolução ponderal (p = 0,003; R2 parcial de Nagelkerke = 0,227), mas nenhuma das variáveis independentes foi

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