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Reflexões de Um Estudante Rosicrucista

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Academic year: 2021

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ANTÓNIO MONTEIRO

Reflexões de Um Estudante Rosicrucista

Volume II

Christian Rosenkreuz

UM ESTUDO BIOGRÁFICO

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“Reflexões de um Estudante Rosicrucista”

Por António Monteiro

Volume I - Síntese do Conceito Rosacruz do Cosmos

Volume II - Christian Rosenkreuz – Estudo biográfico

Volume III - A Ressurreição de Lázaro

Volume IV - O Nome Germelshausen

Volume V - A Tábua de Esmeralda

Volume VI - Os Versos de Ouro de Pitágoras

Volume VII - Os Mistérios, Um Poema Inacabado de Goethe

Volume VIII - O Evangelho Secreto de Marcos

Volume IX - Evangelho de Judas

Volume X - O Evangelho de Tomé

Volume XI - Maria Madalena e o Santo Graal

Volume XII – As Imagens de Jesus

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Apresentação

António José de Carvalho Monteiro, nascido em Lisboa em 4 de

Março de 1934, é Estudante Rosicrucista , associado à The Rosicrucian Fellowship, desde 1977. É autor de diversos artigos e ensaios divulgados no âmbito do Centro Rosacruz Max Heindel, em Portugal1, alguns dos

quais se encontram disponíveis em sua página dedicada ao idealismo rosacruz: < http://pwp.netcabo.pt/AJCMONTEIRO/ >, e das seguintes obras publicadas:

A Ordem Rosacruz, Publicações Europa-América, Ldª, Mem Martins, 1981

O Que é Fátima?, Hugin Editores, Lisboa, 2000

O estudo de diversas correntes ocultistas as quais o autor se dedicou desde uma longínqua juventude levaram-no à conclusão de que a mais lógica, abrangente e elucidativa é a Filosofia Rosacruz, na qual se insere um conjunto de conhecimentos espiritualistas que, entre 1909 e 1919, foram dados a conhecer por Max Heindel através de uma notável bibliografia em que se destaca a obra básica The Rosicrucian Cosmo-Conception (Conceito Rosacruz do Cosmos).

Mas os ensinamentos de Max Heindel não se limitam a transmitir-nos conhecimentos ocultistas – incentivam-transmitir-nos a desenvolver as transmitir-nossas potencialidades espirituais e intelectuais, uma das quais é a intuição metafísica que nos permite fazer a nossa própria interpretação de alguns passos ocultistas menos desenvolvidos ou até omissos; se o fazemos da forma correcta, ou não, um dia veremos!

O autor considera A Filosofia Rosacruz uma corrente de pensamento ocidentalista e cristão que visa a evolução espiritual do ser humano através do desenvolvimento harmonioso da via ocultista e da via mística.

É nesta ordem de ideias que a presente série “Reflexões de um

Estudante Rosicrucista” se insere, contendo um conjunto de artigos de

sua responsabilidade onde analisa, em termos eminentemente especulativos, determinados assuntos, tendo em vista uma conclusão

1 CENTRO ROSACRUZ MAX HEINDEL : Apartado 46, 2396-909 Minde, Portugal .

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interpretativa tão lógica quanto possível, já que, como diz Max Heindel, “a lógica é o melhor mestre em qualquer mundo”.

Para além destes exercícios espiritualistas o autor, cuja obra o qualifica como um avançado Estudante Rosicrucista 2, apresenta alguns

textos meramente informativos, bem como um resumo do Conceito Rosacruz do Cosmos aspirando ajudar aqueles que começam a interessar-se por estes assuntos, razão pela qual sugere que seja o primeiro texto da série a ser lido.

O segundo volume desta série é dedicado à uma profunda pesquisa sobre o fundador da Ordem Rosacruz, a Escola de Mistérios do Ocidente.

2 ALGUNS TERMOS ROSICRUCISTAS

ROSA CRUZ

1. S. 2 gen. Composto simbolizante em que Rosa representa o espírito e Cruz o corpo físico. A composição significa que o espírito se encontra livre da necessidade de renascer num corpo físico e pode prosseguir que impôs a si próprio. O Rosacruz é aquele que atingiu a quarta iniciação maior mas permanece no mundo físico integrado na Ordem Rosacruz. O m. q. Irmão Maior.

2. Adj. Relativo à Ordem Rosacruz.

O m. q. Rosa-Cruz, símbolo gráfico da ligação do espírito com o corpo físico ROSICRUCISMO

S. masc. Sistema filosófico e esotericista, de índole cristã e ocidentalista, que visa a evolução espiritual

do ser humano através da harmonização da via ocultista e da via mística. O m. q . Filosofia Rosacruz. Preferível ao anglicismo Rosacrucianismo.

(Do lat. rosa, rosæ + crux, crucis) ROSICRUCISTA

1. S. 2 gen. Aquele ou aquela que atingiu qualquer iniciação menor na Escola de Mistérios Rosacruz. O m. q. Irmão Leigo.

2. Adj. Relativo ao Rosicrucismo. Preferível ao anglicismo Rosacruciano. (Do lat. rosa, rosæ + crux, crucis) ESTUDANTE ROSICRUCISTA

S. 2 gen. Aquele ou aquela que estuda o Rosicrucismo mas não é iniciado na Escola de Mistérios

Rosacruz. O m. q. estudante regular, probacionista ou discípulo.a sua evolução nos mundos superiores. O Rosa Cruz é aquele que, tendo atingido a quarta iniciação maior, passou para um mundo superior a fim de evoluir em condições diferentes das terrenas.

ROSACRUZ

S. 2 gen. Composto simbolizante por justaposição, em que Rosa representa o espírito e Cruz o corpo

físico. A justaposição significa que o espírito se encontra livre da necessidade de renas cer num corpo físico, mas permanece ligado a este mundo a fim de cumprir uma missão espiritualista

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Introdução

Há três perguntas que desde sempre têm perseguido o ser humano: quem somos? de onde viemos? para onde vamos? Se a esmagadora maioria desconhece as respostas, houve sempre quem as conhecesse e as transmitisse àqueles que, para tal, estavam preparados física, moral, intelectual e espiritualmente, enfim, que tenham evoluído o suficiente para usarem os poderes associados a esse conhecimento para fins exclusivamente humanitários. Assim se foram formando, um pouco por toda a parte, escolas de mistérios sob a égide de grandes seres que transmitiam determinados conhecimentos a indivíduos cuidadosamente escolhidos, enquanto que às massas ofereciam o culto das forças da Natureza, personificadas em deuses, espíritos, duendes, demónios; eram as chamadas religiões pagãs que foram parcialmente absorvidas pelas religiões de raça.

Algumas escolas ficaram famosas, como Elêusis, na Grécia, Ísis, no Egipto, Mitra, na Pérsia e no Império Romano, através das quais os aspirantes iam progredindo por sucessivas iniciações. Com a vinda do Cristo, estas escolas foram desaparecendo e dando lugar a outras com diferentes metodologias iniciáticas ditadas pelas alterações que, a nível dos mundos espirituais, este Ser introduziu na Terra, conforme vimos; por outro lado, enquanto as escolas pré-cristãs privilegiavam a evolução do povo, ou da raça, em que estavam inseridas, as actuais visam a evolução espiritual de toda a humanidade, muito embora se diferenciem consoante a especificidade dos povos para que estão mais vocacionadas.

Há sete escolas de mistérios menores e cinco escolas de mistérios maiores, formando os seus chefes a chamada Grande Loja Branca. A Ordem Rosacruz é uma das sete escolas de mistérios menores e está vocacionada para os povos ocidentais; é constituída por doze seres detentores da mais elevada iniciação, que visam elevar espiritualmente o ser humano através do desenvolvimento harmonioso da via ocultista e da via mística; a sua acção é exercida nos planos espirituais e físico, sob a orientação de um décimo terceiro, Christian Rosenkreuz, nome simbólico de um elevado ser cuja preparação iniciática remonta à mais alta antiguidade, e que no século XIII criou as bases da inicialmente chamada Fraternidade, ou Irmandade, Rosacruz, e que no século XVII iria adoptar a actual designação.

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Sete Irmãos Maiores, como Max Heindel costuma designar os Rosacruzes, vêm ao mundo material sempre que as circunstâncias o requeiram, aparecendo como pessoas vulgares, exercendo profissões ou actividades vulgares, nada havendo que os distinga dos outros homens a não ser um comportamento exemplar e uma inteligência e cultura acima do normal. Actuam nos seus corpos visíveis e invisíveis, mas nunca influenciam quem quer que seja contra a sua vontade; limitam-se a fortalecer o Bem onde o encontram. Os restantes cinco Irmãos nunca abandonam o Templo da Rosa Cruz, uma construção etérica, invisível portanto, que envolve uma casa senhorial situada na Boémia, a cerca de 100 quilómetros a oeste de Praga. Estes Irmãos, embora possuam corpos físicos, executam o seu trabalho nos mundos espirituais.

Estes são os verdadeiros Rosacruzes, que nunca revelam a sua condição a quem quer que seja, e que orientam diversos homens e mulheres cujas vidas são absolutamente normais, mas que já atingiram diferentes iniciações; são os Irmãos Leigos.

A Ordem Rosacruz manteve -se secreta até 1614, ano em que, em Cassel, na Alemanha, foi publicado um manifesto intitulado Fama Fraternitatis - abreviatura já consagrada do extenso título original - que despertou grande interesse nos meios filosóficos e esotericistas e um certo receio nos religiosos; no ano seguinte foi publicado um outro, Confessio, e em 1616, agora em Estrasburgo, um terceiro manifesto, um conto alquímico, verdadeiro märchen, intitulado Núpcias Químicas de Christian Rosenkreuz no ano de 1459. Os dois primeiros são anónimos, mas a sua autoria é normalmente atribuída ao pastor luterano Johann Valentin Andreæ (1586-1654) por ser o autor assumido das Núpcias Químicas. Em 1622, desta vez em Paris, dois cartazes afixados na Praça da Greve anunciavam a estada visível e invisível dos delegados do Colégio Principal dos Irmãos da Rosacruz, prometendo maravilhas àqueles que quisessem inscrever-se nos registos da Confraternidade e cujos pensamentos, que os delegados garantiam conhecer de antemão, fossem puros e elevados.

Depois desta apresentação pública, a Ordem Rosacruz remeteu-se, novamente, ao silêncio, mas a sua presença e actividade fez-se sentir através de diversas personalidades que, embora ocultando a sua condição, se revelaram verdadeiros Rosacruzes: é o caso de Francis Bacon (1561-1626 ?), Jacob Boehme (1575-1624), o Conde de Saint Germain (1687 ? - 1784 ?), "o homem que tudo sabe e que nunca morre", no dizer de Voltaire, Goethe (1749-1832), e outros, como fora já o do famoso Paracelsus (1493-1541).

Por outro lado, há Irmãos Leigos que têm sido escolhidos pelos Irmãos Maiores para difundirem determinados ensinamentos. Está neste caso Max Heindel (1865-1919), um dinamarquês que emigrou para os

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EUA no final do século XIX e que, cinco ou seis anos depois, entrou para a Sociedade Teosófica. Em 1907, com o apoio económico de uma grande amiga, também teosofista, foi à Alemanha para assistir às conferências de Rudolf Steiner, outro teosofista e iniciado rosacruciano. Durante cerca de meio ano, Max Heindel assistiu às suas conferências, estudou todos os textos que Steiner lhe facultou, e foi por este introduzido numa secção secreta da Escola Esotérica de Teosofia. Ainda na Alemanha, Max Heindel foi iniciado por um Irmão Maior que o incumbiu de difundir tudo o que havia aprendido pelo mundo anglófono.3

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Nota do editor: De novembro de 1907 a Março de 1908, Max Heindel dedicou seu tempo a investigação dos ensinamentos do Dr. Rudolf Steiner, viajando para a Alemanha a convite de sua amiga , a Dra. Alma Von Brandis para assistir um ciclo de conferencias deste famoso escritor, então responsável pela Seção Alemã da Sociedade Teosófica, e mais tarde fundador da Sociedade Antroposófica. Na última das seis entrevistas pessoais com o Dr. Steiner, Max Heindel mencionou que havia começado a escrever um livro no Campo das Ciências Ocultas; um compêndio que sintetizava os ensinamentos orientais e ocidentais. Steiner então ponderou que se algum dos ensinamentos por ele promulgados fosse utilizado , deveria mencioná-lo como a autoridade e fonte da informação. Conseqüentemente Max Heindel concordou em dedicar tal compendio, que nunca foi concluído e jamais publicado, ao Dr. Steiner. Posteriormente, o Irmão Maior, que Max Heindel passou a chamar e reverenciar como Mestre, apareceu-lhe várias vezes vestido em seu Corpo Vital e esclareceu-o em vários pontos. Em Abril e Maio de 1908 após ter passado numa prova a qual fora submetido, em Março de 1908, sem saber que estava sendo testado, Max Heindel foi convidado a viajar a um local onde se encontrava uma casa que, abrigava o Templo Secreto da Rosa Cruz Lá ele encontrou o Irmão Maior em seu Corpo Denso; lá ele recebeu os ensinamentos rosacruzes, sintetizados no Conceito Rosacruz do Cosmos, reconhecido pelos maiores estudiosos das tradições esotéricas como um clássico da literatura ocultista, que engloba sinteticamente as tradições esotéricas do passado e introduz assuntos jamais abordados publicamente. O Mestre contou-lhe ainda que um candidato previamente escolhido, que estivera sob as Suas instruções por vários anos, falhara ao ser posto em certa prova em 1905 (tal afirmação de Max Heindel sugere que o candidato anterior que suspeitamos ter sido Rudolf Steiner não traduzira os Ensinamentos numa linguagem inteligível a todas as mentalidades conforme desejavam os Irmãos Maiores); também que Max Heindel esteve sob a observação dos Irmãos Maiores por certo número de anos, sendo considerado como o candidato mais apto, caso o primeiro falhasse. Em acréscimo foi ainda informado que os ensinamentos deveriam ser dados ao público antes do término da primeira década do século XX. Apesar, do manuscrito inacabado do livro mencionado ao Dr. Steiner ter sido destruído, as últimas e mais completas revelações dos Irmãos Maiores confirmavam os ensinamentos do Dr. Steiner em suas linhas principais . Pareceu -lhe conveniente dedicar o “Conceito Rosacruz do Cosmos” ao Dr. Rudolf Steiner para não ser acusado de plagiador. Teria sido um dano menor ter assumido este risco do que conferir a autoridade dos ensinamentos ao Dr. Rudolf Steiner. Tal dedicatória foi portanto um erro, que levou muitas pessoas a inferir que se tratava de uma síntese autorizada dos ensinamentos do Dr. Stei ner, que seria o responsável pelas afirmações nele contidas . Tal inferência parecia antiética ao Dr. Steiner. Um exame das páginas 8 e 9, do Conceito Rosacruz do Cosmos, irá mostrar que Max Heindel jamais pretendeu provocar tal idéia, mas não faltaram acusações de oportunismo em desejar provocar o sucesso editorial da obra associando seu nome ao do famoso instrutor. Não vendo como transmitir a verdadeira idéia em uma sentença dedicatória, então resolveu retirá-la , com um pedido de desculpas ao Dr. Steiner por algum aborrecimento que possa ter sido causado pelas conclusões apressadas que associaram seu nome como responsável pelas afirmações contidas no “Conceito Rosacruz do Cosmos”.

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Regressado aos EUA, Max Heindel abandonou a Sociedade Teosófica e escreveu o Conceito Rosacruz do Cosmos, publicado em 1909, que conheceu, de imediato, um enorme sucesso. Foi o primeiro passo para difundir esses ensinamentos; o seguinte foi a criação da Fraternidade Rosacruz, uma organização material, física, cuja sede, Mount Ecclesia, se situa em Oceanside, no sul da Califórnia, e que tem sido um foco de difusão do Rosicrucismo através de outros livros que Max Heindel escreveu, bem como das cartas e lições que enviou, mensalmente, aos seus estudantes, e aos centros e grupos de estudos que se foram criando.

Após a sua morte em 1919, a Fraternidade Rosacruz tem procurado prosseguir o trabalho do seu fundador.

Por me parecer de interesse, incluo uma breve referência ao nosso país.4

Os primeiros sinais da presença no ainda Condado Portucalense da corrente de pensamento que a partir do século XVII ficaria conhecida como Rosacrucianismo, são as assinaturas do Conde D. Henrique (-1112), D. Teresa (-1130) e Afonso Henriques (c.1108-1185), onde se evidenciam uma cruz e uma rosa (cf. Eduardo Amarante/Rainer Daehnhardt, Portugal: A Missão Que Falta Cumprir, vol. I, Porto, Edições Nova Acrópole, 1994, pp. 114-116).

Na presunção, para não dizer certeza, de que os Templários estiveram na origem da Ordem Rosacruz, há que apontar a possibilidade de um dos primeiros cavaleiros ter sido português; trata-se de um tal Gondomar, ou Gondemar, que em 1118 estava em Jerusalém com Hugues de Pays, Geoffroy de Saint-Omer e os restantes seis cavaleiros, quando a Ordo Militum Templi foi oficialmente constituída.

O sinal seguinte data de 1129; trata-se da confirmação da doação do Castelo de Soure aos “Soldados do Templo de Salomão”, onde D. Afonso Henriques exprime o “... cordial amor que vos tenho, em vossa irmandade e em todas vossas boas obras sou irmão”.

Nos princípios do século XIV temos duas datas fundamentais: 1312, ano da extinção formal da Ordem do Templo, e 1319, ano da fundação da Ordem de Cristo por D. Dinis, um trovador e iniciado nos

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mistérios que mais tarde se denominariam Rosicrucistas, um “plantador de naus a haver”, no dizer de Fernando Pessoa. Como se sabe, a epopeia dos Descobrimentos ficou a dever-se à Ordem de Cristo, da qual o Infante D. Henrique (1394-1460) foi seu grão-mestre ou, pelo menos, administrador. Ora entre alguns estudiosos dos mistérios que envolvem a Ordem do Templo há a convicção de que os Templários foram experimentados navegadores que chegaram ao Novo Mundo muito antes de Cristóvão Colombo (1492), o que explicaria a origem do seu fabuloso tesouro em prata, provavelmente extraída das minas mexicanas. Assim, teria sido dos Templários que o Infante herdou os conhecimentos náuticos com que a sua escola preparou os nossos navegadores, quase todos iniciados na Ordem de Cristo.

No Convento de Cristo, em Tomar, há dois sinais inequívocos do Rosicrucismo: no piso inferior do chamado Claustro da Lavagem (1437 a 1449) e que seria, na verdade, a sala onde tinham lugar cerimónias iniciáticas, as pedras angulares estão decoradas com uma rosa sobreposta a uma cruz; na parte interior da janela da Casa do Capítulo, o elemento decorativo é a alcachofra, uma flor cheia de simbolismo e que, de certo modo, estabelece um traço de união entre os Templários e a rosa dos Rosacruzes.

No século XVI é Camões a grande figura, se não do Rosicrucismo, pelo menos do esoterismo em Portugal, conforme se depreende de uma leitura atenta de Os Lusíadas e de alguns dos seus sonetos onde sobressai, para além de uma grande cultura, um conhecimento profundo da Astrologia e da simbólica da mitologia clássica. Sobre este assunto, e para não me alongar demasiado, recomendo a leitura de uma série de excelentes artigos escritos por Francisco Marques Rodrigues para a revista Rosacruz, da Fraternidade Rosacruz de Portugal, e a correspondente secção do meu livro A Ordem Rosacruz (Mem Martins, Publicações Europa -América, 1981, pp. 105-115).

Nos três séculos seguintes não tenho conhecimento de figura alguma que possa ser identificada, ou relacionada, com o Rosacrucianismo.

Nos anos vinte do século passado, foi criado em Lisboa, por iniciativa de Francisco de Medeiros, o Centro de Estudos Rosacrucianos, o qual passou a ser dirigido por Francisco Marques Rodrigues desde meados da década de quarenta até à sua morte em 1979; em 19 de Julho de 1975, graças ao 25 de Abril, pôde ser legalizado com a designação Fraternidade Rosacruz de Portugal.

Entretanto uma dissensão anterior tinha dado origem à criação do Centro Rosacruciano de Lisboa que se manteve em funcionamento

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durante alguns anos até que outra dissensão ditou o seu encerramento e a formação, em 1984, do Centro Rosacruz Max Heindel, presentemente a funcionar em Minde. De referir a existência de alguns estudantes que, por razões diversas, nomeadamente a localização das suas residências, não se encontram ligados a nenhum destas duas associações e prosseguem os seus estudos directamente com Mount Ecclesia . 5

A título de curiosidade, esclareço que Fernando Pessoa (1888-1935), figura proeminente do esoterismo português do século XX, embora conhecesse perfeitamente a Filosofia Rosacruz, nunca esteve vinculado ao antigo Centro de Estudos Rosacrucianos.

5 Nota do Editor: O Centro de Estudos Rosacrucianos, criado por Francisco de Medeiros e desenvolvido e dirigido por

Francisco Marques Rodrigues, foi a matriz de duas associações vinculadas a The Rosicrucian Fellowship: A Fraternidade Rosacruz de Portugal, sucessora deste Centro e o Centro Rosacruciano de Lisboa, extinto por uma dissenção que provocou seu fechamento e a emergência de um novo Centro credenciado pela The Rosicrucian Fellowship : o Centro Rosacruz Max Heindel.

O Centro de Estudos Rosacrucianos foi legalizado em 19 de Julho de 1975 com a designação Fraternidade Rosacruz de Portugal. Entretanto, antes de 25 de Abril de 1974 (Revolução dos Cravos), que tornou possível o reconhecimento e a legalização do Rosacrucianismo em Portugal, alguns probacionistas e estudantes saíram do ainda Centro de Estudos Rosacrucianos e criaram o Centro Rosacruciano de Lisboa, também reconhecido por Mount Ecclesia e legalizado depois da Revolução dos Cravos. Porém, esta nova associação cedo enveredou por caminhos contrários ao espírito Rosacruz dos seus estatutos passou a constar a obrigatoriedade do pagamento de quotas mensais por parte dos seus membros, cujo valor mínimo era fixado pela assembleia geral; por outro lado, era permitida a frequência do Curso de Astrologia logo após a resposta à 1ª lição do Curso Preliminar de Filosofia RC, quando o próprio Max Heindel várias vezes frisara a necessidade do estudo da Astrologia ser iniciado somente depois de concluído esse curso.

Nestas condições, um grupo de probacionistas e estudantes abandonaram o Centro Rosacruciano de Lisboa e criaram o Centro de Estudos Max Heindel, o qual, em 1984 iria ser reconhecido por Mount Ecclesia que na própria Charter lhe atribuiu a actual designação de Centro Rosacruz Max Heindel.

Atualmente temos em Portugal dois Centro s credenciados, A Fraternidade Rosacruz de Portugal, fundado por Francisco Marques Rodrigues e O Centro Rosacruz Max Heindel, ambos abnegadamente dedicados ao idealismo rosacruz.

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Christian Rosenkreuz

UM ESTUDO BIOGRÁFICO

Representação alegórica do Pai C.R.C. por JAKnapp

Pai C.R.C. ( Christian Rosenkreuz ou Cristão Rosa Cruz ) – considerado não apenas como uma personalidade, mas também como a personificação de um sistema de filosofia espiritual a si atribuido o seu estabelecimento – nenhum autentico retrato do Pai C.R.C. jamais foi encontrado. Nesta representação alegórica de J.A. Knapp, especialmente elaborada para a obra “The Secret Teachings of All Ages” ( Os Ensinamentos Secretos de todas as Eras ) de Manly Palmer Hall, o Grande Livro da Rosa Cruz está fechado sobre a mesa, ao lado de uma ampulheta, representando que no devido tempo tudo será revelado.

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PREFÁCIO

Alegoria iniciática Rosacruz , Reinhard Ponty

Longos anos de estudo do Rosacrucianismo levaram-me à conclusão de que, para um não iniciado como eu, é praticamente impossível levantar a verdadeira e completa biografia do homem que adoptou o nome simbólico de Christian Rosenkreuz e criou a Ordem da Rosa Cruz, uma vez que muitos dos dados informativos constantes do principal documento sobre a sua vida, ou são pura simbologia, ou não se harmonizam com outros testemunhos dignos de crédito, chegando a contradizerem-se. O documento a que me refiro é a Fama Fraternitatis, título abreviado do primeiro dos três Manifestos Rosacruzes, publicado em 1614 em Cassel, Alemanha, sendo os outros o Confessio, dado à estampa na mesma cidade no ano seguinte, e as Núpcias Químicas, publicado em Estrasburgo em 1616.6

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Os títulos completos são os seguintes:

Fama - Allgemeine und General Reformation, der gantzen weiten Welt. Beneben der Fama Fraternitatis,

dess Löblichen Ordens des Rosenkreutzes, an alle gelehrte und Häupter Europæ geschrieben: Auch einer kurtzen Responsion von des Hern Haselmeyer gestellet, welcher desswegen von den Jesuitern ist gefänglich eingezogen, und auff eine Galleren geschmiedet: Itzo öffentlich in Druck verfetiget, und allen trewen Hertzen comuniceret worden Gedrucht zu Cassel, durch Wilhem Wessell, Anno MDCXIV ,

(Reforma geral e universal de todo o vasto mundo. Com a Fama da Fraternidade da mui louvável ordem dos Rosacruzes, dirigida a todos os sábios e dirigentes da Europa. Tendo, também, uma curta resposta enviada pelo senhor Haselmeyer, por causa da qual foi preso pelos Jesuítas e condenado às galés. Agora posta à discussão em letra de forma e comunicada a todos os sinceros corações. Publicado em Cassel por Wilhem Wessel, 1614).

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É com este fardo de dificuldades, mas com a ajuda de alguns ocultistas ou místicos consagrados, nomeadamente Rudolf Steimer e Max Heindel, e o recurso a uma intuição metafísica que me tem sido útil, que me aventuro a propor – repito, propor - uma biografia desta enigmática personalidade.

O COLÉGIO DOS DOZE SÁBIOS

Confessio - Secretoris Philosophiæ Consideratio brevis a Philipp a Gabella, Philosophiæ St conscripta, et nunc primum una cum Confessione Fraternitatis R.C. in lucem edita Cassellis, Excudebat Guillelmus Wessellius Illmi. Princ. Typographus. Anno post natum Christum MDCXV, (Breves considerações da mais secreta filosofia escritas por Filipe de Gabela, estudante de filosofia, agora divulgadas pela primeira vez com a Confissão da Fraternidade R.C. Publicado em Cassel por Wilhem Wessel, tipógrafo do ilustríssimo príncipe, Ano após o nascimento de Cristo 1615).

As Breves Considerações são um interessante texto rosicrucista, infelizmente muito pouco divulgado.

Núpcias Químicas - Chymishe Hochzeit Christiani Rosencreutz. Anno 1459, Strasburg, 1616 (Lazarus

Zetzner),

(Núpcias químicas de Christian Rosenkreuz no Ano de 1459, Estrasburgo, 1916 (Lazarus Zetzner).

Sobre as personagens citadas nos títulos dos dois primeiros manifestos apenas se sabe que Haselmeyer, citado na Fama, disse ter visto no Tirol, em 1610, um exemplar manuscrito deste manifesto e que em 1613 havia outro em Praga.

Quanto à sua autoria, a Fama e o Confessio são anónimos mas normalmente atribuídos ao pastor luterano alemão Johann Valentin Andreæ (1586-1654), autor das Núpcias Químicas. Curiosamente, Andreæ sempre os referiu como ficção, ou comédia, e classificava o movimento Rosacruz como ludibrium, uma atitude na qual os estudiosos vêm uma tentativa, algo infantil, de ocultar a sua ligação à Ordem dos Rosacruzes.

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Segundo Rudolf Steineri7, nos princípios da segunda metade do

século XIII formou-se, algures na Europa, um grupo de doze altos iniciados que reuniam toda a sabedora do passado e a ciência do seu tempo, os quais ficaram conhecidos, em círculos muito restritos, como o Colégio dos Doze Sábios8. Sete sábios eram reencarnações de santos Rishis da antiga Índia e podiam reviver, intima e claramente, os sete raios da antiga sabedoria da Atlântida e integrá-los em um só; quatro sábios traziam consigo todos os conhecimentos ocultos que se obtiveram durante as primeiras quatro épocas arianas, a Indiana, a Persa, a Egípcia-Caldaica-Babilónica-Assírica e a Greco-Latina; o décimo segundo sábio era um intelectual que assimilou toda a ciência positiva do seu tempo.

A missão destes Sábios era transmitir todos os seus conhecimentos, ocultos e científicos, a um décimo terceiro elemento, o qual, por seu turno, devia promover o lançamento de uma nova cultura intelectual baseada na razão e que iria caracterizar a época que se seguia. Esse décimo terceiro elemento era, não um sábio, mas um elevado Ego cujas sucessivas encarnações foram marcadas pela mais fervorosa piedade, devoção e humildade, que foi contemporâneo de Jesus e conheceu o Mistério do Gólgota. Este Ego viria a ser conhecido pelo nome simbólico de Christian Rosenkreuz.

Desconhece-se quando, onde e em que família nasceu9, mas

sabe-se que mal veio ao mundo foi levado para o colégio de onde nunca mais saiu; a sua vida, aliás curta, foi passada totalmente isolada do mundo exterior e na companhia constante dos doze sábios que lhe iam transmitindo todos os seus conhecimentos, ocultos ou não, e influenciando-o espiritualmente, o que, por um lado, fortaleceu as suas capacidades espirituais, mas, por outro, enfraqueceu a sua constituição física, já de si muito débil, a tal ponto que deixou de se alimentar e entrou num estado de extrema fraqueza.

Produziu-se, então, um fenómeno único nos processos iniciáticos da Humanidade: o seu corpo físico tornou-se transparente, como se estivesse cheio de luz, e o Ego saiu dos corpos mais densos que caíram em profunda catalepsia durante alguns dias, o que, porém, não impediu

7 The Mission of Christian Rosenkreutz, Its Character and Purpose, passim. 8

Goethe faz alusão a este colégio no seu poema Die Geheimisse (Os Mistérios).

9 Será a este nascimento que Max Heindel se refere quando diz que “no século XIII, um elevado mestre

espiritual, tendo o nome simbólico de Christian Rosenkreuz (...) apareceu na Europa ...” (cf. The Rosicrucian Cosmo -Conception p. 518).

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que os doze sábios continuassem a transmitir, a intervalos regulares, a sua sabedoria. Quando o Ego regressou, os corpos mais densos foram como que dotados de uma alma nova e um espírito renovado, e recuperaram as forças físicas.

Christian Rosenkreuz referiu as experiências por que tinha passado nesse estado, uma das quais, relacionada com o Mistério do Gólgota, foi semelhante à de Paulo na estrada de Damasco (Ac 9, 3-18), o que possibilitou que as doze concepções religiosas do mundo se sintetizassem numa só, que foi depois legada aos doze sábios a fim de a levarem o mais longe possível; era o verdadeiro Cristianismo, bem diferente daquele que vinha sendo praticado sob a égide da Igreja de Roma.

Pouco depois, ou seja, em meados da segunda metade do século XIII, o jovem, com pouco mais de vinte anos, faleceu.

OS GERMELSHAUSEN

Em 1378 10 Christian Rosenkreuz voltou a encarnar.

Diz o senador belga Franz Wittmans em A New and Authentic History of the Rosicrucians (1919), que um conceituado antiquário da Batávia, chamado Roesgen von Floss, lhe tinha contado que Christian Rosenkreuz nasceu na Turíngia e foi o último descendente dos Von Roesgen Germelshausen11 , o que está de acordo com Maurice Magre

(1877-1941) que em Magicians, Seers and Mystic diz que Christian Rosenkreuz foi o último descendente dessa velha família germânica que brilhou no século XIII e cujo castelo se situava na floresta da Turíngia, próximo da fronteira com o Hesse12 , ou, penso eu, onde fica hoje a

cidade de Germershausen 13. Nas proximidades havia um velho mosteiro

onde alguns dos monges perfilhavam, em cauteloso sigilo, os ideais cátaros 14, um dos quais, um asceta cujo nome apenas se conhece pelas

10

In Confessio, in A Bíblia dos Rosa -Cruzes, p. 107.

11

In Os Rosa-Cruz, p. 39. Terá sido o último descendente directo, mas não o único, pois um primo, cujo nome apenas se conhece pelas iniciais R.C. fez parte da segunda geração dos membros da Ordem da Rosa Cruz, como será referido mais à frente.

12

Citado na Wikipedia, artº Rosicrucian.

13

Germershausen é uma pequena cidade da Turíngia (51º 34' N, 10º 17' E), situada a 86 quilómetros a noroeste de Erfurt. A hipótese do castelo dos Germelshausen se ter situado aqui radica, mais do que na flagrante semelhança dos dois nomes, no alinhamento telúrico referido na nota 40 infra.

14 Do grego ?a?a???, puro. Os cátaros eram cristãos que seguiam alguns conceitos gnosticistas e

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iniciais P.a.l., vivia no castelo e era preceptor do pequeno Christian, cuja inteligência o maravilhava.

O passado desta família, porém, em nada abonava a sua estirpe aristocrata; eram cruéis, intratáveis, sempre em disputas com os vizinhos e não se coibiam de assaltar viajantes desprevenidos que atravessavam as frondosas florestas da região. Penso que os Germelshausen do século XIV fossem um pouco diferentes: eram cristãos, mas, segundo a opinião local, o seu Cristianismo estava mesclado com um paganismo que muito provavelmente seria confundido com algumas práticas dos mistérios germânicos em que eram iniciados: veneravam um ídolo de pedra já gasta, de origem desconhecida, e teriam tido uma estátua da deusa grega Atena no pátio do castelo, defronte da porta da capela15. Era inevitável

que esta espiritualidade pouco ortodoxa acabasse por atrair a atenção dos escrupulosos fieis de Roma.

De facto, desde a sangrenta cruzada contra os Albigenses16 que a

Igreja estava empenhada no extermínio de todos os hereges do Sacro Império Romano, para o que criou, em 1231, um eficiente instrumento, a inquisição, cuja acção persecutória se estendia aos países que aceitavam a autoridade espiritual e temporal do papa. É que o movimento de contestação protagonizado pelos cátaros não se esgotara no Languedoc; na segunda metade do século XIV, os partidários de John Wycliff (c. 1328-1384) rejeitavam a autoridade pontifícia concedida por “graça de Deus”, não reconheciam o direito tributário da Igreja, e negavam a doutrina da transubstanciação. A sua influência alastrou por toda a Europa, mas foi na Boémia que se fez sentir com maior intensidade, onde Jan Huss (1369-1415), sacerdote e reitor da Universidade de Praga, uma divindade inferior, malévola ou incompetente, origem de todos os males, e levavam uma vida ascética e escrupulosamente filantrópica.

15 In Christian Rosenkreuz.

16

Albigenses era o nome por que ficou conhecida a maior comunidade cátara que no século XI se fixou no Languedoc e fez de Albi o seu principal centro.

Depois de tentar, sem êxito, a sua conversão ao Cristianismo oficial, a Igreja optou por meios mais radicais e em 1209 o papa Inocente III decretou uma cruzada contra a “raça sinistra” do Languedoc. Seduzidos pelas recompensas oferecidas pela Igreja, cerca de 15.000 mercenários reuniram-se em Lion, a partir de onde, sob o comando de Simon Montfort (1165-1218) e a “orientação espiritual” do legado pontifício Arnold-Amalric (falec. 1225), iniciaram a cruzada com a conquista de Béziers e o massacre da sua população. Ficou célebre a resposta que o legado papal deu a um cruzado que lhe perguntou como poderiam distinguir os hereges dos católicos: “Matai -os a todos! Deus reconhecerá, depois, os seus fieis”. Esta resposta tem sido posta em causa, mas o facto é que foi denunciada pelo monge cisterciense César de Heisterbach (1170-1250), que comandou uma unidade do exército papal, nas suas crónicas sobre as guerras no Languedoc. A cruzada terminou em 1255 deixando um rasto de mais de 60.000 mortos, dos quais apenas uma minoria seria cátara. A perseguição dos hereges prosseguiu por quase toda a Europa até que, em Outubro de 1517, Lutero pregou as Noventa e Cinco Teses na porta da igreja de Wittenberg.

(17)

iniciou um amplo e reformador movimento religioso que ficou conhecido como Hussita ; a Igreja declarou-o herege, excomungou-o e em 1415 o Concílio de Constance condenou-o à fogueira, o que desencadeou as Guerras Hussitas (1420-34).

Foi neste cenário de agitação e revolta contra a Igreja de Roma que, possivelmente por volta de 1385, a inquisição e as tropas papais chegaram à Turíngia, então governada pelo landgraf 17 Balthasar Wettin

(1349-1406). No século XIII, a família Germelshause n já tinha atraído o ódio de Conrad de Marburg (falec. 1233), um dominicano fanático, amigo do landgraf Ludwig IV (1200-1227) e director espiritual da sua esposa, Santa Isabel (1207-1231), que se notabilizara pela veemente pregação da cruzada Albigense e pelo extermínio de todos os hereges, fossem cátaros ou não, fossem confessos ou apenas suspeitos; assim, algumas vezes tentou conquistar o castelo dos Germelshausen mas nunca foi bem sucedido.

O mesmo, contudo, não sucedeu em 1385; as tropas papais cercaram o castelo e dois dias depois tomaram-no de assalto e massacraram, barbaramente, todos quantos lá se encontravam, incluindo os servos mais humildes, após o que arrasaram todas as construções, não deixando pedra sobre pedra.

A JUVENTUDE

Quando as tropas papais iniciaram o cerco, P.a.l. conseguiu iludir a vigilância dos sitiantes e fugir para a floresta com o seu pequeno pupilo, então com sete anos de idade18. Ao verificar a falta da criança, a

inquisição pôs-lhe a cabeça a prémio; porém, P.a.l. era um profundo conhecedor da região e conseguiu evitar as tropas e alcançar o seu mosteiro onde ambos ficaram em segurança.

Foi, pois, num ambiente monástico, austero e duro, que Christian Rosenkreuz foi criado e pôde desenvolver as suas extraordinárias faculdades, alcançando uma cultura brilhante em todos os domínios, nomeadamente em filosofia, religião, línguas e literatura clássicas e ciências da natureza, o que fez com que à sua volta se formasse um pequeno grupo de quatro monges, um dos quais o seu preceptor.

17 Título nobiliárquico equivalente a conde.

18 A tradução da Fama em A Bíblia dos Rosa -Cruzes, p. 81, refere 4 anos, enquanto que a de Frances Yates,

em The Rosicrucian Enlightenment, p. 239, refere 5 anos; “prefiro” os 7 anos por serem citados por Saint Germain, conforme explico ao abordar esta reencarnação de Christian Rosenkreuz.

(18)

Porém, o ensino ali praticado não podia satisfazer plenamente o seu elevado espírito, ávido de sabedoria19, e muito menos proporcionar-lhe as

altas iniciações de que necessitava; como P.a.l. tinha prometido fazer uma peregrinação à Terra Santa, Christian Rosenkreuz aproveitou o ensejo para ir em busca dos centros iniciáticos que sabia situarem-se no Mundo Islâmico. Assim, terá sido por volta de 1393 que Christian Rosenkreuz, P.a.l. e os outros três monges iniciaram a viagem para Jerusalém, deslocando-se separadamente para não despertarem a curiosidade dos atentos e desconfiados agentes da Inquisição.

AS VIAGENS

Em Chipre, P.a.l., que acompanhava Christian Rosenkreuz, faleceu, mas o jovem, então com apenas quinze anos, arrostando com todos os perigos que tal jornada implicava, prosseguiu a viagem sozinho para Damasco onde terá chegado no ano seguinte.

A Fama diz que Christian Rosenkreuz “... embarcou para Damcar com a intenção de visitar Jerusalém partindo daquela cidade ”, e a seguir refere que “em Damcar (...) ouviu falar dos sábios de Damcar, na Arábia ...” e decidiu seguir para esta cidade em vez de Jerusalém20 ; curiosamente,

na primeira edição aparece Damascum como destino da etapa iniciada em Chipre, mas na errata que a acompanha aquele topónimo é corrigido para Damcar. Esta passagem não faz sentido, mesmo numa obra alegórica como a Fama , pelo que suponho que o autor haja querido transmitido algo que me escapa, como escapa a autores consagrados que ao referirem esta fase dizem que Christian Rosenkreuz foi de Chipre para Damasco, de onde tencionava seguir para Jerusalém 21.

Damasco

Segundo a Fama , a fadiga obrigou Christian Rosenkreuz a prolongar a sua estadia em Damasco 22. Penso que a razão foi outra bem

19 In Secret Teachings of all Ages, p. CXXVII

20

Fama, in A Bíblia dos Rosa -Cruzes, p.81.

21

Cf. v.g. Manly P. Hall in Secret Teachings of all Ages, p. CXXVII

22

(19)

diferente: na Cidade das Trezentas Mesquitas encontrava-se o primeiro centro iniciático que procurava a fim de recapitular, na presente encarnação, as iniciações obtidas em vidas passadas.

Durante os anos que ali passou, Christian Rosenkreuz pôde estudar com sábios e iniciados árabes e persas, estes fugidos dos Mongóis; conviveu e discutiu Astronomia com Nazir Eddin 23 e os seus

discípulos, leu e estudou as principais obras de então, como a Guia para os Perplexos e os tratados de dietética, higiene e toxicologia de Maimonides24, a Alquimia da Felicidade , de Al-Ghazali25 , O Livro dos

Prados Dourados, de Masoudi26, o famoso poema Rubáiyát de Omar

Khayyam27 , bem como os seus tratados de álgebra, e entrou nos segredos

da iniciação árabe da época.

Entretanto, teve oportunidade de exercer medicina e fê-lo com tal mestria e competência que conquistou a admiração dos turcos

Bassorá

Segundo Emile Dantinne28 e Asghar Ali Engineer29, Christian

Rosenkreuz esteve em Bassorá com os Irmãos da Pureza.

Os Irmãos da Pureza , ou Ikhwan al-Safa’ em árabe, formavam uma escola ecléctica de filosofia de inspiração pitagórica, que floresceu em

23

Nazir Eddin (1201-1274) foi o maior astrónomo e matemático do seu tempo. Sobre a estadia de Christian em Damasco, cf. Christian Rosenkreutz.

24 Nome em grego do rabi, médico e filósofo, Moshe ben Maimon (1135 -1204), autor de diversas obras de

medicina, filosofia e religião. Em Guia para os Perplexos Maimonides procura harmonizar a filosofia aristotélica com a teologia judaica.

25

Al-Ghazali (1058-1111) foi um notável professor iraniano, autor de diversas obras jurídicas, religiosas e filosóficas ainda seguidas hoje em dia. Além de Alquimia da Felicidade são dignas de nota duas das suas mais importantes produções: As Intenções dos Filósofos e A Incoerência dos Filósofos. A sua obra mais volumosa é Revificação das Ciências Religiosas.

26

Abul Hasan Ali Al-Masu'di (c. 895 -957) foi o mais celebrado dos cronistas árabes; O Livro dos Prados

Dourados é uma colecção de histórias diversas principalmente sobre os primeiros califas.

27

Omar Khayam (c. 1050- 1123), matemático e astrónomo persa, é o autor de uma das obras de poesia oriental mais conhecidas em todo o mundo, Rubáiyát

28 In On the Islamic Origin of the Rose-Croix

29

(20)

Bassorá no século X e ficou famosa por um tratado enciclopédico intitulado Rasa’il-e-Ikhwan us Safa , ou seja Epístolas dos Irmãos da Pureza, constituído por cinquenta e duas cartas sobre matemática, astronomia, geografia, música, política, filosofia, religião, ética, moral, física, etc., abrangendo a totalidade do conhecimento que um homem poderia adquirir nesse tempo. Este tratado influenciou profundamente Al-Ghazali30 e Rashid al-Din Sinan ibn-Sulayman, o famoso Velho da

Montanha , líder dos Assassinos, que manteve estreitas relações com os Templários.

“Adquiri conhecimento, qualquer espécie de conhecimento, filosófico, jurista, matemático, científico ou divino. Tudo isso é alimento para a alma e para a vida neste mundo e na outra vida ”, diz-se numa das epístolas. Numa outra encontra-se uma interessante comparação das qualidades dos homens com a dos animais e os jinn (espíritos da natureza), descrevendo-se o homem ideal como “excelente, inteligente e perspicaz como se fosse de origem persa, árabe na fé, objectivo em religião, iraquiano na maneira de ser, hebreu na tradição, cristão na conduta, sírio em devoção, grego no conhecimento, hindu na visão, místico no seu modo de vida, anjo na sua moral, divino na opinião, devoto no gnosticismo e de qualidades eternas”.

Os Irmãos da Pureza estavam ligados aos Sufis e aos Ismaelitas e, curiosamente, regiam-se por normas de conduta semelhantes às que viriam a ser adoptadas pelos Rosa Cruzes: vestiam-se como os habitantes dos países onde viviam, eram abstémios, ensinavam sem nada cobrarem e, acima de tudo, praticavam gratuitamente a medicina.

Mas os Irmãos da Pureza eram, também, revolucionários, e pregavam contra o regime dos Abássidas que consideravam opressivos e cuja queda, baseados em cálculos astronómicos, predisseram com 240 anos de antecedência.

Como era natural, esta escola tinha dois níveis, o exotérico, aberto a todos os homens e mulheres e que os Irmãos exortavam a serem críticos em relação a todas as religiões, incluindo o Islamismo, e o esotérico, esse reservado escrupulosamente aos iniciados, no âmbito do qual praticavam diversas artes ocultas, principalmente evocação de espíritos, exorcismo e teurgia, chamando os anjos pelos seus nomes. Foi neste nível que Christian Rosenkreuz aumentou os seus conhecimentos materiais e espirituais.

Dada a localização geográfica de Damasco, Bassorá e Damcar e as rotas do comércio, penso que terá sido durante a sua estadia em Damasco que Christian Rosenkreuz se deslocou a Bassorá, tendo depois regressado àquela cidade.

30

(21)

De volta a Damasco

Adquirido o máximo possível de conhecimentos naquelas paragens, Christian Rosenkreuz ficou pronto para outra e mais elevada sabedoria; cientes deste facto, os seus amigos de Damasco orientaram-no para outro centro iniciático localizado em Damcar, na Arábia31. Assim, terá sido no

final do século XIV ou princípio do XV que Christian Rosenkreuz, guiado pelos turcos, partiu para uma longa viagem de cerca de 2.500 quilómetros para o sul da Península Arábica32 .

Damcar

A localização desta cidade tem levantado algumas dúvidas, havendo quem admita tratar-se de Sana’a, actual capital do Yemen e que alguns identificam como a antiga capital da Rainha de Sabá (I Reis, 10,1). Acontece, porém, que Damcar está localizada no mapa Africae Tabula Nova , do célebre atlas Theatrum Orbis Terrarum, elaborado em 1570 pelo académico e geógrafo flamengo Abraham Ortelius (1527-1598), ainda hoje elogiado pela sua qualidade e rigor. Damcar, palavra que provavelmente significará mosteiro na areia , é hoje a cidade de Dhamar, situada a 90 quilómetros a sul de Sana’a, na extensa cordilheira, cortada por inúmeros e profundos vales e ravinas, que separa a faixa litoral da Península Arábica do deserto de Rub al’Khali, ou Espaço Vazio, como os antigos chamavam ao imenso Deserto Árabe33.

31

A Fama diz que foi casualmente que ouviu falar dos Sábios de Damcar, e que desistiu de ir a Jerusalém; penso que se trata de uma inexactidão que faz parte da omissão do verdadeiro motivo da viagem de Christian Rosenkreuz ao Médio Oriente

32 È possível que a maior parte da viagem tenha sido feita por via marítima; Christian Rosenkreuz pode ter

embarcado em Tiro e desembarcado em As Sabil a fim de atravessar a Península do Sinai até Ash Shatt onde terá tomado outro navio que o levou ao porto de Al Hudaydah, a uns escassos 160 quilómetros de Damcar. Outra hipótese foi ter seguido a rota do incenso por via terrestre.

33 Dhamar, ou Damcar, fica a menos de 200 quilómetros deste deserto, que os árabes acreditavam, ou ainda

acreditam, ser guardado por espíritos malignos e monstros da morte, um dos quais seria o demónio Azazel, referido no Antigo Testamento (Lev, 16). Sobre o Rub al’Khali contavam-se muitas e estranhas maravilhas, aliás como ainda se contam, de que é exemplo a alegada descobe rta, em 2004, do esqueleto de um homem com dez metros de altura! Será que estas crenças terão algo a ver com eventuais práticas ocultistas levadas a cabo pelos Sábios de Damcar?

(22)

O Yemen é um dos mais antigos centros de civilização do mundo e em Dhamar encontra-se uma das mais antigas universidade islâmicas, certamente sucessora do centro iniciático que Christian Rosenkreuz procurava e onde foi recebido, não como um estranho, mas como alguém que há muito os Sábios esperavam e que trataram pelo nome próprio.

Durante os três anos que ali passou, estudou matemática, física e alquimia, tomou conhecimento de novas e mais desenvolvidas práticas médicas, familiarizou-se, com os astrólogos, com os mistérios das estrelas e as virtudes da luz astral, e pôde, ainda, aperfeiçoar o domínio da língua árabe, o que lhe permitiu traduzir para latim o livro M, possivelmente as Epístolas dos Irmãos da Pureza, a que deu o título de Liber Mundi , ou Livro do Mundo, onde se revelam os mistérios do universo, tradução essa que depois levou consigo para a Europa. Mas o mais importante da sua estadia neste centro iniciático foi conhecer os segredos dos adeptos árabes34 e, certamente. muitos outros jamais revelados.

Concluída esta etapa, foi orientado para outro centro iniciático situado em Fez, cujos mestres se reuniam uma vez por ano com os de Damcar, a fim de trocarem conhecimentos e experiências espiritualistas. Assim, terá sido nos princípios do século XV que Christian Rosenkreuz se despediu dos Sábios e partiu para Fez, via Egipto.

Egipto

A estada nestas paragens foi apenas a necessária para aprofundar conhecimentos sobre plantas e animais da região e, muito provavelmente, sobre o esoterismo de Hermes Trismegisto, o mítico sábio egípcio. Cumprido o propósito que o levara a este país, é possível que haja embarcado em Alexandria rumo a Melila, de onde terá seguido em caravana para Fez.

(23)

Fez

Fez era a capital de um vasto reino que abrangia o norte de África, governado desde meados do século XIII pelos Merinides, e sede de um afamado centro de estudos filosóficos e ocultistas onde se ensinava, entre outras disciplinas, a alquimia de Abu-Abdallah, Gabir ben Hayan e do imam Jafat al Sadiq, a astrologia e a magia de Ali-ash-Shabramallishi, e o esotericismo de Abdarrahman ben Abdallah al Iskari35 .

Neste centro Christian Rosenkreuz melhorou o seu conhecimento das leis matemáticas, físicas e astrológicas que regem as forças ocultas da Natureza, entrou nos segredos da Cabala judaica, que considerou profanada pela religião, e dominou a Magia que lhe permitiu, apesar da sua falta de pureza, entrar em contacto com os elementais36 que lhe

confiaram muitos dos seus segredos, nomeadamente a forma de aceder aos mundos subtis e de controlar, pacificamente, os génios e espíritos da natureza que ali habitam, bem como a arte de preparar talismãs terapêuticos, transmutar metais, obter pedras preciosas iguais às naturais, preparar o Elixir da Vida e a Panaceia Universal, etc.37

Dois anos depois, talvez em meados da primeira década do século XV, Christian Rosenkreuz partiu para Espanha levando consigo “muitas e valiosas coisas, com a esperança de que (...) os sábios da Europa se regozijariam consigo”, como diz a Fama.

Espanha

Chegado a Espanha entrou em contacto com os Alumbrados, ou Iluminados de Llerena , uma sociedade secreta criada em Fregenal de la Sierra38 , na Andaluzia, por influência árabe, que seguia uma filosofia

mística derivada do Hermeticismo e do Neo-Platonismo, e que estudava os livros do misterioso Artephius39 com vistas à obtenção da Pedra Filosofal.

35

In On the Islamic Origin of the Rose-Croix. Destas personalidades apenas consegui encontrar uma referência a Jafat al Sadiq (702-765) considerado o sexto imam; era um homem de grande cultura, nomeadamente em Teologia, Matemática, Filosofia, Astronomia, Anatomia e, muito em especial, Alquimia.

36

Seres pertencentes a uma onda de vida diferente da humana, vulgarmente conhecidos como fadas, gnomos, ninfas, tágides, etc., e popularizados nos contos infantis.

37

Cf. v.g. Manly P. Hall in Rosicrucian and Masonic Origins, citado em The Rosicrucan Manifestoes.

38 Fica a uns escassos 30 quilómetros a leste de Barrancos.

39 In Christian Rosenkreutz. Artephius foi um famoso alquimista do século XII, que se dizia ter vivido mais

(24)

Porém, os Alumbrados consideraram os pontos de vista de Christian Rosenkreuz excessivamente avançados para a época e escusaram-se a prestar-lhe o apoio de que necessitava para cumprir o projecto em que se tinha empenhado, reacção esta idêntica, aliás, à que encontrou em outras nações europeias por onde passou.

A FRATERNIDADE DA ROSA CRUZ

Frustados os seus desígnios, Christian Rosenkreuz regressou à Alemanha, talvez durante a primeira década do século XV, e construiu uma “adequada e organizada habitação”, no dizer da Fama40 , onde meditou sobre as suas viagens, tendo-as sintetizado num memorial; estudou matemática e construiu muitos e excelentes instrumentos relacionados com esta ciência, a maioria dos quais se terá perdido.

Cinco anos depois decidiu retomar o seu projecto; chamou os três monges que restavam do pequeno grupo que se formara em torno de si no mosteiro onde fora criado, identificados na Fama apenas pelas iniciais G.V., J.A. e J.O., e ligou-os a si por um juramento de fidelidade, diligência e secretismo. Estava assim formada, em meados da segunda década do século XV, a Fraternidade da Rosa Cruz41.

dois tratados famosos, O Livro Secreto, sobre a preparação da Pedra Filosofal, e A Arte de Prolongar a Vida , ambos traduzidos para francês e publicados em Paris em 1609 ou 1610.

40 Não era ainda o Templo do Espírito Santo.

41 A Fraternidade, ou Irmandade como também é referida, terá adoptado a designação de Ordem Rosa Cruz

(25)

Segundo a Fama, um dos seus primeiros trabalhos terá sido a criação de uma linguagem e escrita mágicas constantes de um dicionário que foi usado diariamente para louvar e glorificar Deus, bem como a feitura da primeira parte do livro M 42 ; porém a sua principal actividade terá sido o tratamento de doentes cujo número os sobrecarregava de tal forma que se viram forçados a chamar mais quatro membros, R.C., primo de Christian Rosenkreuz, B., um pintor de talento, G. e P.D., seus secretários, todos alemães, excepto J.A. do primeiro grupo, solteiros e vinculados à castidade por voto solene.

Entretanto construíram uma nova morada, o Domus Sancti Spiritus, ou Templo do Espírito Santo43, uma estrutura etérica que envolve uma mansão senhorial situada nas proximidades de Bezvërov, uma pequena povoação checa situada a 100 km a oeste de Praga44.

Esta primeira geração estabeleceu seis preceitos sagrados:

1. Todos os membros deviam curar gratuitamente os enfermos; 2. Nenhum membro devia usar hábitos especiais, mas seguir os costumes do país onde se encontrasse;

3. Todos os anos, no dia C 45 , deviam reunir-se na Domus Sancti Spiritus, ou informar por escrito da causa da sua ausência;

4. Cada irmão devia procurar uma pessoa de mérito para lhe suceder por morte;

5. A palavra C.R. deveria ser o seu selo, marca e carácter;

6. A Fraternidade deveria permanecer secreta durante cem anos.

participaram representantes de diversas organizações ocultistas ou místicas do Ocidente, como Cátaros, Gnósticos, Hermeticistas, etc

42

Terá sido a tradução para alemão do livro M que em Damcar Christian Rosenkreuz traduzira do árabe para latim?

43

Em 1617 este templo foi simbolicamente desenhado por Teophilus Schweighardt Constantiens, pseudónimo do alquimista Daniel Mogling, e publicado em Speculum Sophicum Rhodostauroticum, ou seja

O Espelho da Sabedoria dos Rosacruzes.

44

Cf. The Mystery Schools , secção Reader’s Questions, in Rays from the Rose Cross, vol. 74. nº 6, Novembro e Dezembro de 1982. p. 272, onde vêm as coordenadas geográficas: latitude 50º Norte, longitude 13º Este.

Será curioso notar que Weimar, onde Goethe, um Rosacruz, viveu desde 1775 até à sua morte em 1832, e onde escreveu a sua obra -prima Fausto, e o Templo do Espírito Santo se situam na linha recta que une a cidade de Germershausen com Damasco, onde se situava o primeiro centro iniciático frequentado por Christian Rosenkreuz e cujos arredores foram pa lco da célebre conversão de Saulo (cf. Ac 9, 3-9). Sobre este alinhamento telúrico, vidé O Nome Germelshausen em <http://pwp.netcabo.pt/AJCMONTEIRO/ >

45

(26)

Entretanto, cinco irmãos partiram para cumprir as suas missões, enquanto Christian Rosenkreuz permanecia no Templo na companhia de dois irmãos que mais tarde se foram revezando com os que tinham partido.

De acordo com o terceiro manifesto, Núpcias Químicas, um verdadeiro märchen germânico pleno de alegorias alquímicas, Christian Rosenkreuz terá atingido a suprema iniciação em 1459, com a idade de 81 anos.

(27)

A MORTE

Abrindo o Túmulo de Christian Rosenkreutz , J.Augustus Knapp

"Muitos esforços tem sido feitos para interpretar o simbolismo da alegorica história do Pai C.R.C. contada na

segunda parte da Fama Fraternitatis. Seu caracter insofismavelmente mítico guarda os mais profundos mistérios dos Rosacruzes. O Pai C.R.C. não deve ser considerado apenas como uma personalidade, mas também como a personificação de um poder ou princípio da natureza. Tal prática de utilização de um indivíduo para personificar os trabalhos do poder divino era frequentemente utilizada pelos antigos. A lenda Maçonica de Hiram Abiff, o mito Caldaico de Ishtar, a alegoria Grega de Bacus, e a lenda Egípcia de Osiris são todos exemplos deste tipo de simbolismo. Todo o mistério do Rosacrucianismo pode ser esclarecido pela alegoria do Pai C.R.C. quando propriamente interpretado.Os Rosacruzes são uma organização de iniciados e adeptos, cujos membros - os antigos livros declaram - habitam os subúrbios do Céu."

(28)

Manly P. Hall in The Secret Teachings of All Ages.

Segundo Confessio46 Christian Rosenkreuz faleceu em 1484, com 106 anos, mas a localização do seu túmulo ficou desconhecida até que, em 1604, foi casualmente descoberta por N.N., um arquitecto membro da terceira geração da Fraternidade Rosa Cruz.

Tratava-se de uma estranha construção abobadada, com sete lados, cada um com oito pés de altura e sete de comprimento, iluminada por um sol feito segundo o verdadeiro astro.

O acesso fazia-se por uma porta secreta, em cujo topo, curiosamente, se lia "Eu me abrirei dentro de 120 anos", o que era rigorosamente exacto. No centro erguia-se um altar cilíndrico onde, numa placa de cobre, se lia "A.C.R.C. Hoc universi compendum vivis mihi sepulcrum feci47. Um círculo servia de bordadura contendo a frase "Jesu mihi omnia"48. Quatro estranhas figuras encontravam-se dentro de

círculos, sob os quais haviam sido gravadas outras tantas inscrições: " Nequaquam vacuum ", "Legis ", " Libertas Evangeli " e " Dei gloria intacta "

49.

O centro luminoso do teto estava divido em triângulos, as pare des, ou lados, subdivididas em dez campos quadrangulares e o chão subdividido em triângulos. Cada lado ocultava uma porta que escondia um cofre onde se encontravam diversos objectos, nomeadamente os livros que a Fraternidade possuía, acrescidos do Vocabulário de Theoph. P. ab. Ho (sic)50 ; em outros cofres havia espelhos de múltiplas propriedades,

campainhas, lâmpadas acesas (sic), etc.

46 In Bíblia dos Rosa -Cruzes, p. 107

47

"A.C.R.C. (provavelmente Arquitecto Christian Rosa Cruz) Para mim fiz este sepulcro (que será) para os vivos a súmula do universo".

48

"Jesus é tudo para mim".

49

" Não existe o vácuo ", " Leis ", " Liberdade do Evangelho " e " A pura glória de Deus ".

50

Tratase, sem dúvida, de Paracelso, um Rosacruz, no dizer de Max Heindel (cf. The Rosicrucian Cosmo

-Conception, p. 251) que assim contraria o autor da Fama ao dizer que Paracelso não aderiu à Fraternidade

(cf. Bíblia dos Rosa -Cruzes, p. 84). Há aqui, porém, um dado incompreensível: como é possível que no túmulo de Christian Rosenkreuz, falecido em 1484, houvesse um livro de Paracelso que nasceu nove anos depois?

(29)

O altar escondia uma espessa placa de cobre; ao ser levantada revelou o belo e glorioso corpo de Christian Rosenkreuz, perfeitamente intacto e sem o menor vestígio de decomposição, repousando sobre um leito e segurando na mão um pequeno livro em pergaminho e letras de ouro, o livro T, "depois da Bíblia, o nosso tesouro mais precioso "51.

AS REENCARNAÇÕES

É, naturalmente , muito difícil conhecerem-se as reencarnações de Christian Rosenkreuz, quer as anteriores á criação da Fraternidade da Rosa Cruz, quer as posteriores, não por falta de relatos, aliás abundantes mas de duvidosa credibilidade, pelo que me vou cingir ás referidas por Max Heindel e Rudolf Steiner.

Hiram Abiff

(30)

Segundo Max Heindel52, a mais antiga encarnação conhecida de

Christian Rosenkreuz foi como Hiram Abiff, uma figura bíblica ligada à construção do templo de Salomão, conforme consta de diversas passagens do Antigo Testamento (1 Rs 7, 13-50, 2 Cr 2, 12 e 13, 2 Cr 4, 11-18, etc.).

Quando Salomão decidiu iniciar a construção do templo em Jerusalém, pediu a Hiram, rei de Tiro, madeira de cedro do Líbano, trabalhadores e um astuto artista especializado em trabalhos em metais; esse artista era Hiram Abiff, filho de uma viuva da tribo de Neftali e de um homem de Tiro. Hiram Abiff desempenhou as suas funções a contento e “concluiu (...) toda a obra que o rei Salomão lhe mandara fazer para o templo do Senhor”, como se diz em 1 Reis 7, 40, após o que se presume que haja regressado a Tiro.

Mas Hiram Abiff é a principal personagem do ritual maçónico e protagonista de uma história dramática algo diferente da bíblica: foi ele o verdadeiro arquitecto do templo de Salomão e morreu às mãos de três rufias que, contrariamente ao acordado, queriam que lhes revelasse a Grande Palavra Maçónica que os elevaria de companheiros a mestres maçons. Hiram Abiff foi depois levantado do túmulo pela forte Garra do Leão de Judá, ou seja por Salomão, aliás uma prévia encarnação de Jesus, e restituído à vida53.

52

In A Maçonaria e o Catolicismo, pp. 128 e 129.

(31)

São João Evangelista,

escultura de Donatello

Continuemos com Max Heindel para encontrarmos Christian Rosenkreuz encarnado em Lázaro, o homem de Betânia que Cristo “ressuscitou”, conforme consta do Evangelho segundo João (Jo 11, 1-44)

54. Porém, Rudolf Steiner afirma que Lázaro não passa de uma

personagem fictícia que o autor criou para relatar, sob a forma alegórica da “ressurreição” de Lázaro, a sua própria iniciação maior, a primeira que Cristo concedeu a um ser humano, a quem transmitiu uma mensagem que o evangelho iria veicular55 em termos simbólicos.

De facto, Lázaro é uma personagem que somente aparece no quarto evangelho56 e apenas por duas vezes: a primeira, para protagonizar o

milagre da sua “ressurreição” (Jo 11, 1-44), e a segunda para participar na ceia oferecida a Jesus, em Betânia, durante a qual Maria lhe ungiu os pés e os enxugou com os cabelos (Jo 12, 1-3). Significativo é o facto da “ressurreição” também ser contado por Lucas (Lc 7, 11-17) e por Marcos, este no seu Evangelho Secreto57 , mas sem citarem o nome Lázaro - Lucas limita-se a citar um defunto (...) filho único de sua mãe que era viúva , e Marcos o jovem de Betânia . Igualmente significativo é o facto de Mateus (Mt 26, 6-16), Marcos (Mc 14, 3-11) e Lucas (Lc 10, 38-42) também contarem a ceia em Betânia mas não referem nem sugerem, sequer, a presença de outro homem além de Jesus.

54

In A Maçonaria e o Catolicismo, pp. 128 e 129

55 O Evangelho segundo João , p. 122

56 O Lázaro da parábola O Homem Rico e o Pobre (Lc 16, 19-31) não é, de forma alguma, o mesmo.

57 O Evangelho Secreto de Marcos é referido e parcialmente transcrito por Clemente de Alexandria (sec. II)

numa carta, da qual uma cópia feita no século XVIII foi descoberta em 1958 por Morton Smith, teólogo da Universidade de Colômbia, EUA, no mosteiro de Mar Saba, a sul de Jerusalém; infelizmente apenas dois fragmentos constam dessa carta, um dos quais conta o milagre da “ressurreição” do jovem de Betânia.

(32)

Lázaro sai de sua tumba por Juan de Flandes (1500

Corinne Heline, esoterista rosacruciana se refere ao Lázado como uma alegoria iniciática, que vela e desvela simultaneamente a iniciação de João Evangelista nos Mistérios Maiores através de Cristo.

Admito, como Steiner, que esta reencarnação de Christian Rosenkreuz haja sido como João, o discípulo amado do Senhor, que conheceu o Mistério do Gólgota e foi o autor do quarto evangelho canónico58.

... e o Paracleto

58 Cumpre lembrar que a autoria deste texto foi posta em causa logo na época por parte dos Montanistas que

diziam ter sido Cerinto quem o escreveu, o que parece algo disparatado, pois trata-se de um gnóstico e ebionita, cujas doutrinas não se reflectem no evangelho. A partir do sec III vingou a ideia inicial favorável ao apóstolo João até que em 1820, na Alemanha, Bretschneider levantou a chamada Questão Joanina, segundo a qual o autor teria sido um outro João, o Presbítero. Acontece que em grego, presbítero e velho têm origem comum e que Velho, ou Ancião era o cognome do Apóstolo João. A minha intuição diz-me que o Apóstolo João foi, de facto, o autor deste evangelho.

(33)

Mas esta encarnação envolve um mistério maior, o do Paracleto, tema que merece uma atenção muito especial por ser João o único evangelista a tratá-lo e por estar directamente relacionado com o mistério da Rosa Cruz.

Paracleto é um termo grego que significa defensor, advogado , intercessor, consolador59, sendo referido por João em seis passagens: cinco no evangelho e uma na Primeira Epístola.

No evangelho, é Cristo quem se dirige aos seus discípulos nos seguintes termos:

1. “Se Me amardes, guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro60 Paracleto, para estar convosco para

sempre, o Espírito da Verdade que o mundo não pode receber porque não o vê nem conhece, mas que vós conheceis porque habita convosco e está

em vós”61 (Jo 14, 15-17).

2. “Mas o Paracleto, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, Esse ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito ” (Jo 14, 26)62.

3. “Mas, quando vier o Paracleto, que vos hei-de enviar da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, Ele testificará de Mim” (Jo 15, 26).

4. “...convém-vos que eu vá, porque se não for, o Paracleto não virá a vós; mas se eu for, mandar-vo-lo-ei. E quando ele vier arguirá o mundo por causa do pecado, da justiça e da decisão do juízo” (Jo 16, 7-8).

59 Ao traduzir a Bíblia para latim, Jerónimo (c. 347-419) verteu esta palavra de duas formas diferentes: no

evangelho, limitou-se a traduzi-la como Paracletus, mas na Primeira Epístola optou por advocatus (1 Jo 2, 1), o que prova ter entendido que se trata de um homógrafo relativo a duas entidades diferentes. Quanto a mim, parece-me que Intercessor será a tradução mais correcta em ambos os textos, porque o conceito de

intercessão exprimirá melhor e mais fielmente o papel dessas duas entidades na evolução humana; no

entanto, vou manter a expressão Paracleto dado que o seu uso já está consagrado.

60

O realce é meu.

61

O realce é meu.

62

A afirmação de que o Paracleto é o Espírito Santo parece-me uma adulteração do original, provavelmente feita por um piedoso mas distraído copista que não se apercebeu da profunda diferença existente entre o Espírito Santo, a dogmática Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, e o Paracleto, uma entidade indiscutivelmente inferior, pese embora a sua exaltada estatura espiritualista. E, de facto, em 1812 foi descoberto, no Monte Sinai, um palimpsesto onde foi possível recuperar parte do texto primitivo, uma tradução em siríaco, do século IV ou V, do Evangelho de João, onde no versículo em causa não aparece a expressão Espírito Santo mas apenas Espírito.

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