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Projetos práticos e interdisciplinares: instrumento eficaz de ensino e avaliação. Universidade Metodista de São Paulo

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Academic year: 2021

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Projetos práticos e interdisciplinares: instrumento eficaz de ensino e avaliação

Profas. Katy Nassar, Mônica Pegurer Caprino, Arlete Prieto

Centro de Comunicação e Artes

Universidade Metodista de São Paulo

São Bernardo do Campo 1998

Introdução

Nascidos no Brasil na década de 40, os cursos de Jornalismo sempre tiveram a finalidade de formar profissionais para atuar na imprensa,1 primeiro em sua modalidade escrita e mais modernamente nas formas falada e televisada. Entretanto, embora tivessem o caráter profissionalizante, os cursos de Jornalismo também assumiram características de formação básica humanística, criando uma dicotomia entre teoria e prática que persiste até hoje em muitas escolas de Comunicação.

Nem mesmo a obrigatoriedade que se impôs pela legislação de se oferecer aos alunos atividades práticas em forma de jornais laboratórios conseguiu, em muitas universidades superar essa dicotomia teoria/prática, visto que essas atividades práticas ficaram, na maioria das vezes, restritas ao último ano do curso. Além disso, o ritmo de produção exigido pela lei (oito edições de jornal em um ano) não é nem de longe compatível com o necessário, ficando muito distante das expectativas dos alunos em relação à produção prática em jornalismo.

Como se não bastasse a ausência de atividades práticas dentro dos cursos de jornalismo e a falta de ligação com os ensinamentos teóricos, outros problemas surgiram, ao longo dos anos, no ensino de jornalismo e tem se constituído em desafios constantes para os docentes da área:

- Os sistemas de avaliação muitas vezes exigidos pela legislação e/ou regimentos internos de universidades têm se mostrado pouco eficientes para medir o grau de aprendizado dos alunos em relação a conteúdos mais específicos ligados à prática jornalística. Afinal, como medir através de uma prova, a capacidade do aluno de produzir uma reportagem ou realizar uma entrevista?

- Disciplinas estanques formam o currículo de jornalismo e dificultam não só o

trabalho dos professores - que muitas vezes desconhecem o conteúdo abordado por

colegas responsáveis por outras disciplinas e como complementá-los - mas também

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José Marques de Melo, Comunicação e Modernidade – O ensino e a pesquisa nas escolas de

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para os alunos que ficam acumulados de um sem número de trabalhos a serem

produzidos. Como analisou o prof. Marques de Melo, “o saber transmitido

apresenta-se fragmentado (os alunos frequentam disciplinas estanques) e o processo

de transferência de conhecimento mostra-se anárquico (os catedráticos desfrutam de

autonomia absoluta para proceder como lhes for satisfatório). Não existe portanto

uma diretriz educacional para estabelecer o fio de ligação entre o trabalho

desenvolvido nas diferentes cátedras”.

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- Além da compartimentização das disciplinas, os currículos ultrapassados não dão conta de mudanças acontecidas no panorama da Comunicação nos últimos anos. Sobrevivem, em algumas universidades disciplinas anacrônicas como “Revisão e Preparação de Originais e Videotexto”.

- As expectativas dos alunos chocam-se quase sempre com a realidade encontrada, uma vez que esperam, como estudantes de Jornalismo, serem introduzidos nas práticas jornalísticas desde o ingresso na Universidade.

- A distância com as novas tecnologias observada nas universidades acaba por deixar o aluno muito longe da realidade comunicacional do mercado, mesmo quando o curso introduz o aluno no universo prático.

- A simples reprodução das práticas jornalísticas e sistemas de produção existentes na imprensa atual pode dar ao curso de jornalismo um caráter acrítico pouco desejável e condizente com o espírito universitário.

Diante dessas complexas questões, algumas soluções podem ser pensadas, e a nosso ver, todas elas passam pela introdução de vários projetos práticos durante o curso de Jornalismo e pela interdisciplinaridade que deveria existir no currículo.

Alguns projetos têm sido pensados e desenvolvidos no curso de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo Paulo, que já vem há muito tempo oferecendo outras alternativas de produção jornalística, além das exigidas pela legislação. Um exemplo é o Rudge Ramos Jornal já há sete anos um veículo semanal, com 20 mil exemplares, que circula todas as sextas-feiras com público externo à comunidade.

Em 1998, porém, novas iniciativas estão ocorrendo para dar respostas a essas questões colocadas, tentando melhorar o sistema de avaliação, atender às expectativas dos alunos e trabalhar a interdisciplinaridade.

Antigo projeto, novos objetivos

Jornal semanal de 20 mil exemplares, distribuído gratuitamente nas ruas de São

Bernardo, onde está localizada a Umesp, o Rudge Ramos Jornal tem sido o grande

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veículo de aprendizado prático para os alunos do último ano de Jornalismo. Entretanto,

como seu formato, no sentido editorial, permanecia praticamente inalterado desde 1991,

quando se tornou semanal, os responsáveis pelo projeto passaram a acreditar que algumas

reformulações deveriam ser feitas.

Surgiu, em 98, a proposta de se fazer um novo caderno encartado no RRJ, com o objetivo de trazer aos leitores matérias mais amplas, de maior profundidade e dar aos alunos oportunidade de trabalhar um outro tipo de texto, além do informativo, que já vinham desenvolvendo.

Passou a ser editado, a partir de maio, o caderno Repórter Umesp, tornando-se um encarte mensal, publicado na última semana de cada mês. O primeiro número, por exemplo, trouxe matérias sobre uma tribo de índios, o trabalho de voluntários e das famílias de oleiros do ABC. Surgiram textos humanos, histórias interessantes, narradas de uma outra forma, resgatando um jornalismo quase desaparecido da nossa imprensa diária.

O repórter ficou valorizado, com um trabalho atuante, até com a participação nas histórias narradas. Para fazer uma matéria sobre voluntários, um aluno chegou a trabalhar como professor dando aulas de reforço a crianças de uma favela e narrou posteriormente sua experiência aos leitores.

O desenvolvimento desse projeto conseguiu, também, um trabalho interdisciplinar com Jornalismo Especializado, cadeira onde se propôs, como forma de avaliação, matérias jornalísticas aprofundadas sobre temas específicos, com o objetivo de serem aproveitadas no caderno Repórter Umesp.

O novo encarte trouxe incentivo aos alunos, que puderam antever outras formas de

produção do texto jornalístico, com maior valorização, inclusive, para os textos de

autoria, com insertos de opinião ou da ótica pessoal de cada um, além de um projeto

visual diferenciado, com ênfase nas fotografias e elementos ilustrativos.

Revista on-line

O projeto foi desenvolvido na disciplina Novas Tecnologias em Comunicação, tanto no

período matutino como noturno. A proposta é de produzir um site na Internet, voltado

para os assuntos de Comunicação e Artes, que deveria atingir alunos, profissionais e

demais interessados na área de Comunicação incluindo sub-temas como Rádio, TV,

Cinema, Jornalismo, Relações Públicas, Publicidade e Propaganda, Artes Cênicas, etc.

A idéia é que os alunos realizem trabalhos utilizando um novo tipo de linguagem, em

veículo que pode ser acessado por um público amplo, em qualquer parte do mundo.Os

alunos foram divididos em grupos, realizando pesquisas, inclusive na própria Internet,

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disponibilizada no Laboratório de Jornalismo para esse fim: produzindo pautas,

entrevistas, etc. Nomes como Moacir Japiassu, Marília Gabriela e outros presentes na

mídia foram alguns dos entrevistados. Um grupo ficou responsável pela produção do

lay-out do site.

Projeto de Jornalismo Empresarial

Na disciplina de Jornalismo Empresarial, já há quatro anos os alunos do sétimo

semestre têm produzido veículos destinados a empresas reais, baseados em pesquisas com

o público alvo, apresentando projetos e obetendo, necesssariamente, a aprovação dos

clientes virtuais. Neste ano, o trabalho começou a ser feito de forma integrada com a

disciplina de Administração Jornalística, onde os alunos realizam todo o projeto e

planejamento do veículo a ser implantado na empresa.

Além de propiciar ao aluno o contado com um formato de jornalismo pouco divulgado nas salas de aula mas que absorve 45% da mão de obra jornalística, o projeto também coloca os estudantes em contado com o mercado, surtindo algumas vezes resultados efetivos. Alguns grupos de alunos já chegaram a ser contratados pelas empresas para implantarem o projeto apresentado.

Jornal Mural

Acostumados à produção de exercícios em sala de aula, os alunos da Língua

Portuguesa V, noturno, puderam neste ano, vivenciar um novo projeto, proposto

pela professora Arlete Prieto: os jornais murais, produzidos por grupos de três a

quatro alunos, tendo como um dos objetivos trabalhar a variação de linguagens.

Os murais, que deveriam ter de 4 a 7 páginas de tamanho A4, foram pensados para

o público de alunos da própria Umesp. Assim, foram escolhidos temas de interesse

do público universitário (intercâmbio, cinema, Copa do Mundo, entre outros), com

a obrigatoriedade de incluir prestação de serviços, resgate histórico com pesquisa.

O trabalho visual dos murais também foi importante, pois é um aspecto

imprescindível em se tratando de uma divulgação em locais públicos, tendo, portanto, que

chamar a atenção do leitor.

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Os alunos do 5º semestre também foram pautados para realizar páginas especiais a serem veiculadas no Rudge Ramos Jornal, como forma de conhecer o veículo em que irão trabalhar de forma mais efetiva no último ano.

Projeto Artistas Modernos

Com o objetivo de antecipar as atividades práticas para os primeiros semestres,

incentivando os alunos no aprendizado jornalístico, os professores de Língua Portuguesa

III, Planejamento Gráfico I e História da Cultura e das Artes implantaram, neste ano, um

projeto conjunto, de caráter interdisciplinar.

Os alunos do 3º semestre produziram, em lugar de um trabalho acadêmico, uma revista que foi o produto de avaliação das três disciplinas. A classe foi dividida em 14 grupos, que realizaram pesquisa bibliográfica, histórica e reportagem sobre 14 artistas brasileiros da modernidade.

O professor de História da Arte orientou a pesquisa quanto ao seu conteúdo específico, ficando a cargo dos professores de Língua Portuguesa e Planejamento Gráfico, respectivamente, a orientação para a produção de textos e a diagramação da revista. O empenho e entusiasmo dos alunos foi grande, principalmente por ser o único projeto prático do semestre, que, anteriormente, ficava calcado em trabalhos de caráter mais téorico e acadêmico.

Conclusões

Mesmo com dificuldades, acreditamos que há muito a ser feito nos cursos de jornalismo

para a melhoria da qualidade de ensino. Os sistemas de avaliação podem ser

modernizados e se tornar mais produtivos e agradáveis, tanto para alunos quanto para

profesores. Basta que os docentes das disciplinas específicas de jornalismo proponham

novas formas de produção aos alunos, pensando principalmente projetos práticos.

Podemos atender melhor às expectativas dos alunos se propusermos esses novos formatos de trabalho também nos primeiros semestres, dando-lhes incentivo de produzir produtos comunicacionais. Não se trata de relegar o trabalho acadêmico ao esquecimento, mas mesclar, em diversas disciplinas, as duas formas de produção, não deixando à margem da produção jornalística os alunos dos primeiros semestres. Ainda que essa forma de produção se dê de maneira tosca, sem um acabamento profissional, é um produto importante para o aluno que inicia sua carreira jornalística, desde que orientado nas etapas de produção e devidamente avaliado pelos docentes.

Os projetos práticos tornam-se, além de um incentivo aos alunos, uma peça de

fundamental importância no processo ensino-aprendizagem. Muitas vezes, na orientação

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ou assessoria a um trabalho prático, muito mais se pode transmitir do que em aulas

expositivas, pois o aprendizado se torna mais efetivo e o contato com o aluno mais

individualizado.

A defasagem dos currículos pode ser superada pelo empenho de professores, principalmente se atuarem de forma conjunta. No caso da Metodista, por exemplo, a recente transformação em universidade ainda não tornou possível a introdução de alterações no currículo. Acreditamos, porém, que esse não pode ser um fator para impedir avanços no curso de jornalismo. As disciplinas existentes no currículo – sem prejuízo dos conteúdos exigidos pelas ementas - podem ser aproveitadas pelos professores para levar adiante novos formatos de trabalhos, novos projetos, como os apresentados aqui.

O mesmo vale para a questão da interdisciplinaridade. Mesmo que ela não exista de forma oficial, nada impede ao docente tomar a iniciativa de integrar sua disciplina a de outros colegas, propondo trabalhos conjuntos, que se mostram normalmente mais ricos, tanto para professores quanto para alunos, aliviando-lhes não só a carga de produção, como permitindo maior aprofundamento e qualidade do produto final.

A distância em relação às novas tecnologias, infelizmente, depende não só dos docentes,

mas de investimento por parte das universidades. Aos professores, porém, acreditamos

que caiba o papel de trabalhar novos projetos voltados para a realidade atual dos meios de

comunicação, mostrando ao alunos novas possibilidades de produção, ainda que ele venha

a aperfeiçoá-las somente no mercado de trabalho.

Parece-nos, ainda, que a simples reprodução das práticas jornalísticas existentes no mercado não se coaduna com o papel da Universidade. Devemos, enquanto professores de Jornalismo, manter o espírito crítico de nossos alunos e incentivar-lhes a produção com caráter de maior aprofundamento e humanismo, ainda que tais práticas não sejam observadas no panorama da imprensa dominante no Brasil.

Referências

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