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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DA CAPITAL:

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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DA CAPITAL:

I.P. Inquérito Policial n° 0089499-54.2014 P.I. MP 38.0694.0000191/2015

O representante do Ministério Público que esta subscreve, no uso de suas atribuições legais, com base nas provas produzidas nos autos do Inquérito Policial n° 0089499-54.2014, e em face dos elementos de provas constantes no MP 38.0694.0000191/2015; apresenta DENÚNCIA CRIMINAL contra:

I. Flávio Ernesto Zarzur, qualificado em fls. 97 (I.P.) II. Ronilson Bezerra Rodrigues; qualificado em fls. 23 (P.I.) III. Eduardo Horle Barcellos; qualificado em fls. 131 (I.P.)

IV. Carlos Augusto di Lallo do Amaral; qualificado em fls. 148 (I.P.) V. Luís Alexandre Cardoso de Magalhães; qualificado em fls. 120

(I.P.)

VI. Luciano Ferreira da Silva; qualificado em fls. 103 (I.P.)

Os documentos obtidos nos autos demonstram a prática de crimes contra a administração pública municipal/SP, mais especificamente, nestes autos, a respeito da prática de corrupção praticada pelos funcionários públicos municipais, juntamente com representantes da empresa, todos acima denunciados.

I- Introdução

Neste Inquérito Policial n° 0089499-54.2014, especificamente, foram apuradas as irregularidades e condutas criminosas ocorridas na obtenção da Certidão de Quitação do ISS referente às obras localizadas na Avenida Mascote, 91, nesta cidade e comarca da Capital, de responsabilidade da empresa LIMOGES INCORPORADORA LTDA.

Nas P.I. (Peças de Informações) de número MP 38.0694.0000191/2015, se buscou apurar irregularidades e condutas criminosas envolvendo, além deste, outros dois de nomes “Verona” e “Boneville”; sem sucesso, por ora, em relação a estes, entretanto.

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II- Organograma Funcional dos Auditores na Prefeitura Municipal de SP e

modus operandi:

No período compreendido entre o final de 2012 e o início de 2013, no âmbito da Secretaria de Finanças do Município de São Paulo, os denunciados Ronílson Bezerra Rodrigues, Eduardo Horle Barcellos, Carlos Augusto de Lallo do Amaral e Luís Alexandre Cardoso de Magalhães, previamente combinados, com unidade de desígnios e agindo conjuntamente com outros auditores públicos não identificados, associaram-se, de forma estável e permanente, em Quadrilha (Associação Criminosa)1, com o fim de cometer crimes. Há nos autos, especialmente nas P.I. referidas, documentos de declarações prestadas pelos próprios auditores admitindo e esmiuçando o estratagema criminoso montado e operado no âmbito da Secretaria de Finanças da PM/SP, com a prática de incontáveis ações criminosas contra a administração pública municipal de São Paulo.

Na Secretaria de Finanças da Prefeitura de São Paulo o auditor fiscal Ronílson Bezerra Rodrigues era superior hierárquico de Eduardo Horle Barcellos que por sua vez era superior hierárquico dos auditores fiscais Carlos Augusto di Lallo do Amaral e Luís Alexandre Cardoso de Magalhães.

No âmbito da associação criminosa, Luís Alexandre e Carlos di Lallo desempenhavam as funções de exigir e receber as vantagens indevidas, que, em seguida, eram fracionadas para divisão com os superiores hierárquicos Eduardo Horle Barcellos e Ronilson Bezerra.

Eduardo Barcellos, que era Diretor de Arrecadação e superior hierárquico de Luís Alexandre e Carlos di Lallo, respondia diretamente para Ronilson Bezerra, Subsecretário de Finanças do Município de São Paulo.

Na divisão das vantagens indevidas, Eduardo Barcellos era o responsável por receber os valores de Carlos di Lallo ou Luís Alexandre e, após reter sua parcela, entregava o restante para Ronilson Bezerra.

Ronilson Bezerra, por sua vez, promovia, organizava e dirigia as tarefas dos demais integrantes da associação criminosa. Tinha, ainda, grande influência dentro da Secretaria de Finanças do Município de São Paulo e diversos contatos com políticos, dentre eles, vereadores e deputados estaduais2.

1

Todos já foram Denunciados em outro Feito pela prática de “quadrilha”, termo utilizado para designar a primeira fase da associação criminosa entre os denunciados, uma vez que a permanência deste crime cessou no mês de março de 2010, anteriormente à Lei 12.850/13 (vigente deste 19/09/2013 – art. 27), que alterou o “nomem iuris” do delito previsto no artigo 288 do Código Penal de “quadrilha” para “associação criminosa”. Por ser a nova lei mais gravosa, não retroage para atingir fatos anteriores a sua vigência, em atenção disposto no artigo 5º, inciso XL, da Constituição Federal, e no artigo 2º, parágrafo único, do Código Penal.

2 Vide procedimentos cautelares nos 0054218-71.2013.8.26.0050 e 0061586-34.2013.8.26.0050 – DIPO 4. Os relatórios das interceptações telefônicas e da interceptação ambiental demonstraram, de forma clara, os diversos

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O denunciado Ronilson Bezerra, utilizando-se de sua posição de supremacia hierárquica, liderava o esquema, utilizava o seu prestígio para impedir que denúncias atrapalhassem o esquema criminoso e mantinha os demais denunciados em suas funções, estabilizando e blindando a associação criminosa.

O grupo criminoso mencionado agia de forma estável e contínua no âmbito da Secretaria de Finanças da Prefeitura Municipal de São Paulo e contava com a participação eventual de outros auditores fiscais, responsáveis pela fiscalização direta dos contribuintes que seriam achacados. Referidos auditores contribuíam com a prática das condutas ilícitas de forma eventual, recebendo nos casos que atuavam uma parcela da propina arrecadada.

ORGANOGRAMA

contatos realizados por Ronilson Bezerra com políticos e pessoas com influência perante a Administração Pública do Município de São Paulo/SP. Relações estas que foram utilizadas para embaraçar o andamento de procedimentos administrativos em trâmite na Controladoria Geral do Município de São Paulo, que apuravam irregularidades nos patrimônios dos integrantes da quadrilha, ora denunciados.

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III- Os fatos apurados neste Inquérito Policial n° 0089499-54.2014 e nas P.I. (Peças de Informações) de número MP 38.0694.0000191/2015

Restou evidenciado nos autos que o valor da guia recolhida aos cofres públicos municipais teria sido de R$ 16.122,18. O baixo valor pago a título de resíduo de ISS, indicou o fato de esta empresa obter vantagem tributária auferida através do pagamento de propina. Ademais, a obra foi incluída em planilha elaborada pelo ex-auditor fiscal LUIS ALEXANDRE CARDOSO DE MAGALHÃES. Referida planilha registrou a contabilidade da organização criminosa que cobrou e recebeu propina de inúmeros empreendimentos imobiliários nesta cidade de São Paulo, e que foi desbaratada pela chamada “Operação

Necator”. Em fls. 120/130 foram juntadas cópias de declarações prestadas por LUIS

ALEXANDRE, em cumprimento a acordo de colaboração premiada3, posteriormente revogado, onde ele explicou todo o funcionamento da organização criminosa, bem como a veracidade da planilha elaborada.

Um documento planilha apreendida no computador do investigado Luis Alexandre Cardoso de Magalhães contém dados referentes à contabilidade da cobrança de propina no recolhimento do ISS. Pelos dados de contabilidade contidos na planilha, a Prefeitura Municipal de São Paulo era lesada em mais de 90% das receitas devidas. Da diferença, 50% era sonegado pelo devedor a em torno de 40% era pago em propina e distribuído entre auditores públicos.

Esta investigação composta do I.P. n° 0089499-54.2014 apurou pagamento de propina pela empresa LIMOGES INCORPORADORA LTDA, pertencente à EZTEC EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA, em razão da realização da obra na Av.

Mascote, n° 91, cujo valor devido seria de R$ 300.244,36; do qual teria sido sonegado o valor de R$ 150.122,18, tendo sido pago aos Fiscais da Prefeitura o montante de R$ 120.600,00 e recolhido de fato aos cofres da Prefeitura Municipal de SP, somente o valor de R$ 16.122,18.

IV- Análise Técnica – prova documental4

O empreendimento LIMOGES, situado à av. Mascote, nº 91 e sob responsabilidade da

Limoges Incorporadora Ltda., recebeu o certificado de quitação de ISS “Habite-se” em

24/02/2011, tendo sido paga uma guia no valor de R$ 16.122,18. O auditor-fiscal responsável pela emissão do certificado, segundo informações da Subsecretaria da Receita Municipal5, foi LUÍS ALEXANDRE CARDOSO DE MAGALHÃES6.

3 Cópia em fls. 215/224 do P.I. 4 Documentos da PM/SP em Fls. 161/165 (P.I.) 5 Fls. 165 6 Fls. 164 e 165 do PI MP 38.0694.0000191/2015

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O empreendimento aparece na planilha CONTROLE DE TRAUMAS, apreendida durante a Operação Necator, com os seguintes dados:

Controle de Traumas

NÚM. NOME ENDEREÇO A REC. 50% GUIA DESP. COLEGA SALDO CADA REPASSE

0001654 LIMOGES AV. MASCOTE 300.244,36 150.122,18 16.122,18 13.400,00 - 120.600,00 30.150,00 24/02/2011

Observa-se que o cálculo correto do ISS residual que é mostrado na coluna “A REC.” é próximo ao verificado através da OVL nº 40.091.368, que calculou o valor de R$ 322.558,60.

O valor da coluna “GUIA” coincide com o valor efetivamente recolhido - R$ 16.122,18.

A revisão realizada através da OVL nº 40.091.368 mostrou uma diferença de R$ 306.375,16 no ISS a recolher, saltando de R$ 16.122,18, recolhidos à época, para R$ 322.558,60, um aumento de 1.900%. Esta monumental diferença evidencia que houve diminuição de pagamento de imposto à custa de pagamento de propina por parte da empresa, representada por Flavio Ernesto Zarzur7, cujo despachante era Luciano Ferreira da Silva.

Neste empreendimento houve pagamento para o despachante/intermediário no valor de R$ 13.400,00. Segundo depoimento de CARLOS AUGUSTO DI LALLO DO AMARAL8, “LUCIANO” seria o responsável pela intermediação entre a empresa e os fiscais. Há menção de “Ezetec x Luciano” na lista de contatos apreendida no celular de LUIS ALEXANDRE, cujo telefone seria 11-78660513. Segundo informações colhidas durante as investigações, “Luciano” era LUCIANO FERREIRA DA SILVA, CPF 215.633.918-05, RG 30.283.526, Coordenador de documentação imobiliária da EZTEC.

Ao verificar a régua de ligações do aparelho da Nextel de LUIS ALEXANDRE, foram identificadas cinco ligações para o contato “Ezetec x Luciano” - 11-78660513 – todas realizadas em 05/03/2013. Luciano Ferreira da Silva, obviamente não disporia do dinheiro do próprio bolso. A quantia, portanto, saiu da empresa, por ordem e conhecimento do seu administrador – Flávio Ernesto Zarzur.

Cada fiscal, Luis Alexandre, Carlos di Lallo, Eduardo Barcellos e Ronilson Bezerra, recebeu R$ 30.150,00 de propina apenas neste empreendimento.

V- Confissões/Declarações extrajudiciais.

Entre outras muitas confissões constantes nos autos, destacamos as seguintes:

7 Cf. fls. 79 do I.P.

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Carlos Augusto di Lallo do Amaral, ouvido em fls. 4 a 8 do PI MP 38.0694.0000191/2015, no Ministério Público, na presença de seu Advogado constituído e de um Procurador do Município, entre outras condutas de corrupção admitidas, - em relação aos empreendimentos da EZTEC EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA, revelou o seguinte: “A Construtora EZTEC

negociou propina com o declarante através do despachante LUCIANO [...] Esclarece que a EZTEC fazia questão que, apesar do pagamento da propina, as guias que seriam recolhidas tivessem mais altos, com a finalidade de não levantar suspeita, recorda-se também dos empreendimentos BONEVILLE e LIMOGES, também da EZTEC como regularizados de maneira criminosa. A EZTEC agia da seguinte forma: LUCIANO, despachante, protocolava as notas do DICI 4 e ligava para o declarante avisando que havia protocolado e que naquele caso iria pagar propina. Isso porque, não eram em todos os procedimentos que a EZTEC pagava quantia irregular. Feito o cálculo, LUCIANO era informado do valor e levava em dinheiro diretamente no ANDRAUS ou entregava para o declarante no CAFÉ VERMONT. No período anterior negociava diretamente com LUIS ALEXANDRE, mas desentendeu-se com este e passou a tratar com o declarante”.

Eduardo Horle Barcelos, ouvido neste I.P. n° 0089499-54.2014, fls. 131/134, na presença de sua Advogada, revelou: “[...] que no ano de 2013, mais precisamente

no dia 30 de outubro, o interrogando foi preso juntamente com os demais fiscais mencionados, quando soube da apreensão de uma planilha em poder de LUIS ALEXANDRE onde o mesmo detalhou as cobranças da propina, quando então soube que o mesmo, a bem da verdade solicitava que a construtora providenciasse o recolhimento de somente 10% do valor devido do ISS e em alguns casos até um valor menor [...]”.

Thiago Honório Lima Chaves, ouvido no Ministério Público (GEDEC) em 15/06/2015, na presença de seu Advogado constituído, declarou: [...] “Posteriormente, LUIS ALEXANDRE determinou que o declarante procurasse os

representantes da empresa EZETC, também com a finalidade de extorqui-los para não os envolvesse na investigação do Ministério Público. LUIS ALXANDRE estava com pressa para extorquir a EZETEC uma vez que o nome da empresa já havia sido mencionado no Ministério Público. O declarante já descontente com aquela situação até porque já havia iniciado as tratativas para celebrar acordo de delação premiada com Ministério Público tentou dissuadir LUIS ALEXANDRE daquela empreitada, o que foi em vão. LUIS determinou que o declarante exigisse R$ 1 milhão da EZETEC. O declarante chegou a ir até a sede da EZETE na Av. República do Líbano e pegou um cartão na recepção para provar para LUIS ALEXANDRE que havia estado no local, mas não conversou com nenhum funcionário da empresa. O declarante em momento algum pretendia aderir àquela extorsão, mas fazia o que LUIS ALEXANDRE determinava por verdadeiro temor referencial. Naquela situação LUIS era o responsável pela intermediação do acordo de delação premiada junto ao Ministério Público. Não sabe se LUIS recebeu algo da EZETEC. Em data posterior perguntou para LUIS a respeito do

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acerto tendo este lhe dito que já havia fritado a EZETC e que não adiantava prosseguir na extorsão” [...].

ESTRATAGEMA

VI – Caracterizações dos delitos pelo plano objetivo.

No âmbito da caracterização do plano objetivo do delito, são possíveis as aplicações de duas formas: A caracterização real ou presumida:

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Página 8 de 11 Pela caracterização Real

Estabelece-se todo o ‘link’ da origem até o destino. Demonstra a trilha percorrida pelos ativos ilícitos, mas, considerando as incontáveis formas e mecanismos de lavagem disponíveis aos criminosos na atualidade, é também o de mais rara constatação. Isto porque poucos serão os “lavadores” que utilizam formas simples a ponto de serem perfeitamente

rastreadas e identificadas. O crime de lavagem de dinheiro configura-se, por sua própria natureza, através de formas complexas e variadas. O criminoso que usualmente pratica este delito costuma utilizar os mais variados artifícios, falsificações e os mais diversos mecanismos em conjugação, exatamente para dificultar o seu rastreamento, a ponto que, na prática, poucos serão os casos em que será possível ou viável a demonstração de todo o traçado percorrido pelos valores ou bens de origem ilícita.

A prova “direta”, “representativa”, ou “histórica”, decorre do “ato comunicativo”, compreensível em decorrência da mera comunicação visual (ou verbal). O entendimento acerca do objeto (situação) é imediato, e decorre de uma dedução direta. Ao contrário das provas indiretas, ou “críticas”, cuja percepção não é instantânea ao contato visual, nas diretas não existe uma lacuna a ser preenchida através de um raciocínio que explique a lógica da demonstração. Nas provas diretas, o fato indicativo se colega com o fato indicado através de mera percepção, dispensando exercício de maior esforço de raciocínio.

Pela caracterização Presumida

Em contraponto à real, a caracterização presumida forma-se através de um nexo de derivação entre objeto material da lavagem e o próprio crime. Decorre da presunção, ou melhor, da dedução indireta de que os valores ou bens que tiveram destino de incorporação no patrimônio do suspeito (ou de seu testa-de-ferro) procederam de sua prática criminosa, no mais das vezes em função da visível ausência de correlação entre os ganhos lícitos, reais e/ou potenciais, e a quantidade do patrimônio. Parte-se de contraindícios, elementos de prova e/ou provas indiretas, que devem ser conjugados com a situação real da pessoa investigada ou suspeita, formando-se um contexto probatório que tenha por conclusão uma situação processual tal que permita deduzir a prática do(s) crime(s) antecedente(s).

Nestes casos as acusações nos processos devem estabelecer vínculos entre as ações criminosas. Tem considerável valor probante o não esclarecimento perfeito pelo suspeito/investigado a respeito da origem dos bens, direitos ou valores ou a divergência entre os ganhos declarados ou detectados pelas autoridades e o patrimônio do(s) investigado(s). Isto significa, em outras palavras, desnecessidade de indicação da “trilha” do dinheiro, valor ou bem. Significa a desnecessidade de demonstração direta da sua obtenção e posterior ocultação ou dissimulação.

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A prova indireta, ou “crítica” decorre do exame crítico do objeto, da percepção e da correlação de conhecimentos, segundo a lógica e a experiência, provocando reação de entendimento lógico. Exige análise de ligação entre o fato indicativo e o fato indicado, em exercício de raciocínio em relação ao factum probandum cuja análise, por assim dizer, não é “automática”.

VII - Configurações das condutas. Autoria pelo domínio do fato.

As condutas e consequentes imputações encontram respaldo nas provas dos autos de ambos os Procedimentos Investigatórios, seja por caracterização real (direta), seja por caracterização presumida (indireta).

VII.1 - Flávio Ernesto Zarzur

A doutrina do chamado “Domínio do Fato” surgiu na Alemanha, tendo sido desenvolvida através de várias obras em face das questões relativas à autoria/participação, até o trabalho mais específico do Prof. Claus Roxin – “Autoria e Domínio do Fato” (Täterschaft und Tatherrschaft9). A teoria, já difundida e amplamente aplicada na Europa e em diversos Países mundo afora, fundamenta a responsabilização penal para a pessoa do mandante do crime na condição pré-estabelecida de “senhor da situação”, ou aquele que detém o “domínio do fato”.

Segundo explica o Prof. Hans Jescheck, a ação típica não se entende unicamente como uma atuação com determinada atitude pessoal, nem como mera consequência do mundo exterior, mas como unidade de sentido objetivo-subjetiva. O fato aparece assim como obra de uma vontade que se dirige ao sucesso. Não só é determinante para a autoria, a vontade de direção, mas também o peso objetivo da parte do fato, assumida por cada interveniente. Resulta que só pode ser autor quem, segundo a importância da sua contribuição objetiva, comparta o domínio do curso do fato. Por isso, o tipo, em certas condições, pode ser realizado também por aqueles instrumentos que, apesar de não executarem uma ação típica no sentido formal, possuem o domínio do fato e o compartilham.10

A aplicação do domínio do fato encontra respaldo na interpretação da teoria subjetiva da autoria (autoria/participação), sendo responsáveis pelo resultado típico, tanto o autor imediato (executor) como o seu mandante, este pela autoria mediata.

O pagamento da propina existiu. É fato. Foi inclusive confessada por Auditores Fiscais da PM/SP. Luciano Ferreira da Silva obviamente não dispunha de meios para dispor da quantia sem autorização do Administrador da empresa – Flavio Ernesto Zarzur.

9 ROXIN, Claus. Täterschaft und Tatherrschaft. Editora De Gruyter Recht/Berlin, 8a edição- 2006.

10 JESCHECK, Hans-Heinrich; WEIGEND, Thomas: Lerhbuch des Strafrechts. Algemeiner Teil. Ed. Duncker & Humblot/Berlin, 1996.

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A partir deste entendimento, no contexto dos fatos expostos cujas provas constam em abundância nos autos, não é possível interpretar nem acreditar que o principal representante da empresa EZTEC EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA não tivesse conhecimento do pagamento de propina evidenciado. Flávio Ernesto Zarzur era o administrador responsável pela Limoges Incorporadora Ltda.11 Foi o “Administrador” da

LIMOGES INCORPORADORA LTDA o responsável que, em nome da empresa, pagou a

propina. Ele detinha o “domínio do fato” e na condição de mandante (autor mediato) tinha os poderes para viabilizar a quantia em dinheiro sobre a obtenção do resultado – pagamento a menor do ISS do empreendimento, para obtenção do certificado de quitação junto à Prefeitura Municipal de SP.

VII.2 - Ronilson Bezerra Rodrigues; Eduardo Horle Barcellos; Carlos Augusto di Lallo do Amaral; e Luís Alexandre Cardoso de Magalhães.

Auditores Fiscais da Prefeitura Municipal de São Paulo, dentro de uma escala de hierarquia e subdivisão dos valores da propina, em face de um esquema criminoso montado e utilizado em outros incontáveis casos, foram os responsáveis pela solicitação e repartição da propina, de molde a viabilizar o envolvimento e lucro de todos, bem como o lançamento a menor do imposto (ISS) em prejuízo dos cofres públicos municipais.

VII.3 - Luciano Ferreira da Silva.

Foi o agente particular que, como despachante da empresa EZTEC

EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA (sócia da LIMOGES

INCORPORADORA LTDA), intermediou o pagamento da propina do empreendimento aos

Auditores públicos Municipais. VIII – Tipificação Penal

Agindo da forma descrita, os então funcionários públicos municipais Ronilson Bezerra Rodrigues, Eduardo Horle Barcellos, Carlos Augusto di Lallo do Amaral e Luis Alexandre Cardoso de Magalhães solicitaram e receberam, para eles, direta ou indiretamente, ainda que fora da função e em razão dela, vantagem indevida, para deixar de lançar e/ou cobrar tributo ou contribuição social parcialmente. Flavio Ernesto Zarzur ofereceu e pagou vantagem indevida a funcionários públicos, para determiná-los a praticar e/ou omitir ato de ofício. Luciano Ferreira da Silva, por sua vez, intermediou a oferta da vantagem indevida a funcionários públicos, para determiná-los a praticar e/ou omitir ato de ofício.

Ante o exposto, o Ministério Público do Estado de São Paulo, pelo Promotor de Justiça infra-assinado, DENUNCIA:

I. FLAVIO ERNESTO ZARZUR, como incurso no artigo 333, parágrafo único, c.c. artigo 29, ambos do Código Penal;

11 Cf. fls. 78/85 do I.P.

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II. RONILSON BEZERRA RODRIGUES, EDUARDO HORLE BARCELLOS, CARLOS AUGUSTO DI LALLO LEITE DO AMARAL e LUÍS ALEXANDRE CARDOSO DE MAGALHÃES por infração ao disposto no artigo 3º, inciso II, da Lei nº 8.137/90, combinado com o artigo 29, “caput”, do Código Penal;

III. LUCIANO FERREIRA DA SILVA como incurso no artigo 333, parágrafo único, c.c. artigo 29, ambos do Código Penal;

Recebida a denúncia, postula-se que todos denunciados sejam citados e processados até final condenação, ouvindo-se as testemunhas abaixo arroladas, conforme rito ordinário previsto nos artigos 395 a 405 do Código de Processo Penal.

Rol de Testemunhas

1. Thiago Honorio Lima Chaves. Ex. Ag. Fiscal PM/SP

2. Cleber Muniz e Silva – Assistente Técnico PM/SP (Fls. 162/164 do PI)

3. Wagner Alexandre Damazio de Freitas – Subsecretário da Receita Municipal (Fls. 165 do PI)

São Paulo, 14 de março de 2017

Marcelo Batlouni Mendroni Promotor de Justiça - GEDEC

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