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O Desenvolvimento Econômico Grupal e a Conscientização Cultural Coletiva no Estado de Goiás e arredores: o exemplo da comunidade Kalunga.

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Academic year: 2021

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O Desenvolvimento Econômico Grupal e a Conscientização Cultural Coletiva no Estado de Goiás e arredores: o exemplo da comunidade Kalunga.1

OLIVEIRA, Heitor Moreira de2.

PALAVRAS-CHAVE: Kalunga; Comunidades Tradicionais; Coletividades Agrícolas;

Conscientização Cultural.

1. JUSTIFICATIVA / BASE TEÓRICA

O povo Kalunga representa a continuação de uma comunidade formada por negros que resistiram à escravidão e por outros, alforriados, que organizaram quilombos na região da chapada dos Veadeiros, no norte de Goiás, nos atuais municípios de Cavalcante, Monte Alegre de Goiás e Teresina de Goiás. Detentor de identidade e cultura peculiares, o Povo Kalunga possui toda uma história que caracteriza seu modo de viver, suas relações com o meio natural, com a própria comunidade e demais grupos, na organização social e política de sua vida, na construção de suas formas de subsistência, entre outros processos. Com uma população em torno de 6.000 pessoas, são cinco os núcleos dos Kalungas: Vão de Almas, Vão do Moleque, Ribeirão dos Bois, Contenda e Kalunga, que abrigam cerca de 50 grupos populacionais.

A área que abriga o povo Kalunga está situada numa área de Cerrado, consiste da superfície às margens do rio Paranã, afluente do Tocantins. Essa área é caracterizada por relevo acidentado, que dificulta o acesso a essas populações e das comunidades até os centros urbanos. Essa situação foi favorável para manter os Kalungas isolados, preservando a identidade do grupo e o protegendo de ataques dos brancos. A rede hidrográfica é bastante densa e caudalosa e sofre grandes cheias na temporada de chuvas, inundando planícies e campos de plantações. Essas enchentes desempenham importante papel na deposição de material orgânico nos vales e planícies, a eles trazendo uma adubação natural. A natureza

1 Resumo revisado pelo Coordenador da Ação de Extensão e Cultura código FD-85 “Os Instrumentos Legais Para o Desenvolvimento Econômico e Cultural das Comunidades Tradicionais e Coletividades Agrícolas e Quilombolas Situadas no Estado de Goiás.”, Maria Cristina Vidotte Blanco Tárrega, e pelo Coordenador da Ação de Extensão e Cultura código FD-97 “Projeto Kenosis”, João da Cruz Gonçalves Neto.

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contribui de forma importante, assim, para a subsistência do povo Kalunga, que pratica pequena agricultura e criação de gado.

Aspectos culturais e econômicos se entrelaçam e são fundamentais na garantia da manutenção da identidade de um povo. Nas danças, os homens reproduzem e atualizam ritualisticamente a subcultura sertaneja, do pastoreio e de traços mesclados a outros específicos da cultura quilombola, que podem ser percebidos no seu modo de vida, no trabalho, na organização familiar, na alimentação, na estrutura de poder, no imaginário e na religiosidade, cujo cenário e a fonte primordial de recursos é o cerrado. A região confirma o tradicional processo de ocupação do cerrado: formou-se no movimento de expansão da economia pastoril, quando o cerrado foi sendo ocupado, ao longo de três séculos, na trilha das estradas abertas pelas boiadas. De pouso em pouso, as comitivas fizeram o desenho definitivo das cidades do cerrado. A Catira e a Curraleira, executadas pelos foliões de São João da Aliança; a Sussa dançada pelos Kalungas do Vão do Moleque e do Vão das Almas; o Lundu e o Batuque, representados pelo grupo A Caçada da Rainha, de Colinas do Sul e o Congo, encenado pela comunidade de Niquelândia são alguns dos exemplos mais emblemáticos das expressões artísticas que coexistem nesta região.

2. OBJETIVOS

A ação extensionista tem como objetivo geral promover a aplicação do Direito Agrário, em sua acepção prática, na esfera cultural das comunidades tradicionais e coletividades rurais e quilombolas encontrados em Goiás e adjacências. No primeiro ano de desenvolvimento do projeto, optou-se, então, por concentrar os estudos em uma das comunidades mais emblemáticas do Centro-Oeste brasileiro, qual seja, a comunidade quilombola do povo Kalunga.

O projeto propõe, também, identificar os instrumentos jurídico-legais de desenvolvimento cultural e econômico das comunidades tradicionais e de organização da atividade econômica nas mesmas. Acredita-se que o estudo dos instrumentos jurídico-legais de desenvolvimento econômico e cultural das comunidades tradicionais, agrícolas e quilombolas e de sua organização da atividade econômica constitui tema hábil à inserção da Faculdade de Direito da UFG no campo prático de atuação frente à comunidade (SEN, 2010, p. 18).

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O objetivo foi investigar como a garantia da regularização dos territórios, por exemplo, das comunidades quilombolas, pode contribuir para a reprodução cultural delas. Procurou-se, então, fomentar o estudo simultaneamente à aplicação prática dos conhecimentos que foram adquiridos como possibilidade emancipatória de desenvolvimento das comunidades, como contribuição crítica da Universidade ao seu entorno social.

O presente projeto buscou verificar, de forma prática, a possibilidade de utilização dos instrumentos jurídico-legais para o desenvolvimento econômico e cultural das comunidades agrícolas, tradicionais e quilombolas, identificando, dentre os instrumentos referidos, os mais adequados à promoção do desenvolvimento dessas comunidades.

3. METODOLOGIA

O desenvolvimento do projeto de Extensão se apoiou em procedimentos de coleta e análise de dados, recorrendo-se a processos de compreensão e verificação de premissas, sem prejuízo de outras possibilidades metodológicas. A análise crítica dos dados obtidos foi embasada nos fundamentos teóricos anteriormente apresentados. O objeto em questão, embora ultrapasse os limites de uma análise factual, buscou dados sobre as demandas das comunidades agrícolas como forma de efetivação de políticas públicas não apenas nas instituições públicas (levantamento de leis, tratados, projetos de leis e de posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais), mas, sobretudo, também, nas próprias comunidades (entrevistas com membros das associações).

4. RESULTADOS / DISCUSSÃO

O principal resultado dos trabalhos desenvolvidos no primeiro ano do projeto ora apresentado foi a possibilidade de estabelecer uma rede de pesquisadores da UFG que atua junto aos quilombolas Kalunga. É importante salientar que a UFG vem tentando integrar esforços, juntamente com diversos parceiros, em uma atuação que busca uma maior participação da comunidade Kalunga nos processos decisórios, aumentando a eficiência e garantindo aos projetos em desenvolvimento objetivos mais próximos da realidade e vontade da população local.

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Sabendo que é imprescindível a implementação de sistemas de atendimento diversos tais como Assistência em Saúde, Jurídica, Educacional, entre outros, na área Kalunga para minimizar as necessidades dessa população e garantir melhoria na qualidade de vida, evitando a migração dos jovens para a periferia de grandes cidades, a UFG veio, com este projeto de extensão, atenuar as diversas carências desta população.

Em verdade, espera-se que a relevância social desse trabalho esteja em contribuir para com a melhoria da qualidade de vida das populações sócio-historicamente excluídas no Estado de Goiás ao tempo em que contribuirá para com a divulgação de uma visão mais ampla sobre os impactos socioambientais na sociedade. No âmbito específico, espera-se atender aos objetivos apresentados pelos princípios norteadores do projeto, quais sejam, possibilitar maior interação entre os sujeitos envolvidos e a universidade, contribuir para com a percepção da importância do seu papel como sujeito transformador da realidade considerada excludente, bem como de sua auto-valorização individual e coletiva, utilizando o Direito, mais propriamente os instrumentos legais empresariais, como forma de valorização do trabalho tradicional dos sujeitos membros dessas comunidades.

5. CONCLUSÕES

Nas últimas décadas, com a ampliação do rol de novos direitos e sujeitos de direito, diversos grupos sociais portadores de identidade coletiva e étnica, que constituem as comunidades agrícolas, tradicionais e quilombolas, organizados em movimentos sociais, vêm ganhando notoriedade a partir de lutas para garantia e reivindicação de direitos, que sempre lhes foram negados pelo Estado. Podemos englobar aqui os índios, quilombolas, castanheiros, ribeirinhos, faxinalenses, entre outros (SANTOS, 2005, p. 31). O Estado brasileiro tem negado sistematicamente a existência social desses grupos, na medida em que as políticas públicas são pensadas de forma “universal”, levando à constituição do “reino de um único direito”, que mais tem servido para “apagar” as diferenças existentes do que para garantir o direito às diferenças. Contudo, a ampliação de espaços políticos de participação desses grupos sociais, embora tenha instituído “novas relações” e “novas estruturas” com o Estado, inclusive com a instituição de órgãos e de secretarias que lhes são diretamente afetas – a exemplo do Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado

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das Populações Tradicionais, criado pela Portaria IBAMA nº 22, de 10 de fevereiro de 1992 –, não vem se traduzindo em políticas efetivas que reconheçam de forma plena os diferentes modos de “criar”, de “fazer” e de “viver” dos grupos, como determina o texto constitucional (art. 216, caput e II, da Constituição Federal de 1988). A observação empírica das situações relativas aos processos de reconhecimento de direito desses grupos sociais tem evidenciado dificuldades jurídicas operacionais, que tem sua origem na natureza das demandas, as quais, por sua vez, são múltiplas.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADORNO, T. W. Temas básicos de sociologia. São Paulo, Cultrix, 1973.

BARBOSA, Denis Borges. Uma introdução à propriedade

intelectual: Biotecnologia e propriedade intelectual, topografias, know how e

segredos industriais. vol.2. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 1998.

CACCIAMALI, M. C. Setor Informal Urbano e Formas de Participação na Produção. 172 f. Dissertação (Doutorado em Economia) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1983.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Acesso à justiça em matéria de

ambiente e de consumo: privatismo, associacionismo e publicismo no Direito do Ambiente ou o rio da minha terra e as incertezas do direito público. In:

Siddamb, 1996. Disponível em: <http://www.diramb.gov.pt>. Acesso em 25 de março de 2012.

CROCHÍK, J. L. Preconceito: relações com a ideologia e com a personalidade. Estudos de Psicologia (Campinas), Campinas, v. 22, n. 3, p. 309-319, 2005.

FRANCO, M. B. Análise do conteúdo. Brasília, Plano, 2003

GRESSLER, L . Introdução à pesquisa-projetos e relatórios. São Paulo, Loyola, 2004.

HOBSBAWM, E. J. Era dos Extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

PARDO, José Esteve. Técnica, riesgo y derecho. Barcelona: Ariel S.A., 1999.

SANTOS, Boaventura de Sousa (org.). Conhecimento prudente para

Referências

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