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2009

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048 Oliveira, Silvana. / Teoria da Literatura III. / Silvana Oliveira. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009.

216 p.

ISBN: 978-85-387-0090-6

1. Literatura – História e crítica 2. Criação (literária, artística etc.) 3. Literatura – Filosofia I. Título.

CDD 086.9

Capa: IESDE Brasil S.A.

Crédito da imagem: Jupiter Images/DPI Images

IESDE Brasil S.A.

Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR

Todos os direitos reservados.

© 2009 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

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Doutora em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campi-nas (Unicamp). Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Licenciada em Letras pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

Silvana Oliveira

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Sumário

Literatura e crítica literária ... 11

O que é literatura: os muitos conceitos ... 11

Os muitos conceitos de literatura... 12

Funções da literatura... 13

Funções da teoria literária ... 15

Funções da crítica literária ... 16

O papel do crítico literário ... 17

O valor na literatura ... 25

A crítica literária e as outras instituições ... 25

O julgamento crítico ... 26

Os critérios de valorização da obra literária ... 28

A metodologia do discurso crítico ... 30

O que é um clássico? ... 31

O panorama da crítica literária no tempo ... 39

Os gregos e a crítica: conceitos críticos do mundo grego ... 39

Os clássicos e a crítica: características da Escola Clássica ou Classicismo ... 42

A crítica literária no Romantismo e na Modernidade ... 44

A crítica literária nos séculos XX e XXI... 45

Os períodos literários e a crítica biográfica ... 55

Relações entre a história e a literatura ... 55

A figura do autor ... 58

A biografia e a obra... 60

A proposta de análise da crítica biográfica ... 61

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Determinismo e Formalismo ... 75

O que é Determinismo? ... 75

O Formalismo Russo ... 77

A crítica estilística e a nova crítica ... 89

Como definir um estilo? ... 89

A proposta de análise da crítica estilística... 92

Os novos críticos e a profissionalização da crítica ... 92

A materialidade do texto literário ... 94

A proposta de abordagem da crítica estilística e da nova crítica ... 95

As teorias estruturalistas ...105

O Estruturalismo e suas várias abordagens ...105

Os principais teóricos e críticos do Estruturalismo ...108

A cientificidade da análise estruturalista do texto literário ...112

A proposta de abordagem das teorias críticas do Estruturalismo ...112

Sociologia da literatura ...121

A relação entre literatura e sociedade ...121

Os críticos sociológicos ...122

Os problemas da abordagem sociológica ...128

A estética da recepção...135

A história literária e a história do leitor ...135

O autor e o leitor ...138

Leitor, texto e sentidos ...139

A hermenêutica e a interpretação do texto literário ...141

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A psicanálise na literatura ...155

Os principais conceitos da psicanálise ...155

A leitura e a interpretação psicanalítica ...158

Os teóricos e os críticos psicanalíticos ...159

A proposta de abordagem da crítica psicanalítica ...160

Literatura comparada ...167

A diversidade dos textos literários no tempo e no espaço ...167

O problema das literaturas nacionais ...169

Estratégias de comparação dos textos literários ...170

Comparar para interpretar ...172

Abordagens da literatura comparada ...173

Principais correntes da crítica contemporânea ...189

Literatura e estudos culturais ...190

Literatura de autoria feminina ...192

Literatura de autoria de minorias étnicas e sexuais ...194

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Apresentação

Muito bem-vindos aos estudos de teoria literária. O interesse na sua formação é o motor principal dos trabalhos que estamos desenvolvendo para que chegue até vocês um material da melhor qualidade e com todas as informações necessárias para facilitar a sua aprendizagem. Temos muito prazer em apresentar este material para os seus estudos. As disciplinas de teoria literária são fundamentais para o aluno do curso de Letras, uma vez que apresentam os conhecimentos básicos sobre o fenômeno li-terário, suas características específicas, suas formas de realização e de avaliação. Ao longo do curso de Letras, vocês estudarão a literatura produzida em vários momen-tos da nossa história, tanto nas comunidades falantes de língua portuguesa como nas de língua estrangeira. Neste sentido, os conhecimentos de teoria literária ajudarão a compreender como se dá a produção, a circulação e a recepção disso que chamamos

literatura.

O material que apresentamos agora está organizado de forma a trazer os conhecimentos básicos sobre os processos de avaliação por que passa a literatura. Essa avaliação é função da crítica literária. Organizamos a sequência de estudos de modo a que fiquem claros os mecanismos culturais e artísticos que colaboram para a existência da literatura como criação artística e também os mecanismos históricos, políticos, culturais e artísticos que concorrem para que possamos dizer qual é o valor de determinado texto literário no tempo e no espaço.

Os capítulos apresentam ao todo 12 tópicos, assim divididos: literatura e crítica literária;



o valor na literatura; 

o panorama da crítica literária no tempo; 

os períodos literários e a crítica biográfica; 

Determinismo e Formalismo; 

a crítica estilística e a nova crítica;  as teorias estruturalistas;  a Sociologia da literatura;  a estética da recepção;  a psicanálise na literatura;  literatura comparada; 

principais correntes da crítica contemporânea. 

A partir do estudo desses tópicos, vocês compreenderão quais as propos-tas de abordagem do texto literário e quais os principais critérios de avaliação que cada proposta estabelece. Com isso, pretende-se que vocês também se tornem analistas e críticos do fenômeno literário.

Silvana Oliveira

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Silvana Oliveira

O objetivo desta aula é estabecer relações entre a produção literária e a crítica que se encarrega de sua interpretação. A literatura ganha sentido no momento em que determinado público especializado dela se ocupa e propõe interpretações e leituras que devem se sustentar nos elementos de composição das obras. Assim, a crítica literária se propõe como uma instituição que valida e, ao mesmo, justifica a existência disto a que cha-mamos literatura. Estudaremos, portanto, as relações existentes entre a produção literária e a produção do discurso crítico sobre a literatura.

O que é literatura: os muitos conceitos

As discussões deste tópico concentram-se no tema teoria literária ou teoria da literatura. São reflexões que têm preocupado o ser humano desde que houve consciência do processo criativo denominado literatura.

O que é literatura?

A pergunta que abre esta aula (O que é literatura?) vem sendo feita há mais de 2 500 anos. Isso mesmo! Não com estas palavras, é claro. Os gregos antigos, por exemplo, já se dedicavam a pensar sobre aquelas ma-nifestações do espírito que não tinham uma função muito clara, como as narrativas contadas de uns para os outros, ou as declamações com temas alegres ou tristes que emocionavam os ouvintes ou ainda as encenações teatrais que tanto interessavam ao público da época.

Platão e Aristóteles foram os pioneiros na tentativa de organizar toda essa produção humana a que hoje damos o nome de literatura. É preciso lembrar que no momento em que os gregos viviam e pensavam a litera-tura as coisas não eram como nós as conhecemos hoje. Obviamente não existia o livro impresso e as manifestações literárias se davam oralmen-te: as narrativas e os poemas eram declamados por homens conhecidos

Literatura e crítica literária

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como aedos ou rapsodos, cuja função era a de fazer circular oralmente – por meio de declamações públicas – essas composições entre o maior número possível de pessoas. O registro que temos dos textos daquela época é bastante posterior ao momento em que eles foram compostos.

As noções sobre o que é literatura variam bastante de acordo com a época, mas não podemos negar que boa parte das ideias de Platão e Aristóteles ainda vale e nos fornece as bases para responder a essa pergunta. Afinal, não podemos esquecer que nossa cultura é herança que recebemos dos gregos antigos.

Como já deve ter ficado claro para todos, estabelecer o conceito de literatura não é nada simples: dependemos de contextos históricos, referências culturais e esforço teórico.

Além disso, fica claro de início que a noção de literatura está diretamente re-lacionada à arte. Pois a literatura é compreendida, de modo geral, como o exer-cício artístico da linguagem.

Muito mais coerente é falar em conceitos de literatura, no plural, porque assim podemos pensar em toda a diversidade da produção artística que se utiliza da linguagem verbal, sem deixar nada de fora.

Sendo assim, vamos a eles, aos conceitos de literatura.

Os muitos conceitos de literatura

Segundo importantes e tradicionais estudiosos como Soares Amora e Hênio Tavares, podemos pensar os conceitos de literatura em dois grandes blocos

his-tóricos, ou seja, em duas Eras – a Clássica e a Moderna.

A Era Clássica vai desde a época de Platão e Aristóteles, os primeiros teóricos da literatura, até o século XVIII; a Era Moderna vai desde o Romantismo até os nossos dias. Algumas pessoas já falam em Era Pós-Moderna, mas essa é uma outra conversa.

Na Era Clássica, primeiramente há uma preocupação em estabelecer um con-ceito relacionado à forma com que a linguagem é utilizada para se dizer que determinada composição é arte literária ou não. Em segundo lugar, os antigos falam no conteúdo quando se estabelece que a arte literária é a arte que cria, pela palavra, uma imitação da realidade.

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Literatura e crítica literária

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Disso podemos concluir que, para os clássicos, ou seja, para os gregos an-tigos, a literatura é um uso especial da linguagem com o objetivo de criar uma imitação da realidade.

Aqui temos três aspectos que merecem destaque. Observe que se trata de um uso da

 linguagem, ou seja, é preciso que uma

determinada língua seja o suporte para a composição da obra que será considerada literatura.

Esse uso especial da

 linguagem é direcionado para a criação, ou seja, a

li-teratura não é como a história, que tem a pretensão de registrar a verdade dos fatos: a literatura cria ficção, pois não está interessada no registro da verdade imediata.

Essa criação se dá na medida em que imita a realidade – aqui temos a ideia 

de imitação (ou mimese, estudada por Aristóteles), estabelecendo que a literatura tenha como referência a imitação da realidade, e isso quer dizer que, mesmo sendo criação, a literatura precisa se referenciar na realidade, imitando-a.

Na Era Moderna, ou seja, a partir dos românticos do século XVIII, a literatura passa a ser compreendida, de maneira mais ampla, como o conjunto da

produ-ção escrita. Isso se deve, principalmente, ao advento da imprensa.1

Funções da literatura

Além do aspecto relacionado ao texto impresso, a partir da Era Moderna a literatura passou a ter uma relação mais direta com a ideia de ficção, de criação, afastando-se um pouco da noção clássica de imitação da realidade.

A figura do artista criador tornou-se muito importante neste período: é da sua mente e da sua intuição que nasce a criação de uma realidade que não pre-cisa estar tão presa à realidade empírica, isto é, a realidade que o senso comum admite como sendo a única.

Podemos dizer que, a partir dessa época, acredita-se que ao artista cabe a visão das coisas como ainda não foram vistas e como são verdadeiramente.

1 Em 1442, Johann Gensfleish Gutenberg (1397-1468) desenvolveu técnicas de impressão em papel.

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O aspecto mais importante dessa noção de literatura é o fato de que a realida-de passa a ser consirealida-derada realida-de múltiplas formas, não é mais possível falar em uma única realidade. Cada artista concebe o mundo a partir da sua subjetividade, da sua intuição e sua obra é um retrato livre dessa interioridade.

No seu livro O Demônio da Teoria, Antoine Compagnon, um dos teóricos mais respeitados hoje em dia, afirma que, “no sentido mais amplo, literatura é tudo o que é impresso (ou mesmo manuscrito), são todos os livros que a biblioteca contém” (COMPAGNON, 2003, p. 31).

O mesmo autor diz ainda que “o sentido moderno de literatura (romance, teatro e poesia) é inseparável do Romantismo, isto é, da afirmação da relativi-dade histórica e geográfica do bom gosto, em oposição à doutrina clássica da eternidade e da universalidade do cânone estético” (COMPAGNON, 2003, p. 32).

Trocando em miúdos, podemos dizer que atualmente a noção de literatura está diretamente ligada à época em que essa mesma literatura foi produzida. O que não foi considerado literatura há 200 anos, hoje pode muito bem ser con-siderado como obra literária: não há mais a crença, como havia na concepção clássica, de que a literatura abrange obras eternas e de valor universal.

Podemos então dizer que a literatura existe em relação à época em que foi produzida e também em relação ao país em que apareceu.

Antoine Compagnon nos lembra que

as definições de literatura, segundo sua função, parecem relativamente estáveis, quer essa função seja compreendida como individual ou social, privada ou pública. Aristóteles falava de katharsis (catarse), ou de purgação, ou de purificação de emoções como o temor e a piedade. É uma noção difícil de determinar, mas ela diz respeito a uma experiência especial das paixões ligada à arte poética. Aristóteles, além disso, colocava o prazer de aprender na origem da arte poética: instruir ou agradar, ou ainda instruir agradando, serão as duas finalidades, ou a dupla finalidade, que também Horácio reconhecerá na poesia, qualificada de dulce et utile. (COMPAGNON, 2003, p. 35)

Devemos concordar que, quanto à função, as definições de literatura são mesmo bastante estáveis. Quando pensamos em para que serve a literatura, ainda recuperamos as ideias de Aristóteles e elas nos servem bastante bem para compreender o fenômeno da arte da palavra.

Entretanto, quanto à sua diversidade, nos nossos dias o conceito de literatura tornou-se bastante problemático, já que temos uma variedade tão grande de produção escrita que qualquer um de nós fica confuso diante do último roman-ce de Paulo Coelho, da sequência de aventuras de Harry Potter ou da biografia de Elvis Presley. Isso tudo é literatura?

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Literatura e crítica literária

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Seria mais fácil se só os livros consagrados, os ditos clássicos fossem conside-rados como literatura, mas não podemos ignorar toda a variedade de produção escrita que circula em ambiente literário. A questão da qualidade dessas obras torna-se, então, urgente. Como saberemos quais são as obras que atendem ao bom uso da linguagem, como rezaram os gregos? Como saberemos quais obras têm valor estético, ou seja, têm beleza artística?

E aí é que entra a teoria, novamente. A reflexão teórica sobre a realização da obra literária poderá nos apontar um Norte no sentido de estabelecer valo-res: valores estéticos, morais, valores de permanência, de ruptura, valores que possam nos autorizar a reconhecer tais obras como manifestações artísticas do humano na palavra.

Funções da teoria literária

Para falar de teoria literária, temos antes que compreender o que é teoria. Po-demos concordar também que, para grande parte dos problemas do dia-a-dia, existe uma série de soluções já testadas e aprovadas por uma maioria de pessoas. Claro que temos de levar em conta que a “maioria” que decide qual a melhor forma de resolver um problema é sempre a maioria que “pode mais”, não é? Há sempre aqueles que não são consultados para dar sua opinião, pois não “podem nada” na ordem do dia. Entre os que podem mais e acabam determinando qual a melhor forma de resolver a maioria dos problemas do cotidiano estão aqueles que têm dinheiro, que têm poder, que sabem falar, escrever e outras coisas mais.

Então, o conjunto de soluções testadas e aprovadas para os problemas vivi-dos em uma sociedade é o que podemos chamar de senso comum, que é uma espécie de acordo que fazemos para viver em sociedade.

Uma pessoa pode passar a vida inteira resolvendo todos os problemas que se apresentam para ela usando aquilo que o senso comum determina. Mas, um belo dia, essa pessoa pode querer pensar um pouquinho mais sobre diferentes formas de resolver problemas na sua vida e aí ela estará se transformando em um teórico!

A partir desse momento, essa pessoa pode não aceitar mais tão facilmente as soluções ditadas pelo senso comum. Ela estará muito interessada em pensar por si mesma e, quem sabe, inventar modos muito originais de enfrentar a realidade.

Vejam que com um exercício livre do pensamento podemos nos transformar em teóricos e pensar sobre a realidade criando teorias sobre ela. Uma teoria,

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como resultado do exercício de pensar sobre a realidade, contestando as ideias já prontas e as soluções já dadas para os problemas que enfrentamos nas várias esferas da vida, precisa ser verificada na realidade.

Quando nos interessamos por pensar e criar teorias, estamos, de várias formas, combatendo preconceitos, pois passaremos a criar conceitos novos, sobre os quais teremos pensado bastante.

Para o teórico Compagnon (2003, p.19), algumas distinções são necessárias. Primeiramente, quem diz teoria pressupõe uma prática, diante da qual uma teoria se coloca, ou diante da qual se elabora uma teoria. Conforme o autor, nas ruas de Gênova, algumas casas trazem este letreiro: “Sala de teoria”. Não se faz aí teoria da literatura, mas ensina-se o código de trânsito – a teoria é, pois, o código da direção.

Diante disso, podemos perguntar: que prática a teoria da literatura codifica, isto é, organiza mais do que regulamente?

Não é, parece, a própria literatura ou a criação literária: a teoria da literatura não ensina a escrever romances ou poemas. Na verdade, a teoria literária estabelece os modos pelos quais os estudos literários podem se organizar. Pode-se dizer, enfim, que a teoria literária instrui os estudos literários ou os estudos da literatura.

A teoria literária é um discurso, ou melhor, uma construção discursiva da qual par-ticipam muitos agentes, dentre os quais se destacam os autores e os leitores. Ela se configura como uma proposta de interpretação do fenômeno literário. Assim, temos diversos movimentos teóricos importantes que buscam dar conta da produção li-terária. É comum dizer que a teoria literária “corre atrás” da produção literária para compreender seus mecanismos de realização do modo mais eficiente possível.

Funções da crítica literária

A crítica literária utiliza-se da teoria literária, e isso significa dizer que a crítica lite-rária precisa da teoria. Vimos que a teoria se configura como uma proposta de inter-pretação da obra literária. A crítica, por sua vez, dirá se essa interinter-pretação é válida, ou seja, se o que a obra diz e o modo como diz são válidos como expressão artística.

Todos nós já nos perguntamos um dia por que Machado de Assis é um autor tão importante na história da literatura. Quem disse que ele é importante? De certa forma, foi a crítica literária que disse isso. É claro que não disse sozinha:

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Literatura e crítica literária

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outras instituições importantes participaram desse julgamento – a escola de Ensino Fundamental e Médio e a universidade.

A crítica literária divide, com a escola e com a universidade, a função de julgar a produção literária de seu tempo e, ao realizar esse julgamento, ela estabele-ce, simultaneamente, o que cada época julga importante em termos artísticos e culturais.

O papel do crítico literário

Segundo Machado de Assis (1999, p. 40), no seu famoso ensaio “O ideal do crítico”, a ciência e a consciência são as duas condições principais para se exercer a crítica. Ainda mais:

a crítica útil e verdadeira será aquela que, em vez de modelar as suas sentenças por um interesse, quer seja o interesse do ódio, quer o da adulação ou da simpatia, procure reproduzir unicamente os juízos da sua consciência. Não lhe é dado defender nem os seus interesses pessoais, nem os alheios, mas somente a sua convicção, e a sua convicção deve formar-se tão pura e tão alta que não sofra a ação das circunstâncias externas. [...] Com tais princípios, eu compreendo que é difícil viver; mas a crítica não é uma profissão de rosas, e se o é, é-o somente no que respeita à satisfação íntima de dizer a verdade. (MACHADO DE ASSIS, p. 40-41)

Na perspectiva de Machado de Assis, o crítico literário é uma espécie de mis-sionário que dirá a verdade, nada mais do que a verdade, sobre determinada obra literária. O papel do crítico é portar-se como um juiz, ou seja, ele deve julgar o valor da obra literária.

Para Antonio Candido, outro crítico literário importante, o papel do crítico pode ser compreendido da seguinte forma:

toda crítica viva – isto é, que empenha a personalidade do crítico e intervém na sensibilidade do leitor – parte de uma impressão para chegar a um juízo. [...] Entre impressão e juízo, o trabalho paciente da elaboração, como uma espécie de moinho, tritura a impressão, subdividindo, filiando, analisando, comparando, a fim de que o arbítrio se reduza em benefício da objetividade, e o juízo resulte aceitável pelos leitores. (CANDIDO, 2000, p. 31)

Além disso, Candido também considera que o crítico deve ser um “árbitro ob-jetivo” capaz de julgar o valor da obra artística por meio de dois mecanismos bá-sicos – a impressão e o juízo. Enquanto Machado de Assis fala em ciência, Antonio Candido fala em impressão, mas precisamos entender que a impressão adequada sobre determinada obra necessita do conhecimento – ou seja, da ciência.

Temos então que o papel do crítico literário é julgar – por meio dos conheci-mentos que a teoria literária estabelece – o valor da obra de literatura.

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Texto complementar

No artigo que você vai ler agora, Machado de Assis apresenta, de forma lúcida e clara, as características da crítica literária brasileira, bem como discute as fun-ções do crítico literário e sua importância para que haja uma produção literária consistente e amadurecida. Leia com atenção, pois o texto vai ajudar na compre-ensão de muitos conceitos discutidos nesta aula.

Ideal do crítico

(MACHADO DE ASSIS, 1999)

Exercer a crítica afigura-se a alguns que é uma fácil tarefa, como a outros parece igualmente fácil a tarefa do legislador; mas, para a representação literária, como para a representação política, é preciso ter alguma coisa mais que um sim-ples desejo de falar à multidão. Infelizmente é a opinião contrária que domina, e a crítica, desamparada pelos esclarecidos, é exercida pelos incompetentes.

São óbvias as consequências de uma tal situação. As musas, privadas de um farol seguro, correm o risco de naufragar nos mares sempre desconheci-dos da publicidade. O erro produzirá o erro; amortecidesconheci-dos os nobres estímulos, abatidas as legítimas ambições, só um tribunal será acatado, e esse, se é o mais numeroso, é também o menos decisivo. O poeta oscilará entre as sentenças mal concebidas do crítico e os arestos caprichados da opinião; nenhuma luz, nenhum conselho, nada lhe mostrará o caminho que deve seguir – e a morte próxima será o prêmio definitivo das sua fadigas e das suas lutas.

Chegamos já a estas tristes consequências? Não quero proferir um juízo, que seria temerário, mas qualquer [um] pode notar com que largos interva-los aparecem as boas obras, e como são raras as publicações seladas por um talento verdadeiro. Quereis mudar esta situação aflitiva? Estabelecei a crítica, mas a crítica fecunda, e não a estéril, que nos aborrece e nos mata, que não reflete nem discute, que abate por capricho ou levanta por vaidade; estabe-lecei a crítica pensadora, sincera, perseverante, elevada – será esse o meio de reerguer os ânimos, promover os estímulos, guiar os estreantes, corrigir os talentos feios; condenai o ódio, a camaradagem e a indiferença – essas três chagas da crítica de hoje –, ponde em lugar deles a sinceridade, a solicitude e justiça – é só assim que teremos uma grande literatura.

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Literatura e crítica literária

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É claro que essa crítica, destinada a produzir tamanha reforma, deve-se exigir as condições e as virtudes que faltam à crítica dominante – e para melhor definir o meu pensamento, eis o que eu exigiria no crítico do futuro.

O crítico atualmente aceito não prima pela ciência literária; creio até que uma das condições para desempenhar tão curioso papel é despreocupar-se de todas as questões que entendem com o domínio da imaginação. Outra, entretanto, deve ser a marcha do crítico; longe de resumir em duas linhas – cujas frases já o tipógrafo as tem feitas – o julgamento de uma obra, cumpre-lhe meditar profundamente sobre ela, procurar-lhe o sentido íntimo, aplicar-lhe as leis poéticas, ver enfim até que ponto a imaginação e a verdade conferenciaram para aquela produção. Deste modo, as conclusões do crítico servem tanto à obra concluída como à obra em embrião. Crítica é análise – a crítica que não analisa é a mais cômoda, mas não pode pretender a ser fecunda.

Para realizar tão multiplicadas obrigações, compreendo eu que não basta uma leitura superficial dos autores, nem a simples reprodução das impres-sões de um momento, pode-se, é verdade, fascinar o público, mediante uma fraseologia que se emprega sempre para louvar ou deprimir; mas no ânimo daqueles para quem uma frase nada vale, desde que não traz uma ideia, esse meio é impotente, e essa crítica negativa.

Não compreendo o crítico sem consciência. A ciência e a consciência, eis as duas condições principais para exercer a crítica. A crítica útil e verdadeira será aquela que, em vez de modelar as suas sentenças por um interesse, quer seja o interesse do ódio, quer o da adulação ou da simpatia, procure repro-duzir unicamente os juízos da sua consciência. Ela deve ser sincera, sob pena de ser nula. Não lhe é dado defender nem os seus interesses pessoais, nem os alheios, mas somente a sua convicção, e a sua convicção deve formar-se tão pura e tão alta que não sofra a ação das circunstâncias externas. Pouco lhe deve importar as simpatias ou antipatias dos outros; um sorriso compla-cente, se pode ser recebido e retribuído com outro, não deve determinar, como a espada de Breno, o peso da balança; acima de tudo, dos sorrisos e das desatenções, está o dever de dizer a verdade, e em caso de dúvida, antes calá-la, que negá-la.

Com tais princípios, eu compreendo que é difícil viver; mas a crítica não é uma profissão de rosas, e se o é, é-o somente no que respeita à satisfação íntima de dizer a verdade.

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Das duas condições indicadas acima decorrem naturalmente outras, tão necessárias como elas, ao exercício da crítica. A coerência é uma dessas con-dições, e só pode praticá-la o crítico verdadeiramente consciencioso. Com efeito, se o crítico, na manifestação de seus juízos, deixa-se impressionar por circunstâncias estranhas às questões literárias, há que cair frequentemente na contradição, e os seus juízos de hoje serão a condenação das suas aprecia-ções de ontem. Sem uma coerência perfeita, as suas sentenças perdem todo o vislumbre de autoridade, e abatendo-se à condição de ventoinha, movida ao sopro de todos os interesses e de todos os caprichos, o crítico fica sendo unicamente o oráculo dos seus inconscientes aduladores.

O crítico deve ser independente – independente em tudo e de tudo –, in-dependente da vaidade dos autores e da vaidade própria. Não deve curar de inviolabilidades literárias, nem de cegas adorações; mas também deve ser inde-pendente das sugestões do orgulho, e das imposições do amor-próprio. A pro-fissão do crítico deve ser uma luta constante contra todas essas dependências pessoais, que desautoram os seus juízos, sem deixar de perverter a opinião. Para que a crítica seja mestra, é preciso que seja imparcial – armada contra a insu-ficiência dos seus amigos, solícita pelo mérito dos seus adversários –, e neste ponto a melhor lição que eu poderia apresentar aos olhos do crítico seria aquela expressão de Cícero, quando César mandava levantar as estátuas de Pompeu:

– É levantando as estátuas do teu inimigo que tu consolidas as tuas pró-prias estátuas.

A tolerância é ainda uma virtude do crítico. A intolerância é cega, e a ce-gueira é um elemento do erro; o conselho e a moderação podem corrigir e encaminhar as inteligências; mas a intolerância nada produz que tenha as condições de fecundo e duradouro.

É preciso que o crítico seja tolerante, mesmo no terreno das diferenças de escola: se as preferências do crítico são pela escola romântica, cumpre não condenar, só por isso, as obras-primas que a tradição clássica nos legou, nem as obras meditadas que a musa moderna inspira; do mesmo modo devem os clássicos fazer justiça às boas obras daqueles. Pode haver um homem de bem no corpo de um maometano, pode haver uma verdade na obra de um realista. A minha admiração pelo Cid não me fez obscurecer as belezas de Ruy Blas. A crítica que, para não ter o trabalho de meditar e aprofundar, se limitasse a uma proscrição em massa, seria a crítica da destruição e do aniquilamento.

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Literatura e crítica literária

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Será necessário dizer que uma das condições da crítica deve ser a urbanidade? Uma crítica que, para a expressão das suas ideias, só encontra fórmulas ásperas pode perder as esperanças de influir e dirigir. Para muita gente será esse o meio de provar independência; mas os olhos experimentados farão muito pouco caso de uma independência que precisa sair da sala para mostrar que existe.

Moderação e urbanidade na expressão, eis o melhor meio de convencer; não há outro que seja tão eficaz. Se a delicadeza das maneiras é um dever de todo homem que vive entre homens, com mais razão é um dever do crítico, e o crítico deve ser delicado por excelência. Como a sua obrigação é dizer a verdade, e dizê-la ao que há de mais suscetível neste mundo, que é a vaida-de dos poetas, cumpre-lhe, a ele sobretudo, não esquecer nunca esse vaida-dever. De outro modo, o crítico passará o limite da discussão literária, para cair no terreno das questões pessoais; mudará o campo das ideias, em campo de pa-lavras, de doestos, de recriminações – se acaso uma boa dose de sangue frio, da parte do adversário, não tornar impossível esse espetáculo indecente.

Tais são as condições, as virtudes e os deveres dos que se destinam à aná-lise literária; se a tudo isto juntarmos uma última virtude, a virtude da perse-verança, teremos completado o ideal do crítico.

Saber a matéria em que fala, procurar o espírito de um livro, descarná-lo, aprofundá-descarná-lo, até encontrar-lhe a alma, indagar contentemente as leis do belo, tudo isso com a mão na consciência e a convicção nos lábios, adotar uma regra definida, a fim de não cair na contradição, ser franco sem aspere-za, independente sem injustiça, tarefa nobre é essa que mais de um talento podia desempenhar, se se quisesse aplicar exclusivamente a ela. No meu en-tender é mesmo uma obrigação de todo aquele que se sentir com força de tentar a grande obra da análise conscienciosa, solícita e verdadeira.

Os resultados seriam imediatos e fecundos. As obras que passassem do cérebro do poeta para a consciência do crítico, em vez de serem tratadas conforme o seu bom ou mau humor, seriam sujeitas a uma análise severa, mas útil; o conselho substituiria a intolerância, a fórmula urbana entraria no lugar da expressão rústica – a imparcialidade daria leis, no lugar do capricho, da indiferença e da superficialidade.

Isto pelo que respeita aos poetas. Quanto à crítica dominante, como não se poderia sustentar por si, ou procuraria entrar na estrada dos deveres

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fíceis, mas nobres, ou ficaria reduzida a conquistar de si própria os aplausos que lhe negassem as inteligências esclarecidas.

Se esta reforma, que eu sonho, sem esperanças de uma realização próxi-ma, viesse mudar a situação atual das coisas, que talentos novos! Que novos escritos! Que estímulos! Que ambições! A arte tomaria novos aspectos aos olhos dos estreantes; as leis poéticas – tão confundidas hoje, e tão capricho-sas – seriam as únicas pelas quais se aferisse o merecimento de produções – e a literatura, alimentada ainda hoje por algum talento corajoso e bem en-caminhado, veria nascer para ela um dia de florescimento e prosperidade. Tudo isso depende da crítica. Que ela apareça, convencida e resoluta – e a sua obra será a melhor obra dos nossos dias.

Estudos literários

1. Considere a noção de mimese como os clássicos a concebiam e assinale a alternativa correta.

a) Mimese significa o ato da criação literária.

b) A realidade era concebida pelos clássicos como mimese.

c) Mimese e arte literária são sinônimos.

d) A mimese não é um requisito para a criação literária.

e) A imitação da realidade consiste na mimese.

2. Assinale a alternativa que corresponde à função da teoria literária.

a) Orientar a produção literária.

b) Regrar o modo como os escritores devem produzir.

c) Interpretar a produção literária de cada época.

d) Propor julgamento para a produção literária.

e) Estabelecer os limites da produção literária.

(23)

Literatura e crítica literária

23

3. Quais as instituições que promovem o julgamento da obra literária?

(24)
(25)

Literatura e crítica literária

1. E

2. C

3. A crítica literária, a escola de Ensino Fundamental e Médio e a univer-sidade.

Gabarito

Referências

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