“O Arco Sudoeste e a expansão do Aeroporto de Viracopos:
Unidades de Paisagem na Área de Planejamento – AP 23 situada
na Macrozona 4 – Área de Urbanização Consolidada.”
Giovanna Fiorante Pizzol Prof. Dr. Wilson R. dos Santos JúniorFaculdade de Arquitetura e Urbanismo Grupo de pesquisa: Requalificação Urbana CEATEC PUC-Campinas CEATEC PUC-Campinas
giovanna.fp1@puccampinas.edu.br wilson@puc-campinas.edu.br
Resumo: Este Plano de Trabalho de Iniciação Cientí-fica teve como fundamento a análise das relações entre os sistemas de espaços livres e a forma urbana em territórios da Região Metropolitana de Campinas. O trabalho apresentou como objeto de estudo o ve-tor terrive-torial que compreende as áreas situadas no entorno da complementação do anel rodoviário ex-terno (Arco Sudoeste), que dará continuidade ao A-nel Rodoviário Magalhães Teixeira interligando a ro-dovia Anhanguera com a Roro-dovia Bandeirantes e Santos Dumont e com a Macrozona 7, designada como Área de Influencia Aeroportuária do Aeroporto Internacional de Viracopos pelo Plano Diretor Partici-pativo 2006 da Prefeitura Municipal de Campinas. Pretende-se mapear e identificar as unidades de pai-sagens como subsídio para a discussão da forma urbana. O conceito de Unidade de Paisagem é atri-buído aos recortes territoriais que apresentam homo-geneidade de configuração, caracterizados pela simi-laridade dos parâmetros pré-definidos de elementos definidores da paisagem. Foram estudados os recor-tes territoriais situados ao longo da extensão do Arco Sudoeste e da Área de influencia Aeroportuária, to-mando como referencia as unidades de planejamen-to utilizadas pela Prefeitura Municipal de Campinas e identificadas como APs - Áreas de Planejamento. Neste Plano de Trabalho serão identificadas as Uni-dades de Paisagem existentes na Área de Planeja-mento – AP 23 situada na Macrozona 4 – Área de Urbanização Consolidada com o objetivo de elaborar cartas temáticas sobre: padrões do tecido urbano; cobertura arbórea urbana e viária; dinâmica ambien-tal: confrontando a ocupação urbana/mancha urbana; espaços ocupados por assentamentos residenciais, loteamentos fechados e condomínios de grande por-te (mais de um hectare); espaços ocupados por e-quipamentos de grande porte ; sistema rodoviário e urbano.
Palavras-chave: Sistemas de espaços livres, Arco Sudoeste, Unidades de Paisagens.
Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas – Arquitetura e Urbanismo –Paisagismo- CNPq.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste Plano de Trabalho de Iniciação Ci-entífica foi analisar a relação da forma urbana com os espaços livres, através de estudos comparativos dos diferentes tipos de urbanização estudados, ob-servando os padrões de densidades de ocupação, tipologias, implantação nos lotes, usos previstos e mobilidade na área de influência da expansão do Anel Viário Magalhães Teixeira.
A metodologia adotada para a realização do presente trabalho consistiu em diferentes abordagens de estu-do, tanto na escala metropolitana quanto na escala local, as quais se dividiram em pesquisa histórica, a fim de contextualizar a região em estudo, os fatores da urbanização e análises críticas e comparativas, a fim de entender o processo de crescimento da Regi-ão Metropolitana de Campinas (RMC).
Foi estudado primeiramente o processo de urbaniza-ção de Campinas, analisando em seguida uma das regiões que mais possui espaços livres com grande potencial de transformação, com enfoque na urbani-zação contemporânea, dispersa e fragmentada. Esse estudo foi desenvolvido a partir de revisões bibliográ-ficas, análises cartográficas e levantamentos de da-dos sobre a área, sobretudo junto à Prefeitura Muni-cipal de Campinas, EMPLASA SA e AGENCAMP.
2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O fato do objeto de estudo se localizar no eixo estra-tégico Anhanguera, encontrar-se inserido em um sis-tema de espaços livres, estar diretamente em contato com o Aeroporto Internacional de Viracopos, alvo de investimentos do Governo Federal, e abrigar
diferen-2 tes tipos de paisagens urbanas, fazem dele um
cená-rio de reflexão, onde podem ser discutidas as diretri-zes de utilização dos espaços livres e as políticas de urbanização, diante do desenvolvimento da configu-ração sócio espacial de Campinas.
A área em estudo localiza-se na Macrozona 4, Zona de Urbanização Consolidada, onde estão os bairros com maior intensidade de ocupação e verticalização, apresentando diferentes graus de adensamentos e diversificação de usos. É dividida em 16 áreas de planejamentos, sendo a AP 23 a estudada.
É caracterizada por ocupações consolidadas e gle-bas não ocupadas, conta, além disso, com um sis-tema viário descontínuo com barreiras físicas, como a rodovia e a ferrovia desativada. Esses espaços livres vêm sendo pressionados pela urbanização con-temporânea e pela expansão do Aeroporto Interna-cional de Viracopos.
A partir do estudo realizado foram encontradas ocu-pações como o Parque Oziel, o condomínio Swiss Park e alguns bairros contemporâneos lindeiros à rodovia Santos Dumont, além das áreas industriais e comerciais, impulsionadas pelo Aeroporto.
De acordo com o Plano Diretor de Campinas de 2006 a AP 23 encontra-se com mais de 50% de sua área fora do perímetro urbano de Campinas e com o segundo maior índice de lotes vagos dentro do perí-metro urbano, onde hoje temos o Parque Oziel e par-te do Swiss Park, uma vez que sua outra parpar-te en-contra-se fora do perímetro urbano. Esses fatores nos mostram o quão recente são essas ocupações tão imponentes. Outro fator muito importante é que o uso real do solo proposto pelo Plano Diretor de 2006 é diferente do existente, pois o local onde está im-plantado o condomínio fechado de alto padrão Swiss Park destinava-se às áreas públicas ligadas à saúde e educação.
3. ESTUDO DE CASO: OS MODELOS URBANÍSTI-COS, OS ESPAÇOS LIVRES PRESSIONADOS PELA URBANIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA E A EXPANSÃO DO AEROPORTO DE VIRACOPOS.
Como metodologia de estudo essa área foi caracteri-zada como um Compartimento de Paisagem que foi dividido em unidades de paisagem para comparar e diferenciar características, utilizando como critérios o desenho urbano, tipologias, usos e espaços livres. Além destes foram utilizados outros critérios que le-varam às subunidades, como as análises da quadra, lote/edifício/recuos, sistema viário, arborização, es-paços públicos, produção de habitação e tipo de ur-banização, proporcionando um detalhamento em ou-tra escala (MAGNOLI, 1997) [1]. Define-se aqui uma
‘macrounidade’ denominada Compartimento de Pai-sagem, que contém as Unidades de Paisagem espe-cíficas. Nosso objetivo na criação do termo é apenas deixar clara a necessidade de relacionar as escalas trabalhadas, uma vez que o trabalho apresenta uma dimensão metropolitana. Pode-se afirmar que ao menos quatro escalas foram trabalhadas para a compreensão do recorte estudado: a) Escala Metro-politana; b) Escala dos Compartimentos de Paisa-gem; c) Escala das Unidades de Paisagem e d) Es-cala de Intervenção Local. (TANGARI, Vera; MANETTI, Claudio; MAGALHÃES, Jonathas, 2011) [2].
Figura 1 – Unidades de Paisagem- Cinza- Unidade 01, Branco- Unidade 02, Azul- Unidade 03, Roxo- Unidade 04,
Rosa- Unidade 05 e Verde- Unidade 06. Fonte: Google Ear-th modificado pela autora.
A Unidade 01 refere-se à urbanização tradicional, com malha urbana conectada, retilínea e ortogonal. A Unidade 02 refere-se à transição da urbanização tra-dicional para urbanização contemporânea, são bair-ros com uma malha urbana conectada com a exis-tente, porém essa não é mais retilínea e ortogonal. Já a Unidade 03 refere-se à área industrial instalada às margens da Rodovia Santos Dumont. A Unidade 04 refere-se à urbanização contemporânea dispersa, pois tem uma continuidade entre si, porém desconec-tada da malha urbana existente. Enquanto a Unidade 05 refere-se à urbanização contemporânea dispersa
3 e fragmentada, apresentando aglomerações
disper-sas e desconectadas, tendo acesso único pelas Ro-dovias.
Estudando as características das Unidades de Pai-sagens, identificamos na Unidade de Paisagem 01 (Figura 2), quadras retangulares grandes de 200 X 60m, com ruas pavimentadas de aproximadamente 7m com sentido duplo e caçadas de 2m. Predomi-nantemente com residências unifamiliares, com ga-barito de 3m (térreo) e pouco arborizado. Os lotes têm em média 12,50 x 30m.
Figura 2–Unidade de Paisagem 01. Fonte: Google Earth modificado pela autora.
Figura 3- Unidade de Paisagem 01.Fonte: Google Earth modificado pela autora.
Na Unidade de Paisagem 02 (Figura 4), identificamos quadras com formatos orgânicos e trapezoidais me-dindo 200 x 60m em média, ruas pavimentadas de sentido duplo com 6,50m e calçadas pouco arboriza-das com aproximadamente 3m. Os lotes medem em média 10 x 30m, possuem gabarito de 3m (residên-cias unifamiliares térreas) e começam a aparecer espaços residuais, ou seja, lotes sem edificações.
Figura 4 -Unidade de Paisagem 02. Fonte: Google Earth modi-ficado pela autora.
Figura 5 -Unidade de Paisagem 02.Fonte: Google Earth modifi-cado pela autora.
Na Unidade de Paisagem 03 (Figura 6) identi-ficamos quadras margeadas pela Rodovia Santos Dumont com aproximadamente 150 x 70m. As mar-ginais da Rodovia têm aproximadamente 8m com calçadas pavimentadas de 3m, enquanto as vias lo-cais têm 7m com calçadas de 2m, Ambas de sentido duplo.
Figura 6- Unidade de Paisagem 03. Fonte: Google Earth modifi-cado pela autora.
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Figura 7- Unidade de Paisagem 03. Fonte: Google Earth modi-ficado pela autora.
Na Unidade de Paisagem 04 (Figura 8) encontramos loteamentos irregulares de baixa e de alta renda. Respectivamente o Parque Oziel/Monte Cristo e o Condomínio Swiss Park. O Parque Oziel, às margens da Rodovia Santos Dumont, mesmo sendo loteamen-to irregular de baixa renda, organiza-se seguindo al-guns padrões da urbanização tradicional das Unida-des 01 e 02, como por exemplo, o tamanho das qua-dras de aproximadamente 30 x 150m.Porém a forma deixa de ser retangular, se aproximando da Unidade 02, com formas orgânicas. Algumas ruas são pavi-mentadas, com aproximadamente 6m e calçadas com 1,50m. Unidade de Paisagem densa, com ‘lotes’ de 10x10m.
Figura 8 - Unidade de Paisagem 04 – Oziel. Fonte: Google Earth modificado pela autora.
Figura 9 -Unidade de Paisagem 04 – Oziel. Fonte: Google Earth modificado pela autora.
Já o Swiss Park é um condomínio de alto padrão, pouco denso, com quadras de aproximadamente 220 x 70m e lotes de 15 x 35m. As residências são de dois pavimentos com 04 habitantes em média. Seu acesso se dá exclusivamente pela Rodovia Anhan-guera e possui área de lazer própria. Além disso, em suas vias de acesso, encontramos comércios e ser-viços de pequeno porte.
Figura 10 - Unidade de Paisagem 04 – Swiss Park Fonte: Google Earth modificado pela autora.
Figura 11- Unidade de Paisagem 04 – Swiss Park Fonte: Google Earth modificado pela autora.
5 Na Unidade de Paisagem 05 (Figura 12)encontramos
quadras com aproximadamente 90 x 300m e lotes com 20 x 30m. As ruas não são pavimentadas e têm 5m de largura. Nessa área há uma grande quantida-de quantida-de lotes vazios e abandonados. Região próxima ao Parque Oziel e ao Swiss Park, com população de baixa e média renda.
Figura 12 - Unidade de Paisagem 05 – Fonte: Google Earth modificado pela autora.
Figura 13 - Unidade de Paisagem 05 – Fonte: Google Earth modificado pela autora.
Já a Unidade de Paisagem 06(Figura 14) refere-se ao Sistema de Espaços Livres presente nessa região, os quais são áreas pressionadas pela expansão ur-bana, primeiramente pela boa localização diante das principais Rodovias e atualmente pela expansão do Aeroporto de Viracopos, com a expansão do Anel Viário Magalhães Teixeira. Essa região agrícola, ao que tudo indica, poderá ser fragmentada pela conti-nuação do Anel Viário, o que fez com que o mercado imobiliário despertasse grande interesse em atuar nessas regiões. Em alguns estudos realizados, ima-ginamos que às margens das Rodovias seriam insta-ladas indústrias, comercio e hotelaria, e nas áreas próximas das já consolidadas, seriam instalados em-preendimentos residenciais. Esse modelo de urbani-zação visa somente lucros, deixando de lado o plane-jamento urbanístico.
Figura 14 - Unidade de Paisagem 06 – Fonte: Google Earth modificado pela autora.
A área de estudo está localizada na Macrozona 4 - Área de Planejamento 23, englobando as Unidades Territoriais – UTBs 59 (Vila Pompéia e Jardim do Lago), 64 (Jardim Bandeiras e Jardim São José, com previsão de implantação de um Parque Público Te-mático Botânico pelo Plano Diretor de 2006) e 65 (Jardim Nova Mercedes).
A AP 23 é caracterizada pela ocupação consolidada, com glebas não urbanizadas. Abriga o Campinas Shopping Center, o Hipermercado Big e o Hotel The Royal Palm Plaza. O Sistema viário local é adequado à demanda, porém descontinuo, e o transporte cole-tivo é adequado à demanda, mas com pontos de conflito em função das características do sistema viário. As ocupações predominantes da área são ha-bitações populares, serviços e comércios, apenas em 2010 foi aprovado o loteamento residencial de mé-dia/alta renda Swiss Park. A MZ 4 é caracterizada por englobar a área urbana mais extensa do municí-pio, apresentando graus e tipos de urbanização muito diversos. Inclui a região central, bairros com grande verticalização de média e alta renda, bairros residen-ciais bastante consolidados, áreas vagas, áreas em processo de urbanização, áreas de ocupação mais popular, situadas principalmente entre as Rodovias Anhanguera e Bandeirantes, e um grande número de favelas. Em 2000, essa Macrozona abrigava cerca de 600 mil habitantes, 62% da população do município, sendo 55 mil residentes em favelas, isto é, 44% da população em subhabitação do município.
Convém-se concluir que as UTBs 59, 64 e 65 estão corretamente classificadas, pois delimitam e organi-zam diferentes modelos urbanísticos. Estão correta-mente inseridas na AP 23, a qual é responsável pela forte relação existente entre esses bairros, e por fim, estão corretamente inseridas na MZ 4, a qual tem algumas características controversas à AP 23, mas
6 tem três principais características em comum: a
loca-lização, expansão e recuperação urbana.
Nosso papel como arquitetos e urbanistas, é propor novas soluções, modelos de urbanizações, projetos a longo prazo, como por exemplo, espaços livres públicos que possam assumir caráter de par-que público, com áreas destinadas à reserva de água e equipamentos destinados à saúde e lazer. Aten-dendo, assim, às necessidades da população caren-te da região e fazendo a incaren-tegração social de todas as classes sociais. Outra proposta seria a preserva-ção dos cursos d’água já existentes no local, com a implantação de um Parque Linear acompanhado de uma ciclovia ou algum meio de transporte público que consiga atravessar as Rodovias, ligando as ex-tremidades de Campinas e suprindo as necessidades dessa região. É necessário um plano de desenvolvi-mento para essa área, um controle de crescidesenvolvi-mento e urbanização, a fim de valorizar e preservar a região.
O modelo urbanístico brasileiro advém do sistema capitalista e encontra-se ainda demarcado pela cultura e mentalidade senhorial,. O Brasil ainda tem a visão da escravidão, onde o trabalhador existe para produzir e não para consumir e movimentar a economia.. Queremos construir a 8ª economia indus-trial do mundo, deixando para trás a questão social. Investimos em estradas, energia, subsídios, financi-amentos, mas em momento algum fizemos uma re-volução educacional. (BACELAR, TÂNIA; 2012) [3].
Neste sentido o planejamento urbano deve propor a integração de entes administrativos estimu-lando a participação popular na abordagem das questões territoriais e setoriais e na definição de , políticas de desenvolvimentos integradas e específi-cas, relacionando município, estado e união e man-tendo se atento às necessidades das comunidades locais.
1. AGRADECIMENTOS
Agradeço ao orientador Prof. Dr. Wilson R. dos San-tos Junior, pela oportunidade e pela confiança, além do aprendizado nesses anos de trabalho. Agradeço também aos colegas de pesquisa; ao CNPq pelo a-poio da Bolsa IC PIBIC; à FAPESP pelo aa-poio ao Projeto temático OS SISTEMAS DE ESPAÇOS LIVRES NA CONSTITUIÇÃO DA FORMA URBANA CONTEMPORÂNEA NO BRASIL: PRODUÇÃO E APROPRIAÇÃO – QUAPÁ-SEL II, ao qual a pesqui-sa em andamento é contributiva.
2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1]- MAGNOLI, Miranda M.E.M. Espaços livres e ur-banização: uma introdução a aspectos da paisagem metropolitana. 1982. Tese (Livre-docência) – Facul-dade de Arquitetura e Urbanismo, UniversiFacul-dade de São Paulo, São Paulo.
[2]- TANGARI, Vera; MANETTI, Cláudio; MAGA-LHÃES, Jonathas. “Compartimentos e Unidades de Paisagem: Método de leitura da paisagem aplicado à linha férrea. QUAPÁ-SEL II.
[3]- BACELAR, TÂNIA. ‘’ Como funciona a máquina da desigualdade no Brasil’’ Julho, 2012. Artigo publi-cado no Le Monde Diplomatique.