Filme: Velha História
Gênero: AnimaçãoDiretor: Claudia Jouvin Ano: 2004
Duração: 6 min Cor: Colorido Bitola: 35mm País: Brasil
Disponível no Porta Curtas:
www.portacurtas.com.br/curtanaescola/Filme.asp?Cod=1893 Aplicabilidades em Educação
Comentários de Marilene Lima 1 Como pensar e sentir a temática da amizade: estruturada na narrativa como metáfora para se pensar a atitude do homem para com o meio? Qual é a história psicológica do personagem humano e como ele se relaciona, através de sua solidão, com os seres que o cercam? Quais cuidados dispensa ao personagem "peixe" e quais pistas sinaliza como sendo suas necessidades de cuidado? Quais lugares e espaços são preenchidos pela companhia do amigo "peixe"? O que nos "dizem" as cenas do Vídeo sobre a história psicológica do personagem humano e suas relações inter pessoais? Onde ele toma café - acompanhado por seu novo amigo?
Como o Vídeo mostra a relação do personagem humano com as pessoas e suas possibilidades de vida social? Que angústias estão implícitas na busca da relação com seu amigo "peixe" - que parece não ser nominado justamente como reflexo de sua defesa frente a possíveis futuras rupturas e despedidas ?
Como o poema enfoca ludicamente o olhar do personagem humano frente à sobrevivência de seu amigo, suas escolhas, sua convivência familiar, projetando neste, suas necessidades e querenças acerca de suas próprias relaçoões interpessoais? Como essas preocupações aparecem em seu diálogo final com seu amigo "peixe"?
O que faz o personagem humano com o peixe, a partir de suas escolhas e conclusões "solitárias" que anunciam o final trágico-cômico para essa relação? O que pode ser depreendido a partir de sua atitude para com seu amigo e sua história de solidão? Pode-se dizer que ele, no ímpeto de fazer o bem, decide, sozinho e, por esse motivo acaba por fazer o mal? O que afasta seus intentos proclamados de um final feliz? Teria sido diferente o final anunciado caso houvesse diálogo antes das atitudes empreendidas?
Considerações Metodológicas:
A partir do uso do vídeo em tela pode-se:
conversar sobre a vida, sobre o que nossas relações e emoções;
refletir sobre o papel do ser humano sobre sua vida e demais seres (humanos ou não);
clarificar valores sobre maneiras de viver as relações: saber ser, saber conviver, saber fazer;
exercitar novas maneiras de pensar situações cotidianas, experimentando novos pontos de vista, possibilidades de empatia (colocar-se no lugar do outro) num exercício de auto-centração, exteropercepção, reconhecendo o lugar do outro em nossa vida e o nosso sem sua vida.
Este curta me fez sentir e chorar... Não só pelo final trágico mas por todo seu enredo intrapsíquico com apelos elaborativos das possibilidades de relação eu-mundo, eu-comigo, eu-outro (singular). Fez-me refletir sobre o tempo e o desejo do outro, sobre o exercício de des-centração e sobre a necessidade de afloramento emocional, desencadeada pelo laço da amizade criada, recheada pela insegurança da perda e culminada pela perda real que, se quisermos, pode reverter em novo olhar para o mundo e suas múltiplas possibilidades de relações.
Convido você educador ou jovem a sentir sua vida e refletir suas relações a partir desse maravilhoso, delicado e inusitado curta. Você encontrará nele razões que só o coração conhece e possibilidades de vir-a-ser que só o amor incondicional é capaz de concretizar.
Níveis de Ensino: Ensino Fundamental II (Regular e Supletivo); Ensino Médio; Formação de Professores
Disciplinas/ Temas Transversais: Língua Portuguesa; Meio Ambiente e Saúde; Psicologia.
Objetivos de Aprendizagem:
Refletir sobre o tema da relação entre o homem e a natureza: sua responsabilidade para com o meio ambiente e sua vida diária; seus hábitos e suas atitudes para com o meio e consigo mesmo; suas questões intrínsecas e sensibilidade de percepção acerca das necessidades e desejos alheios.
Situações didáticas sugeridas:
Propor a re-leitura do curta / poema a partir de sua prória história de vida e criação de novo desfecho;
Propor que façam uma animação de sua própria produção;
Propor que leiam ao texto de Carlos Drumond de Andrade (1902-1987) - abaixo - e estabeleçam relação entre:
a) o curta e esse novo texto,
b) sobre o olhar dos dois poetas/escritores modernistas Andrade e Quintana (1906-1994) e suas formas de produção, c) sobre a mensagem transmitida pelos dois autores.
Anexo:
Da utilidade dos animais*
Carlos Drummond de Andrade
Terceiro dia de aula. A professora é um amor. Na sala, estampas coloridas mostram animais de
todos os feitios. É preciso querer bem a eles, diz a professora, com um sorriso que envolve toda
a fauna, protegendo-a. Eles têm direito à vida, como nós, e além disso são muito úteis. Quem não
sabe que o cachorro é o maior amigo da gente? Cachorro faz muita falta. Mas não é só ele, não.
A galinha, o peixe, a vaca… Todos ajudam.
— Aquele cabeludo ali, professora, também ajuda?
— Aquele? É o iaque, um boi da Ásia Central. Aquele serve de montaria e de burro de carga.
Do pêlo se fazem perucas bacaninhas. E a carne, dizem que é gostosa.
— Mas se serve de montaria, como é que a gente vai comer ele?
— Bem, primeiro serve para uma coisa, depois para outra.Vamos adiante. Este é o texugo. Se
vocês quiserem pintar a parede do quarto, escolham pincel de texugo. Parece que é ótimo.
— Ele faz pincel, professora?
— Quem, o texugo? Não, só fornece o pêlo. Para pincel de barba também, que o Artuzinho vai
usar quando crescer.
Artuzinho objetou que pretende usar barbeador elétrico.Além do mais, não gostaria de pelar o
texugo, uma vez que devemos gostar dele, mas a professora já explicava a utilidade do canguru:
— Bolsas, malas, maletas, tudo isso o couro do canguru dá pra gente. Não falando na carne.
Canguru é utilíssimo. — Vivo, fessora?
— A vicunha, que vocês estão vendo aí, produz… produz é maneira de dizer, ela fornece, ou por
outra, com o pêlo dela nós preparamos ponchos, mantas, cobertores etc.
— Depois a gente come a vicunha, né fessora?
— Daniel, não é preciso comer todos os animais. Basta retirar a lã da vicunha, que torna a crescer…
— E a gente torna a cortar? Ela não tem sossego, tadinha.
— Vejam agora como a zebra é camarada.Trabalha no circo, e seu couro listrado serve para
forro de cadeira, de almofada e para tapete.Também se aproveita a carne, sabem?
— A carne também é listrada? Pergunta que desencadeia riso geral. — Não riam da Betty, ela é uma garota que quer saber direito as coisas. Querida, eu nunca vi
carne de zebra no açougue, mas posso garantir que não é listrada. Se fosse, não deixaria de ser
comestível por causa disso.
— Ah, o pingüim? Este vocês já conhecem da praia do Leblon, onde costuma aparecer, trazido
pela correnteza. Pensam que só serve para brincar? Estão enganados.Vocês devem respeitar
o bichinho. O excremento – não sabem o que é? O cocô do pingüim é um adubo maravilhoso:
— A senhora disse que a gente deve respeitar. — Claro. Mas o óleo é bom.
— Do javali, professora, duvido que a gente lucre alguma coisa. — Pois lucra. O pêlo dá escovas de ótima qualidade.
— E o castor?
— Pois quando voltar a moda do chapéu para homens, o castor vai prestar muito serviço.Aliás, já
presta, com a pele usada para agasalhos. É o que se pode chamar um bom exemplo.
— Eu, hem?
— Dos chifres do rinoceronte, Belá, você pode encomendar um vaso raro para o living de sua
casa. Do couro da girafa, Luís Gabriel, pode tirar um escudo de verdade, deixando os pêlos da
cauda para Teresa fazer um bracelete genial. A tartaruga-marinha, meu Deus, é de uma utilidade
que vocês não calculam. Comem-se os ovos e toma-se a sopa: uma de-lí-cia. O casco serve para
fabricar pentes, cigarreiras, tanta coisa… O biguá é engraçado. — Engraçado como?
— Apanha peixe pra gente.
— Apanha e entrega, professora?
— Não é bem assim.Você bota um anel no pescoço dele, e o biguá pega o peixe mas não pode
engolir. Então você tira o peixe da goela do biguá. — Bobo que ele é.
— Não. É útil. Ai de nós se não fossem os animais que nos ajudam de todas as maneiras. Por isso
que eu digo: devemos amar os animais, e não maltratá-los de jeito nenhum. Entendeu, Ricardo?
— Entendi. A gente deve amar, respeitar, pelar e comer os animais, e aproveitar bem o pêlo, o
couro e os ossos.
1 Marilene Lima é Psicóloga e Mestre em Educação: História, Política, Sociedade,
tendo desenvolvido pesquisa sobre a História dos Métodos de Alfabetização em São Paulo. Possui Estudos Pós-graduados em: Aspectos Interdisciplinares na Educação de Pessoa com Deficiência; Didática do Ensino Superior e Aspectos Psicológicos do Desenvolvimento Humano. É Coordenadora do Programa Edukaleidos: Educação para o bem-estar. Atua como docente na Pós-Graduação da UNISA nos cursos de Psicopedagogia Clínica e Institucional (Lato Sensu) e MBA Executivo em Gestão de Pessoas (Unisa Business School).