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Jurisprudência

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| JURISPRUDÊNCIA ANOTADA

Superior Tribunal de Justiça ___ 2053

Fiabilidade da prova e a cadeia de custódia: um imperativo democrático Yuri Felix __________________ 2053 | O DIREITO POR QUEM O FAZ

Tribunal de Justiça do Estado do Paraná _________________ 2054

| JURISPRUDÊNCIA

Supremo Tribunal Federal ____ 2056 Superior Tribunal de Justiça __ 2059 Tribunais Regionais Federais ___2059 Tribunais de Justiça __________2060

JURISPRUDÊNCIA ANOTADA

Superior Tribunal de Justiça

Direito Processual Penal. Nulidades. Coleta de provas. Direito à

inadmissibilidade das provas ilícitas. (Não) demonstração do prejuízo

pela parte. Presunção de fé pública.

1. É assente na jurisprudência desta Corte e do STF que a demonstração do prejuízo é essencial à alegação de nulidade, seja ela relativa ou absoluta. Art. 263 do CPP. (RHC 110.623/DF, 2ª. T., Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJ 26/3/2012 e o AgRg no AREsp. 699.468/PR, 6ª T., Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, DJe 24/5/2017 e HC 275.203/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª T., DJe 15/3/2017). 2. Não há falar em nulidade se a busca e apreensão obedeceu fielmente ao disposto no art. 240 e seguintes do Código de Processo Penal. A ausência de lacre em todos os documentos e bens - que ocorreu em razão da grande quantidade de material apreendido - não torna automaticamente ilegítima a prova obtida a partir da medida, a ensejar a nulidade da ação penal, mormente quando afirmado pelo MM. Juiz e pelo Tribunal a quo que a prova coletada na referida busca e apreensão foi uma das utilizadas para embasar a denúncia, mas não foi a única. 3. Compete a defesa infirmar a presunção de validade e legitimidade dos atos praticados por agentes públicos, demonstrando de forma concreta o descumprimento das formalidades legais e essenciais, e especificamente no caso concreto, que o material apreendido e eventualmente não lacrado foi corrompido ou adulterado, de forma a causar prejuízo a defesa e modificar o conteúdo da prova colhida.

4. Não alegado ou apontado real prejuízo, nem sequer afirmada a nulidade da decisão que determinou a busca e apreensão ou o descumprimento dos ditames do art. 240 e seguintes do Código de Processo Penal, bem assim que os documentos ou bens apreendidos foram efetivamente corrompidos, limitando-se a defesa a inferir/deduzir que a ausência de lacre em todo o material colhido era suficiente para transformar a prova em ilegítima e a

nulidade em absoluta. 5. É inviável, no âmbito do habeas corpus, a apreciação de questões que demandam o revolvimento aprofundado de material fático-probatório. 6. Recurso Ordinário desprovido. (STJ – 5.ª T. – RHC 59414 – rel. Reynaldo Soares da Fonseca – j. 27.06.2017 – public. 03.08.2017 – Cadastro IBCCRIM 5715)

Anotação

Fiabilidade da prova e a cadeia de custódia:

um imperativo democrático

Yuri Felix

No final do Século XIX, início do XX, João Mendes de Almeida Junior teve aos seus cuidados a reforma da organização judiciária do Estado de São Paulo. Mais à frente, a pedido de Rodrigues Alves,

organizou as bases do Código de Processo Civil e Criminal da mesma localidade. Dentre suas inúmeras realizações, destaca-se uma de extrema relevância para o Direito Notarial, denominada “Órgãos de Fé Pública”. Talvez nesse fato de realce histórico seja possível localizar o berço da polêmica que desemboca nos discursos do cotidiano do foro penal. Mais adiante, retomaremos esse ponto.

Trata-se de Recurso em Habeas Corpus 59.414, endereçado ao Superior Tribunal de Justiça – (STJ), visando atacar decisão emanada pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região – (TRF 3), acórdão este consubstanciado, predominantemente, em dois pilares: a “presunção de validade dos atos praticados por funcionários públicos” e a “não demonstração de prejuízo, condição esta necessária ao reconhecimento de nulidades”, argumentação que, como sabido por considerável maioria daqueles que militam na seara criminal, grassa com força de dogma. No entanto, precisa ser questionada e, sobretudo, superada em um processo penal contemporâneo com vestes e conteúdo de cariz democrático.

Inicialmente, partindo da compreensão de um processo penal constitucional e convencionalmente decantado, toda e qualquer atividade probatória ou, caso prefiram, todo e qualquer ato praticado pela administração por intermédio de seus atores – funcionários públicos –, necessariamente demanda o inarredável controle epistêmico como fundamento e razão do próprio ato, ou seja, e por

exemplo, a tese acusatória estampada em um processo criminal – e, com isso, todos os atos da administração – deve ser submetida a um teste de estresse, no qual se perquire a verificação e refutação, em provas e contraprovas, em outras palavras, seguindo Ferrajoli, “nullum iudicium sine probatione”.(1)

Sendo assim, é meridiana a compreensão de que mesmo o elemento colhido na cena criminal tido como o “mais forte”, do ponto de vista do convencimento, não poderá carregar consigo valor probatório, sem a devida demonstração do órgão estatal da correta arrecadação e armazenamento e, por óbvio, que esse elemento colhido esteja diretamente ligado aos fatos e local do delito. Trata-se, tão somente, da fiabilidade probatória, pois a arrecadação de fontes de prova exige cabal idoneidade do trabalho desenvolvido, independentemente da presença, ou não, da boa ou má-fé(2) do agente estatal, debate este que já deveria

estar superado de longa estrada.

Com efeito, “a integridade da cadeia de manuseio é de curial relevância, o que significa total atenção aos detalhes, extremo cuidado e ampla documentação de cada fase de todo o processo que deverá ser conduzido por profissionais qualificados”.(3) Dessa maneira, manusear

um elemento supostamente colhido no local dos fatos, sem o adequado conhecimento e ainda sem a necessária garantia e preservação daquilo que se denomina como cadeia de custódia, poderá acarretar erros grosseiros nos rumos da investigação e prova.

A lógica bizantina de que os atos praticados por funcionários públicos possuem presunção de validade não é capaz de afastar a necessidade republicana da escorreita obediência à cadeia de custódia,

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Publicação do

Instituto Brasileiro de Ciências Criminais

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pois, somente assim, poderá ser preservado – na prática do jogo do processo – o efetivo contraditório, o estado de inocência, o devido processo e a paridade de armas, coisa que com todas as venias não se viu no respectivo aresto em comento. Enfi m, leitura diferente desta pode ser agasalhada como fl agrantemente inconstitucional, na medida em que a aplicação de quaisquer presunções que possam “ocasionar una inversión de la carga de la prueba con infracción de la presunción de inocencia (STC 105/1988)”(4) não devem sobreviver à concepção de um

processo penal de corte democrático.

Ademais, seguindo a tradição anglo-americana, é encargo do órgão acusatório estabelecer a cadeia de custódia dos elementos e provas, demonstrando a higidez e precisão dos atos praticados e do valor probatório das respectivas informações. Caso ocorra o desvio ou quebra da cadeia de custódia, esse fato poderá propiciar a inadmissibilidade da evidência coletada ou a diminuição de seu valor probatório,(5)

chegando-se ao ponto de não se admitir aquilo que eventualmente tenha sido colhido a partir da quebra da cadeia, apontando desde o fato a contaminação dos elementos subsequentes, fazendo com que não seja aceita sua validade. De forma infeliz, a decisão não segue nessa esteira. No que tange à exigência de “demonstração de prejuízo, condição esta necessária ao reconhecimento de nulidades”, a sorte não acompanha a decisão comentada. A teoria das nulidades no Processo Penal brasileiro é deveras defi ciente e necessita de profundos reparos. Tamanhas impropriedades são as que propiciam decisões teratológicas, nas quais aquilo que é absoluto ou relativo depende da vontade do julgador, ou seja, estamos diante da arbitrariedade e de um sistema de nulidades “a la carte”. A expressão, “ne pás de nullité sans grief”, dita de forma sublinhada no acórdão, revela a insufi ciência crítica naquilo que se relaciona ao sistema de nulidades do processo penal, em que se assevera que, para o reconhecimento da nulidade, a parte deverá, obrigatoriamente, demonstrar o prejuízo sofrido. Com essa equivocada premissa, promove-se uma descabida inversão da carga probatória, por intermédio de uma inconveniente instrumentalidade das formas, em que se privilegia o fi m em si mesmo em detrimento da forma, vide artigo 244 do Código de Processo Civil (antigo), atual artigo 277. Como sabido, forma não é formalismo, forma é garantia em um Estado constitucional.

Isso posto, o entendimento de que os atos realizados pelo poder público guardam perfeita harmonia em forma e conteúdo é por demais fantasioso. A teoria das nulidades apontada pelo senso comum teórico, acompanhada da presunção de validade dos atos da administração, faz com que a prática forense promova tabula rasa dos direitos e garantias fundamentais do cidadão.

Desse modo, e com o país atravessando um ciclo de diversas transformações político-sociais, há necessidade urgente de um processo penal dignamente fi ltrado pela Constituição Federal, bem como pelos tratados internacionais de direitos humanos. Assim, a prática carece da superação daquilo que foi afi rmado por Mendes de Almeida Júnior

no século passado: é preciso respirar mais Constituição e menos “fé pública” do Direito Notarial. Em outras palavras, e com a devida venia, processo penal não segue a lógica de cartório.

Notas

(1) PRADO, Geraldo. Prova penal e sistema de controles epistêmicos: a quebra da

cadeia de custódia das provas obtidas por métodos ocultos. São Paulo: Marcial Pons, 2014, p. 21.

(2) Case Brady vs. Maryland, 1963.

(3) FELIX, Yuri; MORAIS DA ROSA, Alexandre. Novas tecnologias de prova no processo penal: O DNA na delação premiada. Florianópolis: Empório do Direito,

2017, p 95-96.

(4) GIMENO SENDRA, Vicente. Derecho procesal penal. 2 ed. Madrid: Colex, 2007, p.

109-110.

(5) PRADO, Geraldo. Prova penal e sistema de controles epistêmicos: a quebra da

cadeia de custódia das provas obtidas por métodos ocultos. São Paulo: Marcial Pons, 2014, p. 79-83.

Yuri Felix

Doutorando e mestre em Ciências Criminais pela Pontifícia

Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC-RS.

Professor.

Advogado.

O DIREITO POR QUEM O FAZ

Tribunal de Justiça do Estado do Paraná

Execução Penal. Estado de coisas inconstitucional. Progressão de

regime prisional. Superlotação. Princípio do numerus clausus. Regime

semiaberto harmonizado. Uso de tornozeleira eletrônica.

Vara de Execuções Penais de Londrina

Execução da pena 0075179-57.2012.8.16.0014

j. 19.09.2017 – public. 19.09.2017

Cadastro IBCCRIM 5716

Vistos.

J.F.L., já qualifi cado nos autos, por intermédio de incidente instaurado de ofi cio, requer a concessão de aberto provisório (semiaberto harmonizado).

O Ministério Público manifestou-se desfavorável, É o relatório.

Decido.

O sentenciado cumpre pena de 06 anos e 05 meses de reclusão, tendo cumprido até a presente data 02 anos 09 meses e 10 dias, conforme se extrai do relatório da situação executória.

Conforme sistema SPR, não há notícia de qualquer fato que desabone a conduta carcerária do detento, não tendo cometido nenhuma falta grave enquanto recluso. Destarte, foi benefi ciado com autorização para trabalho extramuros, com a monitoração eletrônica, retornando à unidade prisional para pernoite.

O Código Penal e a Lei de Execução Penal possuem como fonte de inspiração o sistema progressivo ou inglês para o cumprimento da pena, para o qual a pena deve ser cumprida em estágios, de forma mais rigorosa para a menos rigorosa, até que o indivíduo alcance a liberdade. É o que se vislumbra no presente caso, onde o sentenciado aguarda progressão ao regime aberto, cuja previsão de satisfação do requisito objetivo ocorrerá em 27.03.2018.

Ocorre que, em que pese se encontrar o apenado já implantado em unidade para cumprimento de pena em regime semiaberto nesta Comarca, sabe-se que a existência de vagas em tal regime é insufi ciente, existindo, inclusive, pouquíssimos estabelecimentos adequados em todo o Estado do Paraná. Nesta Comarca da Região Metropolitana de Londrina/PR, existe somente a unidade prisional denominada CRESLON com atribuição para receber todos os sentenciados em regime semiaberto das Comarcas da Região Norte, tendo este Juízo que exercer o remanejamento diário desses detentos.

De acordo com dados extraídos do Conselho Nacional de Justiça, oriundos do projeto Cidadania dos Presídios (ao qual o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná aderiu) verifi ca-se que no Brasil são mais de 700.000 (setecentas mil)(1) pessoas que se encontram cumprindo pena

em regime de encarceramento, fazendo do Brasil o país com a terceira maior população carcerária do mundo, com pouca ou nenhuma estrutura para, de fato, ressocializar o preso, “aumentando a reincidência e o ciclo de violências que se projeta para toda a sociedade”.

Além disso o défi cit de vagas ultrapassa o número de 300.000 (trezentos mil), isso sem contar os mandados de prisão expedidos, o que elevaria a população carcerária a 1 milhão de pessoas.

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provisoriamente (cerca de 54,12% de presos provisórios).

Nesta Comarca de Londrina/PR existe a Penitenciária Estadual de Londrina II conta com 950 presos condenados, a Penitenciária Estadual de Londrina I com 550 presos, a Casa de Custódia, destinada a somente a presos provisórios abriga o total de 480 custodiados, dentre eles alguns condenados e o CRESLON (semiaberto) conta apenas com 250 vagas. Logo, todas as unidades desta Comarca estão no limite máximo suportável.

Importante destacar que esta Vara de Execuções Penais atende, além do Município de Londrina, mais 32 Comarcas da região, motivo pelo qual necessita diariamente absorver inúmeros presos ante a total falta de estrutura de Delegacias e mini-presídios das cidades vizinhas.

Não resta outra alternativa senão realizar o remanejamento diário dos presos desta Comarca (por meio da antecipação dos benefícios da execução penal), pois caso contrário a engrenagem, que hoje funciona, estaria em completo colapso.

A antecipação dos benefícios, além de evitar a superpopulação carcerária e rebeliões violentas, calha em proporcionar melhor qualidade dos serviços prestados no interior da unidade penal, como a escola, acomodando os presos de modo que consigam concluir o ensino fundamental, médio e até mesmo ensino superior.(2)

Assim, é rigor atuação mais ativa do Poder Judiciário, tudo na tentativa de fazer com que o sistema abranja, com o mínimo de dignidade, a demanda de pessoas presas diariamente.

A cultura da carcerização é realidade presente em nossa sociedade. Por conta disso, vislumbra-se no sistema prisional brasileiro um verdadeiro “estado de coisas inconstitucionais”, caracterizado pela existência de um quadro de violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais, causado pela inércia ou incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modifi car a conjuntura, de modo que apenas transformações estruturais da atuação do Poder Público e a atuação de uma pluralidade de autoridades podem alterar a situação institucional.

O Plenário do STF reconheceu que no sistema prisional brasileiro realmente há uma violação generalizada de direitos fundamentais dos presos. As penas privativas de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo penas cruéis e desumanas (STF. Plenário. ADPF 347 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/9/2015).

CUSTODIADO – INTEGRIDADE FÍSICA E MORALSISTEMA

PENITENCIÁRIO – ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO

DE PRECEITO FUNDAMENTAL – ADEQUAÇÃO. Cabível é a arguição de descumprimento de preceito fundamental considerada a situação degradante das penitenciárias no Brasil. SISTEMA PENITENCIÁRIO NACIONAL – SUPERLOTAÇÃO

CARCERÁRIA – CONDIÇÕES DESUMANAS DE CUSTÓDIA

VIOLAÇÃO MASSIVA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

– FALHAS ESTRUTURAIS – ESTADO DE COISAS

INCONSTITUCIONAL – CONFIGURAÇÃO. Presente quadro

de violação massiva e persistente de direitos fundamentais, decorrente de falhas estruturais e falência de políticas públicas e cuja modifi cação depende de medidas abrangentes de natureza normativa, administrativa e orçamentária, deve o sistema penitenciário nacional ser caraterizado como “estado de coisas

inconstitucional”. FUNDO PENITENCIÁRIO NACIONAL –

VERBAS – CONTINGENCIAMENTO. Ante a situação precária das penitenciárias, o interesse público direciona à liberação das verbas do Fundo Penitenciário Nacional. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA – OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA. Estão obrigados juízes e tribunais, observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, a realizarem, em até noventa dias, audiências de custódia, viabilizando o comparecimento do preso perante a autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas, contado do momento da prisão. (ADPF 347 MC, Relator (a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 09/09/2015).

regime mais benéfi co ao sentenciado quando não houver vagas em estabelecimento penitenciário adequado.

Constitucional. 2. Direito Processual Penal. 3. Execução Penal. 4. Cumprimento de pena em regime menos gravoso, diante da impossibilidade de o Estado fornecer vagas para o cumprimento no regime originalmente estabelecido na condenação penal. 5. Violação dos artigos 1º, III, e 5º, II, XLVI e LXV, ambos da Constituição Federal. 6. Repercussão geral reconhecida. (RE 641320 RG, Relator (a): Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/06/2011, DJe-162 Divulg 23-08-2011 Public 24-08-2011 Ement Vol-02572-03 PP-00474).

Em sede de liminar, dentre as medidas propostas pelo ministro Gilmar Mendes, havendo défi cit de vagas no regime semiaberto, o juiz deverá providenciá-las determinando a saída antecipada de sentenciados desse regime, que deverão ser colocados em liberdade monitorada eletronicamente (tornozeleira eletrônica).

“A saída antecipada do regime semiaberto deve ser deferida ao sentenciado que esteja mais próximo de progredir ao aberto. Para selecionar o condenado apto, é indispensável que o julgador tenha ferramentas para verifi car qual está mais próximo do tempo de progressão [...] Isso permitirá verifi car os apenados com expectativa de progredir no menor tempo e, em consequência, organizar a fi la de saída com observação da igualdade”, explicou o ministro.

Ainda que se empregue todo empenho quanto aos presos condenados (competência deste juízo), remanescem muitos presos provisórios no sistema, forçando este magistrado a tomar medidas extremas.

Nesse sentido, por meio de interpretação extensiva em favor do condenado, entendo razoável aplicar o entendimento da Corte Suprema às progressões do regime fechado ao semiaberto, bem como harmonizar o regime semiaberto diante da falta de vagas, mediante o uso da tornozeleira eletrônica. Tal antecipação faz-se necessária diante da omissão sistemática do Poder Legislativo e Executivo em criar e implementar políticas públicas efi cazes e capaz de dar sustento ao sistema penal adotado.

Em consonância com o entendimento acima e sensível à questão do hiper encarceramento a doutrina brasileira defende o vigor do princípio do numerus clausus, iniciado na Europa, que consiste na obrigatoriedade de que o número de presos em um estabelecimento penal atendesse ao número exato (fechado) de vagas disponíveis, de modo que, uma vez ultrapassada a capacidade máxima do estabelecimento, deveriam ser escolhidos os presos com melhor prognóstico de adaptabilidade social, impondo-lhes a detenção domiciliar com vigilância eletrônica.

Aportando a ideia para a realidade brasileira, defi ne-se numerus clausus (ou número fechado) como o princípio ou sistema organizacional segundo o qual cada nova entrada de uma pessoa no âmbito do sistema carcerário deve necessariamente corresponder ao menos a uma saída, de forma que a proporção presos-vagas se mantenha sempre em estabilidade ou tendencialmente em redução.(3)

Na atual conjuntura penitenciária, a adoção desse princípio ou sistema aparece como importante elemento de uma política reducionista, pautada pela intolerância absoluta à superlotação das prisões. Aparece ainda como instrumento de recondução da execução penal a um status de conformidade constitucional, sempre que caracterizada a imposição de encarceramento em condições contrárias ao senso de humanidade. De fato, não se pode admitir que o interesse do Estado em satisfazer sua pretensão punitiva ou executória justifi que a ruptura de direitos fundamentais, em especial da dignidade da pessoa humana. E mais, é impensável que o Estado esconda sua inefi ciência com o sacrifício dos direitos fundamentais.(4)

Nos termos do art. 185 da Lei de Execução Penal, haverá excesso ou desvio de execução sempre que algum ato for praticado além dos limites fi xados na sentença, em normas legais ou regulamentares. A superlotação é exemplo claro de desvio de execução, vez que impõe à

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Publicação do

Instituto Brasileiro de Ciências Criminais

pessoa presa o sacrifício de direitos não abarcados nos limites da sentença, de forma ilegal, inconstitucional e humanamente intolerável. O numerus clausus, nesse sentido, atuaria como medida de contenção da superlotação e, consequentemente, de reparação do desvio de execução. A imposição do numerus clausus decorre do poder-dever do Juízo da Execução no sentido de zelar pelo correto cumprimento da pena (art. 66, VI, da LEP), impedindo práticas atentatórias aos direitos humanos das pessoas presas.

Partindo-se destas premissas, em respeito ao princípio da proporcionalidade, bem como à missão ressocializadora da execução penal, julgo razoável a concessão do benefício da prisão albergue domiciliar/semiaberto harmonizado aos sentenciados que já se encontram no regime semiaberto e a ele se adaptaram, obedecendo às suas regras de modo satisfatório, demonstrando-se preparados para o retorno à sociedade.

Por fi m, ressalta-se que o sistema de monitoração eletrônica recentemente disponibilizado e regulamentado pela Resolução n. 526/14 da Secretaria de Justiça do Estado do Paraná, que não pode ser confundido com o regime aberto, propicia uma intensiva e rigorosa fi scalização de sentenciados em cumprimento de pena em regime semiaberto que não cumprem pena junto a estabelecimentos prisionais adequados.

Além disso, o citado sistema desonera sobremaneira o custo prisional do Estado e proporciona a reinserção imediata do condenado ao seio familiar e da comunidade, resultando na diminuição dos índices de reincidência e violação, em que pese a manutenção de vigilância sobre o preso, que apenas sofrerá restrição de pernoite no lar em horários pré-estabelecidos.

Diante do exposto, julgo procedente o pedido formulado para fi ns

de conceder a J. F. L., o direito de cumprir o remanescente de sua pena

em regime semiaberto harmonizado, nas condições de prisão albergue domiciliar, submetido a monitoração eletrônica, devendo, nos termos dos art. 114 e seguintes da Lei de Execução Penal, ser observadas pelo sentenciado as seguintes obrigações:

Área de inclusão:

1. Não sair da área delimitada em que possa circular, isto é, do Município de Londrina/PR, bem como não mudar de endereço sem prévia autorização judicial, devendo solicitar previamente ao CRESLON (43) 3337-1412 qualquer necessidade de saída da área, ou alteração de endereço, e aguardar deliberação judicial a respeito; 2. Recolher-se à sua residência impreterivelmente às 21h

permanecendo até às 6h do dia seguinte, para o repouso noturno, de segunda-feira à sábado, bem como ininterruptamente aos domingos e feriados;

3. Comparecer ao CRESLON quando solicitado;

Manutenção do dispositivo de monitoração eletrônica:

4. Não retirar ou permitir que outra pessoa retire a tornozeleira eletrônica, exceto por determinação expressa deste juízo; 5. Não queimar, quebrar, abrir, forçar, danifi car ou inutilizar a

tornozeleira eletrônica ou qualquer um dos acessórios que a acompanham, ou deixar que pessoa diversa o faça, sendo de sua integral responsabilidade a boa conservação do equipamento; 6. Recarregar diariamente e de forma integral a bateria da

tornozeleira;

7. Receber visitas do servidor responsável pela monitoração eletrônica, responder a seus contatos e cumprir suas orientações;

Outros termos:

8. Dirigir-se a um local aberto sempre que o sistema informar alerta luminoso de cor azul, até sua regularização;

9. Obedecer às orientações da Central de Monitoramento Eletrônico (CME fone: 08006432552, através de alertas sonoros, vibratórios, luminosos e contatos telefônicos, devendo entrar em contato telefônico com a equipe em caso de dúvida sobre alerta que desconheça, sendo que os alertas corresponderão:

I. Alerta vibratório e alerta luminoso roxo (rosa): ligar para a CME;

II. Alerta vibratório e alerta luminoso vermelho duplo: carregar a bateria da tornozeleira;

III. Alerta de som: ligar para a CME; IV. Luz verde ou azul: tudo está correto;

10. Não ingerir bebida alcoólica ou substância entorpecente, não frequentar locais que os comercializam, bares, lanchonetes e casas de meretrício ou similar;

11. Não possuir ou portar armas ofensivas a integridade física ou substâncias entorpecentes.

Fica o sentenciado advertido de que o não cumprimento de qualquer das condições acima ou cometimento de novo delito implicará na revogação desta concessão e possível regressão de regime.

Fica o prazo mínimo da monitoração eletrônica estabelecido até 27.03.2018, data inicialmente prevista para que o sentenciado satisfaça o requisito objetivo para a progressão ao regime aberto.

Expeça-se Mandado de Monitoração Eletrônica e Termo de Compromisso a ser assinado pelo sentenciado e posteriormente juntado aos autos.

Expeça-se contramandado.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Londrina, 19 de setembro de 2017.

Notas

(1) Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario-e-execucao-penal/ cidadania-nos-presidios>.

(2) Atualmente a Vara de Execuções Penais de Londrina conta com cerca de 29 presos universitários.

(3) Para Giovanni Palombarini e Carlo Renoldi, afirmar o princípio do numerus

clausus equivale a afirmar a proibição de alocar no interior de uma mesma

câmara de detenção um número de pessoas superior àquele para o qual a cela é, por assim dizer, homologada. Palombarini, Giovanni; Renoldi, Carlo. Una consapevole provocazione: pena detentiva e numero chiuso. Questione Giustizia, n. 5, p. 931, 2006.

(4) ROIG, Rodrigo Duque Estrada. Um princípio para a execução penal: numerus

clausus. Revista Liberdades, São Paulo, n. 15, p. 104-120., jan./abr. 2014. Disponível em:<http://www.revistaliberdades.org.br/site/outrasEdicoes/ outrasEdicoesExibir.php?rcon_id=191>.

Katsujo Nakadomari

Juiz de Direito.

JURISPRUDÊNCIA

Supremo Tribunal Federal

Direito Penal e Processual Penal. Atipicidade da conduta. Não

constituição do fato como infração penal.

Peculato-desvio (art. 312, CP). Deputado federal. Utilização de secretária

parlamentar para fi ns particulares. Prática de inúmeros atos na condição de administradora, de fato, da empresa da qual o parlamentar é sócio. Funcionária pública que também exerceu as atribuições inerentes a seu cargo. Inteligência do art. 8º do Ato da Mesa nº 72/97, da Câmara dos Deputados. Atividades

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2057

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decidido pelo Supremo Tribunal Federal, existe signifi cativa “diferença entre usar funcionário público em atividade privada e usar a Administração Pública para pagar salário de empregado particular, o que confi gura peculato” (Inq nº 3.776/TO, Primeira Turma, Relatora a Ministra Rosa Weber, DJe de 4/11/14). 2. A atividade de secretário parlamentar não se limita ao desempenho de tarefas burocráticas (pareceres, estudos, expedição de ofícios, acompanhamento de proposições, redação de minutas de pronunciamento, emissão de passagens aéreas, emissão de documentos, envio de mensagens eletrônicas ofi ciais etc.), compreendendo outras atividades de apoio intrinsecamente relacionadas ao exercício do mandato parlamentar, como o atendimento à população (art. 8º do Ato da Mesa nº 72/97, da Câmara dos Deputados). 3. Essas atribuições devem ser desempenhadas no gabinete parlamentar na Câmara dos Deputados ou no escritório político do deputado federal em seu estado de representação (art. 2º do Ato da Mesa nº 72/97). 4. Na espécie, a secretária parlamentar efetivamente exerceu as atribuições inerentes a seu cargo público, ainda que também tenha desempenhado outras atividades no estrito interesse particular do deputado federal, na condição de administradora, de fato, da empresa da qual ele é sócio. 5. Hipótese em que não houve a utilização da Administração Pública para pagar o salário de empregado particular, mas sim o uso de mão de obra pública em desvio para atender interesses particulares. 6. O uso de secretário parlamentar que, de fato, exercia as atribuições inerentes a seu cargo para prestar outros serviços de natureza privada constitui conduta penalmente atípica. Precedentes. 7. Apelação provida, para o fi m de se absolver o apelante, por atipicidade dos fatos a ele imputados, com fundamento no art. 386, III, do Código de Processo Penal.

(STF – 2.ª T. – AP 504 – rel. Cármen Lúcia – j. 09.08.2016 – public. 01.08.2017 – Cadastro IBCCRIM 5717)

Direito Penal. Crimes contra o patrimônio. Furto qualifi cado. Inefi cácia

absoluta do meio empregado. Crime impossível.

Furto circunstanciado tentado. Artigo 155, § 4º, inciso II, em combinação com o art. 14, inciso II, ambos do Código Penal. Conduta delituosa praticada em supermercado. Estabelecimento vítima que exerceu a vigilância direta sobre a conduta da paciente. Acompanhamento ininterrupto de todo o iter criminis. Inefi cácia absoluta do meio empregado para a consecução do delito, dadas as circunstâncias do caso concreto. Crime impossível caracterizado. Artigo 17 do Código Penal. Atipicidade da conduta. Trancamento da ação penal. Com fundamento diverso, votou pela concessão da ordem o eminente Ministro Celso de Mello. 1. A forma específi ca mediante a qual o funcionário do estabelecimento vítima exerceu a vigilância direta sobre a conduta da paciente, acompanhando ininterruptamente todo o iter criminis, tornou impossível a consumação do crime, dada a inefi cácia absoluta do meio empregado. Tanto isso é verdade que, imediatamente após passar pelo caixa sem efetuar o pagamento dos produtos escolhidos, a denunciada foi abordada na posse dos bens pelo funcionário que vinha monitorando sua conduta. 2. De rigor, portanto, diante dessas circunstâncias, a incidência do art. 17 do Código Penal, segundo o qual “não se pune a tentativa quando, por inefi cácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime”. 3. Esse entendimento não conduz, automaticamente, à atipicidade de toda e qualquer subtração em estabelecimento comercial que tenha sido monitorada pelo corpo de seguranças ou pelo sistema de vigilância, sendo imprescindível para se chegar a essa conclusão a análise individualizada das circunstâncias de cada caso concreto. 4. Ordem de habeas

corpus concedida para trancar a ação penal, nos termos do art. 17 do Código

Penal. 5. Com fundamento diverso, votou pela concessão da ordem o eminente Ministro Celso de Mello.

(STF – 2.ª T. – HC 137.290 – rel. Ricardo Lewandowski – j. 07.02.2017 – public. 02.08.2017 – Cadastro IBCCRIM 5718)

Direito Penal e Processual Penal. Crimes contra o sistema fi nanceiro.

Teoria do domínio do fato. Ausência da descrição das circunstâncias.

Denúncia inepta.

Evasão de divisas (art. 22 da Lei nº 7.492/86). Trancamento. Inépcia da denúncia. Admissibilidade. Imputação derivada da mera condição de o paciente ser diretor-presidente das empresas. Ausência de descrição mínima dos fatos. Denúncia que individualizou as condutas de corréus. Possibilidade de diferenciação de responsabilidades dos dirigentes da pessoa jurídica. Teoria do domínio do fato. Invocação na denúncia. Admissibilidade. Exigência, contudo, da descrição de indícios convergentes no sentido de que o paciente não somente teria conhecimento da prática do crime como também teria dirigido fi nalisticamente

denúncia (HC nº 125.873/PE-AgR, Segunda Turma, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJe de 13/3/15). 2. A denúncia que não descreve adequadamente o fato criminoso é inepta. Precedentes. 3. Nos termos do art. 41 do Código de Processo Penal, um dos requisitos essenciais da denúncia é “a exposição do fato, com todas as suas circunstâncias”. 4. Esse requisito, no caso concreto, não se encontra devidamente preenchido. 5. A denúncia, embora tenha narrado em que consistiu a evasão de divisas, se limitou a imputar ao paciente o concurso para o crime em razão de ser, à época dos fatos, diretor-presidente das empresas, cargo que lhe conferiria “o domínio do fato concernente às principais ações das referidas empresas”. Ainda de acordo com a denúncia, ”não é crível que lhe passassem despercebidas negociações tão vultosas, que montavam a cerca de 1% de todo o capital social do grupo”. 6. Nesse contexto, a denúncia, em relação ao paciente, não contém o mínimo narrativo exigido pelo art. 41 do Código de Processo Penal, 7. Não se olvida que, conforme tem decidido o Supremo Tribunal Federal, “não [é] inepta a denúncia que contém descrição mínima dos fatos imputados aos acusados, principalmente considerando tratar-se de crime imputado a administradores de sociedade, não exigindo a doutrina ou a jurisprudência descrição pormenorizada da conduta de proprietário e administrador da empresa, devendo a responsabilidade individual de cada um deles ser apurada no curso da instrução criminal” (HC nº 101.286/MG, Primeira Turma, de minha relatoria, DJe de 25/8/11). 8. Todavia, a inexigibilidade de individualização, na denúncia, das condutas dos dirigentes da pessoa jurídica pressupõe a indiferenciação das responsabilidades, no estatuto, dos membros do conselho de administração ou dos diretores da companhia, ou, se tratando de sociedade por quotas de responsabilidade limitada, de seus sócios ou gerentes. Precedentes. 9. Quando for viável a diferenciação de responsabilidades, a denúncia não poderá lastrear a imputação genericamente na condição de dirigente ou sócio da empresa. 10. Na espécie, a denúncia, ao atribuir fatos específi cos ao diretor fi nanceiro das empresas e a seu subordinado, individualizou condutas, razão por que não poderia se limitar a imputar o concurso do seu diretor-presidente para o crime de evasão de divisas em razão tão somente de seu suposto poder de mando e decisão, sem indicar qual teria sido sua contribuição concreta para tanto. 11. A teoria do domínio do fato poderia validamente lastrear a imputação contra o paciente, desde que a denúncia apontasse indícios convergentes no sentido de que ele não somente teve conhecimento da prática do crime de evasão de divisas como também dirigiu fi nalisticamente a atividade dos demais acusados. 12. Não basta invocar que o paciente se encontrava numa posição hierarquicamente superior para se presumir que tenha ele dominado toda a realização delituosa, com plenos poderes para decidir sobre a prática do crime de evasão de divisas, sua interrupção e suas circunstâncias, máxime considerando-se que a estrutura das empresas da qual era diretor-presidente contava com uma diretoria fi nanceira no âmbito da qual se realizaram as operações ora incriminadas. 13. Exigível, portanto, que a denúncia descrevesse atos concretamente imputáveis ao paciente, constitutivos da plataforma indiciária mínima reveladora de sua contribuição dolosa para o crime. 14. A denúncia contra o paciente, essencialmente, se lastreia na assertiva de que “não [seria] crível que lhe passassem despercebidas negociações tão vultosas [aproximadamente cinco milhões de dólares], que montavam a cerca de 1% de todo o capital social do grupo”. 15. Nesse ponto, a insufi ciência narrativa da denúncia é manifesta, por se amparar numa mera conjectura, numa criação mental da acusação, o que não se admite. Precedente. 16. A defi ciência na narrativa da denúncia, no que tange ao paciente, inviabilizou a compreensão da acusação e, consequentemente, o escorreito exercício da ampla defesa. 17. Ademais, sem uma imputação precisa, haveria violação à regra da correlação entre acusação e sentença. 18. Ordem de habeas corpus concedida para determinar, em relação ao paciente, o trancamento da ação penal, por inépcia da denúncia.

(STF – 2.ª T. – HC 127.397 – rel. Dias Toffoli – j. 06.12.2016 – public. 02.08.2017 – Cadastro IBCCRIM 5719)

Direito Penal e Processual Penal. Imunidade parlamentar. Cabimento do

habeas corpus.

O habeas corpus mostra-se adequado quer se trate de ato individual, quer de Colegiado. Habeas corpus versus revisão criminal. O habeas corpus não faz as vezes da revisão criminal, pressupondo a prática de ato de constrição à margem da ordem jurídica e a alcançar, na via direta ou indireta, a liberdade de ir e vir do cidadão, devendo as premissas fáticas surgirem dos pronunciamentos judiciais contrários à defesa. Imunidade parlamentar – palavras e opiniões. Surge, uma vez existente o nexo de causalidade entre o que veiculado e o mandato parlamentar, a imunidade. Imunidade parlamentar – imprensa – entrevista.

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Publicação do

Instituto Brasileiro de Ciências Criminais

2058

O fato de o parlamentar haver concedido entrevista coletiva relativamente à divulgação de informações sobre a situação patrimonial e contábil de instituição fi nanceira estadual não afasta a imunidade prevista no artigo 53, combinado com o 27, § 1º, da Constituição Federal.

(STF – 1.ª T. – HC 115.397 – rel. Marco Aurélio – j. 16.05.2017 – public. 07.08.2017 – Cadastro IBCCRIM 5720)

Direito Processual Penal. Denúncia inepta. Falta de correlação entre

conduta e denúncia. Foro por prerrogativa de função. Extensão dos

efeitos do recurso. Reautuação da ação penal como inquérito.

1. É inepta a denúncia que não estabelece a indispensável vinculação entre a suposta conduta do acusado e os eventos criminosos. Considerando a inadmissibilidade de responsabilidade penal objetiva, a simples condição de sócio-cotista não atende ao fi gurino exigido pelo art. 41 do Código de Processo Penal, porque prejudica o exercício da ampla defesa, cenário que reclama a extinção da ação penal mediante concessão de habeas corpus de ofício. 2. A perfeita identidade processual autoriza a extensão dessa providência ao corréu que, alvo da mesma peça acusatória, é acusado em primeiro grau. Inteligência do art. 580 do Código de Processo Penal. 3. A irregularidade formal da peça acusatória não impede o aprofundamento das investigações, conforme requerido pelo Ministério Público, sendo que, diante da possibilidade de envolvimento de congressista, agente detentor de foro por prerrogativa de função, a investigação submete-se à supervisão desta Suprema Corte. 4. Questão de ordem resolvida para determinar o trancamento da ação penal, com extensão ao corréu, e a reautuação da ação penal como inquérito. (STF – 2.ª T. – AP QO 1.005 – rel. Edson Fachin – j. 08.08.2017 – public. 22.08.2017 – Cadastro IBCCRIM 5721)

Direito Processual Penal. Habeas corpus substituto de recurso

extraordinário. Princípio da ampla defesa. Teoria do domínio do fato.

Denúncia inepta.

I. Embora o presente habeas corpus tenha sido impetrado em substituição a recurso extraordinário, esta Segunda Turma não opõe óbice ao seu conhecimento. II. A denúncia que se ampara em mera conjectura inviabiliza a compreensão da acusação e, por conseguinte, o exercício da ampla defesa. III. As atividades da indigitada empresa de telefonia não estão direcionadas à prática de ilícitos, por isso, inaplicável a teoria do domínio do fato como fundamento único a embasar a acusação. IV. Ordem de habeas corpus concedida.

(STF – 2.ª T. – HC 136.250 – rel. Ricardo Lewandowski – j. 23.05.2017 – public. 22.08.2017 – Cadastro IBCCRIM 5722)

Direito Processual Penal. Prova testemunhal. Produção antecipada de

prova. Necessidade de justifi cativa à antecipação da produção probatória.

Produção antecipada de prova testemunhal (art. 366, CPP). Inexistência de demonstração da necessidade concreta da medida. Invocação de fórmulas de estilo genéricas aplicáveis a todo e qualquer caso. Inadmissibilidade. Flagrante ilegalidade caracterizada. Writ do qual não se conhece. 1. A decisão que determina a produção antecipada da prova testemunhal deve demonstrar a presença dos requisitos previstos no art. 225 do Código de Processo Penal. 2. Firme a jurisprudência do Supremo Tribunal no sentido de que “[s]e o

acusado, citado por edital, não comparece nem constitui advogado, pode o juiz, suspenso o processo, determinar produção antecipada de prova testemunhal, apenas quando esta seja urgente nos termos do art. 225 do Código de Processo Penal”. Precedentes. 3. Na espécie, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região

valeu-se de fórmulas de estilo, genéricas, aplicáveis a todo e qualquer caso, sem indicar os elementos fáticos concretos que pudessem autorizar a medida. 4. Ausente a indicação de circunstância excepcional que justifi casse a antecipação da produção da prova testemunhal, há que se reconhecer a ilegalidade da colheita antecipada da prova oral. 5. Ordem concedida.

(STF – 2.ª T. – HC 139.336 – rel. Dias Toffoli – j. 08.08.2017 – public. 29.08.2017 – Cadastro IBCCRIM 5723)

Direito Penal e Constitucional. Liberdade de consciência e de crença.

Proselitismo como núcleo essencial da liberdade de expressão religiosa.

Denúncia inepta.

1. Não se reconhece a inépcia da denúncia na hipótese em que a tese acusatória é descrita com nitidez e o acusado pode insurgir-se, com paridade de armas, contra o conteúdo veiculado por meio da respectiva peça acusatória. 2. Nos termos da jurisprudência do STF, “a divisão dos seres humanos em raças resulta de

um processo de conteúdo meramente político-social” (HC 82424, Relator(a):

Min. Moreira Alves, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, julgado em 17/09/2003), de modo que o conceito jurídico associado ao racismo não pode ser delineado a partir de referências raciais ancoradas em compreensões científi cas há muito superadas. Assim, a imprescritibilidade de práticas de racismo deve ser aferida segundo as características político-sociais consagradas na Lei 7.716/89, nas quais se inserem condutas exercitadas por razões de ordem religiosa e que se qualifi cam, em tese, como preconceituosas ou discriminatórias. 3. A liberdade religiosa e a de expressão constituem elementos fundantes da ordem constitucional e devem ser exercidas com observância dos demais direitos e garantias fundamentais, não alcançando, nessa ótica, condutas reveladoras de discriminação. 4. No que toca especifi camente à liberdade de expressão religiosa, cumpre reconhecer, nas hipóteses de religiões que se alçam a universais, que o discurso proselitista é da essência de seu integral exercício. De tal modo, a fi nalidade de alcançar o outro, mediante persuasão, confi gura comportamento intrínseco a religiões de tal natureza. Para a consecução de tal objetivo, não se revela ilícito, por si só, a comparação entre diversas religiões, inclusive com explicitação de certa hierarquização ou animosidade entre elas. 5. O discurso discriminatório criminoso somente se materializa após ultrapassadas três etapas indispensáveis. Uma de caráter cognitivo, em que atestada a desigualdade entre grupos e/ou indivíduos; outra de viés valorativo, em que se assenta suposta relação de superioridade entre eles e, por fi m; uma terceira, em que o agente, a partir das fases anteriores, supõe legítima a dominação, exploração, escravização, eliminação, supressão ou redução de direitos fundamentais do diferente que compreende inferior. 6. A discriminação não libera consequências jurídicas negativas, especialmente no âmbito penal, na hipótese em que as etapas iniciais de desigualação desembocam na suposta prestação de auxílio ao grupo ou indivíduo que, na percepção do agente, encontrar-se-ia em situação desfavorável. 7. Hipótese concreta em que o paciente, por meio de publicação em livro, incita a comunidade católica a empreender resgate religioso direcionado à salvação de adeptos do espiritismo, em atitude que, a despeito de considerar inferiores os praticantes de fé distinta, o faz sem sinalização de violência, dominação, exploração, escravização, eliminação, supressão ou redução de direitos fundamentais. 8. Conduta que, embora intolerante, pedante e prepotente, se insere no cenário do embate entre religiões e decorrente da liberdade de proselitismo, essencial ao exercício, em sua inteireza, da liberdade de expressão religiosa. Impossibilidade, sob o ângulo da tipicidade conglobante, que conduta autorizada pelo ordenamento jurídico legitime a intervenção do Direito Penal. 9. Ante a atipicidade da conduta, dá-se provimento ao recurso para o fi m de determinar o trancamento da ação penal pendente.

(STF – 1.ª T. – RHC 134.682 – rel. Edson Fachin – j. 29.11.2016 – public. 29.08.2017 – Cadastro IBCCRIM 5724)

Direito Penal e Internacional. Tratado de extradição. Direito comparado.

Prescritibilidade da pretensão estatal de punir.

1. Conforme pacífi ca jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, “a

satisfação da exigência concernente à dupla punibilidade constitui requisito essencial ao deferimento do pedido extradicional” (Ext 683, Relator(a):

Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, Dje de 21.11.2008). Nessa linha, tanto o Estatuto do Estrangeiro (art. 77, VI), quanto o próprio tratado de extradição fi rmado entre o Brasil e o Estado requerente (art. III, c), vedam categoricamente a extradição quando extinta a punibilidade pela prescrição, à luz do ordenamento jurídico brasileiro ou do Estado requerente. 2. O Estado requerente imputa ao extraditando a prática de delito equivalente ao de associação criminosa (art. 288 do Código Penal), durante os anos de 1973 a 1975, e, no ano de 1974, de crimes equivalentes aos de sequestro qualifi cado (art. 148, § 2º, do Código Penal) e de homicídio qualifi cado (art. 121, § 2º, do Código Penal). Evidentemente, todos esses delitos encontram-se prescritos, porquanto, desde sua consumação, transcorreu tempo muito superior ao prazo prescricional máximo previsto no Código Penal, equivalente a 20 (vinte) anos (art. 109, I). Não consta dos autos, ademais, que se tenha confi gurado qualquer das causas interruptivas da prescrição. 3. A circunstância de o Estado requerente ter qualifi cado os delitos imputados ao extraditando como de lesa-humanidade não afasta a sua prescrição, porquanto (a) o Brasil não subscreveu a Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra a Humanidade, nem aderiu a ela; e (b) apenas lei interna pode dispor sobre prescritibilidade ou imprescritibilidade da pretensão estatal de punir (cf. ADPF 153, Relator(a): Min. Eros Grau, voto do Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, Dje de 6.8.2010). 4. O indeferimento da extradição com base nesses fundamentos não ofende o art. 27 da Convenção de Viena

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e a Argentina, mas sim de simples incidência de limitação veiculada pelo próprio tratado, o qual veda a concessão da extradição “quando a ação ou a pena já estiver prescrita, segundo as leis do Estado requerente ou requerido” (art. III, c). 5. Pedido de extradição indeferido.

Jurisprudência compilada por

Cesar Luiz de Oliveira Janoti e Vivian

Peres da Silva.

Superior Tribunal de Justiça

Direito Penal e Constitucional. Princípio da presunção de inocência. Uso

de algemas (Súmula Vinculante 11). Anulação do julgamento do Tribunal

do Júri.

1. O uso de algemas – de quem se apresenta ao Tribunal ou ao juiz, para ser interrogado ou para assistir a uma audiência ou julgamento como acusado – somente se justifi ca ante o concreto receio de que, com as mãos livres, fuja ou coloque em risco a segurança das pessoas que participam do ato processual. 2. Não se mostra aceitável que se obvie a presunção de inocência (como regra de tratamento) e se contorne o rigor da Súmula Vinculante n. 11 com motivação genérica e abstrata que, na prática, serviria para todos os casos de pessoas julgadas pelo Tribunal do Júri, visto que se cuida de órgão jurisdicional incumbido de julgar os crimes mais graves do Código Penal, defi nidos quase sempre como hediondos. 3. A menos que se aduza alguma peculiaridade do caso concreto, a denotar efetivo risco de que o réu, com mãos livres, poderá pôr em risco a segurança dos circunstantes ou fugir – risco que não pode decorrer do simples fato de responder por crime hediondo – revela-se ilegal a manutenção do réu algemado durante a sessão de julgamento, máxime perante juízes leigos, para quem o simbolismo do uso de algemas pelo acusado possui signifi cado mais relevante do que se se tratasse de julgamento perante juiz togado (RHC n. 76.591, Ministro Rogerio Schietti Cruz, DJe 30/3/2017). 4. Agravo regimental provido para prover o recurso especial e reconhecer a nulidade absoluta do julgamento realizado em plenário pelo 4º Tribunal do Júri da comarca da Capital/SP nos autos do Processo n. 0004044-28.2008.8.26.0052, determinando que o agravante seja submetido a novo julgamento em plenário, a ser realizado sem o uso de algemas, salvo a ocorrência de algum motivo concreto, devidamente relatado e que justifi que a imposição do gravame.

(STJ – 6.ª T. – Ag.Rg. Ag. REsp. 1.053.049 – rel. Maria Thereza de Assis

Moura – j. 27.06.2017 – public. 02.08.2017 – Cadastro IBCCRIM 5726)

Execução Penal. Procedimento administrativo disciplinar (PAD). Princípio

da intranscendência.

I. A Primeira Turma do col. Pretório Excelso fi rmou orientação no sentido de não admitir a impetração de habeas corpus substitutivo ante a previsão legal de cabimento de recurso ordinário (v.g.: HC n. 109.956/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe de 11/9/2012; RHC n. 121.399/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 1º/8/2014 e RHC n. 117.268/SP, Relª. Minª. Rosa Weber, DJe de 13/5/2014). As Turmas que integram a Terceira Seção desta Corte alinharam-se a esta dicção, e, desse modo, também passaram a repudiar a utilização desmedida

do writ substitutivo em detrimento do recurso adequado (v.g.: HC n. 284.176/ RJ, Quinta Turma, Relª. Minª. Laurita Vaz, DJe de 2/9/2014; HC n. 297.931/ MG, Quinta Turma, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe de 28/8/2014; HC n. 293.528/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de 4/9/2014 e HC n. 253.802/MG, Sexta Turma, Relª. Minª. Maria Thereza de Assis Moura, DJe de 4/6/2014). II. Portanto, não se admite mais, perfi lhando esse entendimento, a utilização de habeas corpus substitutivo quando cabível o recurso próprio, situação que implica o não-conhecimento da impetração. Contudo, no caso de se verifi car confi gurada fl agrante ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal, recomenda a jurisprudência a concessão da ordem de ofício. III. Não há que se falar em nulidade na oitiva de testemunhas no PAD, acompanhada de Defesa técnica, de modo a garantir do apenado a ampla defesa e o contraditório. Ademais, a defesa não arguiu as nulidades no momento oportuno, ocorrendo a preclusão. IV. De acordo com a jurisprudência deste Tribunal é desnecessária a realização de audiência para homologação de falta grave, se a falta foi apurada em regular procedimento administrativo, no qual foi assegurado, ao reeducando, o contraditório e ampla defesa, com efetiva a participação da defesa técnica. V. Esta Corte Superior de Justiça fi rmou entendimento no sentido de que, em razão do princípio da intranscendência penal, a imposição de falta grave ao executado, por transgressão realizada por terceiro, deve ser afastada quando não comprovada a autoria do reeducando, através de elementos concretos. VI. No caso dos autos, o reeducando sequer chegou a ter contato com as peças de celular que lhe foram enviadas por Sedex, impedindo-se a entrada dos objetos na unidade prisional. VII. O fato de as peças de celular terem sido encaminhados pela genitora do paciente não indicam com a certeza necessária que ele as encomendou. VIII. Não confi gurada a conduta “ter em sua posse” aparelho telefônico, de rádio ou similiar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo, descrita no art. 50, VII, da LEP, a absolvição do paciente da falta grave imputada é medida que se impõe. Diante do exposto, não conheço do presente habeas corpus. Contudo, concedo a ordem de ofício para absolver o paciente da falta grave que lhe foi imputada. (STJ – 5.ª T. – HC 399.047 – rel. Felix Fischer – j.08.08.2017 – public. 15.08.2017 – Cadastro IBCCRIM 5727)

Jurisprudência compilada por

Bruno Maurício, Fábio Suardi D’Elia e

Milene Maurício.

Tribunais Regionais Federais

Direito Processual Penal. Medidas cautelares diversas da prisão. Uso de

tornozeleira eletrônica. Sequestro de bens. Ônus e encargo da fi ança.

1. Tendo todos os bens do investigado sido alvo de medidas constritivas, determinadas no bojo de operação criminal, não se mostra razoável exigir-se-lhe o pagamento de vultosa fi ança, presumindo que possua outros bens e valores, o que não deixa de ser objeto da própria investigação e eventual processo. 2. Cabível a fi ança nos moldes impostos pelo juízo impetrado, tendo em vista os elementos já coligidos de que o paciente teria papel de relevo no esquema criminoso. No entanto, o valor fi xado poderá ser levantado pelo paciente dos montantes e valores que foram anteriormente sequestrados e indisponibilizados. 3. Excessiva a imposição de tornozeleira eletrônica ao investigado, tendo em vista o prazo já dilatado das

investigações, sem que tenha sido contra ele oferecida denúncia e sem que tenha o paciente empreendido fuga ou demonstrado o intuito de furtar-se à aplicação da lei penal. 5. Ordem concedida para permitir a utilização dos valores bloqueados para pagamento da fi ança, adequando as medidas cautelares diversas aplicadas. (TRF – 3.ª R. – 5.ª T. – HC 0003088-31.2017.4.03.0000 – rel. Paulo Fontes – j. 28.06.2017 – public. 03.07.2017 – Cadastro IBCCRIM 5728)

Jurisprudência compilada por

Jairton Ferraz Júnior e Stephan Gomes

Mendonça.

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Publicação do

Instituto Brasileiro de Ciências Criminais

2060

Tribunais de Justiça

Penal e Processual Penal. Crimes ambientais. Confl ito de competência.

Citação do acusado. Remessa dos autos ao juízo competente.

1. O âmago do presente Confl ito Negativo de Competência reside no fato de haverem sido esgotadas, ou não, todas as medidas possíveis para a citação pessoal dos supostos Autores do fato, a ocasionar a competência do Juízo Suscitante, em caso positivo, ou do Juízo Suscitado, quando não constatada a realização de diligências adicionais para a localização dos Agentes. 2. In casu, em que pese, devidamente, determinada a notifi cação dos supostos Autores para a Audiência Preliminar, prevista no art. 72 da Lei n.º 9.099/1995, esta restou infrutífera, razão pela qual houve a remessa dos Autos ao Juízo Comum, nos termos do art. 66, parágrafo único, da Lei n.º 9.099/1995, o qual dispõe que “não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei”. 3. Todavia, para que seja possível a adoção da providência prevista no art. 66, parágrafo único, da Lei n.º 9.099/1995, deve-se, primeiro, oferecer-se a Denúncia e exaurir-se todos os meios cabíveis para a citação dos acusados, para, só então, ser permitida a remessa do Feito para o Juízo Comum. 4. No caso em tela, tendo em vista que, ainda, nem, sequer, houve o oferecimento da Exordial Acusatória, bem como não foi constatada a realização de nenhuma diligência adicional para a localização dos Agentes, para o comparecimento à audiência preliminar, impõe-se o retorno dos Autos para o processamento perante a alçada dos Juizados Especiais, pois incabível a remessa do Feito para o Juízo Comum, quando não evidenciada a circunstância de esgotamento de todos os meios disponíveis para a citação dos Acusados, após oferecimento da Denúncia. 4. Confl ito de Competência conhecido para declarar a competência do Douto Juízo de Direito da 1.ª Vara do Juizado Especial da Comarca de Tefé/ AM para processar e julgar o Feito.

(TJAM – Câm. Esp. – CComp. 0003165-77.2017.8.04.0000 – rel. José

Hamilton Saraiva dos Santos – j. 29.08.2017 – public. 31.08.2017 – Cadastro IBCCRIM 5729)

Direito Penal. Prisão domiciliar. Detração.

1. A prisão domiciliar, prevista no inciso III do artigo 318 do Código de Processo Penal, é espécie de prisão provisória, e não medida cautelar diversa da prisão (artigo 319), de modo que o seu cumprimento autoriza a detração da pena. 2. Recurso conhecido e provido para determinar ao Juízo a quo que proceda à detração do período em que a recorrente permaneceu em prisão domiciliar. (TJDFT – 2.ª T. Crim. – 20170020116363 – rel. Roberval Casemiro Belinati – j. 22.06.2017 – public. 03.07.2017 – Cadastro IBCCRIM 5730)

Direito Penal. Princípio da dignidade da pessoa humana. Princípio

da proporcionalidade. Cumprimento da pena em estabelecimento

inadequado ao regime inicial. Transferência de regime prisional mais

grave para outro menos grave.

1. A paciente cumpre pena somada de 25 (vinte e cinco) anos e 06 (seis) meses, sendo 20 (vinte) anos por crime de latrocínio e 05 (cinco) anos e 06 (seis) meses por crime de tráfi co de drogas. 2. O cumprimento de pena em condições mais rigorosas do que a legalmente prevista é ilegal, por, além de afrontar Súmula do STF com efeito vinculante, confi gura desvio da fi nalidade da pretensão executória, sendo necessária, portanto, a aplicação dos princípios da proporcionalidade e da dignidade da pessoa humana. 3. A manutenção da prisão da ora paciente é incoerente, eis que a mesma encontra-se recolhida no Bloco das Margaridas, destinado a presas provisórias, no Presídio Feminino de São Luís, permanecendo, portanto, em regime fechado, em total desproporcionalidade com o regime semiaberto. 4. Ordem concedida, para determinar a imediata transferência do paciente para a prisão domiciliar. Por maioria.

(TJMA – 3.ª Câm. Crim. – HC 0003750-64.2017.8.10.0000 – rel. José de

Ribamar Froz Sobrinho – j. 28.08.2017 – public. 31.08.2017 – Cadastro IBCCRIM 5731)

Direito Penal. Atipicidade da conduta. Princípio da consunção.

Inexistência de prova do fato.

Desobedecer ordem policial de parada constitui infração administrativa,

sendo fato penalmente atípico. Nesse sentido é de ser mantida a absolvição do agente ante a prática do crime de desobediência, em homenagem ao princípio da fragmentariedade. Considerando que as infrações foram cometidas num mesmo contexto e com evidente relação de dependência e progressividade entre os fatos é de se reconhecer o princípio da consunção entre os crimes de desobediência e desacato. Ante a inexistência de provas sólidas que atestem a materialidade e a autoria do crime não há que se falar em reforma de decisão absolutória. Apelação ministerial a que se nega provimento, ante ao acerto da decisão impugnada.

(TJMS – 2.ª Câm. Crim. – AP 0000126-31.2014.8.12.0105 – rel. Carlos

Eduardo Contar – j. 17.07.2017 – public. 24.07.2017 – Cadastro IBCCRIM 5732)

Direito Penal. Princípio da soberania do veredicto do Tribunal do Júri.

Quesito sobre a absolvição do acusado. Íntima convicção dos jurados.

Como é sabido, a decisão do Tribunal do Júri só pode ser anulada quando arbitrária e totalmente divorciada do contexto probatório. No entanto, ao instituir a lei a obrigatoriedade do quesito genérico, “o jurado absolve?”, estabeleceu, nesse quesito, a possibilidade da absolvição pelos jurados, mesmo afi rmada a materialidade e a autoria do delito e fora das teses sustentadas pela defesa, eis que julgam por íntima convicção. Dessa forma, não pode ser considerada contrária à prova dos autos a decisão dos jurados que, dentro de suas prerrogativas de julgadores do feito, absolvem o réu por entenderem presente nos autos justifi cativa para tanto, ainda que por perdão ou clemência. Logo, decidindo os jurados por íntima convicção, não pode ser anulada a absolvição pelo quesito genérico, pois, em nenhuma hipótese, é permitido ao órgão recursal modifi car o juízo valorativo da prova feito pelos jurados, analisando se decidiram bem ou mal. Deve ser preservada a soberania do juízo realizado no exercício da função constitucional do Tribunal do Júri, sob pena de se ferir o princípio da soberania dos veredictos. Precedentes. Apelo improvido. (TJRS – 2.ª Câm. Crim. – AP 70072316045 – rel. José Ricardo Coutinho Silva

– j. 29.06.2017 – public. 28.07.2017 – Cadastro IBCCRIM 5733)

Direito Penal. Causas extintivas da punibilidade. Impossibilidade de

reconhecimento de prescrição em data anterior a data da denúncia ou da

queixa. Irretroatividade da lei penal mais gravosa. Novatio legis in pejus.

Parcelamento irregular do solo urbano. Preliminar de prescrição. A venda de cada lote não constitui ação delitiva autônoma, mas sim parte de crime único. O delito previsto no art. 50 da lei nº 6.766/79 é instantâneo de efeitos permanentes. O prazo prescricional, portanto, tem início na data em que realizado o primeiro contrato de promessa de compra e venda. Transcorridos mais de 04 anos entre os marcos interruptivos da data do fato e do recebimento da denúncia. Lei nº 12.234/2010. Alteração no artigo 110, § 1º, do Código Penal. Determinação de que a prescrição retroativa não pode ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. Alteração que não atinge fatos pretéritos à entrada em vigor da lei nº 12.234/2010, sob pena de confi gurar novatio legis in pejus. Aplicação somente a fatos ocorridos a partir de sua vigência (06.05.2010). Prescrição verifi cada. Declarada extinta a punibilidade do réu, prejudicado o exame de mérito do seu apelo.

(TJRS – 4.ª Câm. Crim. – AP 70073786253 – rel. Newton Brasil de Leão – j. 17.08.2017 – public. 29.08.2017 – Cadastro IBCCRIM 5734)

Jurisprudência compilada por

André Campagnaro Rampinelli, Bernardo

Abbott, Caroline Bussoloto De Brum,

Caroline Mutaf, Eliza Bastos, Marcela Vieira

da Silva, Patrícia Gamarano Barbosa,

Pedro Machado de Almeida Castro, Roberta

Werlang Coelho Beck, Roberto Mendes

Valadão e Wilson Tavares de Lima.

Referências

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