• Nenhum resultado encontrado

A Ergonomia auxiliando a Qualidade de Vida no Trabalho: uma abordagem para clientes internos de uma empresa da Construção Civil

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A Ergonomia auxiliando a Qualidade de Vida no Trabalho: uma abordagem para clientes internos de uma empresa da Construção Civil"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

A Ergonomia auxiliando a Qualidade de Vida no Trabalho: uma

abordagem para clientes internos de uma empresa da Construção

Civil

Renata Melo e Silva de Oliveira (UEPa) renata@uepa.br

Rodrigo de Aquino Gomes (UEPa) rodrigo@uepa.br

Juliana M. de Figueirêdo Castro (UEPa) julianamfc_ep@hotmail.com

Resumo

O tema da Qualidade de Vida no Trabalho tem sido bastante discutido e aprimorado pelos gestores de empresa. Na Construção Civil, esses conceitos ainda não são bem difundidos, visto que as condições de trabalho ainda não são as adequadas para garantira qualidade no processo,nem a satisfação dos empregados. Este trabalho busca identificar as necessidades dos trabalhadores deste setor e sugerir melhorias, segundo os preceitos da ergonomia, analisando o ambiente de trabalho em uma empresa fabricante de pré-moldados de concreto. Palavras chave: QVT, Ergonomia, Construção Civil

1. Introdução

O ramo da construção civil, apesar de sua constante evolução, consiste em atividades que demandam grande esforço físico ao trabalhador, devido a uma rotina de trabalho de ritmo pesado e na maioria das vezes em circunstância inadequadas, sem pausas de trabalho e com condições de trabalho mínimas.

O objetivo deste trabalho é propor melhorias na Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) em uma empresa da Construção Civil no estado do Pará, utilizando como base os princípios da Ergonomia e alguns conceitos da Qualidade.

2. Ergonomia, Qualidade e QVT

Quando se fala em Qualidade há uma tendência natural de enxergá-la como um esforço de satisfazer o consumidor final, ou seja os clientes externos. Atender às necessidades e superar as expectativas é sem dúvida um diferencial que as empresas buscam para estabelecerem-se no mercado e conquistar clientes.

No entanto, o entendimento de qualidade como satisfação não se restringe ao consumidor final. Segundo Slack (2002), “Uma tarefa chave para a função produção é assegurar o provimento de bens e serviços de qualidade para seus consumidores internos e externos”. Em outras palavras, a Qualidade para o cliente interno, no que diz respeito ao processo, ambiente, fatores de satisfação e segurança têm influencia decisiva na produtividade.

Nesse contexto, surge a estreita correlação entre a Excelência organizacional e Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). Segundo HUSE & CUMMINGS (2003, apud LIMONGI-FRANÇA) a Qualidade de Vida no Trabalho pode ser entendida como “uma forma de pensamento envolvendo pessoas, trabalho e organização, destacando-se dois pontos distintos: a preocupação com o bem-estar do trabalhador e com a eficiência organizacional e, a participação dos trabalhadores nas decisões e problemas do trabalho”. Isto é, a QVT envolve um conjunto de fatores que busca a participação e motivação dos trabalhadores, através da

(2)

promoção de seu bem-estar, que, aliado a eficiência organizacional, vem a contribuir na melhoria do desempenho da empresa.

Partindo desse princípio, a Ergonomia vem a somar na gestão de Recursos humanos e na implementação de melhorias pois, segundo Iida (2000), “A Ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem”, ou seja, através do estudo do relacionamento do ser humano com o seu trabalho, relacionando a utilização de máquinas e equipamentos, características fisiológicas, psicológicas, a Ergonomia passa a ser uma opção viável para incrementar a QVT e, simultaneamente, a Qualidade do processo produtivo, por meio de melhorias no ambiente de trabalho, interação homem-máquina, fatores de segurança, dentre outros. Isso torna o processo mais confiável e aumenta o grau de satisfação e auto-realização dos clientes internos.

3. A ergonomia na indústria da construção civil

O setor da construção civil tem como característica peculiar o desenvolvimento de um grande esforço por parte do trabalhador, o qual está inserido em um ambiente de trabalho pesado. Observa-se que os recursos humanos atuantes nessa área estão bastante suscetíveis a acidentes e doenças do trabalho atribuídos “(..) ao mau projeto e ao uso inadequado de equipamentos, sistemas e tarefas”(WEERDMEESTER, 2001) no local de trabalho, trazendo prejuízos físicos e psicológicos a essas pessoas.

Isso pode ser comprovado pelas estatísticas brasileiras dos problemas enfrentados pelos trabalhadores do setor. 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Falta de v entila ção Falta de l uminos idade Exce sso de um idade Vibr ações Sofrer am ac ident es Trabal ham sob r isco de ac ident es

Problema enfrentados por trabalhadores da Construção Civil V al o res em por cent agem fonte: DataFolha

Figura 1 - Problemas enfrentados pelos trabalhadores da Construção Civil no Brasil

Objetivando a redução dos problemas supracitados, a ergonomia vem a contribuir para minimizar erros, promover melhorias nas condições de trabalho e conseqüentemente elevar o

(3)

Passa-se agora para uma análise ergonômica com ênfase na satisfação do empregado e na QVT, realizada em uma industria de pré-moldados de concreto cuja metodologia de trabalho esta descrita a seguir.

4. Metodologia

Objetivando a precisão dos dados acerca do processo produtivo e problemas ergonômicos, a etapa inicial desta análise foi a Observação Armada, que consiste na utilização de instrumentos, como câmera fotográfica, no auxílio para coleta de informações. Paralelo a isso elaborou-se um diagrama do fluxo de processo, afim de obter uma visualização esquemática da fabricação de tubos.

Em seguida, foram discutidos com a gerência da produção os fatores que comprometem o bem-estar no setor de tubos, o que gerou um Diagrama de Ishikawa.

Os dados coletados no diagrama, compuseram a base de um questionário informal de pesquisa de satisfação dos clientes internos, no qual o entrevistado é convidado a discorrer livremente sobre algumas questões dirigidas pelo entrevistador.

Foram entrevistados sete funcionários de um universo de doze, que trabalham no processo produtivo observado. A apuração dos dados coletados com o operacional da fábrica foram dispostos no Diagrama de Pareto.

A próxima etapa será o diagnóstico, centrado em três pilares: o operador, o ambiente e a tarefa. Isso nos dará um panorama mais preciso acerca das condições de trabalho nesta indústria, ao comparar os dados provenientes das entrevistas realizadas separadamente com a Gerência de Produção e com o operacional da fábrica.

Como etapa final deste trabalho, tem-se uma proposta de atividades e ações a serem desenvolvidas,com base nas práticas da Ergonomia e nos “10 tipos de solução ergonômica” (COUTO,2002) para implementação de melhorias na Qualidade de Vida no Trabalho.

5- O Processo Produtivo

A empresa estudada possui aproximadamente 68 funcionários e fabrica pré-moldados de concreto como vigas para galpões, postes, tubulações. O layout adotado para o processo produtivo foi o departamental, com exceção do processo da fabricação de tubos, com layout celular.

O processo produtivo observado foi o da fabricação de tubos, visto que segundo a Gerência era o que apresentava menor satisfação por parte dos funcionários. Segue a ordenação das etapas de fabricação, segundo o Diagrama de Fluxo de Processo.

(4)

Gráfico de Processo: Nº 01 - Folha 01 Operação Analisada: Fabricação de tubos

DESCRIÇÃO DO PROCESSO Processo Atividades

z Confeccionar armadura

¨ Transporte para concretagem z Colocar armadura na forma

z Concretar

¨ Transporte do produto semi-acabado para área de Acabamento e Inspeção.

z Desenformar manualmente

T Inspeção

z Acabamento

 Curagem (24h)

¨ Transporte para armazenagem

z Empilhamento do produto

„ Estocagem

- OPERAÇÃO - TRANSPORTE - INSPEÇÃO - ATRASO/ESPERA - ESTOCAGEM

Quadro 1 – Carta de processo da fabricação de tubos

Analisando o diagrama, percebe-se que o transporte entre as operações é bastante freqüente, percorrendo grandes distâncias e demandando grande esforço físico do trabalhador, visto que o transporte é essencialmente manual.

Analisado cada elemento do processo, extraiu-se problemas de diversos gêneros não-conformes com os fundamento da Ergonomia, identificados conjuntamente com a Gerência de Produção da empresa, o que resultou em uma análise crítica dos fatores que comprometem a Qualidade de Vida no Trabalho no setor de fabricação de tubos. Tais fatores estão dispostos no Diagrama de Ishikawa a seguir:

(5)

Figura 1 – Diagrama de Ishikawa

5. Diagnóstico

Segundo De Moraes e Mont’alvão (apud Oborde, 1995) “a ênfase da ergonomia moderna tem sido investigar o operador e o ambiente como parceiros dentro do sistema de trabalho como uma totalidade, mais do que examinar em mínimos detalhes os componentes que constituem qualquer loop homem máquina”.

Segundo Iida(2000) “é necessário analisar as principais fontes de insatisfação dos trabalhadores e atuar sobre os mesmos”. Os resultados da entrevista com o operacional, segue no diagrama de Pareto.

No diagrama, elaborado a partir da pesquisa de satisfação dos clientes internos, observa-se que um dos pontos relatados com maior freqüência pelos entrevistados foi o grande número de pequenos acidentes de trabalho.

Contudo, este problema está intimamente relacionado à insuficiência de EPI’s, pois a maioria dos acidentes apresentados são pequenas lesões Pérfuro-cortantes e contusões, derivados da não utilização de luvas, óculos de proteção, botas, dentre outros.

Trabalhar sob estas condições compromete a integridade física dos trabalhadores, e vai de encontro à NR 17.4.1-“referente a equipamentos dos postos de trabalho – todos os equipamentos que compõem um posto de trabalho devem estar adequados às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado”.

O nível de ruído elevado, caso o trabalhador não utilize os EPI’s adequados, poderá desenvolver a PAIR- “(...) diminuição da acuidade auditiva decorrente da exposição continuada a níveis elevados de pressão sonora e tem como características principais a irreversibilidade e a progressão gradual com o tempo de exposição ao risco ” (Ministério da Saúde do Brasil, 2001).

(6)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 Falta de M aterial de S egur ança Isufuc iênc ia de pau sa par a desc anso Local de trab alho com ruíd o Pequeno s ac iden tes de t rabal ho Falta de i nstal açõe s apr opria das Alto v olume de trabal ho Fadi ga Falta de s egur ança nos ar redor es da empr esa Falta de M anut enção nas Máqui nas Dore s na Colun a Falta de se guranç a na ativi dade e xercida Falta de aj udant e na atividade Alim entaç ão in sufici ente Problemas Fr eqüê nc ia A b so lu ta 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 Fr eqüê nc ia R el at iv a A cum ul ad a

Figura2 – Diagrama de Pareto

O nível de ruído é regulamentado pela NR 17.5.2 a- “níveis de ruído de acordo com o estabelecimento na NBR 10152, norma brasileira registrada no INMETRO”; e a NR 17.5.2.1 – “para as atividades que possuam características definidas no subitem 17.5.2, mas não apresentam equivalência ou correlação com aquelas relacionadas na NBR 10152, o nível de ruído aceitável para efeito de conforto será de até 65 dB (A) e a curva de avaliação de ruído (NC) de valor não superior a 60dB”.

Constatou-se um ritmo intenso de trabalho e ausência de pausas para descanso, resultando em altos níveis de fadiga. Quando a estrutura muscular do ser humano está em atividade ocorrem reações liberadoras e repositoras de energia, se o consumo de energia é maior que sua reposição, acontece uma perturbação do equilíbrio dos processos metabólicos, que se manifesta por uma diminuição da capacidade de produção dos músculos.

Um dos principais problemas ergonômicos encontrados na Observação Armada, foi o transporte de cargas (apesar de não ter sido amplamente mencionado pelos trabalhadores,). Segundo Sperandio (apud Laville, 1977) carga de trabalho é “uma medida quantitativa ou qualitativa do nível de atividade (mental,sensório-motriz, fisiológica, etc.) do operador, necessária à realização de um trabalho dado”.

(7)

Observou-se que tanto na Gerência quanto nos níveis operacionais os problemas identificados foram similares, com exceção do dimensionamento do SESMT e falta de uniforme , citados apenas pela Gerência de Produção, e dores na coluna, fadiga e alimentação insuficiente, citadas apenas pelos operários.

A empresa necessita urgentemente de melhoria no ambiente de trabalho, maquinários e segurança, visto que foram mencionados com maior freqüência itens diretamente relacionados a esses aspectos. Ainda, a observação armada permitiu a identificação de problemas no fluxo do processo, o qual apresenta excesso de transporte do produto semi-acabado, influenciando na sua eficiência

6. Propostas de Melhorias

Buscando integrar as necessidades identificadas pela Gerência e pelo operacional, foram relacionadas algumas ações que, se tomadas, de fato contribuirão para a melhoria da Qualidade de Vida do Trabalhador. As quais listadas abaixo:

Referente a segurança do trabalhador, a curto prazo, sugere-se a adequação à NR 17.4.1, bem como sua manutenção constante e a conseqüente utilização de EPI’s com monitoramento constante. Para médio e longo prazo:

-Contratação de profissionais da área de Segurança e Medicina do Trabalho, seguindo as especificações da NR-4 - Serviços especializados em engenharia de segurança e em medicina do trabalho – SESMT.

- Elaboração de diagnóstico específico da realidade da empresa quanto a segurança dos trabalhadores.

Referente ao transporte de cargas:

- Adequação do transporte de cargas a NR 17.2.1

- Revisão no fluxo de processos, visando diminuir a necessidade de transporte de cargas - Rodízio nas tarefas, para reduzir a sobrecarga durante as operações.

- Implantação de um programa de ginástica laboral, no mínimo duas vezes ao dia, e estabelecimento de pausas para descanso.

Referente ao nível de ruído:

- Prevenção no planejamento quanto a aquisição e disposição dos maquinários

- Elaboração e implementação de um plano de manutenção corretiva e preventiva das máquinas e equipamentos.

- Diminuição do ruído na fonte

- Amortecimento da dispersão do Som - Proteção Individual adequada

Referente a treinamento e motivação

- Quanto a forma correta de se fazer o transporte de carga. - Sensibilização para o uso de EPI’s

- Desenvolvimento de estratégias de motivação e integração

(8)

7-Considerações Finais

A construção civil no Brasil ainda é um setor que desgasta consideravelmente o seu trabalhador e que necessita de estudos que focalizem uma organização do trabalho mais eficiente, na qual os turnos de trabalho, pausas para descanso, dentre outros sejam geridos de forma que erradique as disfunções psicofisiológicas oriundas do local de trabalho.

É importante que as Gerências desse setor estejam sensibilizadas e tomem medidas adequadas para balancear a realização do trabalho e as condições para executá-lo. Ainda, é fundamental estar atento as necessidades do usuário e engajá-lo na solução dos problemas pertinentes a sua atividade.

Portanto, adequar-se as Normas Regulamentadoras e Leis Vigentes é mais que uma obrigação legal, pois comprova-se neste trabalho que são também medidas para garantir a segurança e o bem-estar do trabalhador; bem como aumentar a sua satisfação e qualidade de vida.

8-Referências

MINISTÉRIO DO TRABALHO DO BRASIL(2001). Doenças Relacionadas ao

Trabalho:manual de procedimentos para serviços de saúde.MS. Brasília

SLACK, Nigel;CHAMBERS, Steven & (2002). Administração da Produção. Atlas. São Paulo

COUTO, Hudson de Araújo (2002). Ergonomia aplicada ao trabalho em 18 lições.Ergo. Belo Horizonte.

DUL, J. e WEERDMEESTER, B(2001). Ergonomia Prática. Edgard Blücher. 2001. São Palo LIMONGI-FRANÇA, Ana Cristina(2003). Qualidade de vida no trabalho: conceitos e

práticas na sociedade pós-industrial. Atlas.São Paulo

IIDA, Itiro(2000). Ergonomia Aplicada.Atlas. São Paulo Falta do aquino

GRANDJEAN, Etienne (1997). Manual de Ergonomia: adaptando o trabalho ao homem

Autor:

Editora: BOOKMAN COMPANHIA ED 4 Edição 1997

ERGONOMIA - PROJETO E PRODUÇAO Autor: LIDA, ITIRO

Editora: EDGARD BLUCHER 1 Edição 1997

Ergonomia: Conceitos e aplicações Anamaria de Moraes e Cláudia Mont'Alvão Editora 2AB

Referências

Documentos relacionados

Dessa forma, a partir da perspectiva teórica do sociólogo francês Pierre Bourdieu, o presente trabalho busca compreender como a lógica produtivista introduzida no campo

dois gestores, pelo fato deles serem os mais indicados para avaliarem administrativamente a articulação entre o ensino médio e a educação profissional, bem como a estruturação

Disto pode-se observar que a autogestão se fragiliza ainda mais na dimensão do departamento e da oferta das atividades fins da universidade, uma vez que estas encontram-se

O termo extrusão do núcleo pulposo aguda e não compressiva (Enpanc) é usado aqui, pois descreve as principais características da doença e ajuda a

Para analisar as Componentes de Gestão foram utilizadas questões referentes à forma como o visitante considera as condições da ilha no momento da realização do

Neste momento a vacina com a melhor perspetiva de disseminação pelos cuidados de saúde é a M.vaccae, pela sua ação como vacina terapêutica, aguardando-se a sua

Como parte de uma composição musi- cal integral, o recorte pode ser feito de modo a ser reconheci- do como parte da composição (por exemplo, quando a trilha apresenta um intérprete

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das