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A EDUCAÇÂO DE JOVENS E ADULTOS E SUAS IMPLICAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO HUMANO

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Academic year: 2021

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A EDUCAÇÂO DE JOVENS E ADULTOS E SUAS IMPLICAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO HUMANO

Luís Fernando Tondeli Fochi1. Thaísa Angélica Déo da Silva.

Josely Belinovski. Lúcia Castro Silva Duarte. Ana Vitória Salimon Carlos dos Santos

. RESUMO: No Brasil, a Educação de Jovens e Adultos – EJA- tem como finalidade reduzir o analfabetismo e a baixa escolaridade, possibilitando que adolescentes de 15 anos ou mais e adultos excluídos precocemente da Educação Básica sejam incluídos com sucesso no Ensino Fundamental e Médio. O presente estudo objetivou caracterizar uma classe de EJA numa cidade de pequeno porte, enfocando aspectos do desenvolvimento global do ser humano bem como relação com a escolarização. Utilizou-se de metodologia qualitativa, sendo realizadas observações em sala de aula, entrevistas com a direção, corpo docente e alunos da classe. Nesta estavam matriculados 31 alunos, entre 18 e 76 anos. Dos 31, 10 apresentam freqüência regular às aulas. As ausências são justificadas por cansaço decorrente de trabalho, especialmente na safra da cana-de-açúcar, dificuldades na aprendizagem e questões familiares. Os alunos do sexo masculino são, em sua maioria, trabalhadores rurais, sendo os do sexo feminino, donas de casa e domésticas. A maioria é ou foi casada, tendo de dois a dez filhos. Foram motivados a retomar os estudos por: necessidade de ler e escrever, lidar com dinheiro, obter carteira de habilitação e melhores empregos. Os problemas que enfrentaram por não terem sido alfabetizados suficientemente foram: assinar o nome na carteira de trabalho, ler placas, ajudar os filhos nas tarefas escolares, fazer contas matemáticas e obtenção de empregos; suas perspectivas estão associadas a melhores possibilidades de emprego como: prestar concursos, montar o próprio negócio, aperfeiçoamento no trabalho, e a possibilidade de situações prazerosas como conseguir ler livros, conseqüentemente adquirindo conhecimentos e a minoria apresentou a expectativa de realizar um curso superior. A maioria dos alunos relatou sentir-se inferiorizada, tendo a expectativa de que completando os estudos possam ser consideradas “pessoas melhores”, pois sabendo ler e escrever conquistarão seus sonhos e desejos. Tanto alunos quanto professoras relataram a solidariedade existente entre os alunos e o sentimento de satisfação dos mesmos em relação aos progressos pessoais obtidos, os quais alteraram a percepção de si mesmos, melhoraram a realização de tarefas cotidianas e modificaram suas formas de inclusão social. A possibilidade da conquista de maior autonomia dos jovens e adultos acompanha a dificuldade de superação das barreiras iniciais que dificultaram a permanência escolar na infância. Estas acabam por novamente incidir em baixa freqüência e evasão escolar, reforçando a necessidade da Educação considerar as peculiaridades de cada fase do desenvolvimento humano e suas condições histórico-sociais, carecendo esta área de novos estudos.

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thaisaangelica@yahoo.com.br.Thaísa Angélica Déo da Silva. Josely Belinovski. Lúcia Castro Silva Duarte. Luís Fernando Tondeli Fochi. Ana Vitória Salimon Carlos dos Santos.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho é fruto de estágio básico realizado na disciplina Psicologia do Desenvolvimento III do curso de Psicologia da FAI – Faculdades Adamantinenses Integradas/SP. Partiu da inquietação dos pesquisadores a respeito da possibilidade de desenvolvimento durante toda a vida humana e da necessidade de compreender o significado de aprender e da inclusão escolar ao longo dos processos vitais, sendo escolhido como lócus de pesquisa uma sala de Educação de Jovens e Adultos – EJA. OBJETIVOS

O trabalho tem como objetivos específicos compreender as motivações que impulsionaram o jovem e o adulto a retomar os estudos e quais levaram a evasão escolar passada; conhecer as dificuldades enfrentadas pelo grupo de alunos em relação ao processo de adaptação e aos aspectos afetivos, sociais e cognitivos; e analisar quais são as expectativas apresentadas pelos alunos da classe de EJA com o término do curso. METODOLOGIA

Para atingir os objetivos propostos foram realizadas duas observações em sala de aula, no mês de maio (11 e 25/05), entrevistas semi-abertas com a diretora, professoras responsáveis pela sala e alunos versando sobre: questões educacionais, as influências da família, o motivo de estudantes abandonarem a escola e quais as motivações que os levaram a retornar aos estudos. As entrevistas com os alunos ocorreram em 23/05/05 e 22/08/05.

RESULTADOS

Verificamos que a sala de jovens e adultos estudada funciona numa escola de Ensino Fundamental Municipal, em um bairro periférico, no período noturno, das 19h30min às 22h e comporta alunos da 1ª a 3ª série do Ensino Fundamental. As aulas são divididas entre duas professoras, sendo que uma ministra as matérias básicas, como: português, matemática, geografia, história e ciências, e a outra; aulas de trabalhos

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manuais uma vez por semana. Na terça e na sexta-feira há uma diminuição na freqüência dos alunos em decorrência das aulas de trabalhos manuais e dos grupos de orações nas Igrejas da comunidade, respectivamente. Considerando os registros da escola e os alunos constatados, verificamos a existência de 31 alunos que se matricularam e/ou freqüentaram a EJA no presente ano. Destes, aproximadamente 10 apresentam freqüência alta e regular às aulas, 04 desistiram (três por mudança de domicílio e um porque o cônjuge não autoriza a participação), 02 não têm vindo (um por problemas de saúde e outro por situação de perda de familiar), e os demais apresentam freqüência flutuante, com justificativas geralmente relacionadas ao trabalho, como por exemplo: cansaço e chegar tarde em casa, sendo a freqüência média de presença às aulas em torno de 12 a 15 alunos. A idade dos alunos no ano de 2005 varia de 18 a 76 anos, com uma predominância de alunos na faixa etária dos 56 aos 60 anos. Dois alunos participaram somente da primeira entrevista, cinco; somente da segunda e oito participaram nas duas, indicando estes dados a oscilação da freqüência dos estudantes. Vários alunos que freqüentam a EJA estão matriculados há mais de três anos. As atividades ocupacionais dos alunos entrevistados, do sexo masculino, relacionam-se geralmente a serviços rurais e/ou braçais. As atividades ocupacionais dos entrevistados, do sexo feminino, relacionam-se geralmente a serviços domésticos, realizados fora ou dentro do próprio lar. Mesmo mulheres que atualmente não trabalham fora do próprio lar, geralmente já o fizeram, ou como doméstica ou como lavradora (bóia-fria). A maioria dos alunos é ou foi casada, havendo somente dois alunos jovens, do sexo masculino, solteiros. A maioria dos estudantes possui três ou mais filhos.

Os dados quantitativos nos deram as informações referentes ao perfil básico dos discentes desta escola de EJA, especialmente ao que se refere aos alunos que

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freqüentam às aulas: a maioria é composta por trabalhadores da classe popular, casados, com filhos, sendo que alguns estão freqüentando a escola há mais de três anos.

Constatamos que a maioria não teve acesso à escola na idade compatível a série na infância, vários residiam na zona rural, sendo difícil o acesso à Educação. A valorização do saber aparece na fala de todos os entrevistados, assim como a desvalorização da condição de não saber. Além das questões de distância das escolas, do trabalhar na roça, também apareceram situações em que mulheres foram desmotivadas ou impedidas de estudar pela família (pais e/ou marido), retornando à escola quando se tornaram viúvas, separadas ou com os filhos crescidos. Vários alunos aprenderam a ler com os pais, através de Bíblias, hinários religiosos ou cartilhas existentes na casa.

Os motivos que os levaram a retomar os estudos foram: a necessidade de ler e escrever, lidar com dinheiro, obter a carteira de habilitação e conquista de melhores empregos. Os problemas mais significativos que enfrentaram por não terem sido alfabetizados suficientemente foram assinar o próprio nome na carteira de trabalho, não conseguir ler placas para entrar em conduções, não poder ajudar os filhos nas tarefas escolares, não conseguir fazer contas matemáticas e dificuldade na obtenção de empregos; suas perspectivas futuras estão geralmente associadas a melhores possibilidades de emprego como: prestar concursos, montar o próprio negócio, realizar de maneira mais aperfeiçoada as atividades no trabalho, outros associaram a possibilidade de situações prazerosas como conseguir ler livros, conseqüentemente adquirindo conhecimentos e a minoria apresentou a expectativa de realizar um curso superior. Três homens afirmaram que a motivação para aprender advém do desejo de obter habilitação para carteira de motorista, dois destes; para fins profissionais, um; para poder ganhar maior autonomia de locomoção.

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O desenvolvimento da autonomia aparece em situações cotidianas, como as citadas nas falas: D. Fátima, 66 anos: “Sabendo ler a gente se torna mais gente”. Cleuza, 39 anos: “Não saber ler é um tipo de cegueira, agora, o papel dá interesse em

ler”. D. Rute, 53 anos: “Depois de entrar na EJA minha vida mudou muito: saber ler as

placas das lojas, cartazes, conseguir fazer lista de compras, ler as correspondências que chegam, saber contar dinheiro, fazer contas de quanto fica pra uma compra”. Através desses relatos se evidencia a relação entre Educação e Cidadania. Os alunos expressaram o quanto perderam em seus direitos por desconhecerem letras, documentos, formas de funcionamento socializadas através de símbolos culturais, até então desconhecidos, e o quanto hoje, além de se sentirem mais valorizados e respeitados, apresentam um maior esclarecimento sobre as informações permitindo-lhes a possibilidade de escolhas e ações mais independentes de outras pessoas, passando a usufruir muito mais da condição de autores de suas histórias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Refletir sobre o desenvolvimento humano e sobre o significado do aprender e da inclusão escolar ao longo do Ciclo Vital, através da caracterização de uma sala de Educação de Jovens e Adultos, levou-nos a reflexão sobre as possibilidades de autonomia ou de cristalização da exclusão escolar e social que ocorrem, dependendo da oportunidade de superação das dificuldades existentes, sejam de cunho particular, institucional ou social.

A maioria dos entrevistados demonstrou que deseja permanecer estudando e aprendendo por prazer, pelos resultados que percebem em suas vidas cotidianas e não somente por aspectos de melhoria de emprego. Alguns apontam que acalentaram por décadas o desejo do retorno escolar. Mais do que empregos melhores, afirmam que desejam ser “pessoas melhores”, pois saberão ler e escrever, conquistarão seus sonhos e

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desejos, farão tudo o que não podiam fazer antes de retornar à escola, ou seja, os alunos sentem-se inferiorizados diante da situação de serem analfabetos (não saber ler e escrever) ou semi-analfabetos (que sabem escrever o próprio nome).

A valorização do saber é muito grande, em contrapartida culpa e vergonha são elementos que aparecem nas narrativas dos entrevistados. Apesar de levantarem alguns aspectos externos, se percebem como responsáveis por não terem conseguido se manter na escola. A exclusão escolar é vista muito mais como um processo particular do que coletivo, contextual e histórico. Ficou evidente que ao fazerem uso do aprendizado de ler e escrever passam a perceber o mundo de forma diferente e muitos se dão conta de que são pessoas de “direito”, sendo então a EJA uma possibilidade de autonomia e acesso à cidadania.

Considerando que 50% dos alunos matriculados não estão freqüentando as aulas ou o fazem com baixíssima freqüência, que os alunos entrevistados foram os que de alguma forma encontram-se vinculados à Educação, e que não contatamos os alunos que desistiram ou apresentam baixa freqüência escolar, sendo afirmado pelas professoras que os motivos se devem geralmente a questões familiares e de trabalho, podemos pensar que novamente não foram superadas as dificuldades as quais impediam a condição de acesso a uma nova percepção de mundo, de si e uma nova inserção social, aumentando as possibilidades de cristalização das exclusões. Diante do desejo, do empenho e dos aprendizados demonstrados pelos alunos entrevistados, quando pessoas de até 76 anos estão sentadas num banco escolar, verificamos que sempre é possível aprender, não importa a idade, desde que existam oportunidades.

BIBLIOGRAFIA

DAVIDOFF, Linda L. Introdução à Psicologia. 3ª ed. São Paulo: Makron Books, 2001.

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INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS. Educação de jovens e adultos: conceituações. Disponível em: <www.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus/thesaurus.asp?te1=122175&te2=122350&te3=37 081>. Acesso em 30/03/05.

MARTINS, Edna Julia Scombatti. Os alunos de volta a escola – Universidade aberta à terceira idade. São Paulo: Arte e Ciência – Villipress, 2001.

PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W. Desenvolvimento Humano. 7ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

PIKUNAS, J. Desenvolvimento Humano: uma ciência emergente. São Paulo: Mc Graw – Hill do Brasil, 1979.

SAAVEDRA, Luísa. Alunas da classe trabalhadora: Sucesso acadêmico e discurso de regulação. Psicologia: Reflexão e crítica, Porto Alegre, CNPq, nº. 1, vol. 1, p.267-276, 2003.

SANTOS, Geovânia Lúcia dos. Educação ainda que tardia: a exclusão da escola e a reinserção de adultos das camadas populares em um programa de EJA. nº. 24. Revista Brasileira de Educação - ANPEdanped. Campinas: Autores Associados, set./out./nov./dez. 2003.

Referências

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