1 POLÍTICAS PÚBLICAS E O EMPODERAMENTO DA JUVENTUDE GOIANA
Sandra Regina Alves1
Resumo2
O objetivo deste trabalho é analisar a produção legislativa estadual e municipal, respectivamente de Goiás e de Goiânia, voltada para as chamadas políticas de juventude, buscando fazer um mapeamento dos temas, ações, projetos, leis e demais iniciativas que passaram a fazer parte da agenda governamental. A juventude, assim entendida como uma categoria representativa da sociedade passou a ocupar nas últimas décadas um lugar de destaque no cenário político e na sociedade civil como sendo “sujeitos de direitos”, o que tem resultado em incorporação de demandas outrora ignoradas.
Palavras-chave: políticas públicas, juventudes, participação política, empoderamento
1. Introdução
O presente trabalho é um estudo das políticas públicas para juventude no Estado de Goiás. Por meio da análise do conteúdo dessas políticas, pretende-se verificar sua efetividade e avaliar a hipótese de que elas, da forma como são elaboradas, não respondem adequadamente à diversidade de necessidades dos jovens.
As políticas públicas para juventudes vêm alcançando um lugar de destaque nas agendas de governo e nas discussões que envolvem o tema. Apesar disso, ainda são escassas as iniciativas sejam, de organismos governamentais ou de movimentos sociais e de setores organizados da sociedade que buscam ajudar os jovens fazer a transição para a vida adulta. Os problemas e as situações vivenciados pela população jovem
1 Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Goiás. Contato: ssandrara@gmail.com 2
2 requerem uma análise mais ampla, que possa abarcar a complexidade que envolve as transições juvenis na contemporaneidade (PAIS, 2005).
Nesse sentido, a educação se configura como ponto central na elaboração e na implementação das políticas para os jovens, tendo em vista a importância que esse aspecto representa para a formação e a inserção dos jovens no mundo adulto. Por meio da educação, os jovens poderão se incorporar a outras dimensões sociais, como a da cultura, primordial na formação das identidades juvenis, e a do trabalho, tanto uma preparação para a empregabilidade quanto um agente formador do ser humano. Cada uma dessas dimensões é de real importância para vivenciar as várias esferas juvenis. Conhecer quem são esses jovens, onde vivem e, quais são seus anseios são formas de mapear os aspectos sutis que permeiam o cenário dos jovens.
Para a monografia aqui proposta, a ser realizada como trabalho final de curso, será utilizado parte das pesquisas de iniciação científica desenvolvidas entre 2009 a 2011. A primeira etapa, no âmbito do programa PIVIC, foi o projeto intitulado “Empoderamento informacional e político da juventude goiana na faixa etária de 14 a 18 anos”, e a segunda por meio do programa PIBIC, o trabalho intitulado “Políticas públicas para a juventude goianiense: escopo e efetividade”. A pesquisa empírica, com levantamento de dados em leis, projetos de leis, atas, programas, campanhas e relatórios, foi feita nos seguintes órgãos: Câmara Municipal de Goiânia, Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, Comissões da Criança e Juventude das respectivas casas, Assessoria Especial para Assuntos da Juventude, do município de Goiânia, e Superintendência de juventude do Estado de Goiás.
Na primeira etapa foram coletados dados sobre as leis elaboradas pelas casas legislativas, estadual e municipal. Na segunda etapa, buscou-se reunir informações sobre os programas, campanhas e projetos, alguns, inclusive, derivados das leis analisadas anteriormente, e formulados pelas agências do governo estadual e da Prefeitura de Goiânia em parcerias com órgãos federais. Dessa maneira, as duas
3 etapas da pesquisa se entrelaçam, formando um conjunto de informações sobre as iniciativas públicas para a juventude goiana.
Buscando analisar essas políticas no contexto juvenil, este trabalho pretende utilizar a abordagem integrada proposta por Di Giovanni (2009), que assume o tratamento de relações estruturadas e recorrentes. Segundo essa abordagem, é possível apreender elementos primários que compõem essas relações a partir de pontos eleitos pelo observador/investigador, verificando o grau de organicidade, coerência e consistência que se estabelece entre eles.
Assim, o objetivo deste trabalho é analisar a produção legislativa estadual e municipal, respectivamente de Goiás e de Goiânia, voltada para as chamadas políticas de juventude, buscando fazer um mapeamento dos temas, ações, projetos, leis e demais iniciativas que passaram a fazer parte da agenda governamental.
2. O cenário juvenil
A juventude, fase da vida que separa a infância da vida adulta, passou por várias mudanças nos contextos culturais, políticos e socioeconômicos ao longo da história da humanidade. Assim, a juventude é uma categoria criada pela sociedade, tal como a noção de adolescência. Nesse sentido, as duas se entrelaçam. Contudo, essas duas categorias têm significados diferentes, pois a noção de adolescência é usada para designar o período da vida em que se inclui a puberdade, (BOCK, 1999). Para Calligaris (2000), o período da adolescência é uma espécie de moratória concedida pela sociedade para que o adolescente se prepare para se inserir na vida adulta, e consequentemente, no mercado de trabalho, o que se espera que resulta em sua autonomia financeira.
Por outro lado, a ideia de juventude é entendida de forma mais ampla, usada para nomear diferentes indivíduos em vários contextos. Essa faixa etária, geralmente vai dos 15 e os 24 anos (definição da ONU em 1985, Ano Internacional da Juventude). No caso de jovens de baixa renda, inclui-se a faixa etária de 10 a 14 anos. Já nas
4 camadas médias e altas da sociedade, há uma ampliação dessa faixa etária para além dos 24, incluindo o grupo de 25 a 29 anos, Assim, se consolida o termo juventudes no plural, (UNESCO, 2005).
Em seu percurso socio-histórico, a juventude e a infância no Brasil se consolidaram na cultura da dádiva, em que o jovem era visto como “menor”, digno de piedade, alguém que recebia doações, e ao mesmo tempo, como ameaçador, perigoso, alguém que devia ser controlado. A partir dos anos de 1980, com a redemocratização do país, ocorreram várias mudanças e inovações sociopolíticas. As ações governamentais, então, passaram a considerar a criança e o adolescente como sujeitos da história (LOPES, 2006).
2.1 Políticas Públicas para Juventudes
Para que o jovem possa participar como agente formador de opinião na sociedade em que está inserido, é preciso que este tenha certa autonomia para refletir sobre os problemas que o atinge nos níveis local e global. Essa autonomia não é inata, precisa ser conquistada, o que, para a maioria dos jovens, significa que é necessário encontrar espaço para esse tipo de socialização.
Segundo Piovesan (2009), o jovem como “sujeito de direito”, pautado na ética dos direitos humanos, tem o direto de desenvolver todo seu potencial de forma livre e autônoma para escolher sua profissão de acordo com suas especificidades. Assim, nessa visão de “sujeitos de direitos” os indivíduos, que têm seus direitos violados, por exemplo, mulheres, negros, crianças e jovens, precisam ser vistos não de forma genérica, mas individual e com suas nuances, assegurando-lhes o direito à diversidade para que possam emancipar-se.
Nesse sentido, a condição dada ao jovem para se desenvolver sem discriminação pressupõe que ele seja incluído na sociedade, tornando-se um agente transformador na medida em que adquire consciência dos assuntos políticos e possa, assim, participar do processo de transformação da sociedade. Esse seria um caminho
5 para que figure como ator social, isto é, protagonista que atua num cenário considerado público como ator principal do elenco da sociedade civil. Assim, o ator social, para alcançar seus objetivos particulares, modifica o entorno social negociando com os outros indivíduos (SOUZA, 2008).
É com o auxílio das políticas públicas implementadas que a juventude alcançará sua emancipação. Elas propiciam aos jovens modos para que se tornem empoderados, por meio de ações voltadas para educação, saúde e lazer entre outros. A educação tem recebido ênfase, pois é, a partir dela que o indivíduo conseguirá se desenvolver, se profissionalizar, alcançar seu lugar na sociedade e ser reconhecido por ela.
3. Considerações Finais
Os gestores das políticas públicas, em suas principais áreas de atuação, tentam identificar os problemas que afetam os jovens, para, e assim, reunir subsídios e elaborar políticas para resolvê-los (SPOSITO e CARRANO, 2003). No que se refere às leis mais recentes, nota-se uma preocupação maior com a conscientização dos jovens, quanto a uso de drogas, prevenção de doenças, assistência social e educação. Tanto as leis municipais como as estaduais enfatizam a educação. As ações nessa área buscam, de certa forma, solução para um dos maiores desafios da juventude na atualidade, a empregabilidade, que, com uma educação de qualidade, tem maior probabilidade de ser alcançada e com uma remuneração melhor (SCHWARTZMAN e COSSÍO, 2007). As políticas de juventudes são determinadas pelos problemas de exclusão. Para tanto, o desafio é promover políticas que facilitem a integração do jovem na sociedade (Abad, 2002 apud, SPOSITO E CARRANO, 2003). As leis implementadas no Estado de Goiás e em Goiânia têm em vista a proposta de empoderar os jovens a partir de ações que focalizam os setores juvenis mais carentes e com maiores dificuldades.
4. Referências Bibliográficas
BOCK, A.B. M, et al. Psicologias. São Paulo: Saraiva 1999.
6 DI GIOVANNI, Geraldo. As estruturas elementares das políticas públicas. Caderno de Pesquisa n.82, NEPP/UNICAMP, 2009
LOPES, Roseli Esquerdo et al. Adolescência e juventude de grupos populares
urbanos no Brasil e as políticas públicas: apontamentos históricos. Revista HISTEDBR
On-line, Campinas, n. 23, p. 114-130, Set, 2006.
PAIS, José Machado et al. Jovens europeus: retrado da diversidade. Tempo Social revista de sociologia da USP, v.17, n.2, pp.109 a 140, 2005.
PIOSEVAN, Flávia. Igualdade, Diferença e Direitos Humanos: Perspectiva Global e Regional, in: BENEVIDES, Maria Victória de Mesquita; BERCOVICI, Gilberto; MELO Claudineu de (orgs) Direitos Humanos Democracia e República: Homenagem a Fábio Konder. São Paulo: Ed. Quartier Latin do Brasil, 2009.
SOUZA, Regina de Magalhães de. O discurso do protagonismo juvenil. São Paulo: Paulus, 2008 – (Coleção Ciências Sociais).
SCHWARTZAN, Simon; COSSÍO, Maurício Blanco. Juventude, Educação e Emprego
no Brasil.
Cadernos Adenauer, v. VIII n. 2, 2007.
SOUZA, Regina de Magalhães de. O discurso do protagonismo juvenil. São Paulo: Paulus, 2008 – (Coleção Ciências Sociais).
SPOSITO, Marília Pontes; CARRANO, Paulo César Rodrigues. Juventude e políticas
públicas no Brasil. Revista Brasileira de Educação, n. 24, p. 16-39, Set/Out/Nov/Dez,
2003.
UNESCO. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Representação no Brasil. Políticas públicas de/para/com juventudes. 2°. impr.Brasília: Unesco, 2005.