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O SISTEMA DOS JUROS NOS CONTRATOS CIVIS E DE CONSUMO (texto atualizado segundo EREsp SP julgado em 8/9/2008).

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Rio de Janeiro, 10 de novembro de 2008.

O SISTEMA DOS JUROS NOS CONTRATOS CIVIS E DE CONSUMO (texto atualizado segundo EREsp 727.842-SP julgado em 8/9/2008).

Autor: Prof. ANDRÉ ROBERTO DE SOUZA MACHADO

Mestre em Direito Econômico, Advogado e Consultor Jurídico, Professor da EMERJ e FESUDEPERJ, Professor da FGV e do IBMEC, Professor de cursos preparatórios para concurso.

Objetivo: O presente trabalho tem por escopo abordar sinteticamente a tormentosa questão dos juros contratuais no atual cenário legislativo e jurisprudencial do país, restringindo a análise, todavia, às obrigações regidas pela lei geral (Código Civil) em cotejo com o Código de Defesa do Consumidor.

INTRODUÇÃO.

Há muito o direito se preocupa com a cobrança de juros pelo capital emprestado, mais especificamente quanto à sua limitação e ao seu modo de cálculo simples ou composto.

Construiu-se então duas figuras jurídicas repudiadas pelo direito1, a usura (cobrança de taxas

superiores ao limite legal) e o anatocismo (cobrança de juros compostos, i.e., juros sobre juros), a fim de conter a exploração do devedor pelo credor, via de regra, hipossuficiente na relação contratual.

O ordenamento jurídico brasileiro incorporou o repudio a tais práticas, considerando-as inclusive como crime, através do Decreto 22.626 de 1933. Tal dispositivo legal estabelece a proibição da cobrança de juros contratuais em percentuais superiores ao dobro da taxa legal (art. 1º) e, igualmente, a vedação da capitalização dos juros (art. 4º), além de estabelecer teto para as cláusulas penais moratórias em 10% (art 9º).

Tem entendido a doutrina e a jurisprudência que o referido Decreto encontra-se recepcionado pela Carta Constitucional de 1988, mantendo portanto a proibição tanto no que diz respeito à prática do anatocismo quanto da usura.

DO LIMITE DOS JUROS CONTRATUAIS NA VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL DE 1916.

Através da combinação de dois dispositivos legais, o art. 1.062 do Código Civil de 1916, então vigente, que fixava os juros legais em 6% ao ano e o art. 1º do Decreto nº 22.626, que vedava a cobrança de taxas superiores ao dobro da taxa legal, chegava-se então na limitação de 12% ao

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ano ou 1% ao mês tanto para os juros moratórios2 quanto para os juros remuneratórios3

contratualmente estabelecidos.

Controvérsia surgiu, todavia, na aplicabilidade do referido Decreto aos contratos de empréstimo realizados por instituições financeiras, devido à entrada em vigor da Lei nº 4.595/1965, que estabeleceu que a limitação das taxas de juros a serem aplicadas por essas instituições seria de competência do Conselho Monetário Nacional. O próprio Supremo Tribunal Federal, instado a se manifestar sobre a questão, sumulou entendimento no qual as instituições financeiras não estariam adstritas ao disposto no Decreto 22.626 (vide Súmula 596).

Na prática o Conselho Monetário Nacional delegou ao Banco Central do Brasil tal regulamentação, e este determinou que a fixação das taxas de juros se desse conforme as regras do próprio mercado, ou seja, sem limitá-las.

A Constituição de 1988 trouxe novo tempero às discussões, posto que estabeleceu em seu art. 192 § 3º que as taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão exceder a doze por cento ao ano;” Diante do mandamento constitucional, travou-se novo confronto entre devedores e instituições financeiras, desaguando nos Tribunais.

A jurisprudência dividiu-se quanto a auto-aplicabilidade do texto constitucional, entendendo Supremo Tribunal Federal pela sua não auto-aplicabilidade em razão da expressão “juros reais” e da parte final do § 3º que diz “nos termos que a lei determinar”. Tal entendimento, no entanto, não restou pacificado nas instâncias inferiores.

Com a Emenda Constitucional n° 40 foram revogados os incisos e parágrafos do art. 192, da Constituição Federal; porém a divergência persistiu quanto aos contratos firmados antes da EC n° 40, sendo dirimida com a edição da Súmula vinculante n° 7, do STF.

“A NORMA DO §3º DO ARTIGO 192 DA CONSTITUIÇÃO, REVOGADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 40/2003, QUE LIMITAVA A TAXA DE JUROS REAIS A 12% AO ANO, TINHA SUA APLICAÇÃO CONDICIONADA À EDIÇÃO DE LEI COMPLEMENTAR. Data de Aprovação: Sessão Plenária de 11/06/2008. Fonte de Publicação DJe nº 112/2008, p. 1, em 20/6/2008. DO de 20/6/2008.

OS CONTRATOS EM GERAL E O NOVO CÓDIGO CIVIL.

Embora o Decreto 22.626 não tenha sido expressamente revogado pelo Novo Código Civil, que entrou em vigor em 11 de janeiro de 2003, é inegável que o quadro referente ao anatocismo e à usura sofreu significativa mudança.

2 Aplicados em caso de inadimplemento relativo, a partir da constituição do devedor em mora e pelo tempo que esta

durar.

3 Exigidos como remuneração do capital ou de bens postos à disposição do devedor, pelo tempo compreendido

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Com a revogação do código Civil de 1916, o artigo 1.062, que fixava em 6% ao ano os juros legais, deu lugar ao artigo 406 que assim estabelece:

CAPÍTULO IV Dos Juros Legais

Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

A primeira dificuldade tem sido estabelecer a que se refere o Código Civil quando fala em taxa em vigor para mora no pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. A controvérsia estabelecida na doutrina reside na aplicação da taxa Selic ou na taxa fixada pelo artigo 161, § 1º, do Código Tributário Nacional.

A primeira hipótese (taxa Selic) consistiria na aplicação de uma taxa variável, que já contempla atualização monetária, e é a taxa hoje aplicada para pagamento de tributos em atraso em situações como, por exemplo, o Refiz (Programa de refinanciamento de débitos fiscais)4. Esta

posição pode ser encontrada na doutrina, como nas lições do Prof. Silvio de Salvo Venosa e do Prof. Caio Mario da Silva Pereira.

A segunda tese (art. 161, § 1º, CTN), repousa em uma taxa fixa, de 12% ao ano, e foi aprovada por unanimidade em Jornada promovida pelo CJF (enunciado 20)5. A tese também é defendida

pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, através da Súmula n° 956.

No âmbito do STJ a discussão inicialmente dividiu as Turmas julgadoras. As 1ª e 2ª Turmas manifestavam-se predominantemente em favor da Selic (REsp 932329 / RJ; REsp 897043 / RN), enquanto as 3ª e 4ª Turmas posicionavam-se pela aplicação do art. 161, § 1°, do CTN (REsp 880698 / DF; REsp 437614 / SP).

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Vide o disposto nos arts. 13 da Lei 9.065/95, 84 da Lei 8.981/95, 39, § 4º, da Lei 9.250/95, 61, § 3º, da Lei 9.430/96 e 30 da Lei 10.522/02.

5 Enunciado 20: A taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 é a do art. 161, § 1º, do Código Tributário

Nacional, ou seja, 1% ao mês.

6 Súmula nº 95

JUROS MORATÓRIOS. ART. 406. NOVO CÓDIGO CIVIL. CRITÉRIO DE INCIDÊNCIA. CRITÉRIO DE FIXAÇÃO “Os juros, de que trata o art. 406, do Código Civil de 2002, incidem desde sua vigência, e são aqueles estabelecidos pelo art. 161, parágrafo 1º, do Código Tributário Nacional”.

Referência: Súmula da Jurisprudência Predominante nº 2005.146.00003 – Julgamento em 24/10/2005 – Votação: unânime – Relator: Desembargador Álvaro Mayrink da Costa – Registro de Acórdão em 13/12/2005 – fls. 010862/010867.

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A Corte especial, todavia, pacificou a divergência optando pela taxa Selic como adequada a preencher o disposto no artigo 406, do Código Civil vigente, nesse sentido a decisão proferida no EREsp 727.842-SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 8/9/2008.

A opção da Corte provoca, entretanto, discussões significativas no cenário atual. Senão vejamos:

- Se aplicada a taxa Selic como juros legais, teremos um percentual variável, sujeito aos reflexos da política econômica interna e externa, gerando insegurança e instabilidade em relações contratuais tradicionais como na locação e na compra e venda;

- Se a obrigação sujeitar-se também à atualização monetária por índice contratualmente eleito, como o INCC e o IGP-M por exemplo, haverá uma impossibilidade em sua cobrança cumulativa com a Selic, pois na composição desta última taxa já estaria contemplada a correção monetária.

Ressalte-se finalmente que, no que tange aos contratos de mútuo, exceto os firmados por instituição financeira, o legislador estabeleceu no Novo Código, no art. 591, que a taxa de juros devida não poderá ser superior a do art. 406, i. e., agora à taxa Selic.

Pelo texto do novo art. 591, então, verifica-se que a aplicabilidade do art. 1º do Decreto 22.626 foi afastada nos contratos onde tal discussão é mais significativa, que é justamente na fixação dos juros convencionais nos empréstimos, restando contudo a discussão quanto à sua aplicabilidade no caso de juros em decorrência da mora no pagamento de outras obrigações contratuais (fala-se em sua aplicabilidade no inadimplemento de cotas condominiais, por exemplo).

O NOVO CÓDIGO CIVIL E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

Cumpre, finalmente, analisar a constitucionalidade do art. 406 do Código Civil frente ao texto constitucional anterior à Emenda Constitucional n° 40, tendo em vista que o código teve sua publicação em 2002 e iniciou sua vigência em 11 de janeiro de 2003.

O referido artigo, adotada a tese da Selic como taxa de juros legais, tem sua constitucionalidade material questionada, face o limite estabelecido pelo § 3º do art. 192, da Carta Política de 1988, uma vez que a taxa Selic por ser variável e estar sujeita as contingências da política econômica, poderia facilmente ultrapassar os 12% ao ano, o que, aliás, era um fato à época da entrada em vigor do código.

Frise-se que a posterior revogação do dispositivo constitucional referido não teria o condão de retroagir ao tempo da edição do Código Civil para compatibilizá-lo. Também por este prisma, parece mais adequada a adoção da tese segundo a qual os juros legais devem corresponder ao disposto no art. 161, § 1°, do CTN.

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A MODIFICAÇÃO OU REVISÃO DAS TAXAS DE JUROS POR EXCESSIVA ONEROSIDADE.

Em que pese o posicionamento predominante da jurisprudência quanto à não incidência dos limites gerais dos juros contratuais aos contratos firmados com instituições financeiras, fato é que também estes contratos sujeitam-se ao controle das situações abusivas pelo Código de Defesa do Consumidor.

Assim sendo, se a taxa aplicada pela instituição financeira se apresenta excessivamente onerosa se comparada às taxas médias de mercado, esta poderá ser modificada ou revista pelo Judiciário, nos termos do que preceitua o art. 6°, V, do referido diploma legal.

Neste sentido é o entendimento do STJ a seguir reproduzido: Informativo nº 0269

Período: 21 de novembro a 2 de dezembro de 2005. Segunda Seção

JUROS REMUNERATÓRIOS. LIMITAÇÃO. NOVO CÓDIGO CIVIL.

Cuida-se de recurso remetido à Segunda Seção deste Superior Tribunal em que se discute a limitação dos juros remuneratórios vencidos posteriormente a 11/1/2003, data da entrada em vigor da Lei n. 10.406/2002. Esse recurso trata da revisão de dois contratos nos autos, uma conta-corrente firmada ainda na vigência do CC/1916 e um contrato de empréstimo celebrado em 22/1/2003. A Seção reafirmou que as limitações impostas pelo Dec. n. 22.626/1933 não se aplicam às taxas de juros cobradas pelas instituições bancárias ou financeiras em seus negócios jurídicos, cujas balizas encontram-se no contrato e regras de mercado, salvo as exceções legais (crédito rural, industrial e comercial). Por outro lado, ainda que aplicável às instituições bancárias a Lei n. 8.078/1990 por força da Súm. n. 297-STJ, o entendimento sedimentado é o de que o pacto referente à taxa de juros só pode ser alterado se reconhecida sua abusividade em cada hipótese, desinfluente, para tal fim, a estabilidade inflacionária no período e imprestável o patamar de 12% ao ano, já que sequer a taxa média de mercado, que não é potestativa, é considerada excessiva para efeitos de validade da avença. Para os contratos de agentes do SFN celebrados posteriormente à vigência do novo CC, que é lei ordinária, os juros remuneratórios não estão sujeitos à limitação, devendo ser cobrados na medida em que ajustados entre os contratantes, que lhes conferiam idêntico tratamento antes do advento da Lei n. 10.406/2002, na mesma linha da Súm. n. 596 do STF. Não se afasta a conclusão a que chegou esta Segunda Seção sobre a incidência do CDC a tais contratos se demonstrada, concretamente, a abusividade. Com esse entendimento, a Seção conheceu em parte do recurso e, nessa parte, deu-lhe parcial provimento para que sejam observados os juros remuneratórios posteriormente a 11/1/2003, tal como pactuados. Precedentes citados: REsp 407.097-RS, DJ 29/9/2003, e

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REsp 271.214-RS, DJ 4/8/2003. REsp 680.237-RS, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 23/11/2005.

CONCLUSÃO.

Concluindo, o Código Civil estabeleceu uma nova taxa de juros legais, passando dos antigos 6% para uma taxa variável, adotada a tese que vincula o art. 406 à Selic, taxa esta que serviria de limite máximo para a remuneração dos contratos em geral e os de mútuo em particular.

A opção do STJ de vincular o art. 406 à taxa Selic pode levar ao reconhecimento de sua inconstitucionalidade, se observado o momento de publicação e vigência do Novo Código, além de impor às relações privadas em geral uma instabilidade própria das oscilações da política econômica.

É bom lembrar que toda esta construção legal não se aplicaria às instituições financeiras, por força da já mencionada Lei 4.595/65, que continuariam sob a batuta do Banco Central e do Conselho Monetário Nacional, nem nos contratos sujeitos às regras do SFH, que possuem legislação própria (Lei 4.380/64) e limite específico de juros de 10% ao ano, que foi recepcionada com caráter de lei complementar (art. 192, caput da Constituição).

Por derradeiro, frise-se que em qualquer hipótese poderá o juiz rever a taxa de juros contratualmente fixada, reduzindo-a, toda vez que esta se apresentar excessivamente onerosa para o consumidor, com fundamento no art. 6º, V, da Lei 8.078/1990.

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