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Key words: Physical Therapy (specialty) Gait Locomotion

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EFEITOS DA DUPLA TAREFA NA MARCHA DE PACIENTES ATÁXICOS

Dual Task EffEcT in aTaxia GaiT Camila Torriani-Pasin*

Michelly Arjona**

Renata Gonzalez Leitão**

Roberta Zancani de Lima**

Fabio Navarro Cyrillo***

*** Doutora em Ciências (Educação Física - Biodinâmica do Movimento Humano) EEFE-USP, Docente Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo - EEFE-USP

*** Mestre em Fisioterapia pela UNICID, Docente no Curso de Fisioterapia da Universidade da Cidade de São Paulo (UNICID). .

*** Docente das Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU e Universidade Cidade de São Paulo - UNICID no curso de Fisioterapia; Mestrando em Fisiote-rapia pela UNICID

Resumo

Introdução: São escassas na literatura informações que

re-lacionem a dificuldade apresentada por indivíduos atáxicos durante a realização de ações que demandam associação entre estruturas cognitivas com as estruturas músculo-esqueléticas, configurando tarefas duplas. O estudo dessa associação é de fundamental importância nos pacientes atá-xicos tendo-se em vista o papel do cerebelo no armazena-mento da memória motora e na possibilidade de correções e ajustes durante a execução de um ato motor. Objetivo: Investigar a interferência motora-cognitiva em pacientes atáxicos com realização de tarefas duplas durante a reali-zação da marcha. Método: Foram realizados 4 testes que envolvem as seguintes atividades: marcha simples, marcha com demanda cognitiva, marcha com demanda efetora e marcha com demanda combinada cognitivo-motora, ava-liando-se como variável dependente a velocidade média e número de passos durante um percurso de 10 metros.

Re-sultados: Verificou-se que o desempenho nas 4 tarefas

pro-postas, relacionadas ao número de passos, apresentou-se comprometido no grupo experimental (GE) quando com-parado ao grupo-controle (GC) sendo que as tarefas que envolveram dupla tarefa tanto motora, cognitiva, quanto cognitivo-motora associadas impactaram ainda mais sobre o GE de forma negativa. Na comparação do GC e GE ao que se refere à velocidade média de marcha, verificou-se o comprometimento de 3 tarefas no GE, com exceção da tarefa com demanda cognitivo-motora (p=0,924), sendo o desempenho da tarefa de demanda cognitiva o mais com-prometido no GE. Conclusão: Conclui-se que a realização de dupla tarefa para o paciente com ataxia encontra-se comprometida, sendo que tanto as atividades que associam como tarefas secundárias o caráter cognitivo quanto motor, contribuem para um pior desempenho na marcha desses pacientes. De forma especial, o acoplamento de tarefa cog-nitiva à marcha foi a condição que mais comprometeu a realização da mesma.

PalavRas-chave:

Fisioterapia (especialidade) • Marcha • Lo-comoção • Ataxia.

aBsTRacT

Introduction: Scarce data are available in literature that relate

the difficult showed by people with ataxia during perfor-mance of actions that require association between cognitive structures and musculoskeletal functions, configuring dual task. Studying this association is fundamentally important in patients with ataxia according to the role of cerebellum in motor memory storage and the possibility of correction and adaptations during a motor act performance. Purpose: Investigating the motor-cognitive interference in patients with ataxia during gait performance of dual tasks. Method: Four tests involving the following activities were done: sim-ple gait, gait with cognitive demand, gait with effecter de-mand and gait with combined motor and cognitive dede-mand, assessing as dependent variables gait speed and number of steps during a ten meters distance. Results: According to the number of steps, it was verified that the performance in the four suggested tasks was damaged in experimental group (EG) when compared to control group (CG), once tasks that involved dual task (motor, cognitive as well as cognitive-motor associated) caused impact in EG in a very negative way. Comparing CG to EG referring to gait speed, it was verified detriment in three tasks in EG, except the cognitive-motor demand task (p=0,924), once the perfor-mance in the cognitive demand task was the most impaired in EG. Conclusion: Patients with cerebellar ataxia showed sig-nificantly detriment in performing dual tasks, mainly when cognitive tasks were requested as secondary task.

Key woRds

: Physical Therapy (specialty)• Gait • Locomotion • Ataxia.

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INTRodução

Funções relacionadas ao controle postural, à co-ordenação motora, aos movimentos oculares e o controle da fala são realizadas por diversas áreas do Sistema Nervoso, tais como o cerebelo, os tratos espinocerebelares, a substância negra, a ponte e as áreas corticais. Lesões em uma ou mais dessas regi-ões podem levar a algum tipo de ataxia, sendo a mais conhecida relacionada a lesões cerebelares (Klockge-ther et al.1 2000).

Durante dois séculos de estudos relacionados ao cerebelo e às doenças cerebelares, enfatizou-se ex-clusivamente a função cerebelar de regular o movi-mento e a coordenação. Porém, os mecanismos do cerebelo apesar de devotos a atividade motora, são também ativos em tarefas emocionais e cognitivas (Leroi et al.2 2002).

Segundo Bugalho et al.3 (2006), o cerebelo não atua somente em funções tradicionalmente conheci-das como efetoras, mas também podem participar em funções diversas, por meio de vias e circuitos pró-prios, como no controle de funções cognitivas, con-tribuindo com elementos específicos para um resul-tado comportamental que é a combinação de várias operações.

Para Gordon4 (2007), estudos neurológicos por imagem têm confirmado a ideia de que o cerebelo entra em atividade em processos cognitivos como os de organização espacial, visual e de memória de movi-mento tanto em curto quanto em longo-prazo. Nesse sentido, disfunções relacionadas a essas funções após lesões cerebelares podem ser relacionadas à desco-nexão de projeções cérebro-cerebelares, desencade-ando repercussões motoras, e também em funções cognitivas e de aprendizagem motora.

As disfunções relacionadas com o cerebelo depen-derão da topografia de lesão cerebelar; o cerebelo é conectado com o sistema reticular (responsável pelo nível de ativação), com o hipotálamo (cuja função mais específica relaciona-se ao sistema autonômico e expressão emocional), com o sistema límbico (rela-cionado à experiência e expressão emocional), e com áreas de associações paralímbicas e neocorticais crí-ticas para regulação de funções superiores (incluindo as dimensões cognitivas) (Kandel et al.5 2000; Lent6 2001).

Segundo Bugalho et al.3 (2006), após a análise

topográfica cerebelar, é possível relacionar como consequências diretas da ataxia tanto alterações re-lacionadas a sintomas e sinais motores como o de-sequilíbrio da marcha, incoordenação de movimento dos membros, alteração dos movimentos oculares e a disartria, como alterações em áreas de controle de diferentes funções cognitivas, quais sejam: de me-mória motora e aprendizagem. Assim, pacientes com lesões cerebelares, como os atáxicos, apresentam disfunções temporais em tarefas que envolvem desde um simples movimento de dedo a um piscar de olhos após condicionamento (Spencer et al.7 2005).

Dentre as alterações mais comuns para os pa-cientes com doenças cerebelares, a marcha é a mais recorrente, sendo descrita como lenta, com base alargada e apresentando irregularidades de tempo e amplitude de passos. O balanço pode ser unidirecio-nal em lesões do cerebelo vestibular, lateralizado em lesões de hemisférios, e predominantemente ântero-posterior em caso de atrofia do lobo anterior. Além do desequilíbrio, a disfunção da cinemática do tronco e de membros e a incoordenação entre os membros podem ser responsáveis pelos distúrbios da marcha (Ebersbach et al.8 1999).

Dessa forma, são escassas na literatura informa-ções que relacionem a dificuldade apresentada por indivíduos atáxicos durante a realização de ações que demandam mais estruturas cognitivas, como maior demanda atencional, como no caso da realização de dupla tarefa, também denominada de tarefas concor-rentes.

A dupla tarefa é um método que tem sido utilizado para determinar a demanda atencional de tarefas par-ticulares (Wright e Kemp9 1991). Seu desempenho, conhecido também como desempenho simultâneo, envolve a execução de uma tarefa primária, que é o foco principal de atenção, e uma tarefa secundária, executada ao mesmo tempo (Teixeira e Alouche10 2007).

Segundo Schmidt e Wrisberg11 (2001), a capacida-de capacida-de atenção no ser humano, além capacida-de ser limitada, parece apresentar-se de forma seriada em relação à natureza da tarefa executada, pois normalmente fo-caliza-se primeiro a atenção em uma atividade para depois haver possibilidade de direcionar a atenção para duas tarefas ao mesmo tempo. Tentar processar qualquer combinação dessas modalidades de

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infor-mação, simultaneamente durante os estágios iniciais da execução da marcha de uma habilidade motora, torna-se uma tarefa complexa.

Para Shumway-Cook e Woollacott12 (2003), du-rante a marcha, ao se percorrer um ambiente com-plexo ou cheio de objetos, informações sensoriais são solicitadas para ajudar no controle e na adaptação do andar. Nesse sentido, o comportamento locomotor inclui também a capacidade de iniciar e terminar a locomoção, ajustar e adaptar o andar de maneira a evitar obstáculos e alterar a velocidade e a direção de acordo com o ambiente. Além dessa demanda, a marcha geralmente contextualiza-se como tarefa pri-mária, já que quando se analisa o andar nas atividades diárias, este sempre está associado a uma tarefa se-cundária, como falar, carregar objetos ou associado a processos mentais internos. Esse acoplamento de tarefa primária e secundária é aprendido e adquirido ao longo da vida com a prática e a experiência (Bond e Morris13 2000).

Durante o processo de aquisição de uma habilida-de motora, o córtex é totalmente exigido enquanto o processo de aquisição se consolida. Após a automati-zação, os movimentos passam a ocorrer na área sub-cortical (núcleos da base, cerebelo e tálamo) deixando a área cortical livre para processar informações mais complexas. Ou seja, a automatização torna possível a execução de duplas tarefas (Bond e Morris13 2000).

Em circunstâncias normais, a realização conco-mitante de tarefas motoras e cognitivas é comum e, nessas situações, as atividades motoras são desem-penhadas automaticamente, ou seja, não requerem recursos atencionais conscientes. Esse estágio autô-nomo da aprendizagem de uma habilidade motora é alcançado a partir de um processo no qual a prática e sua variabilidade levam à formação de programas de ação (Cookburn et al.14 2003).

Segundo Teixeira e Alouche10 (2007), quando duas tarefas são executadas ao mesmo tempo, exigindo alto grau de processamento de informações, o de-sempenho de uma ou de ambas é diminuído. Um pre-juízo do desempenho da tarefa primária na execução da dupla tarefa indica que não há automatização dessa tarefa primária e essa piora no desempenho é con-sequência da atividade dupla. Esse prejuízo na tarefa primária e/ou na tarefa secundária ocorre, porque ambas as tarefas competem por demandas similares

para o seu processamento.

Assim, uma interferência motora-cognitiva, duran-te uma dupla tarefa, pode ser um importanduran-te indicador do estado funcional em que se encontra um paciente durante uma doença ou um período de reabilitação. Após uma lesão cerebral, essa alteração pode surgir, e atividades anteriormente automatizadas passam a requerer maior demanda atencional, implicando em prejuízo durante essas tarefas concorrentes (Teixeira e Alouche10 2007).

Para Cookburn et al.14 (2003), com o processo de automatização, torna-se desnecessário apresentar toda a atenção destinada à execução do movimento primário (no caso, a marcha), podendo, assim, reali-zarem-se outras funções secundárias de caráter cog-nitivo ou motor. Segundo Camicioli et al.15 (1998) e Bond e Morris13 (2000), no paciente neurológico essa capacidade de realização de duplas tarefas encontra-se prejudicada principalmente no paciente com lesão cerebral, porém lesões cerebelares não foram muito estudadas sob essa perspectiva. Assim, não há indí-cios concretos de que, após lesões cerebelares, a ca-pacidade de realização de duplas tarefas esteja preju-dicada.

Portanto, o objetivo deste estudo é investigar a in-terferência motora-cognitiva no desempenho da mar-cha em pacientes atáxicos com realização de tarefas concorrentes.

MéTodos

local

O estudo foi realizado na clínica de fisioterapia do Centro Universitário FMU, local onde os pacientes foram selecionados.

casuística

Foram selecionados 6 pacientes atáxicos para constituir o grupo experimental (GE), com média de tempo de lesão de 5,26 anos (DP=3,88), idade média de 40 anos, que apresentassem ataxia cerebelar, além de ortostatismo e marcha independente, com ou sem uso de auxiliares externos. A casuística foi composta por 3 mulheres e 3 homens.

Os critérios de exclusão foram pacientes com al-teração visual (como diplopia ou hemianospsia), alte-ração cognitiva (com Mini Exame do Estado Mental acima de 23 pontos), afasia de compreensão,

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instabi-lidade clínica e ataxia por etiologia sensitiva ou ves-tibular.

Para constituir o grupo-controle (GC) foram re-crutados 12 sujeitos saudáveis com idade entre 40 e 65 anos sem dores músculoesqueléticas, ou doenças reumatológicas. Em relação ao gênero da casuística, foi composta por 61,1% do sexo feminino e 38,9% do masculino.

O estudo foi aprovado pelo Comitê Ético interno da Instituição, respeitados os aspectos éticos concer-nentes à Resolução de nº 196 de 10 de outubro de 1996, que delimita diretrizes e normas regulamenta-doras de pesquisas envolvendo seres humanos. A co-leta de dados iniciou-se após assinatura de termo de Consentimento Livre e Esclarecido contendo explica-ções detalhadas sobre o estudo e sua finalidade.

MATeRIAIs

Os materiais utilizados foram uma calculadora convencional, um jaleco (avental) com bolsos bilate-rais, uma bola de ping-pong e um pedômetro Tech Line.

Delineamento

Após a seleção dos indivíduos, foi realizada a ava-liação da velocidade da marcha de forma auto-selecio-nada em uma plataforma de 10 metros, sem nenhuma tarefa concorrente (Tarefa 1). O método de avaliação foi utilizar a velocidade como uma medida isolada do andar funcional, uma vez que esta é simples, rápida e composta das variáveis temporal e espacial. É im-portante a possibilidade de calcular a velocidade de andar auto-selecionada pelo paciente, independente-mente do tipo de superfície, uma vez que esse cálculo representa uma pontuação cumulativa da qualidade da confiança e da capacidade exibidas pelo paciente durante o andar.

Sequencialmente foi avaliada a marcha no mesmo espaço de 10 metros com a atividade concorrente de demanda cognitiva (Tarefa 2), na qual o paciente deveria memorizar uma sequência de 5 números por 1 minuto e repeti-la verbalmente enquanto realizava a marcha.

Após essa etapa, avaliou-se a marcha com a ati-vidade concorrente de demanda motora (Tarefa 3). Para isso, enquanto o paciente realizava a marcha de 10 metros, devia pegar uma bola de ping-pong situada

em um bolso, sendo que havia bolsos bilateralmente, e transferi-la para o outro. Por fim, foi avaliada a ati-vidade concorrente de demandas cognitiva e motora associadas nas quais o paciente, durante a marcha, de-via repetir verbalmente a mesma sequência numérica vista anteriormente e ao mesmo tempo digitá-la em uma calculadora (Tarefa 4).

Como variáveis avaliadas nas 4 tarefas, foram con-siderados: números de passos e velocidade média, tanto na avaliação do GC quanto no GE. Essas me-didas foram feitas por meio de pedômetro e cronô-metro digital.

análise estatística

Na realização da análise estatística foram utilizados os Softwares: SPSS V11.5, Minitab 14 e Excel XP.

Para este trabalho foram utilizados os testes não paramétricos U de Mann-Whitney, Friedman e Wil-coxon. E, na complementação da analise descritiva, fez-se uso da técnica de Intervalo de Confiança para média. Sendo assim, a análise dos dados contemplou avaliação intergrupo (Grupos: GC x GE) e intragrupo (Tarefas: 1x2x3x4).

Foi definido para este trabalho um nível de signifi-cância de 0,05 (5%). Todos os intervalos de confiança construídos ao longo do trabalho obtiveram 95% de confiança estatística.

Ressalta-se que foram utilizados testes e técnicas estatísticas não paramétricas porque as condições como a normalidade e a homogeneidade das variân-cias não foram encontradas nesse conjunto de da-dos.

ResuLTAdos

Os grupos foram compostos segundo as seguintes características demográficas: 6 sujeitos atáxicos cons-tituiram o grupo experimental (GE), com média de tempo de lesão de 5,26 anos (DP=3,88); idade média de 53,3 (DP=4,2). Em relação ao gênero, a casuísti-ca, foi composta por 3 mulheres e 3 homens. Já o grupo- controle (GC) foi composto por 12 sujeitos saudáveis com idade média de 50,8 (3,9). Em relação ao gênero, 61,1% foram do sexo feminino e 38,9% do masculino.

Na Tabela 1 apresenta-se a análise intergrupo, re-ferente à comparação do GC e GE, quanto ao de-sempenho durante as 4 tarefas relacionadas à variável

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Número de Passos Média Mediana Desvio-Padrão CV Q1 Q3 Tamanho IC p-valor

Tarefa 1. Marcha GC 12,75 12,0 2,18 17,1% 11,0 13,5 12 1,23 0,004*

GE 22,17 20,5 8,75 39,5% 16,3 24,0 6 7,00

Tarefa 2. Marcha com Demanda Cognitiva

GC 12,50 12,0 2,68 21,4% 11,0 14,3 12 1,52

0,001*

GE 26,67 28,5 7,37 27,6% 21,5 32,5 6 5,89

Tarefa 3. Marcha com Demanda Motora

GC 13,67 14,0 2,15 15,7% 12,0 15,3 12 1,21

0,002*

GE 25,67 28,5 7,28 28,4% 19,8 31,3 6 5,83

Tarefa 4. Marcha com De-manda Cognitivo-motora

GC 13,50 12,5 3,15 23,3% 11,0 15,3 12 1,78

0,006*

GE 25,33 28,5 8,21 32,4% 18,3 31,3 6 6,57

Tabela 1- Dados relativos ao nº de passos nas 4 tarefas para GC e GE.

CV: coeficiente de variação; Q1 / Q3: primeiro e terceiro quartis; IC: intervalo de confiança; GC: grupo controle; GE: grupo experimental

Velocidade Média Média Mediana Desvio- Padrão CV Q1 Q3 Tamanho IC p-valor

Tarefa 1. Marcha GC 1,30 1,3 0,12 9,2% 1,3 1,4 12 0,07 0,011*

GE 0,79 0,8 0,41 52,3% 0,5 1,0 6 0,33

Tarefa 2. Marcha com Demanda Cognitiva

GC 1,05 1,1 0,19 17,9% 1,0 1,1 12 0,11

0,005*

GE 0,59 0,5 0,31 53,0% 0,4 0,9 6 0,25

Tarefa 3. Marcha com Demanda Motora

GC 1,04 1,0 0,19 18,2% 0,9 1,1 12 0,11

0,026*

GE 0,63 0,6 0,35 56,0% 0,3 1,0 6 0,28

Tarefa 4. Marcha com Demanda Cognitivo-motora

GC 0,97 1,0 0,15 15,9% 0,8 1,1 12 0,09

0,924

G.E. 0,71 0,6 0,42 58,4% 0,4 1,1 6 0,33

Tabela 2 - Dados relativos à velocidade média nas 4 tarefas para GC e GE.

CV: coeficiente de variação; Q1 / Q3: primeiro e terceiro quartis; IC: intervalo de confiança; GC: grupo-controle; GE: grupo experimental

número de passos.

A Tabela 2 apresenta a comparação do GE e GC no que se refere a variável velocidade de marcha du-rante as execuções das 4 tarefas.

Nota-se que existe diferença estatisticamente sig-nificante entre o GC e GE tanto para o número de passos quanto para a velocidade de marcha durante a execução das 4 tarefas, exceto no que se refere à velocidade de marcha durante a execução da tarefa com demanda cognitivo-motora (p=0,924).

A seguir, ilustra-se a análise intragrupo para cada variável mensurada.

Com base nos dados da Figura 1, considerando-se que quanto menor o número de passos melhor a execução da tarefa realizada (Balasubramanian et al.16 2007), pode-se observar que no GC as tarefas de me-lhor desempenho foram as da marcha (Tarefa 1) e

marcha com demanda cognitiva (Tarefa 2), seguidas das tarefas com demanda cognitivo-motora (Tarefa 4) e motora (Tarefa 3) isoladamente. No GE, a ordem relativa ao desempenho nas tarefas foi a marcha se-guida pelas demais com mesmo valor.

Considerando-se que quanto maior a velocidade média melhor a realização da tarefa (Von Schroeder

et al.17 1995), na Tabela 3, pode-se afirmar que para o GC a melhor performance ocorre na tarefa de mar-cha, seguida pela cognitiva e, por último, pela motora e cognitivo-motora, com os mesmos valores. Já para o GE, a tarefa de marcha apresenta melhor valor, se-guida pela motora, cognitivo-motora e, por último, a tarefa cognitiva.

Discussão

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du-0 5 10 15 20 25 30

Tarefa 1 Tarefa 2 Tarefa 3 Tarefa 4

GC GE

Figura 1- Valores de mediana do número de passos realizados pelo GC e GE nas 4 tarefas testadas.

GC: grupo-controle; GE: grupo experimental

Figura 2 - Valores de mediana da velocidade média (m/s) realizada pelo GC e GE nas 4 tarefas testadas.

pla tarefa com demanda cognitiva e motora no de-sempenho da marcha de pacientes atáxicos.

Nota-se, neste estudo, em relação à velocidade média, que todas as tarefas para o grupo de pacientes atáxicos (exceto a cognitivo-motora) apresentaram diferenças estatisticamente significantes com relação ao grupo-controle (GC) apresentando maiores valo-res em relação ao grupo experimental (GE).

Nesse contexto, para Titianova et al.18 (2005), a

velocidade da marcha afeta parâmetros espaciais e temporais tanto em sujeitos saudáveis quanto em pa-cientes, sugerindo que o déficit da marcha poderia ser classificado em relação à sua velocidade. Portanto, analisando os resultados acima, pode-se indicar que o GE apresentou uma marcha mais comprometida em relação ao GC, exceto quando utilizadas tarefas cog-nitivo-motoras.

Segundo Ebersbach et al.8 (1999), pacientes com

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doenças cerebelares apresentam alterações na mar-cha, com diminuição de velocidade, irregularidades de tempo e amplitude de passos. O fato de o cerebelo participar de múltiplas funções cerebrais (Bugalho et

al.3 2006), bem como do controle de funções cogniti-vas e sobre o sistema reticular responsável pelo nível de ativação (Kandel et al.5 2000; Lent6 2001) justifi-ca o seu comprometimento não somente em tare-fas motoras, mas também de caráter cognitivo. Essa afirmação corrobora os achados do presente estudo na medida em que houve diminuição significativa da velocidade média no GE quando comparado ao GC nessa situação.

Roerdink et al.19 (2006) realizaram um estudo com pacientes pós AVE em que se verificou relação entre a realização da tarefa cognitiva com a deterioração do controle postural (mensurado pelo deslocamento do centro de gravidade). Detectou-se que com a realiza-ção de tarefa cognitiva houve diminuirealiza-ção da estabili-dade local e, assim, do controle postural. Esses resul-tados podem ser somados aos do estudo presente, pois pacientes atáxicos apresentam desequilíbrio e in-coordenação entre os membros, com diminuição do controle postural, sendo essa perda agravada quando associada à realização de tarefas concorrentes, impli-cando em deterioração da velocidade e número de passos.

Segundo Bond e Morris13 (2000), a automatização de uma tarefa torna possível executá-las simultanea-mente, entretanto, os pacientes com ataxia não apre-sentam disponibilidade total para realizar uma segun-da tarefa concomitante à marcha, mesmo esta sendo uma habilidade extremamente praticada e inerente ao ser humano. Assim, a simples atividade de andar demanda muita atenção, provavelmente em função do desequilíbrio, não favorecendo a disponibilidade de atenção necessária para a combinação de uma se-gunda tarefa.

Analisando os resultados do presente estudo, a única tarefa que não apresentou diferença estatisti-camente significante em relação à velocidade média foi quando associada a demandas cognitivo-motoras. Para Cockburn et al.14 (2003), atividades motoras e cognitivas, quando combinadas, demandam maior acionamento e conexão cerebral, aumentando a com-plexidade da tarefa, sendo os efeitos da tarefa con-corrente mais evidentes. Essa pode ser a razão pela

qual a tarefa cognitivo-motora prejudicou de maneira semelhante a velocidade média tanto do GC quanto do GE.

Além disso, quando se analisa a característica e a natureza das tarefas propostas, pode-se dizer que a tarefa concorrente de demanda cognitiva e motora associada possivelmente prejudicou o controle visu-al durante a marcha. Nesse sentido, o equilíbrio foi, então, desafiado, o que pode explicar o pior desem-penho dos pacientes atáxicos em relação ao grupo-controle.

Em relação ao número de passos, em todas as tarefas o GC apresentou menor valor, com impor-tante diferença estatisticamente significante, quando comparado ao GE. Segundo Camicioli et al.15 (1998), indivíduos saudáveis apresentam dificuldades ao reali-zar a dupla tarefa durante a marcha no que se refere à quantidade de passos, mas quando comparados à pacientes neurológicos esse prejuízo é muito menor. Em um estudo realizado por O´Shea et al.20 (2002), observou-se que pacientes com doença de Parkinson apresentam menor número de passos e de velocida-de quando executam dupla-tarefa, fato este que se opõe a este estudo quando comparados GC e GE. Isso pode indicar que tarefas motoras e cognitivas podem afetar de forma diferente pacientes atáxicos e com doença de Parkinson, sendo uma provável causa a topografia lesional.

Ao analisar os dados no que se refere ao grupo de sujeitos atáxicos, ainda com relação à natureza das tarefas propostas como secundárias à execução da marcha, pode-se afirmar que, quanto ao número de passos, os sujeitos com ataxia foram perturbados de forma similar. Ou seja, acoplar atividade de memória à marcha impacta com a mesma magnitude que aco-plar tarefa de coordenação entre mãos e tarefas de memorização associadas à atividade manual. Porém, ao considerar a velocidade média, o fato de acoplar atividade cognitiva à execução da marcha repercu-te com magnitude mais acentuada do que associar a marcha à atividade de coordenação entre membros superiores. Esse achado salienta a grande importân-cia do cerebelo em funções cognitivas e não somente como receptor e comparador de aferências prove-nientes de diversas regiões do sistema nervoso.

O limitado número de sujeitos na amostra e a he-terogeneidade da mesma exigem cuidados no que se

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refere a algumas extrapolações dos achados do pre-sente estudo para a terapêutica com pacientes cere-belares. Porém, o impacto negativo da tarefa secun-dária cognitiva associada à marcha deve ser avaliado pelo fisioterapeuta como rotina na prática avaliativa da marcha destes pacientes. Uma sistematização de avaliações quantitativas da marcha acoplando tarefas secundárias diferenciadas, tais como motora, cogni-tiva e cognitivo-motora deve ser implantada como rotina tanto na avaliação, quanto no treinamento da marcha desses pacientes.

São necessários, assim, novos estudos que

permi-tam a comparação entre diferentes doenças neuro-lógicas no que se refere à realização da dupla tarefa para que possam ser desenvolvidos programas de re-abilitação mais específicos e eficientes.

CoNCLusão

Conclui-se que a realização de dupla tarefa para o paciente com ataxia encontra-se comprometida, sendo que as tarefas que associam caráter cognitivo e motor separadamente contribuem para um pior de-sempenho na marcha desses pacientes.

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RefeRências

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Referências

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