Ana Carolina Brochado Teixeira
anacarolina@teixeiraemirandaadvogados.com.br
O Princípio da Boa-fé
O Princípio da Boa-fé
no Direito das
Famílias
Atual concepção de boa
Atual concepção de boa--fé
fé
objetiva
objetiva
A boa-fé objetiva se caracteriza por ser uma regra
de conduta, um dever das partes em se pautar
pela honestidade, lealdade e cooperação em
suas relações jurídicas, sem condutas abusivas.
Nasce em um ambiente negocial. Em um segundo
Nasce em um ambiente negocial. Em um segundo
momento, expande-se das relaçoes contratuais
para outros tipos de relação jurídica, para controle
da
legitimidade
do
exercício
da
autonomia
privada
Por isso, é fonte de deveres, e decorre do Princípio
Boa
Boa--fé Subjetiva
fé Subjetiva
Boa-fé subjetiva ou psicológica: ausência de
malícia e desconhecimento pelo sujeito dos vícios
incidentes sobre o ato que pratica
Boa-fé subjetiva no Direito de Família: casamento
putativo,
presunção
de
boa-fé
de
um
dos
putativo,
presunção
de
boa-fé
de
um
dos
genitores quanto à motivação da viagem com o
filho ao exterior, etc
Atual concepção de boa
Atual concepção de boa--fé
fé
objetiva
objetiva
A boa-fé, como “cláusula de lealdade e
colaboração
para
o
alcance
dos
fins
contratuais”, tem tríplice função:
interpretativa dos negócios jurídicos,
interpretativa dos negócios jurídicos,
restritiva do exercício abusivo de direitos e
criadora de deveres anexos ou acessórios à
prestação principal.
A boa
A boa--fé objetiva e a
fé objetiva e a
confiança:
confiança: venire contra
venire contra
factum proprium
factum proprium
Deveres
de
cuidado,
lealdade,
confiança e cooperação
confiança e cooperação
Relações patrimoniais:
›
pacto antenupcial,
›
casamento que opta por regime diverso do
legal mas, por um erro, não há pacto.
Aplicação do art. 1.640 CC ou do venire?
STJ
STJ
PROMESSA DE COMPRA E VENDA. CONSENTIMENTO DA MULHER. ATOS POSTERIORES. " VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM ". BOA-FE. PREPARO. FERIAS. (...)
2. A MULHER QUE DEIXA DE ASSINAR O CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA JUNTAMENTE COM O MARIDO, MAS DEPOIS COMPRA E VENDA JUNTAMENTE COM O MARIDO, MAS DEPOIS DISSO, EM JUIZO, EXPRESSAMENTE ADMITE A EXISTENCIA E VALIDADE DO CONTRATO, FUNDAMENTO PARA A DENUNCIAÇÃO DE OUTRA LIDE, E NADA IMPUGNA CONTRA A EXECUÇÃO DO CONTRATO DURANTE MAIS DE 17 ANOS, TEMPO EM QUE OS PROMISSARIOS COMPRADORES EXERCERAM PACIFICAMENTE A POSSE SOBRE O IMOVEL, NÃO PODE DEPOIS SE OPOR AO PEDIDO DE FORNECIMENTO DE ESCRITURA DEFINITIVA. DOUTRINA DOS ATOS PROPRIOS. ART. 132 DO CC. 3. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (STJ, REsp 95.539/SP, 4a. T., Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, J. 3/9/1996)
STF
STF
O Supremo Tribunal Federal decidiu, em julgado de 1978,[1] que abordava a solução de conflito levado ao Poder Judiciário em razão de casamento realizado no Uruguai sob o regime legal da separação de bens. Lá se casaram, permaneceram por um período, pois lá a mulher tinha propriedades, e retornaram ao Brasil. Quando da separação, requerida pelo cônjuge-virago, suscitou-se a aplicação do art. 7º, § 4º, da Lei de Introdução ao Código Civil, a aplicação do art. 7º, § 4º, da Lei de Introdução ao Código Civil, que determina que a lei aplicável é a do primeiro domicílio conjugal, conforme por eles declarado. O marido, por seu turno, argumentou a inexistência de domicílio no território uruguaio, devendo, por isso, aplicar-se a lei brasileira, cujo regime legal, à época, era o de comunhão universal de bens. Incide, portanto, em flagrante comportamento contraditório, uma vez que, conforme acórdão, este, durante o casamento, celebrou diversos negócios jurídicos, declarando-se casado sob o regime da separação total
de bens.
TJMG
TJMG
ARROLAMENTO DE BENS. SEPARAÇÃO LITIGIOSA. COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. RECURSO PROVIDO. Os pedidos de expedição de ofícios para apurar o patrimônio comum do casal e impedir a transferência e oneração de bens, de arrolamento de bens referentes ao Posto São Geraldo e de exibição de documentos para assegurar à agravante o direito de co-gestão dos bens do para assegurar à agravante o direito de co-gestão dos bens do patrimônio do Posto São Geraldo Ltda. devem ser acolhidos, porquanto é sabido que em processo de separação judicial litigiosa a parte que detém a administração dos bens tende a tomar atitudes que podem dificultar ou inviabilizar a partilha, em manifesto prejuízo para outra parte. O deferimento dos pedidos supramencionados se harmoniza com o princípio da boa-fé objetiva, pois estará sendo assegurado o dever de cuidado, de proteção, de informação, de lealdade e de guarda que uma parte deve ter para com a outra.[1] .
[1] TJMG, Agravo de Instrumento nº 1.0024.03.143352-7/001 – Rel. Desa. Maria Elza – DJ 03/08/04
Aboa
Aboa--fé objetiva é aplicável aos
fé objetiva é aplicável aos
diversos tipos de situação jurídica?
diversos tipos de situação jurídica?
Aplicável apenas às relações patrimoniais,
ou também se estende às existenciais?
A família democrática é terreno fértil para
autonomia,
limitada
pela
solidariedade
autonomia,
limitada
pela
solidariedade
familiar,
que
acaba
por
impor
deveres
concretos de cooperação mútua e recíproca,
de lealdade, de cuidado e de preservação
das expectativas geradas. NÃO SE TRATA DE
UMA
VERIFICAÇÃO
DO
SENTIMENTO
DOS
MEMBROS DAS ENTIDADES FAMILIARES, MAS DE
COMPORTAMENTOS
ACORDES
COM
ESSAS
CONDUTAS.
Aboa
Aboa--fé objetiva é aplicável aos
fé objetiva é aplicável aos
diversos tipos de situação jurídica?
diversos tipos de situação jurídica?
Nota-se, por conseguinte, que estes deveres jurídicos devem ser encarados objetivamente, como uma postura concreta juridicamente exigível, podendo, no mais das vezes, não coincidir com o aspecto subjetivo interno, relacionado a sentimentos ou emoções, seara na qual o direito não pode interferir. Assim, não há como exigir que o sujeito ame ou respeite, em seu foro íntimo, o outro sujeito com quem ame ou respeite, em seu foro íntimo, o outro sujeito com quem mantenha algum vínculo de origem familiar. É certa, todavia, a possibilidade do direito exigir a exteriorização de um comportamento familiar que seja leal, respeitoso e contributivo para o desenvolvimento pessoal dos demais membros da família. Em linhas gerais, tanto nas relações patrimoniais de família quanto nas relações existenciais, a boa-fé objetiva tende a manter um ambiente familiar privilegiado para a promoção da dignidade de seus membros. (Fernanda Amaral Gurgel)
Aboa
Aboa--fé objetiva é aplicável aos
fé objetiva é aplicável aos
diversos tipos de situação jurídica?
diversos tipos de situação jurídica?
Segundo Anderson Schreiber, a boa-fé objetiva não se aplica
às relações existenciais, por um problema de lógica e
funcionalidade sistêmica: “Aplicar a boa-fé objetiva e o
nemo potest venire contra factum proprium a fim de
nemo potest venire contra factum proprium a fim de
solucionar tais conflitos equivaleria a transferir a uma relação
existencial
uma
lógica
originariamente
negocial,
em
oposição a toda a elevada existencialidade” inerente a
algumas relações de família. Mas a boa-fé objetiva é cabível
como mecanismo de controle dos atos de autonomia
privada, quando outros instrumentos mais específicos já não
exercem essa função.
A boa
A boa--fé objetiva e a
fé objetiva e a
confiança:
confiança: venire contra
venire contra
factum proprium
factum proprium
Relações existenciais:
›
negatória
de
paternidade
por
registro
›
negatória
de
paternidade
por
registro
voluntário
e
por
inseminação
artificial
heteróloga,
Confiança, responsabilidade e melhor
Profa. Heloisa Helena Barbosa
Como observado na decisão em pauta, a boa-fé,
correção e lealdade constituem um dever geral,
não circunscrito às relações obrigacionais, e
assumem nas relações familiares o significado de
assumem nas relações familiares o significado de
expressão da solidariedade e confiança recíproca
que lhes são inerentes.[1]
[1]
BARBOZA,
Heloisa
Helena.
Desconhecimento
da
paternidade do filho havido por inseminação heteróloga
consentida pelo marido. Revista Trimestral de Direito Civil, Rio
de Janeiro: Padma, v. 1, p. 160, jan./mar. 2000.
Profa. Rose Vencelau Meireles
Em suma, embora a lei confira ao pai presumido direito de
contestar a presunção, o seu comportamento contraditório de quem ora amou e cuidou do filho que sabia não ser genitor, enfim, reconhecendo-o como filho, este direito se limita às hipóteses de vício de manifestação de vontade. Isto porque a filiação é interesse personalíssimo do filho, daquele que possui status de filiação, não do pai. Conseqüentemente, embora a paternidade constitua a outra face da filiação, as ações de estado devem ser analisadas sob a ótica preferencial do filho, estado devem ser analisadas sob a ótica preferencial do filho, não do pai. Portanto, deve-se dar limites à propugnada imprescritibilidade da ação negatória de paternidade.
Trata-se da aplicação da vedação ao venire contra factum proprium em matéria de filiação. A proibição ao venire contra factum proprium decorre do princípio da boa-fé, com maior aplicação ao direito obrigacional. Porém, sendo um princípio geral do direito, incide em todas as searas, embora tenha maior guarida neste ou naquele segmento.[1]
[1] VENCELAU, Rose Melo. O elo perdido da filiação: entre a verdade jurídica, biológica e afetiva no estabelecimento do vínculo paterno-filial. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 164-165.
Boa
Boa--fé objetiva e alimentos
fé objetiva e alimentos
Determina um comportamento pautado em um
padrão ético de confiança e lealdade, que veda
o enriquecimento indevido daquele que tem
condições
de
prover
o
próprio
sustento.
A
permanência da necessidade como forma de
permanência da necessidade como forma de
prolongar a obrigacao alimentar