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O CIDADÃO SURDO: IDENTIDADE, CULTURA E LÍNGUA DE SINAIS

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Academic year: 2021

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O CIDADÃO SURDO: IDENTIDADE, CULTURA E LÍNGUA DE SINAIS

Lucilaine Aparecida Jonsson – UNICENTRO/I

lu_jonsson@hotmail.com

Anízia Costa Zych – UNICENTRO/I

azych@irati.unicentro.br

RESUMO: O artigo tem como foco identificar aspectos da educação dos surdos, bem

como seu idioma e cultura. O surdo encontra grande dificuldade ao ser incluído numa escola do ensino regular, pois elas não estão preparadas para recebê-lo. A partir do exposto há necessidade de se analisar tal contexto. Assim sendo, emerge a pesquisa de como o surdo vem sendo atendido na escola. Para tanto, o trabalho está dividido em três etapas. No primeiro momento, através de pesquisa bibliográfica, realizaram-se estudos sobre a educação dos surdos nos primórdios da história para fundamentar sua evolução. No segundo momento, priorizamos a Língua Brasileira de Sinais, a qual é utilizada pela maioria das pessoas surdas, favorecendo sua comunicação também com os ouvintes que a dominam. No terceiro momento, procuramos apreender concepções sobre identidade, cultura e surdez como subsídio sociocultural do grupo. Espera-se que o estudo contribua significativamente para a educação das pessoas surdas.

Palavras-chave: surdo, identidade e cultura, libras, educação.

INTRODUÇÃO

O presente artigo é parte integrante do trabalho de conclusão de curso e tem como objetivo estudar questões com respeito à educação dos surdos, bem como seu idioma e cultura. Partindo deste pressuposto, surgiu então o interesse de investigar como o aluno surdo é atendido no contexto escolar. Para tanto, este artigo está subdividido em três grandes momentos.

No primeiro momento, para que possamos ter um entendimento mais aprofundado e amplo a respeito da educação dos surdos, buscamos adquirir informações referentes ao modo como eram atendidos nos tempos primórdios, para chegarmos a um consenso de como ocorreu à evolução educacional do mesmo. Para tanto será pesquisado as concepções históricas. No segundo momento, priorizamos a Língua Brasileira de Sinais, mais conhecida como LIBRAS. Trata-se de um sistema estruturado da mesma maneira que as

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diferentes línguas naturais. Todos os surdos têm condições de comunicar-se nesta língua, considerada sua língua natural, possibilitando sua comunicação com as demais pessoas. No terceiro momento, procuramos aprofundar estudos a respeito das concepções sobre identidade e cultura.

CONCEPÇÕES HISTÓRICAS

Para que se possa ter um entendimento com mais clareza a respeito ao aluno surdo no contexto escolar, constata-se necessário fazer um resgate do histórico da Educação dos Surdos. Até a Idade Média, a igreja católica acreditava que a alma do surdo não era imortal, devido ao fato de não conseguirem falar os sacramentos. Nos dias de hoje os impedimentos religiosos não existem mais com tanta intensidade, porém, o impedimento legal ainda está presente. Sabe-se que defender a cidadania e o direito do aluno com deficiência é algo que passou a ser considerado muito recentemente na sociedade.

De acordo com Moura (2000), para os gregos ouvintes, os surdos não eram seres humanos competentes, pois eles acreditavam que o pensamento não podia se desenvolver sem a linguagem sendo, portanto, impossível desenvolver-se sem a fala. Partiam de um pressuposto de que a pessoa que nascia surda não pensava, era impossibilitado de aprender e considerado como um não humano, sem nenhuma possibilidade de desenvolver as faculdades intelectuais.

Segundo Moura (2000) os romanos privavam os surdos de seus direitos. Assim desconsiderados eram tidos como incapazes de gerenciar os seus próprios atos, perdiam a sua condição de ser humano e eram confundidos com os retardados. Prejudicado com isso, até hoje o surdo é visto de maneira errônea, não é entendido num sentido mais amplo.

Considerando mais a história da educação das pessoas com deficiência, observa-se que até o século XVIII, o pouco que era conhecido sobre deficiência era ligado ao misticismo e ocultismo, cujo conteúdo não tinha base cientifica, ou seja, as informações partiam de noções e/ou ideias. A religião que colocava o homem como imagem e semelhança de Deus, exaltava o ser humano perfeito física e mentalmente, em que ser portador de alguma deficiência era entendido como imperfeição e era deixado de lado.

Aprofundando o conhecimento sobre o tema, pode-se constatar que a primeira obra sobre educação de deficientes teve como autor e criador Jean-Paul Bonet. Intitulada “Redação das Letras e Arte de Ensinar os Mudos a falar”, foi editada na França em 1620.

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A primeira instituição especializada na educação de surdos-mudos foi fundada pelo abade Charles Michel de L’Eppée em Paris, 1770. Ele foi responsável pela criação dos sinais, que tinha como objetivo completar o alfabeto manual.

Os educadores Thomas Braidwood e Samuel Heincke fundaram um instituto educacional destinado aos surdos-mudos, ambos em seus países. Mais especificamente, Heinecke inventou o método oral para facilitar o aprendizado dos surdos-mudos, atualmente esse método é conhecido como leitura labial. Tal método acabou vindo de encontro ao método até então utilizado que era o de sinais, ocasionando, portanto várias discussões quanto a sua validade.

Ernesto Hüet chegou ao Brasil no ano de 1855, logo de início foi apresentado ao Marquês de Abrantes que foi seu ponto de ligação com o Imperador D. Pedro II. Este se interessou muito pelos planos de Hüet, relacionados à fundação de uma escola para surdos no Brasil. A partir daí começou a lecionar para dois alunos e logo, o Imperial Instituto de Surdo-mudo foi então criado por Dom Pedro II em outubro de 1856. Cem anos depois seu nome mudou devido a lei nº 3.198, de 6 de julho, passou então a chamar-se Instituto Nacional de Educação de Surdos-(INES). Contudo, tal escola se focalizava na educação literária e ensino profissionalizante de meninos surdos-mudos, entre 7 e 14 anos.

Segundo Mazzotta (2001) o Instituto Santa Terezinha teve como fundador o bispo Dom Francisco de Campos Barreto em 15 de abril de 1929 em Campinas (SP). Mas isso só foi possível pelo fato de duas freiras brasileiras irem para o Instituto de Bourg-la-Reine, em Paris, com o objetivo de se especializarem a fim de que pudessem lecionar para alunos surdos. Depois de quatro anos de preparação, retornaram ao Brasil juntamente com mais duas freiras francesas, sendo então criado o Instituto Santa Terezinha. No mesmo momento em que começou a funcionar como externato para meninas e meninos, iniciou-se também um trabalho para integrar os surdos no ensino regular.

O Instituto Santa Terezinha era considerado como uma instituição especializada e conceituada, o qual oferecia aos alunos surdos não somente o ensino de 1º grau, mas também atendimento médico, psicológico, entre outros. Cabe salientar que o Instituto era mantido pela Congregação Irmãs de Nossa Senhora do Calvário, sendo reconhecido como Utilidade pública Federal, Estadual e Municipal.

Moura (2000) salienta que foi com o monge Ponce de León que surgiu a educação dos surdos, seu trabalho serviu de incentivo para o trabalho de vários outros educadores, sendo também o primeiro professor a trabalhar com os surdos. Ele passou parte de sua vida

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em um monastério Beneditino em San Salvador, na Espanha. Por um grande período passou orientando os surdos filhos dos nobres, ensinava-lhes a falar, ler, escrever, rezar e conhecer doutrinas do Cristianismo.

Johann Conrad Amman, era médico residente da Suíça, foi um dos principais expoentes do oralismo alemão, tendência que acreditava que a humanidade residia na possibilidade da fala do indivíduo e que o sopro da vida só é possível na voz, sendo esse legado dado ao homem, por Deus. Para ele os surdos pouco se diferenciavam dos animais, era contra os sinais porque acreditava que o uso dos mesmos atrofiava a mente. Ainda considerava a Língua de Sinais como sendo uma mímica sem linguagem.

Jean-Marc Itard era médico cirurgião e iniciou o seu trabalho com surdos por acaso, atendendo um surdo no Instituto Nacional de Surdo-Mudo e se tornando posteriormente médico residente. Seu trabalho mais conhecido foi o de tentar socializar o Menino Selvagem de Aveyron, que ele tentou recuperar, tendo fracassado em suas tentativas. Voltou-se então aos surdos com os quais se dedicou a realizar experiências médicas no referido Instituto. Ele tentava descobrir as causas visíveis para a surdez e constatou, que a causa da surdez não podia ser detectada visualmente. Itard nunca aprendeu a Língua de sinais durante todo este trabalho que realizou com os surdos. Contudo Moura (2000, p. 27), nos mostra o apontamento que Itard fez com respeito ao surdo quando diz:

Desde que sua proposta era a transformação do Surdo em ouvinte, a ausência da fala fluente não serviu ao seu propósito e ele então culpou a Língua de Sinais usada na escola pela falha de desenvolvimento da capacidade da fala dos Surdos. Se o Surdo não tivesse acesso aos Sinais, ele se veria forçado a falar, desenvolveria a fala (como ele já havia demonstrado que poderia ocorrer nos seus treinamentos) e a usaria fluentemente, pois não teria outra forma para se comunicar.

Moura (2000), ainda salienta que Thomas Gallaudet adquiriu interesse pela causa da surdez quando se deparou com uma surda, então juntamente com outros colegas criou uma escola pública para surdos nos Estados Unidos. Thomas não sabia nada sobre sinais, por isso foi para a Europa aprender o método que era utilizado por Braidwood, mas ele não quis revelar seu método a Thomas, o que fez com que fosse para a França em 1816, no Instituto Nacional para Surdos-Mudos, em que pode realizar estágios, observações e aprender os sinais, ao mesmo tempo em que aprendeu o método de L’Epée, o qual teve como seu instrutor Laurent Clerc.

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A princípio era utilizada a Língua de Sinais Francesa, mas gradativamente os alunos foram modificando, passando a se formar a Língua de Sinais Americana. A partir do momento em que esta foi fortalecida e também com o surgimento de comunidades de Surdos, foram surgindo mais escolas para surdos nos Estados Unidos.

De acordo com Moura (2000), foi em 1864, que o Congresso americano passou a autorizar a implantação e funcionamento da primeira faculdade para surdos que se localiza em Washington. Atualmente denominada Gallaudet University, pois foi fundada por Edward Gallaudet, filho de Thomas Gallaudet. Eram encaminhados para esta faculdade, alunos que tinham bom aproveitamento e que se beneficiariam dos ensinamentos oferecidos.

No ano de 1878, foi realizado em Paris um Congresso sobre os Surdos, o qual tinha por objetivo discutir a educação do surdo, decidindo sobre a forma de língua que seria mais favorável ao desenvolvimento da educação dos surdos. Neste congresso a língua oral foi indicada como a principal forma de comunicação e o sinal seria utilizado apenas como língua auxiliar.

O Congresso de Milão que foi realizado no ano de 1880 contou com a participação de italianos e franceses, unidos por razões políticas, justamente por tal interesse, a Alemanha havia sido convidada a participar também. O interesse do Congresso foi fazer uma discussão sobre a necessidade de substituir a Língua de Sinais pela língua oral nacional.

No início do século XX, a maioria das escolas de surdos abandonou o uso da língua de sinais, em conseqüência do Congresso de Milão de 1880, considerou-se que a melhor forma de educação do surdo, seria aquela que utilizasse somente o oralismo. O surdo para viver em sociedade deveria falar para poder ter o direito de conseguir viver e ser aceito pelo seu grupo social. A filosofia oralista dominou em todo o mundo até a década de 60.

De acordo com Moura (2000, p. 48), a resolução do congresso foi que:

Dada a superioridade incontestável da fala sobre os Sinais para reintegrar os Surdos-Mudos na vida social para dar-lhes maior facilidade de linguagem,... (Este congresso) declara que o método de articulação deve ter preferência sobre o de sinais na instrução e educação dos surdos e mudos.

Este Congresso notoriamente teve suas conseqüências, como por exemplo, a demissão de alguns professores que eram surdos e a eliminação dos educadores, ou seja,

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buscou-se impedir que fosse possível acontecer qualquer tipo de manifestação ou proposta que fosse contra ao oralismo.

LÍNGUA DE SINAIS: UMA MODALIDADE VISUAL ESPACIAL

A língua de sinais é a principal forma de comunicação para os surdos, considerada sua língua natural. É indiscutível o valor da língua de sinais para a comunicação da comunidade surda. Segundo Coll, Marchesi e Palácios (2004) trata-se de um sistema lingüístico estruturado, com uma coerência interna e um sistema de regras capaz de produzir todo tipo de expressões e significados.

Compreende-se que a língua de sinais é natural porque ela surgiu de uma necessidade por parte da comunidade surda. Ela é de certa maneira, diferente da língua oral, pois se baseia principalmente de um meio de comunicação visual-espacial, no qual se apropria do espaço e do que a visão se apercebe. Além de ser uma língua gestual-visual, pois se apropria para a comunicação dos gestos, bem como as expressões faciais. O que a caracteriza como língua é sua estrutura a partir de níveis lingüísticos, como o fonológico, morfológico, sintático, semântico e pragmático. A língua de sinais de cada país apresenta características próprias, portanto, cada comunidade surda apresenta variação no uso dos sinais. Percebe-se, portanto, a necessidade de uma língua que possibilite a fácil comunicação do surdo na interação com a sociedade.

Britto (1997, p. 22), reafirma tal necessidade quando enfatiza:

Os surdos são pessoas e, como tais, dotados de linguagem assim como todos nós. Precisam apenas de uma modalidade de língua que possam perceber e articular facilmente para ativar seu potencial lingüístico e, conseqüentemente, os outros potenciais e para que possam atuar na sociedade como cidadãos normais.

Com base nisso, podemos entender que o surdo é um ser humano com potencial, basta apenas que seja lhe proporcionado as oportunidades, como a utilização da língua de sinais como meio de comunicação e o espaço para que o mesmo possa demonstrar tal atitude. É para este fim que a LIBRAS está disponível, justamente para tornar possível esse processo.

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Advém ressaltar que a língua oral e a língua de sinais são de certa forma parecidas e sua gramática é a mesma, pois as duas possuem dupla articulação e são estruturadas com base em morfemas e tipos lingüísticos já existentes. Para tanto, a LIBRAS como qualquer outra língua possuí sua gramática e é organizada, contendo sua própria estrutura. Ela apresenta como principais aspectos: a configuração da mão, que é o posicionamento da mão ao sinalizar, neste também inclui o local de articulação, que se limita entre a cabeça e o cotovelo, no exato momento da sinalização; o movimento, a orientação que vem a ser se o sinal possuiu algum movimento e uma direção, bem como a expressão facial e corporal, pois existem sinais que somente serão diferenciados com base neste aspecto. Britto (1997) ressalta que falar com as mãos é, portanto, combinar esses elementos que formam as palavras.

Advém ressaltar, que o léxico em LIBRAS se considera infinito, no sentido de que sempre lhe são agregadas novas palavras ou sinais. Contudo, o que é usado na estrutura das palavras é semelhante ao português, porém, o que diferencia é que em português sua modalidade é oral-auditiva e na LIBRAS é visual-espacial. Tais modalidades que fazem parte da língua de sinais visual-espacial seria a configuração da mão, o ponto de articulação, o movimento, a expressão facial, além de classificadores que servem como marcadores de concordância, bem como indicar a forma ou tamanho de algum objeto.

CONCEPÇÕES SOBRE IDENTIDADE, CULTURA E DIFERENÇA SURDA

A principio compreendemos a necessidade de fazer uma breve explanação com respeito ao surdo ser considerado diferente ou deficiente. Contudo percebemos que ser normal ou anormal diz respeito a questões sociais, ou seja, ser considerado anormal é possuir características diferentes que não se encaixam com os ditos “normais”, que são delineados socialmente. Supomos com isso que perante a sociedade ser diferente não agrada, e por muitas vezes é considerado um estranho, por sua vez, anormal. Com base nisso Santana (2007, p. 23) salienta:

Nesse caso, o sujeito não pode ter características particulares, já que sua individualidade “compromete” a norma. Em outras palavras, a individualidade é vista como um desvio e, portanto, deve ser corrigida para adequar a pessoa ao que é considerado normal, evitando-se a discriminação. Discriminação esta de que são alvos os gagos, os afásicos, os surdos, os disfluentes, enfim, todos aqueles que fogem à norma vigente.

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Portanto, não somente os surdos são discriminados, mas qualquer pessoa que possua uma característica diferente não se encaixa no grupo de pessoas ditas “normais”, e que por sua vez é deixada fora do âmbito social.

O fato de o surdo ter uma modalidade diferenciada de comunicação faz com que algumas pessoas acabem se afastando, do convívio. Muitas vezes são tidos como coitadinhos dignos de pena ou desprovidos de capacidade, porém, a característica do surdo é que são dotados de outra língua, que seria a língua de sinais. Sabe-se que são diferentes as formas como uma família ouvinte aceita o fato de ter um filho surdo, algumas têm um impacto de início, mas se adapta ou não. Outras fazem esforço para aprender a língua de sinais para uma melhor comunicação com seu filho, porém, existem aquelas que não se propõem a aprender a língua de sinais, por acreditar que é a língua restrita ao filho.

Percebe-se então a necessidade de uma mudança, em que a surdez passe a ser vista não mais como incapacidade, mas sim como condição de fenômeno social. Dentro desse aspecto, entendemos que o surdo não é mais considerado como deficiente, mas sim pessoas que fazem parte de uma comunidade que o identifica. Com isso, a luta pela mudança começa acontecer, visto que a língua passa a ser identificada como parte integrante de uma cultura específica.

Santana (2007) explicita que a língua de sinais legitima o surdo como sujeito de linguagem e é capaz de transformar a “anormalidade” em diferença. Os defensores da língua de sinais afirmam que é somente por meio da língua de sinais que o surdo constrói uma identidade surda, sendo assim é o que o define.

Para tanto entendemos necessário ter conhecimento das três concepções de identidade citadas por Hall (2006), no qual as divide em Sujeito do iluminismo, Sujeito sociológico e Sujeito pós-moderno.

O Sujeito do iluminismo se baseia na pessoa como indivíduo centrado e unificado, sendo que este possui capacidades de razão, de consciência e ação. Este ser centrado emerge no nascimento do sujeito e com ele se desenvolve, contudo permanece idêntico ao decorrer de sua existência. O Sujeito sociológico entende identidade como sendo formada na interação entre a sociedade e o eu, ou seja, estabiliza os mundos culturais que os habitam tornando-os unificados. O Sujeito pós-moderno não se constitui de uma identidade permanente, ou seja, se transformam continuamente, pois se assumem diferentes identidades em determinados momentos.

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Portanto, que a identidade não é por inteira completa, acabada, é o que explica isso em Hall (2006, p.38):

Assim, a identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento. Existe sempre algo “imaginário” ou fantasiado sobre sua unidade. Ela permanece sempre incompleta, está sempre “em processo”, sempre “sendo formada”.

Assim a identidade evolui da dinâmica relacional que está em andamento, em constante processo. Santana (2007, p. 43) discorda sobre alguns defensores da língua de sinais, quando afirmam que os surdos só adquirirem uma identidade se fizerem uso da língua de sinais, baseado nesse apontamento lemos que:

Afinal de contas, não há relação direta entre língua especifica e identidade especifica. A identidade não pode ser vista como inerente às pessoas, mas como resultado de práticas discursivas e sociais em circunstancias sócio-históricas particulares. O modo como a surdez é concebida socialmente também influencia na concepção da identidade.

Dentro desse aspecto, entendemos que o surdo não deve ser encarado como se estivesse vagueando socialmente. De acordo com Santana (2007), entendemos o conceito de identidade como uma construção permanente que busca determinar especificidades que estabeleçam uma ponte com o outro, sendo assim adquirindo o reconhecimento de sua pertinência pelos integrantes do grupo a qual pertencem. Com isso, identificamos que a identidade não está relacionada a uma língua determinada e sim a práticas discursivas.

Muszkat (1986) propõe que a identidade passe a ser entendida como um complexo funcional, pois se trata de um agrupamento de conteúdos psíquicos que se configuram e se modificam continuamente. Ressalta-se com isso, que essa função define-se como uma experimentação e transformação do mundo e de suas necessidades básicas, com o intuito de integração e discriminação do próprio complexo.

Ao se ouvir falar em cultura, o que vem à cabeça de momento são práticas simbólicas de um grupo, porém, não é um complexo de padrões, comportamentos ou até mesmo costumes. O termo cultura refere-se à língua que os surdos fazem uso, sendo que à existência dessa cultura impele a segregação entre surdos e ouvintes. Conforme Santana, (2007), a defesa da cultura surda atualiza os mecanismos de reprodução da própria desigualdade, fazendo com que o termo cultura torne-se instrumento de legitimação dessa

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REFERÊNCIAS

BRASIL, Secretaria de Educação Especial. Língua Brasileira de Sinais/ organizado por Lucinda F. Brito ET. al – Brasília: SEESP, 1997. V. III. – (Série Atualidades Pedagógicas, n.4).

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade / Stuart hall; tradução Tomaz Tadeu da silva, Guaracira Lopes Louro – 11. ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

MAZZOTA, Marcos José Silveira. Educação especial no Brasil: História e políticas

publicas/ Marcos José Silveira Mazzotta – 3. Ed. – São Paulo: Cortez, 2001.

MOURA, Maria Cecília. O surdo: Caminhos para uma nova identidade. Rio de Janeiro: Revinter Ltda, 2000.

MUSZKAT, Malvina. Consciência e Identidade. São Paulo: Ática S. P, 1986.

SANTANA, Ana Paula. Surdez e linguagem: aspectos e implicações neurolinguísticas / Ana Paula Santana – São Paulo: Plexus, 2007.

COLL, Cezar, MARCHESI, Álvaro, PALACIOS, Jesús. Desenvolvimento psicológico e

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