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Mastites subclínicas bovinas na zona do Ribatejo-Oeste. Subclinical bovine mastitis in the Ribatejo-Oeste area

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Resumo: As mastites subclínicas constituem uma das principais

causas de perdas económicas nas explorações de bovinos leitei-ros. No presente trabalho, foi avaliada a presença de mastites subclínicas numa amostragem representativa de bovinos leiteiros pertencentes a 12 explorações do Ribatejo-Oeste. A realização do Teste Californiano de Mastites revelou que 42% dos animais apresentavam pelo menos um quarto com contagens de células somáticas elevadas. Os agentes etiológicos mais frequentemente isolados foram Streptococcus agalactiae (13,9% das amostras), Staphylococcus epidermidis (8,3%) e Staphylococcus aureus

(7,8%). Vacarias com maior prevalência de agentes contagiosos de mastites, identificados em amostras de leite com forte reacção ao TCM, apresentavam piores resultados em termos produtivos. O mau estado de saúde dos úberes é justificável pelas falhas de execução no “plano de controlo de cinco pontos”, observadas na maioria das explorações em estudo.

Palavras-chave: mastite, subclínica, contagiosa, ambiental. Abstract: Subclinical mastitis remains one of the major causes

of economic losses in dairy farms. In this work, the presence of subclinical mastitis was evaluated on a representative sample of dairy cows belonging to 12 commercial dairy farms in the Rib-atejo-Oeste area. The California Mastitis Test showed that 42% of the animals had at least one quarter with high somatic cell counts. The most frequently isolated microrganisms were Strep-tococcus agalactiae (13.9% of the samples), Staphylococcus epi-dermidis (8.3%) and Staphylococcus aureus (7.8%). Farms with

a higher prevalence of contagious mastitis, identified in highly positive CMT milk samples, showed worse results in terms of production parameters. The poor udder health status may be at-tributed to faults in the “five point control plan” implementation, detected in the majority of the studied farms.

Keywords: mastitis, subclinical, contagious, environmental.

Introdução

A prevenção das mastites deve constituir uma priori-dade para produtores e veterinários por razões econó-micas e de saúde pública. As mastites são consideradas a patologia que maior prejuízo provoca em explorações de bovinos leiteiros (Bennett, 2003; Ruegg, 2003). As

formas subclínicas, apesar de menos evidentes para o produtor que as clínicas, são as que mais afectam o ren-dimento económico da exploração leiteira. A produção de leite e a qualidade deste diminuem, o que resulta num valor mais baixo atribuído pela indústria. Por ou-tro lado, as mastites constituem a razão mais frequente para o uso de antibióticos em bovinos leiteiros (Guter-bock, 1995). Questões de saúde pública, nomeadamen-te a emergência de resistências bacnomeadamen-terianas aos antibi-óticos, determinaram recomendações para a redução e para o uso racional de antibióticos em medicina veteri-nária (Apifarma, 2004).

Para o controlo das mastites de natureza contagiosa, provocadas por Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae, Streptococcus dysgalactiae, Corynebacte-rium bovis e Mycoplasma spp., foi desenvolvido um

“plano de controlo de 5 pontos das mastites” (Kingwill, 1981). Deste plano, fazem parte a utilização e manu-tenção apropriadas das salas de ordenha, a desinfecção dos tetos após a ordenha (post-dip), o tratamento das

mastites clínicas durante a lactação, o refugo de ani-mais afectados por mastites crónicas e a antibioterapia de secagem.

O presente trabalho visa a caracterização da popu-lação microbiana responsável por mastites subclínicas em 12 explorações de bovinos leiteiros da área do Ri-batejo-Oeste. O nível de infecção e as espécies micro-bianas isoladas, foram relacionados com práticas de maneio e com parâmetros produtivos das explorações.

Materiais e métodos

Amostragem

Foram seleccionadas 12 explorações de bovinos lei-teiros situados na área do Ribatejo-Oeste, cujas dimen-sões são exemplificativas dos vários tipos de vacarias aí existentes. A amostra a testar em cada vacaria foi ini-cialmente calculada para uma prevalência esperada de mastites subclínicas de 50%, com uma margem de erro de 10% e um nível de confiança de 95%. O tamanho da amostra foi ajustado no decurso do estudo, de acordo

Mastites subclínicas bovinas na zona do Ribatejo-Oeste

Subclinical bovine mastitis in the Ribatejo-Oeste area

R. Bexiga*, L. M. Cavaco e C. L. Vilela

Secção de Microbiologia e Imunologia. Centro Interdisciplinar de Investigação em Sanidade Animal (CIISA). Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa. Av da Universidade Técnica, Pólo Universitário do Alto da Ajuda, 1300-477 Lisboa, Portugal

* Correspondência: ricbexiga@hotmail.com; tel. (351) 21 365 28 00 ext. 1364; fax: (351) 21 365 28 89

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com a prevalência encontrada na primeira visita, indi-vidualmente para cada vacaria. Para o cálculo do tama-nho da amostra recorreu-se ao programa WinEpiscope 2.0. Numa vacaria (exploração G) não foi possível atin-gir os valores da amostra calculada, porque a explora-ção foi encerrada por inviabilidade económica.

O estudo incidiu sobre um total de 2.881 animais em lactação, dos quais 891 animais foram rastreados por TCM.

Recolha de amostras

No decurso deste trabalho, cada vacaria foi visitada entre duas e três vezes, consoante o tamanho calcu-lado de amostra necessária. A existência de mastites subclínicas foi pesquisada pelo Teste Californiano de Mastites (TCM) realizado em animais seleccionados aleatoriamente durante a ordenha. Nos quartos cujo resultado do TCM foi +++, definido como presença de flocos aderentes ao fundo da placa, foi realizada a recolha asséptica de amostras de leite. Sempre que, no mesmo animal, foram detectados mais do que 2 quar-tos com um resultado de +++ no TCM, apenas foram recolhidas amostras de 2 desses quartos, escolhidos de forma aleatória. As amostras foram colocadas em mala de transporte refrigerada, até processamento laborato-rial, efectuado no mesmo dia da colheita. Na primeira visita realizada a cada vacaria, foi recolhida, asseptica-mente e em profundidade, uma amostra do leite de tan-que sob agitação, no final da ordenha. A caracterização da população total, da amostra e dos TCM realizados em cada vacaria encontram-se expressos na Tabela 1.

Caracterização das explorações

As explorações foram caracterizadas com o auxílio de um questionário por nós elaborado. Este destinava-se ao registo de obdestinava-servações feitas durante a ordenha, e a coligir as respostas dos produtores a questões sobre vários aspectos de maneio que poderiam constituir fac-tores de risco para a ocorrência de mastites subclínicas. O registo da contagem das células somáticas do leite de tanque foi efectuado na primeira visita, com base na média rolante dos 3 últimos registos mensais enviados pela indústria leiteira aos produtores, sem ter havido, no entanto, confirmação independente. No caso de ex-plorações que utilizam o recurso a centrífugas para ar-tificialmente reduzir a contagem de células somáticas do tanque de leite, o registo baseou-se na média rolante das 3 últimas contagens sem recurso a centrífugas.

Processamento laboratorial das amostras

Todas as amostras foram submetidas a análise bacte-riológica de rotina para pesquisa de agentes bacteria-nos aeróbios, excepção feita à pesquisa de Mycoplasma

spp. Para tal, foram inoculados 10 �l de leite em agar�l de leite em agarl de leite em agar MacConkey (Merck), em agar Columbia suplementa-do com 5% de sangue desfibrinasuplementa-do de carneiro

(Bio-Mérieux) e em meio líquido de enriquecimento, brain heart infusion broth (Difco). A incubação foi feita a 37ºC, em condições de aerobiose, durante 48 horas. Procedeu-se ao isolamento e identificação de todos os microrganismos cujas colónias estavam presentes em número igual ou superior a 5 (NMC, 1999).

Após o isolamento, sempre que as características ma-cro e mima-croscópicas sugeriam a presença de E. coli, a

identificação bioquímica foi realizada com o conjunto de testes que constituem o IMViC: indol, vermelho de metilo, Voges-Proskauer e citrato (Quinn et al., 2000).

Os restantes microrganismos foram identificados pe-los sistemas API 20 E, API 20 NE, API 20 Strep, API Coryne, API Staph e API 20 C AUX (BioMérieux). Sempre que o sistema API utilizado não era conclusi-vo, era tentada a identificação pelo sistema BBL Crys-tal Enteric/NF ou BBL CrysCrys-tal Gram-Positive (Becton, Dickinson and Company).

Análise estatística

O significado estatístico das relações entre os dados laboratoriais e os dados do inquérito foi averiguado pelo teste-T de amostras independentes e pelo χ2. A

análise estatística dos dados foi feita com recurso ao programa SPSS versão 10.0.

Resultados

As respostas aos questionários permitiram-nos ca-racterizar as explorações quanto a aspectos produtivos e sanitários.

O número médio de vacas em lactação foi de 248 animais, tendo a vacaria mais pequena 55 vacas em lac-tação e a maior 950. A laclac-tação média aos 305 dias foi de 7.987 litros de leite, havendo alguma variação entre as explorações, com a vacaria de menor média a rondar os 5.000 litros de leite e a de maior média a quase du-plicar esse valor, com 9.500 litros. A contagem média das células somáticas do leite de tanque foi de 462.000/ mL de leite, com o mínimo registado de 150.000/mL e o máximo de 700.000/mL.

Tabela 1 – População em estudo, para cada vacaria

(N=número). Exploração Vacas em lactação (N) Amostra calculada (N) Animais submetidos a TCM (N) A 222 66 104 B 162 57 74 C 90 46 65 D 170 62 63 E 102 38 86 F 950 87 118 G 127 55 37 H 55 33 53 I 98 63 73 J 260 70 76 K 330 74 84 L 315 49 58 Total 2881 700 891

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Quanto às instalações, 58,3% das explorações têm

loggettes, 50% utilizam palha como material para

ca-mas, 33,3% dos produtores desinfectam as instalações, embora não regularmente, e 75% colocam cal nas ca-mas dos animais.

Na ordenha, o pano seco individual era utilizado para a limpeza do úbere em 33,3% das explorações, os pri-meiros jactos eram eliminados antes de ordenhar cada animal em 8,3%, em 50% era realizado pre-dip e em

91,7% post-dip. A desinfecção das tetinas entre vacas

ordenhadas era efectuada em 33,3% das vacarias. As vacas com mastite clínica eram ordenhadas sem segre-gação especial em 58,3% das explorações, no fim da ordenha em 33,3% e noutra sala de ordenha em 8,3% das vacarias.

Todos os produtores recorrem à antibioterapia de se-cagem, utilizando mais frequentemente a combinação penicilina/estreptomicina (33,3%). Apenas um de entre os 12 produtores vacina os seus animais contra agentes de mastites na altura da secagem e 58,3% mantém as novilhas no mesmo local que as vacas secas.

Todas as vacarias recebem visitas regulares de ve-terinários, com uma periodicidade mínima quinzenal. Setenta e cinco por cento dos produtores em estudo recorre à compra de animais para substituição do efec-tivo.

Um quarto destas explorações utiliza centrífugas para diminuir artificialmente a contagem de células so-máticas do leite de tanque.

O estudo incidiu sobre um total de 2.981 animais em lactação (Tabela 1). Destes, 891 animais foram rastre-ados por TCM, tendo 377 apresentado pelo menos um quarto com um resultado de TCM +++. No total das 12 vacarias, foi observado um valor médio de 42% de animais com pelo menos um quarto com TCM positi-vo, sendo a menor prevalência observada de 23% e a maior de 72%.

Dos 3.564 quartos passíveis de ser sujeitos a TCM,

107 eram não funcionais. Dos restantes 3.457 quartos submetidos a TCM, 504 apresentaram alterações no leite indicadoras de elevadas descargas celulares (Ta-bela 2). A percentagem média de quartos afectados foi de 15%, sendo o mínimo observado de 7% e o máximo de 29%.

Foram processadas laboratorialmente 459 amostras de quartos individuais, das quais 108 não apresenta-ram crescimento (23,5%). Foi isolado apenas 1 agente bacteriano em 286 amostras (62,3%), 2 agentes bac-terianos em 64 amostras (13,9%) e apenas 1 amostra continha 3 agentes bacterianos (0,2%).

O agente microbiano mais frequentemente isolado foi Streptococcus agalactiae (13,9% das amostras),

seguido por Staphylococcus epidermidis (8,3%) e por Staph. aureus (7,8%). Foram identificados Staphylo-cocci coagulase negativos (SCN) em 18,1% dos

ca-sos, agrupando 11 espécies diferentes; destas, Staph. epidermidis foi a mais frequentemente isolada. Foi

identificado Corynebacterium spp. a partir de 12,4%

das amostras; neste género estão agrupadas várias es-pécies, sendo C. bovis a mais frequentemente isolada,

em 6,3% das amostras. Foram isoladas bactérias Gram negativas a partir de 7,9% das amostras. A alga sem clorofila Prototheca spp. foi identificada a partir de 8

amostras (1,7%), provenientes de 3 explorações dife-rentes. Os resultados globais dos microrganismos iden-tificados encontram-se expressos na Tabela 3.

As bactérias mais frequentemente isoladas em amos-tras provenientes de leite de tanque foram Gram nega-tivas, logo seguidas por Strep. agalactiae. Esta espécie

foi isolada no leite de tanque de 4 das 6 explorações em que este agente tinha sido identificado a partir de amostras recolhidas directamente dos animais.

Das 12 vacarias onde decorreu o estudo, em 7 foram detectados animais com mastite subclínica provocada por Staph. aureus, em 6 vacarias por Strep. agalactiae

e em 6 por Strep. dysgalactiae. Em 9 vacarias

-se a presença de 1 ou mais destes 3 agentes contagio-sos responsáveis por mastite subclínica.

Em 5 das vacarias, o número de quartos afectados por agentes contagiosos ultrapassou o número de

quar-Tabela 2 – Número (N) e percentagem (%) de animais e quartos

com descargas celulares elevadas e número de amostras de leite recolhidas para análise bacteriológica.

Exploração Vacas +++ Quartos +++ Amostras recolhidas para análise bacteriológica (N) N % N % A 38 37 46 11 43 B 26 35 31 11 28 C 27 42 32 14 32 D 27 43 38 15 35 E 24 28 33 10 32 F 56 47 75 16 70 G 20 54 26 18 26 H 12 23 15 7 15 I 31 42 38 13 37 J 37 49 49 16 44 K 37 44 57 17 43 L 42 72 64 29 54 Total 377 42 504 15 459

Tabela 3 – Agentes etiológicos de mastites identificados nas

amostras recolhidas (N número e % percentagem). Microrganismo isolado Amostras

N % Staph aureus 36 7,8 SCN 83 18,1 Staph. epidermidis 38 8.3 Strep. agalactiae 64 13,9 Strep. dysgalactiae 13 2,8 Strep. uberis 34 7,4 Outros Streptococci 34 7,4 Bactérias Gram – Bacilos Gram + 36 7,9 79 17,2 Corynebacterium spp. 57 12,4 Prototheca spp. 8 1,7 Outros 21 4,6 Sem crescimento 108 23,5

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tos com agentes infecciosos de carácter ambiental. Ao compararmos as médias produtivas em vacarias com predomínio de agentes contagiosos relativamente a va-carias com predomínio de agentes ambientais, consta-tamos existirem diferenças significativas: a contagem de células somáticas do leite de tanque foi 237.143 células/mL (+/- 84.999) mais elevada e a prevalência de mamites subclínicas foi 15,43% (+/-5,99) superior nas vacarias em que os agentes de natureza contagio-sa predominavam. Verificou-se ainda que a produção média aos 305 dias de lactação foi 1.200 L inferior neste grupo de vacarias, mas esta diferença não é esta-tisticamente significativa. Não foi possível estabelecer relações estatisticamente significativas entre medidas de maneio e parâmetros respeitantes à saúde do úbere, uma vez que o reduzido número de vacarias incluídas no estudo não permite validar os resultados do χ2.

Discussão

Em 9 das 12 vacarias em estudo, foram identificados pelo menos 1 dos 3 agentes contagiosos mais impor-tantes, responsáveis por mastite subclínica. O agente mais frequentemente isolado foi Strep. agalactiae,

se-guindo-se Staph. epidermidis e Staph. aureus.

Atalaia (1983) publicou os resultados da compilação de 18.388 análises efectuadas a amostras de leite de bovino, enviadas ao Laboratório Nacional de Investi-gação Veterinária entre 1979 e 1980, 72% das quais se revelaram negativas. De entre as amostras de leite sub-metidas a análise bacteriológica por suspeita de masti-te, com base em contagens de células somáticas, foram identificadas, respectivamente em 1979 e 1980, 13,1% e 11,7% de mastites por Strep. agalactiae, 15,3% e

16,1% por Strep. dysgalactiae e 40,2% e 26,2% por Staph. aureus.

A comparação entre os resultados do estudo de Ata-laia (1983) e os do presente trabalho deverá ser fei-ta criteriosamente. Os dados publicados por Afei-talaia (1983) referem-se a amostras recolhidas de animais no decurso de uma campanha nacional, enquanto o nosso trabalho reflete a prevalência de mastites sub-clínicas acompanhadas de forte reacção inflamatória, numa amostra significativa da população-alvo em es-tudo. Como esta é limitada, não pode ser considerada representativa da Região Agrária do Ribatejo-Oeste. Também o facto de apenas termos tomado em consi-deração amostras +++ no TCM para análise bacterioló-gica, resulta numa diminuição de sensibilidade e num aumento de especificidade da nossa apreciação. Assim, bactérias que induzam uma reacção inflamatória pouco expressiva e microrganismos com localização intrace-lular podem ter sido avaliados por defeito no presente trabalho. Igualmente, bactérias presentes em processos ainda iniciais de mastite podem ter sido sub-valoriza-das.

No entanto, é interessante notar a quase sobreposição da gama de agentes etiológicos de mastite encontrada

há mais de 20 anos por Atalaia (1983) e no presente estudo. Igualmente, a representatividade percentual das diferentes espécies bacterianas é muito semelhante nos dois estudos, embora os estudos não possam ser comparáveis em função das diferentes amostragens. No entanto, e em termos globais, os nossos resultados sugerem que os principais agentes contagiosos de mas-tites não foram eficazmente controlados, apesar do de-senvolvimento tecnológico e da melhor formação dos tratadores.

Em todas as explorações incluídas neste estudo é preconizado o “plano de controlo de 5 pontos” das mastites (Kingwill, 1981), desenvolvido para controlar as mastites de natureza contagiosa. No entanto, no caso de algumas das vacarias, a forma como aquele é apli-cado não garante a eliminação dos agentes contagiosos das explorações.

Relativamente ao primeiro ponto, os dados recolhi-dos não permitiram uma avaliação da manutenção das salas de ordenha. No entanto, quanto à sua utilização, podemos observar, por exemplo, que nalgumas explo-rações os animais com mastite clínica não eram segre-gados durante a ordenha, o que pode contribuir para um aumento na incidência de mastites assim como para um aumento do risco da existência de resíduos de anti-bióticos no leite (Ruegg e Tabone, 2000).

O segundo ponto, a realização de post-dip, apesar de

efectuada na quase totalidade das vacarias em estudo, comportava algumas deficiências, quer na imersão dos tetos, quer na aspersão pela solução germicida.

O tratamento de mastites clínicas durante a lactação, que constitui o terceiro ponto do plano, nem sempre era adequadamente efectuado. Não sendo prática comum a eliminação dos primeiros jactos, a detecção dos casos de mastite clínica baseava-se essencialmente em alte-rações visíveis no úbere e não no leite. Por vezes, no decorrer do nosso trabalho, as mastites clínicas apenas foram detectadas enquanto pesquisávamos a presença de mastites subclínicas, apercebendo-nos que estas não seriam detectadas numa ordenha corrente. A detecção precoce de mastites clínicas provocadas por Staph. au-reus, por exemplo, é um dos factores que mais influi no

sucesso do seu tratamento (Owens et al., 1997).

Mes-mo quando detectados atempadamente, muitos casos de mastite clínica menos exuberantes não eram subme-tidos a antibioterapia. Esta prática pode favorecer a de-terioração da qualidade bacteriológica do leite de tan-que e a disseminação da infecção, uma vez tan-que a cura clínica não equivale à cura microbiológica (Chamings, 1984). Para a terapia das mastites clínicas, a maioria das explorações recorria ao longo do tempo a diferen-tes quimioterápicos, por vezes tantos quantos os dias de tratamento (resultados não apresentados). Para além de contraproducente em termos de saúde do úbere e em termos económicos, o uso desta abordagem de tentativa e erro de forma tão arbitrária, poderá contribuir para a emergência de resistências a produtos antimicrobianos importantes em termos de saúde pública.

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reali-zada em todas as explorações em estudo, deveria base-ar-se no conhecimento do estado de saúde dos úberes de cada efectivo. Assim, poder-se-ia fazer uma escolha adequada da melhor formulação de secagem, quer esta incluísse ou não antibiótico. O elevado nível de infec-ção dos úberes encontrado nalgumas das explorações em estudo contraria nestas a preconização de um se-lante de tetos sem antimicrobiano, pois este permitiria a manutenção de infecções subclínicas. A opção pela antibioterapia de secagem é aparentemente contrária à tendência actual para reduzir o uso de antibióticos e sempre que possível o espectro de actuação dos mes-mos. No entanto, em explorações como as integradas neste estudo, consideramos que seria adequada a uti-lização de antibioterapia de secagem, com um espec-tro de acção relativamente alargado, uma vez que é essencial eliminar microrganismos Gram positivos e, simultaneamente, evitar a contaminação do úbere com microganismos Gram negativos. Em paralelo, seria indispensável proceder a acções de sensibilização dos produtores e a uma reestruturação das regras de ma-neio higiosanitário, para que o recurso a antibioterapia constituísse a excepção a utilizar em casos extremos.

Quanto ao refugo de animais portadores de mastite crónica, como a causada por Staph. aureus, ele não é

adoptado pela generalidade dos produtores. De facto, apenas em duas das 12 vacarias em estudo é praticado o refugo das vacas com mastites subclínicas causadas por Staph. aureus. Situação semelhante acontece com

as vacas infectadas por Prototheca zopfii, apenas

refu-gadas numa das 3 vacarias em que este agente foi isola-do, apesar do risco que constitui a presença de animais infectados na exploração (Bexiga et al., 2003). O risco

de entrada de novo de agentes contagiosos nas vacarias

também não é devidamente considerado pelos produto-res. Apesar de a maioria destes proceder à substituição do efectivo por compra de animais, nenhum verifica o estado de saúde do úbere dos animais adquiridos.

Alguns produtores optam por soluções rápidas para o problema de contagens celulares elevadas no leite de tanque - a utilização de centrífugas ou a administração de ácido acetilsalicílico em doses baixas na alimen-tação, diminuem a contagem de células somáticas no leite de tanque, o que tem como consequência o pa-gamento do leite a valores mais compensadores. No entanto, estas práticas mascaram o problema das infec-ções subclínicas, contribuindo para a sua manutenção e mesmo agravamento na exploração. A médio prazo, esta política resulta em elevados custos de eliminação de infecção, em menor produção de leite e em risco potencial para a saúde pública.

No presente estudo verificámos que nas vacarias par-ticipantes se mantém uma elevada prevalência de mas-tites subclínicas. Os agentes etiológicos responsáveis por estas, permanecem os mesmos que eram referidos há mais de 20 anos na mesma área geográfica, situação que em muito difere da evolução que tem sido mencio-nada noutros trabalhos (Myllys et al., 1998; Makovec

e Ruegg, 2003)

É necessário melhorar o maneio sanitário dos efec-tivos. Para tal, é indispensável o cumprimento efectivo do “plano de controlo de 5 pontos” e a escolha mais fundamentada dos fármacos antimicrobianos a utilizar na terapia das mastites.

Agradecimentos

Gostaríamos de expressar o nosso agradecimento ao Dr. João Cannas da Silva, aos produtores intervenien-tes no trabalho, à Dra. Cláudia Almendra, à D. Dalila André e à D. Olívia Pinto, pelo apoio aos nossos tra-balhos. O presente trabalho foi financiado pelo Centro de Investigação Interdisciplinar em Sanidade Animal (CIISA), ao qual agradecemos o apoio estrutural.

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