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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇAO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM

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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇAO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM

HIGIENE E INSPEÇÃO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

A UTILIZAÇÃO DA IRRADIAÇÃO NA CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS

Katia Cilene Garcia Aderaldo

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Katia Cilene Garcia Aderaldo

Aluna do Curso de Especialização Lato sensu em

Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal

A UTILIZAÇÃO DA IRRADIAÇÃO NA CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS

São Paulo, agosto 2008

Trabalho monográfico do curso de pós-graduação Lato sensu em Higiene e Inspeção de produtos de Origem Animal apresentado à Universidade Castelo Branco, como requisito parcial para a obtenção de Título de Especialista em Higiene e Inspeção de produtos de Origem Animal, sob a orientação da Professora Marta Maria B. Baptista S. Xavier.

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Dedico esse trabalho ao meu marido pelo carinho e compreensão de sempre e a todos os colegas que direta ou indiretamente me ajudaram a concluí-lo.

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AGRADECIMENTOS

A minha família e, principalmente ao meu marido João por toda dedicação, paciência e ajuda durante o preparo desse trabalho.

Aos meus colegas de turma pela troca de experiências durante nosso curso.

Ao Professor Domingos Tommasi pelas boas indicações.

A minha Orientadora Professora Marta Maria B. B. S. Xavier por toda a sua ajuda e dedicação.

A todos que de alguma forma colaboraram para realização deste trabalho e que eu possa ter esquecido de mencioná-los.

A Deus por poder nos proporcionar tudo de bom na vida e por todos os momentos de inspiração para perseverar e seguir adiante nas minhas conquistas.

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RESUMO

ADERALDO, Katia Cilene Garcia Irradiação de alimentos.

Esta atual revisão bibliográfica realizada sobre a irradiação de alimentos tem por objetivo evidenciar como este método de conservação pode contribuir para redução das perdas no processo de produção, comercialização e armazenamento de alimentos e também discutir as vantagens e desvantagens do emprego dessa técnica de conservação. Existem diversas opiniões sobre a segurança da irradiação de alimentos e estas são retratadas neste estudo. Será abordada também neste trabalho a Resolução nº. 21 de 26/01/2001 estabelecida pela ANVISA (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária), que regulamenta a irradiação de alimentos no Brasil. Pode se observar que este assunto ainda necessita de mais pesquisas. Existem várias falhas, dúvidas e falta de informações no processo de comunicação para assegurar que o alimento irradiado seja comercializado de forma segura e, principalmente, que o mesmo chegue até o consumidor de maneira eficaz.

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ABSTRACT

ADERALDO, Katia Cilene Garcia Food Irradiation

This update bibliographic revision about the food irradiation has as objective to evidence how this conservation method can contribute for reducing losses on production process, commercialization and storage of food and also to discuss advantages and disadvantages of this conservation method. There are many opinions about how safe is food irradiation and they are described in this study. It will be studied too the resolution RDC nº 21 from January 26tht, 2001 published by ANVISA (Brazilian Sanitary Agency) regulating the food irradiation in Brazil. It will be possible to observe that this matter still needs more researches. There are also many failures, doubts and misinformation’s on the communication process to assure safety on irradiated food commercialization and mainly to reach end customer effectively.

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SUMÁRIO

RESUMO...v

ABSTRACT...vi

LISTA DE ABREVIATURAS ...viii

ÍNDICE DE TABELAS E FIGURAS...ix

1-INTRODUÇÃO...01

2-DESENVOLVIMENTO...02

2.1-HISTÓRICO...02

3-DINÂMICA DA IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS...07

4-UTILIZAÇÃO DA IRRADIAÇÃO...10

5- PRINCIPAIS PROCESSOS DE IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS...14

5.1-RADICIAÇÃO...14

5.2-RADURIZAÇÃO...15

5.3-RADAPERTIZAÇÃO...15

6-A SEGURANÇA DOS ALIMENTOS IRRADIADOS...16

6.1-VANTAGENS EM RELAÇÃO A OUTROS MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO...19

6.2-SEGURANÇA DOS IRRADIADORES...23

6.3-FONTES DE RADIAÇÃO AUTORIZADAS PELA COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR... 25

6.4-NÍVEIS DE TRATAMENTO E SEUS EFEITOS...28

7- LEGISLAÇÃO...32

8-MERCADO POTENCIAL...33

8.1-SITUAÇÃO ATUAL DA IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS NOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS...36

8.2-POSIÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES...37

9-CONTROVÉRSIAS...38

10-COMERCIALIZAÇÃO E ATITUDES DO CONSUMIDOR...41

11-CONCLUSÃO...45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...48

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LISTA DE ABREVIATURAS

AIEA Agência Internacional de Energia Atômica ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CENA Centro Nacional de Energia Nuclear na Agricultura CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear

CDTN Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear EMBRARAD Empresa Brasileira de Radiação

EUA Estados Unidos da América

FAO Food and Agricultural Organization FDA Food and Drug Administration

Gy/min. Gray por minuto

IAEA Agência Internacional de Energia Atômica

ICGFI International Consultive Group on Food Irradiation Idec Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor Ipen Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares IFT Instituto de Física Teórica

Kgy Quilogray

ONU Organização das Nações Unidas OMS Organização Mundial de Saúde

RIISPOA Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal

SIF Serviço de Inspeção Federal UFC Unidades Formadoras de Colônias USP Universidade de São Paulo

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas WHO World Health Organization

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ÍNDICE DE TABELAS E FIGURAS

Figura 1 – Comparativo de energia utilizada em diferentes propósitos...09 Figura 2 – Planta automatizada do irradiador de alimentos...14 Figura 3 – Maquete de uma instalação para irradiação de alimentos...23 Figura 4 – Símbolo utilizado para identificar alimentos que foram tratados com radiação ionizante (versão internacional)...26 Figura 5 - Símbolo utilizado para identificar alimentos que foram tratados com radiação ionizante (versão FDA – USA)...27 Tabela 1 – Comparativo de eficiência entre os diferentes métodos de esterilização de alimentos...19 Tabela 2 – Diferenças entre o tempo de vida útil de um alimento irradiado e um não

irradiado...22 Tabela 3 – Alimentos, doses aplicadas e os efeitos da irradiação...29 Tabela 4 – A redução de bactérias, leveduras e fungos promovida pela aplicação de 10 KGy em várias especiarias...30

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1 INTRODUÇÃO

Desde os primeiros tempos, as pessoas procuram cuidar melhor de seus alimentos utilizando variados métodos de preservação, de modo a controlar a sua deterioração, a transmissão de doenças e a infestação de insetos.

Através dos séculos, as técnicas de preservação de alimentos foram se desenvolvendo com o aumento do conhecimento científico. Os métodos atuais incluem o congelamento, a secagem, o enlatamento, a preparação de conservas, a pasteurização, a fermentação, o resfriamento, o armazenamento em atmosfera controlada, a fumigação química e a aplicação de aditivos (CAMPOS, 2003).

Hoje em dia a irradiação promete melhorar a conservação dos alimentos e, ao mesmo tempo, reduzir a incidência de algumas doenças relacionadas a ingestão de alimentos contaminados por microorganismos. A irradiação de vários alimentos, particularmente, frango, mariscos e carne de porco associada a métodos de processamento de alimentos poderá reduzir, significativamente, a incidência de doenças causadas por microorganismos (CAMPOS, 2003).

Segundo o Comitê Misto de Especialistas em Segurança Alimentar da Organização Mundial das Nações Unidas para Agricultura e da Organização Mundial de Saúde (OMS): ”as doenças oriundas de alimentos contaminados são talvez o maior problema de saúde do mundo contemporâneo e constituem um importante fator de redução da atividade econômica". Nos Estados Unidos, o Centro para Controle de Doenças e da Administração de Drogas e Alimentos estimam que anualmente, mais de 33 milhões de americanos adoecem, por contaminação microbiana. Estima-se que ocorram anualmente no Canadá mais de dois milhões de casos similares (WHO, 2008).

Além da preocupação com a contaminação microbiana, também aumentam as exigências mundiais de qualidade dos alimentos. Assim, os problemas com

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armazenamento, transporte e processamento de alimentos exigem a busca de métodos alternativos de preservação. A “Food and Agriculture Organization” estima que de um quarto a um terço da produção mundial de alimentos é perdida devido a pragas, insetos, bactérias, fungos e enzimas que comem, estragam ou destroem as colheitas. É incalculável a magnitude da perda econômica associada a doenças originárias de alimentos e à rejeição de alimentos contaminados por parasitas e microorganismos patogênicos (FAO, 2008).

Este trabalho tem por objetivo elucidar algumas dúvidas sobre como e quando utilizar a irradiação como método de conservação dos alimentos e mostrar os pontos positivos e negativos dessa técnica. A importância de se descobrir métodos novos e eletivos para a conservação dos alimentos são necessários para aumentar a oferta de alimentos sadios e seguros, para uma população mundial em expansão.

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2 DESENVOLVIMENTO

2.1 HISTÓRICO

A irradiação é uma técnica segura de proteção de alimentos que vem sendo utilizada há meio século nos Estados Unidos, França, Inglaterra e Alemanha. Nos alimentos esta técnica começou a ser empregada no controle de T. spirallis em carne de suínos, na URSS. Em 1963, o FDA norte-americano aprovou a irradiação de trigo e farinha de trigo para consumo humano; em seguida, a de batata, presunto e produtos como cebola e alho cujo brotamento torna-se um empecilho ao comércio. (EMBRARAD, 2008)

Durante os anos 80 e 90, houve uma verdadeira explosão de regulamentações pelo mundo, inclusive no Brasil, no sentido de aprovar a utilização da irradiação de alimentos para consumo humano, especialmente após a sua recomendação pela FAO (“Food and Agriculture Organization”) e IAEA (“International Atomic Energy Agency”), órgãos da OMS/ONU (Organização Mundial da Saúde/ Organização das Nações Unidas) em 1980 (EMBRARAD, 2008). Hoje, esta é uma prática que vem se tornando cada vez mais comum, com diversas unidades irradiadoras espalhadas pelo mundo, inclusive no Brasil. Além da FAO, a irradiação de alimentos é defendida por diversas outras entidades como a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância

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Sanitária), o Departamento de Agricultura dos EUA e a União Européia (DIVERSI, 2002).

Em 1983, o Codex Alimentarius da ONU, aprovou normas para o processamento de alimentos por irradiação, que passaram a servir de base para a legislação dos países membros que adotaram a técnica. Atualmente estão em fase IV da aprovação de irradiação de alimentos em geral, tendendo a sua aprovação geral, sem estabelecimento de grupos de alimentos e de doses permitidas (EMBRARAD, 2008).

Cerca de 40 países já possuem legislação específica para a irradiação de alimentos. A Comissão do Codex Alimentarius é um órgão conjunto da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e da Organização Mundial de Saúde (OMS), que representa mais de 130 países (LOAHARANU, 1997).

A primeira legislação sobre alimentos irradiados foi a brasileira RDC nº 21 que passou a vigorar em 26/01/2001. O Parlamento Europeu da Comunidade Européia aprovou em fevereiro de 1999 a irradiação de especiarias e vegetais desidratados com até 10 kGy. (EMBRARAD, 2008).

Até o ano de 1997, registrou-se que instalações para irradiação de alimentos estão em operação em mais 25 países, irradiando vários produtos alimentícios, incluindo carne de frango nos EUA, mamão na África do sul, salsicha de frango crua fermentada na Tailândia, peixe fresco em Bangladesh, coxas de rã na França e camarão na Holanda (CERDA et al., 1997).

A irradiação de alimentos vem sendo estudada há mais 50 anos, pela EMBRARAD (Empresa Brasileira de Radiação) e hoje já se pode afirmar a eficiência do processo em diversos alimentos como: especiarias e condimentos, ervas e chás, carnes, frangos, peixes, frutas secas e uma vasta variedade de frutas e vegetais.

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(EMBRARAD, 2008)

A Legislação Brasileira segue as recomendações internacionais sugeridas pela “Food and Agriculture Organization” (FAO), “International Atomic Energy Agengy” (IAEA) e Codex Alimentarius, da ONU.

As razões que despertaram a irradiação dos alimentos em diversos países estão relacionadas às grandes perdas de alimentos que ocorrem constantemente como conseqüência da infestação, contaminação e decomposição dos mesmos, a crescente preocupação com respeito às doenças transmitidas pelos alimentos e o aumento do comércio internacional de produtos alimentícios sujeitos as normas de exportação rígidas em matéria de qualidade e de quarentena. Em todas estas esferas, a irradiação de alimentos tem demonstrado benefícios práticos, quando associada e um sistema estabelecido de manipulação e distribuição. (PEROZZI, 2007)

Ela preserva a qualidade sem alterar o sabor, a aparência ou o aroma dos alimentos e não apresenta qualquer risco de contaminação por radiação, pois em nenhum momento os produtos a serem preservados entram em contato físico com a fonte. (PEROZZI, 2007)

A grande vantagem da irradiação é a eliminação de agentes patogênicos e outros microorganismos que deterioram o alimento e que são prejudiciais à saúde humana, como a Salmonella spp., por exemplo. Os alimentos são embalados, termo-processados ou não, irradiados e não precisam ser manuseados até chegar ao consumidor final, podendo ser armazenados por longos períodos. (COSTA, 1999)

Frangos são irradiados em grande escala para eliminar Salmonella spp.; a carne vermelha é irradiada, com autorização desde 1999, como solução para os casos de síndrome hemolítico-urêmico, causados por Escherichia coli O157:H7. Essa doença,

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grave, causou um número apreciável de mortes por ingestão de sanduíches de hamburguers (EMBRARAD, 2008).

A batata, cebola e alho irradiados podem ser armazenados por até um ano sem que brotem ou apodreçam, o que é uma enorme vantagem quando comparado com os métodos tradicionais que incluem, por exemplo, a fumigação com brometo de metila, que está no índex do Tratado de Montreal. (COSTA, 1999)

O brometo de metila, muito usado na fumigação de alimentos e importante depletor da camada de ozônio, está sendo banido do uso mundial. Até 2010 está sendo esperado o seu afastamento total de uso, no mundo todo. A Portaria Interministerial nº. 482 (BRASIL 1999), em seu Artigo 7 fez: "Proibir o uso das Unidades de Esterilização por Óxido de Etileno para esterilização, reesterilização, reprocessamento ou outros processos de redução de carga microbiana de produtos que não sejam materiais e artigos médico hospitalares" (Ministério da Saúde e Ministério do Trabalho e Emprego).

De acordo com Diversi (2002), nesse oceano de confiança tecnológica surgem vozes que identificam sérios problemas com a utilização dessa tecnologia. Os que se opõem são geralmente organizações não-governamentais localizadas em países desenvolvidos, além de instituições científicas com maior grau de independência: “Public Citizen” (EUA), “Organic Consumers Association” (EUA), “Illinois Food Safety Coalition” (EUA), “Net-Activist” (Dinamarca), SFIA (“Stop Food Irradiation Alliance”, Austrália), “Price-Pottenger Nutrition Foundation” (EUA).

Desde 1955 são realizadas pesquisas em todo o mundo sobre a segurança da irradiação em alimentos e, entre os principais problemas, há relatos dando conta de que, quando alimentos contendo gorduras são irradiados, ocorre a formação de 2-DCB

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(2-dodecilciclobutanona), uma substância que possui propriedades citotóxicas (com capacidade de gerar alterações celulares) e genotóxicas (capacidade de gerar alterações no material genético das células) e que não é encontrada normalmente em alimentos (DIVERSI, 2002).

A irradiação não é um "milagre" técnico capaz de resolver todos os problemas de preservação de alimentos. Ela não pode transformar alimento deteriorado em alimento de alta qualidade. Como também não é adequada para todos os tipos de alimentos, mas podem resolver problemas específicos importantes e complementarem outras tecnologias. Ela representa uma grande promessa no controle de doenças originárias de alimentos, tais como a salmonelose, que é um problema mundial. Também é efetiva na desinfestação, particularmente em climas quentes, em que os insetos consomem uma grande porcentagem da safra colhida (CAMPOS, 2003).

A irradiação de alimentos pode aumentar o tempo de vida útil estocagem -de muitos alimentos a custos competitivos, ao mesmo tempo em que fornece uma alternativa ao uso de fumigantes e substâncias químicas, muitos dos quais deixam resíduos (CAMPOS, 2003).

Em muitos casos, alimentos irradiados em sua temperatura de armazenamento ideal e em embalagens a vácuo durarão mais e manterão por mais tempo sua textura original, sabor e valor nutritivo se comparadas com aqueles termicamente pasteurizados, esterilizados ou enlatados. (CAMPOS, 2003)

Aparentemente, a irradiação vem sendo apresentada como uma forte, mas possivelmente insegura, substituta das boas práticas de fabricação tanto industriais (especialmente frigoríficos) como agrícolas. Entretanto, atualmente, nenhuma tecnologia conhecida poderá substituir as boas práticas de fabricação e manipulação, e a justificativa é muito simples: a irradiação pode matar bactérias, mas não retira

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sujidades e matérias estranhas dos alimentos. (CDTN, 2008)

3 DINÂMICA DA IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS

Irradiação de alimentos é um processo físico de tratamento comparável à pasteurização térmica, ao congelamento ou enlatamento. A irradiação de alimentos emprega uma forma particular de energia eletromagnética conhecida por "radiação ionizante". Este termo é usado porque essa radiação produz partículas carregadas eletricamente, chamadas "ions", em qualquer material com o qual entrem em contato. Radiações ionizantes são aquelas cujas energias são suficientemente altas para desalojar os elétrons dos átomos e moléculas, convertendo-os em íons (DOMARCO, PEREIRA, 2008). Os tipos de radiações utilizados no tratamento de materiais se limitam aos raios X e gama de alta energia e também elétrons acelerados (AZEVEDO et al, 2006).

Quando a matéria é atravessada por qualquer forma de radiação ionizante, pares de íons são produzidos e átomos e moléculas são excitados, havendo absorção de parte dessa energia transferida. Estes pares de íons podem ter energia suficiente para produzir novas ionizações e excitações. Estas ionizações são as responsáveis pelos efeitos biológicos das radiações. O processo radioativo não pode aumentar o nível de radioatividade normal dos alimentos, independentemente do tempo de exposição ou da dose absorvida (AZEVEDO et al, 2006).

Em circunstâncias particulares, a radiação ionizante é uma técnica de processamento de alimentos muito efetiva e útil. Este processo envolve a exposição do alimento, embalado ou a granel, a doses controladas de radiação ionizante com

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finalidades sanitária, fitossanitária e ou tecnológica. A irradiação não pode substituir os agrotóxicos usados no campo por ser um processo pós-colheita (LAGUNAS-SOLAR, 1995).

A irradiação é feita em uma sala ou câmara especial de processamento por um tempo determinado. A fonte mais comum de raios gama, para processamento de alimentos é o radioisótopo Cobalto 60, pode-se utilizar também o césio radioativo. O alimento é tratado em uma instalação conhecida como irradiador (MELLO, 2000).

A energia gama é radiação eletromagnética de comprimento de onda muito curta, semelhante à ultravioleta, luz visível, infravermelho, microondas ou ondas de rádio usadas na comunicação. É utilizado estas formas de energia em um grande leque de propósitos; por exemplo, para cozinhar alimentos em aparelhos de microondas, como pode ser observado na Figura 1.

Figura 1: Comparativo de energia utilizada em diferentes propósitos. Fonte: Kontrolle – Consultoria em Segurança Alimentar

A energia gama do Cobalto 60 pode penetrar no alimento causando pequenas e inofensivas mudanças moleculares que também ocorrem no ato de cozinhar, enlatar ou congelar. De fato, a energia simplesmente passa através do alimento que está sendo tratado e, diferentemente dos tratamentos químicos, não deixa resíduo. A irradiação é

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chamada de "processo frio" porque a variação de temperatura dos alimentos processados é insignificante (IFT, 1983). Os produtos que foram irradiados podem ser transportados, armazenados ou consumidos imediatamente após o tratamento. (MESQUITA, 2004)

A irradiação promove uma interrupção dos processos orgânicos que levam o alimento ao apodrecimento. Raios gama, raios X ou elétrons são absorvidos pela água ou outras moléculas constituintes dos alimentos, com as quais entram em contato. No processo, são rompidas células microbianas, tais como bactérias, leveduras e fungos. Além disso, parasitas, insetos e seus ovos e larvas são mortos ou se tornam estéreis. Há também a conservação da maioria das propriedades nutricionais dos alimentos.

(MESQUITA, 2004)

4 UTILIZAÇÃO DA IRRADIAÇÃO

A radiação gama já é utilizada em escala comercial há mais de 40 anos, contando hoje com mais de 150 plantas operacionais, espalhadas pelo Mundo. A radiação gama tem um largo uso em aplicações industriais, tais como: esterilização de material médico-cirúrgico, odontológico, de laboratório, frascos, embalagens, fármacos, descontaminação de produtos, cosméticos, matérias primas, fitoterápicos, chás, processamento de alimentos, especiarias, condimentos, corantes, coloração de vidros, pedras preciosas, melhoria de fibras sintéticas e de polímeros, produção de inoculantes para a agricultura, impregnação de madeiras e outros materiais (EMBRARAD, 2008).

Com vistas a ampliar cada vez mais o mercado externo, produtores e exportadores buscam medidas que aumentem a segurança e a vida útil dos alimentos. A tecnologia da irradiação amplia a vida útil dos alimentos ao retardar a maturação de frutas e legumes e inibir o brotamento de bulbos e tubérculos. Desta forma, diminui as

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perdas pós-colheita e facilita a distribuição e comercialização de gêneros alimentícios. A técnica também elimina ou reduz a presença de parasitas, fungos, bactérias e leveduras nocivas ao homem, tornando os alimentos mais seguros sob o ponto de vista microbiológico. (PEROZZI, 2007)

A irradiação de frutas é utilizada por países que concorrem com o Brasil no mercado internacional, como Tailândia e Índia e pode ganhar impulso por causa das restrições que estão sendo impostas a tratamentos quarentenários mais comuns, como a fumigação por brometo de metila ou por óxido de etileno, e a submersão da fruta em água quente que, embora eficiente, requer que a colheita seja realizada antes do período de maturação ideal, prejudicando o sabor e as características sensoriais do produto. Já a irradiação pouco altera as características químicas e sensoriais dos alimentos quando respeitada a dose máxima estabelecida para cada produto (PEROZZI, 2007).

O processo de irradiação, quando bem conduzido, não implica em danos ambientais ou à saúde humana, sendo apoiado por instituições como a Organização Mundial de Saúde (OMS), Food and Agricultural Organization (FAO), U.S. Food and Drugs Administration e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) — sempre embasados em trabalhos científicos que atestam a tecnologia como eficiente e segura. (PEROZZI, 2007)

No Brasil, a regulamentação em vigor é a estabelecida pela ANVISA, através da RDC nº 21 (BRASIL, 2001). Segundo esta norma os alimentos podem ser tratados por radiação desde que a dose mínima absorvida seja suficiente para alcançar a finalidade pretendida e a dose máxima seja inferior à que comprometeria as propriedades funcionais ou atributos sensoriais do alimento. O órgão exige que na rotulagem conste a inscrição "alimento tratado por processo de irradiação" no painel principal. No caso de condimentos ou temperos irradiados, esta informação deve ser

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apresentada na lista de ingredientes. Tal resolução estabelece ainda que as instalações devam ser autorizadas e inspecionadas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). No Brasil a Legislação que permite os estudos existe desde 1985, a Portaria nº. 9 (BRASIL,1985). Todas as pesquisas são direcionadas apenas pelo CENA (Centro de Energia Nuclear para Agricultura) da USP (Universidade de São Paulo), há quatro décadas. (PEROZZI, 2007)

De acordo com a dose de aplicação, a irradiação pode duplicar ou triplicar o tempo de estocagem de produtos alimentícios – permitindo seu transporte por longas distâncias e combater a contaminação resultante da falta de higiene na produção de carnes industrializadas – eliminando patógenos de origem alimentar. Os alimentos irradiados também podem ser consumidos imediatamente após o processamento e é possível também irradiar alimentos prontos para o consumo que podem ser conservados por anos fora de refrigeração, como a comida de astronautas, por exemplo (EMBRARAD, 2008).

Outro benefício proveniente do uso da energia nuclear nos campos é o controle de pragas, porém, neste caso, a técnica não pode ser feita diretamente com o processo de irradiação. O que se aplica são insetos estéreis. Eles são esterilizados pela radiação, e ao serem liberados no campo, controlam a própria espécie (AVELAR, et al, 2000).

Essa técnica chamada Técnica do inseto estéril, que funciona como um controle de natalidade, não agride o ambiente, além de minimizar o uso de defensivos agrícolas e garantir a qualidade das exportações com a aplicação da irradiação quarentenária. Os frutos são colhidos, embalados e, antes do embarque, são processados pela irradiação que mata ou esteriliza as pragas que estão dentro dos frutos. Estas pragas não são disseminadas para outros países e ficam mais resistentes durante o período de controle sanitário em que são armazenadas no porto, antes de

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embarcar (AVELAR, et al, 2000).

Algumas propriedades empregadas pelo uso da irradiação podem ser citadas tais como: age na inibição do brotamento em bulbos e tubérculos, no retardo da maturação de frutas e legumes, na desinfestação de grãos, cereais, frutas e especiarias, eliminação de parasitas (Cisticercose e Triquinose - vermes) (AZEVEDO et al, 2006), na redução da carga microbiana (fungos, bactérias e leveduras), na eliminação de microrganismos patogênicos (Salmonella spp. entre outros), e na esterilização (CENA, 2007)

Segundo Mello (2000), como a irradiação é um processo pós-colheita, ela não pode substituir os agrotóxicos utilizados no campo, mas pode, por exemplo, substituir o uso dos aditivos químicos em alimentos e também dos produtos químicos usados para a desinfestação de frutas após a colheita (como, por exemplo, o dibrometo de etileno, cujo uso foi proibido porque deteriora a camada de ozônio e o brometo de metila que é um agrotóxico usado no controle de insetos, ervas daninhas e microrganismos patogênicos em mais de cem culturas).

Vários motivos estão levando as indústrias a optarem pelo processo de radiação gama como método de esterilização dos alimentos. Esse processo tem se mostrado como: economicamente viável para grandes ou pequenas quantidades de produtos; um dos processos mais rápidos de esterilização existentes na atualidade; alto poder de penetração, sendo o processo realizado na embalagem final dos produtos; planta automatizada, não há necessidade de manuseio dos produtos, como pode ser visualizado na Figura 2; não necessita quarentena ou tratamento pós esterilização (não deixa resíduos); permite imediato uso dos materiais, após o término do processo; facilmente validado; com facilidade de ser monitorado, único fator variável é o tempo; processo de esterilização existente de menor agressividade ao meio ambiente (EMBRARAD, 2008).

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Figura 2: Planta automatizada do irradiador de alimentos. Fonte: Brasil Nuclear. Dantas, V. abr-jun, 1999, p.22-3

5 PRINCIPAIS PROCESSOS DE IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS

5.1 RADICIDAÇÃO

Relacionado à desinfestação e a destruição de bactérias e parasitas, este termo refere-se ao tratamento dos alimentos com aplicação de uma dose de energia ionizante na faixa de 2 a 8 kGy, suficiente para reduzir o número viável de bactérias patogênicas não esporulantes, a um nível tal que nenhuma seja detectável no alimento tratado,

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quando este é examinado por qualquer método bacteriológico conhecido (ANTUNES, 2004);

5.2 RADURIZAÇÃO

É a aplicação aos alimentos de uma dose de radiação ionizante, em torno de 0,4 a 10 kGy, suficiente para reduzir o número de microrganismos patogênicos contaminantes e promover a desinfestação de insetos prejudiciais aos alimentos, aumentando assim sua qualidade e prolongando o período de armazenamento, sem alterar características sensoriais. Este processo é considerado ideal para aplicação em produtos que são in natura, pode ser também utilizado para conservação de frutos do mar, frutas secas e alguns produtos cárneos. (ESPANHA, 1967)

5.3 RADAPERTIZAÇÃO

Este termo corresponde ao alimento caracterizado como “comercialmente estéril”, uma vez que a radiação dentro de uma faixa de dose acima de 10 kGy, considerada alta pelos especialistas, é aplicada com o objetivo de reduzir o número da atividade dos microrganismos patogênicos, de tal modo que muito poucos ou nenhum, com exceção dos vírus, sejam detectáveis pelos métodos de análises preconizados, independente do tempo e em que condições o alimento seja armazenado, desde que seja devidamente embalado. (ANTUNES, 2004)

As doses de radapertização a que são submetidos alimentos como pescados, carnes cruas e cozidas, produtos vegetais, alimentos desidratados, sal, açúcar, ervas, especiarias, entre outros, são doses altas, acima de 10 kGy, que esterilizam alimentos para uma grande variedade de usos, como em alimentação de astronautas durante

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viagens espaciais, de pacientes imunocomprometidos hospitalizados (ADA REPORTS, 1996; PSZCZOLA, 1997; OLSON, 1998), por alpinistas, velejadores e outros desportistas. (DIEHL, 1990)

6 A SEGURANÇA DOS ALIMENTOS IRRADIADOS

A irradiação de alimentos tem sido objeto de pesquisas intensas por mais de quarenta anos. Organizações internacionais tais como a FAO (“Food and Agricultural Organization”) e a WHO (“World Health Organization”) revisaram estas pesquisas e concluíram que a irradiação de alimentos é segura e benéfica. Similarmente, o valor nutricional de alimentos irradiados foi comparado com o de alimentos tratados por outros métodos, com resultados favoráveis. (MESQUITA, 2004)

Em 1983, a Comissão do Codex Alimentarius, um grupo das Nações Unidas que desenvolve normas internacionais para alimentos, concluiu que alimentos irradiados abaixo de 10 kGy não apresentam risco toxicológico. Atualmente, níveis de tratamento dentro desta faixa estão sendo mundialmente realizados. (MESQUITA, 2004)

Nem a energia gama, nem os níveis internacionais estabelecidos para aceleradores de elétrons podem fazer com que o alimento se torne radioativo. O processamento por radiação não torna o alimento radioativo da mesma forma que os raios X usados para a segurança em aeroportos não tornam as bagagens radioativas. (MESQUITA, 2004)

Nos últimos 30 anos foram realizadas inúmeras pesquisas científicas utilizando técnicas analíticas, altamente precisas, com o objetivo de isolar e detectar os

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produtos formados pela irradiação. A irradiação pode induzir a formação de algumas substâncias, chamadas de produtos radiolíticos, na constituição dos alimentos. Estas substâncias não são radioativas e não são exclusivas dos alimentos irradiados. Muitas delas são substâncias encontradas naturalmente nos alimentos ou produzidas durante o processo de aquecimento (glicose, ácido fórmico, dióxido de carbono). Como em outros materiais, que não alimentos, a radiação gama atua melhor em produtos secos, que em líquidos. Estes últimos sofrem maiores problemas de radiólise. Pesquisas sobre essas substâncias não encontraram associação entre a sua presença e efeitos nocivos aos seres humanos. (MESQUITA, 2004)

Em relação aos nutrientes, a irradiação promove poucas mudanças. Outros processos de conservação, como o aquecimento, podem causar reduções muito maiores dos nutrientes. Do ponto de vista nutricional, as perdas de glícidos e proteínas são menores. Já as gorduras, quando em quantidades maiores nos alimentos, rancificam por oxidação (HOBBS & ROBERTS, 1998).

O processo ocorre mais intensamente na presença de oxigênio proveniente do ar ambiente. As irradiações feitas sob atmosfera de nitrogênio resultam em melhores propriedades sensoriais para os alimentos. As vitaminas, por exemplo, são muito sensíveis a qualquer tipo de processamento, no caso da irradiação, sabe-se que a vitamina B1 (tiamina) é das mais sensíveis, mas mesmo assim as perdas são mínimas. A vitamina C (ácido ascórbico), sob efeito da irradiação, é convertida em ácido dehidroascórbico, que é outra forma ativa da vitamina C. (MELLO, 2000)

Dependendo do tipo de alimento a irradiação não se torna um processo compensador por que não vale à pena irradiar um produto menos nobre e de produção fácil e abundante, porque a irradiação é um processo caro. Um exemplo é o Japão, que irradia batatas. Não há sentido nisso, porque o preço da batata é muito inferior ao do processo de irradiação. (MARCHIONI, 2006)

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Deve-se usar a irradiação para produtos de alto valor agregado, como condimentos e carnes. Os industriais e produtores investem muito dinheiro no processo produtivo, em maquinário e outros itens, e querem obter um retorno rápido do investimento. (MARCHIONI, 2006)

Há alguns alimentos como, por exemplo, o amendoim que não devem ser irradiados. Para eliminar as micotoxinas, comuns nesse tipo de alimento, a dose necessária de irradiação é muito alta, e isso acelera a degradação do alimento. Isso, porque esse produto contém uma dose alta de óleo, de gordura. O mesmo ocorre com o leite. Quando se irradia o leite puro, ocorre uma quebra dos compostos, formando o ácido butírico, que altera o sabor. Por outro lado, o mesmo não ocorre com o queijo, que apesar de ser derivado do leite, é um alimento mais seco e tem a composição diferente. No caso dos queijos, por exemplo, a irradiação possibilita a descontaminação de bactérias, como a Listeria. Na realidade, a irradiação se dá apenas na superfície do alimento, onde a bactéria se localiza. Em produtos ressecados, pode-se utilizar uma dose maior de radiação, e o sabor é menos alterado. (MARCHIONI, 2006)

A irradiação de especiarias, vegetais desidratados e condimentos é reconhecida mundialmente como a única técnica capaz de reduzir a carga microbiana sem modificar o sabor e sem oferecer riscos para a saúde. São irradiados em doses, em geral, de até 10KGy, mas existem autorizações para até 30 KGy (EMBRARAD, 2008).

O processo de irradiação é adequado, em muitos casos, mas não é algo mágico, no sentido de que não propicia a melhora da qualidade do produto. Com isso, não elimina a necessidade de se manter as boas práticas de fabricação. Além de manter, deverão ser mais exigentes (um produto danificado, por exemplo, um pequeno corte em uma banana, não poderia ser tratado) do que as atuais. A legislação brasileira exige que tenha o Manual de Boas Práticas de Fabricação para que o produto seja

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irradiado. (DIVERSI, 2002)

Trata-se de uma ferramenta para ser empregada em um objetivo específico. Existem muitos outros processos para conservação de alimentos, como o de redução de temperaturas com uso de nitrogênio, mas que são muito caras e, em muitos casos, inviabilizam sua aplicação. Geralmente, a irradiação é o processo mais adequado e viável economicamente. (DIVERSI, 2002)

6.1 VANTAGENS EM RELAÇÃO A OUTROS MÉTODOS DE CONSERVAÇÃO

Sem emissões tóxicas, sem impacto sobre a qualidade da água e do ar e sem resíduos nocivos, o processamento com irradiação gama proporciona uma evidente vantagem ambiental sobre outros métodos de esterilização (EMBRARAD, 2006), como pode se observado no Quadro 1.

Tabela 1: Comparativo de eficiência entre os diferentes métodos de esterilização de alimentos. Fonte - Boletim Embrarad n° 21 - ano 1996

VARIÁVEIS RADIAÇÃO GAMA ÓXIDO DE ETILENO VAPOR 1. Estrutura do produto Sem restrições. Os raios gama penetram em todas as porções do produto Não atinge cavidades fechadas. ETO é um esterilizante de superfície

Não atinge cavidades fechadas. Vapor é um esterilizante de superfície 2. Materiais de confecção do produto Satisfatório para a maioria dos materiais Satisfatório para a maioria dos materiais

Satisfatório para a maioria dos materiais, exceto para aqueles sensíveis a calor e umidade

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A esterilização gama não exerce danos sobre materiais e selos permeável ou um segundo processo de selagem. Necessária previsão de expansão da embalagem, durante o vácuo ou pressão. Os selos têm que suportar vácuo ou esforço da pressão permeável ou um segundo processo de embalagem. Necessária previsão de expansão da embalagem, durante o vácuo ou pressão. Os selos têm que suportar vácuo, esforço de pressão e umidade 4. Parâmetros a serem controlados durante o processo Tempo Concentração de ETOVácuo Temperatura Umidade relativa Tempo Vácuo,Pressão, Temperatura, Umidade relativa,Tempo 5. Confiabilidade

do processo Excelente Boa Boa

6. Testes microbiológicos pós esterilização Podem ser eliminados Podem ser eliminados Necessários Desejáveis 7. Período de quarentena Não é necessária quarentena 5 - 14 dias 7 - 14 dias 8. Tratamento pós esterilização Nenhum necessário Aeração para remover produtos tóxicos Secagem do produto 9. Possibilidade de monitoração do processo

Sim Possível Não é possível

10. Economia Excelente em grandes e pequenos volumes Boa em grandes e pequenos volumes Boa em grandes e pequenos volumes

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apresenta uma série de vantagens sobre os métodos tradicionais como: é um processo a frio que pode descontaminar alimentos congelados ou resfriados sem causar efeitos indesejáveis em suas propriedades sensoriais e físico-químicas; não aumenta a temperatura do alimento - pasteurização a frio (a energia é cerca de 50 vezes menor

que a conservação a calor); como a radiação tem elevado poder de penetração, o processo pode ser usado para

tratar uma grande variedade de alimentos, numa considerável faixa de tamanhos e formas, com pouca ou nenhuma manipulação ou processamento; ocorre um considerável aumento na vida útil de frutas frescas, vegetais e carnes, o que facilita o processo de distribuição desses produtos; pode substituir os tratamentos químicos que deixam resíduos nos alimentos; no caso de produtos avícolas, a irradiação oferece um método efetivo para garantir ao consumidor proteção contra doenças transmitidas por alimentos, principalmente salmonelose e campilobacteriose; possibilidade de tratamento do alimento em embalagens que temem calor e água; diminui o tempo de cozimento de certos alimentos, principalmente desidratados; ovos, larvas de insetos e vermes internos aos alimentos são atingidos pela irradiação, sem prejuízo para os alimentos.

Para termos uma idéia concreta do quanto à radiação ionizante pode prolongar o tempo de vida útil dos alimentos, no Quadro 2, podem ser visualizados alguns resultados. Os dados foram produzidos no Laboratório de Irradiação de Alimentos e Radioentomologia - CENA/USP.

Tabela 2: Diferenças entre o tempo de vida útil de um alimento irradiado e um não irradiado. Fonte: LIARE - CENA/USP

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Alho 4 meses 10 meses

Arroz 1 ano 3 anos

Banana 15 dias 45 dias

Batata 1 mês 6 meses

Cebola 2 meses 6 meses

Farinha 6 meses 2 anos

Legumes e Verduras 5 dias 18 dias

Papaia 7 dias 21 dias

Manga 7 dias 21 dias

Milho 1 ano 3 anos

Frango refrigerado 7 dias 30 dias

Filé de pescada

refrigerado 5 dias 30 dias

Morango 3 dias 21 dias

Trigo 1 ano 3 anos

6.2 SEGURANÇA DOS IRRADIADORES

O processo de irradiação é seguro para o meio ambiente e não produz nenhum tipo de resíduo, como pode ser observada na Figura 3.

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Figura 3: Maquete de uma instalação para irradiação de alimentos.

Fonte: inovacao.scielo.br/.../inov/v3n5/a26img2a.jpg

Na irradiação de alimentos utilizam-se como fontes de radiação os isótopos radioativos, mais freqüentemente o Cobalto 60, obtido pelo bombardeamento com nêutrons do metal Cobalto 59 em um reator nuclear. Depois que o Cobalto 60 é produzido, ele é duplamente encapsulado em tubos de aço inoxidável, o que impede qualquer vazamento de radiação. A meia-vida desse elemento é de 5,3 anos. (MELLO, 2000)

Os produtos a serem irradiados, embalados ou a granel, passam pela câmara de irradiação através de um sistema transportador composto por esteiras, onde são submetidos a um campo de irradiação num ritmo controlado preciso, de forma a receber a quantidade exata de energia para o tratamento. O nível ou intensidade de radiação, medido em KGy (KiloGray), é controlado através de um painel de controle para que somente a quantidade necessária ao processo seja aplicada ao produto. Sem este controle, uma dose excessivamente grande de radiação danificaria o produto, tornando-o impróprio ao consumo; em contrapartida, uma dose muito pequena não

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alcançaria os efeitos desejados. (IDEC, 2002)

Os níveis de energia são baixos e os produtos irradiados não se tornam radioativos. Quando a fonte de radiação não se encontra em uso, ela é mantida dentro de uma piscina profunda. A câmara de irradiação é composta de paredes de concreto e portas de chumbo, o que impede o vazamento da radiação. Há ainda dispositivos de travamento e alarme que impede que a fonte de radiação se eleve da piscina caso as portas da câmara não estejam lacradas ou haja a necessidade de alguma manutenção. (CDTN, 2008)

Para contornar o problema econômico e burocrático para se ter o próprio irradiador, o produtor e a indústria podem lançar mão de empresas que se especializaram na área de irradiação de alimentos e outros materiais. No Estado de São Paulo existe a EMBRARAD (Empresa Brasileira de Radiação) e a CBE (Companhia Brasileira de Esterilização). (AZEVEDO et al., 2006)

O tratamento dos alimentos por irradiação deve ser realizado em instalações licenciadas pela autoridade competente estadual ou municipal ou do Distrito Federal mediante expedição do Alvará Sanitário, após autorização da Comissão Nacional de Energia Nuclear e cadastramento no órgão competente do Ministério da Saúde. Todos os aspectos de segurança têm de ser aprovados por estes órgãos assim como a qualificação dos operadores. (AZEVEDO et al., 2006)

Existem riscos que devem ser minimizados, pois podem ocorrer na instalação dos equipamentos. Podem-se considerar principalmente dois: o rompimento da contenção da fonte de radiação e a irradiação acidental de operadores. (DOMARCO E PEREIRA, 2008)

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Para eliminar a possibilidade do primeiro são tomadas precauções especiais de engenharia tais como testes de resistência dos materiais de construção, utilização de materiais especiais para a fabricação das fontes de modo que elas não formem gases radioativos ou que sejam solubilizadas em contato com solventes e estudo apurado do local de construção. (DOMARCO E PEREIRA, 2008)

Para eliminar a possibilidade de irradiação acidental dos operadores são adotados processos mecânicos e eletrônicos de impedimento de acesso ao local de irradiação quando a fonte estiver em uso. (DOMARCO E PEREIRA, 2008)

6.3 FONTES DE RADIAÇÃO AUTORIZADAS PELA COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR

Segundo dados obtidos no CENA (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) a legislação brasileira, com base no Codex Alimentarius, permite a utilização das seguintes fontes:

a) Isótopos radioativos emissores de radiação gama: Cobalto 60 (1,173 MeV e 1,332 MeV) e Césio 137;

b) Raios X gerados por máquinas que trabalham com energias de até 5 MeV;

c) Feixes de elétrons gerados por máquinas que trabalham com energias de até 10 MeV.

Segundo a ANVISA, os alimentos poderão ser tratados por radiação desde que sejam observadas as seguintes condições:

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• A dose mínima absorvida deve ser suficiente para alcançar a finalidade pretendida e a dose máxima deve ser inferior àquela que comprometeria as propriedades funcionais e ou os atributos sensoriais do alimento.

• Quando um produto irradiado é utilizado como ingrediente em outro alimento, deve ser declarada essa circunstância na lista de ingredientes, entre parênteses, após o nome do mesmo.

• Na rotulagem dos alimentos irradiados, além dos dizeres exigidos para os alimentos em geral e específicos do alimento, deve constar no painel principal: "ALIMENTO TRATADO POR PROCESSO DE IRRADIAÇÃO", com as letras de tamanho não inferior a um terço (1/3) do da letra de maior tamanho nos dizeres de rotulagem. Logotipo, denominado radura, é usado para identificar alimento irradiado, podendo ser visualizado nas Figuras 4 e 5.

Figura 4: Símbolo utilizado para identificar alimentos que foram tratados com radiação ionizante (versão internacional).

Fonte: CENA – Centro de Energia Nuclear na Agricultura

Figura 5: Símbolo utilizado para identificar alimentos que foram tratados com radiação ionizante (versão FDA – EUA).

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Fonte: CENA - Centro de Energia Nuclear na Agricultura

• Nos locais de exposição à venda de produtos a granel de alimentos irradiados, deve ser afixado; cartaz, placa ou assemelhado com a seguinte informação: “ALIMENTO TRATADO POR PROCESSO DE IRRADIAÇÃO” para que fique claro para o consumidor.

A informação de irradiação é obrigatória na rotulagem do produto, segundo a Resolução nº. 21 (BRASIL, 2001), para informar aos consumidores que eles estão comprando um alimento que foi processado. Este aviso é necessário porque a radiação não deixa nenhum vestígio indicando que o alimento foi irradiado seja pela aparência, cheiro ou toque. Isto contrasta com outras técnicas de processamento, tais como cozinhar, enlatar ou congelar, processos em que se percebe o tratamento. Os alimentos irradiados servidos em estabelecimentos tais como restaurantes não necessitam de nenhum rótulo ou declaração no cardápio, pois o alimento oferecido, obviamente, foi processado. (CAMPOS, 2003)

Além disso, a não informação fere o CDC (Código de Defesa do Consumidor), que garante ao consumidor o direito de conhecer exatamente tudo o que adquire e consome. O item 4.5.1. da Resolução nº 21 dispõe: "quando um produto irradiado é utilizado como ingrediente em outro alimento, deve declarar essa circunstância na lista de ingredientes, entre parênteses, após o nome do mesmo". A Resolução é clara, mas não define limites mínimos para indicação de ingredientes irradiados. Empresas que usam matérias-primas irradiadas, não importando se em pequenas ou grandes quantidades, infringem, deliberadamente ou não, a Legislação vigente e estão sujeitas às sanções legais. (DIVERSI, 2002)

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A dose de radiação é medida em Grays (G) ou kiloGrays (kGy), onde 1 Gray = 0,001 kGy = 100 rads = 1 Joule de energia absorvida por quilograma de alimento irradiado. Para retardar o amadurecimento de frutas, por exemplo, não é necessário mais do que 1 kGy. Para inibir o brotamento de raízes e tubérculos (batata, cebola, alho, etc.) a dose necessária varia de 0,05 a 0,15 kGy. Para prevenir que os grãos sejam infestados por insetos, 0,1 a 2kGy são suficientes. (EMBRARAD, 2008)

A irradiação de alimentos pode produzir uma variedade de resultados, dependendo do tipo do alimento e da quantidade de energia ionizante absorvida pelo mesmo. (MESQUITA, 2004)

As aplicações com doses baixas (< 1 kGy) promovem: inibição de brotamento de batatas, cebola, alho, batata doce, proporcionando estocagem de longo prazo, sem uso de inibidores químicos de brotamento; morte ou esterilização sexual de insetos, assim prevenindo perdas causadas em grãos de cereais e estocados, farinhas, frutas secas, nozes e leguminosas, sem o uso de fumigantes químicos; prevenção da disseminação de pestes de insetos, no comércio de alimentos; uso como tratamento de quarentena, ao invés de fumigantes químicos. (MESQUITA, 2004)

Com as aplicações com dose média (1kGy - 10kGy) poderemos observar: redução das populações de bactérias, fungos presentes na superfície ou no interior de alimentos, aumentando assim, a qualidade da conservação e prevenindo intoxicações alimentares devidas a Salmonella spp., Shigella spp., Campylobacter spp., Yersinia spp. dentre outros patógenos. (MESQUITA, 2004)

Entretanto nas aplicações com dose alta (10kGy - 45kGy): destruição de populações de microrganismos, que promovem estrago de alimentos e destruição de patógenos, incluindo formadores de esporos, tais como Clostridium botulinum. (MESQUITA, 2004)

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Exemplos da utilização destas dosagens, em kGy, poderão ser observadas nas Tabelas 4 e 5.

Tabela 3: Alimentos, doses aplicadas e os efeitos da irradiação

Fonte: UFRGS, MÖLLER, S. V. (2004). Aplicações industriais das radiações ionizantes

TIPO DE ALIMENTO DOSE EM kGy

(kiloGray)

EFEITO

CARNE, FRANGO, PEIXE,

MARISCO, ALGUNS

VEGETAIS, ALIMENTOS PREPARADOS

20 - 70 Esterilização. Os produtos tratados podem ser

armazenados à temperatura ambiente. ESPECIARIAS E OUTRAS FRUTAS 8 - 30 Reduz o número de microorganismos e destrói insetos: substitui produtos químicos.

CARNE, FRANGO, PEIXE 1 - 10 Retarda a deterioração, mata alguns tipos de bactérias patogênicas. MORANGOS E OUTRAS FRUTAS 1 - 4 Aumenta o tempo de prateleira, retarda o aparecimento de mofo. GRÃOS, FRUTAS E VEGETAIS

0,1 - 1 Mata insetos ou evita sua

reprodução. Pode

substituir parcialmente os fumigantes.

BANANA, ABACATE,

MANGA, MAMÃO E

OUTRAS FRUTAS NÃO

CÍTRICAS

0,25 - 0,35 Retarda a maturação.

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BATATA, CEBOLA, ALHO 0,05 - 0,15 Inibe o brotamento.

Tabela 4: Redução de bactérias, leveduras e fungos promovida pela aplicação de 10 kgy em várias especiarias.

Fonte: MESQUITA, 2004

Número de Microorganismos Especiarias e Nível de

dose (kGy) Bactérias Leveduras Fungos

Pimenta da Jamaica 0 2,28x106 <10 0 10 <10 <10 0 Orégano grego 0 1,21x106 4x104 9x103 10 <10 <10 <10 Pimenta preta 0 3,2x107 0 0 10 60 0 0 Alho em pó 0 4,14x105 <10 7,8x10s 10 700 <10 <10 Manjericto egípcio 0 3x106 >3x104 >1,1x104 10 lx103 <10 0 Tomilho 0 1,5x105 0 300 10 40 0 <10 Orégano mexicano 0 1,5x106 3x104 5x10~ 10 30 <10 10 Páprica espanhola 0 2,2x106 0 0 6,5 260 0 0 Aipo 0 4,4x105 1,5x103 200 10 <10 <10 <10

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Pimenta vermelha

0 1,31x105 <10 0

6,5 <10 <10 0

Alimentos irradiados já foram aprovados em dezenas de países ao redor do mundo. Alimentos são normalmente aprovados para irradiação em bases individuais. Por exemplo, nos EUA uma aprovação para se irradiar um alimento é concedida pela FDA (“Food and Drug Administration”), depois do exame de uma petição que pode ser submetida por um indivíduo, uma empresa privada, uma instituição educacional ou qualquer outra entidade. Outros países têm procedimentos similares. (CAMPOS, 2003)

De acordo com a OMS, alimentos irradiados com doses de até 10 kGy não necessitam de avaliação toxicológica ou nutricional. Os alimentos irradiados consumidos no mundo não recebem mais do que essa dosagem. Especialistas garantem a segurança dos alimentos irradiados para os consumidores, para os manipuladores do produto e dos equipamentos e para o meio ambiente, desde que obedecidos os limites máximos de irradiação (específicos para cada produto) e as normas básicas de segurança operacional. O alimento irradiado não se torna radioativo. (EMBRARAD, 2008)

7 LEGISLAÇÃO

No Brasil, segue-se o Regulamento da ANVISA aprovado pelo Decreto nº. 3029 (BRASIL, 1999), para a aplicação da irradiação no tratamento sanitário de alimentos. (CENA, 2003)

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prazo de 180 dias a contar da data de publicação para se adequarem ao mesmo. O descumprimento aos termos desta Resolução constitui infração sanitária sujeita aos dispositivos da Lei n.º. 6.437 (BRASIL, 1977) e demais disposições aplicáveis. (CENA, 2003)

Existem também a Portaria nº. 30 (BRASIL, 1989) e a Portaria Dinal nº. 9 (BRASIL, 1985), Decreto nº. 72.718 (BRASIL, 1973), que estabelece normas gerais sobre irradiação de alimentos e o Decreto Lei nº. 986 (BRASIL, 1969), que institui normas básicas sobre alimentos e define alimento irradiado. (CENA, 2003)

8 MERCADO POTENCIAL

Calcula-se que no Brasil as perdas no processo de comercialização de frutas e hortaliças ultrapassem 30% do total produzido. Isso significa que, a cada ano, o volume cultivado em mais de 200 mil hectares é desperdiçado no país durante as etapas de pré-colheita, colheita, beneficiamento e comercialização. Portanto, técnicas que minimizem perdas e prolonguem a vida útil dos hortifrutis depois da colheita são cada vez mais importantes para reverter essa situação. (PEROZZI, 2007)

O desenvolvimento da irradiação alimentar é fundamental para o alcance da meta brasileira de ampliar ainda mais seu mercado de exportação, já que poderia aumentar o tempo de prateleira de seus produtos agrícolas, enviando-os a baixo custo para os países do Norte, onde há uma grande demanda por frutas tropicais. Tendo isso em vista, há alguns anos, exportadoras nacionais começaram a considerar a irradiação como uma alternativa para incrementar o comércio de alimentos. (PUBLIC CITIZEN, 2007)

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(Portaria DINAL no. 9 do Ministério da Saúde, 08/03/1985). Em Piracicaba, o Centro de Energia Nuclear para Agricultura (CENA), da Universidade de São Paulo, vem realizando pesquisas desde a década de 50. Mesmo com a permissão, em 1985, do uso da irradiação para conservação de alimentos, os estudos se restringiram quase que exclusivamente às instituições de pesquisas, uma vez que o País contava com um número restrito de especialistas na área. (SANZ, 2004)

O Instituto de Pesquisas Nucleares, também da USP, além de realizar pesquisas na área, realiza um trabalho junto aos produtores, mostrando os benefícios e vantagens da irradiação de alimentos. (AGÊNCIA BRASIL, 2003)

As leis brasileiras, paralelamente às transações comerciais, concorrem para fomentar o desenvolvimento do comércio de alimentos irradiados. O governo brasileiro aprovou a irradiação - com dose liberada e sob qualquer justificativa - de 117 tipos de alimentos, incluindo a categoria “qualquer alimento”. Assim sendo, o Brasil é o país com o maior número de produtos aprovados para irradiação no mundo, além de ter as leis mais liberais com relação à dosagem. (PUBLIC CITIZEN, 2007)

Segundo informações da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) atualmente três empresas possuem autorização para irradiar alimentos no Brasil. São elas: CBE, EMBRARAD e “Tech Íon”. As duas primeiras possuem plantas localizadas nas cidades de Jarinu e Cotia (SP) e a “Tech Ion”, com sede em Manaus (AM) formou uma joint-venture com a multinacional norte-americana Sure Beam e esta montou a primeira fábrica de irradiação de alimentos do país com um investimento de U$10 milhões. (AGÊNCIA BRASIL, 2003)

Segundo DOMARCO E PEREIRA (2008), a “Tech Ion” vai investir em uma unidade de irradiação de alimentos na Amazônia e em outros oito centros

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espalhados pelo País - Fortaleza (CE), Juazeiro (BA), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Curitiba (PR), Campinas (SP) e Itajaí (SC).

Para minimizar as perdas pós-colheita, as unidades de irradiação devem se instalar próximo a centros produtores de frutas. Há também norte-americana “Secure Foods”. A empresa planeja instalar no Brasil cinco unidades de irradiação de frutas para exportação com destino aos Estados Unidos. O mamão papaia e a manga encabeçam a lista das frutas que devem ser irradiadas para serem exportadas para os Estados Unidos e as unidades de irradiação devem ser instaladas próximas a regiões produtoras no Nordeste. (PEROZZI, 2007)

As maiores companhias de irradiação no mundo são a MDS Nordion que é uma grande companhia do Canadá e fornece Cobalto 60, uma fonte radioativa, a todo o mundo. A IBA é outra grande empresa, na Bélgica, e tem 47 instalações em 12 países. Nos EUA, a IBA (Ion Beam Applications of Belgium), empresa que apresenta o maior parque de ionização e irradiação de alimentos do mundo, pretende abrir três novos postos de processamento comercial com tecnologia de raios-x e de feixe de íons. Os investimentos somam U$ 30 milhões. A tecnologia de irradiação é sofisticada e os centros fornecerão ampla capacidade de processamento aos produtores de alimentos (MELLO, 2000).

A Ganmaster é outra empresa de irradiação gama baseada na Holanda, com filiais na Europa, Ásia e África. A Sure Beam é a mais nova subsidiária da Titan Corporation. A empresa usa aceleradores lineares desenvolvidos por sua co-irmã para o programa Guerra nas Estrelas do governo americano. Baseada nos EUA, a Sure Beam está construindo redes de filiais de irradiação no Brasil e na Arábia Saudita. Tem também acordos com a Austrália e o Japão e está negociando com Guatemala, Filipinas, Tailândia, México e Vietnã. A empresa anunciou que centralizará seus esforços de expansão na América Latina. (DIVERSI, 2002)

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Atualmente, no Brasil, não são comercializados alimentos "inteiros" irradiados, como frutas ou carnes. O que existe são ingredientes irradiados, como temperos e condimentos, que podem ser encontrados em produtos industrializados como embutidos e salgadinhos. (PEROZZI, 2007)

A difusão da tecnologia da irradiação ainda não é forte em nosso país, principalmente, pela falta de informação sobre o tema. Outro fator seria o elevado custo inicial, pois o irradiador é muito caro. Para o caso das frutas, o equipamento importado custa entre US$ 3 e US$ 5 milhões. (PEROZZI, 2007)

8.1 SITUAÇÃO ATUAL DA IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS NOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS (PUBLIC CITIZEN, 2007)

Argentina: Possui três usinas de irradiação, localizadas em Buenos Aires e Salta, e aprova a irradiação para 13 tipos de alimento. O país começou a irradiar alimentos em 1970.

Brasil: Atualmente tem oito usinas de irradiação e outras 22 em fase de projeto ou construção. Qualquer alimento pode ser irradiado no Brasil, sem limite de dosagem máxima. O país começou a irradiar alimentos em 1985.

Chile: Possui uma usina de irradiação em Santiago e aprovação para vinte alimentos. O país começou a irradiar em 1983.

Costa Rica: Tem aprovação para 18 categorias de alimentos.

Cuba: Tem uma usina de irradiação em Havana e aprovação para 18 tipos de alimentos. Começou a irradiação alimentar em 1987.

Equador: É membro do ICGFI (“International Consultive Group of Food

Irradiation”) desde 1989.

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irradia alimentos desde 1988.

Peru: Abriu uma usina de irradiação de alimentos em Lima, em 1996, que irradia especiarias, conservantes e ração animal.

Uruguai: Aprova a irradiação de batatas desde 1970.

8.2 POSIÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES

O ICGFI (“International Consultive Group of Food Irradiation”), patrocinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS); a “Food and Agricultural Organization” (FAO) e a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) posicionam-se favoravelmente sobre a salubridade de alimentos irradiados, desde 1980, e vêm estudando a irradiação de alimentos e fornecendo subsídios tecnológicos e científicos para sua aprovação internacional. (EMBRARAD, 2008)

Inúmeras pesquisas foram realizadas, grande parte delas nos EUA. Durante muito tempo, os alimentos irradiados foram servidos a voluntários, astronautas, pacientes imunodeprimidos e militares de várias partes do mundo. (AZEVEDO, 2006)

Entre 1964 e 1997, a Organização Mundial de Saúde acompanhou os resultados desses estudos, em conjunto com Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) através de uma série de reuniões com especialistas de diversos países do mundo. Na última reunião em setembro de 1997, a conclusão final foi divulgada: a OMS aprova e recomenda a irradiação de alimentos, em doses que não comprometam suas características organolépticas, sem a necessidade de testes toxicológicos. De lá para cá, a irradiação de alimentos foi aprovada pelas autoridades de saúde de 40 países. (EMBRARAD, 2008 )

(46)

Estas são algumas das organizações que apóiam a irradiação de alimentos: “American Council on Science and Health”, “American Dietetic Association”, “American Farm Bureau Federation”, “American Feed Industry Association”, “American Meat Institute”, “American Medical Association”, “American Veterinary Medical Association”, “Animal Health Institute”, “Apple Processors Association”, “Chocolate Manufacturers Association”, “Council for Agricultural Science and Technology”, “Florida Fruit and Vegetable Association”, “Food and Drug Administration”, “Food Distributors International”, “Food and Agriculture Organization” (FAO), “Grocery Manufacturers of America”, “Health Physics Society”, “Institute of Food Technologists”, “International Atomic Energy Agency”, “International Food Information Council” (IFIC), “The Mayo Clinic”, “Millers' National Federation”, “National Confectioners' Association”, “National Cattlemen's Beef Association”, “National Food Processors Association”, “National Fisheries Institute”, “National Meat Association”, ”National Food Processors Association”, “National Turkey Federation”, “National Pork Producers Council”, “Northwest Horticulture Association”, “New England Journal of Medicine (reported in the Scientific Committee of the European Union)”, “Produce Marketing Association”, “Scientific Committee of the European Union”, United Egg Association”, “UK Institute of Food Science & Technology”, “United Fresh Fruit & Vegetable Association”, “United Egg Producers”, “United Nation Food and Agricultural Organization” (FAO), “U.S. Department of Agriculture”, “Western Growers Association”, “World Health Organization” (WHO). (EMBRARAD, 2008)

9 CONTROVÉRSIAS

A tecnologia ainda gera controvérsias sobre tudo perante as organizações não governamentais. Destacam-se como opositores as “ONG’s Public Citizen” (EUA), a “Stop Food Irradiation Alliance” (SFIA - Austrália) e, no Brasil, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC, 2002).

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Há muitos aspectos controversos. Um deles está ligado à própria eficiência da eliminação de microorganismos patogênicos. Pois segundo o IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), a irradiação elimina não só os microorganismos que causam doenças, mas também podem eliminar aqueles que fazem parte da flora intestinal e que são encontrados apenas nos alimentos. (AZEVEDO, 2006)

Outros críticos citam como principais problemas, verificados em pesquisas, a diminuição do peso e da sobrevivência (inclusive intra-uterina) de animais de laboratório, maior incidência de certos tipos de câncer, queda na fertilidade, mutações, deficiências nutricionais, morte pré-natal e outros problemas reprodutivos, hemorragia interna fatal, sistemas imunológicos destruídos, danos a órgãos e crescimento atrofiado e níveis consideráveis de radioatividade em órgãos de ratos tratados com sacarose irradiada. (PEROZZI, 2007)

Falam ainda de acidentes ambientais ocorridos em plantas irradiadoras de alimentos e problemas decorrentes da má operacionalização das máquinas. Instalações de irradiação que funcionam com césio-137 ou cobalto-60 radioativos ameaçam trabalhadores e comunidades devido à possibilidade de vazamentos e acidentes radioativos. (PUBLIC CITZEN BRASIL, 2008).

A irradiação pode matar bactérias, mas não mata vírus ou remove sujeira, toxinas, urina, fezes e fuligem, adquiridos nos matadouros ou em instalações de processamento com precárias condições de higiene. (PUBLIC CITZEN BRASIL, 2008). Sabemos que a legislação brasileira exige que tenha o Manual de Boas Práticas de Fabricação nas instalações para que o produto seja irradiado e isso diminui e muito, a possibilidade da presença de fezes, urina ou outros tipos de

Referências

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