• Nenhum resultado encontrado

A dose de radiação é medida em Grays (G) ou kiloGrays (kGy), onde 1 Gray = 0,001 kGy = 100 rads = 1 Joule de energia absorvida por quilograma de alimento irradiado. Para retardar o amadurecimento de frutas, por exemplo, não é necessário mais do que 1 kGy. Para inibir o brotamento de raízes e tubérculos (batata, cebola, alho, etc.) a dose necessária varia de 0,05 a 0,15 kGy. Para prevenir que os grãos sejam infestados por insetos, 0,1 a 2kGy são suficientes. (EMBRARAD, 2008)

A irradiação de alimentos pode produzir uma variedade de resultados, dependendo do tipo do alimento e da quantidade de energia ionizante absorvida pelo mesmo. (MESQUITA, 2004)

As aplicações com doses baixas (< 1 kGy) promovem: inibição de brotamento de batatas, cebola, alho, batata doce, proporcionando estocagem de longo prazo, sem uso de inibidores químicos de brotamento; morte ou esterilização sexual de insetos, assim prevenindo perdas causadas em grãos de cereais e estocados, farinhas, frutas secas, nozes e leguminosas, sem o uso de fumigantes químicos; prevenção da disseminação de pestes de insetos, no comércio de alimentos; uso como tratamento de quarentena, ao invés de fumigantes químicos. (MESQUITA, 2004)

Com as aplicações com dose média (1kGy - 10kGy) poderemos observar: redução das populações de bactérias, fungos presentes na superfície ou no interior de alimentos, aumentando assim, a qualidade da conservação e prevenindo intoxicações alimentares devidas a Salmonella spp., Shigella spp., Campylobacter spp., Yersinia spp. dentre outros patógenos. (MESQUITA, 2004)

Entretanto nas aplicações com dose alta (10kGy - 45kGy): destruição de populações de microrganismos, que promovem estrago de alimentos e destruição de patógenos, incluindo formadores de esporos, tais como Clostridium botulinum. (MESQUITA, 2004)

Exemplos da utilização destas dosagens, em kGy, poderão ser observadas nas Tabelas 4 e 5.

Tabela 3: Alimentos, doses aplicadas e os efeitos da irradiação

Fonte: UFRGS, MÖLLER, S. V. (2004). Aplicações industriais das radiações ionizantes

TIPO DE ALIMENTO DOSE EM kGy

(kiloGray)

EFEITO

CARNE, FRANGO, PEIXE,

MARISCO, ALGUNS

VEGETAIS, ALIMENTOS PREPARADOS

20 - 70 Esterilização. Os produtos tratados podem ser

armazenados à temperatura ambiente. ESPECIARIAS E OUTRAS FRUTAS 8 - 30 Reduz o número de microorganismos e destrói insetos: substitui produtos químicos.

CARNE, FRANGO, PEIXE 1 - 10 Retarda a deterioração, mata alguns tipos de bactérias patogênicas. MORANGOS E OUTRAS FRUTAS 1 - 4 Aumenta o tempo de prateleira, retarda o aparecimento de mofo. GRÃOS, FRUTAS E VEGETAIS

0,1 - 1 Mata insetos ou evita sua

reprodução. Pode

substituir parcialmente os fumigantes.

BANANA, ABACATE,

MANGA, MAMÃO E

OUTRAS FRUTAS NÃO

CÍTRICAS

0,25 - 0,35 Retarda a maturação.

BATATA, CEBOLA, ALHO 0,05 - 0,15 Inibe o brotamento.

Tabela 4: Redução de bactérias, leveduras e fungos promovida pela aplicação de 10 kgy em várias especiarias.

Fonte: MESQUITA, 2004

Número de Microorganismos Especiarias e Nível de

dose (kGy) Bactérias Leveduras Fungos

Pimenta da Jamaica 0 2,28x106 <10 0 10 <10 <10 0 Orégano grego 0 1,21x106 4x104 9x103 10 <10 <10 <10 Pimenta preta 0 3,2x107 0 0 10 60 0 0 Alho em pó 0 4,14x105 <10 7,8x10s 10 700 <10 <10 Manjericto egípcio 0 3x106 >3x104 >1,1x104 10 lx103 <10 0 Tomilho 0 1,5x105 0 300 10 40 0 <10 Orégano mexicano 0 1,5x106 3x104 5x10~ 10 30 <10 10 Páprica espanhola 0 2,2x106 0 0 6,5 260 0 0 Aipo 0 4,4x105 1,5x103 200 10 <10 <10 <10

Pimenta vermelha

0 1,31x105 <10 0

6,5 <10 <10 0

Alimentos irradiados já foram aprovados em dezenas de países ao redor do mundo. Alimentos são normalmente aprovados para irradiação em bases individuais. Por exemplo, nos EUA uma aprovação para se irradiar um alimento é concedida pela FDA (“Food and Drug Administration”), depois do exame de uma petição que pode ser submetida por um indivíduo, uma empresa privada, uma instituição educacional ou qualquer outra entidade. Outros países têm procedimentos similares. (CAMPOS, 2003)

De acordo com a OMS, alimentos irradiados com doses de até 10 kGy não necessitam de avaliação toxicológica ou nutricional. Os alimentos irradiados consumidos no mundo não recebem mais do que essa dosagem. Especialistas garantem a segurança dos alimentos irradiados para os consumidores, para os manipuladores do produto e dos equipamentos e para o meio ambiente, desde que obedecidos os limites máximos de irradiação (específicos para cada produto) e as normas básicas de segurança operacional. O alimento irradiado não se torna radioativo. (EMBRARAD, 2008)

7 LEGISLAÇÃO

No Brasil, segue-se o Regulamento da ANVISA aprovado pelo Decreto nº. 3029 (BRASIL, 1999), para a aplicação da irradiação no tratamento sanitário de alimentos. (CENA, 2003)

prazo de 180 dias a contar da data de publicação para se adequarem ao mesmo. O descumprimento aos termos desta Resolução constitui infração sanitária sujeita aos dispositivos da Lei n.º. 6.437 (BRASIL, 1977) e demais disposições aplicáveis. (CENA, 2003)

Existem também a Portaria nº. 30 (BRASIL, 1989) e a Portaria Dinal nº. 9 (BRASIL, 1985), Decreto nº. 72.718 (BRASIL, 1973), que estabelece normas gerais sobre irradiação de alimentos e o Decreto Lei nº. 986 (BRASIL, 1969), que institui normas básicas sobre alimentos e define alimento irradiado. (CENA, 2003)

8 MERCADO POTENCIAL

Calcula-se que no Brasil as perdas no processo de comercialização de frutas e hortaliças ultrapassem 30% do total produzido. Isso significa que, a cada ano, o volume cultivado em mais de 200 mil hectares é desperdiçado no país durante as etapas de pré-colheita, colheita, beneficiamento e comercialização. Portanto, técnicas que minimizem perdas e prolonguem a vida útil dos hortifrutis depois da colheita são cada vez mais importantes para reverter essa situação. (PEROZZI, 2007)

O desenvolvimento da irradiação alimentar é fundamental para o alcance da meta brasileira de ampliar ainda mais seu mercado de exportação, já que poderia aumentar o tempo de prateleira de seus produtos agrícolas, enviando-os a baixo custo para os países do Norte, onde há uma grande demanda por frutas tropicais. Tendo isso em vista, há alguns anos, exportadoras nacionais começaram a considerar a irradiação como uma alternativa para incrementar o comércio de alimentos. (PUBLIC CITIZEN, 2007)

(Portaria DINAL no. 9 do Ministério da Saúde, 08/03/1985). Em Piracicaba, o Centro de Energia Nuclear para Agricultura (CENA), da Universidade de São Paulo, vem realizando pesquisas desde a década de 50. Mesmo com a permissão, em 1985, do uso da irradiação para conservação de alimentos, os estudos se restringiram quase que exclusivamente às instituições de pesquisas, uma vez que o País contava com um número restrito de especialistas na área. (SANZ, 2004)

O Instituto de Pesquisas Nucleares, também da USP, além de realizar pesquisas na área, realiza um trabalho junto aos produtores, mostrando os benefícios e vantagens da irradiação de alimentos. (AGÊNCIA BRASIL, 2003)

As leis brasileiras, paralelamente às transações comerciais, concorrem para fomentar o desenvolvimento do comércio de alimentos irradiados. O governo brasileiro aprovou a irradiação - com dose liberada e sob qualquer justificativa - de 117 tipos de alimentos, incluindo a categoria “qualquer alimento”. Assim sendo, o Brasil é o país com o maior número de produtos aprovados para irradiação no mundo, além de ter as leis mais liberais com relação à dosagem. (PUBLIC CITIZEN, 2007)

Segundo informações da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) atualmente três empresas possuem autorização para irradiar alimentos no Brasil. São elas: CBE, EMBRARAD e “Tech Íon”. As duas primeiras possuem plantas localizadas nas cidades de Jarinu e Cotia (SP) e a “Tech Ion”, com sede em Manaus (AM) formou uma joint-venture com a multinacional norte-americana Sure Beam e esta montou a primeira fábrica de irradiação de alimentos do país com um investimento de U$10 milhões. (AGÊNCIA BRASIL, 2003)

Segundo DOMARCO E PEREIRA (2008), a “Tech Ion” vai investir em uma unidade de irradiação de alimentos na Amazônia e em outros oito centros

espalhados pelo País - Fortaleza (CE), Juazeiro (BA), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Curitiba (PR), Campinas (SP) e Itajaí (SC).

Para minimizar as perdas pós-colheita, as unidades de irradiação devem se instalar próximo a centros produtores de frutas. Há também norte-americana “Secure Foods”. A empresa planeja instalar no Brasil cinco unidades de irradiação de frutas para exportação com destino aos Estados Unidos. O mamão papaia e a manga encabeçam a lista das frutas que devem ser irradiadas para serem exportadas para os Estados Unidos e as unidades de irradiação devem ser instaladas próximas a regiões produtoras no Nordeste. (PEROZZI, 2007)

As maiores companhias de irradiação no mundo são a MDS Nordion que é uma grande companhia do Canadá e fornece Cobalto 60, uma fonte radioativa, a todo o mundo. A IBA é outra grande empresa, na Bélgica, e tem 47 instalações em 12 países. Nos EUA, a IBA (Ion Beam Applications of Belgium), empresa que apresenta o maior parque de ionização e irradiação de alimentos do mundo, pretende abrir três novos postos de processamento comercial com tecnologia de raios-x e de feixe de íons. Os investimentos somam U$ 30 milhões. A tecnologia de irradiação é sofisticada e os centros fornecerão ampla capacidade de processamento aos produtores de alimentos (MELLO, 2000).

A Ganmaster é outra empresa de irradiação gama baseada na Holanda, com filiais na Europa, Ásia e África. A Sure Beam é a mais nova subsidiária da Titan Corporation. A empresa usa aceleradores lineares desenvolvidos por sua co-irmã para o programa Guerra nas Estrelas do governo americano. Baseada nos EUA, a Sure Beam está construindo redes de filiais de irradiação no Brasil e na Arábia Saudita. Tem também acordos com a Austrália e o Japão e está negociando com Guatemala, Filipinas, Tailândia, México e Vietnã. A empresa anunciou que centralizará seus esforços de expansão na América Latina. (DIVERSI, 2002)

Atualmente, no Brasil, não são comercializados alimentos "inteiros" irradiados, como frutas ou carnes. O que existe são ingredientes irradiados, como temperos e condimentos, que podem ser encontrados em produtos industrializados como embutidos e salgadinhos. (PEROZZI, 2007)

A difusão da tecnologia da irradiação ainda não é forte em nosso país, principalmente, pela falta de informação sobre o tema. Outro fator seria o elevado custo inicial, pois o irradiador é muito caro. Para o caso das frutas, o equipamento importado custa entre US$ 3 e US$ 5 milhões. (PEROZZI, 2007)

8.1 SITUAÇÃO ATUAL DA IRRADIAÇÃO DE ALIMENTOS NOS PAÍSES

Documentos relacionados