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Engasgo narrativo: poética de fragmentos nos livros de artista de Pablo Mufarrej

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Academic year: 2021

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Costa, Gil Vieira (2012) “Engasgo narrativo: poética de fragmentos nos livros de ar

tista de Pablo Mufarrej.”

Revista :Estúdio, Ar

tistas sobre outras Obras.

ISSN 1647-6158, e-ISSN 1647-7316. V ol. 3 (6): 1 24 -1 28 .

Engasgo narrativo:

poética de fragmentos

nos livros de artista

de Pablo Mufarrej

GIL VIEIRA COSTA

Title: Narrative choke: poetic of fragments in

Pablo Mufarrej’s artist books.

Abstract: The aim is to study the book-objects that compose Pablo Mufarrej´s art works. The following relationships within this production are addressed: book-objects and the other con-stituent elements of the art works they are part of; questions of time and space; and the concept of narrative choke, elaborated in this article.

Keywords:Pablo Mufarrej / narrative choke / book-object.

Resumo: Pretende-se estudar livros-objeto que compõem obras do artista Pablo Mufar-rej. Abordam-se as seguintes relações desta produção: com as outras partes constitutivas das obras de que fazem parte; com as ques-tões de tempo e espaço; e com o conceito de engasgo narrativo, elaborado neste artigo. Palavras chave: Pablo Mufarrej / engasgo narrativo / livro-objeto.

Brasil, artista visual. Professor de Artes Visuais na Escola Superior Madre Celeste (ESMAC). Professor de Artes na Secretaria de Educação do Estado do Pará (SEDUC/PA), Técnico em Gestão Cultural (Artes Visuais) na Fundação Curro Velho. Mestre em Artes, Universidade Federal do Pará (UFPA). Bacharelado e Licenciatura em Artes Visuais, Escola Superior Madre Celeste (ESMAC).

Considerações iniciais

Pablo Mufarrej (1982, Belém) é um artista contemporâneo brasileiro, formado em Educação Artística/Artes Plásticas. Atualmente faz parte do grupo Atelier do Porto, que reúne criadores interessados na experimentação da arte. Sua pro-dução envereda por xilogravura, pintura, instalação, sessões, entre outras lin-guagens, tendo o artista participado de exposições individuais e coletivas, na ci-dade de Belém (onde reside) e em outras cici-dades no Brasil, Alemanha e França.

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Revista :Estúdio, Ar

tistas sobre outras Obras.

ISSN 1647-6158, e-ISSN 1647-7316. V ol. 3 (6): 1 24 -1 28 .

A produção artística de Pablo Mufarrej tem como uma de suas evidentes ca-racterísticas o refinamento — técnico e conceitual. Serão investigados alguns tópicos a partir de cinco livros-objeto (chamados de álbuns ou cadernos pelo artista), que fazem parte das obras Ascese (2005), Duo (2006), Lugar-comum (2007), Creio porque é absurdo (2007) e Mecanismo imaginário para harmonia

social (2010). Algumas dificuldades se impõem de imediato: a questão de tais

li-vros de artista não existirem individualmente enquanto obra, mas constituírem instalações complexas; e a questão da quase inexistência de outras reflexões so-bre a produção do artista.

De início, é necessário sublinhar uma ideia: dada a complexidade da produ-ção em análise, duas imagens mitológicas serão levantadas. Primeiro, a obra de arte como labirinto, no qual os caminhos são muitos, mas as saídas são poucas, correndo-se o risco de se perder nos primeiros sem jamais encontrar as segun-das. Segundo, a obra de arte como esfinge, guardiã e ao mesmo tempo enigma, sempre disposta a estrangular os inaptos para enfrentá-la. A produção artísti-ca de Pablo Mufarrej potencializa, aparentemente, tanto o labirinto quanto a

esfinge. Traz embutida em si, como nos aponta o próprio Mufarrej (2012), uma

poética de fragmentos.

1. O livro de artista integrado a outros elementos constitutivos da obra

Os livros-objeto aqui abordados fazem parte de agrupamentos de elemen-tos diversos. O artista mescla variadas linguagens experimentando as possi-bilidades de cada uma, compondo quebra-cabeças conceituais situados na intercessão (que o artista denomina de manipulação construtiva) entre assem-blagem, escultura, instalação, como no exemplo da Figura 1. Para Pablo Mufar-rej (2012) “Fragmentar uma ideia era fundamental, pois, sem perceber, estava criando um dos aspectos marcantes de minha produção, que é uma espécie de ‘poética de fragmentos’, onde partes são apresentadas com o intuito de formar um todo conceitual.” Tal como os livros-objeto, em sua produção são recorren-tes caixas em madeira, pinturas (e gravura, no caso de Duo), letras e palavras espalhadas aparentemente de forma caótica, copos, frascos e demais objetos apropriados do cotidiano.

As obras em questão também evidenciam relações de tempo e espaço. Tem-po que é não somente uma percepção do momento histórico, mas também diz respeito à duração necessária para que se percorra o labirinto da obra, decifre-o como um enigma, e assim se estabeleça uma narrativa entre suas páginas. A condição dessa produção é a do ‘vir a ser’, assim como a de ‘existência incerta’ (Cauquelin, 2008: 97), dada a possibilidade de não ser concluída (ou lida). As-sim também o espaço: tanto o espaço tridimensional a ser percorrido nas obras,

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Costa, Gil Vieira (2012) “Engasgo narrativo: poética de fragmentos nos livros de ar

tista de Pablo Mufarrej.”

quanto o lugar chamado Amazônia, onde o artista se insere. Pablo Mufarrej foge aos signos estereotipados de uma chamada visualidade amazônica, e bus-ca refletir sobre aquilo que lhe cerbus-ca, pinçando elementos do real, do íntimo e do subjetivo (Figura 2). O lugar (uma questão, assim como o tempo, sempre re-levante em sua produção) é tanto a paisagem objetiva quanto a subjetiva, tanto o exterior quanto o interior, o macrossocial como o psicológico.

Essa relação de tempo/espaço, tanto dos livros-objeto inseridos nas obras, quanto da percepção de tempo/espaço inserida nas obras, proporciona aquilo que se identifica como narrativa. Segundo Edith Derdyk (2012: 171):

O livro-objeto, tomado pelos seus significantes, seus índices e sinais, se configura es-sencialmente como objeto narrativo, porém sem ter de contar coisa alguma — caso, relatos, histórias — a não ser a própria experiência ao liberar espacialidades e tempo-ralidades a partir do instante em que ele é manuseado. Somente a partir dessa ação primeira, o livro-objeto se desata.

2. O engasgo narrativo ou a poética de fragmentos

A complexidade da construção das obras de Pablo Mufarrej potenciali-za a ideia de arte como esfinge e labirinto. As obras, em vez de contempladas, devem ser percorridas com certa dose de astúcia. Os livros-objeto que delas fazem parte necessitam ser ativados pelo manuseio do leitor. Daí é que se pode falar em narrativa e, com Derdyk (2012), em certa narrativa

coreográfi-ca própria dos livros de artista. Como se o leitor (tato, visão, olfato, audição)

executasse uma dança enquanto percorre os fragmentos do labirinto, en-quanto se depara com o exprimível, através do tempo (Cauquelin, 2008: 103).

Figura 1 ∙ Registro da manipulação do livro de artista presente em Creio porque é absurdo, Pablo Mufarrej, 2007, Brasil. Fonte: fotografias disponíveis em http://pablomufarrej.blogspot.com.br/2012/04/creio-porque-e-absurdo.html. Acesso em 14 de junho de 2012.

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Considerando a fragmentação característica da produção do artista, pode-mos falar de certa saturação sígnica e de certa polifonia nas obras em questão. Os livros-objeto, tais quais as instalações de que fazem parte, agregam textos compondo uma narrativa complexa e intrincada. Labiríntica. Uma narrativa visual de ‘ênfase plástica’, ou ainda certo ‘equilíbrio narrativo entre imagem e palavra’ (Silveira, 2008), que foge da experiência cotidiana e requer do leitor certa capacidade de decodificação. Levanto, portanto, a ideia de engasgo

nar-rativo: multiplicidade de textos sígnicos transbordando na percepção da obra.

Engasgo não como uma obstrução da fala, mas como uma necessidade de dizer mais do que o veículo permite. Engasgo narrativo tendo a obra como uma pas-sagem estreita, pela qual se comprimem as diversas vozes que pulsam buscan-do eco. Portanto, outra espacialização, outra temporalização, que pressupõe o fragmento como parte de uma narrativa que deve ser construída (ajuntada) pelo leitor.

Considerações finais

Na produção aqui analisada o diálogo com as obras requer esforço do lei-tor-experimentador, para que o mesmo decifre os enigmas e compreenda o significado daquela fala engasgada, fragmentária. Pode-se contrapor tal ca-racterística às facilidades da informação no mundo contemporâneo, toda ela disponível para a maioria das pessoas, ao custo de alguns cliques. A saturação de signos aparece em ambos os casos, mas, enquanto nesta produção artística ela é como um quebra-cabeça a ser montado pelo leitor-investigador, nos meios de comunicação ela é geralmente como uma ração mastigada, que subtrai ao

Figura 2 ∙ Registro da manipulação do livro de artista presente em Lugar-comum, Pablo Mufarrej, 2007, Brasil. Fonte: fotografias disponíveis em http://pablomufarrej.blogspot.com.br/2012/04/lugar-comum.html. Acesso em 14 de junho de 2012.

Revista :Estúdio, Ar

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Referências

Cauquelin, Anne (2008) Frequentar os incorporais: contribuições a uma teoria da arte contemporânea. Tradução de Marcos Marcionilo. São Paulo: Martins. ISBN 9788599102749.

Derdyk, Edith (2012) A narrativa nos livros de artista: por uma partitura coreográfica nas páginas de um livro. Pós: Belo Horizonte, v. 2, n. 3, p. 164-173, maio 2012. ISSN 22382046.

Mufarrej, Pablo (2012) A descoberta da narrativa. [Consult. 2012-07-13] Hipertexto. Disponível em <URL: http:// pablomufarrej.blogspot.com.br/2012/03/ descoberta-da-narrativa.html>

Silveira, Paulo (2008) As existências da narrativa no livro de artista. Tese de doutorado em Artes Visuais. Porto Alegre: Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Contactar o autor: gilvieiracosta@hotmail.com

leitor-consumidor quase toda capacidade de criação e construção de conheci-mento. A arte contemporânea, quando labirinto e enigma, afirma uma potência dos objetos e processos criativos em arrancar o espectador de um estado pas-sivo, convidando-o à investigação de sentidos e significados. Os livros-objeto de Pablo Mufarrej, entesourados em gavetas que mais parecem recônditos do âmago do próprio artista, balbuciam narrativas (através de uma rede de frag-mentos visuais, textuais e conceituais) que o Outro só compreenderá ao dedicar um pouco mais de atenção àquele engasgo.

Costa, Gil Vieira (2012) “Engasgo narrativo: poética de fragmentos nos livros de ar

tista de Pablo Mufarrej.”

Revista :Estúdio, Ar

tistas sobre outras Obras.

ISSN 1647-6158, e-ISSN 1647-7316. V ol. 3 (6): 1 24 -1 28 .

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