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IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA MUNDIAL. Fernando Rocha Souza DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS

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IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA MUNDIAL

Fernando Rocha Souza

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM PLANEJAMENTO ENERGÉTICO.

Aprovada por:

______________________________________________ Prof. Luis Pinguelli Rosa, D.Sc.

__________________________________________________ Prof. Alexandre Salem Szklo, D.Sc.

______________________________________________ Prof. Marcos Pereira Estellita Lins, D.Sc.

RIO DE JANEIRO RJ - BRASIL NOVEMBRO DE 2006

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SOUZA, FERNANDO ROCHA

Impacto do Preço do Petróleo na Política Energética Mundial [Rio de Janeiro] 2006.

XI, 160 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M.Sc., Planejamento Energético, 2006)

Dissertação - Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE

1. Economia do Petróleo

2. Indústria do Petróleo no Mundo I. COPPE/UFRJ II. Título (série)

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Dedico este trabalho a minha esposa. Sem você nada disso seria possível.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador, Professor Luis Pinguelli Rosa, por todo o apoio dado durante a realização desta dissertação. Sobretudo, por se mostrar sempre acessível às minhas dúvidas e disposto a ajudar na elaboração do mesmo.

Ao Professor Alexandre Salem Szklo, professor do nosso Programa de Planejamento Energético, pelo compartilhamento do seu conhecimentoque enriqueceu essa dissertação com informações mais condizentes com a realidade dessa indústria.

Gostaria de agradecer a minha família pelo incentivo e pela dedicação que foram essenciais, não só para a realização deste trabalho, como também para o meu desenvolvimento. Agradeço, em especial, minha esposa Gabriela, minha mãe Regina e meu pai Mario cujo apoio foi determinante para o término desta dissertação.

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Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M. Sc.)

IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA MUNDIAL

Fernando Rocha Souza Novembro/ 2006

Orientador: Luis Pinguelli Rosa

Programa: Planejamento Energético

Este estudo desenvolve uma análise dos recentes aumentos do preço do petróleo no mercado internacional e os seus impactos na economia e na política energética mundial. O objetivo principal é mostrar como o preço do petróleo continua sendo determinante para a performance da indústria do petróleo e da economia mundial. Oscilações no preço do petróleo afetam tanto a economia dos países desenvolvidos quanto dos em desenvolvimento. Aumentos nos preços do petróleo tendem a proporcionar o crescimento da dívida (déficit externo) - dos países importadores do produto, da inflação, do desemprego e, conseqüentemente, uma redução do PIB. Além disso, encarece o custo de vida de praticamente toda população mundial, já que os produtos derivados do petróleo como a gasolina e o diesel, são utilizados como insumos para funcionamento, produção e desenvolvimento de praticamente todas as atividades econômicas.

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Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M. Sc.)

THE IMPACT OF OIL PRICES ON THE WORLD ENERGY POLICY

Fernando Rocha Souza November/ 2006

Advisor: Luis Pinguelli Rosa

Department: Energy Planning Program

This study analyzes the recent increase of the oil prices in the international market and its impacts on the world economy and energy policy. The main objective of this research is to show how oil prices remain a determinant key of oil industry and global economy performance. An increase in oil prices affects the economy of developed and developing countries. High oil prices normally increase the external debt, inflation, unemployment and, consequentially, decrease the GDP (Gross Domestic Product) of oil-importing countries. Moreover, increase the cost of living of, practically, all world population because the oil products, such as gasoline and diesel, are used for the production and the development of all economics activities.

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Sumário

INTRODUÇÃO... 1

1 1 1 1 FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO... 7

1.1 HISTÓRICO DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA... 7

1.1.1 Pioneiros e Inovadores da indústria: Do surgimento a internacionalização ... 8

1.1.2 Internacionalização da indústria do petróleo e o surgimento de novos players 13 1.1.3 Concessões, Consortia e Cartel Internacional ... 17

1.1.4 O surgimento das Estatais Petrolíferas e Renegociações de Concessões 23 1.1.5 Os Choques Petrolíferos ... 28

1.1.6 O período do Pós-Choque ... 33

1.2 AS CONDIÇÕES DE BASE DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA ATUAL... 41

1.2.1 A Estrutura de Oferta de Petróleo ... 45

1.2.2 A Estrutura de Demanda por Petróleo ... 55

2 2 2 2 FORMAÇÃO DOS PREÇOS DE PETRÓLEO NO MERCADO INTERNACIONAL... 58

2.1 A PARTICIPAÇÃO DOS AGENTES DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA NA FORMAÇÃO DO PREÇO DO PETRÓLEO... 60

2.2 SISTEMA DE FORMAÇÃO DO PREÇO DOS PETRÓLEOS DE REFERÊNCIA... 62

2.3 A ECONOMIA DOS RECURSOS EXAURÍVEIS E AS RENDAS PETROLÍFERAS.. 69

2.3.1 Princípio Fundamental de Hotelling... 70

2.3.2 Renda Petrolífera: Uma abordagem ricardiana ... 74

2.4 A EVOLUÇÃO RECENTE DOS PREÇOS DO PETRÓLEO DESDE À DÉCADA DE 70 80 2.5 DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ATUAL DOS PREÇOS DO PETRÓLEO 83 2.6 OS MAIORES BENEFICIADOS COM OS PREÇOS ALTOS DE PETRÓLEO... 94

(8)

3 3 3

3 O PICO DA PRODUÇÃO DO PETRÓLEO ... 98

3.1 O PICO DE HUBBERT... 99

3.2 ESTIMATIVAS DA OCORRÊNCIA DO PICO DA PRODUÇÃO MUNDIAL... 103

3.3 POSICIONAMENTO ESTRATÉGICO DO BRASIL: RISCOS E OPORTUNIDADES 116 4 4 4 4 INFLUÊNCIA DO PREÇO DO PETROLEO NA ECONOMIA MUNDIAL ... 124

4.1 IMPACTOS SOBRE OS PREÇOS NO CONSUMIDOR E INFLAÇÃO... 126

4.2 IMPACTOS SOBRE A ATIVIDADE ECONÔMICA... 132

4.3 FATORES ESTRUTURAIS E O IMPACTO DOS CHOQUES PETROLÍFEROS... 136

4.4 CHOQUES PETROLÍFEROS E MEDIDAS MACROECONÔMICAS... 140

5 5 5 5 ALTERNATIVAS À ENERGIA DO PETRÓLEO ... 143

CONCLUSÃO... 152

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Lista de Figuras

Figura 1-1–Preço do Petroleo e Produção: 1965 – 2004 (Jean-Marie Martin – X

Congresso Brasileiro de Energia)... 30

Figura 1-2–Cadeia Produtiva do Petróleo (Elaboração própria)... 42

Figura 1-3–Diagrama de McKelvey (Ross, 1998). ... 48

Figura 1-4–Reserva Técnica x Reserva Política (LAHERRÈRE, 2001b). ... 52

Figura 1-5–Comportamento do crescimento da demanda de petróleo de 1965 a 2005 (BP, 2006). ... 57

Figura 2-1–O mecanismo de apropriação da renda diferencial (Nunes, 2000)... 76

Figura 2-2–O mecanismo de apropriação da renda de monopólio (Nunes, 2000)... 79

Figura 2-3–Evolução dos Preços do Petróleo (BP, 2006)... 82

Figura 2-4–Margens Líquidas (em US$) de Refino no Golfo do México (Petrobrás, 2006) ... 89

Figura 2-5–Evolução da arrecadação mensal de royalties (em R$ 2004) e média mensal da taxa de câmbio comercial (R$/US$) (ANP, 2005)... 96

Figura 2-6–Evolução da arrecadação mensal de royalties (em R$ 2004) e cotação média mensal do petróleo Brent Dated no mercado Spot (US$/Barril) (ANP, 2005)... 96

Figura 3-1–Curva Natural de Extração (Campbell, 1997). ... 100

Figura 3-2–Extração de uma Província Petrolífera (Campbell e Laherrère, 1998) ... 101

Figura 3-3–Exemplo Ilustrativo da Correlação entre o Pico de Produção e as Descobertas (Campbell, 1997). ... 103

Figura 3-4– Reservas Mundiais de Petróleo (Em Bilhões de Barris) segundo Estimativas do Oil & Gás Journal e Laherrère (2000) – 1950/2010 (Laherrère, 2000). ... 105

Figura 3-5–Produção de Petróleo Convencional e Não-Convencional 1930/2050 (ASPO, 2004)... 109

Figura 3-6–Produção x Descobertas (ASPO, 2004). ... 111

Figura 3-7–Cenários de produção anual com taxas de crescimento de 2% e diferentes níveis de reservas recuperáveis – 1900 – 2125 (em bilhões de Barris/Ano) (EIA, 2003). ... 113

Figura 3-8–Estimativas publicadas das reservas mundiais em trilhões de barris (EIA, 2003) ... 114

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Figura 4-1–Indicadores macroeconômicos da OECD por país/região (IEA, 2004). ... 125 Figura 4-2–Principais implicações de um choque petrolífero aos preços (Elaboração própria)... 127 Figura 4-3–Preços do petróleo e rubricas selecionadas dos produtos energéticos no IHPC (BCE, 2004). ... 128 Figura 4-4–Taxa de inflação dos países da OECD e preço médio do petróleo importado (IEA, 2004b) ... 131 Figura 4-5–Consumo de petróleo em relação ao PIB real na Zona do Euro (BCE, 2004). ... 137 Figura 4-6–Intensidade de Petróleo em 2002* (OECD = 100) - (EIA, 2004). ... 138

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Lista de Tabelas

Tabela 1-1 – Produção Mundial de Petróleo, 1900-1925 – Milhares de barris/ano ... 17

Tabela 1-2 – Repartição Acionária da IPC ... 20

Tabela 1-3 – Produção de Petróleo na Arábia Saudita – 1939/1950... 23

Tabela 1-4 – O Peso do Cartel das Sete Irmãs no Mercado Internacional do Petróleo (%)... 28

Tabela 1-5 – Principais aquisições e fusões na indústria petrolífera entre 1997 e 2005 38 Tabela 1-6 – Utilizações dos principais derivados do petróleo... 45

Tabela 1-7 – Consumo mundial de energia primária por combustível (2005) ... 46

Tabela 1-8 – Distribuição das reservas de petróleo (2005)... 51

Tabela 1-9 – Distribuição da produção de petróleo (2005) ... 54

Tabela 1-10 – Distribuição da demanda de petróleo (2005) ... 55

Tabela 2-1 – Aumentos dos preços do petróleo em períodos específicos... 81

Tabela 3-1 – Aumentos anômalos reportados das reservas – 1980/1995 ... 107

Tabela 3-2 – Previsão do Pico do Petróleo segundo Região – 2005/2050... 110

Tabela 3-3 – Distribuição Geográfica das Reservas Brasileiras de Petróleo... 117

Tabela 4-1 – Indicadores Macroeconômicos da OECD... 125

Tabela 4-2 – Indicadores Macroeconômicos dos Países em Desenvolvimento... 126

Tabela 5-1 – Fontes de energia alternativas ao petróleo... 144

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INTRODUÇÃO

Durante todo o século XX, foi bastante significativa a contribuição do petróleo à economia mundial. Apesar de as crises de 1973 e 1979 mostrarem ao mundo as conseqüências de uma economia sustentada energeticamente por um combustível vulnerável a fortes oscilações no preço, o petróleo ainda se mantém como o energético mais consumido do mundo. No ano de 2005, este foi responsável por 36% da demanda final de energia, o equivalente a 3.837 milhões tEP1 (BP, 2006). Dentre os setores consumidores, destacam-se o transporte e o industrial, que conjuntamente demandaram 73,3% da oferta final de petróleo (IEA, 2004a). No Brasil, o petróleo foi responsável por 43% da demanda final de energia, o equivalente a 83 milhões tEP (BEN, 2005). Dentre os setores consumidores, destacam-se o transporte e o industrial, que conjuntamente demandaram 64% da oferta final de petróleo (BEN, 2005).

No entanto, a relevância da indústria do petróleo mundial não se limita à sua posição como principal fonte de energia. A magnitude dos diversos segmentos de sua cadeia produtiva pode ser verificada em termos econômicos, políticos e financeiros. Estima-se que entre 2001 e 2030, sejam investidos o montante de US$ 3,04 trilhões, sendo US$ 2,18 trilhões em exploração e produção (72%), US$ 395 bilhões em refino (13%) e US$ 456 milhões nos demais segmentos (15%) (IEA, 2004).

Um fator determinante para performance da indústria do petróleo e da economia mundial é o preço do óleo no mercado internacional. Oscilações no preço do petróleo, causadas seja pelo poder de mercado dos grandes demandantes seja pelo poder dos

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grandes produtores (sobretudo OPEP), afetam tanto a economia dos países desenvolvidos quanto dos em desenvolvimento. Aumentos nos preços do petróleo tendem a proporcionar o crescimento da dívida (déficit externo) - dos países importadores do produto, da inflação, do desemprego e, conseqüentemente, uma redução do PIB. Além disso, encarece o custo de vida de praticamente toda população mundial, já que os produtos derivados do petróleo como a gasolina e o diesel, são utilizados como insumos para funcionamento, produção e desenvolvimento de praticamente todas as atividades econômicas.

Neste sentido, as relações entre as flutuações dos preços do petróleo e a economia mundial são de grande importância, tornando relevante a tentativa de definir as condições de contorno que ajudem a explicar a formação e oscilação do preço desse produto no mercado internacional, assim como sua influência na economia mundial.

Independentemente das oscilações de curta duração, absolutamente normais e atribuídas aos impactos mais efêmeros, na longa história das cotações internacionais do petróleo, estamos agora assistindo, com perplexidade, a uma persistente e renitente elevação dos preços.

De fato, desde 2002, última ocasião com cotações abaixo de US$ 20,00/bbl, este preço elevou-se quase que constantemente, mantendo desde final de 2005 valores acima dos US$ 60,00/bbl (limite superior da banda da OPEP: US$ 22,00 a US$ 28,00/bbl, média em US$ 25,00/bbl) e atingindo, já nos últimos meses, cotações recordes, superiores a US$ 70,00/bbl. Aparentemente, já está se delineando o novo patamar de preço bastante mais elevado do que preconizado por vários analistas, pela própria

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Petrobrás (Plano Estratégico 2015) e pela própria OPEP. Uma alta tão persistente não permite mais interpretá-la como mera flutuação especulativa do mercado, ao sabor dos sempre numerosos e variados eventos localizados do noticiário internacional. Guerras, atos terroristas no Oriente Médio, alarmes e medo de terrorismo nos EUA ou na Europa, greves dos petroleiros na Nigéria ou na Noruega, problemas fiscais e de saúde financeira de empresas exportadoras russas e tantos outros acontecimentos poderão apenas ser invocados para justificar as relativamente pequenas oscilações especulativas localizadas, mas não uma tendência altista tão duradoura.

A bem da verdade, por trás deste conjunto de fatos aparentemente desconexos e aleatórios emerge toda uma lógica, própria da indústria do petróleo. Por um lado, países consumidores, em sua maioria ricos e desenvolvidos, carentes de petróleo em seu subsolo ou com o consumo muito maior que a sua produção, com relativa estabilidade geo-econômica. Por outro, países produtores, em sua maioria pobres, periféricos e em desenvolvimento, com sérios problemas de instabilidade social e geo-econômica. No entanto, esta situação não é nova e persiste já há muito tempo.

A questão mais grave, neste momento, é a da séria instabilidade no Oriente Médio. Não nos referimos simplesmente à questão Israel x Palestina com antigos e já crônicos problemas, na prática, quase insolúveis. Referimo-nos sim à questão do Iraque e suas conseqüências diretas e indiretas cada vez mais graves e complicadas. Referimo-nos também à delicada questão da Arábia Saudita, com suas reservas provadas (ressalte-se a existência também de outras categorias como as possíveis e/ou prováveis) superiores aos 260 bilhões de barris e uma estabilidade política já comprometida e, mesmo, ameaçada.

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De acordo com alguns analistas (Campbell e Laherrère, 1998), criaram-se situações que, no todo, suscitam nos países consumidores uma justificada sensação de “medo” de desabastecimento. Este medo seria capaz, por si só, de elevar em mais de US$10,00/bbl o preço da commodity no mercado internacional (EIA, 2004).

Quanto às questões estruturais de mercado, menciona-se com freqüência a pressão sobre a demanda relacionada principalmente a um discreto aumento em termos percentuais de consumo dos EUA e a um notável aumento de consumo da China. Dessa forma, pretende-se analisar em maior profundidade estas questões estruturais, principalmente aquelas relacionadas ao aumento da demanda de países em desenvolvimento, com grande população, até hoje marginalizados quanto ao consumo energético.

Por outro lado, outros analistas defendem que a commodity está longe do seu fim e ainda representa um insumo energético abundante e relativamente oferecido, mesmo um século e meio depois da descoberta do Coronel Drake2. Quanto a esta relativa garantia de suprimento, o petróleo ainda não deveria atingir patamares de preços tão elevados, não fosse o irracional, mas justificado, medo do desabastecimento dos países desenvolvidos e a prevista crescente pressão de demanda dos países em desenvolvimento, com elevada e crescente expansão demográfica dos “sem-energia”.

2

Edwin Drake, um ex-ferroviario que viria a ser conhecido mundialmente pela alcunha de “coronel” Drake, foi contratado pela Pennsylvania Rock Oil Company of New York (primeira companhia petrolífera dos Estados Unidos) para perfurar regiões onde o petróleo exudava, de modo a atingir o manancial e bombeá-lo, à maneira como se fazia com água. Utilizando-se de equipamentos apropriados à perfuração voltada para a obtenção de sal, veio, após longa saga infrutífera, a perfurar seu primeiro poço

(16)

Dentro desse contexto, o objetivo desse estudo é analisar os recentes aumentos do preço de petróleo no mercado mundial e analisar os seus impactos na economia e poltítica energética mundial. Dessa forma, esse estudo é organizado em cinco capítulos. No primeiro capítulo é analisada a formação e evolução da indústria mundial do petróleo, destacando-se sua influência na economia mundial ao longo do século XX e a estrutura de oferta e demanda atual de petróleo.

No segundo capítulo, são abordadas questões relativas ao preço do petróleo. O objetivo é analisar como funciona o sistema de preços atuais e como se formam no mercado internacional. Além disso, é apresentada uma evolução recente dos preços do petróleo no mercado internacional, sendo analisado os determinantes para a manutenção dos atuais preços do petróleo.

No terceiro capítulo, é apresentado o conceito de pico da produção mundial de petróleo (Pico de Hubbert), assim como a metodologia utilizada para estimar sua data de ocorrência. Apresentam-se ainda dois cenários para a produção futura de petróleo: o de um grupo de especialistas (pessimistas) seguidores da teoria de Hubbert e o adotado por órgãos governamentais norte-americanos (otimistas).

No quarto capítulo, é analisado como a evolução continua dos preços do petróleo no mercado internacional desde meados de 2003 tem impactado a economia mundial, principalmente dos países importadores de petróleo.

descobridor de petróleo em 1859, na localidade de Titusville, Pensilvânia. A descoberta do “coronel” Drake é considerada o marco representativo do início da moderna indústria do petróleo.

(17)

No quinto e ultimo capitulo, é realizada uma breve descrição das possíveis alternativas para a energia do petróleo. O objetivo é mostrar que não existe ainda uma fonte de energia capaz de substituir completamente o petróleo num momento de escassez na oferta de petróleo, o que contribui para a manutenção do preço elevado do petróleo.

(18)

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FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO

O objetivo é mostrar como se deu a evolução da indústria petrolífera e o resultado desta na economia e História do século XX. Na sua evolução, destacam-se as sucessivas explorações e descobertas de bacias sedimentares ricas em petróleo e gás natural, seguidas das reestruturações na organização da indústria e suas interações com as políticas e economias nacional e mundial. As transformações da indústria no século XX bem como as suas interações com as políticas e economias dos países serão estudadas neste capítulo. Este estudo servirá de base para o melhor entendimento das análises que são feitas nos capítulos seguintes, onde se aprofunda o estudo dos impactos do preço do petróleo na economia mundial.

1.1 Histórico da indústria petrolífera

O registro da participação do petróleo na vida do homem remonta a tempos bíblicos. Na antiga Babilônia, os tijolos eram assentados com asfalto e o betume era largamente utilizado pelos fenícios na calafetação de embarcações. Os egípcios o usaram na pavimentação de estradas, para embalsamar os mortos e na construção de pirâmides, enquanto os gregos e romanos dele lançaram mão para fins bélicos. No período da Idade Média, em regiões da Europa – Bavária, Silícia, Vale do Pó, Alsácia, Hannover e Galícia, era utilizado para fins farmacêuticos. No novo mundo, o petróleo era conhecido pelos índios pré-colombianos, que o utilizavam para decorar e impermeabilizar seus potes de cerâmica. Os incas, os maias e outras civilizações antigas também estavam familiarizados com o petróleo (Thomas, 2001).

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Apesar da longevidade e multiplicidade do uso do petróleo, não se pode falar de uma verdadeira indústria antes de meados do século XIX. Até então, a substância era utilizada meramente in natura sendo seu potencial energético praticamente desconhecido. Todavia, nos anos 1850, a realidade era outra. Vivia-se, em plenitude, a Revolução Industrial, alterando toda a dinâmica das relações de produção. À sociedade moderna não mais era dado condicionar suas atividades produtivas à disponibilidade de luz solar. O óleo de baleia e a fase liqüefeita do carvão mineral (“óleo de carvão”) forneciam uma iluminação cara e precária. O mundo demandava luz e na esteira desta carência floresceu a moderna indústria do petróleo. Para se ter uma idéia de quão pequena era a produção européia, nos anos de 1857 e 1858 foram produzidos, respectivamente, dois mil e quatro mil barris de petróleo (API, 1998; Thomas, 2001; YERGIN, 1990).

1.1.1 Pioneiros e Inovadores da indústria: Do surgimento a internacionalização

O grande marco do petróleo na a sociedade moderna veio mesmo no século XIX, mais precisamente em 1859, quando Cel. Edwin Drake perfurou o primeiro poço, dando início à exploração comercial do petróleo. Este poço foi perfurado em Tittusville, Pensilvânia (EEUU), vindo a produzir 20 barris/dia, para uma profundidade de aproximadamente 20 metros.

Motivados pela descoberta de Drake, deu-se início a corrida ao ouro negro no Oil Creek Valley (Pensilvânia-EEUU). Inúmeros aventureiros de toda espécie e efêmeras empresas de petróleo disputavam os terrenos exploráveis da região; todos se avocaram a produzir o mais rápido e na maior quantidade possível, com freqüência

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danificando os reservatórios ou levando à exaustão prematura dos poços. Como resultado, após apenas 5 anos deste marco, nada menos do que 543 empresas haviam iniciado atividades no novo e rendoso empreendimento (ALVEAL, 2003).

A concorrência anárquica provocou enorme flutuação da produção e dos preços e nenhuma sustentação ao negócio petroleiro. O preço do barril de petróleo de US$ 20, em 1859, caiu para US$ 0,10, em 1862 (Baddour,1997) e ocasionou a substituição do óleo de carvão e outros iluminantes pelo petróleo.

No seu início, o mercado de petróleo se baseava em um único derivado, o querosene para iluminação, como substituinte do óleo de baleia que até aquele momento era utilizado para tal fim, mas este animal estava sendo caçado em direção à extinção. Todos os demais derivados de petróleo que não a querosene iluminante eram jogados fora após o refino. Naquele momento, não havia padronização alguma da qualidade do produto: os querosenes produzidos variavam largamente de qualidade, e o índice de acidentes com vítimas com a queima do querosene era alto. Naquele momento, a indústria de petróleo era compatível ao nível de desenvolvimento tecnológico do mundo à época: os únicos campos explorados eram aqueles em terra e que fossem de mais fácil perfuração, via percussão a base de utensílios mecânicos rudimentares. As atividades de exploração de petróleo eram feitas a partir da localização visual de indícios do petróleo; ou seja, só eram exploradas jazidas de petróleo nas quais pequenos montantes de óleo aflorassem naturalmente à superfície do solo (oil seeps) ou no subsolo (YERGIN, 1990).

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• a superação do gargalo do transporte até os mercados de consumo, substituindo carroças e cavalos pela ferrovia e oleodutos de madeira, uma inovação típica da atividade petrolífera;

• a descoberta de novos métodos de perfuração, acarretando melhor controle da pressão do gás e a diminuição dos prejuízos;

• a importância do refino, segmento crucial na expansão posterior da indústria, quando o reinado do querosene iluminante veio ser invadido pela introdução da iluminação elétrica, após a radical invenção da lâmpada incandescente de Thomas Alva Edison, em 1877. Contudo, a “invenção” decisiva desta fase infante foi a percepção das qualidades peculiares da indústria pelos seus primeiros exploradores.

O primeiro foi o americano John D. Rockefeller, que resolveu racionalmente os desafios de armazenar, transportar e transformar o petróleo e vender os seus derivados. Para reduzir custos introduziu novos processos técnicos que melhoraram a produtividade e a qualidade dos derivados, especialmente do querosene, carro chefe dos produtos da indústria nas suas primeiras décadas de evolução. A preocupação pela qualidade dos produtos oferecidos ao mercado inspirou o nome à empresa que comandou: a Standard Oil Company. Contudo, o posto de honra deste americano na história do petróleo foi ter percebido e realizado a integração da indústria, inovação econômica chave para organizar a sua expansão, fundando o maior dos monopólios da economia americana na passagem do século, sendo fundamental para o desenvolvimento da economia capitalista moderna no século XX (ALVEAL, 2003).

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Em 1870, a Standard Oil controlava 10% do segmento de refino. Havia diversas refinarias e companhias de E&P (Exploração e Produção) nos EUA, mais de duzentas companhias adicionando os dois segmentos da cadeia petrolífera. O monopólio da Standard Oil foi obtido através da busca de economias de escala, escopo e de integração na indústria de petróleo: a princípio a Standard Oil se tornou monopolista do refino de petróleo, via compra das demais refinarias e controle do transporte de derivados, tornando-se assim formadora de preços e de quantidades para a venda às companhias distribuidoras de derivados, e também monopsonista (única demandante) da compra de óleo bruto junto às companhias produtoras de óleo cru, em função de ser monopolista do refino (YERGIN, 1990).

Rockefeller foi tão competente e bem sucedido na implementação de sua estratégia que aquelas empresas que almejavam competir com a Standard Oil não tiveram outra escolha que não seguir a mesma estratégia. Ou se integravam verticalmente ou sucumbiam ao poder da mesma. Num curto espaço de tempo, transformou radicalmente muitas pequenas empresas industriais descentralizadas em grandes conglomerados e trustes.

Logo, a Standard Oil se tornou monopolista integrada verticalmente em todos os segmentos da cadeia do petróleo (E&P, transporte de cru, refino, transporte de derivados e distribuição). A partir desta total integração, obteve grandes economias de escala, escopo e de custos de transação. As economias de escala se deram em função do vultoso aumento dos volumes extraídos e processados sem que houvesse um aumento substancial do investimento em capital fixo, reduzindo-se assim o custo médio; as economias de escopo se deram em função de produzir, transportar e comercializar

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vários derivados a partir da mesma logística operacional, e as economias de custos de transação se deram em função de todo a cadeia petrolífera pertencer a uma única empresa.

Entre 1880/90 esse controle se estendia para ao redor de 90% do transporte ferroviário e de oleodutos, 80% da capacidade de refino e 90% da rede de distribuição e venda de produtos; estes já invadiam Europa, Ásia, África do Sul e Austrália e, em 1900, 70% das atividades do truste de empresas comandado por Rockefeller se desenvolviam fora dos Estados Unidos (YERGIN, 1990).

A rápida mutação e seus desdobramentos eram motivos de apreensão da opinião pública americana. A mobilização política pressionou o governo para controlar os excessos do poder econômico e político dos grandes grupos empresariais, em especial o do emblemático “império” Rockefeller (O’ Connor, 1974; YERGIN, 1990). A legislação do Sherman Act nasceu em 1890 com esse objetivo, iniciando longa onda de reformismo progressista da Segunda Revolução Industrial americana (reforma política, justiça social, melhoria das condições de trabalho, proteção ao consumidor) e o controle e a regulamentação dos grandes negócios.

Em meio à concorrência crescente das novas empresas surgidas no Oeste dos Estados Unidos e das grandes rivais européias e após luta legal de duas décadas, a Suprema Corte Federal dos Estados Unidos, determinou em 1911, a divisão do monopólio em 33 empresas, entre as quais algumas evoluíram para se tornar as maiores sociedades da IMP: a Standard Oil of New Jersey, depois Esso e Exxon; a Standard Oil

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of New York, após Mobil Oil; a Standard Oil of California, após Socal, hoje Chevron3.

Essas três empresas passaram a disputar com as outras duas americanas, criadas a partir das descobertas de petróleo do Texas, Louisiana e Oklahoma (Oeste dos Estados Unidos), que também se tornaram empresas gigantes, a Texaco e a Gulf Oil (comprada pela Chevron em 1984).

Estava inaugurada a nova fase da indústria do petróleo, baseada na concorrência entre companhias grandes e integradas. Mudava também o padrão energético do período, tendo a gasolina superado as vendas de querosene em 1910, contribuída pelo surgimento do automóvel.

No período situado entre 1920 e 1930, Rockfeller viu sua Standard Oil liderar o grupo que ficou conhecido no mundo como “as sete irmãs”: Exxon, Chevron, Mobil, Texaco, Gulf, British Petroleum e Shell.

1.1.2 Internacionalização da indústria do petróleo e o surgimento de novos players

Paralelamente ao crescimento da indústria de petróleo nos Estados Unidos são perfurados os primeiros poços em continente europeu. O desenvolvimento da indústria inicia-se nos mananciais de petróleo na região de Baku, na Rússia, em 1861. O concessionário monopolista, Meerzoef constrói a primeira refinaria nessa região, mas

3 Outras empresas menores nascidas desse desmembramento (minors) se tornaram também grandes após

os choques do petróleo dos anos 70: a Standard Oil of Indiana (hoje Amoco), a Standard Oil of Ohio (hoje Ohio), a Continental Oil (Conoco), a Standard Oil of Virginia (Atlantic), entre outras.

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faltam recursos para incrementar a produção, permitindo a entrada do mercado europeu nessa região a partir de 1872.

A partir de 1880, os irmãos de origem sueca, Robert e Ludwig Nobel, devotaram seus talentos inventivos técnicos e organizacionais à invasão dos mercados europeus com o petróleo russo da região de Baku, transportando através da combinação de ferrovia, oleoduto e de pioneiros navios petroleiros. O sucesso desse empreendimento, que desafiou com vantagens a rede de distribuição européia da Standard Oil durante 15 anos (1890/1905), contou com decisivo apoio financeiro da Casa Rothschild de Paris.

Em 1890 é fundada a Royal Dutch Petroleum, companhia holandesa, que inicia sua produção na região das Índias Holandesas. Em 1897 surge a empresa inglesa Shell Transport and Trading Company, que juntamente com a Royal Dutch controlavam mais da metade das exportações de petróleo da Rússia e do Oriente Médio.

Nesse período, a produção na Europa encontrava-se descontrolada, o que deteriorava os preços e facilitava as vendas da Standard Oil, que compensava suas perdas com a política de subsídios cruzados, ou seja, aumentando o preço dos derivados em território americano para compensar as baixas européias. A estratégia adotada por Marcus Samuel, na liderança da británica Shell Transport, e o holandês Henri Whilhem A. Deterding, apelidado o “Napoleão do petróleo”, sucessor no comando da Royal Dutch Petroleum Company foi aliança dessas duas empresas em 1901. Dessa aliança nasceu a Royal Dutch Shell. No início do século XX, a rápida expansão do grupo anglo-holandês avançou sobre os espaços econômicos mundiais dominados pela Standard Oil

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of New Jersey, a mais poderosa das “filhas” nascidas do desmembramento do grupo Rockefeller: no final da Primeira Guerra Mundial (1918), 75% da produção petroleira mundial, fora do mercado americano, era controlada pelo grupo europeu (ALVEAL, 2003).

No entanto, em 1908, a descoberta de poços de petróleo na Pérsia (atual Irã) leva à criação da Anglo – Persian Oil Company (hoje a BP), empresa que viria estabelecer uma forte concorrência no setor. Já nos EUA, crescem a Gulf, Sun e Texaco. Vale ressaltar, que neste período a empresa de Rockefeller já não possuía um poder de mercado tão grande quanto no seu início, principalmente com a dissolução da Standard Oil em 1911.

O século XX começa e um novo panorama é apresentado à indústria do petróleo: novas províncias petrolíferas, novas companhias, a rápida ascensão do automóvel e a difusão da eletricidade. Atentas às novas mudanças, as companhias adaptam suas refinarias à produção de gasolina, que veio a superar a venda de querosene em 1910, e procuram aumentar sua capacidade competitiva.

Em 1912, a Shell se estabelece nos Estados Unidos, adquirindo pequenas companhias em Oklahoma e campos de petróleo na Califórnia. Em 1915, a produção mundial é a seguinte: os Estados Unidos produzem 281 milhões de barris, a Rússia 68 milhões, o México 32 milhões e a Romênia 12 milhões de barris (MINADEO, 2002).

O início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, o óleo combustível e a gasolina se tornaram em energéticos fundamentais para a mobilidade das tropas dos países

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envolvidos na guerra. O óleo combustível foi utilizado principalmente pela Marinha Inglesa que substitui o carvão até então utilizado por sua frota. O óleo, ao contrário do carvão, não se deteriorava, o que facilitava a armazenagem de estoques em tanques subterrâneos, e admitia o reabastecimento no mar. Oferecia, também, a vantagem de aumentar a eficiência de combate dos navios, uma vez que um número menor de homens era retirado das armas para trabalhar nas fornalhas, e a velocidade de abastecimento era bem superior. O petróleo e o motor a combustão mudaram a natureza da Primeira Guerra Mundial. (YERGIN, 1990).

O aumento do consumo de derivados de petróleo durante a Primeira Guerra Mundial exige que novas regiões ou campos entrem em produção. Os governos e grandes corporações da Europa e dos Estados Unidos iniciaram a disputa para tomar posse das jazidas de petróleo do Oriente Médio, configurando a terceira fase evolutiva da indústria (1911-1928). Esse movimento fora precedido por esforços de indivíduos notáveis4, que mapearam, realizaram descobertas pioneiras e estabeleceram os primeiros contatos e relações com os governos locais dessa região (Blair, 1978).

Dado que as empresas americanas não tinham acesso a concessões no Oriente Médio, após a guerra, o governo americano se organizou para apoiar agressivamente as companhias de petróleo dispostas a procurar reservas no exterior5, aumentando a rivalidade europeu-americana, em particular entre as 5 grandes firmas americanas, a Anglo-Persian (atual British Petroleum) e a Royal Dutch Shell. A rivalidade empresarial inaugurou uma fase de alta competição oligopólica na IMP. A competição

4 Entre eles cabe destacar, o armeniano Calouste Gulbenkian na Turquia e o australiano William K. D’

Arcy na Pérsia (atual Irã).

5 O princípio invocado era o da “Porta Aberta”, ou seja, “acesso igual para os capitais e os negócios

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reforçou a pressão pela procura de novas fontes de suprimento na América Latina, no Médio Oriente e na Ásia, quer para explorar, quer para adquirir a produção existente. A busca por concessões em regiões promissoras aumentou a produção significativamente em países como o México, Romênia, Venezuela, Pérsia, Índia, entre outros.

Tabela 1-1 – Produção Mundial de Petróleo, 1900-1925 – Milhares de barris/ano

1900 1913 1921 1922 1923 1924 1925 1925(%) Total 149.137 385.345 765.903 858.909 1.018.620 1.013.623 1.067.566 100 EUA 63.621 248.446 472.183 557.531 732.407 713.940 763.743 71,5 Rússia 75.780 62.834 28.968 35.692 39.156 45.355 52.448 4,9 Romênia 1.629 13.555 8.368 9.843 10.867 13.369 16.646 1,6 Índias Holandesas 2.253 11.172 16.958 17.066 19.868 20.473 21.422 2,0 Peru 274 2.071 3.699 5.314 5.699 7.812 9.164 0,9 Índia 1.079 7.930 8.734 8.529 8.320 8.416 8.000 0,7 Polônia 2.347 7.818 5.167 5.227 5.402 5.657 5.960 0,6 México - 25.696 193.398 182.278 149.585 139.678 115.515 10,8 Venezuela - - 1.433 2.201 4.201 9.042 19.687 1,8 Pérsia - 1.857 16.673 22.247 28.326 32.373 35.038 3,3 Argentina - 131 2.036 2.866 3.400 4.669 5.818 0,5 Outros 2.154 3.835 8.286 10.115 11.389 12.839 14.125 1,3

Fonte: Denny, Ludwell apud Minadeo (2002).

1.1.3 Concessões, Consortia e Cartel Internacional

Foi nesta fase que a IMP caminhou para estruturar o seu desenvolvimento de modo relativamente estável, como resultado da crescente percepção, entre as grandes operadoras mundiais, da necessidade de disciplinar o desenvolvimento da indústria. O controle do suprimento de cru foi considerado estratégico para evitar a super-produção

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e as guerras de preços, que provocavam ameaçadores efeitos predatórios para a IMP como um todo (Blair,1978), a exemplo da conseqüente queda dos preços internacionais do petróleo na segunda metade da década de 1920, em função de guerra de preços na Índia entre Shell e Standard Oil of New York.

A possibilidade desse controle dependia de dois fatores: i) a definição de direitos de propriedade e de controle das reservas pelas empresas nos abastados países do Oriente Médio; e ii) a adoção entre as majors de uma coordenação oligopolista que impedisse formas perigosas de competição, alocando-se níveis de produção e de suprimento de demanda nas áreas geográficas da indústria. O primeiro fator foi implementado através do sistema de concessões. Já o segundo originou a formação de consortia (consórcios ou associações).

O sistema de concessões foi o instrumento jurídico concebido para regular as relações entre os governos dos países com reservas de cru e as empresas internacionais. A concessão outorgava a empresa um tipo de direito absoluto sobre uma certa área territorial sob jurisdição do Estado hospedeiro para procurar, extrair e vender volumes de óleo a preços também discriminados pela concessionária, em troca de uma compensação financeira.

A cobertura territorial da concessão se estendia a um pedaço ou à totalidade da área geográfica do país; a sua duração, usualmente, contemplava entre 60-75 anos; e a compensação financeira (royalty do proprietário sobre o volume vendido e um imposto de renda sobre o lucro realizado) se baseava na contabilidade anual, totalmente controlada pela empresa.

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Esta ampla liberdade de ação das empresas petrolíferas internacionais deteve um papel decisivo para garantir, a partir dos anos 30, extraordinário crescimento da IMP, dado que possibilitou: i) larga autonomia decisória empresarial, relegando os governos a meros receptores de renda; ii) garantia de condições de certeza para o futuro, precavendo-se contratualmente de revisões unilaterais dos termos da concessão; e iii) forte blindagem jurídica ao ingresso de novos entrantes.

Os consórcios ou associações (consortia) foram concebidos como principal instrumento de regulação das relações entre as empresas, em particular na fase estratégica e crucial de crescimento da produção de cru, que se iniciara após 1925. O primeiro consórcio, fundado em 1928, Iraq Petroleum Company (IPC), sucessora da Companhia Turca de Petróleo, reuniu as maiores petrolíferas americanas e européias e sua importância foi decisiva para o desenvolvimento da IMP: i) marcou o ingresso definitivo das empresas americanas no Oriente Médio; ii) foi referência para a formação de associações empresariais em outras regiões da indústria; e iii) consagrou a propriedade e o controle conjunto da gestão, como mecanismo de prevenção da competição6, antecipando a organização do cartel internacional. A Tabela 1-2 apresenta como foi repartido o controle da IPC.

6 A função do consórcio era basicamente gerir conjuntamente a produção de óleo e sua distribuição pro

rata entre os acionistas participantes. Os lucros eram mantidos num baixo nível, em função de práticas de preços de transferência menores que os do mercado. Para controlar o suprimento potencial de óleo, os membros do IPC assinaram o Acordo da Linha Vermelha, com regras auto-preventivas da competição pelo acesso a novas áreas de concessão.

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Tabela 1-2 – Repartição Acionária da IPC

Composição acionária da Companhia Iraquiana do Petróleo %

Royal Dutch-Shell Co 23,75

Anglo Iranian Oil Co,. Ltda. (Britânica) 23,75

Compagnie Française Des Petroles 23,75

Near East Development Co. (Representante das companhias americanas)* 23,75

C. S. Gulbenkian (investidor) 5

Total 100

* Standard Oil of New Jersey e Socony-Vacuum Oil Co. (sucessora da Standard Oil of New York).

Fonte: Federal Trade Commission (1952) e Al-Chalabi (1980).

A implementação das anteriores inovações culminou nos acordos negociados na reunião de Achnacarry (17/09/1928), que levaram à formalização do cartel, fortalecendo as posições consolidadas até o momento pelas majors através de um acordo de divisão dos mercados mundiais.

Os princípios gerais acordados em Achnacarry foram seguidos por três acordos (nos anos de 1930, 1932 e 1934) que, progressivamente, alocaram funções com objetivos muito específicos de controle para a operação internacional das empresas nos países consumidores, cobrindo os principais tópicos de funcionamento da indústria: i) fixação de quotas de produção; ii) ajustamentos para equilibrar o comércio de cru e de derivados; iii) fixação de preços e outras condições de venda; e iv) controle de condições dos novos entrantes na indústria (Penrose, 1968; Blair, 1978).

O acordo de Achnacarry iniciou a fase do reinado das “sete irmãs”, Na década de 30, o mercado mundial de petróleo estava compartilhado pelas sete maiores companhias petroleiras internacionais (majors): Standard Oil of New Jersey (Exxon),

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Standard Oil of Califórnia (Chevron), Guf Oil Co., Texaco, Standard Oil of New York (Móbil), Royal Dutch-Shell e Anglo Iranian Oil Co. (BP), que juntas formaram joint ventures para a exploração de campos petrolíferos estrangeiros.

O cartel regulava a taxa de crescimento da oferta e exercia um forte controle sobre os preços7, possibilitando às majors: i) apropriar-se das rendas geradas no Lago Maracaibo (Venezuela) e no Golfo Pérsico; ii) evitar impactos sobre os preços, resultantes da queda de custos na produção de novas regiões petrolíferas; e iii) manter elevado fluxo de caixa das operações das empresas e, assim, obter os fundos requeridos para os grandes investimentos necessários ao incremento do produto na vertical da indústria. Em 1950, excluídos os países à época denominados socialistas, as majors controlavam 65% das reservas mundiais, mais de 50% da produção de óleo bruto e detinham a propriedade de 70 % da capacidade de refino e de cerca de dois terços da frota mundial de petroleiros, além dos mais importantes oleodutos (Penrose, 1968; Federal Trade Comission, 1952).

Após a Segunda Guerra Mundial, o consumo energético mundial, puxado pela reconstrução e modernização das economias européia e japonesa, cresceu a uma velocidade sem precedentes. Além disso, em 1949, o consumo dos Estados Unidos excede a oferta doméstica de petróleo. Entre 1950 e 1973, a produção de eletricidade foi multiplicada por 6, a de petróleo por 5,4 e a de gás natural por 6,3. Tais transformações apoiam-se na importação maciça de petróleo e, mais tarde de gás natural, por parte dos

7

O cartel instaurou e implementou um sistema mundial que evoluiu de um preço de referência de base única (ponto de carga) para uma de base múltipla, em função da importância de origem do óleo suprido e da distância de transporte a ser percorrida para abastecimento dos mercados demandantes (ponto de descarga). O preço de referência inicial (1928-1943) tinha o óleo do Golfo de México como único ponto de base (Texas Gulf-Plus Pricing System); em seqüência (1943-1947), a cotação de referência incorporou

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países em industrialização e/ou reconstrução no pós-guerra (YERGIN, 1990). Tal fato se deve sobretudo ao desenvolvimento econômico destes países, que trouxe no seu bojo o desenvolvimento da indústria automobilística na Europa, Japão e EUA; assim, o petróleo passava a fazer parte do way of life não apenas americano, mas também europeu e japonês. A partir do desenvolvimento do transporte por veículos automotores, o petróleo substitui o carvão como principal fonte de energia das economias nacionais.

O carvão havia servido como combustível central da Revolução Industrial, a partir da utilização da máquina a vapor e das ferrovias nos processos de industrialização do século XIX, em Reino Unido, EUA, Alemanha e, em menor escala França e Bélgica; mais tarde, o carvão serviu à difusão da eletricidade, a partir da geração de energia elétrica por usinas termoelétricas a carvão no século XX. Entretanto, após a Segunda Grande Guerra, os veículos automotores, cuja utilização já era crescente no decorrer do século XX, adicionaram-se às ferrovias como principais modos de transporte nestes diversos países, o que contribuiu para a parcial substituição das máquinas a vapor por motores de combustão interna; a dificuldade no transporte de carvão em larga escala conduziu à sua parcial substituição para uso industrial por caldeiras à queima de óleo combustível.

Então, para atender a crescente demanda mundial as Sete Irmãs concentram seus esforços principalmente nas bacias geológicas do Oriente Médio, onde eram responsáveis por 99% da produção de óleo bruto em 1950 (FEDERAL TRADE COMMISSION, 1952). A Tabela 1-3 mostra que, com o término da Segunda Guerra Mundial (1945), a produção de petróleo na Arábia Saudita disparou.

o Golfo Pérsico como segundo ponto de base; enfim (1947-1959), à duplicação do ponto de base foi

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Tabela 1-3 – Produção de Petróleo na Arábia Saudita – 1939/1950

Ano Barris/dia Ano Barris/dia

1939 11.000 1945 59.000 1940 15.000 1946 165.000 1941 12.000 1947 246.000 1942 12.000 1948 290.000 1943 13.000 1949 477.000 1944 21.000 1950 547.000

Fonte: Federal Trade Commission (1952)

Sob muitos aspectos, a Segunda Guerra Mundial marcara um ponto de inflexão no desenvolvimento da IMP. No pós-guerra verificou-se um declínio permanente do controle da indústria pelo cartel das 7 maiores corporações do petróleo, que se tornou evidente no final dos anos 50.

1.1.4 O surgimento das Estatais Petrolíferas e Renegociações de Concessões

O desenvolvimento da IMP não se limitou ao campo exclusivo das grandes empresas petrolíferas internacionais. Nas três décadas seqüentes a 1920, o aprendizado sobre a importância da intervenção institucional para organizar e controlar racionalmente a expansão da indústria fazia escola no mundo. Vários países incorporaram nas suas agendas públicas o debate para se aprovisionar de petróleo ou, melhor, desenvolver a indústria de petróleo. Entre as inovações institucionais surgidas cabe registrar:

agregada uma dupla cotação de distância de descarga.

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• As participações acionárias diretas de governos, o governo britânico sendo o pioneiro com a aquisição majoritária das ações da Anglo-Persian Company, em 1914;

• A criação de empresas estatais, tais como a de Yacimientos Petrolíferos Fscales-YPF na Argentina (1922), a Compagnie Française des Pétroles-CPF na França (1924), a YPB (Bolívia), em 1937, e a ENAP (Chile), em 1946 (FEDERAL TRADE COMMISSION, 1952).

• A regulação da indústria do petróleo em vários países, a exemplo do caso americano, sob a administração do New Deal de Franklin D. Roosevelt, para controlar a produção interna e a importação de petróleo, visando sustentar a estabilidade dos preços;

• As novas condições contratuais reivindicadas por países produtores na outorga de concessões.

Não interessava às multinacionais a realização de investimentos de riscos em países com pouca atratividade. O lucro na atividade de petróleo no mundo estava na transformação do óleo barato do Oriente Médio em refinarias dos países ricos, e seu manuseio até as distribuidoras dos países importadores de derivados, que pagavam preços considerados elevados por esses produtos. Por conseguinte, a associação deste contexto com a necessidade dos países em assegurar a suficiência de petróleo em seus territórios formaram a base para o processo de nacionalização do setor de petróleo em diversos países no mundo.

No período após a 2ª Guerra, estava já bastante claro o papel geopolítico da indústria de petróleo, e seu grande potencial para ser o carro-chefe do processo de

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desenvolvimento produtivo dos países industrializados retardatários. Desde então houve uma política mais firme destes países na negociação de contratos de concessão, e se deu o surgimento das grandes estatais de petróleo. Este período foi marcado por eventos fundamentais para a configuração da indústria de petróleo atual: a nacionalização do petróleo mexicano em 1938; a renegociação dos contratos de concessão na Venezuela; o retorno do petróleo russo ao mercado europeu na década de 50; o início da internacionalização das grandes companhias independentes americanas, minors, na década de 60; a negociação de acordos mais favoráveis para os países exportadores por parte de estatais européias, notadamente a italiana Ente Nazionale Idrocarburi-ENI8, desestabilizando as regras contratuais estabelecidas pelas grandes empresas do cartel da IMP nas concessões do Oriente Médio; a deposição do xá Reza Pahlevi; a Revolução Islâmica no Irã, resultando na a renegociação dos contratos de concessão neste país; o surgimento de novos produtores, como Nigéria e Indonésia; e a criação das maiores estatais de petróleo, como a Petróleos de Venezuela e a Petrobras (Brasil).

No Irã, a partir de 1951, deu-se a mais grave crise até então vista devido à política de estatização do Primeiro Ministro Mossadegh que nacionalizou os poços da British Petroleum. A CIA atuando em conjunto com MI-6, o serviço secreto inglês, numa operação conjunta desencadeada em 1953, conseguiu reverter à situação. O nacionalista Mossadegh foi deposto e preso pelos que apoiavam o Xá Reza Pahlevi. Com o sucesso do golpe dos anglo-saxãos o Xá colaboracionista foi novamente entronado. Mesmo tendo fracassado naquela ocasião, a posição nacionalista de Mossadegh serviu de exemplo. Ela foi o ponto de partida para uma série de

8A estatal italiana ENI, que em 1957, implementou com o Irã o acordo de 75/25 (75% dos lucros para Irã

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enfrentamentos que se seguiram entre os estados-nacionais do Oriente Médio, que começavam a se fortalecer contra o poder das Sete Irmãs.

Gradativamente, no transcorrer da década dos 50 e 60, as empresas foram vendo diminuir suas regalias, sendo obrigadas a aceitar o Pacto dos Cinqüenta mais Cinqüenta (fiffty-fiffty)9, que tornava os estados-nacionais árabes e iranianos sócios iguais delas.

Outra crise deu-se por motivos não ligados diretamente ao petróleo. Aconteceu em 1956, ano em que o presidente do Egito, Gamal Nasser, nacionalizou o Canal de Suez, de enorme importância estratégica para o negócio petroleiro, passagem que até então estava em mãos de uma companhia anglo-francesa formada nos tempos colonialistas.

Devido à intervenção militar de tropas inglesas e francesas, apoiadas ainda por uma ofensiva israelense sobre o Sinai, ocorreu em represália um boicote do fornecimento do petróleo por parte do mundo árabe. Situação que rapidamente foi contornada pelos Estados Unidos e pela URSS que, não aceitando aquela última aventura do colonialismo europeu, exigiram que a ocupação do Suez cessasse imediatamente.

Entretanto, teve importância mais decisiva a criação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) em 1960, em resposta à decisão das majors que decidiram unilateralmente reduzir em aproximadamente 7% o preço pago pelo petróleo

9 Os Estados produtores e as companhias internacionais passaram a incorporar nos contratos de concessão

a política do ‘fifty-fifty’, pela qual haveria uma distribuição igualitária dos resultados auferidos com a produção petrolífera entre as partes. O modelo do fifty-fifty foi primeiramente adotado pela Venezuela e,

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bruto do Oriente Médio. Os cinco países fundadores - Arábia Saudita, Venezuela, Kuwait, Iraque e Irã – eram responsáveis por mais de 80% das exportações mundiais de petróleo bruto (YERGIN, 1990). Logo, mais países se associam a organização: Catar (1961); Indonésia (1962); Líbia (1962); Emirados Árabes (1967); Argélia (1969); Nigéria (1971); Equador (1973–1992); e Gabão (1975–1994) (OPEC, 2005).

Esses eventos traduziam um potencial dinâmico decisivo para a evolução subseqüente da IMP, na medida em que a dinâmica da indústria petrolífera caminhava, nas décadas de 50 e de 60, na direção de mercado comprador: no período 1950/1974, o petróleo tornou-se o energético dominante na estrutura energética mundial com um crescimento médio da demanda de seus derivados de 9,55 % a.a. (Furtado, 1985).

A estatização das empresas petrolíferas dos países da OPEP e o primeiro choque de preços de petróleo em 1973 foram o ponto drástico de mudança de estrutura da indústria. Verificou-se um inconteste declínio do controle da indústria pelas “sete irmãs” (as majors), pois, a partir deste evento, a indústria de petróleo passou a apresentar uma crescente característica de desintegração, tanto no nível horizontal quanto vertical, com as sete majors não tendo mais acesso às melhores jazidas do mundo, como resultado da “expulsão” das majors da área da OPEP. Isso significava significava a transferência de parte do poder10 de mercado das majors para a OPEP.

alguns anos mais tarde, pela Arábia Saudita, tornando-se um ‘divisor de águas’ para os países produtores de petróleo.

10 Apesar das majors terem perdido acesso às melhores jazidas do mundo, permaneciam com o controle

de boa parte do refino e da comercialização de derivados. Além disso, a própria expertise técnica em E&P ainda permanecia com as majors.

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Em 1975, as companhias petroleiras internacionais não mais controlavam as atividades de exploração e produção de petróleo, o que reduziu consideravelmente o seu peso no mercado mundial do petróleo, como pode ser observado na Tabela 1-4.

Tabela 1-4 – O Peso do Cartel das Sete Irmãs no Mercado Internacional do Petróleo (%)

1950 1957 1970 1980

Cartel das sete irmãs 98,2 89,0 68,9 30,0

Outras companhias internacionais 1,8 11,0 31,1 70,0

Total 100 100 100 100

Fonte: Percebois (1989) apud Baddour (1997).

1.1.5 Os Choques Petrolíferos

O primeiro choque de petróleo teve motivações de naturezas política e econômica. Em 1973, Síria e Egito fizeram um ataque “surpresa” a Israel durante o feriado judaico de Yom Kippur, o Dia do Perdão, tendo Israel respondido violentamente ao ataque. Em outubro de 1973, quando a guerra eclodiu entre Israel, Egito e Síria, os países exportadores do Oriente Médio, reunidos em Genebra (Suíça), elevaram unilateralmente o preço do barril do tipo Arabian Light de 2,99 dólares para 4,12 dólares. Nos dias que se seguiram ao início da Guerra do Yom Kippur, a OPEP decidiu embargar as exportações destinadas aos aliados de Israel, a saber EUA e Holanda. Dois meses mais tarde (dezembro de 1973), houve nova alta dos preços de referência, para 11,65 dólares. Esta seqüência de eventos políticos é muitas vezes apresentada como a razão por detrás do primeiro choque de petróleo. Entretanto, foi apenas um fator de incentivo para o choque da OPEP naquele momento. Na verdade os choques se deram principalmente por fatores de natureza econômica: os países grande-exportadores da OPEP haviam percebido a crescente perda de renda petrolífera, que estavam cedendo ao

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Ocidente em um ambiente de baixos preços de petróleo, principalmente renda de raridade, pois este é um recurso não-renovável que se constitui na única vantagem comparativa dos países da OPEP. De fato, a desvalorização do dólar americano e a inflação mundial dos anos anteriores ao choque vinham reduzindo, em termos reais, o valor do barril de petróleo, reduzindo a renda real dos países exportadores de petróleo, que já era baixíssima na média por barril exportado, vis-a-vis o valor real do produto, quando considerada sua importância estratégica e não-renovabilidade (MARTIN, 1992).

A crise serviu para chamar a atenção sobre a fragilidade da posição dos países consumidores em relação à oferta de petróleo, uma vez que suas próprias empresas de petróleo, operantes nos países da OPEP, foram obrigadas a acatar as determinações dos governos árabes em respeito ao destino de seus carregamentos de petróleo.

No período após o primeiro choque do petróleo, os preços oficiais da OPEP continuaram sua tendência de alta. Os membros da OPEP perceberam que, pelo menos no curto prazo, em função da percepção dos riscos de fornecimento, os consumidores estavam dispostos a pagar preços naqueles patamares para evitar desabastecimento. Por isso, a OPEP persistiu com aumentos nos preços oficiais. Em dezembro de 1976, seu valor foi unilateralmente ajustado para US$ 12,70 / bbl, vigente a partir do início do ano seguinte, e para US$ 13,30 / bbl a partir de julho de 1977. Em dezembro de 1978, o preço foi outra vez elevado para US$ 13,54 / bbl, vigente durante a maior parte de 1979 (DOE, 2004). Essas oscilações podem ser verificadas na Figura 1-1.

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Figura 1-1–Preço do Petroleo e Produção: 1965 – 2004 (Jean-Marie Martin – X Congresso

Brasileiro de Energia)11

Contudo, segundo Evans (1986), a OPEP não estava em posição de evitar a deterioração dos preços do petróleo após o choque de 1973. Assim, numa situação de demanda decrescente (como de fato se evidenciou), os membros da Organização não teriam regras de regulação de suas produções que dessem estabilidade aos preços. Não obstante esse movimento incessante de revisões crescentes dos preços oficiais nominais, o preço real do petróleo (ajustado pela inflação dos países consumidores) estava, às vésperas da Revolução Iraniana, 10% abaixo dos valores observados em 1974 (Evans, 1986), os quais, por si só, entretanto, já representavam o prefácio de uma mudança no comportamento da demanda mundial.

11 $(2002)/b: Os valores do preço do petróleo tomam como referência o dólar americano do ano de 2002.

Os valores correntes do preço do petróleo no período anterior ao choque situavam-se na faixa de US$1/barril, os quais corrigidos para valores de 2002 assumem o valor de US$10/barril, como representado na figura.

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Com a perda da capacidade de negociação das empresas de petróleo, estas eram forçadas a transmitir a elevação de seus gastos com a tributação do petróleo ao longo da cadeia da indústria – até o consumidor, portanto – para proteger suas margens de lucro. Considerando que detinham elevada participação nos mercados consumidores, este repasse não foi problema.

Em fevereiro de 1979, a deposição do Xá do Irã pela revolução islâmica põe fim ao Consórcio Iraniano de Petróleo, retirando temporariamente 6 milhões de barris/dia dos mercados mundiais. Neste mesmo mês, os preços oficiais da OPEP foram reajustados para US$ 14,55 / bbl. Apesar do aumento da produção da Arábia Saudita em 2 MM bpd para compensar o desaparecimento do petróleo iraniano do mercado, compras de petróleo para a formação de estoques elevaram seus preços no mercado spot12 para US$ 40,00 / bbl. Em junho de 1979, o preço oficial foi elevado para US$ 18,00 / bbl. No ano seguinte, o preço do petróleo segue uma trajetória ascendente, atingindo em agosto de 1980, o valor de US$ 30,00/barril (TAVERNE, 1999; MINADEO, 2002).

A desestabilização do mercado com a perda da produção iraniana foi limitada apenas parcialmente pela entrada em produção de capacidades ociosas na OPEP. Segundo Evans (1986), o eventual retorno do Irã ao mercado de petróleo restabeleceu o balanço entre oferta e demanda para consumo, mas em pouco contribuiu para diminuir as incertezas acerca da política petrolífera do novo regime do país, e elevados prêmios sobre o preço do petróleo continuaram a ser pagos na medida em que importadores ainda tentavam maximizar seus estoques com o objetivo de limitar sua exposição para o

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caso de uma possível deterioração do cenário geopolítico que comprometesse a oferta do petróleo.

Com o início das hostilidades da Guerra Irã-Iraque, em 1980, e o desaparecimento de 4 MM bpd de capacidade do mercado, os preços spot atingiram US$ 41,00 / bbl. Em dezembro, o preço oficial da OPEP foi definido em US$ 32,00 / bbl. Entretanto, a decisão de se aumentar outra vez os preços oficiais, desta vez para US$ 36,00 / bbl, marcou uma cisão temporária entre os membros da OPEP, com a Arábia Saudita decidindo permanecer a vender seu petróleo a US$ 32,00 / bbl, cautelosa acerca dos efeitos deste preço sobre a economia mundial e o consumo de petróleo (Al-Chalabi, 2003). Sob pressões internas e externas, o país se realinhou com os demais, os quais concordaram com um preço oficial de US$ 34,00 / bbl em outubro de 1981.

Os choques de petróleo foram responsáveis pela maior mudança de padrão estratégico observada na história da indústria de petróleo: dos choques resultou o início da competição das grandes majors internacionais pelas reservas de petróleo no planeta, com estas objetivando fincar posições estratégicas em todas as áreas de jazidas representativas. Os choques acabaram por forçar uma descentralização da produção (aumento da participação de países não-membros da OPEP), em razão de uma nova visão dos países grandes importadores de petróleo sobre a importância deste, que colocava em um patamar muito mais alto de relevância a substituição de petróleo importado por petróleo nacional. Além disso, os choques desencadearam uma mudança na estrutura de consumo energético mundial: uma busca constante de substituição dos

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derivados de petróleo por outras fontes de energia, sobretudo eletricidade, gás natural e fontes renováveis, incluindo-se aí programa do Banco Mundial de fomento a investimentos nestas indústrias (durante a gestão de Robert McNamara a frente desta instituição), e um aumento da carga tributária das atividades relacionadas à cadeia petrolífera. A ação destes fatores reduziu a competitividade dos derivados de petróleo vis-à-vis a outras fontes energéticas.

Pode-se argumentar que os dois choques foram bastante dramáticos pela drástica virada da economia mundial a partir do início da década de 80: dos aumentos do preço do barril do cru decorreram enormes déficits na balança corrente dos países mais dependentes de petróleo, sendo este um dos principais fatores responsáveis pelo choque de juros do Banco Central americano, no enxugamento da liquidez internacional de capital nos anos 80, na crise da dívida na América Latina, no caótico ambiente estagflacionário da “década perdida” e no fortalecimento do paradigma teórico liberal sobre o papel da intervenção econômica do Estado.

1.1.6 O período do Pós-Choque

A década de 80 foi caracterizada pelo declínio da força da OPEP como formadora de preços. De 1979 a 1982, a OPEP teve 12 MM bpd de sua produção desalojada do mercado (BP, 2004), oriunda de múltiplos fatores, tais como: diminuição do consumo com a desaceleração econômica, políticas de eficiência energética e fontes alternativas, competição da produção não-OPEP e diminuição dos estoques das petrolíferas (Evans,1986).

contratos de fornecimento de médio e longo prazos.

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A demanda pelo petróleo da OPEP continuou declinante depois de 1982, na medida em que a produção não-OPEP aumentava num mercado de demanda estática. O alto preço do petróleo torna possível a abertura de novas fronteiras de exploração, em especial no mar e em regiões de custos de produção mais elevados, como, por exemplo, os campos do Mar do Norte, do Alasca e de outras áreas nos países em desenvolvimento, como o Brasil (BNDES, 1998). O crescente direcionamento às atividades E&P offshore (em lâmina d´água) pelas major companies foi certamente o mais importante resultado dos choques de petróleo. Os choques marcaram assim a mais drástica reorientação de pesquisa e desenvolvimento já ocorrida nesta indústria.

Segundo Evans (1986), medidas de conservação de energia desempenharam um papel mais importante do que a redução do consumo induzido por recessão na dinâmica da demanda global por petróleo.

O efeito combinado da queda na demanda e da entrada de novos competidores foi considerável, especialmente porque ocorreu em um período relativamente curto de tempo. Com isso, a produção oficial da OPEP atingiu o mínimo histórico de 16 MM bpd em 1985. Segundo Clô (2000), 60% desta queda pode ser atribuída à queda na demanda por petróleo (incluindo a variação de estoques), e 40% ao aumento da produção não-OPEP.

A OPEP tornava-se oficialmente o produtor residual do mercado. O sistema implicava que, no contexto de aumento da oferta fora da Organização e de declínio da demanda mundial por petróleo, a participação de mercado da OPEP iria inevitavelmente

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