André L.C. Silva, Elisabete Ponzetto e Fábio Rosa Oxiteno S/A Indústria e Comércio
1. CONCEITOS GERAIS
Para entender a atuação do tensoativo, independentemente da aplicação e da área de interesse, é preciso conhecer as características destas moléculas, que conferem propriedades diferenciadas aos meios nos quais agem, quando comparadas a outras moléculas não tensoativas.
Um tensoativo pode ser definido como uma substância que tem, na mesma molécula,
grupos polares (hidrófilos), que têm afinidade com água, e grupos apolares
(hidrófobos), sem afinidade com água (por exemplo, tem afinidade com óleos).
Grupos Polares e Apolares Presentes no Tensoativo
Dentre os grupos apolares presentes na molécula, destacam-se as cadeias carbônicas com mais de 10 átomos de carbono e os anéis aromáticos.
Quanto aos grupos polares pode-se destacar:
Hidroxilas - OH Aminas - NH2
Carboxilas - COO Sulfônicos - SO3
Sulfatos - OSO3
-Alcoxilados - (OCH2CH2)n-OH
Nos grupos polares iônicos a afinidade com água provém da presença de cargas na molécula, e nos grupos polares não iônicos a afinidade com água provém da formação de pontes de hidrogênio com a porção hidrófila.
Grupo Hidrófilo - Solúvel em água
Grupo Hidrófobo - Solúvel em óleo
- (CH2) -
2. OBJETIVO DO TENSOATIVO
“Agir como conciliador entre compostos sem afinidade, pela alteração da tensão superficial”
Esta definição é comum sempre que se fala sobre os efeitos de tensoativos. Segundo os conceitos envolvidos e a área de aplicação, existem inúmeras classificações e nomenclaturas para um tensoativo, de acordo com o principal efeito observado. Há nomes diferentes para classificar um mesmo efeito, conforme mostra o quadro a seguir.
Emulgador Surfactante Espumante Dispersante Desengraxante Espalhante Umectante Lubrificante Emoliente Detergente Antiestático Penetrante Antiespumante Amaciante Solubilizante
Qualquer que seja a classificação, o efeito que se observa é o de conciliação entre compostos sem afinidade, quer sejam líquidos imiscíveis, sólidos e líquidos, quer sejam líquidos e gases, ou gases e sólidos.
A dispersão aquosa de pigmentos orgânicos só é possível com a adição de tensoativos. Na polimerização em emulsão de monômeros vinílicos ou de monômeros acrílicos, é necessário adicionar tensoativos para compatibilizar e estabilizar o sistema emulsionado.
3. MECANISMO DE AÇÃO DOS TENSOATIVOS
Para entender a ação de um tensoativo vamos, primeiramente, analisar a distribuição do tensoativo numa solução aquosa e o efeito na tensão superficial, através da seguinte representação esquemática. A B C D Tensão superficial Concentração (log10C) B A C D CMC
Um tensoativo, devido à dupla característica de afinidade presente na molécula, tende a se concentrar na interface de um sistema. A molécula com a parte hidrófila orienta-se voltada para água, e a parte hidrófoba orienta-se voltada para o ar ou outra substância que tenha pouca afinidade com a água, como um pigmento. Esta característica de orientação da molécula é a principal diferença dos tensoativos em relação a outros solutos,
A adição de tensoativos à água tende a saturar todas as interfaces (situações B e C), de modo que a partir de uma concentração denominada Concentração Micelar Crítica (CMC) há a saturação do meio e a formação de micelas (situação D).
A micela é a forma que o tensoativo assume para melhorar a estabilidade na solução colocando, voltadas para o mesmo lado, as cadeias hidrófobas; e voltadas para a água, as cadeias hidrófilas.
4. TENSÃO SUPERFICIAL (TS)
A tensão superficial pode ser definida como: “A energia necessária para perturbar,
distender ou perfurar uma superfície”.
Para entender melhor este conceito, vamos observar o desenho abaixo:
Desenho esquemático de uma gota em formação
Ao observar uma gota de líquido, verificamos que as moléculas no interior da gota estão envolvidas por outras moléculas da mesma substância. As forças intermoleculares estão equilibradas, uma vez que atuam em todas as direções.
Entre as moléculas de um fluido existem forças de atração e repulsão, as chamadas forças intermoleculares, como as pontes de hidrogênio, interações Dipolo-dipolo e as forças de Van der Waals.
Entretanto, as moléculas presentes na superfície não estão totalmente envolvidas por moléculas da mesma espécie, estão sob efeito de uma força intermolecular resultante, que origina a chamada Tensão Superficial (TS), que pode ser mais bem compreendida se imaginarmos que existe uma película sobre o fluido, assim como a pele sobre o corpo. No gráfico da TS associada à concentração de tensoativo pode-se notar o efeito de redução da TS pela adição deste tipo de produto.
A tabela abaixo permite comparar a TS de diversas substâncias e o efeito do tensoativo numa solução aquosa.
Podemos notar que a adição de Nonilfenol etoxilado com 9,5 moles à água proporciona uma redução significativa da TS, efeito necessário para facilitar a molhablidade.
Comparando com a água, podemos observar que os líquidos orgânicos têm uma TS bastante inferior, devido à presença de ligações intermoleculares fracas (Dipolo-dipolo e Van der Waals), enquanto que na água as forças são de elevada intensidade (devido às pontes de hidrogênio). O acerto da TS permite melhorar o nivelamento e a prevenção de alguns defeitos observados na aplicação de tintas. Diferenças na tensão superficial provocam movimentação da tinta nas regiões onde a TS é menor para regiões onde é maior. Os problemas tendem a se agravar na medida em que o filme inicia o processo de secagem e cura.
É importante considerar as Tensões Superficiais dos solventes e resinas para se alcançar o desempenho adequado de uma tinta. Como os solventes apresentam TS muito inferior à da água, sua utilização na formulação também permite reduzir a TS das tintas.
A tabela anterior mostra, ainda, o exemplo ilustrativo do mercúrio, que tem uma tensão superficial muito elevada devido à forç a da ligação metálica.
5. CLASSIFICAÇÃO DOS TENSOATIVOS
De acordo com a característica da parte hidrófila dos tensoativos, podemos dividi-los em classes. Líquido TS (d/cm) Água 72,75 Água + 0,1 % NFE 9,5 EO 29,00 Etanol 22,30 Acetona 23,70 Mercúrio 485,00 Butilglicol 32,0 Etilenoglicol 48,4 Xileno 30 Tolueno 28 MEK 24 MIBK 23,4 Acetato de Butila 25 Poliacrilatos 32-40 Poliacrilto de viinila 41,9 Resinas alquídicas 33-60 Resinas melamínicas 42-58
a - Tensoativos Não Iônicos
Produtos cuja parte hidrófila é composta por cadeias alcooxiladas. Por exemplo:
O(CH2CH2)nH Nonilfenol Etoxilado
O(CH2CH2)nH Álcoois Graxos Etoxilados
O(CH2CH2 O)n (CH2CHO)nH
CH3
Álcoois Graxos Etoxilados e Propoxilados
C O
O(CH2CH2O)nH
Ácidos Graxos Etoxilados
As principais características desta classe são a elevada resistência a eletrólitos, à dureza de água (íons de cálcio e magnésio) e o bom desempenho em ampla faixa de pH, quer em meio ácido ou alcalino.
Esta é a classe de tensoativos mais numerosa em termos de variedades de moléculas.
b - Tensoativos Aniônicos
Produtos que apresentam a parte hidrófila composta por grupos com carga negativa, como por exemplo sulfatos, sulfonatos e carboxilas.
SO3
-Alquilbenzeno Sulfonatos
OSO3- Alquil Sulfatos
C O
O
-Ácidos Graxos Saponificados ou Sabões
As principais características desta classe são a baixa resistência a eletrólitos, à dureza de água, além da baixa eficiência em meios ácidos, em que os grupos aniônicos são protonados e a capacidade de atuação do tensoativo é reduzida.
Esta foi a primeira classe de tensoativos fabricada (pelo uso do sabão) e é até hoje a classe mais utilizada no mundo.
c - Tensoativos Catiônicos
A parcela representativa da molécula é composta por grupos com carga positiva. Por exemplo: quaternários de amônio com cadeia graxa (usados em detergentes)
d - Tensoativos Anfóteros
Apresentam em sua molécula carga positiva ou negativa, de acordo com o pH do meio, podendo ser aniônicos, catiônicos ou não iônicos. Quando o pH for maior que 7, o tensoativo será aniônico; menor que 7, catiônico; e igual a 7, não iônico. Por exemplo : Betaínas (usados em cosméticos e em mineração).
6. EFEITOS DOS TENSOATIVOS a - Umectação
Uma das principais aplicações tensoativas é a umectação ou promoção da molhabilidade. Uma forma de entender melhor este conceito é analisar uma gota sobre uma superfície, conforme figura abaixo:
A gota da esquerda ilustra uma situação em que há pouca afinidade pelo substrato, isto é, uma situação em que a elevada TS desfavorece a molhabilidade.
Na outra gota pode-se notar que a área de contato com o substrato é maio r, indicando uma afinidade elevada. Este fato permite concluir que a tensão superficial foi substancialmente reduzida. O efeito tensoativo reduz a TS da água, permitindo alcançar a molhabilidade desejada. Portanto, o exemplo poderia estar relacionado com água pura (1a. gota) e aditivada com tensoativo (2a. gota).
7. SELEÇÃO DE TENSOATIVOS – HLB – BALANÇO HIDRÓFILO/ LIPÓFILO*
Uma vez que verificamos a existência de inúmeras possibilidades para a utlização de um tensoativo, surge a seguinte questão:
O sistema HLB ajuda a orientar esta decisão. Ele pode ser definido como um número associado à molécula de tensoativo que expressa a relação entre grupos polares e apolares da molécula:
Hidrófobo Hidrófilo
Baixo HLB Alto HLB
Hidrófilo Hidrófobo
A representação gráfica mostra, proporcionalmente, os tamanhos da cadeia hidrófoba e hidrófila. Num tensoativo de alto HLB há uma molécula, por exemplo, mais etoxilada (maior cadeia hidrófila) do que em um tensoativo de baixo HLB.
HLB é um sistema empírico em que o número é obtido por meio de cálculos a partir da estrutura da molécula. Apesar de orientar a escolha do tensoativo mais adequado, não é o único fator que influencia. Existem outros, como a estrutura do substrato, as condições do meio, a temperatura, etc. que também são decisivos na escolha do tensoativo mais apropriado.
*Os termos lipófilo e hidrofóbo são equivalentes, e indicam pouca afinidade com água.
Aplicação de HLB
O objetivo de se determinar HLB é economizar tempo na seleção de tensoativos para se atingir os efeitos desejados. Basicamente utiliza-se um tensoativo de HLB próximo ou igual ao HLB requerido (número no qual a emulsão tem a sua maior estabilidade) para estabilizar o sistema escolhido. O critério de se utilizar HLB permite usar uma concentração menor de tensoativo e obter um sistema mais estável.
De acordo com a aplicação e as faixas de HLB, podemos escolher os tensoativos mais apropriados, como mostra a tabela abaixo:
Faixa de HLB Aplicação Nonilfenóis
Etoxilados (moles de EO) Álcoois Láuricos Etoxilados (moles de EO) 4 - 6 Emulsificante A/O 1,8 - 7 - 9 Umectantes 4 2 a 3 8 - 18 Emulsificantes O/A 4 a 40 3 a 23 13 - 15 Detergentes 9,5 a 15 9 10 - 18 Solubilizantes 5 a 40 6 a 23
Nos casos em que é necessário obter um efeito emulgador para água em óleo (dispersão de água em um meio oleoso) a faixa ideal de HLB é de 4 a 6; para o efeito umectante, o ideal é de 7 a 9, e analogamente para os demais efeitos.
Na indústria de tintas, os principais efeitos desejados do tensoativo são: molhabilidade, umectação (em tintas emulsionadas, melhora o nivelamento e alastramento), dispersão de pigmentos inorgânicos ou orgânicos – como nas pastas pigmentadas ou tintas emulsionadas – e emulsificação. Este último efeito permite a polimerização em emulsão, na qual se faz uma reação com os monômeros não solúveis em água, alcançando tamanhos de partículas e peso molecular que resultam no efeito de lavabilidade para tintas, além de facilitar a remoção da sujeira quando a tinta é aplicada na parede.
O nonilfenol etoxilado (em vários graus de etoxilação) é o produto mais empregado para se conseguir todos os efeitos desejados em uma tinta. Além de proporcionar efeito umectante, o Nonilfenol Etoxilado com 9,5 moles de EO tem HLB 13, valor dentro da faixa de aplicação como detergente e emulgador de óleo em água. Assim podemos entender por que a indústria de tintas considera este produto o mais apropriado na preparação de tintas emulsionadas.
Componentes como revestimentos, veículos e resinas também podem ser classificados pelo sistema HLB, incluindo os sistemas solventes como os éteres glicólicos. Assim é possível selecionar os emulsificantes mais eficientes, que resultam em melhores propriedades à formulação. A tabela abaixo mostra o HLB de algumas resinas.
Componente HLB
Resina alquídica 8 Poliuretano modificado 10 Breu modificado com maleico 18
8. APLICAÇÃO DE TENSOATIVOS NA FABRICAÇÃO DE TINTAS , PASTAS PIGMENTADAS E RESINAS EM EMULSÃO
Depois de apresentar os mecanismos de atuação de um tensoativo, é importante associá-los ao trabalho prático da indústria de tintas, já que os tensoativos podem ser usados para obter vários efeitos.
Embora os tensoativos sejam empregados apenas na faixa de 0,2 a 0,3 % do peso total de uma tinta, eles são indispensáveis em sua formulação, pois auxiliam a dispersão e umectação dos pigmentos e cargas, o ajuste da cor, a emulsificação de óleos e resinas, o nivelamento, a adesão, a lavabilidade, a estabilidade e a polimerização em emulsão. Uma vez que as tintas podem conter uma grande variedade de componentes, a interação entre estes e o tensoativo deve ser criteriosamente considerada para não resultar em propriedades indesejáveis. A figura abaixo pode ajudar a escolher o tensoativo não iônico (etoxilado), segundo as suas propriedades de interesse:
Solubilidade em Água
Ação Espumante
Ação de Nivelamento
Tensão Superficial
Tensão Interfacial
Viscosidade em Dispersão Aquosa Número de grupos EtO (Óxido de Etileno por Molécula
O tensoativos não iônicos são dispersantes efetivos, particularmente o nonilfenol etoxilado com 9,5 moles de EO. Neste caso, o grupo hidrófobo é absorvido pelo sólido, e a parte hidrófila forma uma proteção em torno das partículas.
a - Umectação e Dispersão de Pigmentos
Umectação – é o efeito do tensoativo relativo à redução da TS da água, e de
concentrar-se em toda a superfície das partículas (inclusive nos concentrar-seus interstícios), provocando um aumento da molhabilidade. Conseqüentemente, há a remoção de gases, como o ar, e de outros contaminantes que estão na superfície das partículas.
Na ausência de um agente redutor da TS, a umectação é prejudicada, o que dificulta a penetração da água nas partículas de pigmento, provocando sedimentação. Este efeito é também importante na aderência da tinta em superfícies porosas como a madeira, em que o ar adere nas fibras hidrófilas e precisa ser substituído pelo material de recobrimento.
Dispersão – é a manutenção do movimento das partículas umectadas no interior do
líquido, que resulta em uma suspensão permanente. O objetivo desta suspensão é que as partículas do pigmento, recobertas por um tensoativo, já não se atraiam.
O primeiro estágio da dispersão de um pigmento em tintas líquidas corresponde à separação das partículas de pigmentos, destruindo aglomerados. O segundo é a estabilidade da emulsão, ou seja, a manutenção das partículas separadas entre si, distribuídas uniformemente no meio líquido e assim permanecendo, ao longo do tempo. As figuras abaixo (a e b) apresentam, respectivamente, um aglomerado de partículas sem ação dispersante, e uma dispersão com partículas homogêneas estabilizadas por efeito dispersante.
A B
Uma boa dispersão do pigmento contribui com o brilho do filme da tinta, pois mantém ao mínimo a irregularidade no filme seco. Os tensoativos escolhidos de modo adequado, segundo as diferentes necessidades, conferem as propriedades de emulsão e dispersão. O gráfico abaixo mostra uma comparação entre o desenvolvimento de cor em uma mistura de resina e pigmento, com e sem tensoativo.
DESENVOLVIMENTO DE COR TEMPO Resina + pigmento Resina + pigmento + Tensoativo
Um exemplo visível da boa atuação dos tensoativos numa tinta que utiliza misturas de pigmentos (por exemplo, com duas cores diferentes) está na tonalidade uniforme em toda a extensão do filme aplicado.
Uma ótima dispersão de um pigmento depende de dois fatores: similaridade do HLB requerido do pigmento com o HLB do tensoativo, e seleção do tipo químico apropriado do tensoativo. A tabela abaixo mostra alguns tensoativos utilizados em dispersão de pigmentos, com seus respectivos HLBs.
Produto HLB Aplicação
Nonilfenol etoxilado (10 EO ) 13,3 umectante Nonilfenol etoxilado (12 EO) 14,1 umectante, alastrante
Nonilfenol etoxilado (8 EO) 12,3 agente de nivelamento, evita o fenômeno de flotação
Álcool láurico etoxilado (8 EO) 12,9 umectante
Monooleato de sorbitan 4,3 e 8,6 co-dispersante umectante
O nonilfenol etoxilado tem participação importante nos sistemas mixing machine do mercado de tintas decorativas, devido ao seu desempenho como umectante e dispersante na elaboração de pastas pigmentadas, pois seu HLB, em torno de 13, facilita a aplicação com vários pigmentos.
Para cada sistema de pigmento existe um HLB requerido do sistema tensoativo, visando obter as propriedades desejadas:
Pigmentos HLB Requerido
Verde Ftalocianina 14
Amarelo Hansa 14
Vermelho Toluidina 14 - 15 Oxido de ferro vermelho 10 - 12
Negro de fumo 14 - 15
Devido à classificação química do tensoativo, a estabilização da dispersão pode acontecer em duas situações diferentes, conforme mostra a tabela abaixo. Verifica-se que no caso de tensoativos aniônicos ocorre a formação de dupla carga elétrica ao redor da partícula,
iônicos mantêm suas porções de cadeia longa orientadas para o lado externo das partículas – o efeito estérico não permite aproximação entre elas.
Tipo de Tensoativo Dispersão Estabilização
ANIÔNICO
Exemplo: Lauril sulfato de Sódio
Dupla carga
NÃO IÔNICO
Exemplo: Nonil Fenol Etoxilado
Estérica
b - Polimerização em Emulsão
Em um processo de polimerização (vinílica ou acrílica), o caráter exotérmico pode dificultar o controle da reação e da massa molecular do polímero, que se torna menor com o aumento de temperatura. Estas dificuldades de transferência de calor podem ser superadas, utilizando-se a técnica de Polimerização em Emulsão, em que o calor de polimerização é dissipado rapidamente pela fase aquosa. Nesta técnica, o tensoativo pode agir como Estabilizante e Solubilizante.
A velocidade de polimerização e o número de partículas do polímero formado dependem, em grande parte, da concentração do tensoativo.
Normalmente, um único tensoativo não consegue desempenhar adequadamente as funções necessárias para se conseguir um polímero com boas propriedades, que são emulsionar os monômeros em água e manter estável a suspensão deste sistema obtido. Daí a necessidade de se utilizar misturas de tensoativos.
Em geral, resultados satisfatórios ocorrem em uma faixa de 12-18 de HLB. Utilizam-se tensoativos aniônicos e catiônicos, ou misturas destes. Assim combinam-se as influências das duas classes, que aumentam a resistência ao resfriamento e à ação mecânica (incluindo a lavagem das tintas), a estabilidade diante de eletrólitos, reduzindo a tendência de formar espuma e alcançando um baixo diâmetro de partículas.
9. FORMULAÇÕES ORIENTATIVAS - TÍPICAS a - Tintas Emulsionadas Acrílica – Fosco Vinílica Água 20,00 24,00
Carboxi metil celulose 0,25 0,50
RENEX 95 0,35 0,20 ULTRASPERSE PA 44 0,35 0,40 Anti espumante 0,10 0,10 Bactericida 0,15 0,05 Fungicida 0,15 0,05 Amônia 25% 0,05 0,10 Dióxido de titânio 18,00 15,00 Carbonato de cálcio ppt 8,00 5,00 Calcita 8,00 8,00 Caulim 5,00 8,00 Anti espumante 0,15 - Emulsão Acrílica 23,00 - Emulsão Vinílica - 22,00 Água 10,15 15,50 ULTRASOLVE P - 240 A 1,00 1,00 Amônia 25% 0,15 - Espessante acrílico 0,40 - Modificador reológico 1,20 - Água 3,50 - Antiespumante 0,05 0,10 Total 100,00 100,00
b - Polimerização em emulsão Emulsão Copolímero Acrílica Estirenada Emulsão Homopolímero Poliacetato de Vinila Água 44,13 43,64
Hidroxi etil celulose - 1,50
Nonilfenol etoxilado sulfatado (9,5 EO) 4,5 -
RENEX 230 - 2,00
RENEX 95 1,00
Solução tampão - NaHCO3 0,07 0,04
Acetato de vinila - 51,76 Ácido acrílico 1,00 - Acrilamida 1,00 - Estireno 24,00 - Acrilato de butila 24,00 - Persulfato de amônia 0,30 0,06 Rongalit C 0,50 - Trigonox AW 70 0,50 - Total 100,00 100,00 10. BIODEGRADABILIDADE
Como a questão ambiental desperta grande interesse nos diversos ramos da indústria, não poderíamos deixar de apresentar as propriedades favoráveis de biodegradabilidade de dois dos principais tensoativos utilizados no segmento de tintas.
As metodologias utilizadas na Europa, USA e Brasil (Ref. OECD - Organization for Economic Co-operation and Development, Council Diretive 82/242 e 82/243 da European Economic Community) para determinar a biodegradabilidade definem que:
“Para um tensoativo não iônico ou aniônico ser considerado bio degradável, deve apresentar 80% de biodegradabilidade (% de remoção da molécula) em um prazo máximo de 28 dias em temperatura ambiente (18 a 25°C)”.
a - Biodegradabilidade de Alquilfenois Etoxilados e Álcoois Graxos Etoxilados
Com base na definição de biodegradabilidade, a tabela abaixo mostra os resultados da porcentagem de remoção da molécula de tensoativo (caracterizada pelos métodos de demanda química de oxigênio e emissão de CO2) em função do tempo de teste.
Teste Nonilfenol Etoxilado Álcool Graxo Etoxilado
Demanda química de oxigênio, DQO 14 dias 28 dias (%) 10 a 20 89 a 93 (%) 50 a 68 94 a 100 Degradação em relação a CO2
14 dias 28 dias (%) 14 a 30 98 a 99 (%) 18 a 69 97 a 100
REF: Estudos realizados pela SGS Brasil S.A. Divisão de Meio Ambiente.
A tabela mostra que, ao final de 14 dias, nos dois parâmetros medidos, o Nonilfenol etoxilado (NFE) mostrou uma degradação inferior ao Álcool graxo etoxilado (AGE). Porém, ao final dos 28 dias de testes, requeridos na definição de biodegradabilidade, tanto o NFE quanto o AGE superaram a marca de 80%.
O gráfico abaixo mostra a evolução da biodegradabilidade dos tensoativos citados, em termos de demanda química de oxigênio (DQO):
0 20 40 60 80 100 0 7 1 4 21 28 Dias de teste DQO (%) N F E A G E Remoção da molécula (%)
REF: Estudos realizados pela SGS Brasil S.A. Divisão de Meio Ambiente.
No gráfico observamos que os AGE são biodegradados mais rapidamente do que os NFE, mas ambos demonstram elevada biodegradabilidade.
b - Resíduos Gerados Durante a Biodegradação de NFE
Além dos estudos sobre a biodegradabilidade dos NFE, outra questão bastante discutida é a geração de resíduos fenólicos durante a biodegradabilidade desta molécula. Outros tensoativos classificados como biodegradáveis podem apresentar resíduos de degradação perigosos, porém pouco estudados e dificilmente detectados por métodos analíticos convencionais. Abaixo, as conclusões de alguns estudos sobre o assunto.
- Em sistemas padrões de tratamento de esgotos norte-americanos, os NFE são efetivamente removidos e não há evidências de acumulação de nonilfenóis ou outros produtos intermediários de degradação no ambiente aquático (Ref: Weeks J. Adams, W. J. Guiney, P.D. Hall, J. F. Naylor, C.G. “Risk assentment of NFE and its ethoxylates in US river water and sedments”, S.C.Johnson & Son, Texaco, Hunstman, Proceedings of 4th World Surfactants Congress, 1996.ref. 4)
- A concentração máxima de resíduos fenólicos durante a biodegradação é bastante inferior aos limites de toxicidade considerados nocivos à vida aquática e ao meio
ethoxylates in an industrial river”, Hunstman, Union Carbide, Wisconsin Dept. Natural Resources, Proceedings of 4th World Sufactants Congress, 1996).
- Estudos do APERC - Alkylphenols Ethoxylates Research Council (Conselho de Pesquisa sobre Alquilfenóis e Etoxilados – USA) (ref. 3).
Além da definição mencionada no item a, um produto é considerado biodegradável quando apresenta uma relação entre produção de CO2 real e produção de CO2 teórica superior a 50%, em 64 dias. Com base nessa definição, o APERC fez um estudo com amostras do solo contaminado com Nonifenol Etoxilado, proveniente de plantas produtoras dos EUA. Ao findar o período de 64 dias, os testes apresentaram resultados de biodegradabilidade total em torno de 60%, confirmando o caráter biodegradável do Nonilfenol Etoxilado.
Este estudo foi realizado segundo a metodologia do FDA (Food and Drug Administration) “Aerobic Biodegradation in soil and Aerobic Biodegradation in water” – Método 3.12 constante no Environmental Assessment Technical Assistance Handbook ref. PB 87 1 75345 de Março de 1987.
Outro estudo realizado pelo APERC foi a análise de amostras de lodo, coletadas de trinta rios norte-americanos, que recebem descarga de efluentes de estações de tratamento de empresas produtoras ou usuárias de Nonilfenol Etoxilado. Este produto não foi sequer detectado em mais de 2/3 dos rios. Nos demais rios, o nível detectado não passou de 15 ppb (partes por bilhão).
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1) Swaraj, Paul, Surface Coatings - Science & Technology, 2° edição, 1996, Editora John Wiley & Sons.
2) Fazenda, M. R. Jorge, Tintas e Vernizes - Ciência e Tecnologia, 1ª edição, 1993, Textonovo Editora e Serviços Editoriais - Publicação ABRAFATI.
3) APERC (Alkylphenol Ethoxylates Research Council - USA), 1999, Alquilfenóis e Alquilfenóis Etoxilados Visão Geral sobre Aspectos de Segurança, (site: HTTP:// www.aperc.org).
4) Ref: Weeks J. Adams, W. J. Guiney, P.D. Hall, J. F. Naylor, C.G. “Risk assentment of NFE and its ethoxylates in US river water and sedments”, S.C.Johnson & Son, Texaco, Hunstman, Proceedings of 4th World Surfactants Congress, 1996.
5) Ref: Naylor, C. G. Willians, J.B. Varineu, P.T. Webb, D.A., “Nonylphenol ethoxylates in an industrial river”, Hunstman, Union Carbide, Wisconsin Dept. Natural Resources, Proceedings of 4th World Sufactants Congress, 1996.
6) Ref: (OECD) Organization for Economic Co-operation and Development, Pollution by Detergents, Paris, 1971.
7) Ref: (OECD) Guidelines for Testing of Chemicals, Paris, 1981.
8) Ref: Council Directive 82/242 EEC (European Economic Community), 1982. 9) Ref: Council Directive 82/243 EEC (European Economic Community), 1982.
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