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IV ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA - ANPUH-BA HISTÓRIA: SUJEITOS, SABERES E PRÁTICAS. 29 de Julho a 1 de Agosto de Vitória da Conquista - BA.

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Vitória da Conquista - BA.

RELAÇÕES DE GÊNERO NA POLÍCIA MILITAR DA BAHIA

Girlene Ernestina de Jesus

Graduanda em História pela Faculdade Jorge Amado – Salvador-BA E-mail: girlenedejesus@hotmail.com

Palavras-chave: Mulher. Gênero. Polícia. Trabalho.

A Polícia Militar da Bahia (PM BA), desde 1990 passou a admitir mulheres em seu efetivo operacional, antes dessa data já havia mulheres na corporação, mas as funções desempenhadas por elas eram meramente administrativas. No final dos anos oitenta, com a redemocratização do país e para a tender uma demanda gerada pelos movimentos sociais a PMBA toma uma série de medidas para apagar da mente dos baianos a figura de uma polícia repressiva, modificando inclusive o uniforme, que antes era azul petróleo, pelo marrom que hoje conhecemos.

Admitir mulheres nas atividades operacionais foi uma das medidas dessa nova polícia, ampliando sua atuação para além do serviço administrativo. A partir da década de 1990 passariam a desempenhar todas as funções pertinentes a de “polícia ostensiva e preservação da ordem pública ” conforme prevê a Constituição Federal.

Num contexto de reabertura democrática, a PMBA necessita encontrar o seu papel. Já não há mais espaço para a polícia voltada para o inimigo interno, o cidadão, que encarado como inimigo, deveria ser vigiado e combatido.

As relações entre polícia e sociedade ainda são contraditórias e complexas considerando que, ao mesmo tempo em que a sociedade requisita a presença da policia, repele seus agentes. E o policial, um cidadão comum a quem é concedido o ex ercício do poder de polícia do Estado, é visto como se alienígena fosse, gerando uma desconfiança por parte da população e que da parte da comunidade policial também lhe é recíproca (COSTA, 2003).

Para Calazans (2007) a idealização da mulher associada à s ubmissão, sensibilidade, docilidade como características essencialmente femininas, permitiu formar -se, no imaginário dos gestores de segurança pública e da população em geral, a crença de que as mulheres são menos violentas no exercício do policiamento ost ensivo. Assim, à medida que surgem novas concepções de segurança pública levando a alterações nas ações de polícia por meio de políticas preventivas, como o policiamento comunitário, associadas à crescente feminização do mercado de trabalho, esse imaginári o permite supor-se haver um “novo” lugar para as policiais femininas. Tal idéia sugere que as mulheres estão se beneficiando da lógica institucional e da lógica do capital, uma vez que ingressam na organização pelas habilidades

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construídas no seu processo de socialização na família, na escola e nos demais diversos grupos e instituições, atendendo, então, ao novo perfil do policial.

Mesmo tendo sua imagem beneficiada pela presença feminina, as instituições policiais militares, que para Calazans (2007), “detém uma filosofia de policiamento pautada pelo espírito belicoso do Exercito Nacional e por um ideário machista, reserva para as mulheres uma participação limitada ”.

Restrições às tarefas femininas, sustentadas na noção de que as mulheres não são capazes de assumir todas as formas de ação de polícia e a conseqüente tendência de atribuir - lhes, sobretudo funções burocráticas ou atividades associadas, no imaginário, a extensões do mundo doméstico gera uma diferenciação no universo policial, onde as oportunidades de ingresso e ascensão são diferenciadas reproduzindo em pleno século XXI discriminações em relação à capacidade humana a partir do sexo.

A PMBA limitou o ingresso de mulheres no seu efetivo, alegando falta de estrutura para acomodá-las, restringindo sua participação a 10% (dez por cento) em relação ao numero total de vagas. Mas 18 anos mais tarde essa limitação permanece e esse argumento continua a ser usado pela instituição.

Entendendo que o Estado é responsável por políticas públicas que assegurem igualdade de oportunidades para todos os cidadãos, a mulher policial militar ao ser inserida em uma atividade considerada durante anos como exclusivamente masculina onde a convivência com a violência associa a atividade policial a um universo culturalmente masculino impõe um embate permanente entre homens e mulheres.

As relações de gênero na PMBA são complicadas, na medida em que esse universo machista vê a presença feminina como uma ocupação de um espaço masculino dentro de uma ótica de segurança publica desloc ada do seu real emprego.

Torres (2003) identifica o gênero como um elemento das relações sociais que distinguem os sexos, compreendendo que essas diferenças são social e culturalmente construídas, entendendo que a cultura atribui funções inerentes a homens e mulheres. Torres acredita que é na esfera psicológica que esses traços são internalizados, reelaborados, resignificados e transformados em valores e atitudes. Para a autora conceitos como sexualidade e gênero estão imbricados na construção cultural da d iferença do sexo, determinando padrões e comportamentos que podem ser classificados como masculino e feminino.

Ao relacionarmos esses traços comportamentais como culturalmente construídos, retiramos os determinismos biológico, baseado apenas nas diferenças genitais não havendo

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assim uma conduta dirigida apenas pelo sexo do ser humano, mas interagindo com elementos culturais que assim os diferenciam.

Os estudos sobre Gênero têm como origem o intercambio com outras ciências como a Sociologia, Psicologia, Lite ratura, Antropologia que permitiu ampliar de maneira significativa, as fontes históricas, ampliando também, segundo Burke (1992) “o interesse por virtualmente toda atividade humana ” analisando o que era previamente considerado imutável é agora encarado com o uma construção cultural, sujeito à variação, tanto no tempo quando no espaço.

Soihet (1997) e Scott (1990) apontam o movimento feminista nos anos de 1960, como ensejo para a construção da História das Mulheres, sendo que neste primeiro momento a imagem lhes atribuídas era sempre de vítimas ou rebeldes colaborando para a construção do antagonismo homem versus mulher e buscando para esta mulher um lugar em meio à política e atos heróicos, falando delas como se pertencesse a uma unidade coletiva. Contudo, em meados dos anos 70, com a crise do modelo estruturalista, há uma fragmentação cedendo lugar às diferenças de classe, raça, etnia e sexualidade passando a percepção da existência de múltiplas identidades, novos questionamentos levam a outros aspectos, que não apenas a política, evoluindo para um novo campo de estudo, o Gênero. Scott refaz o caminho percorrido pela historiografia feminina, passando do feminismo a mulher e da mulher para o Gênero.

Esse conceito abrange muito mais que o sexo do sujeito a parti r da sua aparência biológica, avançando para as construções culturais do que é ser homem ou mulher.

Acreditar que mulheres não são capazes de oferecer um bom serviço na área de segurança pública ou crer que essa tarefa deve ser apenas reservada a homens pe lo fato de serem mais “fortes” recai sobre duas alternativas que não consideramos adequadas:

Uma é relacionar a força e a violência como algo inato do sexo masculino. A outra que me parece ainda mais grave é a crença que a paz pública só poderá ser alcança da por meio da forca bruta, destoando do texto constitucional que versa sobre a atribuição das polícias militares a quem cabe “a polícia ostensiva e preservação da ordem pública ”, e essa ordem não deve necessariamente ser alcançada pela violência.

Existem vários aspectos dessas relações ainda não abordados por esse texto, necessitando de maior investigação. Pontos sensíveis das relações entre homens e mulheres na corporação, uma vez que a PMBA reproduz algo atípico para nossa sociedade, a desproporção entre homens e mulheres. Essa diferença representa bem mais que números dentro de uma

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estrutura hierarquizada, onde as posições de superior e subordinado são tão claramente definidas.

Referências

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