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Conceito de Interpretação (ou hermenêutica) Constitucional[1]

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Conceito de Interpretação (ou hermenêutica) Constitucional[1]

O que é Hermenêutica?

Técnica de interpretar que com origem para mitologia grega (Deus Hermes que uma espécie de tradutor entre a linguagem dos Deus e a dos homens), envereda para os princípios de interpretação bíblica, com passagem pela filosofia, ciências de modo geral e, finalmente, pelo Direito.

É então o modo de conhecimento que deve envolver muitas vezes um complexo entendimento entre uma norma quis significar e o que realmente significou.

Assim a aplicação da norma constitucional, passa pela interpretação constitucional, pela hermenêutica jurídica, pois a Constituição é um texto jurídico e normativo, logo, interpretá-la pressupõe a captação de seu sentido, a extração de suas normas, numa relação contextualizada.

Para Luís Roberto Barroso, “a interpretação jurídica consiste na atividade de revelar ou atribuir sentido a textos ou outros elementos normativos (como princípios implícitos, costumes, precedentes), notadamente para o fim de solucionar problemas (...)”.[4]

(BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 3ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2011, p. 292)

Interpretar é uma tarefa cuja realização se dá de forma metódica, como pressuposto à aplicação da norma jurídica. O intérprete vale-se de um conjunto de métodos, que, “embora partam de critérios distintos entre si”, são “reciprocamente complementares”.

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HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS A hermenêutica constitucional tem por objetivo o estudo das técnicas de interpretação da Constituição, fornecendo os princípios básicos segundo os quais os operadores do Direito devem apreender o sentido das normas constitucionais.

A interpretação constitucional, por outro lado, consiste no desvendar do significado da norma, com vistas à aplicação em um determinado caso concreto.

PRINCÍPIOS DE HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL

A hermenêutica estabelece princípios para se interpretar as regras constitucionais, que são os seguintes:

a) princípio da Supremacia da Constituição;

b) princípio da Unidade da Constituição;

c) princípio da Imperatividade da Norma Constitucional;

d) princípio da Simetria Constitucional;

e) princípio da Presunção de Constitucionalidade das Normas Infraconstitucionais.

O MAIS IMPORTATE DOS PRINCIPIOS: DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA a) Princípio da Supremacia das Normas Constitucionais

As normas constitucionais são, sempre, superiores às demais normas não constitucionais, ou infraconstitucionais.

A norma não constitucional, ou inferior, somente se torna válida na medida em que é feita em estrita obediência ao procedimento legislativo que lhe é adequado e que, também, preserva o fundamento básico da supremacia das normas constitucionais que não admite a existência de normas jurídicas conflitantes.

Isto quer dizer que, sob o ponto de vista normativo, que a Constituição representa o ápice de uma figura piramidal de hierarquização da norma jurídica.

Em outras palavras, a Constituição seria um conjunto de normas jurídicas superiores que determina a criação de todas as demais regras que integram o ordenamento jurídico estatal.

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“o ordenamento jurídico não é, portanto, um sistema jurídico de normas igualmente ordenadas, colocadas lado a lado, mas um ordenamento escalonado de várias camadas de normas jurídicas”.

(KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Revista dos Tribunais, São Paulo, p. 103, 2003)

b) Princípio da Unidade da Constituição

As normas constitucionais devem ser interpretadas de modo a se evitar qualquer tipo de contradição entre si.

(ZIMMERMANN, Augusto. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2002. p. 138.) Isto porque “a Constituição não é um aglomerado de normas constitucionais isoladas, mas, ao contrário disso, forma um sistema orgânico, no qual cada parte tem de ser compreendida à luz das demais”. (SARMENTO, Daniel. A ponderação de interesses na Constituição Federal. RJ: Lúmen Juris, 2002. p. 100.)

J.J. Gomes Canotilho ensina que “este princípio obriga o intérprete a considerar a Constituição na sua globalidade e a procurar harmonizar os espaços de tensão existentes entre as normas constitucionais a concretizar”.

(CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra: Almedina, 1997. p.232).

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É por meio dessa visão unitária que fica consagrada a interdependência entre as normas constitucionais.

c) Princípio da Imperatividade (ou da Máxima Efetividade) da Norma Constitucional

Sendo a norma constitucional de ordem pública e de caráter imperativo, emanada que é da vontade popular, o intérprete deve lhe conferir o máximo de efetividade no momento de sua aplicação.

Para Rui Barbosa (apud Zimmermann, 2002), a hermenêutica da norma constitucional devia ser o mais ampla possível, pois para ele “nas questões

de liberdade, na inteligência das garantias constitucionais, não cabe a hermenêutica restritiva”

(BARBOSA, Rui. Comentários à Constituição Federal Brasileira. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 495, 506 e 516, v.5).

d) Princípio da Simetria Constitucional

Este princípio postula que haja uma relação simétrica entre as normas jurídicas da Constituição Federal e as regras estabelecidas nas Constituições Estaduais, e mesmo Municipais. Isto quer dizer que no sistema federativo, ainda que os Estados-Membros e os Municípios tenham capacidade de auto-organizar-se, esta auto-organização se sujeita aos limites estabelecidos pela própria Constituição Federal.

Assim, pelo princípio da simetria, os Estados-Membros se organizam obedecendo ao mesmo modelo constitucional adotado pela União. Por este princípio, por exemplo, as unidades federativas devem estruturar seus governos de acordo com o princípio da separação de poderes.

e) Princípio da Presunção de Constitucionalidade das Normas Infraconstitucionais

Segundo este princípio, todas as normas jurídicas infraconstitucionais possuem a presunção de constitucionalidade até que o controle judicial se manifeste em contrário.

Trata-se, portanto, da presunção juris tantum, posto que a norma infraconstitucional possui eficácia jurídica até que se prove o contrário.

Este princípio decorre do próprio Estado de Direito e da separação de Poderes, pois é a própria Constituição que delega poderes ao Poder Legislativo para editar normas ordinárias, infraconstitucionais, que lhe dão plena operatividade, e o Legislativo assim o faz na convicção de que está a respeitar a Constituição, na presunção de que as leis que elaborou e que foram promulgadas são, efetivamente, constitucionais, devendo a quem argüi a sua inconstitucionalidade perante o Poder Judiciário, provar o vício que alega, e a

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declaração de inconstitucionalidade das normas ordinárias somente deve ocorrer quando afastada toda e qualquer dúvida quanto à sua incompatibilidade com a Constituição.

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INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO

Interpretação é a reconstrução do conteúdo da lei, sua elucidação, de modo a operar-se uma restituição de sentido ao texto viciado ou obscuro.

Noutras palavras, trata-se de operação lógica, de caráter técnico, através do qual se busca investigar o sentido exato da norma jurídica imprecisa ou não muito clara.

Para Felice Battaglia, jurista italiano:

“o momento da interpretação vincula a norma geral às conexões concretas, conduz do abstrato ao concreto, insere a realidade no esquema”

(BATTAGLIA, Felice. Curso de filosofia del derecho. Madrid, 1951. p. 151. v. 2).

Reis Friede adverte que “os problemas de interpretação constitucional, em certa medida, são mais amplos e complexos do que aqueles afetos à lei comum, até porque, sob certa ótica, também repercutem sobre todo o ordenamento jurídico”.

(FRIEDE, Reis. Lições Objetivas de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 73.)

FORMAS DE INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

Todos os cidadãos têm o direito de buscar interpretar a Constituição, as normas constitucionais.

O Poder Legislativo o faz quando elabora uma lei complementar à Constituição ou mesmo quando estabelece regras para as suas futuras interpretações; (controle preventivo de constitucionalidade)

O Poder Executivo vai interpretar a CF, para usar o seu poder de sancionar ou vetar uma lei (controle preventivo de constitucionalidade);

O Poder Judiciário, por seu turno, interpreta a norma constitucional quando, instado por uma Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADIN – ou mesmo por uma Ação Declaratória de Constitucionalidade – ADC –, emite uma decisão (controle repressivo de constitucionalidade).

FONTE DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL a) Interpretação autêntica

Ocorre quando o legislador constituinte interpreta as normas constitucionais por ele mesmo elaboradas. “Nesta interpretação, o legislador constituinte busca extrair o verdadeiro significado da norma jurídica, revelando-nos o âmbito de sua atuação” (Zimmermann, 2002, p.142).

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b) Interpretação Doutrinária

É aquela levada a efeito pelos estudiosos do Direito Constitucional. Segundo Paulo Bonavides:

“a interpretação doutrinária é aquela que deriva da doutrina, dos doutores, dos mestres e teoristas do direito, dos que, mediante obras, pareceres, estudos e ensaios jurídicos intentam precisar, a uma nova luz, o conteúdo e os fins da norma, ou abrir-lhe caminhos de aplicação a

situações inéditas ou de todo imprevistas.”

(BONAVIDES, Paulo. Direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 1986. p. 270.)

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c) Interpretação Judicial

É aquela emanada pelo magistrado, na aplicação da norma legal.

Desta interpretação surgem decisões de efeitos práticos e definitivos, quer para a sociedade como um todo, como, por exemplo, no caso de controle judicial da norma constitucional in abstracto, através de uma ação direta de inconstitucionalidade, ou apenas para as pessoas submetidas ao processo jurisdicional concreto, incidental.

MÉTODOS CLÁSSICOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL

São as diferentes possibilidades de se analisar as normas constitucionais dentro de um plano metodológico.

a) Da Interpretação Gramatical (ou literal)

Meio através do qual busca-se aferir o significado literal da norma jurídica por meio de uma interpretação que leve em consideração o exame das palavras e das regras gramaticais vigentes à época da elaboração do texto legal.

É meio fundamental como etapa preliminar a toda interpretação jurídica, não devendo ser utilizado unicamente, contudo, como meio de interpretação.

O Juiz Black, da Suprema Corte dos Estados Unidos, foi um dos principais defensores da interpretação literal, dizendo que tal meio de interpretação visava restringir “o apetite de alguns juízes em extrapolar os limites

constitucionais e impor suas próprias preferências, utilizando-se de argumentos retirados do direito natural ou do devido processo legal”.

(ZIMMERMANN, 2002, p. 144).

b) Da Interpretação Lógica ou Racional

É aquela que, na lição de Paulo Bonavides, sobre examinar a lei em conexidade com as demais leis, investiga-lhe também as condições e os fundamentos de sua origem e elaboração, de modo a determinar a ratio ou mens do legislador. Busca, portanto reconstruir o pensamento ou intenção de quem legislou, de modo a alcançar depois a precisa vontade da lei.

(BONAVIDES, 1986, p. 272).

Esse método está sintetizado pela locução “intenção do legislador”, subdividindo-se em cinco:

Mens legis – busca verificar o que o legislador realmente disse,

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Mens legislatori – busca verificar, ao contrário do anterior, o que o legislador quis efetivamente dizer, independentemente do que acabou efetivamente dizendo;

O casio legis – conjunto de circunstâncias que determinaram a criação da lei;

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argumento a contrario sensu – componente da interpretação lógica que utiliza o fato de que a lei sempre faculta a conclusão pela exclusão, dada a regra hermenêutica que afirma que as exceções devem vir sempre expressas; e, por fim,

argumento a fortiori – pode ser resumido pela máxima do Direito segundo a qual “quem pode o mais pode o menos”.

Este método de interpretação deve ser utilizado imediatamente após a interpretação gramatical ou literal, independentemente da aparente solução definitiva que esta possa ter sugerido ao intérprete.

c) Da Interpretação Sistemática

As normas jurídicas estão dispostas em capítulos, títulos, livros e artigos, onde se encontram indicados o assunto e, conseqüentemente, o direito tutelado.

A interpretação sistemática, assim, consiste no propósito de resolver eventuais conflitos de normas jurídicas, examinando-as sob a ótica de sua localização junto ao direito que tutela.

Com este método devemos interpretar a norma constitucional vendo-o como um todo lógico e harmônico.

Destarte, a interpretação da Constituição deve ser feita de modo a se permitir que as normas constitucionais sejam compatíveis entre si. (ZIMMERMANN, 2002, p. 146.)

d) Da Interpretação Histórica

Método através do qual o intérprete busca o conhecimento evolutivo (histórico) da ambiência em que se originou a lei e da linguagem utilizada na redação do texto legal, de modo a se chegar à essência do dispositivo normativo, o verdadeiro significado da lei.

e) Da Interpretação Sociológica ou Teleológica

Busca interpretar as leis com vistas a sua melhor aplicação na sociedade. Este tipo de interpretação, no dizer de Zimmermann, “permite a alteração da ratio legis, possibilitando ao intérprete conferir um novo sentido à norma, contrapondo-se ao sentido original da mesma e otimizando o cumprimento da sua finalidade.”

(ZIMMERMANN, 2002, p. 146.)

Afirma, com propriedade, o Professor Reis Friede que “por esta razão, deve

ser sempre observado em último lugar, evitando os elevados riscos de que o intérprete acabe por se confundir com o próprio legislador, criando normas jurídicas onde não existam ou, no mínimo, deturpando o verdadeiro significado das já existentes”.

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(FRIEDE, op.cit., p. 159)

E o que é a interpretação Conforme?

A interpretação conforme a Constituição é aquela em que o intérprete adota a interpretação mais favorável à Constituição Federal, considerando-se seus princípios e jurisprudência, sem, contudo, se afastar da finalidade da lei. Ensina o professor Pedro Lenza (2009) que esta forma ou princípio de interpretação possui algumas dimensões que deverão ser observadas, quais sejam:

- a prevalência da Constituição, que é a essência deste método, posto que enfatiza a supremacia da Lei Maior;

- a conservação da norma, visto que ao adotar a interpretação que vai ao encontro da Constituição propiciamos sua eficácia e evitamos que seja declarada inconstitucional e deixe de ser aplicada;

- a exclusão da interpretação contra legem , o que impossibilita que a lei seja interpretada contrariamente ao seu texto literal com o intuito de considerá-la constitucional;

- espaço de interpretação, que dita que este método só pode ser aplicado quando houver a possibilidade de opção, ou seja, deve existir mais de uma interpretação para então, optar-se por aquela conforme a Constituição;

- rejeição ou não aplicação de normas inconstitucionais, em que sempre que o juiz analisar a lei utilizando todos os métodos existente e verificar que ela é contrária à Constituição deverá declarar a sua inconstitucionalidade;

- o intérprete não pode atuar como legislador positivo, ou seja, aquele que interpreta a lei não pode dar a ela uma aplicabilidade diversa daquela almejada pelo legislativo, pois, caso assim proceda considerar-se-á criação de uma norma regra pelo intérprete e a atuação deste com poderes inerentes ao legislador, o que proibido.

Referências

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