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REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E OS AGRAVOS À SAÚDE EM MATO GROSSO DO SUL INTRODUÇÃO

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REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E OS AGRAVOS À SAÚDE EM MATO GROSSO DO SUL

Deusdete Junior Santos1 Universidade Federal da Grande Dourados

E-mail: junior.santos@outlook.com

INTRODUÇÃO

As razões que nos levaram ao desenvolvimento desta monografia estão na preocupação em conhecer e entender a situação da saúde dos trabalhadores em Mato Grosso Sul. O trabalho em uma agroindústria num sistema de ritmo intenso exige enorme comprometimento físico e mental. Desta forma, o intuito desse trabalho é analise dos efeitos causados pela reestruturação produtiva no mundo do trabalho sobre a saúde em Mato Grosso do Sul.

A partir da década de 1970, o Brasil vem passando por um processo de reestruturação produtiva que ganhou novo fôlego a partir da década de 1990, provocando transformações de ordem tecnológica e organizacional, visando maior competitividade no mercado interno e principalmente externo.. Considera-se, portanto que o período contemporâneo no mundo do trabalho é o resultado de grandes mudanças no mundo do trabalho.

O determinante fundamental do processo de trabalho sob o capitalismo é que este deve ser organizado para gerar o máximo de riqueza e, consequentemente, de lucro, que é retirado da venda da força do trabalho. Portanto, pode-se relacionar a reestruturação produtiva originada pelo capital e a exploração das forças de trabalho que atentam ao bem-estar do homem afirmando-se que a reestruturação produtiva, a implantação da especialização flexível e a automação desenfreada proporcionam boas

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condições de trabalho para poucos, atemorizando os demais com a ameaça da precarização e da exclusão definitiva da esfera produtiva social. (DAL ROSSO, 2008, p. 8)

Os desdobramentos dessa reestruturação demandada pelo capital têm contribuído para a piora das condições de trabalho, assim como o aumento de acidentes e agravos à saúde do trabalhador, tanto no mundo fabril urbano como também no campo.

OBJETIVOS

Esse trabalho visa compreender como o agronegócio, a restruturação produtiva tem transformado a produção e as relações de trabalho a partir das alterações profundas no processo de acumulação e (re)produção do capital, com consequências danosas para os trabalhadores e assim contextualizar o processo de reestruturação produtiva em Mato Grosso do Sul.

A pesquisa se encontra em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Grande Dourados.

METODOLOGIAS

Foi realizada uma revisão sobre as mudanças nos regimes de acumulação dentro do capitalismo, intensificação do trabalho, histórico do agronegócio em Mato Grosso do Sul. Foi realizada também a obtenção de dados estatísticos sobre acidentes de trabalho através de material eletrônico disponibilizado no portal do Ministério da Previdência Social (MPAS). Esse levantamento, portanto, foi realizado junto às bibliotecas ou serviços de informações existentes, entre eles consultas em material eletrônico.

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A obtenção de dados estatísticos sobre acidentes de trabalho em Mato Grosso do Sul desse trabalho foi realizado através de material disponibilizado no portal do Ministério da Previdência Social (MPAS). No mesmo portal foram ainda executadas tabulações por meio de aplicativos online AEPS (Anuário Estatístico da Previdência Social) InfoLogo e AEAT (Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho) InfoLogo.

RELAÇÕES ENTRE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO EM MATO GROSSO DO SUL

O setor agroindustrial vem apresentando um aumento significativo das exportações no Brasil, principalmente a partir da segunda metade da década de 1990, o que originou uma exploração extrema do trabalho vivo no interior destas empresas. Este crescimento tem movido as bases da economia desde então e tem ocorrido a busca incessante pela “melhora” da produção com o desenvolvimento de tecnologias, buscando-se intensificar o processo de trabalho nas linhas de produção.

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Figura 1: Localização do estado de Mato Grosso do Sul.

Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/5e/MatoGrossodoSul_MesoMi icroMunicip.svg/613px-MatoGrossodoSul_MesoMicroMunicip.svg.png

Conforme Marques et al. (2006):

A tendência de crescimento das exportações agropecuárias que marcou o final da década de 1990 pode ser explicada pelo aumento dos preços internacionais e pelo desenvolvimento de novas áreas de cultivo, principalmente no Cerrado brasileiro. [...] Esse desempenho das exportações brasileiras acontece em sintonia com importantes transformações que o país passou a experimentar a partir da década de 1990, como a estabilização econômica e a maior abertura ao comércio exterior. Tais transformações, de maneiras diversas, vêm afetando a economia brasileira, tendo gerado mudanças estruturais no cenário nacional em termos de atualização de conteúdo tecnológico dos processos produtivos e também das inter-relações entre os setores participantes da atividade econômica.

O estado Mato Grosso do Sul apresenta hoje uma economia de base agroindustrial voltada à exportação, atendendo ao comércio mundial. O setor industrial impôs um desenvolvimento tecnológico acelerado ao campo, forçando o uso de novas técnicas, implementos e insumos. Desta forma o Complexo Agroindustrial se vincula com a implantação de indústrias ligadas diretamente com a produção no campo.

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O poder das grandes corporações, no caso essas ligadas a exploração do lucro agroindustrial, tem influenciado a organização do trabalho por aqui também o que de fato tem impactado sobre a qualidade de vida e impedido um arranjo que permita o desenvolvimento de qualquer outra atividade que não seja a exploração da força de trabalho.

Quanto à relação entre as transformações no acumulo do capital e a exploração das forças de trabalho que atentam ao bem-estar do homem pode-se afirmar que:

A reestruturação produtiva, a implantação da especialização flexível e a automação desenfreada proporcionam boas condições de trabalho para poucos, atemorizando os demais com a ameaça da precarização e da exclusão definitiva da esfera produtiva social. (DAL ROSSO, 2008, p. 8)

O desenvolvimento econômico em seu processo de transformação do espaço social, através das atividades produtivas, tem sido identificado como crucial pela degradação e modificação dos padrões de saúde da população e do ambiente, refletindo diversamente sobre regiões, cidades e o campo. Logo, o processo produtivo que a "modernização conservadora da agricultura" provoca deve ser compreendido como expressão das relações capital-trabalho e das tecnologias empregadas, visando lucros imediatos e máxima exploração, gerando impactos negativos na saúde e no ambiente. Atividades ligadas ao campo foram englobadas ao comercio internacional, como no estado de Mato Grosso do Sul, onde praticamente quase toda produção está voltada e absorvida pela agroindústria, não impedindo que acidentes, mortes e incapacitações físicas permanentes ligados a atividades rurais e industriais continuem a ocorrer e crescer.

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Tem crescido de forma preocupante, como apresentam os dados do Ministério da Previdência Social (MPAS), os acidentes de trabalho no estado de Mato Grosso do Sul e assim prejuízos a saúde dos trabalhadores. Conjuntamente também os acidentes de trabalho crescem no Brasil. A partir dos dados obtidos enquanto em 2000 foram pouco mais de 4.000 mil acidentes de trabalho, em 2009 este número subiu para mais de 10.000 mil ocorrências. Ainda segundo o MPAS, em 2009 foram registradas 44 óbitos de trabalhadores no estado relacionado com atividades do trabalho. Um aumento de cerca de 60% no número de acidentes de trabalho em nove anos. O gráfico abaixo mostra este crescimento entre 1988 e 2009.

Figura 02: Evolução dos Acidentes de Trabalho Registrados em Mato Grosso do Sul Organização: SANTOS, D. J. 2011.

Fonte: Dataprev - Ministério da Previdência Social.

A fragmentação dos acidentes de trabalho por grupo de atividade econômica, mostrado na figura 03, permitiu evidenciar que as mortes e os acidentes de trabalho ocorrem ano após ano nas atividades ligadas ao agronegócio que se destacam como as maiores causadoras de qualquer acontecimento que envolva o dano, o sofrimento ou mesmo morte de trabalhadores. A fabricação de produtos alimentícios se destaca como a maior causadora de acidentes respondendo quase sempre com mais de 20% do total de

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acidentes em cada ano. O grupo que incluiu a agricultura, a pecuária e serviços relacionados a estes têm, nos últimos anos, permanecidos responsável em média por 12% dos acidentes de trabalho. Perfazem um total em média de 34% dos acidentes oficialmente registrados (SANTOS, 2011: p. 57).

Figura 03: Acidentes de Trabalho pelo vinte maiores grupos de atividade Econômica em MS, 2006-2009

Organização: SANTOS, D. J. 2011. Fonte: Dataprev - Ministério da Previdência Social.

Quando se analisa as atividades que mais geram acidentes de trabalho existe a comprovação as atividades ligadas ao agronegócio se destacam como as maiores determinantes de eventos que envolvam ameaças à sobrevivência digna dos trabalhadores. Notadamente Mato Grosso do Sul vem apresentando uma triste estática de acidentes de trabalho. Em segundo lugar na geração de acidentes está o grupo que incluiu a agricultura, a pecuária e serviços relacionados a estes. Mais uma vez as atividades que mais tem lucrado na recente trajetória econômica do estado apresentam grande número de danos à saúde do trabalhador. Essas atividades desse grupo têm nos

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últimos anos sido responsável em média por 12% dos acidentes de trabalho (SANTOS, 2011, p. 56).

A taxa de letalidade, ou seja, a capacidade do acidente em levar a morte, vem registrando acentuados valores nos anos analisados. Em 2002, por exemplo, apresentou um valor 78% maior que o medido nacionalmente. Em 2006 esse dado apresentou um valor 57% superior ao nacional. Apesar de estar diminuindo ano após ano ainda é um valor demasiadamente mais alto que as taxas nacionais. Além disso, na figura a seguir também é apresentada a taxa de incidência total de acidentes.

Figura 04: Evolução dos Indicadores de Incidência de Acidentes de Trabalho no Brasil e Mato Grosso do Sul, 2002-2009.

Organização: SANTOS, D. J. 2011. Fonte: Dataprev - Ministério da Previdência Social.

Desta forma, também a taxa de mortalidade, tem apresentado altos índices quando se refere aos acidentes de trabalho em Mato Grosso do Sul. Destaque fica com os anos de 2002 e 2004 que apresentam respectivamente índices 84% e 70% maiores que a média do país.

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São apresentados três indicadores no figura 04 e todos apontam, apesar do decréscimo nos últimos anos, que em Mato Grosso do Sul ocorre uma indiscutível situação de precarização do indivíduo enquanto trabalhador. A proteção à saúde do trabalhador tem dessa forma se mostrado frágil e inconsistente não conseguindo vencer aos desígnios do capital.

As consequências negativas são comprovadas pela maior incidência de estresse e de acidentes no trabalho, pelo acréscimo das lesões por esforços repetitivos, enfim, pelo adoecimento que afeta o trabalhador, que repercute sobre sua família, com custos para o conjunto da sociedade. (DAL ROSSO, 2008, p. 9).

Sobre as consequências dos acidentes de trabalho em Mato Grosso do Sul, presentes na figura 05, é possível observar que apesar da aparente diminuição de mortes em 2009, o número de pessoas que necessitam de assistência médica, que se afastam mercado de trabalho com menos ou mais de quinze e ainda aquelas que adquirem incapacidade permanente vem aumentando consideravelmente.

Figura 05: Conseqüências dos Acidentes de Trabalho em Mato Grosso do Sul, 1999-2009 Organização: SANTOS, D. J. 2011.

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É notável o que os indicadores de acidentes de trabalho apontam em relação ao aumento de acidentes, o que tem levado trabalhadores a se afastarem temporariamente, permanentemente ou ainda a perder suas vidas. Os números de acidentes de trabalho se mostram impressionantes e também preocupantes. Ocorrem consequências graves desses acidentes, principalmente em termos de vítimas fatais e de trabalhadores incapacitados permanentemente para o exercício laboral.

CONCLUSÕES FINAIS

Nesse trabalho as estatísticas e os dados de acidentes de trabalho em Mato Grosso do Sul foram analisados a partir de dados disponibilizados no período de 1988 a 2009 pelo Ministério da Previdência Social (MPAS) e indicam que é alta a incidência de casos de acidentes de trabalho, superando as taxas nacionais, sendo resultado do trabalho precário, do descumprimento de direito e deveres, da falta de aplicação das normas de segurança, da intensificação da atividade laboral, da exposição a atividades nocivas e perigosas que os trabalhadores enfrentam diariamente.

O processo de reestruturação produtiva em Mato Grosso do Sul, com destaque para a modernização e intensificação das linhas de produção do agronegócio no ambiente urbano e rural, com a reorganização do trabalho no campo e em diferentes ramos da produção, inclusive na indústria de alimentos, tem resultado em uma maior precarização das condições de vida.

Portanto, pode-se confirmar que as condições de trabalho estão se tornando cada vez mais precárias com as rápidas mudanças requeridas pelo capital, ocorrendo assim uma forte precarização, que resulta numa agressão, tanto física quanto moral, sobre a saúde da população em Mato Grosso do Sul. As estatísticas e os dados de acidentes de trabalho nessa unidade federal indicam que a incidência de casos é grande sendo resultado do trabalho precário, do descumprimento direito e deveres, da falta de

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aplicação das normas de segurança, da intensificação da atividade laboral, da exposição a atividades nocivas e perigosas que os trabalhadores enfrentam diariamente.

O agronegócio, portanto, não está fora do modelo de precarização do trabalho e sua intensificação deve garantir a produção de bens e a realização de serviços no menor tempo possível o que cria uma situação rotineira de tarefas que devem ser executadas intensamente e em tempo recorde. "A manipulação do grau de intensidade tem por objetivo elevar a produção quantitativa ou melhorar qualitativamente os resultados do trabalho" (DAL ROSSO, 2008, p.21).

Neste contexto, é possível dizer que os problemas tradicionais de trabalho, tais como acidentes e doenças ocupacionais continuam a ser importantes em termos de estudos e busca de soluções no período contemporâneo. Acidentes de trabalho são portanto cruciais na determinação dos indicadores de qualidade de vida no trabalho, assim como, do bem-estar social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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centralidade do mundo do trabalho. 13ª ed., Campinas: Universidade Estadual de

Campinas, 2011.

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DAL ROSSO, Sadi. Mais trabalho!: A Intensificação do Labor na Sociedade

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DAL ROSSO, Sadi. Intensidade e Imaterialidade do Trabalho e saúde. Disponível em: <http://www.revista.epsjv.fiocruz.br/upload/revistas/r126.pdf>. Acesso em: 05 jun. 2013.

MIZUSAKI, Márcia. Yukari. Território e reestruturação produtiva na avicultura. 1. ed. Dourados: EDUFGD, 2009.

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PIGNATI, Wanderlei A.; MACHADO, Jorge M. H.. O agronegócio e seus impactos

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SANTOS, Deusdete Junior. A relação capital x trabalho e os agravos em Mato

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