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Cópia da sentença proferida pelo Tribunal de Comércio de Lisboa no processo de registo de marca internacional n

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Cópia da sentença proferida pelo Tribunal de Comércio de Lisboa no processo de registo de marca internacio- nal n.° 702 635.

I - Relatório. - Citicorp, norte-americana, com sede em 399 Park Avenue, New York 10 043, Estados Unidos da América, e Citibank, N. A., associação bancária interna- cional organizada segundo as leis dos Estados Unidos da América, com sede em 55 Wall Street, Nova Iorque, Esta- dos Unidos da América, entidades pertencentes ao grupo Citigoup, Inc., vieram, ao abrigo do disposto no artigo 38.° e seguintes do Código da Propriedade Industrial (CPI), in- terpor recurso do despacho de 6 de Dezembro de 1999 que concedeu o registo da marca internacional n.° 702 635, Citystar APG.

Alegam ser titulares do registo de várias marcas nacio- nais, a primeira, e internacionais, a segunda, e requerentes de inúmeras marcas comunitárias, todas elas conjugando a expressão «citi» associada a outras expressões, conexionando todas as marcas ao grupo empresarial a que pertencem. O seu objectivo é proporcionar aos consumidores uma identi- ficação imediata da origem das marcas.

Refere que a marca recorrida é imitação das suas mar- cas internacionalmente notórias e de prestígio Citibank, Citicorp e Citi, sendo que algumas das suas marcas go- zam da protecção especial conferida pelo artigo 191.° do CPI.

Assim, o despacho recorrido, para além de violar o dis- posto nos artigos 189.°, n.° 1, alínea m), e 191.° do CPI, admite a verificação de concorrência desleal.

Deve, pois, o despacho recorrido ser revogado.

Juntou documentos de fl. 18 a fl. 67 e de fl. 71 a fl. 75 e procuração forense de fl. 77 a fl. 80.

Cumprido o disposto no artigo 40.° do CPI respondeu o chefe de departamento da Direcção de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) pugnando pela manutenção do despacho recorrido por não se verificarem os requisitos da imitação.

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Notificada a parte contrária, nos termos do disposto no artigo 41.°, n.° 3, do CPI, nada disse.

O tribunal é competente em razão da nacionalidade, da matéria e da hierarquia.

O processo é o próprio e não enferma de nulidades que o invalidem de todo.

As partes estão dotadas de personalidade e capacidade judiciárias e são legítimas.

Inexistem quaisquer outras excepções ou questões prévias de que cumpra conhecer.

II - Fundamentação fáctico-jurídica e conclusiva. - Face à prova documental produzida encontra-se assente a seguinte factualidade:

1 - A primeira recorrente é titular do registo das se- guintes marcas nacionais:

a) N.° 210 790, Citi, desde 23 de Agosto de 1988; b) N.° 210 791, Citicorp, desde 23 de Agosto de

1988;

c) N.° 210 794, Citibaml, desde 20 de Dezembro de 1988;

d) N.° 210 795, Citicard, desde 23 de Agosto de 1988.

2 - As referidas marcas destinam-se a assinalar servi- ços da classe 36.ª: «serviços financeiros».

3 - A primeira recorrente requereu o registo das seguin- tes marcas comunitárias:

a) Marca comunitária n.° 65 367, requerida em 1 de Abril de 1996, caracterizada pela expressão «citicorp» e destinada a assinalar produtos e servi- ços, respectivamente, das classes 9.ª, 16.ª e 36.ª; b) Marca comunitária n.° 585 737, requerida em 25 de Maio de 1997, caracterizada pela expressão «citiselect ltd» e destinada a assinalar serviços da classe 36.ª;

c) Marca comunitária n.° 867 879, requerida em 6 de Julho de 1998, caracterizada pela expressão «citigroup» e destinada a assinalar produtos e ser- viços, respectivamente, das classes 9.ª, 16.ª e 36.ª; d) Marca comunitária n.° 952 077, requerida em 7 de Outubro de 1998, caracterizada pela expressão «citiagent» e destinada a assinalar produtos e ser- viços, respectivamente, das classes 9.ª, 36.ª e 42.ª; e) Marca comunitária n.° 1 042 506, requerida em 14 de Janeiro de 1999, caracterizada pela expressão «citiselect» e destinada a assinalar serviços da clas- se 36.ª;

f) Marca comunitária n.° 1 059 021, requerida em 29 de Janeiro de 1999, caracterizada pela expressão «citigroup» inserida num arranjo gráfico próprio e destinada a assinalar produtos e serviços, respecti- vamente, das classes 9.", 16.ª e 36.ª;

g) Marca comunitária n.° 1 095 694, requerida em 29 de Janeiro de 1999, caracterizada pela expressão «citigroup» inserida num arranjo gráfico próprio e destinada a assinalar produtos e serviços, respecti- vamente, das classes 9.ª, 16.ª e 36.ª;

h) Marca comunitária n.° 1 084 532, requerida em 23 de Fevereiro de 1999, caracterizada pela expressão «citi» inserida num arranjo gráfico próprio e desti- nada a assinalar produtos e serviços, respectiva- mente, das classes 9.", 16.ª, 36.ª e 42.ª;

i) Marca comunitária n.° 1 107 341, requerida em 16 de Março de 1999, caracterizada pela expressão «citiieuroland» e destinada a assinalar serviços da classe 36.ª;

j) Marca comunitária n.° 1 343 367, requerida em 13 de Outubro de 1999, caracterizada pela expressão «citibond» e destinada a assinalar produtos e ser- viços, respectivamente, das classes 16.ª, 36.ª e 38.ª; k) Marca comunitária n.° 1 343 441, requerida em 13 de Outubro de 1999, caracterizada pela expressão «citifocus» e destinada a assinalar produtos e ser- viços, respectivamente, das classes 16.ª, 36." e 38.ª; l) Marca comunitária n.° 1 343 466, requerida em 13 de Outubro de 1999, caracterizada pela expressão «citiiequity» e destinada a assinalar produtos e ser- viços, respectivamente, das classes 16.ª, 36.ª e 42.";

m) Marca comunitária n.° 1 343 540, requerida em 13 de Outubro de 1999, caracterizada pela expressão «citigarant» e destinada a assinalar produtos e ser- viços, respectivamente, das classes 16.ª, 35.ª, 36.ª, 38.ª e 42.ª (conforme folha de dados que se junta sob a designação de documento n.° 19);

n) Marca comunitária n.° 1 344 746, requerida em 13 de Outubro de 1999, caracterizada pela expressão «citimoney» é destinada a assinalar produtos e ser- viços, respectivamente, das classes 16.ª, 36." e 42.ª;

o) Marca comunitária n.° 1 348 085, requerida em 13 de Outubro de 1999, caracterizada pela expressão «citicommerce.com» e destinada a assinalar servi- ços da classe 36.ª:

p) Marca comunitária n.° 1 350 495, requerida em 13 de Outubro de 1999, caracterizada pela expressão «citichoice» e destinada a assinalar serviços da clas- se 36.ª;

q) Marca comunitária n.° 1 587 427, requerida em 3 de Abril de 2000, caracterizada pela expressão «citilife» e destinada a assinalar serviços da clas- se 36."

4 - Os produtos que as marcas referidas no n.° 3, alí- neas a) e c), se destinam a assinalar, dentro da classe 16.ª, são, entre outros, papel, cartão e produtos nestas matérias, máquinas de escrever e artigos para escritório, material de instrução ou de ensino, matérias plásticas para embalagem, caracteres de impressão e estereótipos.

5 - A segunda requerente é titular das seguintes mar- cas internacionais:

a) N.° R 337 281, Citibank, desde 4 de Maio de 1968; b) N.° R 338 358, First National Citi Bank, desde 20

de Maio de 1968.

6 - As referidas marcas destinam-se a assinalar produ- tos da classe 16.ª: «Papier et articles en papier, carton et articles en carton, imprimés, journaux et periodiques, livres, en particulier comptables et commerciaux et répertoires, brochures er prospectus, dépliants, articles pour reliures, papeterie, chèques et travellers cheques, cartes, notamment de crédit, de cub et pour fichiers, formulaires, carnets, quittances et bordereaux et, en général, tous articles en papèterie utilisés en relation avec les opérations bancaires et commerciales, étiquettes, calendriers, almanachs, classeurs, en particulier pour fiches et lettres, cachets et clichés; étuis à stylographes.»

7 - A segunda recorrente requereu o registo das seguin- tes marcas comunitárias:

a) Marca comunitária n.° 112 425, requerida em 1 de Abril de 1996, caracterizada pela expressão «the citi

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never sleeps» e destinada a assinalar produtos e serviços, respectivamente, das classes 9.ª, 16.ª e 36.ª; b) Marca comunitária n.° 112 458, requerida em 1 de Abril de 1996, caracterizada pela expressão «citibanking» e destinada a assinalar produtos e serviços, respectivamente, das classes 9.ª, 16.ª e 36.ª; c) Marca comunitária n.° 143 487, requerida em 1 de Abril de 1996, caracterizada pela expressão «citibank direct access» e destinada a assinalar produtos e serviços, respectivamente, das classes 9.ª, 16.ª e 36.ª;

b) Marca comunitária n.° 179 473, requerida em 1 de Abril de 1996, caracterizada pela expressão «citicard» e destinada a assinalar produtos e servi- ços, respectivamente, das classes 9.", 16.ª e 36:°; e) Marca comunitária n.° 179 523, requerida em 1 de

Abril de 1996, caracterizada pela expressão «citibank preferred» e destinada a assinalar produtos e serviços, respectivamente, das classes 16.ª e 36.ª; f) Marca comunitária n.° 179 531, requerida em 1 de Abril de 1996, caracterizada pela expressão «citibank» e destinada a assinalar produtos e ser- viços, respectivamente, das classes 9.ª, 16.ª e 36.ª; g) Marca comunitária n.° 179 549, requerida em 1 de Abril de 1996, caracterizada pela expressão «citigold» e destinada a assinalar produtos e servi- ços, respectivamente, das classes 9.ª, 16.ª e 36.ª; h) Marca comunitária n.° 179 572, requerida em 1 de

Abril de 1996, caracterizada pela expressão «citiphone» e destinada a assinalar produtos e ser- viços, respectivamente, das classes 9.ª, 16.ª e 36.ª; i) Marca comunitária n.° 179 580, requerida em 1 de Abril de 1996, caracterizada pela expressão «citibank» inserida num arranjo gráfico próprio, e destinada a assinalar produtos e serviços, respecti- vamente, das classes 9.ª, 16.ª e 36.ª;

j) Marca comunitária n.° 539 460, requerida em 21 de Maio de 1997, caracterizada pela expressão «citinetting» e destinada a assinalar produtos e ser- viços, respectivamente, das classes 9.ª e 36.ª; k) Marca comunitária n.° 679 175, requerida em 19 de

Novembro de 1997, caracterizada pela expressão «citione», e destinada a assinalar produtos e servi- ços, respectivamente, das classes 9.ª e 36.ª; l) Marca comunitária n.° 679 241, requerida em 19 de

Novembro de 1997, caracterizada pela expressão «citidirect» e destinada a assinalar produtos e ser- viços, respectivamente, das classes 9.ª e 36.ª; m) Marca comunitária n.° 679 241, requerida em 19 de

Novembro de 1997, caracterizada pela expressão «citibasics», e destinada a assinalar produtos e ser- viços, respectivamente, das classes 9.ª e 36.ª; n) Marca comunitária n.° 679 282, requerida em 19 de

Novembro de 1997, caracterizada pela expressão «citibusiness» e destinada a assinalar produtos e serviços, respectivamente, das classes 9.ª e 36.ª; o) Marca comunitária n.° 1 011 584, requerida em 9

de Dezembro de 1998, caracterizada pela expres- são «citibank where money lives» e destinada a assinalar produtos e serviços, respectivamente, das classes 9.ª, 16.ª e 36.ª;

p) Marca comunitária n.° 1 250 612, requerida em 22 de Julho de 1999, caracterizada pela expressão «citibank agent direct» e destinada a assinalar pro- dutos e serviços, respectivamente, das classes 9.ª e 36.ª

8 - Por despacho datado de 6 de Dezembro de 1999 foi concedido o registo da marca internacional n.° 702 635, Citystar APG, requerida a 15 d e Outubro de 1998.

9 - A marca referida no n.° 8 pretende assinalar produ- tos da classe 16.ª e serviços da classe 35.ª «produits de l'imprimerie» e «publicité», respectivamente.

A questão que se coloca neste recurso é a de saber se a marca internacional n.° 702 635, Citystar APG, e as marcas das recorrentes são susceptíveis de se confundirem, sendo a primeira imitação das segundas.

A marca é um sinal distintivo dos produtos ou serviços comercializados por um empresário ou empresa propostos ao consumidor, destinada a identificar a proveniência de um produto ou serviço-artigo 167.° do CPI (código a que se referem todas as normas infracitadas sem outra indicação). A composição das marcas é, em princípio, livre, embora haja restrições estabelecidas por lei e impostas pelos princí- pios da eficácia distintiva, da verdade, da novidade, da in- dependência e da licitude, que regem a composição das marcas e que estão consagradas nos artigos 188.° e 189.° Para o presente caso a que interessa, face à argumenta- ção da recorrente, é a limitação enunciada na alínea m) do artigo 189.°, que dispõe ser de recusar o registo da marca quando esta contiver:

Reprodução ou imitação no todo ou em parte de marca anteriormente registada por outrem, para o mesmo produto ou serviço, ou produto ou serviço si- milar ou semelhante, que possa induzir em erro ou confissão o consumidor.

A referida limitação consagra o princípio da novidade da marca: se a marca for uma usurpação de uma marca regis- tada anteriormente, referida a produtos ou serviços semelhan- tes ou afins, não pode ser registada. A usurpação pode con- sistir numa reprodução (cópia integral) ou numa imitação (confundível) da marca registada anteriormente.

O conceito de imitação é-nos dado pelo artigo 193.°, n.° 1, e verifica-se quando, cumulativamente:

a) A marca registada tiver prioridade;

b) Sejam ambas destinadas a assinalar produtos ou serviços idênticos ou de afinidade manifesta; c) Tenham tal semelhança gráfica, figurativa ou foné-

tica, que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão, ou que compreenda um risco de asso- ciação com a marca anteriormente registada, de for- ma a que o consumidor não possa distinguir as duas marcas senão depois de exame atento ou confronto. O primeiro requisito não levanta qualquer problema já que se prende com dados meramente objectivos: data do regis- to. De referir aqui apenas o facto de a data que importa para apurar da prioridade ser a do pedido do registo, desde que regularmente formulado (artigo 11.°, n.° 1, do CPI).

O segundo requisito já não é tão pacífico. É que para que haja imitação não é necessário que os produtos ou serviços se integrem na mesma classe. Basta que se destinem a assi- nalar produtos ou serviços idênticos ou de afinidade mani- festa, ou seja, a definição parte de conceitos abertos cuja interpretação é passível de diferentes posições e que só caso a caso poderão ser aferidos.

Para aferir da semelhança dos produtos ou serviços inte- ressa apurar se os mesmos, sendo concorrenciais, têm a mesma utilidade e fim ou são complementares. Para além deste factor há um outro a ter em conta que é o da origem do produto, ou seja, se os produtos em causa podem atribuir-se à mesma origem ou fonte produtiva.

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Assim, deve atender-se, para apurar da identidade ou afi- nidade dos produtos, à natureza e destino dos mesmos, às modalidades de utilização, aos locais de fabrico e venda e aos circuitos comerciais.

Quanto ao terceiro cumpre fazer algumas observações. Antes de mais e para se aferir da imitação não há que con- frontar directamente as duas marcas. A imitação existirá quando tendo-se à vista apenas a marca a constituir, se deva concluir que ela é susceptível de ser tomada por outra de que se tenha conhecimento. «Com efeito, o consumidor, quando compra determinado produto marcado com um si- nal semelhante a outro que já conhecia, não tem à vista (em regra) as duas marcas, para fazer delas um exame compara- tivo. Compra o produto por se ter convencido de que a marca que o assinala é aquele que retinha na memória.» (Prof. Ferrer Correia, Lições de Direito Comercial, Reprint,

1994, p. 188).

No mesmo sentido diz Bédariide, citado por Pupo Cor- reia, «a questão da imitação deve ser apreciada pela seme- lhança que resulta do conjunto dos elementos que consti- tuem a marca e não pelas dessemelhanças que poderiam oferecer os diversos pormenores, considerados isolados e separadamente» (in Direito Comercial, Ediforum, 6.ª ed.,

1999, p. 340).

O juízo a fazer há-de ter em atenção o consumidor mé- dio do produto ou produtos em questão, ou seja, há que considerar o estrato populacional a que primordialmente o produto ou serviço se destina.

«No exame comparativo das marcas, feito nestes termos, deve considerar-se decisivo o juízo que emitiria o consumi- dor médio do produtos ou produtos em questão. Se, por exemplo, se trata de um produto consumido, em regra, por pessoas de certo grau de cultura, a confusão de marcas com alguns elementos comuns não será tão fácil como nos casos em que determinado produto se destine de preferência a camadas sociais de cultura rudimentar. (Ferrer Correia, op. cit.)

No caso sub iudice, e começando pelo registo, importa desde logo referir que parte dos pedidos de registo penden- tes de concessão das primeira e segunda requerentes foram formulados em data posterior à data em que foi pedido o registo da marca recorrida. Significa isto que, relativamente a tais pedidos de registo, não se verifica desde logo o pri- meiro requisito: prioridade de registo.

Tal prioridade verifica-se, sim, relativamente às marcas de que as requerentes são já titulares (referidas nos n.os 1 e 5 supra). Quanto às restantes, só gozam de prioridade as marcas referidas nas alíneas a) a d) do n.° 3 supra e a) a n) do n.° 7 supra.

À marca recorrida foi concedido o registo em 6 de De- zembro de 1999, tendo o pedido de registo sido formulado em 15 de Outubro de 1998. Ora, as marcas das recorrentes são anteriores a tal pedido, o mesmo sucedendo com o pedi- do de registo das marcas comunitárias referidas nas alíneas a) a d) do n.° 3 supra e a) a n) do n.° 7 supra. O registo da marca recorrida é, pois, posterior ao registo das marcas das recorrentes e dos pedidos ora referidos, pelo que todas estas gozam de prioridade relativamente à marca recorrida.

Quanto ao segundo requisito, é de considerar que a mar- ca da recorrente destina-se a assinalar produtos da classe 16.ª e serviços da classe 35.ª, respectivamente, produtos de im- pressão e serviços de publicidade.

Quanto às marcas da primeira recorrente, há que consi- derar que nenhuma daquelas de que é já titular se destina a assinalar serviços semelhantes ou afins dos serviços que a marca recorrida pretende assinalar: enquanto num caso se

assinalam serviços financeiros no outro assinalam-se servi- ços de publicidade.

Significa isto que as marcas de que a primeira recorrente é titular não lhe conferem qualquer direito de impedir o registo da marca recorrida para assinalar produtos da classe

16.ª ou serviços da classe 36.ª

O mesmo sucede com as marcas que aguardam conces- são e referidas nas alíneas b) e d) do n.° 3 dos factos assen- tes. Com efeito, nenhuma delas se destina a assinalar pro- dutos ou serviços semelhantes ou afins aos produtos e serviços que a marca recorrida pretende assinalar.

Assim, relativamente à primeira requerente apenas há que considerar os pedidos de marca referidos nas alíneas a) e c) do n.° 3 dos factos assentes. Porém, mesmo estes, só têm relevância para apreciação de uma eventual imitação por parte da marca recorrida relativamente aos produtos da classe 16.ª, que ambas também pretendem assinalar, não já para os serviços da classe 35.ª já que nenhuma delas tem por objectivo assinalar serviços de publicidade.

As recorrentes pretendem que os serviços das classes 35.ª e 36.ª sejam iguais ou manifestamente afins, não explici- tando, porém, a razão deste entendimento. Ora, tal entendi- mento é, em nossa opinião, precipitado e descabido, pois não se vê qualquer afinidade entre serviços financeiros e servi- ços de publicidade, sendo por demais evidente a enorme diferença entre ambos.

Efectivamente, nem têm a mesma utilidade e fim nem são complementares, nem se vislumbra como é que se pode atribuir os referidos serviços ao mesmo agente.

Em suma, relativamente às marcas da recorrente, nenhu- ma delas é obstativa do registo da marca recorrida para ser- viços da classe 35.ª dado os produtos e serviços que as suas marcas assinalam não serem semelhantes nem afins do ser- viço de publicidade que a mesma pretende assinalar.

Já quanto às marcas da segunda recorrente a situação é diversa. Efectivamente ambas as marcas de que é titular se destinam a assinalar produtos da classe 16.ª, como a marca recorrida, estando em causa produtos de impressão em to- das as marcas. O mesmo sucede com os pedidos de registo das marcas referidas nas alíneas a) a i) do n.° 7 dos factos dados como assentes, nos quais estão em causa produtos da classe 16.ª e, dentro desta, produtos de impressão.

Porém, nenhuma destas marcas ou pedidos de registo pre- tende assinalar serviços da classe 35.", serviços de publici- dade, sendo certo que os serviços e produtos que as mes- mas assinalam e pretendem assinalar não só não são de publicidade como não se podem considerar afins.

Faltando este requisito relativamente às marcas das recor- rentes aqui relevantes é forçoso concluir que quanto às mesmas não há imitação, pois não se verifica, relativamente a elas, identidade ou afinidade de serviços ou produtos.

Afastada a imitação relativamente a essas, ficam então em confronto a marca recorrida, por um lado, e as marcas de que a segunda recorrente é titular, bem como os pedidos de registo das marcas referidas nas alíneas a) e c) do n.° 3 supra e a) a i) do n.° 7.

Resta agora apreciar o terceiro requisito: semelhança grá- fica e fonética que induza facilmente em erro ou confusão o consumidor, não as podendo distinguir senão depois de exame atento ou confronto.

A marca recorrida caracteriza-se por duas expressões «citystar apg». As marcas aqui relevantes das recorrentes têm todas elas em comum o facto de serem compostas por uma ou mais expressões, contendo todas elas o vocábulo «citi». Foneticamente é indiscutível que «city» e «citi» são qua- se idênticos. Mas a marca recorrida não é caracterizada

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apenas pelo vocábulo «city». Será que é este que lhe confe- re capacidade distintiva? Afigura-se-nos que não. Efectiva- mente o prefixo «citi» ou «city» isoladamente considerados não são susceptíveis de apropriação por ninguém. «City» é a palavra inglesa que significa cidade e, consequentemente, não pode incidir sobre ela nenhum direito de exclusividade, ou seja, ninguém se pode arrogar o direito de ser dono da expressão «city» ou «cidade» e impedir que todas as res- tantes pessoas possam usar essa mesma expressão nas suas marcas. Trata-se daquilo que é usualmente designado de sinal fraco.

O vocábulo «citi» não tem qualquer significado corrente, sendo certo que o som equivale ao de «city» e, portanto, poderá ser interpretado como tal.

Ora, para além das três primeiras letras da marca da re- corrida serem iguais a um vocábulo que entra em todas as marcas das recorrentes e as primeiras quatro se lerem da mesma maneira, o certo é que, pelas razões expostas, não nos parece ser lícito afirmar que a marca Citystar APG é imitação das marcas das recorrentes, sob pena de se estar a atribuir às recorrentes o uso exclusivo da expressão «citi» ou «city».

Para além deste primeiro elemento comum, a marca re- corrida contém a palavra «star» e «apg», dois vocábulos que não se encontram em nenhuma das marcas das recorrentes. Desta diferença resulta que não se pode dizer que a seme- lhança entre ambas as marcas é manifesta, nem gráfica nem foneticamente. A diferença introduzida pela última sílaba faz com que a grafia seja consideravelmente diferente e o som resultante do todo da marca também.

Acresce que o facto de as marcas das recorrentes serem compostas pelo vocábulo «citi» e não «city» é também importante. Com efeito, todas as marcas das recorrentes têm a expressão «citi», expressão essa que, por sua vez, está contida nas denominações sociais de ambas as requerentes. Ou seja, o facto de o elemento comum a todas elas estar contido na denominação social das requerentes dá-lhes um determinado fio condutor que as faz associar-se entre si, o que já não sucede por parte da marca recorrida dado ter como quarta letra um «y» e não um «i», acentuando assim mais vincadamente a diferença entre as marcas e tomando difícil que a marca possa ser associada às restantes e vista como fazendo parte do mesmo grupo empresarial.

Significa isto que não se pode considerar haver uma se- melhança entre as marcas que permita afirmar ser a marca recorrida imitação da marca da recorrente.

Atendendo a estes considerandos, é de concluir que, ape- sar de a primeira sílaba da marca recorrida coincidir com a primeira sílaba da primeira palavra de quase todas as mar- cas das recorrentes, analisando cada uma das marcas no seu todo, quer gráfica quer foneticamente, há diferenças notó- rias entre elas, o que não permite ao consumidor médio, mesmo seguindo aqui o critério do consumidor desatento, a confusão necessária para se poder considerar a marca recor- rida imitação das marcas das recorrentes.

Alegam os recorrentes que a utilização da marca recorri- da, dada a semelhança com as suas marcas, potenciará ac- tos de concorrência desleal, mesmo que não intencional.

A concorrência desleal aparece definida no artigo 260.° do CPI que, nas suas várias alíneas, enuncia situações que configuram a prática de actos de concorrência desleal. Carlos Olavo define o acto de concorrência desleal como «aquele acto susceptível de, no desenvolvimento de uma dada acti- vidade económica, prejudicar um outro agente económico

que, por sua vez, exerce também uma actividade económi- ca determinada, prejuízo esse que se consubstancia num desvio de clientela própria em benefício de um concorren- te» (in Propriedade Industrial, Almedina, 1997, pp. 145-146). Atendendo às conclusões supra-enunciadas e à no- ção de concorrência desleal, não se nos afigura lícita a conclusão de que o uso da marca recorrida possa levar à prática de actos da concorrência desleal. Como já se referiu, a diferença entre as marcas é patente, não sendo possível que o consumidor médio caia no erro grosseiro de as associar. Não se vislumbra onde pode- rá estar o risco de associação entre os produtos e ser- viços que a marca recorrida pretende assinalar e os assinalados pelas marcas das recorrentes, já que nada faz crer tratar-se da mesma fonte produtiva nem se podendo concluir que o consumidor médio irá pensar desse modo.

Inexistindo qualquer risco de associação, não há possibi- lidade de o uso da marca recorrida causar prejuízo à recor- rente consubstanciado num desvio de clientela, sendo certo que nem sequer foi alegado qual a actividade prosseguida pela primeira requerente e a prosseguida pelo titular da marca recorrida, factos determinantes para apurar do hipotético des- vio de clientela. Logo, não há concorrência desleal.

Assim, e mesmo considerando que deverá ser recusado o registo se houver possibilidade de ocorrer concorrência des- leal, mesmo não intencional [artigo 25.°, n.° 1, alínea d), do CPI], não descortinamos que no presente caso possa existir concorrência desleal, já que não admitimos como possível qualquer tipo de confusão quer entre os produtos que as marcas pretendem assinalar quer quanto à origem dos mes- mos.

Pretendem ainda as recorrentes que as suas marcas go- zem de elevada notoriedade e reputação em todo o mundo, invocando a protecção conferida pelo artigo 191.° do CPI.

Em primeiro lugar importa fazer alguma clarificação de conceitos já que a recorrente fala de marca notória e de marca de grande prestígio indistintamente.

Quanto à notoriedade da marca o artigo 190.°, n.° 1, pres- creve que «será recusado o registo de marca que, no todo ou em parte essencial, constitua reprodução, imitação ou tradução de outra notoriamente conhecida em Portugal como pertencente a qualquer país da União, se for aplicada a pro- dutos ou serviços idênticos ou semelhantes e com ela possa confundir-se».

Face a esta definição legal é de notar que o facto de a marca ser notória não exclui a especialidade da marca, isto é, para além de ser notoriamente conhecida, a marca tem de pretender assinalar produtos ou serviços idênticos ou semelhantes e tem de ser confundível.

Relativamente à marca de grande prestígio, dispõe o ar- tigo 191.° que «sem prejuízo do disposto no artigo anterior, o pedido de registo será igualmente recusado se a marca, ainda que destinada a serviços ou produtos não semelhan- tes, for gráfica ou foneticamente idêntica ou semelhante a uma marca anterior que goze de grande prestígio em Portu- gal ou na comunidade e sempre que o uso da marca poste- rior procure, sem justificado motivo, tirar partido indevido do carácter distintivo ou do prestígio da marca ou possa prejudicá-los».

Aqui, sim, fica afastado o princípio da especialidade da marca, conferindo o registo um direito de exclusivo abso- luto.

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As recorrentes, no início do articulado, alegam se- rem as marcas notórias mas, nos artigos 19.° a 21.°, invocam o grande prestígio das suas marcas. Sucede, porém, que não foram alegados quaisquer factos de onde se possa extrair a conclusão de que as marcas em causa são marcas notórias ou de grande prestígio, con- forme a situação. As recorrentes não alegam qualquer facto, limitam-se a afirmar que as suas marcas gozam de «reputação e prestígio» e que têm «uma excepcio- nal capacidade distintiva». Ora, tais deveriam ser as conclusões a extrair dos factos alegados e não a pró- pria matéria alegada sem qualquer facto de suporte.

Logo, não ficou demonstrado que se trate de marcas notórias ou de marcas de grande prestígio pelo que a pro- tecção a conferir às marcas é exactamente a mesma que a conferida a quaisquer outras marcas.

Face a todo o exposto, não se podendo considerar a marca recorrida imitação das marcas das recorrentes, não se pro- vando serem estas marcas notórias ou de grande prestígio nem ser possível a existência de concorrência desleal e por o despacho recorrido não ter violado nenhuma disposição do CPI, não há fundamento para a sua revogação.

III - Decisão. - Tudo visto, negando-se provimento ao recurso, mantém-se o despacho do Sr. Chefe de Divisão da Direcção de Marcas Internacionais do INPI que concedeu o registo à marca n.° 702 635, Citystar APG, concedendo-se assim protecção jurídica nacional à referida marca.

Nos termos do artigo 6.°, n.° 1, alíneas a) e q), do Códi- go das Custas Judiciais, fixo ao recurso o valor tributário de 40 UC.

Custas pela recorrente, com taxa de justiça reduzida a metade [artigos 446.°, n.° 1, in fine, do Código de Processo Civil e 14.°, alínea j), do Código das Custas Judiciais].

Registe e notifique.

Após trânsito em julgado da sentença e com cópia da mesma, devolva o processo apenso ao INPI (artigo 44.° do (CPI).

Referências

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