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CRÍTICA - ELA Ela Spike Jonze Theodore Beautiful Handwritten Letters Catherine Samantha Amy Matt Letscher

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Academic year: 2021

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CRÍTICA - ELA

Na primeira cena de Ela, novo filme do genial Spike Jonze (Onde Vivem os Monstros), contemplamos por algum tempo o rosto triste do

protagonista Theodore (Joaquin Phoenix). O personagem começa então a abrir seu coração e se declara, de modo confessional, a alguém.

Porém, pouco depois, a câmera se afasta do rosto de Theodore e podemos compreender o contexto da cena: o personagem não está se declarando a ninguém. Na verdade, ele está trabalhando, já que

Theodore escreve cartas sob encomenda numa empresa ironicamente chamada de Beautiful Handwritten Letters (algo como Lindas Cartas Escritas à Mão, em tradução livre).

Dessa forma, a primeira cena de Her nos prepara para o principal tema (afinal, aquelas palavras evocam sentimentos menos verdadeiros por terem sido escritos por outra pessoa? O que faz com que esse

sentimento, o amor, seja real: quem ama, quem é amado ou o caminho pelo qual o amor é expresso?) de um filme que se dedica a olhar com mais cuidado para nós e para nossas relações.

Na trama de Her, acompanhamos a vida do já citado Theodore, que está no estágio final do seu processo de divórcio com Catherine (Rooney Mara), com quem foi casado por muito tempo. Theodore está triste, melancólico, depressivo e solitário, apesar de viver em um mundo que beira a utopia, onde o conforto e a praticidade estão profundamente entranhados na vida das pessoas. É nesse momento que Theodore compra um sistema operacional com inteligência artificial que, recebendo um pouco de “influência” do homem, se torna Samantha (Scarlett

Johansson), um adorável, cativante, alegre e curioso ser que passa a desenvolver sua própria personalidade a partir disso.

Logo, os dois acabam se apaixonando e iniciam uma relação, enquanto Theodore ainda precisa lidar com o seu divórcio e com a sua amizade com a sensível (e humana) Amy (Amy Adams). O elenco do filme fica completo com a adição de Matt Letscher, que vive Charles, o namorado

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ligeiramente chato de Amy e Chris Pratt, que interpreta um colega de trabalho de Theodore chamado Paul.

Muita gente tem dito que Ela é um filme que fala sobre como nós

estamos nos distanciando um do outro em nossas relações humanas e como temos dependido cada vez mais da tecnologia em nossas vidas para que possamos nos sentir completos (um namoro com um

computador? Uma parternidade falsa com um video-game?). Eu acho que é um bom ponto de vista e, honestamente, acho que é muito válido tirar essa mensagem do filme, embora eu concorde apenas parcialmente com essa interpretação.

Eu não posso concordar totalmente com essa visão de Ela porque dizer que “o filme mostra como estamos nos distanciando um do outro em nossas relações e como temos dependido cada vez mais da tecnologia em nossas vidas” dá um aspecto negativo para a relação entre Theodore e Samantha. Dizer isso é como dizer “Olha pra esse cara, apaixonado pelo celular ao invés de sair e conhecer alguém de verdade“, o que completamente não é o que o filme diz.

Alan Watts, um filósofo britânico conhecido por “levar” muito da filosofia asiática para o Ocidente há algumas décadas atrás, disse que “o

pensador não tem nenhuma outra forma do que o seu pensamento“, o que é uma maneira bem hippie e zen de dizer “Penso, logo existo” – mas considerando que Watts viveu uns 350 anos depois de Descartes, era de se esperar que ele colocasse mais palavras na frase. Eu não estou

citando Watts apenas para tentar parecer culto (embora eu TAMBÉM esteja citando Watts para tentar parecer culto), mas é porque o filme o cita primeiro: em determinada cena, o filósofo “aparece” para conversar com Theodore e Samantha, dublado por Brian Cox, como uma espécie de “sinal” de Spike Jonze. É como se o roteirista e diretor do filme nos dissesse “Olhem pra esse nome, esperem a sessão acabar e usem os seus smartphones para googlar e conhecer a obra desse cara“.

Entendendo isso. a gente pode entender porque Samantha não tem um corpo – porque o que define uma identidade individual é a sua

capacidade de pensar. Samantha não tem um corpo porque qualquer corpo, seja o de Scarlett Johansson ou não, iria diluir a mensagem de

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que relacionamentos são o resultado a união de duas identidades, que crescem, aprendem e evoluem em conjunto não só através das suas interações com o mundo, mas com eles próprios. Não importa a

aparência, sexualidade, nacionalidade, idade ou qualquer outro tipo de fisicalidade, relacionamentos são sobre o encontro de duas existências – e essa ideia é reproduzida de maneira BRILHANTE na primeira cena de sexo entre Theodore e Samantha, quando a tela escurece e não vemos mais nada, apenas ouvimos a voz dos dois, não só contrastando

incrivelmente com a cena de sexo anterior, como mostrando também que a maneira suprema de expressão do amor é feita com a união daquelas identidades (qualquer que seja a forma física daqueles dois).

Agora, sabendo que eu soei terrivelmente hippie no parágrafo anterior, eu vou cortar o papo sobre o significado de Ela antes que eu comece a dizer que devemos todos abraçar uma árvore perante o amor do Pai Sol – porém, quero muito saber o que VOCÊ (sim, você!) pensa sobre o filme. Ela é um longa que faz tantas perguntas e expõe tantas situações, que é plenamente natural que cada um de nós traçamos nossa visão do filme com base nas nossas próprias experiências.

Falando um pouco sobre as atuações do filme, é incrível ver como Joaquin Phoenix é um dos melhores atores do mundo na

atualidade. O trabalho do cara é tão bom, que é quase impossível pra um leigo em atuação como eu tentar explicar porque é tão bom – é como ver uma sonda espacial ir até Marte explorar o planeta: eu não faço a menor ideia de como aquilo é possível, mas o resultado é inegavelmente

fantástico. O Theodore interpretado por Phoenix é um cara sensível e solitário, mas não anti-social, dotado de incrível vulnerabilidade.

Scarlett Johansson entrega uma ótima performance ao retratar, ironias à parte, uma Samantha muito humana. Limitada de grande parte da expressividade que uma atuação corporal proporcionaria, Johansson faz um trabalho notável à conferir tanta personalidade através apenas da sua voz, justificando a campanha que a Warner fez para que ela recebesse algumas indicações nessa temporada de prêmios em Hollywood e justificando também o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Roma do ano passado.

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Já Spike Jonze, o cérebro por trás de Ela, cava definitivamente seu lugar como um dos mais talentosos, inspirados e interessantes cineastas da atualidade. Ele não só consegue transpor um ótimo ritmo de história no roteiro do filme, como ainda escreve alguns ótimos diálogos que casam de maneira perfeita com as interpretações do seu elenco. Além disso, Jonze também mostra uma maturidade significativa enquanto diretor, usando alguns recursos bem legais para compor suas cenas e trabalhar a mensagem e as perguntas que quer fazer com o filme – por exemplo, em um determinado momento, a personagem de Amy Adams mostra parte do documentário que está fazendo para seu namorado e Theodore. O material consiste basicamente da sua mãe dormindo por alguns minutos e ela depois explica a filmagem, dizendo que é quando dormimos que estamos mais livres e blablabla. Seu namorado sugere que ela pergunte para sua mãe com o que ela sonhava e contrate alguns atores para interpretar esse sonho, deixando mais visual a mensagem que ela queria passar – confrontada com isso, Amy responde que se ela fizesse como o namorado diz, então seu filme não seria um

documentário (voltando a bater na tecla do “o que é real ou não?”, como na abertura do filme). No fim dessa cena, Theodore olha por uma janela de maneira contemplativa – e Jonze aproveita então para nos mostrar no que ele está pensando, exatamente como o namorado de Amy sugeriu na cena anterior.

Eu estaria sendo muito injusto se não separasse pelo menos um

parágrafo para comentar alguns detalhes sobre todo o cenário onde se passa essa história. Essa Los Angeles do futuro, que é o palco para todos os eventos do filme, é uma mistura entre a Los Angeles e a

Shanghai de hoje (inclusive, alguns prédios famosos da cidade chinesa podem ser vistos em algumas cenas do longa), tudo feito com cores sem textura e materiais que criam a impressão de se tratar de um ambiente muito acolhedor e utópico. Com uma mistura de ideias e conceitos

futuristas, mas uma “moda” retro, essa Los Angeles é uma mistura entre o passado e o futuro (talvez resultando no presente?).

E Ela é isso, uma história que fala sobre a nossa necessidade de conexão com alguém, sobre a natureza dos nossos relacionamentos e sobre o processo de crescer e evoluir ao lado de alguém. É um filme pessoal, belo, humano, universal, afetivo e inesquecível, que transcende

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o seu gênero e que marca profundamente a sua platéia – exatamente como o Cinema deveria ser.

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