DEZ ANOS DE (DE)IGUALDADE DE GÉNERO NO TRABALHO E EMPREGO (2001‐2011)
Introdução
A igualdade entre mulheres e homens é um direito fundamental que a Constituição da República Portuguesa consagra no seu artigo 1º, sendo a sua promoção uma tarefa fundamental do Estado (artigo 9º). A igualdade de género é, igualmente, um valor fundamental da União Europeia, constituindo‐se como um princípio do direito comunitário consagrado no artigo 2º e no n.º 2 do artigo 3º do Tratado da Comunidade Europeia. É reconhecido nos instrumentos de política, mais estratégicos, que a igualdade entre mulheres e homens é pré‐condição para o crescimento sustentável, para o emprego, a competitividade e a coesão social. No entanto, e não obstante o quadro jurídico, nacional e europeu, e os esforços e iniciativas encetados no sentido de tornar a igualdade de género numa realidade, o facto de homens e mulheres não participarem de forma equitativa no mercado de trabalho, na vida familiar e nos processos de tomada de decisão, demonstra que a igualdade de género ainda não é uma realidade.
Este relatório, que apresenta indicadores estatísticos que permitem fazer um retrato sintético da situação das mulheres e dos homens no mercado de trabalho em Portugal, ao longo da década de 2000, mostra que foram alcançados alguns progressos no sentido de uma maior igualdade, No entanto, o ritmo dos avanços é, no geral, ainda muito lento, sendo, portanto, o mercado de trabalho marcado pela persistência de uma elevada assimetria dos indicadores de género.
As mulheres continuam a enfrentar mais dificuldades do que os homens em aceder e participar na vida profissional, bem como em conciliar o trabalho com a vida familiar. Em contrapartida, é fundamental que os homens assumam uma maior quota na partilha das responsabilidades familiares.
Assim, para alterar esta realidade, para além das necessárias políticas e medidas que promovam a igualdade de género, é fundamental uma mudança de mentalidade e a desconstrução de estereótipos acerca dos papéis e competências de homens e mulheres.
I ‐ Participação no Mercado de Trabalho: Emprego e Desemprego
Em Portugal a participação feminina na atividade profissional é elevada, tendo mantido uma tendência de crescimento ao longo da última década.
Até 2008 registou‐se um aumento contínuo da taxa de atividade em Portugal decorrente da evolução da taxa de atividade feminina, que anulou o ligeiro decréscimo verificado na taxa de atividade masculina, no mesmo período, levando a que o diferencial entre a taxa de atividade dos homens e das mulheres se tenha esbatido.
O crescimento contínuo da taxa de atividade feminina entre 2001 e 2010 resultou de um aumento da população ativa feminina, que neste período aumentou em 208,3 mil pessoas, enquanto que o aumento da população ativa masculina foi somente de 84,6 mil pessoas, para o mesmo período.
Neste mesmo período, a taxa de atividade feminina aumentou 2,7 p.p. (de 53,6% para 56,3%) face a um decréscimo de ‐2,3 p.p. (de 70,2% para 67,9%) da taxa de atividade masculina. Em 2010, a taxa de atividade feminina atinge o valor mais elevado da década (idêntico ao de 2007), enquanto que, pelo contrário, a taxa de atividade masculina atingiu o valor mais baixo desde 1998.
Esta evolução reflete uma tendência de convergência das taxas de atividade feminina e masculina, sendo, no entanto, o diferencial entre ambas ainda favorável aos homens (de 16,6 p.p. em 2001 para 11,6 p.p. em 2010).
Em 2011, verificou‐se um decréscimo da população ativa em Portugal, embora o registado para as mulheres (‐29,7 mil pessoas) tenha sido inferior ao decréscimo registado na população ativa masculina (‐45,5 mil pessoas).
Elevada participação feminina na atividade profissional em
Portugal
A taxa de atividade1 em 20112, em Portugal, foi de 61,3%, sendo de 68% para os homens e de 55,2% para as mulheres, tendo o diferencial entre a taxa de atividade dos homens e a das mulheres sido de 12,8%. Gráfico 1 – Taxa de atividade em Portugal, por sexo, 2001‐2011 70,2 70,5 70,0 69,7 69,4 69,7 69,5 69,4 68,2 67,9 68,0 53,6 54,2 54,7 54,8 55,6 55,8 56,3 56,2 56,0 56,3 55,2 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011*
Total Homens Mulheres
*quebra de série
Fonte: INE, Inquérito ao Emprego
De referir, também, que, no período entre 2001 e 2010, a taxa de atividade das mulheres cresceu em todas as regiões (NUT II) do país, enquanto que a dos homens diminuiu em quase todas as regiões, com excepção do Algarve e da Região Autónoma dos Açores, onde aumentou.
1 A taxa de atividade representa a relação entre a população ativa (empregada mais desempregada) com 15 e mais anos e a população total com 15 e mais anos. 2 Iniciou‐se no 1º trimestre de 2011 uma nova série do Inquérito ao Emprego. Esta nova série configura uma quebra de série de dados estatísticos, o que, segundo o INE, impossibilita comparações directas com a série anterior. Assim, as análises do mercado de trabalho feitas nesta publicação, com dados do Inquérito ao Emprego, realizam‐se em dois períodos, 2001‐2010 e 2011.
Comparativamente aos países da UE27, Portugal é dos países com maior participação das mulheres na atividade profissional. Em 20113, a taxa de atividade feminina (15 ‐ 64 anos) em Portugal (69,8%) apresentava‐se superior à média da UE27 (64,9%)4. De realçar que nos países onde esta taxa é superior à registada em Portugal, a percentagem de mulheres que trabalham a tempo parcial é, de modo geral, muito mais elevada. Quadro 1 – Taxa de atividade (15 – 64 anos) em Portugal e na UE27, por sexo, 2011
Total Homens Mulheres
UE27 71.2% 77,6% 64,9%
Portugal 74,1% 78,5% 69,8%
Fonte: Eurostat, Labour Force Survey, 2011
À semelhança do observado para a taxa de atividade, também o emprego em Portugal manteve ao longo da última década uma tendência muito ligeira de crescimento, que começou a inverter‐se em 2009.
Entre 2009 e 2010, o decréscimo líquido de emprego foi de cerca ‐76 mil pessoas, com um valor mais elevado para os homens (‐43 mil) do que para as mulheres (‐33 mil). Gráfico 2 – População empregada (>=15 anos) em Portugal, por sexo, 2001‐2011
3 INE, Inquérito ao Emprego 2011 4 EUROSTAT, Labour Force Survey, 2011
0,0 1000,0 2000,0 3000,0 4000,0 5000,0 6000,0 Total Homens Mulheres Total 5111,7 5137,3 5118,0 5122,8 5122,5 5159,5 5169,7 5197,8 5054,1 4978,2 4837,0 Homens 2809,8 2816,4 2787,1 2784,2 2765,4 2789,7 2789,3 2797,1 2687,6 2644,5 2574,5 Mulheres 2302,0 2320,9 2330,9 2338,6 2357,2 2369,8 2380,4 2400,7 2366,5 2333,6 2262,5 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011* * quebra de série Fonte: INE, Inquérito ao Emprego Também a taxa de emprego5 se manteve relativamente estável ao longo da década até 2009, quando regista um decréscimo de ‐1,9p.p. em relação a 2008. A tendência de crescimento do emprego até 2009, bem como a relativa estabilidade da taxa de emprego, deveu‐se a um crescimento significativo do volume total do emprego feminino e consequente aumento contínuo, embora lento, da taxa de emprego feminino, ao contrário do sucedido com o emprego masculino, que decresceu, perdendo de 2001 a 2010 ‐165 mil postos de trabalho.
A partir de 2009 a taxa de emprego em Portugal regista uma tendência mais acentuada de decréscimo, que atinge tanto os homens como as mulheres, embora o decréscimo da taxa de emprego para os homens seja mais acentuado que para as mulheres, o que se justifica pelo facto da crise financeira de 2008, e a subsequente recessão económica, estar a ter, pela natureza dos sectores da economia que têm sido mais afectados, um impacto mais significativo sobre o emprego dos homens.
5
A taxa de emprego é a relação entre a população empregada com 15 a 64 anos e a população total com 15 a 64 anos.
Os decréscimos mais acentuados da taxa de emprego dos homens conduziu a uma redução do diferencial entre as taxas de emprego dos homens e a das mulheres, embora em 2011 este ainda seja de 7.7 p.p. a favor dos homens (no inicio da década, em 2001, era de 15,4 p.p. a favor dos homens). Em geral, o diferencial entre as taxas de emprego dos homens e das mulheres aumenta com a idade, atingindo o seu valor mais elevado nos grupos de trabalhadores/as mais velhos/as (55 a 64 anos e 65 e mais anos). O decréscimo da taxa de emprego em Portugal, a partir de 2009, afastou o país da meta fixada pela Cimeira de Lisboa para 2010, 70%. Em Portugal a taxa de emprego fixou‐se, em 2010, em 65,6% quando em 2008 tinha sido de 68,2%. É, no entanto, de realçar que a taxa de emprego feminino superou, desde o ano 2000, a meta estabelecida na Cimeira de Lisboa para a UE para 2010, 60%, e que apesar do decréscimo que se regista nesta taxa desde 2009, ela ainda se mantém acima dos 60%.
Em 2011, a taxa de emprego em Portugal situou‐se nos 64,2%, sendo de 68,1% para os homens e de 60,4% para as mulheres. Gráfico 3 – Taxa de emprego em Portugal, por sexo, 2001‐2011
Entre 2001 e 2011 dá‐se uma redução acentuada do diferencial
entre as taxas de emprego dos homens e das mulheres
68,1 76,7 76,3 74,8 74,1 73,4 73,9 73,9 74,0 71,1 70,1 61,3 61,4 61,4 61,7 61,7 62,0 61,9 62,5 61,6 61,1 60,4 50,0 60,0 70,0 80,0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011* %
Total Homens Mulheres
* quebra de série Fonte: INE, Inquérito ao Emprego Apesar do decréscimo da taxa de emprego portuguesa ao longo da última década, ela era em 2011 apenas 0,1 p.p. inferior à observada para a média da UE27. Mas comparando a evolução da taxa de emprego de Portugal com a média da UE27, de 2001 a 2010 e em 2011, verificamos que a taxa de emprego portuguesa registou uma tendência inversa à da UE27, tendo diminuído, enquanto a média da UE27 aumentou.
A taxa de emprego para os homens regista uma diminuição quer em Portugal quer no conjunto da UE27, sendo, no entanto, o ritmo de diminuição em Portugal muito superior ao verificado para a média comunitária, que estabilizou em 2011. A taxa de emprego para as mulheres, inversamente, regista um crescimento, sendo o ritmo de crescimento em Portugal inferior ao verificado para a média UE27, tendo mesmo diminuído a partir de 2009.
Também o diferencial entre a taxa de emprego masculina e feminina regista uma tendência de decréscimo, quer em Portugal, quer na UE27, tendo, no entanto, o decréscimo deste diferencial sido mais acentuado em Portugal do que na média da UE27, como resultado de uma quebra mais acentuada na taxa de emprego masculina.
Quadro 2 – Taxa de emprego por sexo em Portugal e UE27, 2001, 2010 e 2011
Total Homens Mulheres Diferencial H/M
2001 2010 2011 2001 2010 2011 2001 2010 2011 2001 2010 2011 UE27 62,6 64,1 64,3 70,9 70,1 70,1 54,3 58,2 58,5 16,6 11,9 11,6 Portugal 69,0 65,6 64,2* 77,0 70,1 68.1* 61,3 61,1 60,4* 15,7 9,0 7,7 *quebra de série Fonte: Eurostat, Labour Force Survey, 2011 Analisando a taxa de emprego por grupo etário, ao longo da última década, constatamos que entre 2001 e 2010, a taxa de emprego feminina diminuiu menos que a masculina em todos os grupos etários, com excepção do grupo entre os 55 e os 64 anos, onde a taxa relativa às mulheres aumentou e a dos homens desceu.
Também em relação a 2011, se verifica a mesma tendência. Ao longo do ano, a taxa de emprego feminina diminuiu menos que a taxa relativa ao emprego masculino em todos os grupos etários, com exceção dos jovens (15 a 24 anos), onde as raparigas apresentaram um decréscimo ligeiramente superior ao dos rapazes.
Em todas as regiões (NUT II) de Portugal, a taxa de emprego masculina é sempre superior à feminina. Não obstante, de 2001 a 2010, a taxa de emprego apresentou decréscimos menos intensos para as mulheres do que para os homens em todas as regiões do país, tendo, pelo contrário, a taxa relativa às mulheres registado um acréscimo na região Centro, no Alentejo, no Algarve e nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores.
A população empregada com o ensino superior é
predominantemente feminina
Quanto ao grau de instrução, a maioria da população empregada em Portugal não possui mais do que o 3.º ciclo do ensino básico, sendo esta situação mais relevante para os homens do que para as mulheres (em 2011, 66,4% dos homens empregados possuíam o 3º ciclo contra 55,2% das mulheres). No entanto, o nível de qualificações académicas da população empregada melhorou ao longo da última década para ambos os sexos, ainda que de forma mais evidente no caso da população feminina. A população empregada com o ensino superior é predominantemente feminina (58,5% %, face a 41,5 % para os homens). Já no que se refere ao ensino secundário e pós‐secundário são os homens que representam a maioria da população empregada com este nível de qualificação, com 50,3% face a 49,7% para as mulheres. Gráfico 4 – População empregada (%) segundo as habilitações, por sexo, 2011* 57,8 50,3 41,5 42,2 49,7 58,5 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 Até ao ensino básico ‐ 3.º ciclo Secundário e pós‐ secundário Superior Homens Mulheres *quebra de série Fonte: INE, Inquérito ao Emprego O desemprego em Portugal aumentou de forma sistemática desde o inicio da década de 2000, passando de 4% em 2001 para 10,8% em 20106. Em 2011, a taxa de desemprego7 situou‐se nos 12,9%, sendo de 12,7% para os homens e de 13,2% para as mulheres.
6 População desempregada com 15 e mais anos. 7 População desempregada dos 15 a 74 anos. INE, Inquérito ao Emprego 2011.
Analisando o desemprego por sexo, verifica‐se que as mulheres estão mais expostas às situações de desemprego, apresentando sistematicamente taxas de desemprego superiores às dos homens. O diferencial entre as taxas de desemprego das mulheres e dos homens, que foi praticamente constante até meio da última década, tem vindo a acentuar‐se em desfavor das mulheres desde 2005, exceptuando‐se o ano de 2008, onde se registou uma descida da taxa de desemprego feminina de ‐0,8p.p. comparativamente a 2007, enquanto que o desemprego masculino só diminuiu ‐0,1p.p., e o ano de 2009, onde se registou uma subida da taxa de desemprego masculina de 2,4p.p. comparativamente com 2008.
Entre 2009 e 2010, o aumento verificado na taxa de desemprego em Portugal foi mais acentuado no caso das mulheres (1,7 p.p. para as mulheres contra 0,9 p.p. para os homens), ampliando‐se novamente o diferencial entre a taxa feminina e a masculina. Gráfico 5 – Taxa de desemprego, por sexo, 2001‐2011 5,8 6,7 12,7 5,0 11,9 3,2 4,1 5,5 6,5 6,6 6,5 8,9 9,8 6,0 7,2 7,6 8,7 9,0 9,6 8,8 10,2 13,2 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011* %
Total Homens Mulheres
*quebra de série
As mulheres estão mais expostas às situações de desemprego,
apresentando sistematicamente taxas de desemprego superiores às dos
Fonte: INE, Inquérito ao Emprego
A taxa de desemprego feminina foi, entre 2001 e 2010, sempre mais elevada do que a masculina em todas as regiões, com excepção da Madeira nos anos de 2009 e 2010. As regiões que apresentaram um maior diferencial entre as taxas de desemprego feminina e masculina foram o Norte e o Alentejo. As regiões onde as taxas mais se aproximaram foram a de Lisboa e o Algarve.
Em 2011, apesar da taxa de desemprego feminina continuar a ser mais elevada do que a dos homens, em termos regionais só se observava esta situação nas regiões Norte, Centro e Alentejo. Refira‐se que a taxa de desemprego feminina em Lisboa foi 2.5 p.p. inferior à dos homens e na região autónoma da Madeira 3.1 p.p.
Em 2011, ao contrário do verificado em 2010, e de acordo com os dados do Inquérito ao Emprego, o peso relativo do desemprego de longa duração8 foi ligeiramente mais elevado para as mulheres do que para os homens (53,4 % nas mulheres e 52,8 % nos homens), embora tenham sido os homens que mais contribuíram para o aumento do peso relativo do desemprego de longa duração no desemprego total.
Analisando a evolução do desemprego de longa duração, verificamos que a partir de 2006 o peso do desemprego de longa duração passa a ser mais expressivo para os homens do que para as mulheres (com excepção do ano de 2009 e 2011), situação esta que constitui uma inversão da tendência do peso relativo do desemprego de longa duração ser uma característica do desemprego feminino. Quadro 3 – Rácios do Desemprego DLD/DT 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011*
8 12 meses e mais.
Maioria da população desempregada está em situação de desemprego
de longa duração
Taxa (%) HM 40,0 37,2 37,8 46,3 49,9 51,7 48,9 49,8 46,5 54,3 53,1 H 39,8 35,9 35,0 45,1 48,9 52,7 49,2 50,5 43,2 54,4 52,8 M 40,2 38,2 40,2 47,3 50,8 50,9 48,7 49,2 49,7 54,2 53,4 * quebra de série Fonte: INE, Inquérito ao Emprego A incidência do desemprego é mais relevante na população jovem e a diferença entre as taxas de desemprego das raparigas e dos rapazes são particularmente acentuadas. A leitura dos dados por sexo, neste grupo, mostra uma proporção menor de desemprego dos rapazes (‐3 p.p. em 2011) comparativamente à taxa de desemprego das raparigas, embora com tendência de uniformização, como resultado do aumento bastante acentuado do desemprego dos rapazes em 2009 e 2010. A maior taxa de desemprego das raparigas é o reflexo da ainda maior dificuldade destas, comparativamente com os rapazes, em aceder ao mercado de trabalho. Gráfico 6 – Taxa de desemprego de jovens 15 a 24 anos9, por sexo, 2001‐2011
9 A taxa de desemprego é igual ao total da população desempregada neste escalão de idade/população ativa no respectivo escalão etário.
Desemprego feminino atinge sobretudo as mulheres mais jovens
7,2 9,8 12,4 13,5 13,7 14,5 13,5 13,3 18,7 21,2 28,7 12,1 14,0 17,0 17,6 19,1 18,4 20,3 20,2 21,6 23,7 31,7 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011*
Total Homens Mulheres
*quebra de série
Fonte: INE, Inquérito ao Emprego
A taxa de desemprego feminina diminui à medida que aumenta a idade das mulheres, apresentando o valor mais baixo no grupo etário dos 55 a 64 anos, 9,4% em 2011.
Para este comportamento menos favorável do desemprego das mulheres tem contribuído o facto da respectiva população ativa ter vindo a aumentar a um ritmo muito superior ao registado para os homens, verificando‐se também, por essa razão, uma maior dificuldade do mercado de trabalho para a absorção desse maior crescimento da população ativa feminina.
O desemprego encontra‐se sobretudo concentrado nos indivíduos com baixos níveis de escolaridade (até ao 9.º ano de escolaridade). Em termos relativos registam‐se diferenças, particularmente, acentuadas no desemprego segundo o sexo, nos níveis educacionais mais elevados. Na população com qualificações académicas ao nível do ensino secundário e superior o desemprego masculino apresenta valores inferiores ao feminino, mas a maior diferença entre sexos regista‐se ao nível do ensino superior, onde o desemprego das mulheres
licenciadas é muito superior ao dos homens. Esta situação, de maior representatividade das mulheres entre a população desempregada com habilitações académicas de nível superior, é reflexo da maior dificuldade que as mulheres em Portugal enfrentam no mercado de trabalho, mesmo quando detêm qualificações académicas. Gráfico 7 – População desempregada (%) segundo as habilitações, por sexo, 2011* 55,3 45,2 44,8 44,7 54,8 55,2 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 Até ao ensino básico ‐ 3.º ciclo Secundário e pós‐ secundário Superior Homens Mulheres *quebra de série Fonte: INE, Inquérito ao Emprego
II – Segregação do Mercado de Trabalho
No mercado de trabalho, os homens e as mulheres não estão uniformemente distribuídos entre as principais categorias ocupacionais e atividades económicas. A segregação sexual no mercado de trabalho, quer em termos de ocupação ou sector de atividade, é estrutural e não tem sofrido alterações muito significativas, tendo o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho ocorrido principalmente em ocupações e sectores já muito feminizados. A entrada em força das mulheres no mercado de trabalho também não se traduziu num amplo exercício profissional feminino nos trabalhos mais qualificados. Pese embora a percentagem de mulheres a exercerem ocupações mais qualificadas tenha aumentado, a segregação vertical ainda é evidente.
O maior nível de qualificações académicas das mulheres não se reflete diretamente nas posições que elas ocupam no mercado de trabalho. As mulheres trabalham em sectores e profissões muito feminizadas e ocupam as categorias mais baixas e com menos acesso a posições de direção ou chefia.
Apesar das mulheres já possuírem níveis de habilitação mais elevados do que os homens, são, segundo os dados dos Quadros de Pessoal10, as categorias que correspondem a um nível de qualificação mais baixo aquelas que apresentam uma taxa de feminização mais elevada, ou seja, as relativas aos grupos “profissionais semi‐qualificados” (58,5% são mulheres), “não qualificados” (55,3% são mulheres) e “praticantes e aprendizes” (51% são mulheres).
10
Quadros de Pessoal 2010, último ano para o qual existem dados disponíveis. MSSS/GEP - SISED
As mulheres trabalham em sectores e profissões muito feminizadas e
ocupam as categorias mais baixas e com menos acesso a posições de
direção ou chefia.
As categorias profissionais com níveis de qualificação baixa
apresentam taxas de feminização mais elevadas
Quadro 4 – Taxa de feminização dos trabalhadores por conta de outrem segundo os níveis de
qualificação, 2010
Total Homens Mulheres Taxa feminização Milhares % Total 2.599.509 1.404.782 1.194.727 46 Quadros superiores 204.548 115.830 88.718 43,4 Quadros médios 143.693 80.199 63.494 44,2 Encarregados, mestres, chefe equipa 129.097 86.157 42.940 33,3 Profissionais altamente qualificados 192.972 102.795 90.177 46,7 Profissionais qualificados 996.346 614.951 381.395 38,3 Profissionais semi qualificados 519.961 215.998 303.963 58,5 Profissionais não qualificados 311.659 139.247 172.412 55,3 Praticantes e aprendizes 101.233 49.605 51.628 51 Fonte: MSSS/GEP, Quadros de pessoal No entanto, e embora sejam mais feminizadas as categorias profissionais às quais corresponde um nível de qualificação mais baixo, tem‐se verificado um aumento da representação das mulheres nos quadros superiores (33,9% em 2002 contra 43,4% em 2010), nos quadros médios (40,5% em 2002 e 44,2% em 2010), nos encarregados/as, contramestres e chefes de equipa (de 23,8% em 2002 para 33,3% em 2010) e nos profissionais altamente qualificados (de 44,3% em 2002 para 46,7% em 2010).
A segregação do mercado de trabalho em função do sexo é também evidente ao nível das profissões e das atividades económicas.
Quanto às profissões exercidas, verifica‐se que o nível de habilitações das mulheres não as favorece, sendo, em 201111, as profissões ligadas ao grupo “trabalhadores não qualificados” (73,4 %), ao grupo “pessoal administrativo” (64,9 %) e grupo “trabalhadores dos serviços
11
pessoais, proteção e segurança e vendedores” (62,9 %), onde se verifica um maior predomínio das mulheres. Contudo, as mulheres encontram‐se também sobrerepresentadas ao nível das profissões do grupo “especialistas das atividades intelectuais e científicas” (57,5%). No entanto, uma análise de âmbito temporal mais extenso permite verificar que enquanto o aumento do peso relativo das mulheres ocorre essencialmente nos grupos profissionais mais feminizados e de menor nível de qualificação, a participação dos homens nestes mesmos grupos diminuiu. Assim, entre 2001 e 201012, a participação das mulheres no grupo “trabalhadores não qualificados” aumentou de 62% para 66,7%, enquanto a dos homens diminuiu de 38% para 33,3%; a participação das mulheres no grupo “pessoal administrativo e similares” aumentou de 62,3% para 63,1% e a dos homens diminuiu de 38,7% para 36,9%; no grupo “pessoal dos serviços e vendedores” a participação das mulheres passou de 64,1% para 67,3%, enquanto a participação dos homens diminuiu de 35,9% para 32,7%.
12
Devido à quebra de série do Inquérito ao Emprego em 2011, esta análise de evolução do peso relativo das mulheres e homens nas profissões é feita apenas entre 2001 e 2010, uma vez que uma quebra de série impossibilita comparações diretas com a série anterior.
As mulheres predominam nas profissões menos qualificadas apesar
do aumento acentuado do seu nível de habilitações literárias
As mulheres já representam mais de metade dos efetivos a nível das
profissões intelectuais e científicas
Gráfico 8 – População empregada (15 e mais anos) em Portugal por profissão e sexo, 2011 (%) 67,30% 42,50% 59,90% 35,10% 37,10% 60,30% 84,00% 71,00% 26,60% 32,70% 57,50% 40,10% 64,90% 62,90% 39,70% 16,00% 29,00% 73,40% 0% 25% 50% 75% 100%
Representantes do poder legislativo e de orgãos executivos, dirigentes, diretores/as e gestores/as Especialistas das atividades intelectuais e
científicas
Técnicos/as e profissionais de nível intermédio Pessoal administrativo Trabalhadores/as dos serviços pessoais, de
proteção e segurança e vendedores Agricultores/as e trabalhadores/as qualificados da
agricultura, da pesca e da floresta Trabalhadores/as qualificados da indústria,
construção e artifícies
Operadores/as de instalações e máquinas e trabalhadores/as da montagem Trabalhadores/as não qualificados/as
Homens Mulheres
Fonte: INE, Inquérito ao Emprego
A análise do emprego segundo a atividade económica mostra que as mulheres apenas predominam no sector terciário (56,1%). Em 201113, as atividades mais feminizadas foram “outros serviços” (85,5%), “atividades da saúde humana e apoio social” (80,7%), “educação” (76,7%), “alojamento, restauração e similares” (60,5%) e “atividades administrativas e dos serviços de apoio” (52,1%).
13
Por seu turno, a predominância dos homens é evidente nas atividades “construção” (94 %), “indústria extrativa” (87,4 %), “electricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio” (85,2 %), “captação, tratamento e distribuição água; saneamento, gestão de resíduos e despoluição” (85,2%) e dos “transportes e armazenagem” (82,7 %).
De destacar que, nos últimos anos da década passada14, a taxa de participação das mulheres aumentou em maior proporção nas atividades em que a predominância dos homens é tradicionalmente mais evidente, nomeadamente na “captação, tratamento e distribuição de água; saneamento” na “indústria extrativa” e na “construção”. Em contrapartida, em nenhuma das atividades em que a predominância das mulheres é tradicionalmente mais evidente se verificou um aumento, com algum significado, da participação dos homens. Gráfico 9 – População empregada (15 e mais anos) em Portugal por sector de atividade e sexo (%), 2011 59,3 72,5 87,4 59,7 85,2 85,2 94,0 43,9 53,6 82,7 39,5 67,6 55,6 52,1 48,4 47,9 63,0 23,3 19,3 50,6 14,5 40,7 27,5 12,6 40,3 14,8 14,8 6,0 56,1 46,4 17,3 60,5 32,4 44,4 47,9 51,6 52,1 37,0 76,7 80,7 49,4 85,5 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca Indústria, construção, energia e água Indústria extrativa Indústrias transformadoras Captação, tratamento e distribuição água; saneamento, gestão de resíduos e despoluição Eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio Construção Serviços Comércio por grosso e a retalho Transportes e armazenagem Alojamento, restauração e similares Atividades de informação e de comunicação Atividades financeiras e de seguros Atividades imobiliárias Atividadesde consultoria, científicas, técnicas e similares Atividades administrativas e dos serviços de apoio Adm. Púb., defesa e segurança social obrigatória Educação Atividades de Saúde humana e apoio social Atividades artísticas, de espetáculos, desporto e recreativas Outros serviços Homens Mulheres Fonte: INE, Inquérito ao Emprego
14 De 2008 a 2010, anos em que os dados são comparáveis. INE, Inquérito ao Emprego.
Enorme assimetria entre homens e mulheres no exercício de cargos
de direção e chefia
No que respeita ao exercício de cargos de direcção e chefia ou alta responsabilidade institucional, existe também uma enorme assimetria entre homens e mulheres, quer no sector público, quer no sector privado.
Segundo dados do Inquérito ao Emprego, as mulheres têm representado ao longo da última década apenas cerca de 1/3 dos quadros superiores da administração pública, dirigentes e quadros superiores de empresas. O aumento das qualificações académicas das mulheres não se traduziu no proporcional aumento do exercício de cargos de direcção. Efectivamente, exceptuando o período de 2004 a 2006, a proporção de mulheres nestas categorias profissionais manteve‐se constante. Gráfico 10 – Evolução da população no exercício de cargos de direcção, por sexo, 2001‐2011 67,3 68,2 68,6 68,8 67,2 68,8 70,4 68,1 67,2 66,1 68,5 31,2 29,5 31,9 32,8 33,9 32,8 31,5 31,2 31,4 31,8 32,7 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011* Homens Mulheres *quebra de série
Fonte: INE, Inquérito ao Emprego
Analisando os dados referente aos membros dos conselhos de administração das empresas verificamos que a distribuição por sexo demonstra uma diminuta participação das mulheres neste tipo de funções face à evidente hegemonia dos homens, e que a tendência de evolução é lenta e muito pouco expressiva.
Quadro 5 – Membros do conselho de administração das 20 maiores empresas cotadas em bolsa – PSI 20,
2007‐2010
Total de membros Homens Mulheres
N.º % N.º % N.º % 2010 242 100 227 93,8 15 6,2 2009 249 100 241 96,9 8 3,2 2008 242 100 236 97,5 6 2,5 2007 251 100 245 97,6 6 2,4 Fonte: INE, Sistema de Contas Integradas das Empresas
Também na Administração Pública Central é evidente a assimetria entre a percentagem de trabalhadores do sexo feminino e do sexo masculino, sendo o peso do emprego feminino bastante superior ao valor do mesmo rácio para o conjunto do mercado de trabalho. A 31 de Dezembro de 2011, a taxa de feminização na Administração Central situava‐se nos 62,8%15. No entanto, se analisarmos a situação das mulheres nas categorias de dirigentes e chefias, em 2011, verificamos que embora estas representem mais de 50% do total de dirigentes na Administração Pública Central, elas apenas representam 36% dos dirigentes superiores.
15 DGAEP/SIEP – Síntese Estatística do Emprego Público, 1º trimestre 2012, 15 de Maio de 2012.
As mulheres representam apenas 1/3 dos quadros superiores da
administração pública, dirigentes e quadros superiores de empresas
Participação diminuta das mulheres nos conselhos de administração
das empresas
Quadro 6 – População no exercício de cargos de dirigente na Administração Pública Central, 2011
Nível profissional Mulheres Total Taxa de
feminização Dirigentes Superiores16 419 1 164 36% Dirigentes Intermédios17 3 251 5 623 57,8% TOTAL 3 670 6 787 54,1% Fonte: DGAEP/OBSEP – SIOE 2010 (Dados provisórios)
Também as universidades portuguesas, pese embora as mulheres já representem mais de metade dos efetivos a nível das profissões intelectuais e científicas, reflectem a segregação vertical do mercado de trabalho, que afasta as mulheres do exercício de cargos de topo. No conselho de reitores das universidades portuguesas, a distribuição por sexos dos seus membros não só é bastante assimétrica, estando os homens em clara maioria, como tem vindo a diminuir a representação das mulheres.
Quadro 7 – Membros do conselho de reitores das universidades portuguesas, por sexo, 2004‐2008
Total de membros Homens Mulheres
N.º % N.º % N.º % 2008 16 100 15 93,7 1 6,3 2007 16 100 15 93,7 1 6,3 2006 16 100 15 93,7 1 6,3 2005 16 100 14 87,5 2 12,5 2004 15 100 13 86,7 2 13,3 Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
16
Os dados relativos ao cargo de Dirigente Superior incluem Director‐geral, Subdirector geral, Inspector‐geral, Subinspector‐geral, Secretário‐Geral, Secretário‐geral adjunto e outros equiparados.
17
O cargo de Dirigente Intermédio inclui dirigentes de todos os níveis de direcção intermédia (por exemplo: Director de Serviço, Chefe de Divisão, Chefe de Equipa e outros dirigentes intermédio de diversos graus).
Quanto ao tipo de vínculo, a população trabalhadora por conta de outrem representava, em 201118, 78,87 % das pessoas empregadas, sendo a percentagem de mulheres empregadas por conta de outrem superior à dos homens (83 %, contra 75,2 % para os homens). Analisando a evolução do trabalho por conta de outrem entre 2001 e 2010, verifica‐se que o peso relativo dos homens com este vínculo laboral diminuiu, passando de 54% em 2001 para 51,4% em 2010, enquanto que o peso relativo das mulheres aumentou, passando de 46% para 48,5%. Em 2011, o peso relativo dos homens era de 50,8% e o das mulheres era de 49,2%. No que se refere ao tipo de vínculo contratual da população trabalhadora por conta de outrem, a diferenciação entre homens e mulheres também é visível, embora de forma menos evidente. De facto, são os homens que possuem a maior percentagem de contratos sem termo (78% no total de TCO homens e 77,6% no total de TCO mulheres). Já no que refere aos contratos de trabalho a termo e outras situações são as mulheres que apresentam uma percentagem mais elevada (18,9% no total dos TCO mulheres e 18,2% no total de TCO homens).
18 INE Inquérito ao Emprego 2011, INE.
Ao longo da década de 2000 verificou‐se a diminuição do peso
relativo dos homens no trabalho por conta de outrem enquanto que
o peso relativo das mulheres aumentou
As mulheres continuam mais expostas a contratos de trabalho
temporário, embora o diferencial entre trabalho temporário nos
homens e nas mulheres se tenha reduzido de forma acentuada
A tendência para o decréscimo do peso dos contratos de trabalho não permanentes que se verificou a partir de 2002 inverteu‐se a partir de 2006, com exceção do ano de 2009. Apesar da proporção de trabalhadoras com este tipo de contrato ser invariavelmente superior à dos homens, tem‐se verificado a aproximação da situação das mulheres e dos homens devido ao aumento mais significativo de contratos temporários entre os homens.
Entre 2009 e 2010, a percentagem de trabalhadores e trabalhadoras com contratos a termo e outros vínculos laborais temporários aumentou, sendo o acréscimo dos homens superior ao das mulheres (1,5 p.p. contra 0,4 p.p. para as mulheres), verificando‐se uma situação inversa na população vinculada a contratos de trabalho sem termo. Assiste‐se assim a um aumento mais acentuado da precarização dos vínculos contratuais dos homens.
Em 2011, o peso relativo dos contratos a termo diminuiu quer para homens quer para mulheres, sendo o diferencial entre homens e mulheres apenas de 0,7 p.p. a desfavor das mulheres. Em contrapartida, o peso dos contratos de trabalho sem termo aumentou para ambos os sexos, embora em maior proporção para as mulheres, situando‐se a taxa de feminização em 49,1%. Esta situação pode ser explicada pela diminuição da população empregada e com a não renovação ou despedimento de trabalhadores e trabalhadoras com contratos de trabalho a termo.
Aumento mais acentuado da precarização dos vínculos contratuais
dos homens
.
Quadro 8 – Trabalhadores/as por conta de outrem, por tipo de contrato, por sexo, 2000‐2010
2001 2010 2011
Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
Tipo de Contrato milhares % milhares % Taxa de feminização (%) milhares % milhares % Taxa de feminização (%) milhares % milhares % Taxa de feminização (%) Sem termo 1 633,7 81,6 1 323,3 77,5 44,75 1 537,6 77,6 1 423,45 76,4 48,07 1 510,6 78 1 456,9 77,6 49,1 Com termo 368,8 18,4 385 22,5 51,1 443,5 22,4 440,5 23,6 49,83 352,6 18,2 354,6 18,9 50,1 Total 2 002,6 100 1 708,3 100 46 1 981,1 100 1 863,95 100 48,47 1 863,2 100 1 811,5 100 49,3 Fonte: INE, Inquérito ao Emprego
Gráfico 11 – Trabalhadores/as por conta de outrem com contratos de trabalho não permanentes (em % do total TCO), por sexo, 2001‐2011 22,0 22,4 20,9 21,7 21,8 19,5 18,7 18,7 19,0 19,9 18,4 23,6 23,2 24,1 23,0 21,7 20,4 21,1 22,3 23,3 22,5 22,4 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Homens Mulheres *quebra de série Fonte: INE, Inquérito ao Emprego A percentagem de trabalhadores e trabalhadoras por conta própria era, em 201119, de 20,52%, representando os homens 63,1% dos trabalhadores por conta própria e as mulheres 36,9%. Apenas 25 % dos trabalhadores e trabalhadoras por conta própria têm pessoal ao serviço, sendo esta percentagem mais baixa para o sexo feminino. As mulheres trabalhadoras por conta própria com pessoal ao serviço constituem 27,2% dos trabalhadores por conta própria nestas circunstâncias.
Em 2011, as mulheres trabalhadoras por conta própria representavam apenas 16,2% de todas as mulheres trabalhadoras, enquanto que os homens representavam 24,3%. Verificou‐se ao longo da década um decréscimo dos trabalhadores por conta própria, que em 2001
19
representavam 24,6%, sendo que 21,7% das mulheres trabalhadoras eram‐no por conta própria, contra 27% dos homens. Gráfico 12 – Trabalhadores/as por conta própria (%), por sexo, 2001‐2011 24,3 24,3 25,3 24,6 25 24,5 25,5 26,5 27 27 27 21,7 22 22,6 21,4 21,2 20,6 20,6 20,9 20 18,9 16,2 0 5 10 15 20 25 30 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011*
Total Homens Mulheres
*quebra de série
Fonte: INE, Inquérito ao Emprego
Relativamente ao tipo de duração do trabalho, a maioria da população empregada em Portugal trabalha a tempo inteiro (86,7 %), sendo que os homens representam 54,8% da população empregada que trabalha a tempo inteiro e as mulheres 45,2%. A percentagem total de população empregada a tempo parcial era em 2011 de 13,3 %, sendo, neste caso, a percentagem de mulheres mais elevada do que a dos homens (16,3 % para as mulheres contra 10,7 % para os homens).
Crescimento do trabalho a tempo parcial.
Embora as mulheres trabalhem mais a tempo parcial do que os
homens, a percentagem de homens em trabalho a tempo parcial
tem aumentado de forma contínua
A população empregada a tempo parcial aumentou – era em 2001 de 11,1% ‐ verificando‐se no entanto uma ligeira tendência de diminuição da percentagem das mulheres que trabalham a tempo parcial, com excepção dos anos de 2007 e 2008, contra o aumento progressivo da percentagem de homens em trabalho a tempo parcial. Gráfico 13 – População empregada por tipo de duração do trabalho (em %), por sexo, 2001‐2011 6,7 7 7,3 7,1 7 7,4 8 7,4 7,5 8,2 10,7 16,3 15,5 16,4 17,2 16,4 16,4 16,9 16,3 16,2 15,8 16,9 0 5 10 15 20 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011*
Total Homens Mulheres
*quebra de série
III – Disparidades salariais: Salários, remunerações e ganhos
O princípio da igualdade remuneratória entre trabalhadores de ambos os sexos, que executam trabalho igual ou de valor igual, consagrado nas leis da República Portuguesa, bem como em instrumentos de direito internacional que o Estado português ratificou, tem‐se revelado de difícil implementação prática, como se pode verificar pelas diferenças que ainda persistem entre as remunerações dos homens e das mulheres.
Os dados relativos à população trabalhadora por conta de outrem a tempo completo, em Portugal, mostram que a diferença salarial entre homens e mulheres é uma característica a realçar na desigual inserção de homens e mulheres no mercado de trabalho.
Em grande medida o diferencial salarial entre homens e mulheres não pode ser atribuível a critérios objectivos e reflete as desigualdades que persistem no mercado de trabalho em relação às mulheres.
Frequentemente, as mulheres ganham menos que os homens para fazer trabalho igual ou de valor igual. As causas para as disparidades salariais entre homens e mulheres são múltiplas, complexas e muitas vezes interligadas, podendo incluir fatores estruturais, legais, sociais, culturais e económicos, como sejam as escolhas e as qualificações escolares e profissionais, a ocupação profissional, o sector de atividade, as interrupções na carreira, a dimensão da empresa onde se trabalha, bem como o tipo de contrato de trabalho e a duração da jornada. As mulheres estão subrepresentadas em determinadas profissões e sectores de atividade, bem como nas áreas de gestão e em cargos de decisão (mesmo nos sectores onde elas estão relativamente bem representadas), onde os níveis salariais são mais altos. Frequentemente, quer os sectores de atividade, quer os empregos onde as mulheres são predominantes são caracterizados por serem menos valorizados e pior remunerados.
Persistem em Portugal as disparidades salariais entre homens e
mulheres
Em 201020, as mulheres auferiam cerca de 82% da remuneração média mensal de base dos homens, ou, se falarmos de ganho médio mensal (que contém outras componentes do salário, tais como compensação por trabalho suplementar, prémios e outros benefícios, geralmente de carácter discricionário), 79,1%. Ou seja, as mulheres auferiam de remuneração média mensal de base menos 18% do que os homens, e se falarmos em ganho a diferença é ainda maior, 20,9% menos que os homens.
Desde 2006, observa‐se uma ligeira aproximação das remunerações entre homens e mulheres, uma vez que o diferencial da remuneração média mensal de base e de ganho das mulheres e dos homens diminuiu. Embora, em 2010 o diferencial da remuneração média base das mulheres e dos homens tenha registado novamente um ligeiro aumento de 0.2 p.p.
No entanto, analisando a evolução das disparidades salariais entre homens e mulheres ao longo da década podemos constatar que as disparidades persistem e têm permanecido praticamente inalteráveis. Em 8 anos o diferencial das remunerações médias mensais de base entre homens e mulheres decrescer apenas ‐1,4 p.p. e o diferencial no ganho ‐1,8 p.p. Assim, embora a disparidade salarial entre homens e mulheres tenha diminuído, ela mantém‐ se elevada.
20
Esta análise é feita com base nos Quadros de Pessoal, MSSS/GEP, e baseia‐se no peso da remuneração média base/ganho das mulheres sobre a remuneração média base/ganho dos homens.
2010 é o último ano para o qual existem dados disponíveis.
As mulheres auferem em média menos 18% do que os homens,
no que se refere à remuneração mensal base
Gráfico 14 – Diferencial da remuneração média mensal de base e de ganho, RM/RH (%), 2002‐2010 77,3 76,4 76,8 77,4 77,3 77,6 78,4 79 79,1 82 82,2 81,6 81,3 80,6 80,7 80,1 79,9 80,6 65 70 75 80 85 90 95 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Remuneração - Ganho Remuneração - Base
Nota: Não existem dados referentes ao ano de 2001
Fonte: MSSS/GEP, Quadros de Pessoal
As disparidades salariais variam em função dos níveis de qualificação, dos níveis de habilitações literárias e académicas, bem como da atividade económica.
O diferencial salarial entre homens e mulheres é maior nos níveis de
qualificação mais elevados
No que respeita aos níveis de qualificação, constata‐se que o diferencial salarial entre mulheres e homens é directamente proporcional aos níveis de qualificação, ou seja, quanto mais elevado o nível de qualificação maior o diferencial salarial, sendo portanto, particularmente, elevado entre os quadros superiores. Neste nível de qualificação, o rácio entre a remuneração das mulheres e a dos homens era em, 2010, de 71,8% para a remuneração média base e de 71,1% em relação à média do ganho. Em contrapartida, o gap salarial de género é menor entre as categorias com níveis de qualificação mais baixas, como por exemplo, entre praticantes e aprendizes (94,5 % e 91,2 %, em termos de remuneração média de base e de ganho, respectivamente) e profissionais não qualificados/as (89,1 % e 84,6 %, respectivamente, em termos de remuneração média de base e de ganho). De realçar, no entanto, que estes rácios mantiveram‐se praticamente inalteráveis ao longo da década de 2000. Quadro 9 – Remunerações médias mensais base e ganho por nível de qualificação, RM/RH (%), 2002‐2010 2002 2004 2006 2008 2010
Base Ganho Base Ganho Base Ganho Base Ganho Base Ganho
Níveis de qualificação RM/RH RM/RH RM/RH RM/RH RM/RH RM/RH RM/RH RM/RH RM/RH RM/RH Total 80,6 77,3 80,1 76,8 80,6 77,2 81,5 78,3 82,0 79,1 Quadros superiores 70,6 70,9 73,8 73,1 70,6 70,4 70,9 69,9 71,8 71,1 Quadros médios 87,6 84,4 85,9 82,4 85,7 81,3 83,7 80,0 85,7 83,0 Encarregados, mestres, chefes de equipa 89,5 86,3 86,3 83,3 86,0 83,6 86,6 84,0 93,2 90,2 Profissionais altamente qualificados 92,5 87,4 89,0 83,9 88,6 84,7 88,1 85,4 85,2 82,3 Profissionais semi qualificados 84,5 77,6 85,7 79,2 89,0 84,8 88,9 84,8 91,3 86,7 Profissionais qualificados 89,2 85,3 88,9 85,2 86,0 79,7 87,3 81,8 88,1 83,4
Profissionais não qualificados 91,4 86,3 89,8 84,7 89,3 84,3 89,4 84,7 89,1 84,6 Praticantes e aprendizes 95,4 93,9 95,1 93,5 94,5 92,0 93,9 91,5 94,5 91,2 Nível desconhecido 84,8 78,6 82,0 76,7 84,9 79,2 85,8 81,0 ‐ ‐ Fonte: MSSS/GEP, Quadros de Pessoal
Situação idêntica verifica‐se quanto às desigualdades salariais em função dos níveis de habilitação académica, ou seja, o diferencial salarial aumenta conforme vai aumentando a esc olar ida de, sendo menor para quem possui habilitação inferior ao 1º ciclo do ensino básico (88% na remuneração base e 82,3% no ganho), ou mesmo o 3.º ciclo do ensino básico (79,8 % na remuneração média de base e 76 % no ganho), do que para quem possui uma licenciatura (69,4 % na remuneração média de base e 68,8 % no ganho).
Quadro 10 – Remunerações médias mensais base e ganho por nível de habilitação, RM/RH (%), 2002‐2010
2002 2004 2006 2008 2010
Base Ganho Base Ganho Base Ganho Base Ganho Base Ganho
Níveis de habilitação RM/RH RM/RH RM/RH RM/RH RM/RH RM/RH RM/RH RM/RH RM/RH RM/RH Total 80,6 77,3 80,1 76,8 80,6 77,2 81,5 78,3 82,0 79,1 < 1º Ciclo de Ensino Básico 85,8 80,4 84,9 80,3 85,6 81,4 86,4 81,6 88,0 82,3 1º Ciclo de Ensino Básico 77,7 72,1 76,9 72,0 77,2 72,4 77,4 72,5 78,7 73,8 2º Ciclo de Ensino Básico 78,5 74,1 77,7 73,2 77,4 72,8 77,6 72,7 78,6 74,0
As disparidades salariais entre homens e mulheres são também
maiores nos níveis de habilitações académicas mais elevadas
3º Ciclo de Ensino Básico 79,5 76,0 78,8 75,1 78,9 74,9 79,0 75,1 79,8 76,0 Ensino Secundário 75,2 72,2 74,2 70,9 74,4 71,3 74,6 71,7 74,6 72,2 Bacharelato 67,9 66,8 68,8 67,5 69,2 68,2 68,1 67,4 68,0 67,8 Licenciatura 66,7 66,7 66,3 65,7 66,5 65,8 67,8 67,2 69,4 68,8 Nível desconhecido 82,8 81,5 89,7 85,0 78,8 76,1 84,7 80,7 85,3 82,1 Fonte: MSSS/GEP, Quadros de Pessoal Quando se analisam as remunerações e os ganhos por atividade económica verifica‐se que o diferencial salarial entre mulheres e homens é mais acentuado nas atividades onde a participação feminina é maior. Por exemplo, em 2010, a remuneração média de base e ganho em “Atividades de saúde humana e apoio social”, que teve uma participação feminina de 80,7%, foi de 71,3% na base e 68,7% no ganho, valores inferiores à média.
Em contrapartida, é nas atividades onde os homens predominam (“captação, tratamento e distribuição água e saneamento”, “construção”, “transportes e armazenagem”) que as mulheres ganham mais que os homens. Esta situação poderá ser explicada pelos níveis de qualificação e profissões desempenhadas pelas mulheres nestas atividades. Também as remunerações horárias da população trabalhadora por conta de outrem a tempo completo são superiores nos homens. Em 2010, em média, os homens auferiram 20,7 % mais que as mulheres por hora na remuneração base e mais 24,6 % na remuneração horária ganho. Analisando as remunerações horárias (base e ganho) da população trabalhadora, entre 2002 e 2010, verifica‐se que o diferencial sempre foi favorável aos homens, tendo no entanto vindo a
Quanto maior a participação feminina numa atividade económica
maior o diferencial salarial entre homens e mulheres
reduzir‐se. O diferencial entre a remuneração base horária de homens e de mulheres diminuiu ‐ 3.3 p.p. de 2002 a 2010, enquanto que o diferencial entre o ganho horário diminuiu ‐ 4.9 p.p. Quadro 11 – Remunerações médias horárias (base e ganho) (€) dos trabalhadores por conta de outrem, por sexo, 2002‐2010 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Base 4,29 4,42 4,68 4,84 4,93 5,00 5,20 5,42 5,71 Homens Ganho 5,19 5,37 5,63 5,82 5,94 6,07 6,31 6,55 6,64 Base 3,46 3,54 3,76 3,94 4,02 4,11 4,28 4,48 4,73 Mulheres Ganho 4,01 4,11 4,35 4,54 4,65 4,77 4,99 5,21 5,33 Fonte: MSSS/GEP, Quadros de Pessoal
IV – Conciliação da Vida Profissional e da Vida Familiar e Partilha do Trabalho Não Pago
A conciliação entre a vida profissional e a vida familiar e pessoal, sendo um direito dos trabalhadores e trabalhadoras consagrado na Constituição da República Portuguesa, é um elemento chave para a igualdade de género e uma condição para aumentar e melhorar a participação de homens e mulheres no trabalho, para a sua realização profissional e familiar, bem como para o seu envolvimento mais equitativo nas responsabilidades familiares.
O uso que homens e mulheres fazem do seu tempo, e a forma como combinam o trabalho com a vida privada, depende das suas circunstâncias pessoais, nomeadamente a sua situação familiar, mas também de fatores que lhe são externos, como o contexto socioeconómico, a existência de infraestruturas sociais, as formas de organização do trabalho ou o sistema de proteção social existente.
Efetivamente, a participação das mulheres e dos homens no trabalho pago faz‐se no quadro de uma desigual partilha do tempo gasto por umas e outros no trabalho não pago (tarefas domésticas e cuidados com a família). Homens e mulheres assumem compromissos diferentes quanto ao trabalho não pago. Em Portugal, apesar das mulheres trabalharem maioritariamente a tempo inteiro, são elas que têm a seu cargo a maior parte do trabalho doméstico e de prestação de cuidados dentro da família, enquanto que os homens dedicam mais tempo ao trabalho profissional. Os resultados do 4º Inquérito Europeu às Condições de Trabalho, conduzido em 2005 21 pela Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho, confirmam as tendências conhecidas de uma acentuada assimetria na partilha do trabalho não pago entre mulheres e homens.
21 Este é um inquérito de base quinquenal.
Quadro 12 – Tempo de trabalho semanal da população com emprego, por sexo (horas e minutos) Tempo de trabalho pago Tempo de deslocação (casa‐trabalho‐casa) Tempo de trabalho não pago Tempo de trabalho total H 43h30 2h48 9h24 55h42 M 41h06 2h36 25h24 69h00
Fonte: Cálculos próprios, com base em European Foundation for the Improvement of Living and Working
Conditions, 4º Inquérito Europeu às Condições de Trabalho, 2005.
Ao nível da afectação de tempos às diferentes formas de trabalho, os dados mostram um tempo de trabalho total claramente superior para as mulheres, facto que resulta principalmente da desigual duração do trabalho doméstico não remunerado por género. Efetivamente, como são as mulheres que têm a seu cargo a maior parte do trabalho doméstico e de prestação de cuidados a crianças e a adultos dependentes – as mulheres gastam semanalmente mais 16 h nestas tarefas, comparativamente com os homens – são elas que têm a semana de trabalho total mais longa.
No que se refere ao trabalho pago, os homens afetam semanalmente mais 2h e 24m comparativamente às mulheres.
No cômputo total, o diferencial entre o trabalho semanal das mulheres e dos homens ultrapassa as 13 horas.
São as mulheres que, apesar de trabalharem maioritariamente a
tempo inteiro, asseguram a maior parte do trabalho doméstico e de
prestação de cuidados dentro da família
No trabalho não pago, são as mulheres que asseguram grande parte das tarefas rotineiras de manutenção da casa e da família – preparação de refeições, limpeza da casa e cuidado da roupa – enquanto que os homens se dedicam a tarefas mais esporádicas e menos exigentes em termos de tempo. Tratar de assuntos administrativos (seguros, impostos, banco, contas) é a tarefa doméstica que mais de metade dos homens assegura frequentemente.
A divisão sexual do trabalho não pago, bem como a presença de crianças ou outros familiares dependentes no agregado familiar, tem impacto na conciliação da atividade profissional com a vida familiar e pessoal, sendo mais provável que esse impacto afete de forma mais penalizadora as mulheres, nomeadamente restringindo as suas possibilidades de participação no mercado de trabalho.
Segundo os dados do módulo ad hoc relativo à conciliação da vida profissional com a vida familiar do Inquérito ao Emprego de 2010, a relação entre a existência de filhos e a participação na vida ativa é negativa para as mulheres com filhos com idade até aos 9 anos, com redução da probabilidade de participação na vida profissional em 4,3 p.p., enquanto que para os homens a relação é positiva. Também a probabilidade de participação na vida profissional ativa diminui (5,2 p.p. para as mulheres e 2,4 p.p. para os homens) quando se trata da necessidade de prestação de cuidados a dependentes com 15 ou mais anos de idade.
A possibilidade de conciliar o exercício de uma atividade profissional com a existência de filhos/as em idades que carecem de acompanhamento a tempo inteiro e/ou de outras pessoas dependentes, pressupõe a existência de equipamentos de acolhimento e cuidados a crianças e adultos dependentes e de medidas de flexibilidade na gestão dos tempos de trabalho.
Na análise dos motivos que levam mulheres e homens, com crianças a cargo, a não trabalharem ou a trabalharem menos horas, a falta de serviços de acolhimento de crianças é evocada principalmente por mulheres, sendo que 91,5% dos que referem este motivo são mulheres.
A existência de filhos/as reduz a probabilidade de participação das
mulheres na vida profissional
Quadro 13 ‐ Indivíduos dos 15 aos 64 anos de idade, que não trabalham ou trabalham a tempo parcial, devido à falta de serviços de acolhimento para crianças, segundo o sexo (%), 2º trimestre de 2010
Total Homens Mulheres
Não trabalham ou não trabalham mais horas devido à falta de serviços de acolhimento para crianças ou pessoas dependentes 5,3% 1,7% 6,6% Não trabalham ou não trabalham mais horas devido a outra razão não relacionada com a falta de serviços de acolhimento para crianças ou pessoas dependentes 77,9% 75,2 78,8% Não resposta 16,8% 23,1% 14,5% Total 100% 100% 100% Fonte: INE, Conciliação da vida profissional com a vida familiar – Módulo ad hoc do Inquérito ao Emprego de 2010. O recurso, da população empregada, com filhos/as a cargo, a um serviço pago de acolhimento de crianças aumentou significativamente de 2005 para 2010. Segundo o módulo ad hoc sobre conciliação da vida profissional com a vida familiar do Inquérito ao Emprego de 2005, nesse ano, 33,9% da população empregada com filhos/as a cargo utilizou um serviço pago de