• Nenhum resultado encontrado

Título Caracterização de casos de Medicina Veterinária Forense em Portugal Autor Cátia Patrícia Coelho Silva

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Título Caracterização de casos de Medicina Veterinária Forense em Portugal Autor Cátia Patrícia Coelho Silva"

Copied!
56
0
0

Texto

(1)

Título

Autor

M.ICBAS 2020

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS ABEL SALAZAR

M ES T R AD O M ED ICI N A L EG AL

C

ar

ac

te

ri

za

çã

o

d

e

ca

so

s

de

M

ed

ic

in

V

et

er

in

ár

ia

F

o

re

n

se

e

m

P

o

rt

ug

al

Cáti

a Patrícia

C

oelho Si

lva

M

20 20

Cátia Silva. Caracterização de casos de Medicina Veterinária Forense em Portugal

Caracterização de casos de Medicina Veterinária Forense em Portugal

(2)

Cátia Patrícia Coelho Silva

Caracterização de casos de Medicina Veterinária Forense em

Portugal

Dissertação de Candidatura ao grau de

Mestre em Medicina Legal submetida ao

Instituto de Ciências Biomédicas de Abel

Salazar da Universidade do Porto.

Orientador

– Doutora Justina Maria Prada

Oliveira

Categoria – Professor auxiliar

Afiliação – Universidade de Trás-os-Montes

e Alto Douro

Co-orientador

– Mestre Maria Leonor

Gonçalves Delgado Madureira

Categoria – Assistente convidado

Afiliação

– Laboratório Veterinário INNO /

Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e

Universitário

Co-orientador

– Doutora Margarida Duarte

Cerqueira Martins de Araújo

Categoria – Professor auxiliar

Afiliação

– Instituto de Ciências Biomédicas

Abel Salazar da Universidade do Porto

(3)

ii Agradecimentos

“Não existe ensino que se compare ao exemplo”

Baden-Powell

Um agradecimento especial à Doutora Justina e à Mestre Maria Leonor não só pela orientação e disponibilidade na elaboração deste projeto, como também pela confiança em mim depositada. Por serem um exemplo de dedicação profissional e pela transmissão de conhecimentos que me proporcionaram.

Aos meus pais, pelo apoio incondicional e incentivo nos momentos menos bons ao longo de toda a minha vida académica e profissional. Por me demonstrarem um exemplo de dedicação e empenho a seguir na busca da concretização dos nossos sonhos e objetivos de vida.

Ao meu companheiro de vida pelo apoio incondicional nesta caminhada e pela ajuda na elaboração deste projeto. Por ser um exemplo de empenho e luta tanto a nível pessoal como profissional.

(4)

iii Resumo

A perspetiva sobre a medicina veterinária forense tem vindo a sofrer alterações devido a vários fatores, como a maior preocupação pela sociedade com o bem-estar animal, aparecimento de movimentos nacionais e internacionais de combate ao crime da vida selvagem, introdução de nova legislação sobre os maus-tratos animais e o aumento da procura de indemnizações por parte dos proprietários.

Os objetivos essenciais deste estudo são perceber a evolução da medicina forense, com base num estudo retrospetivo a partir de necropsias forenses realizadas no laboratório de histologia e anatomia patologia da UTAD, entre os anos de 2009 e 2018.

No estudo foram avaliadas o total de 90 amostras verificando um aumento nos últimos 10 anos do número de necrópsias médico-legais veterinárias. Destas, 55,6% (n=50) representam a espécie canina e 62,2% (n=56) causa de morte indeterminadas, com envolvimento das autoridades em 42,2% (n=38) dos casos.

Concluindo, existe uma tendência evolutiva para o aumento deste número do número de necrópsias médico-legais veterinária, sendo importante a continuação dos estudos nesta área contribuindo para a aprendizagem e o desenvolvimento da área da medicina legal na veterinária.

(5)

iv Abstract

The perspective on forensic veterinary medicine has been changing because of several factors, as more concern from society about animal care, appearance of national and international movements of wildlife crime combat, the introduction of new legislation about animal mistreatment and the increasing of search for compensation from owner.

The aim of this study are to understand the evolution of forensic medicine in veterinary, based in the retrospective study from the forensic necropsies made in the UTAD histology and pathology laboratory between 2009 and 2018.

The study evaluated 90 samples, with an increase in the number of forensic veterinary necropsies in the last 10 years. Of these, 55.6% (n = 50) represent the canine species and 62.2% (n = 56) undetermined cause of death, with involvement of the authorities in 42.2% (n = 38) of the cases.

In conclusion, there is an evolutionary tendency to increasing in this number of forensic veterinary necropsies, and it is important to continue studies in this area, contributing to the learning and development in the area of forensic medicine in veterinary.

(6)

v Índice

1. Introdução ... 1

2. Patologia forense humana ... 2

3. Medicina veterinária forense ... 4

3.1. Contexto atual ... 4

3.2. A lei animal em Portugal ... 6

4. Necrópsia médico-legal na patologia forense veterinária ... 9

4.1. Objetivo e diagnósticos diferenciais ... 9

4.2. Exame de hábito externo ...10

4.3. Exame de hábito interno ...14

5. Materiais e Métodos ...18 6. Resultados ...25 7. Discussão ...37 8. Conclusão ...40 9. Referências Bibliográficas ...41 10. Anexos ...43

(7)

vi Índice de figuras

Figura 1 - Receção de amostras para necrópsias médico-legais no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. Imagem A demonstra a receção do cadáver pela patologista veterinária e documentação envolvida na mesma. Imagem B demonstra condições de receção do cadáver com o respetivo número interno do laboratório histologia e anatomia patológica da UTAD. ...18 Figura 2 - Fotografia inicial do cadáver com a identificação do número interno do laboratório histologia e anatomia patológica da UTAD. ...19 Figura 3 – Gráfico com a variação do número de necrópsicas médico-legais veterinárias realizadas entre os anos de 2009 e 2018 no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. ...26

Figura 4 – Gráfico com percentagens dos diagnósticos diferenciais médico-legais das necrópsicas médico-legais veterinárias realizadas entre os anos de 2009 e 2018 no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. ...28

Figura 5 – Ferimentos provocados por arma de fogo. Imagem A apresenta animal da espécie canina com múltiplos orifícios de entrada provocados por múltiplos projéteis. Imagem B mostra orifício de entrada único com orla de contusão na cabeça de animal da espécie bovino. ...29

Figura 6 - Examinação de mucosas congestionadas na realização do exame de hábito externo em animal da espécie canina. ...29

Figura 7 – Avaliação da pelagem e fauna cadavérica em animal da espécie Vulpes

Vulpes. ...29

Figura 8 – Recolha de conteúdo gástrico para exame toxicológico. ...30 Figura 9 – Exame radiológico, raio-x, realizado post mortem em cadáver da espécie canina. Imagem A exibe animal na realização de raio-x na fase inicial na necrópsia. Imagem B exibe radiografia da cabeça com múltiplos projéteis. ...30

(8)

vii Índice de tabelas

Tabela 1 - Número e percentagem de necrópsias médico-legais veterinárias realizadas anualmente entre os anos de 2009 e 2018 no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. ...25 Tabela 2 - Número e percentagem de espécies nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas entre os anos de 2009 e 2018 no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. ...27

Tabela 3 - Número de casos das espécies nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD...31

Tabela 4 - Número de casos tendo em conta o sexo nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. ...31 Tabela 5 - Número de casos tendo a idade nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD...32

Tabela 6 - Número de casos com presença ou ausência de chip ou marca de identificação nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. ...32 Tabela 7 - Número de casos de acordo com o diagnóstico diferencial médico-legal das necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. ...33

Tabela 8 - Número de casos de acordo com o fenómeno cadavérico presente nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. ...33 Tabela 9 - Número de casos com descrição da condição corporal, pelagem e mucosas nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. ...34

Tabela 10 - Número de casos tendo em conta as categorias de descrição da cavidade torácica nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD...34

Tabela 11 - Número de casos tendo em conta as categorias de descrição da cavidade abdominal nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. ...34 Tabela 12 - Número de casos em que foram solicitados ou realizados exames complementares nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. ...35

(9)

viii Tabela 13 - Número de casos com envolvimento das autoridades nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. ...36

(10)

ix Lista de siglas e/ou abreviaturas

UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro SEPNA - Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente GNR - Guarda Nacional Republicana

ADN – Ácido desoxirribonucleico

NUIPC - Número Único de Identificação do Processo Crime SPSS - Statistical Package for Social Sciences

(11)

1 1. Introdução

A medicina legal, também conhecida por medicina forense, consiste na aplicação dos conhecimentos médicos na resolução de processos legais (1-5). Desta forma, a medicina veterinária forense consiste na aplicação dos conhecimentos da medicina veterinária na resolução de casos forenses com responsabilidade civil e criminal (1, 2, 4-9).

A medicina veterinária forense não difere da medicina humana em relação à necessidade de uma análise objetiva, de forma a garantir a credibilidade legal e científica exigida pela justiça (1, 7, 8). De igual forma, a necrópsia médico-legal na medicina veterinária tem objetivos semelhantes à humana, ou seja determinar as causas e circunstâncias da morte, sendo realizada nos casos em que exista suspeita de morte animal não natural (1, 7, 9-12).

A necrópsia médico-legal é constituída pelo exame de hábito externo, exame de hábito interno e exames complementares, concluindo com a realização do relatório final, onde constam a documentação facultada pelas autoridades, informações recolhidas no exame do local de crime e toda informação e registos fotográficos na necrópsia (1, 2, 7, 9, 12, 13). O patologista veterinário deve proceder de forma imparcial e objetiva, recolhendo e documentando todas as evidências presentes no cadáver com relevância para a investigação do caso, colaborando para a deliberação do sistema jurídico (11, 12).

Com as recentes alterações da lei relativas à proteção e bem-estar animal e devido à ainda pouca formação e certificação de pessoal veterinário especializado na área forense, existiu a necessidade de maior desenvolvimento técnico nesta área, como também um aumento da procura de médicos veterinários especialistas (1, 8, 14-16).

Por isso, devido ao crescente interesse na área procedeu-se à realização deste estudo de forma a complementar a informação disponível para os médicos veterinários, especialista forenses, técnicos e meios judiciais, acompanhando a evolução e desenvolvimento desta disciplina ainda recente.

O objetivo essencial deste estudo fazer um estudo retrospetivo das necrópsias forenses realizadas no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD num período de 10 anos (2009-2018), determinando as principais causas de morte identificadas e respetiva espécie e a proveniência dos cadáveres. Analisou-se ainda o envolvimento das autoridades, bem como os exames complementares e a descrição aplicada nos relatórios das necrópsias médico-legais veterinárias.

(12)

2 2. Patologia forense humana

A Necrópsia consiste no exame do cadáver aplicando procedimentos e técnicas de dissecção reconhecidos, de forma a determinar a causa de morte com base nas lesões encontradas, história clínica e meios complementares, podendo ser realizada tanto em contexto clínico como para finalidades médico-legais (10, 17).

Na medicina humanaexistem 2 tipos de autopsias: autópsia anátomo-clínica e autópsia médico-legal. A autópsia anátomo-clínica tem como principal objetivo o estudo do processo da doença in situ, permitindo uma melhor caracterização e compreensão do funcionamento do corpo humano, assim como o conhecimento de patologias dos diferentes aparelhos e sistemas tendo em conta os efeitos das doenças nos órgãos alvo, apresentando relevante interesse a nível clínico, de investigação e académico. Esta deve ser realizada pelo médico patologista sendo necessário o consentimento dos familiares (10, 17) .

Na autópsia médico-legal estão compreendidas as mortes de causa natural (sem causa médica estabelecida), causa não natural (acidental, homicídio e suicídio) e indeterminada, estando estas inseridas em processos de investigação, após abertura de inquérito, para averiguação dos factos, coadjuvando na aplicação da lei e sua resolução, não sendo necessário o consentimento (10, 17) .

Em suma, a medicina legal, também conhecida por medicina forense, consiste na aplicação dos conhecimentos médicos na resolução de processos legais (1-4).

A causa de morte por norma é evidente a partir dos achados post mortem, contudo em alguns casos nem sempre é possível estabelecer a causa de morte, podendo esta permanecer como indeterminada. A autópsia médico-legal tem como principais objetivos obter um diagnóstico diferencial médico-legal: natural, acidental, suicídio, homicídio ou indeterminada. Para além disso, tem ainda outros objetivos como a identificação do cadáver, descrição e natureza das lesões, identificação de outras causas subjacentes ou doenças que contribuíram para a morte, verificação das lesões ante ou post mortem e recolha de vestígios na vítima que possa auxiliar na resolução do inquérito (2, 10, 17).

Em Portugal, a lei n.º 45/2004 estabelece o regime jurídico da realização das perícias médico-legais e forenses. Segundo o artigo 18.º “a autópsia médico-legal tem lugar em situações de morte violenta ou de causa ignorada, salvo se existirem informações clínicas suficientes que associadas aos demais elementos permitam concluir, com segurança, pela inexistência de suspeita de crime, admitindo-se, neste caso, a possibilidade da dispensa de autópsia”, contudo situações de morte violenta por acidente de trabalho ou acidente de viação com resultado de morte imediata nunca podem ser dispensadas. Segundo o artigo 2.º as perícias são realizadas, obrigatoriamente, nas delegações e nos gabinetes

(13)

médico-3 legais do Instituto Nacional de Medicina Legal e as autópsias médico-legais por norma, de acordo com o artigo 19.º, são realizadas por um médico perito coadjuvado por um auxiliar de perícias tanatológicas (18).

A autópsia médico-legal só pode ser realizada após a emissão do ofício judicial que também autoriza a recolha de qualquer material do cadáver caso sejam necessários outros exames. Outras informações que também devem constatar no processo são a verificação do óbito, documento que retrata a cena de morte devidamente preenchido pelas autoridades e história clínica conhecida do indivíduo (10, 17).

(14)

4 3. Medicina veterinária forense

3.1. Contexto atual

Nos últimos anos o conceito de ciência forense tem vindo a evoluir no sentido de constituir uma ciência multidisciplinar, onde contribuem os conhecimentos de diferentes áreas como a biologia, medicina, psicologia, medicina veterinária, odontologia, entre outras (1). A medicina veterinária forense é uma disciplina recente que e consiste na aplicação dos conhecimentos veterinários na resolução de casos legais com responsabilidade civil e criminal (1, 2, 4, 6-9).

A medicina veterinária forense não difere da medicina humana em relação à necessidade de uma análise objetiva com registo e preservação das provas, sendo necessária uma correta colheita, documentação e interpretação das evidências, como por exemplo de suspeita de abuso de animais, de forma a garantir a credibilidade legal e científica exigida pela justiça. A principal diferença reside sobretudo na variedade de espécies que podem ser apresentadas na medicina veterinária (1, 7, 8) .

No entanto, a aplicação forense nos casos médico-legais de veterinária ainda se encontra pouco desenvolvida relativamente à sua congénere humana. Ao contrário da medicina forense humana, o desenvolvimento dos conhecimentos dos médicos veterinários nesta área tendo sido sobretudo empírico. No entanto, segundo

McDonough

(2016)

75% dos médicos veterinários referem que a prática não é suficiente para a preparação do trabalho como médico veterinário forense. Em concordância, na medicina veterinária ainda existem limitações na formação e certificação de pessoal especializado, o que contrasta com a patologia forense humana (1, 8, 14-16) .

A abordagem forense em medicina veterinária varia consoante o país em causa, devido às diferenças na legislação de cada país, bem como a opinião da sociedade sobre a importância destes casos (1, 8). A nível mundial, segundo um estudo realizado por Ottinger et al (2015), a maior parte dos laboratórios de medicina veterinária forense encontram-se integrados em universidade (73,6%) ou em laboratórios pertencentes ao estado. Neste estudo, apesar da maior parte dos entrevistados afirmarem não ser obrigatório formação especifica para exercer a função de patologista veterinário forense, cerca de 35 dos 66 entrevistados referem que os exames forenses post mortem são realizados por patologistas certificados ou com formações especifica em patologia forense(8).

Devido as drásticas alterações dos últimos anos, houve uma maior necessidade dos médicos veterinários procurarem formação nesta área. Alguns dos fatores que contribuíram para isto foram:

(15)

5 • Procura por parte dos detentores dos animais em obterem uma indeminização ou outra recompensa legal no que diz respeito a questões de morte, problemas de saúde ou ferimentos dos animais;

• Maior preocupação da sociedade pelo bem-estar animal, com legislação sobre bem-estar animal e criminalização dos maus tratos a animais de companhia;

• Criação de movimentos a nível mundial de combate ao crime da vida selvagem; • Necessidade de minimizar os efeitos de poluição ambiental;

• Introdução de legislação quanto à saúde e segurança resultantes dos perigos dos animais, bem como dos produtos resultantes dos mesmos, por exemplo carne e leite, ou dos seus organismos patogénicos (6, 8).

Assim sendo, existe uma maior procura de médicos veterinários especialistas na área forense. Consequentemente as lacunas tanto na educação como na formação teórico-prática deverão ser preenchidas progressivamente (1, 19) . O que é possível constatar pelo crescente número de publicações veterinárias relacionadas com a medicina legal em revistas científicas, assim como vários livros o que contribui para o desenvolvimento desta área (14, 16, 19).

Os médicos veterinários podem ser envolvidos em casos de medicina veterinária forense de diversas formas, sendo a mais comum nos casos de animais feridos ou mortos levados aos centros de atendimento médico-veterinário para avaliação ou tratamento. Em alguns casos, o médico veterinário pode ser chamado para avaliação do local do crime (13).

(16)

6 3.2. A lei animal em Portugal

Os animais podem ser envolvidos em ações legais de duas formas distintas, como vítimas, que sofrem o ataque ou ato ilegal, ou como instigadores, em que o animal é o responsável pelo incidente. Esta última é competência para a medicina forense humana, uma vez que compreendem as situações que causam lesões aos seres humanos de várias maneiras como mordidas, picadas, traumatismos, transmissão de agentes infeciosos ou alergias (1, 6, 9) .

Nos últimos anos, a medicina veterinária forense tem aumentado significativamente a sua aplicação no contexto das investigações de crimes contra animais incluindo casos criminais, ações civis, audiências sobre negligências, ferimentos não acidentais, roubo, violação das leis da vida selvagem como o aprisionamento, reivindicações de seguro, disputas industriais, avaliação do impacto ambiental, questões governamentais, inspeções em lojas de animais e jardins zoológicos e má conduta profissional por parte dos médicos veterinários (1, 2, 9, 11, 14).

A definição de crueldade ou maus tratos animais tem sido discutida por diversos autores, uma vez que pode ser utilizada num espectro alargado de contextos. Desta forma, consiste não só em ações físicas ou omissão das mesmas, ações com intencionalidade de provocação dos animais ou de tortura, ações intencionais ou de negligência, como também as lutas e a acumulação de animais (13, 20).

A legislação relativamente aos animais é uma área especializada do direito que remonta ao passado, uma vez que muitas civilizações atribuem significado religioso, cultural, nutricional ou desportivo a uma variedade de espécies animais. No entanto, apenas no século XIX surgiu o conceito de que os animais necessitam de proteção contra os abusos, e mais tarde no século XX foi reconhecida a necessidade de proteção legal contra a extinção de espécies, surgindo acordos de proteção das espécies e do habitat marinho e terrestre (1).

Na lei é essencial fazer a distinção entre o direito penal e civil. O direito penal estabelece leis cujo não cumprimento é punido pelo estado, ou seja refere-se às relações entre pessoa e o estado, enquanto que no direito civil as denúncias são de pessoas, ou seja refere-se às relações entre pessoas (1).

Existem quatro níveis na elaboração da lei animal são elas: internacional, regional, nacional e local, sendo a maioria realizada a nível nacional (1, 5). Em 1987 a União Europeia e o Conselho da Europa conceberam o regulamento e diretivas relativamente à saúde animal, bem-estar dos animais de produção, animais para investigação, conservação da vida selvagem e comércio internacional de espécies em vias de extinção

(17)

7 (1, 7, 20). A falha na implementação desta diretivas por parte dos países membros constituía uma penalização para o país (7, 20).

Esta legislação europeia foi aprovada e ratificada em Portugal no ano 1993 pelo Decreto-Lei n.º 13/93 de 13 de abril de 1993. Contudo, apenas em 2001 passou a ser regulamentada e aplicada, pelo Decreto-Lei n.º 276/2001 de 17 de outubro, e as sucessivas alterações, sendo a última o Decreto-Lei n.º 260/2012 de 12 de dezembro de 2012, que declara a proibição de todas as violências contra os animais com o objetivo de infligir a morte, o sofrimento ou lesões, sendo as contraordenações puníveis com coima (7, 20).

Em Portugal é introduzido em 1995 a Lei n.º 92/95 de 12 de setembro sobre a proteção dos animais, que segundo o artigo número 1º é proibida toda a violência injustificada contra animais, considerando como tais os atos consistentes em infligir a morte, o sofrimento cruel e prolongado ou graves lesões a um animal sem necessidade. Esta refere ainda que devem ser prestados auxílio na medida do possível a animais doentes, feridos ou em perigo (7, 20, 21).

Desde 2014 que Portugal tem evoluído na criação de normas jurídicas na proteção dos animais, não só na criminalização do abuso e negligência de animais de companhia, como também pelo reconhecimento oficial do animal como ser senciente (7, 20).

Foi aprovada em 2014 a Lei nº 69/2014, de 29 de agosto, com alteração ao Código Penal, que criminaliza os maus tratos e abandono dos animais de companhia. Segundo o artigo 387.º são considerados maus tratos a animais de companhia “quem, sem motivo legítimo, infligir dor, sofrimento ou quaisquer outros maus tratos físicos a um animal de companhia é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa até 120 dias”, contudo a pena pode ser agravada para pena de prisão até dois anos ou pena de multa até 240 dias “se dos factos previstos no número anterior resultar a morte do animal, a privação de importante órgão ou membro ou a afetação grave e permanente da sua capacidade de locomoção” (20, 22).

Nos anos seguintes sucederam-se diversas alterações do Código Penal, sendo em 2015 com a Lei nº 110/2015, de 26 de agosto, que estabelecido o “quadro de penas acessórias aplicáveis aos crimes contra animais de companhia” (23). Já em 2016 é publicada a Lei nº 27/2016, de 23 de Agosto, que segundo o artigo 1.º “aprova medidas para a criação de uma rede de centros de recolha oficial de animais e para a modernização dos serviços municipais de veterinária, e estabelece a proibição do abate de animais errantes como forma de controlo da população, privilegiando a esterilização” (24).

Os crimes contra animais podem constituir ainda um fator de risco e indicador de outros tipos de violência como a interpessoal, doméstica ou sobre crianças e idosos, fornecendo informações importantes sobre possíveis riscos inerentes para outros animais ou para a sociedade em geral. Por consequente, é de extrema importância o papel do médico

(18)

8 veterinário no diagnóstico de crimes contra animais, tendo este o dever e responsabilidade de denunciar os casos às autoridades apropriadas para proteger a saúde e o bem-estar dos animais e pessoas envolvidas (7, 15, 20, 22, 25). Estudos apresentam como principais motivos para aos maus tratos animais as ações com objetivo de controlar ou modelar os comportamentos inerentes dos animais, assim como a forma de punição por parte do detentor (15).

Alguns estudos demostram que mais de 60% dos agressores adultos violentos apresentam história de abuso de animais na infância (7). Outros estudos demonstraram que existe maus tratos ou ameaças aos animais de estimação de aproximadamente dois terços das mulheres que sofreram violência doméstica (7, 25). Segundo um estudo realizado no Reino Unido a mulheres que sofriam de violência doméstica, 66% relataram existir ameaças e 38% relatam maus tratos físicos aos animais de estimação (25).

Para este efeito e segundo o artigo 389.º são designados como animais de companhia os animais ao cuidado dos seres humanos para entretenimento e companhia. Não estão incluídos os animais com fins de exploração agrícola, pecuária ou agroindustrial, bem como animais para fins de espetáculo comercial (20, 22).

Mais tarde, em 2017, procedeu-se à alteração do Código Civil com a aprovação Lei nº 8/2017, de 3 de março, que estabelece um estatuto jurídico aos animais. Segundo o artigo 1.º é reconhecidos aos animais a natureza de seres vivos dotados de sensibilidade (20, 26).

O balanço anual de 2016 em Portugal dos maus tratos a animais de companhia realizado pela GNR, a partir do SEPNA, registou 3694 denúncias, 767 crimes e 5064 autos de contraordenação (27).

(19)

9 4. Necrópsia médico-legal na patologia forense veterinária

4.1. Objetivo e diagnósticos diferenciais

A necrópsia médico-legal na medicina veterinária tem objetivos semelhantes à medicina humana, sendo realizada em casos de suspeita de morte animal não natural, com o principal objetivo de determinar a causa e circunstâncias da morte (1, 7, 9-12). Embora seja possível uma segunda opinião a partir do material obtido na necrópsia, é de salientar que esta técnica em si, bem como os achados observados podem ser irreversíveis (7, 9).

Em medicina veterinária, a necrópsia do animal pode ser requisitada pelas autoridades, em caso de suspeita de crime e pelo detentor do animal, em situações de suspeitas de causa externa de morte e para esclarecimento de causa de morte. Pode ser ainda ser requisitada pelas seguradoras, para avaliação de dano (2).

Nos maus tratos a animais que podem causar a morte estão incluídas uma vasta variedade de ações que causam lesões corporais como os pontapés, os socos, arremessos, agressões com instrumentos, esfaqueamento, queimaduras, utilização do micro-ondas, afogamento, asfixia, arma de fogo, abuso sexual, negligência e ainda a administração de drogas ou venenos (7, 25).

Segundo o autor Melinda Merck (2013), na medicina veterinária a classificação do diagnóstico diferencial médico-legal difere da humana, dividindo-se em morte acidental, morte não acidental, morte de causa natural e morte indeterminada. Acidental quando a morte é de causa traumática/violenta de forma não premeditada, não acidental quando a morte causada pelo agente de forma deliberada constituindo uma ofensa criminal de acordo com as leis, natural quando se refere a morte causa exclusivamente por doença e morte indeterminada quando não se consegue estabelecer uma das causas de morte anteriormente mencionadas (1, 2, 13).

Para isto, é necessário conseguir diferenciar a causa de morte do mecanismo de morte. Enquanto que a designação causa de morte é atribuída ao evento que produz a alteração fisiológica que leva à morte, utilizada em relação ao diagnóstico diferencial anteriormente descrito, o termo mecanismo de morte refere-se às alterações fisiológicas provocadas pela causa da morte, como por exemplo hemorragias ou infeções (1, 5, 20).

Na realização deste tipo de necrópsia o patologista veterinário deve proceder de forma independente, objetiva e imparcial, tendo como objetivo documentar e interpretar os achados obtidos, transmitindo-os ao sistema jurídico que posteriormente toma as deliberações sobre o caso. (11) Para isto, deve responder as seguintes questões: como, porquê, quando e onde morreu, sequência temporal dos eventos, qual a saúde geral do animal, lesão ante e post mortem, condições pré-existentes que podem ter influenciado sua morte e possíveis envolvidos (1, 6, 7, 11).

(20)

10 4.2. Exame de hábito externo

Para uma correta abordagem inicial do cadáver é fundamental possuir a informação relativa ao caso. Tal como acontece em qualquer investigação laboratorial, é necessária uma completa informação do animal como a história clínica, idade, contexto social, dieta, entre outros. Contudo, na medicina veterinária forense por norma esta não é conseguida, pois o animal em causa quando encontrado está morto e pode não ter detentor que forneça a informação (1, 2).

A primeira etapa da investigação é o exame do local do crime, onde é abordado o reconhecimento do local, colheita adequada do material e preservação das provas (12, 13). Devem ser chamados de imediato ao local para examiná-lo agentes da lei, no caso de Portugal o SEPNA e GNR, bem como se necessário o médico veterinário (2).

O local do crime apresenta informações importantes quanto à vítima, suspeito e ações decorridas no crime, sendo necessário a recolhas de evidências físicas, como objetos, e de amostras biológicas, como sangue, saliva, esperma, cabelo, tecido, ossos, dentes ou outros fluidos corporais. É importante salientar que cada animal deve ser considerado um item individual de evidência e caso existam vários animais envolvidos, deve ser atribuído um número de identificação exclusivo de cada um (5, 12, 13).

Nas informações relevantes para a realização da necrópsia médico-legal deve constar as informações recolhidas no local onde foi encontrado o cadáver, como a data e horários dos incidentes ou achados, local, os intervenientes na ação, vestígios e achados da cena de crime, fotografias entre outros (1, 7, 12, 13). De forma geral, devem ser recolhidas todas as evidências relevantes para o caso, ou seja toda e qualquer coisa que pode provar ou refutar um caso (12).

Para uma correta investigação, a análise destas evidências deve ser realizada com rigorosos padrões de controle de qualidade, garantindo a cadeia de custódia. A cadeia de custódia consiste no rastreamento das evidências, ou seja, no registo de datas, horários e pessoas envolvidas no contato com a evidência que esta seja eliminada, garantindo que o material não foi perdido ou adulterado (1, 4, 12, 20).

O médico veterinário forense deve tratar o cadáver como objeto de várias evidências efetuando uma correta colheita e preservação do mesmo, sendo as mais comuns as evidências biológicas, toxicológicas, entomológicas e de armas de fogo (12). A necrópsia médico-legal veterinária não difere nos seus procedimentos em comparação com a necrópsia clínica, contudo o que muda é o seu objetivo (16).

Antes da análise do cadáver e tratando-se este de uma evidência deve ser completamente documentado, incluindo fotografias, apontamentos, diagramas e radiografias (12). Em casos de pequenos animais e jovens, principalmente quando há

(21)

11 suspeita de abusos, a realização do exame radiográfico contribui para a identificação de fraturas ósseas, fragmentos e trajetórias de projéteis e lâminas, marcas de instrumentos que podem indicar a natureza das lesões e qual a arma do crime, identificação de pneumotórax, pneumoperitoneu, embolia aérea venosa (1, 5, 7, 28, 29).

A primeira etapa da necrópsia é o exame de hábito externo que tem como finalidade a identificação do animal ou seja, determinar a espécie, raça, sexo, cor do pêlo/penas/escamas, idade, peso e identificar particularidades que ajudem no reconhecimento (1, 2, 9). Quanto à identificação de um animal devemos ainda verificar se existe a implantação de microchip, sendo esta a melhor forma de fornecer informação segura sobre a identificação do mesmo (1).

Ainda no exame de hábito externo devem ser avaliados os sinais como sujidade no pêlo ou penas, lesões e feridas sugestivos de luta, material estranho associado ao corpo como vegetação e o estado nutricional do animal (7, 11).

Quanto às lesões, estas devem ser identificas, classificadas, referenciar localização e descrever (forma, tamanho, cor, consistência e odor), para auxílio da identificação da arma e determinação de lesões acidentais ou intencionais. Porém o pêlo nos animais dificulta a identificação destes traumas físicos. Estes podem resultar de atos intencionais de violência, acidentes de viação, caça, acidentes com embarcações, no caso de animais marinhos, rituais religiosos e em procedimentos terapêuticos (1, 2, 11, 28).

Para classificação das lesões é essencial a descrição dos bordos, forma, cor, tamanho, tecidos adjacente e subjacente. As feridas incisas são infligidas por instrumentos cortantes, resultado numa lesão mais longa e menos profunda com bordos limpos. As lesões de abrasão são lesões superficiais na pele com envolvimento de força tangencial. As contusões e hematomas são termos utilizados para a saída do sangue da circulação sanguínea para os tecidos adjacentes, sendo que os hematomas ocorrem mais profundamente, como por exemplo órgão parenquimatosos. As lacerações são aberturas na pele causadas por contusão, ocorrendo sobretudo quando existe uma base firme e tecido mole subjacente, como as proeminências ósseas (2, 7, 11, 28).

Outras lesões podem ainda ser identificadas como fraturas do sistema esquelético, definidas como a disrupção dos ossos e dentes causada por uma força, podendo estar associada direta ou indiretamente a lesões contundentes. Podemos ainda ter mutilações associadas a ataques de predadores ou ataques de cães (7). Menos comuns são as queimaduras, estas lesões podem ser causadas por ação térmica, elétrica ou química (2, 7).

No exame externo é também importante observar possíveis sinais de asfixia, definida como a perturbação na captação e utilização de oxigénio e eliminação de dióxido de carbono, sendo as situações mais comuns o estrangulamento, sufocação, asfixia mecânica

(22)

12 e afogamento. Os sinais observados podem ser desde a cianose e congestão da pele do pescoço, até as lesões dos instrumentos utilizados, como ligaduras (7).

Nos ferimentos por armas de fogo, deve ser retratado a direção do trajeto do projétil identificando na pele, se possível, o orifício de entrada e de saída. O orifício de entrada corresponde uma área circular ou oval perfeita rodeado por uma pequena área de abrasão, enquanto que o orifício de saída é geralmente irregular podendo ter várias formas sem lesão de abrasão associada (2, 7).

Nos casos de abusos sexuais, definidos como aqueles em que os animais são usados para gratificação sexual, os achados encontrados dependem do tipo de abuso sexual praticado, sendo as lesões caracterizados pelo tipo de contacto, do tipo e tamanho dos objetos usados e do tamanho do animal (7).

Outro aspeto a ter em conta são os fenómenos cadavéricos post mortem pois auxiliam na determinação do intervalo pós-morte, contudo é importante ter em conta que estes variam consoante a espécie (2, 7, 11, 30). Logo após a morte as células deixam de receber oxigénio e consequentemente as enzimas degradam macromoléculas intracelulares e extracelulares, designando-se este fenómeno por autólise. Mais tarde, ocorre uma degradação bacteriana à qual designamos de putrefação (2, 10).

Os fenómenos cadavéricos podem ser abióticos, imediatos ou mediatos, e transformativos. Os abióticos imediatos referem-se à insensibilidade, imobilidade e paragem das funções respiratórias e circulatórias. Enquanto que, os abióticos mediatos referem-se:

• Arrefecimento cadavérico;

• Rigidez cadavérica (rigor mortis) – instala-se por norma após o arrefecimento cadavérico pela sequência de pálpebras, músculos mastigadores, nuca, pescoço, partes anteriores do tronco, membros anteriores, partes posteriores do tronco, membros posteriores e cauda, desinstalando-se no mesmo sentido;

• Evaporação cadavérica – evaporação da água presente nos tecidos através da epiderme;

• Lividez cadavérica (livor mortis) - palidez das mucosas ou manchas avermelhadas (manchas de hipóstase) instaladas nas regiões em declive;

• Coagulação post mortem do sangue (2, 7, 10, 30). Os fenómenos cadavéricos transformativos referem-se:

• Período cromático – aparecimento de manchas esverdeadas ao nível abdominal, principalmente na região inguinal;

• Período enfisematoso – produção de gás que se inicia nos intestinos devido à fermentação bacteriana;

(23)

13 • Período de coliquação – liquefação das partes moles devido à proteólise;

• Período de redução esquelética – desaparecimento dos tecidos coliquados (2, 10). Por fim, devem ser também examinadas não só as cavidades oral e a nasal, ouvido externo e a mucosa ocular, assim como a genitália externa, no caso nos machos o pénis deve ser exteriorizado para observação (7).

(24)

14 4.3. Exame de hábito interno

Após o exame externo procede-se à avaliação do exame de hábito interno com a abertura do cadáver. Para isto o animal deve estar na posição decúbito dorsal de forma a manter as relações topográficas dos órgãos (2, 7). Estes procedimentos devem sempre ter em conta e ser adaptados consoante as informações do processo, história clínica e das evidencias do local de crime e prováveis acontecimentos (7, 13).

De uma forma geral, na maioria dos animais os procedimentos para abertura do cadáver inicia-se com a desarticulação dos membros e em seguida é realizada a incisão ao longo do eixo longitudinal do animal, desde o mento até à região perineal, iniciando-se na sínfise mandibular, prolongando-se pela linha média intermandibular, da face ventral do pescoço, da região esternal e da linha branca do abdómen contornando o umbigo e a genitália, até à região perineal, rodeando o orifício anal, findando na base da cauda. Posteriormente, deve ser rebatida a pele e tecido muscular e adiposo subjacentes, e em seguida removido o plastrão (2).

Existem várias técnicas de necrópsias para a avaliação e evisceração dos órgãos, contudo as mais comummente utilizadas são a técnica de Rokitansky e de Ghon (7, 9). A técnica de Rokitansky consiste na avaliação e dissecção in situ dos órgãos em bloco, uma vez que são mantidas as conexões anatómicas e patológicas, e só posteriormente a extração de cada órgão individualizado (7). Por outro lado, a técnica de Ghon consiste na extração em bloco dos órgãos anatomicamente relacionados e examinados posteriormente (9).

De forma geral, nesta etapa devem ser abertas pelo menos as três principais cavidades do corpo, que são a cavidade cranial, cavidade torácica e cavidade abdominal. Após a exposição dos órgãos, estes devem ser examinados bem como a correlação entre eles (9). Após a extração dos órgãos, a necrópsia deve ainda incluir sempre a abertura caixa craniana, independentemente de estarem associados sintomas nervosos ou suspeita de traumatismo, para examinação do encéfalo, cerebelo e medula. Por vezes é também necessário a abertura e avaliação da coluna vertebral (7).

De forma geral, no exame de hábito interno devem ser examinados todos os órgãos internos e colhidos fragmentos para anatomia patológica (5, 7, 13). A análise anatomopatológica deve ser sempre considerada mesmo quando não existam achados macroscopicamente evidentes, uma vez que permite determinar ou eliminar causas de patologias ou da morte (13).

Porém, devido há ampla variedade de espécies existente na medicina veterinária, não é possível definir nenhuma técnica de necropsia adequada a todas as espécies. Isto

(25)

15 acontece sobretudo em espécies não domesticadas, sendo necessário a aplicação de uma técnica tendo em conta as características especiais da espécie analisada (1).

Exemplo disso são os mamíferos que apresentam algumas variações, como por exemplo a presença ou ausência de cauda, a estrutura do trato gastrointestinal, e semelhanças, todos têm pelagem (1). No caso dos animais mamíferos monogástricos, incluindo domésticos e não domésticos, devem ser aplicadas as técnicas de necrópsias anteriormente mencionadas, assim como no caso dos suínos e roedores, pois apesar das diferenças anatómicas de alguns órgãos não implicam a aplicação de procedimentos diferentes. No caso específico dos equídeos, o cadáver de ser colocado em decúbito para o lado direito, removendo os membros anterior e posterior esquerdos e a pele que recobre o abdómen e tórax. Seguem-se as aberturas das cavidades abdominais e torácicas com um corte realizado ao longo da linha do hipocôndrio, que continua paralelo à coluna vertebral lombar, seguindo para baixo ao longo do flanco. Pelo contrário, nos casos dos ruminantes a posição aconselhada é decúbito sobre o lado esquerdo com remoção dos membros do lado direito, segue-se a abertura da pele pela linha média ventral, rebatendo-a, seguindo-se o corte da parede muscular dorsal ao longo das apófises transversas das vértebras lombares, continuando pela linha média do hipocôndrio, seguindo os ossos da bacia (2).

Nos pássaros, todos são ovíparos e exibem penas e sacos aéreos, diferindo na presença ou ausência de papo e ceco (1). A necrópsia inicia-se com a desarticulação entre os ossos fémur e coxal, seguindo a incisão transversa abaixo da quilha com rebatimento da pele da direção cranial e caudal (2).

Já no caso dos répteis existem diversas alterações especificas de cada classe, como a ausência de membros funcionais, presença de carapaça e plastrão, alguns são ovíparos, contudo todos têm escamas (1, 2). De forma geral os procedimentos adotados são semelhantes ao dos mamíferos, contudo é necessário ter em conta as alterações das classes descritas anteriormente (2).

Todos os peixes apresentam escamas, barbatanas, guelras, brânquias e bexiga natatória, contudo existem variação devido ao ciclo de vida e habitat, caso sejam de água doce ou salgada (1). Estes casos exigem um protocolo específico, sendo as principais modificações a posição de decúbito lateral sobre o lado direito, começando a incisão na abertura anal e progredindo ao longo da linha ventral até à sínfise dos opérculos, antes das guelras, seguindo-se uma segunda incisão desde a abertura anal, que segue o limite superior, até se encontrar com extremidade anterior do primeiro corte (2).

Cada etapa, assim como as suas evidências, devem ser identificadas, fotografadas e documentadas com o máximo de detalhe e descrição, mas também com uma leitura sucinta, possibilitando uma interpretação objetiva (9, 12). Devem ser cuidadosamente

(26)

16 recolhidas e posteriormente analisadas as evidências presentes no cadáver com relevância na investigação do caso, como por exemplo como projéteis, fragmentos de projéteis e lâminas, cabelos estranhos, fibras, manchas de tinta e partículas (12).

No exame do hábito interno devem ser observadas e avaliadas as alterações nos tecidos internos provocadas pelas lesões descritas no exame de hábito externo. Exemplo disso são as lesões de asfixia que podem causar hematomas subcutâneos sobre a laringe, congestão da epiglote ou até mesmo presenta de corpos estranhos inalados a aquando da morte, como areia e lama, ou nos casos de afogamento a congestão dos pulmões e presença de líquido espumoso rosa nos brônquios e na traqueia (7).

No exame interno das lesões por armas de fogo, no caso do projétil se encontrar alojado nos tecidos internos, deve ser encontrado e fotografado in situ, sendo posteriormente removido sem provocar deformações no mesmo. É importante salientar que os danos causados nos tecidos variam consoante as características do projétil e da arma utilizados e a sua presença não indica que foi responsável pela causa de morte (2, 7, 10).

Nos casos de abusos sexuais podem ser identificadas lesões, traumáticas e perfurações, geralmente nos órgãos sexuais e no reto (7).

Para completar a necrópsia veterinária médico-legal, devem ser recolhidas amostras para os exames completares, na maior parte das vezes imprescindíveis na resolução do caso, como a anatomia patológica, microbiologia, virologia, parasitologia, entomologia e toxicologia (7, 12).

As evidências biológicas mais comumente recolhidas são tecidos, sangue e urina. Estas têm podem ser utilizadas para identificar a vítima ou confirmar que a vítima esteve num local específico relevante no caso. Para além destas, pode ainda ser recolhida uma zaragatoa da boca para análises do ADN (12).

Nas evidências toxicológicas estão inseridos o conteúdo gástrico, tecido hepático e renal, com o objetivo de detetar a presença de drogas no sistema do animal (12). Devem ser testadas as substâncias individualmente, tendo em conta a suspeita de substâncias especificas utilizadas ou lesões características de determinados tipos de substâncias (7, 12).

Podem ainda estar presente no cadáver evidências entomológicas que auxiliam na determinação do intervalo pós-morte e, em alguns casos, no local de morte, como os casulos, larvas de insetos e ovos (1, 7, 12).

Por fim, o ideal é que todos os órgãos sejam repostos dentro do cadáver e a pele suturada, de forma a manter o respeito pelo mesmo, sendo o cadáver mantido em segurança no frio até ao descarte ou devolução ao dono (7).

A necrópsia termina com a elaboração de um relatório final onde consta toda informação e registos fotográficos, conjuntamente com a documentação facultada pelas autoridades e

(27)

17 das informações recolhidas no local de crime. Este deve ser o mais completo possível, onde conste toda a informação obtida, como grau de desenvolvimento de fenómenos cadavéricos, alterações morfológicas dos órgãos, mecanismo e causa de morte (2, 7, 12, 13).

(28)

18 5. Materiais e Métodos

Este estudo consiste na análise retrospetiva de uma amostra de necrópsias médico-legais realizadas entre os anos de 2009 e 2018 no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. Para isso foram analisados todos os relatórios compreendidos nesse período realizados por patologistas pertencentes ao laboratório.

Por norma, a entrega do corpo nas instalações do laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD é realizada por um agente da autoridade (GNR ou SEPNA), de forma a garantir a cadeia de custódia. Todos os procedimentos desde que o cadáver entra no laboratório são documentados e fotografados, caso seja necessário verificar alguma informação.

Na receção dos cadáveres, o patologista veterinário assina e data a prova da receção e verifica se a etiqueta que acompanha do cadáver corresponde á amostra. Posteriormente, é atribuído a cada cadáver o número interno do laboratório que acompanha todas as amostras referentes ao caso, permitindo manter a cadeia de custódia (figura 1).

Figura 1 - Receção de amostras para necrópsias médico-legais no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. Imagem A demonstra a receção do cadáver pela patologista veterinária e documentação envolvida na mesma. Imagem B demonstra condições de receção do cadáver com o respetivo número interno do laboratório histologia e anatomia patológica da UTAD.

As necropsias médico-legais foram realizadas por uma equipa especializada constituída por médicos veterinários com formação especializada e técnicos/auxiliares na área forense

(29)

19 com a mesma metodologia, seguindo protocolos de estudo de necropsias médico-legais veterinárias específicos e sistematizados.

As necrópsias médico-legais veterinária iniciaram-se com a identificação do animal onde consta a espécie, a raça, a idade, o sexo, o peso, a cor da pelagem, e outras características como o corte das orelhas e cauda (figura 2).

Figura 2 - Fotografia inicial do cadáver com a identificação do número interno do laboratório histologia e anatomia patológica da UTAD.

De forma geral os procedimentos adotados no exame de hábito externo consistiram na avaliação da condição corporal, tendo em conta as características descritas no passo anterior, e as articulações, de forma a verificar a mobilidade. Foram examinadas as superfícies e estruturas externas, registando-se os seguintes dados: peso, condição nutricional, rigidez, estado de decomposição pós-morte, condição do pêlo, pele, membranas mucosas, olhos e orifícios corporais. Foram ainda registadas tatuagens, cicatrizes, feridas, tumores cutâneos, malformações ósseas, corrimentos, etc.

Na pele foram avaliadas as regiões de alopécias, erosões, úlceras, alterações da coloração e presença de ectoparasitas. Nas mucosas, como fossas nasais, cavidade oral e mucosa ocular foram examinadas e registadas as alterações, como a alteração da cor, humidade, corrimentos anormais, úlceras e presença de corpos estranhos. Tem destaque a cavidade oral onde foi avaliado o conteúdo, língua, o estado da dentição, glândulas salivares e amígdalas.

Os procedimentos efetuados no exame de hábito interno iniciam-se colocando o animal em decúbito dorsal, como o corte dos ligamentos musculares da escápula e os músculos peitorais, examinando o plexo braquial e os gânglios cervical superficial e axilar. Os membros posteriores foram desarticulados ao nível da articulação coxofemoral.

(30)

20 De forma geral, o protocolo selecionado para abertura do cadáver consistiu na realização da incisão na linha média, desde a sínfise mandibular, continuando pelo pescoço, tórax, abdómen, e terminando na púbis. Sendo que, nos machos a incisão rodeou o pénis incidindo os testículos, que foram removidos após o corte do escroto e túnicas.

Posteriormente, a pele do pescoço foi rebatida lateralmente evidenciando as glândulas salivares, glândulas parótidas e gânglios mandibulares, isolando-se a glândula tiróide. Em seguida procedeu-se ao rebatimento da pele do cadáver, observando alterações no tecido subcutâneo, como manchas negras e esverdeadas ou enfisema cadavérico. A glândula mamária foi também avaliada quanto ao volume, forma, consistência, cor e superfície de corte.

A cavidade abdominal foi exposta realizando a incisão na linha média e rebatendo a musculatura abdominal, desde o apêndice xifóide até à região do períneo. Em seguida procedeu-se á abertura da cavidade torácica com o corte das articulações costo-condrais, desde a primeira até à última costela, rebatendo o esterno.

Os procedimentos adotados nas necrópsias médico-legais para observação e evisceração dos órgãos foram, de forma geral, os descritos pela técnica de Rokitansky, tendo sempre em conta as especificações de cada espécie

Os órgãos da cavidade abdominal foram avaliados in situ, observando a sua posição, o conteúdo e o aspeto do peritoneu e do epiplon. O diafragma foi avaliado quanto à sua concavidade e relações com o fígado, baço, e ramos do trato digestivo. Posteriormente, os órgãos foram eviscerados com o corte do omento e extraindo-se o fígado e baço, seguindo-se o tubo digestivo, com o corte no reto até à cárdia. Após obseguindo-servação in situ, foram também retiradas as glândulas adrenais e rins. Os órgãos do trato urinário foram eviscerados em bloco, incluindo nos machos a próstata e nas fêmeas foram dissecados em bloco, útero e ovários.

Após a remoção de todos os órgãos, são examinados os corpos vertebrais, a aorta abdominal e os linfonodos ilíacos.

Os órgãos da cavidade torácica foram, de igual forma, avaliados in situ, assim como a avaliação da pleura parietal e visceral e do pericárdio. Em seguida, procedeu-se à evisceração dos órgãos com início na remoção da língua com um corte na face medial do corpo da mandibula em ambos os lados, em direção caudal até à faringe. Nesta fase, a língua foi puxada manualmente, para baixo e para trás, cortando o teto da cavidade oral, a cartilagem do osso hióide e todas as aderências com o resto das estruturas. Todos os órgãos torácicos (laringe, traqueia, esófago, pulmões e coração) foram retirados em bloco após secção do esófago, aorta e veia cava.

O esófago foi aberto longitudinalmente em todo o comprimento observando-se o conteúdo e parede. A traqueia e os grandes brônquios foram abertos desde a cartilagem

(31)

21 cricóide, continuando pela face rosto-caudal dos anéis, seguindo-se os grandes brônquios, as artérias pulmonares foram também observadas.

No coração foram observados o pericárdio, cavidade pericárdica, miocárdio e endocárdio. O coração foi seccionado com um corte transversal do apéx, de forma a visualizar as duas cavidades ventriculares e medindo cada uma. A abertura do coração foi realizada segundo o fluxo sanguíneo, com incisão desde o ventrículo direito até à veia cava, pela parede muscular atravessando o orifício auriculoventricular, e em seguida as artérias pulmonares foram abertas. A abertura do lado esquerdo foi realizada de forma similar, com incisão desde o ventrículo esquerdo até à artéria aorta, pela parede muscular. Após a abertura do coração, foram avaliadas as paredes, bem como todas a válvulas.

No geral, os órgãos parenquimatosos como fígado, baço, pâncreas, ovários, testículos, próstata, rins e adrenais foram pesados, medidos e avaliados os aspetos externos como cor, forma, bordos, superfície e hilo. Posteriormente, foram seccionados em cortes seriados segundo o maior eixo, sendo que no caso do rim foi realizado um corte longitudinal ao longo do eixo maior até à pélvis renal.

A vesícula biliar foi aberta desde o ducto biliar até ao fundo de saco, avaliando-se o conteúdo, mucosa e as paredes.

A abertura trato gastrointestinal iniciou-se no estômago pela grande curvatura, desde a cárdia, continuando-se pelo bordo mesentérico do intestino delgado e grosso. Em seguida, foram avaliadas a serosa e a mucosa, observando-se o conteúdo, a forma e aspeto da mesma.

Na abertura do crânio, os procedimentos comummente realizados iniciaram-se com remoção da pele e os músculos, realizando-se depois o corte transversal no crânio sobre o osso frontal, caudal ao processo zigomático. Realizou-se os dois cortes sagitais, medialmente aos côndilos occipitais e por fim o corte transversal, feito no osso occipital, acima do foramen magnum. Por fim, removeu-se a calote expondo o cérebro, removido após o corte dos bolbos olfativos, das artérias carótidas internas e dos nervos cranianos. Posteriormente, foi avaliado o seu volume, cor, consistência, peso e o aspeto das circunvoluções, sendo seccionado após a sua fixação com formol tamponado a 10%.

Após a conclusão da necropsia os cadáveres foram devidamente identificados e mantidos no laboratório até conseguirem serem asseguradas as corretas condições de espaço e armazenamento dos mesmos na refrigeração. As partes restantes separadas do cadáver foram também armazenas de forma correta, tendo e conta a origem biológica da amostra, e identificadas com o número.

Para a organização das variáveis foi realizada uma base de dados utilizando inicialmente o programa Microsoft Office Excel 2019. Nesta base de dados foi ainda referido o número de identificação do caso do laboratório de histologia e anatomia

(32)

22 patológica da UTAD, de forma a permitir a relação com o número sequencial e o rápido acesso às informações em caso de dúvida na revisão. Posteriormente, esta informação foi transferida para o IBM SPSS Statistics, versão 26. Utilizou-se essa aplicação informática para análise, tratamento e realização de testes estatísticos da informação recolhida, bem como para a realização de tabelas e gráficos.

No estudo foram avaliadas inicialmente o número total da realização de necrópsias médico-legais nos 10 anos estudados, seguindo-se a determinação do número por ano como respetiva percentagem tendo em conta o número total.

Posteriormente, correlacionou-se a média do número de necrópsias realizadas anteriormente ao ano 2017 e após o ano 2017, incluindo este, com a realização do teste t-student e teste de normalidade Shapiro-Wilk. Definiu-se como separador o ano 2017 devido à alteração do Código Civil com a aprovação Lei nº 8/2017, de 3 de março, que estabelece um estatuto jurídico aos animais.

Para caracterização dos animais foram avaliadas as seguintes variáveis: espécie, idade, sexo, raça e chip. A variável da idade como apresenta um processo complexo e de estimativa, os animais foram divididos em 3 faixas etárias: juvenil (até 1,5 anos; crias), adulto (acima de 1,5 anos; adulto) ou sénior (acima de 10 anos; sénior). A variável sexo foi avaliada com as designações fêmea e macho. Quanto à raça esta será descrita tendo em conta a espécie do animal correspondente. Sempre que uma das variáveis anteriormente mencionada não se encontre descrita é considerada não aferida. A variável chip ou marca de identificação foi avaliada como presente, quando descrita, ou ausente, quando não existe referência à presença do mesmo.

Posteriormente, identificou-se as principais causas de morte dentro de 5 grupos distintos classificados consoante o diagnóstico diferencial médico-legal na medicina veterinária: natural, violenta acidental, violenta não acidental, indeterminada ou violenta acidental / não acidental (quando não foi possível distinguir se a morte é acidental ou não acidental). Em seguida, estes são subdivididos tendo em conta o mecanismo de morte descritos.

Para a análise da elaboração do relatório, foram avaliados os achados no exame de hábito externo e os achados no hábito interno.

No exame de hábito externo foram avaliadas as seguintes variáveis: descrição, fenómenos cadavéricos post mortem, lesões externas, condição corporal, pelagem e mucosas. No geral o exame de hábito externo foi avaliado como descrito ou não descrito. Quantos aos fenómenos cadavéricos post mortem foram categorizados consoante os fenómenos e períodos: período cromático, período enfisematoso, período de coliquação, período de redução esquelética, mumificação, rigor mortis, ausentes ou putrefação (quando apenas foi mencionado alterações de putrefação). As lesões externas foram categorizadas consoante o tipo de lesão: ausentes, ferimentos por arma de fogo, abrasão,

(33)

23 erosão, perfuração, contusão, hematoma ou múltiplas (quando descrita mais do que uma das lesões anteriormente descritas em simultâneo). Quanto à condição corporal, pelagem e mucosas foram avaliadas como descritas ou não descritas, separadamente.

No exame de hábito interno foram avaliadas as seguintes variáveis: descrição, cavidade cranial, cavidade torácica e cavidade abdominal. No geral o exame de hábito interno foi avaliado como descrito ou não descrito. A cavidade cranial foi avaliada como: sem descrição (quando o relatório não apresenta nenhuma referência da mesma) e descrita (quando o relatório apresenta qualquer referência sobre a mesma).

As cavidades torácica e abdominal separadamente foram categorizadas como: sem descrição, descrição de forma genérica e descrição individual de cada órgão. Foram categorizadas como sem descrição quando o relatório não apresenta nenhuma referência aos órgãos que a constituem. Categorizadas como descrição de forma genérica quando o relatório apresenta referência apenas a alguns órgãos de forma genérica ou conteúdo/alterações presente, lesões presentes ou referência de fenómenos cadavéricos nos órgãos. Foram considerados como descrição individual de cada órgão os casos em

que os relatórios exibem referência à maior parte dos órgãos de forma individual com

alterações, medidas, peso e conteúdo.

Foram ainda avaliados a realização ou solicitação de exames complementares: anatomia patológica, toxicológico, radiológico ou não requeridos. Estes foram avaliadas como solicitados ou não solicitados, separadamente.

Foram ainda identificados os casos com envolvimento das autoridades avaliados como: envolvimento ou não envolvimento. Foi reconhecido como envolvimento das autoridades sempre que mencionado no relatório autoridades como a GNR, SEPNA, o número de processo NUIPC ou referência ao programa antídoto.

Todas as variáveis anteriormente descritas foram avaliadas para o número total da realização de necropsias médico-legais nos 10 anos estudados, entre o ano 2009 e 2018. Para cada ano individualmente foram avaliadas não só as variáveis de caracterização espécie, idade, sexo e chip, como também os diagnóstico diferencial médico-legal na medicina veterinária, os exames complementares e o envolvimento das autoridades. Ainda foram avaliadas para cada ano as variáveis não só do hábito externo, como também do hábito interno. Posteriormente, verificou-se se existe uma alteração dos relatórios na descrição da cavidade torácica e abdominal para as necrópsias realizadas anteriormente ao ano 2017 e após o ano 2017, incluindo este, com a realização do teste Qui-quadrado. Definiu-se como separador o ano 2017 devido à alteração do Código Civil com a aprovação Lei nº 8/2017, de 3 de março, que estabelece um estatuto jurídico aos animais.

De igual forma, verificou-se que existe uma diferença não só em todos os exames complementares, como também para o envolvimento das autoridades para as necrópsias

(34)

24 realizadas anteriormente ao ano 2017 e após o ano 2017, incluindo este, com a realização do teste Qui-quadrado.

(35)

25 6. Resultados

No estudo foram avaliadas um total de 90 necrópsias médico-legais veterinárias realizadas entre o ano 2009 e 2018 no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. Na tabela 1 estão representadas o número e respetiva percentagem, tendo em conta o número total de necrópsias realizadas em cada ano. O ano com mais número de necrópsias realizadas foi 2017 com 23.3% (n=21), seguido dos anos de 2018 e 2014 com 17,8% (n=16) cada. Os anos com menos número de necrópsias realizadas foram 2009 com 1,1% (n=1), seguido do ano 2013 com 2,2 (n=2) e 2015 com 3,3% (n=3). O gráfico 1 pretende demostrar a variação ao longo dos anos evidenciando os anos com mais e menos necrópsias realizadas.

Tabela 1 - Número e percentagem de necrópsias médico-legais veterinárias realizadas anualmente entre os anos de 2009 e 2018 no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD.

Número de necrópsias Percentagem de necrópsias

Ano 2009 1 1,1 2010 10 11,1 2011 8 8,9 2012 5 5,6 2013 2 2,2 2014 16 17,8 2015 3 3,3 2016 8 8,9 2017 21 23,3 2018 16 17,8 Total 90 100,0

Após a realização do teste t para o número de necrópsias realizadas anteriormente ao ano 2017 e a partir do ano 2017 obteve-se valor-p de 0,014 IC=[-20,-3]. Desta forma, podemos afirmar que existe diferença estatisticamente significativa entre o número de necrópsias realizadas anteriormente ao ano 2017 e a partir do ano 2017.

Nas 90 necrópsias médico-legais veterinárias 55,6% (n=50) representaram a espécie canina, 12,2% (n=11) galináceos, 11,1 % (n=10) Vulpes Vulpes e 3,3% (n=3) Ciconia

Ciconia. Apresentaram uma percentagem de 2,2% (n=2) as espécies felina, ovina, Pica Pica, Sus Scrofa e Milvus Milvus. Por fim, com uma percentagem de 1,1% (n=1) as

(36)

26 respetiva percentagem de espécie para o número total de necrópsias médico-legais encontram-se descritos sucintamente na tabela 2.

Figura 3 – Gráfico com a variação do número de necrópsicas médico-legais veterinárias realizadas entre os anos de 2009 e 2018 no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD.

Da espécie canina 17 casos foram de raça indeterminada, 9 foram Serra da Estrela, 6 foram Castro Laboreiro, 3 foram Podengo, com 2 casos tivemos a raça Pastor Alemão e Cão de Gado Transmontano, com 1 caso cada a raça Yorkshire Terrier, Husky Siberiano e Golden Retriever e 8 casos cuja informação não foi aferida. O caso da espécie caprino foi da raça bravia e do bovino da raça maronesa. Todos os restantes casos apresentaram informação não aferida.

No número total de necrópsias, na variável sexo 34,4 % (n=31) foram machos, percentagem semelhante representaram os casos com informação não aferida e 31,1% (n=28) fêmeas. Quanto à idade 56,7% (n=51) foram casos com informação não aferida, 31,1% (n=28) animais adultos e 12,2% (n=11) animais juvenis. Quanto à presença de chip ou marca de identificação 23,3% (n=21) tinham presente e 76,7% (n=69) ausentes.

Quanto ao diagnósticos diferenciais médico-legais veterinários 62,2% (n=56) das

necrópsias foram indeterminadas, 18,9% (n=17) violenta acidental/não acidental, 10,0% (n=9) natural, 7,8% (n=7) violenta não acidental e 1,1% (n=1) violenta acidental, como demostrado no gráfico 2.

Dos diagnósticos diferenciais médico-legais com causa de morte indeterminada todos eles apresentaram também mecanismo de morte indeterminado. Dos casos com morte violenta acidental ou não acidental 13 foram por intoxicação, 3 por politraumatismo e 1 por traumatismo craniano. Dos casos por morte natural, 3 foram devidos a dilatação e torção gástrica, 2 foram devido a cardiomiopatia dilatada e com 1 caso cada o tromboembolismo

Referências

Documentos relacionados

Este dado diz respeito ao número total de contentores do sistema de resíduos urbanos indiferenciados, não sendo considerados os contentores de recolha

Tendo este trabalho como objectivo, ilustrar os vários aspectos da relação de Simone de Beauvoir com o nosso país, abordámos, com esse intuito, as visitas efectuadas por esta

O presente estudo foi realizado com o objetivo de descrever o perfil das mulheres que tiveram parto na maternidade do Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago em

O estudo identificou que as legislações vigentes sobre gerenciamento de risco se relacionam, se complementam e harmonizam entre si, possibilitando a identificação

A segunda etapa de testes, na qual o combustível ficou concentrado no meio de duas camadas de sínter de 30 mm (Figuras 16 e 17), deixa evidente a necessidade de se

Esse sistema permite a obtenção de um composto orgânico com qualidades físicas, químicas e biológicas comprovadas, sendo o produto certificado pelo

Embora os resultados demonstrem que os profissionais estudados apresentam boas condições emocionais (dedicação), a redução observada nas dimensões vigor, absorção e escore

LUIS ANTONIO FIORANI, Prefeito Municipal de Vista Alegre do Alto, Estado de São Paulo, no uso de suas atribuições legais, em especial o Inciso II, Alínea “a”, do Artigo 65 da