XXXIV DOMINGO
SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO DO
TEMPO COMUM – ANO A
Evangelho - Mt 25,31-46
“Assentar-se-á em seu trono glorioso
e separará uns dos outros”
Ir. Florinda Dias Nunes, sjbp
Estamos no último domingo do ano litúrgico. É a festa de Cristo Rei do Universo. Festa marcada com caráter militante e social proclamada pelo Papa Pio XI em 1925. No intuito de restaurar o reinado de Cristo para restabelecer e revigorar a paz no mundo. A reforma litúrgica deu-lhe novo significado, sublinhando mais a dimensão transcendente e escatológica do reinado de Cristo.
As leituras deste domingo falam do pastoreio do próprio Deus. Em Ezequiel (34,11-12. 15-17) primeira leitura, Deus garante que Ele mesmo irá cuidar do rebanho, de suas ovelhas. O Sl 22/23 canta o agir do Pastor que conduz o rebanho por verdes pastagens. São Paulo aos Coríntios (1Cor 15,20-26.38) afirma Jesus ressuscitado como primícias dos que morreram para que seja tudo em todos. O Evangelho segundo Mateus (25,31-46) com a expressão “vinde benditos do Pai” faz uma descrição profética do juízo final.
A Igreja coloca também este dia como o dia dos leigos e leigas, que pelo batismo são chamados a realizar a missão profética, sacerdotal e regia na transformação do mundo. Inicia-se também a Campanha para a Evangelização que vai até o 3º domingo do Advento.
Pensar em julgamento, surgem muitos questionamentos: como/quando se dará isto? Quais os critérios? Apresento aqui alguns pontos para nossa reflexão.
Conteúdo e contexto
Mt 25,31-46, é a última parte do discurso de Jesus proferido antes de enfrentar a paixão, morte e ressurreição. O texto é próprio de Mateus, que faz uma descrição profética do juízo final e como isto acontecerá, inspirado nas histórias de pastores da Palestina. Mas é muito importante tomar consciência de que este julgamento já está acontecendo no hoje de nossa história. É agora que estamos nos aproximando ou afastando de Cristo. É agora que decidimos nossa vida.
A palavra-chave é “compaixão”. O critério para receber a bênção e o que vai decidir é a atitude de compaixão ao nos aproximarmos dos que necessitam ajudando a quem sofre. É esta também a religião mais agradável ao criador. Não seremos examinados sobre o “amor”, embora o mandamento de Jesus resume-se em dois: amor a Deus e amor ao próximo. Seremos sim examinados sobre o que fizemos concretamente diante das pessoas necessitadas. Este é o grito de Jesus a toda a humanidade: ocupai-vos com os que sofrem, cuidai dos pequenos. Nenhuma religião será abençoada por Ele, se não gerar compaixão para com os últimos. O julgamento será sobre algo bem concreto. Não importa o que dizemos ou pensamos, o que cremos ou escrevemos. Menos ainda os belos sentimentos ou protestos estéreis. O que importa é ajudar a quem precisa de nós.
Dar esmola significa fazer justiça, transforma nossa sociedade a serviço dos mais necessitados e desprovidos. A comunidade mateana está enfrentando o problema da sorte dos gentios. Jesus chama de irmãos seus, os pequenos, os pobres, os abandonados, os que não contam na sociedade, os estrangeiros. Ele virá. Esta é a certeza que orienta a marcha histórica (vv. 30-31; 26,64). A destruição do Templo foi apenas o princípio da grande tribulação, ou o início do mundo messiânico que se realiza na história. O primeiro julgamento sobre o povo da antiga aliança foi o momento decisivo, tal qual nunca existiu outro anteriormente e não existirá outro senão na consumação da história (vv. 15-21).
A vinda do Filho do Homem é uma realidade misteriosa (vv. 43-44). Mistério que pertence ao desígnio do Pai. Supõe fé e esperança. É preciso discernir e ter fé na sua proximidade (vv. 32-35). Tal proximidade realizou-se na queda do Templo. Mas continua no tempo da demora do Senhor que parece
ausente após sua morte e ressurreição. A vinda é uma realidade futura que sempre questiona e dinamiza a situação presente (Mt 24,48; 25,5 e 15).
Os vv. 36-41 desenvolvem a ideia, a partir de três figuras, de que a vinda se dá no ato de decisão e de conversão (cf. Jo 3,18ss). O julgamento de cada geração e de cada cidade virá quando menos se espera, a partir da opção fundamental que fizeram na escolha do seu Senhor, e na escolha ou recusa da justiça do Reino (Mt 6,24 e 33; 2Pd 3,10). É portanto necessário alimentar uma esperança/fidelidade ativa na missão para subsistir no tempo, durante a longa espera da vinda do Senhor.
Os pequeninos não são apenas os discípulos (Mt 10,42), mas todos os pobres e marginalizados que necessitam de um ato de amor, na situação de penúria, de injustiça e de opressão em que se encontram. É o ato de amor ativo ao próximo pobre, marginalizado e carente que decidirá no julgamento.
Concluindo
Diante de um discurso deste gênero, somos convidados a deixar cair nossas máscaras, a desmontar os mecanismos de poder, ambição e autossuficiência que estão dentro de nós, de nossa Igreja e da sociedade. Leva-nos a buscar nossa verdadeira identidade na vivência da misericórdia para com todos, particularmente, com os pobres e excluídos. Eles são sacramento de Deus, “a coroa de nosso Rei”. O amor concreto a eles será o critério do julgamento final.
Celebrando a realeza de Jesus, ressuscitado pela justiça e misericórdia de Deus, somos julgados pelos pobres mais pequeninos. É possível proclamar a realeza de Cristo enquanto seus irmãos prediletos são excluídos da liberdade e do direito à vida digna? Chamá-lo de Cristo Rei e deixá-lo com fome, com sede, sem casa, nu, doente, aprisionado, sem direito à educação em nosso meio? “Entre nós está, e não o conhecemos entre nós está e nós o
desprezamos” (Pe. André Luna).
Fonte Bibliográfica:
Bíblia algumas edições;
Revista “Vida Pastoral”, ano 55, no
299;
Equipe de Reflexão Bíblica - Brasília: Conferência dos Religiosos do Brasil/ Nacional, 2011, Que nossos olhos se abram: uma leitura de Mateus na perspectivado tesouro;
Gorgulho, Gilberto e Anderson, Ana Flora. A justiça dos pobres, Mateus. Edições Paulinas, 1981;
Mosconi, Luis. Evangelho segundo Mateus. Pista para uma leitura espiritual e
militante. São Paulo, CEBI, no 29/30 – 1990;
Pagola, José Antonio, O caminho aberto por Jesus. Vozes, 2013;
Storniolo, Ivo. Como Ler o Evangelho de Mateus - O Caminho da Justiça, Paulus, 1991.