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Mão de obra rural. Procura-se peão capacitado

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Mão de obra rural

Procura-se peão capacitado

Escassez de trabalhador rural capacitado já prejudica a produtividade. Maioria foi para a construção Lídia Borges 12 de fevereiro de 2012 (domingo)

Falar em “apagão de mão de obra qualificada” em Goiás já se tornou clichê em quase todos os setores. Na construção civil (impulsionada pelo boom imobiliário), faltam desde pedreiros até engenheiros. Reclama-se da escassez de profissionais na área da tecnologia da informação por conta da alta demanda das empresas instaladas no Estado. O comércio já deixou de exigir experiência para conseguir empregados e atender o aumento do consumo. Até doméstica se tornou artigo raro com o crescimento da classe média.

Mas é na agropecuária que o problema parece mais difícil de ser contornado. Primeiro, porque a falta de pessoal capacitado esbarra num sério déficit educacional, que, muitas vezes, impede que os trabalhadores acompanhem a evolução dos processos tecnológicos necessária para a alta

competitividade do mercado atual. Além disso, outras áreas profissionais se tornaram fortes concorrentes de captação da mão de obra rural.

Programas sociais

Atraídos por programas sociais governamentais e pela questão estrutural, de maior conforto e lazer, muitos migram para as cidades e são empregados em canteiros de obras espalhados por todo o Estado. “A pujante construção civil tem aumentado ainda mais o êxodo rural”, afirma o

superintendente em Goiás do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar Goiás), Marcelo Costa Martins.

A crítica falta de profissionais no campo é narrada por produtores em todas as regiões do Estado. Em Itumbiara, situada no Sul goiano, a inexistência de mão de obra capacitada acabou por abrir espaço para mulheres num reduto ainda masculino, como a operação de máquinas agrícolas. Este é um cenário encontrado, por exemplo, em propriedades que cultivam cana-de-açúcar, afirma o presidente do Sindicato Rural da cidade, Rogério de Oliveira.

Segundo ele, Itumbiara carece mais de vaqueiros, operadores de colheitadeira e de trator. A produção do município está centrada principalmente na cana-de-açúcar, soja e milho, além da pecuária de corte e leite, com um rebanho de cerca de 170 mil cabeças de gado. “É difícil calcular o prejuízo pela falta de profissionais. É claro que o produtor não vai deixar de colher e plantar por conta disso, mas pode ficar com equipamentos ociosos e diminuir a competitividade”, ressalta Rogério.

Esta é uma realidade que o produtor Nei Eusébio Vian conhece de perto. Ele cultiva soja há quase três décadas em Rio Verde, no Sudoeste do Estado, e está com dois tratores parados em plena colheita, por falta de gente que saiba lidar com as máquinas. Com isso, a área de plantio da safrinha

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de milho - que é feito ao mesmo tempo em que a soja é colhida - será reduzido desta vez. E a dificuldade de Nei Vian não é exclusivamente dele. “Outros três amigos meus estão com o mesmo problema de falta de mão de obra”, relata. Ao todo, o produtor emprega 18 profissionais, entre tratoristas, aplicadores de veneno e colhedores: 12 deles são fixos e os demais são

temporários, os chamados safristas.

Em Bela Vista de Goiás, cidade que fica na Região Metropolitana de Goiânia e cuja produção é centrada basicamente no leite, a escassez de funcionários capacitados influencia tanto na economia local que há fazendeiros que não tiveram como prosseguir com a ordenha do gado, garante o presidente do Sindicato Rural local, Wanderley Siqueira.

Para o presidente da Federação da Agricultura de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, o problema afeta todos os setores produtivos, mas em especial a pecuária leiteira, que necessita de um trabalho ininterrupto e muito bem feito, em função de um rebanho que é muito sensível às alterações. “O maior prejuízo com a falta e mão de obra capacitada é a perda da eficiência e o desperdício, seja de insumos, de produção, de tempo”, destaca.

Mão de obra rural

Mulheres invadem reduto masculino

Cresce a presença feminina em atividades consideradas masculinas Lídia Borges 12 de fevereiro de 2012 (domingo)

Uilane Alves dirige uma colheitadeira na unidade da ETH

À frente de uma máquina que pesa algumas toneladas e que vale quase R$ 900 mil, a baiana Uilane Alves de Melo, de apenas 24 anos, deixa para trás muitos peões e comanda uma colheitadeira que não é para qualquer um. Desde que chegou a Goiás para trabalhar como boia fria, há cerca de quatro anos, ela saiu dos canaviais, onde fazia plantio e corte manual, passou a ajudante de produção de

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usina, fiscal agrícola e agora voltou às lavouras, mas para comandar uma colheitadeira.

Em várias partes de Goiás, em especial nas propriedades de cana-de-açúcar, a situação de Uilane não é mais uma cena tão rara. A falta de mão de obra capacitada no campo fez com que muitas mulheres assumissem atividades consideradas masculinas. Uilane trabalha na unidade Rio Claro da ETH Bioenergia, situada em Caçu, na Região Sul do Estado. Na cidade, a empresa tem 2.400 funcionários – 1.700 deles trabalham diretamente na agricultura, numa área de aproximadamente 30 mil hectares, com plantio e colheita 100% mecanizada.

Do quadro geral da ETH (com 15 mil empregados em nove unidades em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo), quase 16% são mulheres e atuam na área agrícola. Para dar conta de preencher todas as vagas, com pessoas capacitadas para lidar com máquinas agrícolas de última geração, a empresa investe na formação da própria mão de obra.

Alta rotatividade agrava situação nas fazendas

(LB) 11 de fevereiro de 2012 (sábado)

Maciel Fonseca deixou a cidade, fez vários cursos de rápida duração e, agora, cuida de gado em Bela Vista de Goiás

Em todo o Estado, a agropecuária emprega cerca de 207 mil funcionários, com e sem carteira assinada, segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas a característica de contratações temporárias em época de safra faz com que a mão de obra no campo seja muito flutuante, o que dificulta ainda mais os investimentos na qualificação, opina o presidente da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), Antônio Chavaglia.

Para se ter uma dimensão da grande rotatividade nas fazendas, o produtor Vitor Simão, presidente do Sindicato Rural de Cristalina (cidade que faz divisa com o Distrito Federal), cita o exemplo de uma grande propriedade da região que chega a aumentar em 125% o número de profissionais no período de colheita e plantio – de 1.200 fixos, alcança os 2.700 trabalhadores durante a safra. “A alta rotatividade impede que haja uma sequência de trabalho e o esforço para atrair essa mão de obra tem de ser redobrado”, frisa.

Além dos municípios goianos, o norte de Minas Gerais e o Maranhão são grandes fontes de mão de obra para a área rural de Cristalina. Vitor Simão ressalta que a empregabilidade nessa região é maior nas culturas irrigadas de alho, cebola, batata, cenoura e tomate, que são sazonais e demandam trabalho principalmente entre fevereiro e outubro.

No caso das propriedades menores, como a do pai do produtor rural Herbert Borges, 41, que trabalha com pecuária leiteira e de corte em Bela Vista, a solução tem sido incentivar os funcionários com cursos ministrados dentro da própria sede da fazenda.

“Sempre que vejo a necessidade, entro em contato com o sindicato rural para trazer os cursos do Senar, que normalmente têm de oito a doze alunos: três ou quatro da minha fazenda e o restante de

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fora”, conta Herbert, que emprega quatro vaqueiros treinados, responsáveis pela produção de 900 litros de leite por dia com utilização de ordenha mecânica, além do manejo de 600 cabeças de gado. Na contramão do fluxo migratório, Maciel Fonseca de Oliveira, 35, deixou o trabalho na cidade para se tornar peão em Bela Vista. Buscou aprimoramento em diversos cursos de rápida duração, como técnicas de cultura e manejo, bovinocultura, inseminação artificial e casqueamento, e alcançou uma remuneração 30% maior do que recebia antes. “Para quem tem qualificação, o que não falta é serviço”, afirmou.

Já o trabalhador José Francisco dos Santos, 49, é uma raridade no meio rural: está empregado há 15 anos numa mesma fazenda, na qual divide as tarefas com outros dois vaqueiros. Também já passou por vários cursos de qualificação, como de ordenhadeira, tratorista e até administração rural. Para ele, é uma questão de necessidade. “A gente tem sempre que buscar aprender mais. As técnicas e as máquinas estão sempre evoluindo e a gente tem de acompanhar” destaca.

Senar pretende atender até 70 mil trabalhadores em 2012

(LB) 11 de fevereiro de 2012 (sábado)

Das 60 mil pessoas atendidas em 2011 pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) em Goiás, 85% eram de trabalhadores rurais, ou seja, empregados das fazendas e empresas no campo. Mas os mais de 4 mil treinamentos ministrados no ano passado não foram suficientes para reverter a dificuldade da mão de obra no Estado. Até porque, a política de profissionalização destes

empregados é muito recente, afirma o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Goiás (Fetaeg), Elias D’angelo Borges.

“O Senar é um instrumento importante do setor privado. Mas em relação às políticas públicas, apenas do governo Lula para cá é que conseguimos espaço para discutir essa profissionalização, que ainda não é eficaz por parte do Estado, municípios e União. Parece piada, mas temos um programa do governo estadual de qualificação de mão de obra rural via internet. Do governo federal, os investimentos são muito pequenos e, da forma como estão sendo feitos, eles param na Secretaria do Trabalho e não alcançam o trabalhador. Os benefícios precisam ser mais acessíveis e chegar às comunidades rurais”, critica Elias.

Para o presidente da Fetaeg, a mão de obra no campo não é escassa. O que falta é garantir

qualificação àqueles que ficaram à margem da evolução tecnológica dos processos produtivos, em grande parte desempregados atualmente. Além disso, ele enfatiza que, embora as exigências do mercado, principalmente o internacional, em torno da qualidade da produção tenham refletido de certa forma na elevação dos salários, isso não gerou benefício direto para o empregado. “As jornadas de trabalho estão muito maiores e, muitas vezes, o empregado tem de fazer o serviço de dois. Existe uma grande precarização do trabalho rural.”

Para o presidente da Federação da Agricultura de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, a reversão do atual quadro depende de um trabalho complexo, que passa principalmente pelo investimento na educação e formação dessa mão de obra. A curto prazo, o Senar vai continuar capacitando os trabalhadores rurais para as diversas áreas, em cursos de menor duração (24 a 40 horas). Para este ano, a intenção é de que os cursos possam alcançar entre 66 mil a 70 mil pessoas no campo. “O sistema S como um todo, por meio do Senar, Senai (indústria), Sesc (comércio), Senat (transporte), tem salvado o empresariado brasileiro como um todo, com a qualificação direta de trabalhadores”, frisa.

No médio prazo, José Mário cita a possibilidade de um investimento mais aprofundado no trabalhador rural por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). O programa prevê a integração entre ensino regular e profissionalizante, assim como ocorre nas escolas técnicas. Segundo o superintendente do Senar em Goiás, Marcelo Martins, parte dos recursos do Pronatec será destinada às escolas de nível médio e de educação de jovens e

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adultos.

“Hoje, os filhos de trabalhadores rurais e de pequenos produtores terminam o ensino médio sem nenhum conhecimento profissional. O Pronatec será uma opção para que eles voltem ao campo preparados para atuar nas propriedades rurais, desempenhando um bom papel, aumentando a produtividade e a qualidade de vida de suas famílias.”

FUTURO

Marcelo Martins afirma que, num curto prazo de tempo, haverá a formação bem definida de dois perfis no campo. De um lado, a agricultura familiar vai estar melhor estruturada, já que os filhos de produtores serão melhor preparados para as atividades.

De outro, haverá uma forte evolução tecnológica, que vai demandar mão de obra em menor quantidade, mas com alta capacidade para lidar com os novos recursos e otimizar cada vez mais o processo produtivo. “Para tanto, esses trabalhadores também terão de ser melhor remunerados”, acrescenta.

Referências

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