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Mulheres no campo da Ciência e da Tecnologia: avanços e desafios Women in the field of Science and Technology: advances and challenges

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Mulheres no campo da Ciência e da Tecnologia: avanços e desafios

Women in the field of Science and Technology: advances and challenges

Joyce Luciane Correia Muzi – Mestre em Tecnologia IFPR/UTFPR-GeTec - joyce.muzi@ifpr.edu.br

Nanci Stancki da Luz – Doutora em Política Científica e Tecnológica UTFPR-GeTec - nancist@terra.com.br

Resumo: Este artigo objetiva apresentar um breve panorama de como aconteceram as transformações que favoreceram a atuação das mulheres em áreas da Ciência a que elas tinham pouco acesso. Para isso apresentaremos uma discussão teórica que destaca alguns dados de dentro e de fora do Brasil, para em seguida apresentar dados recentes da representação feminina nos grupos de pesquisas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, de maneira a entendermos em que campos elas estão concentradas e em quais verificam-se mudanças em relação aos arranjos historicamente construídos. Percebe-se uma participação efetiva de mulheres fazendo pesquisa na instituição, entretanto elas permanecem majoritariamente em áreas tradicionalmente atribuídas às mulheres.

Palavras-chave: Ciência, Tecnologia, Grupos de pesquisa, Mulheres, UTFPR.

Abstract: This article presents a brief overview of how the changes occurred that favored the role of women in the areas of Science and Technology that they had little access. To this end we present a theoretical discussion that highlights some data inside and outside Brazil, and then present recent data of female representation in research groups of the Universidade Tecnológica Federal do Paraná, in order to understand in which fields they are concentrated and in which there are changes in relation to arrangements historically constructed. It can be seen the effective participation of women doing research in the institution, though they remain mostly in areas traditionally assigned to women.

Keywords: Science, Technology, Research groups, Woman, UTFPR.

Introdução

Durante o século XX os movimentos feministas e de mulheres criticaram o modelo de Ciência e Tecnologia; suas críticas serviram para refletirmos sobre como se concebia o conhecimento: racional, objetivo, neutro, verdadeiro, controlado, e que ele se consolidou como válido porque o método utilizado estaria isento de qualquer intervenção subjetiva, o que supostamente garantiria o valor de seu produto final, livre de erros. As críticas foram contra esta concepção do conhecimento entendido como fonte de poder e contra os campos de C&T considerados neutros e livres de valores (SEDEÑO, 2000).

Graças aos longos anos de luta e empenho do movimento de mulheres, que transformaram essa luta em causa política, abriram-se os espaços para a construção de novos campos de saberes científicos e tecnológicos e de reflexão, para que pudéssemos entender se

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todos os interessados e interessadas estão fazendo parte da (re)construção daqueles campos, passando então basicamente pela abordagem que inclui as mulheres e questiona práticas perpetuadas de desigualdade instalados neles.

Este artigo objetiva apresentar dados recentes da representação feminina nos grupos de pesquisas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, de maneira a entendermos em que campos elas estão concentradas e em quais verificam-se mudanças em relação aos arranjos historicamente construídos.

Estudos recentes sobre onde estão as mulheres

A questão da mulher nos campos da Ciência e da Tecnologia tem interessado a várias autoras, dentre elas Estébanez (2003, s.p.), para quem a questão diz respeito “à sua participação, e sobre-apresentação, nas atividades científicas e tecnológicas, em particular na pesquisa, e aos problemas do acesso à carreira profissional respectiva”.

Interessa-nos entender porque as mulheres estão em menor número e pouco representadas. No entanto, tem-se como dificultante “o escasso desenvolvimento de estatísticas de Ciência e tecnologia desagregadas por sexo” e ainda a “inexistência de sistemas ‘harmonizados’ que permitam comparar a situação das mulheres entre diversos países” (Id.), o que se configura como item fundamental para a análise e diagnósticos apropriados e “para a definição de ações que reparem situações de desigualdade e que evita perda de talentos” (Id.).

Estudiosas como Leta (2003) e Lopes (1998) se preocupam com o fato de que nossa literatura sobre o assunto ainda é incipiente e precisa ser sistematizada de modo a contribuir para um campo necessário para pautar pesquisas posteriores. Lopes (op. cit.) se questiona principalmente sobre o porquê de tão pouco interesse da sociologia da Ciência e da Tecnologia pela participação das mulheres e da incipiência da perspectiva feminista nos estudos sobre História da Ciência no Brasil.

Pode-se constatar um interesse em torno da questão do baixo número de mulheres em algumas áreas científicas e tecnológicas iniciado a partir dos anos de 1960, no âmbito dos estudos da sociologia e da História da Ciência sob o viés feminista, ou a partir do interesse dos próprios movimentos feministas pela questão. Tem-se portanto uma preocupação por estudar a participação das mulheres nestas áreas, basicamente sob duas linhas de pesquisas na maioria dos países: a relação mulher e educação superior e o status social da mulher em C&T. Estas linhas contribuíram para que várias conclusões fossem tiradas, dentre elas a de que as relações de poder na sociedade se reproduzem dentro das comunidades de produção de

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conhecimento, estando as mulheres em desvantagem, ainda que em posições iguais às dos homens.

Uma das questões que norteou os estudos e discussões nos inúmeros encontros e reuniões que ocorreram nos últimos 30 anos foi por que tão poucas mulheres se interessam por seguir carreira em C&T. Os organismos se deram conta de que alcançar a equidade de gênero seria um fator determinante para o desenvolvimento socioeconômico do país (CEPAL, 1991 apud TABAK, 2002). Leta (op. cit.) aponta Alice Rossi como a primeira interessada em problematizar a questão das mulheres em carreiras científico-tecnológicas. No texto considerado marco no campo de gênero e Ciência Women in Science: Why so few?: Social and psychological influences restrict womens’s choice and pursuit of careers in science, publicado na revista Science, em 28 de maio de 1965, a socióloga falecida em novembro de 2009 questionou pela primeira vez a questão do número pequeno de mulheres fazendo Ciência. Mais tarde a psicóloga e linguista norteamericana Virginia Valian lança Why So

Slow? The Advancement of Women, questionando a lentidão do processo de engendramento

da categoria gênero no campo da Ciência. Ainda que seja um exemplo dos EUA, é interessante ressaltar que em seu artigo de 1965, Rossi atentou para a questão específica das décadas de 50 e 60 e concluiu que o baixo número de mulheres nas Engenharias e o número pequeno em algumas áreas das Ciências Naturais se deram devido a aspectos que passam pelo social e o psicológico:

a prioridade do casamento e da maternidade diante da escolha profissional, a influência dos pais na escolha da carreira de seus filhos, determinando o que devem ser atitudes e comportamentos “femininos” e “masculinos” e incompatibilidades ou diferenças de cunho biológico e/ou social entre homens e mulheres, tal como nas habilidades cognitivas, na questão da independência, de persistência e do distanciamento do convívio social (LETA, op. cit., p. 272).

Estas conclusões passam por situações semelhantes as que vemos ocorrendo ainda hoje em muitos países. Segundo Estébanez (op. cit.), a Unesco tem se preocupado com essas questões, participado de ações e acionado outras instituições científicas que possam contribuir com dados significativos, desagregados por sexo e região. Um dos diagnósticos da autora a respeito da situação da mulher latinoamericana em C&T é que “a participação feminina tende a aumentar nos âmbitos de trabalho públicos e universitários, enquanto que abaixa abruptamente nos âmbitos privados e empresariais”, e o que se vê é a estratificação vertical “mostrando que, quanto maior a hierarquia acadêmica ou científica, menor a participação feminina com independência do campo disciplinar” (Id.), ocorrendo isso inclusive em países

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que demonstram aparente equidade. Em relação ao acesso a posições mais altas, a autora afirma que elas são minoria, “inclusive quando as instituições ou os órgãos pertencem a disciplinas tradicionalmente femininas” (Id.). Em alguns casos, o fenômeno glass ceiling, “teto de vidro” ou “teto de cristal”, um fenômeno que impede o acesso aos postos mais altos nas organizações, afeta reconhecidamente as mulheres.

Alguns números de países como Argentina, Paraguai e Uruguai (dados de 2001) demonstram certo equilíbrio na proporção entre homens e mulheres na função de pesquisadores(as), o que poderia ser resultado de intervenção de fatores que Estébanez chamou conceituais como, por exemplo, “a diversidade de definições para ‘pesquisador’ e, portanto, a diferente atribuição de descritores de C&T em cada país” (Id.). Estébanez (op. cit.) também destaca que em países como Brasil, Argentina, Venezuela e Uruguai as mulheres são maioria no campo das Ciências Sociais e Humanas, além de apresentarem uma participação igualitária ou “levemente” maior na química, na biotecnologia e nas Ciências da Saúde, e uma baixa presença nas Ciências Exatas, como a Física, a Matemática, área de computação e as Engenharias.

Segundo estudo da Unesco, a participação de mulheres nas universidades cresceu nas décadas de 70, 80 e 90 do século passado nos países da América Latina, da Ásia e da Europa Ocidental, o que significa maior envolvimento “no sistema de C&T, se considerarmos essas instituições, as universidades, como aquelas responsáveis por grande parte da Ciência mundial” (Ibid., p. 273), entretanto o mesmo estudo ressalta que em países como a África, por exemplo, não houve mudança no quadro.

Tabak (op. cit.) afirma que o debate sobre a participação feminina em carreiras científico-tecnológicas foi se intensificando a partir da década de 70 e teve seu ápice na IV Conferência Mundial sobre a Mulher em Beijing no ano de 1995. As décadas que se seguiram, graças a lutas mais empenhadas, principalmente dos movimentos feministas, e graças à inserção de mais mulheres nas universidades e de um interesse por promover debates e fomentar investigações a este respeito, foram de extrema importância para as causas das mulheres, especialmente no combate à extinção de todo e qualquer estereótipo sexual na educação que contribuiu durante muito tempo por reproduzir as desigualdades, como forma de manter os papéis estabelecidos/perpetuados.

Os avanços que tivemos quanto ao acesso a todos os níveis de educação não são percebidos quando se trata da escolha de cursos de C&T por parte das jovens – as mulheres ainda predominam nas carreiras ditas “femininas”, como por exemplo nas áreas de saúde e educação, nas quais todavia não se pode dizer que as mulheres têm poder, já que elas na

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maioria das vezes, graças ao fenômeno “teto de vidro”, permanecem na execução das atividades e apenas um pequeno número nos postos de decisão. Isso significa que aqueles que ocupam a posição de destaque constituem um grupo privilegiado, pois participam efetivamente nas tomadas de decisão (TABAK, op. cit.).

Já na década de 1990, período posterior a um momento em que se acreditava que o gênero influenciava no conteúdo da Ciência (década de 80), outra questão permeou os estudos sobre o fazer científico pelas mulheres: as mulheres fazem Ciência de modo diferente? Na verdade o que havia era um receio por parte dos que compunham o campo científico de que o gênero do pesquisador influenciasse negativamente no fazer Ciência e depusesse contra as características tão prezadas pelos cientistas homens. Em relação a isso, pode-se dizer que houve um movimento que levasse ao entendimento de que existem métodos alternativos de conduzir pesquisa; o interesse era que se incorporasse “uma consciência crítica de gênero na formação básica de jovens cientistas e no mundo rotineiro da Ciência” (SCHIEBINGER, 2001, p. 31) para evitar o que vinha ocorrendo até então: o domínio masculino do campo, sem sequer consideração à perspectiva do gênero.

Em relação à Ciência no Brasil, vale lembrar que no início do século XX, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, foram criados no Brasil centros de investigação e institutos especializados em pesquisa, além de ter havido uma expansão de empresas estatais que se dedicaram à pesquisa e da reforma universitária que, ao expandir vagas e carreiras, favoreceu a entrada em definitivo das mulheres nas universidades (TABAK, op. cit.). Leta destaca alguns momentos significativos para a evolução dos campos de C&T no Brasil: o final dos anos 1960, com a edição do Plano Estratégico de Desenvolvimento Nacional, quando “a questão científica e tecnológica surgiu como presença constante no planejamento nacional” e os anos oitenta e noventa, quando “as mulheres brasileiras aumentaram sua participação no setor” (LETA, op. cit., p. 274). Seu destaque vai para o fato de que as mulheres são hoje “a maioria em boa parte dos cursos de graduação e de pós-graduação do país” (Id.) e seu otimismo aparece ao citar que em 2001, 56,3% do total de matrículas no ensino superior dizia respeito ao número de mulheres ingressantes e que 62,4% representavam o total das que chegavam a concluir o ensino universitário (INEP, 2003 apud LETA, op. cit.), números atestados por Ristoff (2008) com resultados mais recentes.

É interessante atentar que em 1990 elas representavam a maioria nos cursos de Química, Medicina, Odontologia e Biologia – áreas em que a participação das mulheres tem se aplicado devido à suposta relação destas áreas a características relacionadas ao cuidado, assim como o Magistério, por isso uma aceitação natural de atuação feminina nestas atividades.

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Leta (op. cit.) demonstra também que houve um aumento de contratações de mulheres nas instituições de nível superior, por exemplo na USP, uma das maiores do país. Entretanto, as mudanças e a inserção real da mulher no mercado de trabalho, especialmente nos setores de Ciência e Tecnologia, ainda não aconteceram de fato em nosso país: as mulheres representavam, em 2003, 34% do total dos docentes ativos da USP. Dados mais recentes da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, somente no campus Curitiba em 2010, apontam um total de 28% de docentes mulheres, número bastante inferior ao total de mulheres da

instituição1 no mesmo ano: 42% (MUZI, 2011).

A partir do aqui exposto, entende-se que muito ainda há a ser conquistado, pois, “Apesar do crescimento da participação de mulheres nas atividades de C&T, as chances de sucesso e reconhecimento na carreira ainda são reduzidas” (LETA, op. cit., p. 277).

Nesse sentido nos interessa apresentar o caso da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, que, criada a partir do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, em 2005, ao ser elevada à universidade, teve como obrigação oferecer Ensino, Pesquisa e Extensão. No entanto, a UTFPR teve ao longo da história mantido grande parte de suas mulheres em atividades de reprodução – atividades associadas ao cuidado e de apoio – e majoritariamente em algumas áreas do conhecimento, como podemos verificar analisando os dados a seguir. Aqui nos interessa analisar como se configura a distribuição por gênero dentro dos grupos de pesquisa da instituição.

Primeiramente é importante citar como se configura todo o quadro de docentes do campus Curitiba.

Tabela 1 – Crescimento por área do conhecimento no campus Curitiba em 2010 e 2011

Homens Mulheres 2010 2011 crescimento % 2010 2011 crescimento % Área do conhecimento valor absoluto % valor absoluto % valor absoluto % valor absoluto % Sociais/ Humanas 44 9% 52 10% 18% 53 28% 62 31% 17% Saúde/ Biológicas 5 1% 44 9% 780% 13 7% 29 14% 123% Ciências Exatas 441 90% 399 81% -10% 122 65% 111 55% -9% Fonte: www.utfpr.edu.br

O campus Curitiba, em janeiro de 2010, era composto por 28% de mulheres de um montante de 678 professores: um total de 188 mulheres. Segundo a tabela 1, a maioria delas,                                                                                                                          

1 Com 11 campi distribuídos em todo o Paraná, os dados em que nos concentraremos adiante dizem respeito

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65%, atua nas Ciências Exatas, e 28% estão nas Ciências Humanas. Estes números nos apontam que as mulheres têm um número representativo de participação, considerando que a instituição foi historicamente construída sobre a oferta de cursos de formação técnico-profissional em todos os níveis de ensino e que concentra seus cursos nas Ciências Exatas; por outro lado, o percentual de mulheres que atuam nas Ciências Humanas é muito superior ao de homens, demonstrando uma divisão que pode estar relacionada à histórica tradição de mais mulheres seguirem carreiras consideradas como mais “apropriadas” ao seu gênero. Um ano depois temos dados bastante parecidos.

Ainda na tabela 1 observa-se que o percentual de mulheres e de homens nas Ciências Exatas teve uma queda de janeiro de 2010 para janeiro de 2011. Em contrapartida, os números aumentaram nas Ciências Sociais e Humanas e nas da Saúde e Biológicas para ambos.

Chama-nos atenção o fato do maior percentual de crescimento ter ocorrido para os homens nas Ciências da Saúde/Biológicas que chegou a 780%, índice que demonstra novos arranjos de gênero acontecendo na instituição. Já o menor índice também foi no número de homens exatamente nas Ciências Exatas (-10%). Isso é significativo já que é uma área em que eles historicamente prevaleciam. Em relação à pesquisa científico-tecnológica, na tabela 2 visualizamos o número de grupos de pesquisa da instituição por campo do conhecimento:

Tabela 2 – Grupos de pesquisas na UTFPR em 2010 Área do conhecimento Valor

absoluto %

Ciências Biológicas 2 2

Ciências Exatas e da Terra 11 15

Ciências Humanas 8 11

Ciências da Saúde 5 7

Ciências Sociais Aplicadas 11 15

Engenharias 35 47

Linguística, Letras e Artes 3 3

Total 75 100

Fonte: www.utfpr.edu.br. Elaboração própria.

Dos 75 grupos registrados segundo exigência do CNPq, temos que:

• 40% dos grupos (28) são liderados por mulheres – em liderança individual ou

compartilhada. Este número é inferior aos do CNPq/MCT (20082) que apontam uma

liderança feminina nos grupos de pesquisa de 45%;

                                                                                                                         

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• Dos 28 grupos, quase 54% são liderados exclusivamente por mulheres (15) e em quase 46% a liderança é compartilhada com um homem (13);

• Os grupos em que há somente mulheres liderando (20%) estão mais concentrados nas Ciências Sociais Aplicadas (33%) e menos concentrados nas Ciências Biológicas e da Saúde (7%).

Dentro das grandes áreas temos as seguintes subáreas lideradas exclusivamente por mulheres:

• Ciências Sociais Aplicadas (33%): Desenho Industrial (5 grupos);

• Ciências Exatas e da Terra (20%): Ciência da Computação (1 grupo); Matemática (1

grupo) e Química (1 grupo);

• Ciências Humanas (20%): Antropologia (1 grupo) e Educação (2 grupos);

• Engenharias (13%): Engenharia Elétrica (1 grupo) e Engenharia de Produção (1 grupo).

• Ciências da Saúde (7%): Saúde Coletiva (1 grupo);

• Ciências Biológicas (7%): Microbiologia (1 grupo).

Dentro das Ciências Sociais Aplicadas as mulheres se concentram na subárea Desenho Industrial que pertence ao Departamento de Desenho Industrial (Dadin), um dos mais antigos na instituição, originado do antigo curso de desenho oferecido nos anos iniciais da Escola

Técnica de Curitiba3.

Por outro lado, dois grupos chamam atenção: um da Ciência da Computação e outro da Engenharia Elétrica; estas áreas foram tradicionalmente relacionadas ao masculino, no entanto, as mulheres conseguiram inserir-se e liderar grupos desde 2009, algo que representa um avanço bastante considerável. Esse dado em relação ao total de 75 grupos é um número pequeno, porém significativo, como reflexo de mudanças numa trajetória segregatória.

Em relação aos 13 grupos de pesquisa em que as mulheres compartilham a liderança com homens, representando 17% da totalidade de grupos, temos uma maior concentração nas Engenharias (44%) e uma menor concentração nas Ciências da Saúde (14%). Curiosamente, quando a liderança é compartilhada com um homem, as mulheres têm aumentada sua participação nas Engenharias – de 13% com a liderança exclusivamente feminina para 44% com liderança compartilhada. Isso nos leva a pensar em respostas para este fenômeno; talvez a exigência ou a responsabilidade dessas áreas demandem mais esforços e aceitar o

                                                                                                                         

3 A instituição passou por várias transformações ao longo dos seus 100 anos de história, e consequentemente por

várias mudanças de nomes: Escola de Aprendizes Artífices (1909), Liceu Industrial do Paraná (1937), Escola Técnica de Curitiba (1942), Escola Técnica Federal do Paraná (1963), Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (1978) e finalmente Universidade Tecnológica Federal do Paraná (2005).

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compartilhamento seria conveniente para eles e para elas, facilitando as condições de atuação para ambos, já que seria possível dividir responsabilidades. Descobrir o que motiva cada um dos sexos a dividir a liderança em grupos tão representativos dentro da instituição seria um campo de investigação bastante profícuo.

Os homens detêm a maioria de liderança nos grupos de pesquisas na instituição, representando quase 63% do total, ou seja, 47 grupos têm liderança exclusivamente masculina. As áreas em que eles se concentram são: Engenharias (62%), Ciências Exatas e da Terra (18%), Ciências Humanas (11%), Ciências Sociais Aplicadas (7%) e Ciências Biológicas e Ciências da Saúde (4%).

Em comparação com os dados das mulheres vemos algumas alterações, em especial a alta concentração de grupos de pesquisas liderados exclusivamente por homens nas Engenharias. No entanto, justamente por ter havido vários fatores já levantados aqui que mantiveram as mulheres afastadas das Ciências Exatas e das Engenharias (ESTÉBANEZ, op. cit.), sua representatividade é relevante, do ponto de vista dos avanços e expectativas para o futuro, considerando fatores como a divisão sexual do trabalho, a dificuldade de acesso das mulheres à educação em todos os níveis, em especial das mulheres pobres, e a histórica exclusão das mulheres de áreas consideradas de prestígio, especialmente dentro da instituição estudada. É óbvio que muitas modificações ainda precisam acontecer, levando-se em conta que a instituição concentra suas atividades nos cursos de Engenharia e Tecnológicos de nível superior, e, por sua vez, o número de mulheres está na faixa dos 30%, o que as deixa em número desfavorável se analisamos a produção científico-tecnológica. Isso se torna prejuízo não somente para a massa de mulheres mas para os próprios campos da Ciência e Tecnologia, já que, conforme nos chamam atenção Tabak (op. cit.) e Graña (2004), desprezar metade da população, é desprezar metade da capacidade de conhecimento, tornando-se um prejuízo irreversível.

Assim como aponta Leta (2003) referindo-se ao exemplo de outras instituições, o

número de contratações de mulheres na UTFPR aumentou ao longo de toda sua história4,

porém esse aumento não garante mudanças. Exatamente porque as chances de sucesso e reconhecimento para as mulheres são menores em comparação com os homens (LETA, 2003), considera-se imprescindível que o número de mulheres aumente ainda mais, para que haja proporcionalmente um aumento nas suas chances.

                                                                                                                         

4 O número de mulheres em toda a história da instituição pode ser encontrado em MUZI, Joyce L. C. De Escola

de Aprendizes à Universidade Tecnológica: Desvelando a participação das mulheres na história de uma

instituição de educação profissional. 2011. 236 f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2010.

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Considerações finais

Pode-se concluir que fica cada vez mais difícil ignorar a participação das mulheres na construção da C&T no Brasil, e mais difícil ainda acreditar que elas permaneçam como operárias de campos tão prestigiados pelo restante da sociedade (FOUREZ, 1995).

Ainda que explicitamente não haja nada que impeça o acesso das mulheres à Ciência e à Tecnologia, permanece existindo em algumas áreas um discurso aparentemente neutro que permanece na lógica da desigualdade de gênero.

Além disso, pode-se concluir que embora haja atualmente uma significativa participação das mulheres nas universidades ainda se vê uma discriminação que encontra a cada dia formas mais sofisticadas de manifestação; como afirmam Aguirre e Batthyány, 2000 (apud GRAÑA, op. cit., p. 6), isso acontece quando as mulheres são relegadas a comitês científicos com menos poder, quando recebem menos recursos para pesquisas ou mesmo quando seguem desamparadas e por não terem um “grupo equivalente de mentores o de modelos a quienes pedir asesoramiento y apoyo”.

Destacamos que aceitar a baixa participação das mulheres em algumas áreas da Ciência e da Tecnologia é também restringir o poder de decisão sobre questões que lhes dizem respeito, e isso é problemático já que se sabe que as mulheres representam parte significativa dos que são afetados pelas descobertas científicas. Além disso, restringi-las a alguns campos do conhecimento acaba por contribuir para a segregação das mulheres em áreas específicas – situação a que chamamos divisão sexual do trabalho.

Entender o lugar das mulheres nos campos da Ciência e da Tecnologia tal como os concebemos hoje é de extrema importância, porque uma visão mais ampla nos levará a compreender quais as possibilidades reais que temos de recuperar essa história pouco comentada para enriquecer o momento atual e contribuir na luta pela maior inserção das mulheres como agentes no cenário científico e tecnológico.

Uma maior participação feminina nas universidades possibilita que se mantenham abertas as portas da produção científico-tecnológica. Isso significa que à medida que se alteram as configurações sociais, altera-se também a concepção do campo científico e tecnológico. Estas concepções alteradas favorecem o pensamento de que podem ser alcançadas mais transformações em busca de uma equidade entre mulheres e homens como trabalhadoras e trabalhadores da Ciência e da Tecnologia.

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ESTÉBANEZ, María Elina. As mulheres na Ciência regional: diagnóstico e estratégias para a

igualdade. Traduzido por: Sabine Righetti. 2003. Disponível em:

http://www.comciencia.br/reportagens/mulheres/10.shtml#5 Acesso em: 04 jan. 2010.

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