• Nenhum resultado encontrado

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO ARTIGO CIENTÍFICO. A Eficácia da Lei de Responsabilidade Fiscal na Estabilidade Econômica de Municípios

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO ARTIGO CIENTÍFICO. A Eficácia da Lei de Responsabilidade Fiscal na Estabilidade Econômica de Municípios"

Copied!
15
0
0

Texto

(1)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

1

A Eficácia da Lei de Responsabilidade Fiscal na Estabilidade

Econômica de Municípios

Mariléia Aparecida Tomé Barbosa – marileiaapbarbosa123@gmail.com – UFF/ICHS

Vilma Assis Gomes – vilmamuriae@yahoo.com.br – UFF/ICHS

Resumo

A Lei de Responsabilidade Fiscal entrou em vigor em 2000 com expectativa de trazer mudanças significativas para a Administração Pública brasileira. Ela estrutura o gerenciamento dos recursos públicos pautando-se nos princípios: planejamento, equilíbrio fiscal, transparência e responsabilização. Desta forma, pressupõe o controle dos gastos e endividamento, prevenção de desvios e adoção de medidas punitivas para infratores a fim de garantir a estabilidade econômica dos municípios, proporcionando melhoria na qualidade de vida da sociedade. Mas esta Lei tem tido aplicação prática na prestação de contas dos municípios brasileiros? Este artigo baseado em pesquisa aplicada, descritiva e bibliográfica analisa as prestações de contas de dois municípios brasileiros abordando a efetividade da LRF. A existência da nova cultura gerencial na gestão de recursos públicos é ratificada, ainda que em processo de desenvolvimento.

Palavras-chave: Lei de Responsabilidade Fiscal; Município; Contas; Efetividade.

1 – Introdução

Buscando o equilíbrio das contas públicas no Brasil e, consequentemente reduzir a crise fiscal e melhorar a estabilidade econômica do país, foi aprovada a Lei Complementar 101/2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) –, a qual já havia sido prevista desde a Constituição Federal (CF) de 1988. Dividida em dez capítulos e com setenta e cinco artigos, tem amparo legal em seu Capítulo II do Título VI e determina o gerenciamento dos recursos públicos, impõe limites aos gastos e obriga a divulgação de demonstrativos de receitas e despesas através de relatórios com foco na prestação de contas com transparência dos governos municipal, estadual e federal a seus respectivos Tribunais.

Dentre suas prerrogativas, cabe destacar que esta Lei impõe limite de dois anos para geração de despesa sem referência da origem do dinheiro, veda o reajuste dos gastos com recursos humanos nos seis meses que antecedem o final do mandato, bem como a antecipação

(2)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

2

de receita orçamentária no último ano de governo, além de fixar teto máximo para o endividamento da União, estados e municípios.

O art. 48 desta Lei estabelece o incentivo à participação popular em audiências públicas, durante os processos de elaboração e de discussão de planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos e o art. 49 diz que as contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo ficarão disponíveis durante todo o exercício, no respectivo Poder Legislativo e no órgão técnico responsável pela sua elaboração, para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade, como mecanismo de fiscalização.

Para coibir ações que comprometam as finanças públicas, a Lei de Responsabilidade Fiscal veio obrigar a apresentação do destino das finanças à sociedade, além do Tribunal de Contas, pois um dos seus principais requisitos é a transparência, através do acesso às informações.

Evidentemente que a violação das normas da LRF acarreta aplicação de sanções pessoais como perda do cargo, inabilitação para emprego público, multa e até mesmo prisão.

Sendo assim, o trabalho tem como objetivo geral verificar a aplicação da Lei de Responsabilidade Fiscal frente às prestações de contas de municípios brasileiros, tendo por amostragem os municípios de Laje de Muriaé (RJ) e Pereiro (CE).

Portanto, este trabalho justifica-se na necessidade de apresentar uma contribuição relacionada à avaliação da funcionalidade da LRF, analisando como ela vem delimitando espaços e caminhos para que os municípios trabalhem com segurança, clareza e efetividade frente às contas públicas, viabilizando a estabilidade econômica, o que permite gerar bem-estar social e confiança no poder público, pautando-se nos princípios constitucionais e na responsabilidade social e fiscal.

Nessa perspectiva, a pesquisa será baseada em questões que busquem elucidar que as contas públicas podem e devem se manter em ordem, sendo para tanto necessário haver interesse dos governantes em executar um bom trabalho, pautando-se na observância das leis, nas fontes de receita e no fluxo de despesas, isto é, planejar estrategicamente visando o equilíbrio das finanças.

A pergunta que se pretende responder é: A Lei de Responsabilidade Fiscal tem tido aplicação prática na prestação de contas de municípios brasileiros?

(3)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

3

Para responder a este questionamento, o artigo analisará a prestação de contas dos dois municípios, acima citados, de forma a verificar a consonância com a LRF e se a mesma tem sido efetiva.

Para tanto, têm-se como objetivos específicos levantar uma análise bibliográfica do que diz a LRF, apontando partes de suas prerrogativas; verificar se artigos que tratam sobre a destinação dos recursos estão sendo cumpridos nas prestações de contas de Pereiro (CE) e de Laje de Muriaé (RJ) mediante os pareceres de seus respectivos tribunais; e sondar denúncias de irregularidades e processos de investigação e responsabilização dos infratores desta Lei, mediante os órgãos competentes destes municípios.

Como veremos, a estabilidade de um município somente se dá a partir do momento que há seriedade com o dinheiro público e responsabilidade social; como consequência torna-se possível cumprir as prerrogativas da Lei de Responsabilidade Fiscal, apretorna-sentando com eficiência, eficácia e transparência o resultado esperado de uma boa governança.

Para facilitar a visualização deste artigo, o mesmo está estruturado em seis capítulos. O primeiro é a introdução que busca situar o leitor sobre a relevância do tema e os objetivos que se pretende alcançar. O segundo é o referencial teórico com uma revisão da literatura que aborda o tema da Lei de Responsabilidade Fiscal na Administração Pública e os recursos utilizados para garantir seu cumprimento. O terceiro capítulo trata do conjunto dos procedimentos metodológicos utilizados na investigação do problema apresentado e objetivos traçados: aponta a natureza da pesquisa adotada, a abordagem, o objetivo, o procedimento e o método. O capítulo quarto traz a análise dos dados encontrados. No quinto capítulo são apresentadas as considerações finais e, por último, o capítulo sexto traz as referências bibliográficas.

2 – Referencial Teórico

A Lei de Responsabilidade Fiscal instituída em 2000 entrou em vigor em 04 de maio do referido ano com o objetivo de controlar gastos condicionados à arrecadação dos municípios, estados e União e tem como pressuposto a elaboração de planejamento com o intuito de acabar com os pacotes emergenciais do governo (BRASIL, 2000).

(4)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

4

Além disso, a Lei fundamenta-se na essencialidade da transparência para apresentar ao contribuinte o resultado da utilização dos recursos que ele transfere aos governantes.

Segundo Brito (2002), o processo de administrar relaciona-se estritamente com a organização da entidade a qual deverá estar instituída por leis e regulamentos próprios. A organização administrativa de uma entidade envolve um conteúdo próprio, organograma hierárquico, regimento interno e fluxograma dos processos públicos, tornando-se impossível a existência da entidade sem a definição desses itens em uma lei organizacional.

Daft (2010) afirma que administração é o atingimento das metas organizacionais de modo eficiente e eficaz por meio do planejamento, organização, liderança e controle dos recursos organizacionais.

É válido reafirmar que a LRF veio não só estabelecer de fato a fiscalização, mas também deliberar condições e requisitos para o exercício pleno da gestão financeira e patrimonial do poder público, responsabilizando penalmente o gestor que a descumprir. Ela estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, mediante ações em que se previnam riscos e corrijam desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, destacando-se o planejamento, o controle, a transparência e a responsabilização como premissas básicas (BRASIL, 2000).

A Lei de Responsabilidade na Gestão Fiscal configura um sistema de planejamento, execução orçamentária e disciplina fiscal até então inexistente. Tem o objetivo de controlar o déficit público para estabilizar a dívida em um nível suportável para a condição de economia emergente. Os municípios e demais entes deverão preparar-se para fazer previsões de médio prazo (3 a 4 anos) para todas as suas receitas e despesas e acompanhá-las, mensalmente, bem como dispor de um bom sistema de controle de suas finanças, principalmente da dívida (PELICIOLLI, 2000, pag. 110).

A LRF cria condições para a implantação de uma nova cultura gerencial na gestão dos recursos públicos e incentiva o exercício pleno da cidadania, especialmente no que se refere à participação do contribuinte no processo de acompanhamento da aplicação dos recursos e avaliação de resultados (BRASIL, 2000).

Embora a corrupção na administração pública brasileira tenha um histórico bastante extenso e diversificado, e tenha se tornado uma pandemia nacional alarmada pela mídia, é preciso impor limites e delimitar espaços para que ela não prolifere ainda mais. É preciso o olhar atento da sociedade e a fiscalização.

(5)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

5 A Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF estabelece às administrações públicas de todas as esferas de governo, o conceito de gestão fiscal responsável, que pressupõe a ação planejada e transparente; a prevenção de riscos; o equilíbrio das contas públicas; o cumprimento de metas e de resultados; e, o cumprimento de vários limites, dentre os quais se destacam os limites com gastos de pessoal e com o montante do endividamento público. A responsabilidade na gestão fiscal induz na correta aplicação dos recursos disponíveis por parte das entidades públicas nos três níveis de governo, nos três Poderes e no Ministério Público, com senso de responsabilidade e fiel observância dos preceitos constitucionais e legais. Tem como objetivo prevenir os déficits nas contas públicas, manter sob controle o nível de endividamento público, impedindo que os gestores assumam obrigações e encargos sem a correspondente fonte de receita ou a redução da despesa, e impõe a imediata correção dos desvios na conduta fiscal, com a finalidade de assegurar o equilíbrio das finanças públicas (GERIGK, 2008, p. 42).

Para tratar de estabilidade financeira dos municípios é pertinente analisar as minúcias da LRF. Segundo a mesma, há necessidade de avaliar o impacto orçamentário considerando despesas e prorrogação de prazos, somatório de gastos com ativos e inativos, vencimentos e vantagens e outras despesas de pessoal. Além disso, considera-se aumento de despesa a prorrogação daquela criada por prazo determinado, a apuração de gastos com pessoal, gastos em geral com a população, benfeitorias, dentre outras, analisando sempre o limite legal do comprometimento aplicado a todas as despesas (BRASIL, 2000).

Pires (2000) manifesta o seu imediato contentamento com a LRF afirmando o sucesso da Lei e que esta, por sua vez, pode oferecer um ingrediente extremamente importante para fazer deslanchar as experiências participativas na gestão pública: transparência nos dados e informações, prestação de contas, gerenciamento eficiente de recursos.

Segundo ele, a LRF não oferece todas as soluções, mas procura atenuar os problemas, o que é satisfatório, pois o sucesso de uma estrutura federal deve ser medido pela sua capacidade de regular negócios e superar conflitos.

Quanto à regulação de finanças, um município somente pode se considerar estável quando obedece e atua segundo os limites da LRF.

Sendo assim, é válido analisar a importância do papel do Controle Interno. Dentre as funções deste está a avaliação de sua própria atividade. Sabendo-se que suas funções convivem na Administração com todas as demais, torna-se importante o Controle Interno em cada desdobramento da organização: na atividade de triagem de ingresso e saída de pessoas e

(6)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

6

veículos; no acompanhamento das condições de qualidade dos serviços e dos produtos; na feitura de estatísticas e na contabilização física e financeira; nos registros do pessoal, de seus dados cadastrais, situação funcional e remuneração, entre inúmeras situações. Importa afirmar, por isso, a necessidade da autoavaliação do Controle Interno a fim de preservar seu funcionamento com eficiência (CHIAVENATO, 2000).

Para demonstrar a prática da boa administração e permitir a verificação de sua competência pelo Controle Externo, incumbe ao Administrador gerir o patrimônio e os recursos a ele confiados com excelência. Uma vez organizado o Controle Interno, há que mantê-lo sob permanente vigilância e avaliação, pois se sabe que as falhas em seu funcionamento trazem reflexos inevitáveis nos resultados da administração, podendo comprometê-la irremediavelmente (CHIAVENATO, 2000).

As dificuldades e a escassez de recursos levam os governos a fazer verdadeiros milagres para conseguir executar os projetos essenciais do plano de governo. A Lei de Responsabilidade Fiscal deverá conduzir os governos a administrarem com mais eficiência seus recursos. A arrecadação pode melhorar através de maior atuação da fiscalização e de tributos mais bem instituídos e cobrados. As despesas poderão ser mais seletivas e controladas e reduzidos seus custos (KHAIR, 2000, p. 63).

A administração pública ainda deve pautar-se nos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (BRASIL, 1988).

3 – Procedimentos Metodológicos

O estudo em questão refere-se a uma pesquisa aplicada. Este tipo de pesquisa objetiva discorrer sobre determinado tema, analisá-lo com aplicação prática da ciência e gerar conhecimentos úteis para os avanços tecnológicos ou avanços nas áreas em que se predispõe. Sua aplicação envolve verdades e interesses locais com foco prático na resolução de um problema e na melhoria da qualidade de vida (GIL, 2008).

Em se tratando do presente tema, compreende-se que estudar e analisar os enfoques que envolvam a Lei de Responsabilidade Fiscal seja do interesse de toda população ativa preocupada com o bom funcionamento de seu município e de todo estudante de Administração Pública.

(7)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

7

Ademais, pode-se afirmar que esta seja uma pesquisa qualitativa, analisada sob o ponto de vista da forma de abordagem do problema. Toda pesquisa qualitativa considera as relações entre o que de fato acontece no mundo e o sujeito leitor. Isto constrói o vínculo entre o que é objetivo e subjetivo e jamais poderá ser traduzido em forma de números, gráficos ou porcentagens (GIL, 2008).

Todo tipo de interpretação do texto lido necessita estar em sintonia com seus significados básicos. Aqui não há a intenção de estabelecer números, técnicas ou estatísticas e sim de fazer com que haja descrição dos fatos e ideias através de dados indutivos. Sua principal abordagem está na descrição e na coleta de conceitos.

Bardin (1977) destaca que:

Considerando que a abordagem qualitativa, enquanto exercício de pesquisa, não se apresenta como uma proposta rigidamente estruturada, ela permite que a imaginação e a criatividade levem os investigadores a propor trabalhos que explorem novos enfoques (BARDIN, 1977, p. 70).

Na perspectiva dos objetivos, este estudo tem caráter de pesquisa descritiva porque expõe o problema, apresentando suas minúcias por meio do registro de fatos, embora busque construir, a partir da pesquisa, hipótese de solução para o mesmo, com aproximação do tema, visando criar maior familiarização com o problema. Há uma intensa pesquisa bibliográfica que propõe, através de teses de autores em artigos publicados, embasamento para defesa dos objetivos e questões colocadas em foco. Este tipo de pesquisa é usado em casos nos quais é necessário definir o problema com maior precisão, identificar cursos relevantes de ação ou obter dados adicionais antes que se possa desenvolver uma abordagem. A pesquisa assume assim um caráter bibliográfico que gera solidez a este contexto.

As pesquisas deste tipo têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob este título e uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados (GIL, 2008, p. 28).

Sob o enfoque dos procedimentos técnicos, trata-se de uma pesquisa bibliográfica elaborada a partir de material publicado, constituído basicamente de artigos e livros científicos (Gil, 2002), além de periódicos e legislações disponíveis na internet, através dos

(8)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

8

quais o tema em questão procura elucidar o leitor sobre a funcionalidade da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Portanto, a coleta de dados junto à pesquisa bibliográfica com observação e análise dos mesmos permite a articulação da teoria.

Entende-se que o método adotado aqui seja do tipo dedutivo, isto é, adota-se um mecanismo hipotético-dedutivo. Ele atua como suposição promovendo a existência de uma hipótese explicativa.

O método dedutivo, de acordo com o entendimento clássico, é o método que parte do geral e, a seguir, desce ao particular. A partir de princípios, leis ou teorias consideradas verdadeiras e indiscutíveis, prediz a ocorrência de casos particulares com base na lógica (GIL, 2008, p. 9).

Os instrumentos usados na coleta são tão fundamentais quanto o próprio resultado do trabalho. Ao ter conhecimento sobre as técnicas de coletas de dados existentes na literatura e sua análise, o trabalho acadêmico toma uma forma mais eficiente e confiável.

Ainda segundo Gil (2008), a partir da obtenção de conhecimentos mais seguros fornecidos por outros meios, desenvolveu-se a ciência, que constitui um dos mais importantes componentes intelectuais do mundo contemporâneo.

4 – Apresentação e discussão dos resultados

Para validar este estudo, tomou-se como parâmetro inicial a prestação de contas do pequeno município de Laje do Muriaé, estado do Rio de Janeiro. Trata-se de uma prefeitura que, embora pertença ao estado do Rio de Janeiro, o qual apresenta graves complicações em relação ao cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, teve suas contas aprovadas pelo TCE e seus dados foram divulgados em site oficial. Os dados são os seguintes:

O Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) aprovou, na sessão plenária desta quinta-feira (29/9), a prestação de contas de governo da prefeitura de Laje de Muriaé referente ao exercício de 2015. A prefeitura trabalhou com a previsão inicial de arrecadar R$ 39.845.542,96, mas o recolhimento efetivo somou R$ 36.398.550,42. De acordo com o balanço de gestão financeira, a prefeitura registrou um déficit financeiro de R$ 3.219.521,83, deixando assim um prejuízo maior do que o registrado no ano anterior, quando fechou suas contas com déficit de R$ 371.732,09 (TCE, 2016).

(9)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

9

Verifica-se, de acordo com as informações publicadas pelo Tribunal de Contas Estadual, que a Prefeitura de Laje do Muriaé realizou uma estimativa de receita que fechou com um déficit de R$ 3.219.521,83 visto que a arrecadação não foi aquela esperada. Já a Receita Corrente Líquida resultante da soma de receitas tributárias, serviços, transferências de contas, etc., apresentou redução considerável de 5,06 por cento o que justifica, possivelmente, o déficit. Gastos com pessoal não ultrapassaram o limite estabelecido pela LRF. Com a educação gastou-se cerca de 32,3 por cento da receita acrescentando-se a ela recursos do FUNDEB para valorização dos profissionais e desenvolvimento de educação básica. Os custos com saúde somaram 25,58 por cento da receita ficando, acima dos 15 por cento regulamentados por lei expressa na Constituição Federal (TCE, 2016).

Embora percalços tenham acontecido no fechamento das contas, estas foram aprovadas pelos ministros do TCE do Estado por haver transparência em números e efeitos.

Já no Estado do Ceará, conforme nota apresentada pelo TCM – Tribunal de Contas dos Municípios do Ceará (2015) –, quase metade dos municípios tiveram suas contas rejeitadas.

Entre os principais motivos para a rejeição das contas identificou-se o não recolhimento das contribuições previdenciárias dos servidores, a falta de adoção do limite de gastos com pessoal previsto pela Lei de Responsabilidade Fiscal e ainda a pouca aplicação de recursos em saúde. Há ainda a contratação de despesas extras em finais de mandatos e obras superfaturadas.

O TCE deste Estado afirma que a prestação de contas não é feita por pessoal gabaritado, devido aos baixos salários oferecidos, o que dificulta todo o procedimento e andamento do processo de prestação de contas com lisura.

Lino Martins (2002) alerta para a necessidade de os gestores conhecerem princípios e normas básicas da Lei:

É importante que escolham assessores e técnicos para estudar a legislação em profundidade, além de determinar ao controle interno atenção redobrada na elaboração e nos prazos de divulgação das novas formas de prestação de conta (SILVA, 2002, p.7).

Entende-se assim que, apesar do município de Laje do Muriaé ter tido problemas para gerir recursos, conforme o previsto em legislação, teve condições de expor, através das

(10)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

10

contas, o que executou e apontar onde estavam os problemas de arrecadação.

Já na nota do TCE do Ceará percebeu-se que houve descaso e improbidade na gestão de recursos. O desfecho desta questão é que os administradores públicos, prefeitos neste caso, podem ficar inelegíveis devido à má prestação de contas realizada, comprovada pelo diagnóstico de irregularidades, consequentemente pelo descumprimento da Lei Complementar 101/2000.

Dentre os municípios cearenses, destaca-se Pereiro, cidade em que o Ex-Administrador Público foi denunciado por infrações à Lei de Responsabilidade Fiscal resultando em diversos requerimentos de sanções pelo Promotor de Justiça dessa Comarca, as quais estão disponíveis no texto que segue:

O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), através da Promotoria de Justiça da Comarca de Pereiro, ajuizou, na última segunda-feira (24/04), duas ações contra João Francismar Dias, que foi prefeito do Município entre 2013 e 2016: uma denúncia por crime de responsabilidade e uma ação civil pública por ato de improbidade administrativa por desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O ex-gestor nunca cumpriu o limite de gastos com pessoal previstos na lei durante o mandato (MPCE, 2017).

O titular da Promotoria de Justiça da Comarca de Pereiro, Davi Carlos Fagundes Filho, aponta nas ações, que o ex-gestor tinha o dever de cumprir integralmente o que está disposto na LRF, mas que, mesmo assim, descumpriu deliberadamente o percentual de gasto com pessoal, que é de, no máximo, 54%, ao longo do mandato eletivo. De acordo com os Relatórios de Acompanhamento Gerencial produzidos pelo Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Ceará (TCM) dos anos de 2013 a 2016, o promotor de Justiça demonstra que João Francismar Dias ultrapassou o limite em 11 quadrimestres.

A Promotoria de Pereiro afirma também que o ex-prefeito de Pereiro não buscou nenhuma ação concreta para adequar os percentuais do Executivo Municipal ao que preconiza a LRF, que agiu contrariamente expandindo estes gastos. Na denúncia contra João Francismar Dias destaca que o ex-gestor praticou, em concurso material, por 11 vezes, conduta delituosa que se amolda ao que dispõe o artigo 1º, inciso V do Decreto-lei nº 201/67, uma vez que deliberadamente desrespeitou o limite de gastos com pessoal previsto na LRF.

(11)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

11

Nesta ação, o promotor de Justiça requer a condenação do réu ao pagamento de indenização mínima pelos danos morais coletivos sofridos, em favor do Município de Pereiro, no valor de R$ 1.000.000,00.

Já na ação civil pública por ato de improbidade administrativa, o promotor de Justiça requer a suspensão dos direitos políticos de João Francismar Dias pelo prazo de três a cinco anos, o pagamento de multa civil de até 100 vezes o valor da última remuneração percebida por ele como gestor da Prefeitura Municipal de Pereiro e a proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos (MPCE, 2017).

Mediante o exposto, o ex-prefeito do município de Pereiro, João Francismar Dias, sofreu diversas arbitragens como: pagamento de indenização e multa, suspensão dos direitos políticos e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios dentro dos prazos e valores estabelecidos pelo Ministério Público do Estado do Ceará, através da Promotoria de Justiça da Comarca daquela cidade.

Este caso ratifica a presunção criminosa do referido ex-agente público que, segundo o Ministério Público, precisa ser apurada para verificar se de fato o réu praticou ato de improbidade administrativa em desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal, enquadrando em conduta delituosa, por ato que também fere o princípio constitucional da legalidade, para imputar-lhe as sanções cabíveis.

Em que pese o fato das contas dos municípios acima citados terem sido aprovadas ou não pelos respectivos órgãos competentes, é valido destacar que estes, em sua grande maioria, analisam apenas os números e não têm o conhecimento da realidade local.

Partindo do fato de que a Lei Complementar 101/2000 é uma inovação contemporânea, acredita-se que a mesma tem sido aplicada dentro das expectativas de seus mentores, embora muitas vezes o Poder Judiciário condene as práticas de improbidade administrativa, a morosidade da justiça faz com que o condenado fique sem punição mesmo após o trânsito em julgado.

(12)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

12

5 – Considerações finais

A Lei de Responsabilidade Fiscal modernizou a administração pública brasileira. Ela acrescentou uma série de condições para estruturar e unificar a gestão pública, o que tem possibilitado avanços importantes em termos administrativos, econômicos e sociais nos níveis municipal, estadual e federal.

Lamentavelmente, apesar de mais atentos às leis, inclusive por saberem das punições cabíveis, alguns governantes ainda agem com improbidade tentando “maquiar” a prestação de contas em suas falhas.

Entretanto, faz-se saber que: a eficiência da gestão pública brasileira, o equilíbrio das contas, a transparência e a responsabilização têm sido alvo dos órgãos controladores que não tem medido esforços na fiscalização, tornando eficaz a Lei Complementar 101/2000.

A resposta para a problemática exposta na introdução deste artigo que propõe um estudo em que se avalie se a Lei de Responsabilidade Fiscal tem tido aplicação prática na prestação de contas dos municípios brasileiros é encontrada na análise das condições legais das duas cidades brasileiras em questão.

Ao verificar a situação da cidade de Laje do Muriaé-RJ e de Pereiro-CE depreende-se, claramente que, mediante os dados coletados, esta última agiu com imprudência em suas contas, utilizando o dinheiro público desordenadamente, o que permite indícios para o entendimento de minúcias de corrupção, desleixo com a sociedade e incoerência com a Lei vigente, resultando na desobediência da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Enquanto na cidade fluminense, embora houvesse déficit nas contas, ele é explicável através de números palpáveis. Isto demonstra responsabilidade, moralidade e cumprimento da legislação em vigor no que tange aos objetivos da Administração Pública. Além do respeito à Lei por parte do administrador público também há a valorização do cidadão como parte do processo de construção de uma nova cultura gerencial na gestão dos recursos públicos.

É preciso que se consolide a ideia de que a LRF veio para corroborar com os municípios possibilitando um mecanismo gerenciador de suas finanças, a partir de planejamento, limites de gastos com pessoal, determinando investimentos para a saúde, educação, dentre outros, de forma a viabilizar a estabilidade econômica dos mesmos e corresponder às expectativas da população contribuinte.

(13)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

13

Caso isso não ocorra de forma razoável e comprometa a estabilidade da Administração Pública, torna-se complexo para um município, estado ou ente federal conseguir a aprovação de suas contas, o que gera transtorno para a administração e insatisfação popular.

É neste momento que os Tribunais de Contas e Ministério Públicos têm demostrando sua função. Investigam, analisam, denunciam e, se for comprovada a improbidade administrativa, responsabilizam os criminosos de acordo com a determinação da Lei.

Ainda há muito que se fazer, embora a Lei de Responsabilidade Fiscal seja segura, objetiva e adequada. Mesmo fiscalizada por órgãos competentes, precisa da presença mais eficaz da sociedade na vigilância de seu cumprimento para que o povo não seja lesado. Pode-se contar com os ConPode-selhos Municipais que denunciam irregularidades e propõem ações que atendam ao interesse público. Pelo seu caráter de transparência, a população tem se tornado mais ativa no acompanhamento das contas públicas.

É necessário também que o próprio administrador tenha uma boa conduta no trabalho, aja com boa fé, conheça e cumpra a LRF e respeite os princípios básicos do Direito Administrativo: legalidade, moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência, além de buscar formar uma equipe gestora mais qualificada.

Como se pode depreender neste estudo quanto mais se aproxima da legalidade, neste caso, da Lei de Responsabilidade Fiscal, mais se aperfeiçoa a gestão pública, mais políticas públicas de qualidade são executadas e menos problemas se encontram no momento da prestação de contas aos órgãos competentes.

Houve limitação no escopo do artigo, devido à apresentação da análise das contas de apenas dois municípios brasileiros, sendo possível em outro momento ampliar o diagnóstico com novas apreciações de prestação de contas de outras cidades.

Sugerem-se como estudos futuros: a comparação da qualidade das políticas públicas oferecidas dos municípios que tem tido a aprovação dos Tribunais de Contas com os que têm suas contas rejeitadas, no intuito de averiguar com mais afinco se os percentuais das verbas apresentados aos órgãos legais estão sendo realmente destinados à suas respectivas áreas, ou se apenas são “esquemas” de faturamento; e formas de motivar versus capacitar servidores que atuam diretamente com o dinheiro público levando-os a compreender a necessidade de se

(14)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

14

ter propriedade sob a Lei de Responsabilidade Fiscal, dentre outras que regem a Administração Pública, de forma a corroborar com suas ações, evitando decisões imediatistas e imprudentes que gerem transtornos irremediáveis a médio e longo prazo.

6 – Referências Bibliográficas

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível

em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 25 abr. 2017.

BRASIL. Ministério da Casa Cível – Lei Complementar nº 101 – 04 de maio de 2000. Disponível em:

<https://www12.senado.leg.br/orcamento/documentos/legislacao/lei-complementar-no-101/vi ew>. Acesso em: 15 mai. 2016.

BRITO, Wladimir. “Contributo para uma teoria da responsabilidade pública do estado por actos de função pública soberana”, Revista do Ministério Público, 89, ano 23.

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 6ª ed. Rio de Janeiro : Campus, 2000.

DAFT, Richard L. Administração. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

FERREIRA, Alexandre. Prefeituras: quase metade das contas rejeitadas pelo TCE. Disponível em: <http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/politica/pernambuco/noticia/2015/01/24/prefeituras-quase-metade-das-contas-rejeitadas-pelo-tce-165435.php>. Acesso em: 14 out. 2016.

GERIGK, W.; CLEMENTE, A.; TAFFAREL, M. O impacto da Lei de Responsabilidade Fiscal sobre a gestão financeira municipal: um estudo com os municípios do Paraná. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa (RECADM) Campo Largo – PR, v. 10, n. 1, p. 64-83, Maio/2011.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008. KHAIR, Amir Antônio. Lei de Responsabilidade Fiscal: Guia de orientação para as prefeituras. Brasília: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; BNDES, 2000.

MPCE. MPCE ajuíza duas ações contra Ex-Prefeito de Pereiro por desrespeito a Limite da LRF. Disponível em: <http://www.mpce.mp.br/2017/04/26/mpce-ajuiza-duas-acoes-contra-ex-prefeito-de-pereiro-por-desrespeito-limite-da-lrf/>. Acesso em: 28 abr. 2017.

(15)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO

15

PELICIOLLI, Ângela Cristina. A Lei de Responsabilidade na Gestão Fiscal. Brasília a. 37 n. 146 abr./jun. 2000.

PIRES, Valdemir. Sobre Responsabilidade Fiscal. Piracicaba: UINMET. Julho 1999.

SILVA, Lino Martins. Contabilidade Governamental: Um Enfoque Administrativo. 5 ed. São Paulo, 2002.

TCE. Laje de Muriaé tem suas contas de 2015 aprovadas. Disponível em: <http://www. tce.rj.gov.br/web/guest/todas-noticias/-/asset_publisher/SPJsTl5LTiyv/content/ laje-de-muriae-tem-suas-contas-de2015-aprovadas>. Acesso em: 13 out. 2016.

Referências

Documentos relacionados

Em nosso estudo, analisamos dados estatísticos do Instituto Verificador de Circulação (IVC), que comprovam o crescimento dos tablóides populares, e pesquisas da

O campo de estudo desta pesquisa será realizado na empresa Machado Automação Comercial. A amostra nesta pesquisa será não probabilística e escolheu um dos técnicos que trabalha

Por outro lado, as mulheres com antecedentes de condições adversas, como hipertensão, dislipidémia, obesidade e intolerância à glicose podem desenvolver durante a gravidez

Os roedores (Rattus norvergicus, Rattus rattus e Mus musculus) são os principais responsáveis pela contaminação do ambiente por leptospiras, pois são portadores

para os stakeholders, com menor custo possível. Porém um dos maiores desafios é manter o envolvimento destes stakeholders ao longo do ciclo de vida do

Diante do exposto, o presente estudo teve o objetivo de realizar uma prospecção tecnológica para analisar o cenário das empresas brasileiras do segmento de bebidas alcoólicas

No que diz respeito aos objetivos de formação definidos para os atletas em formação nestas escolas, verificamos que na EFGB o objetivo é estimular a prática

Testes Não Paramétricos: conceitos básicos, problema de uma amostra, testes de posição, comparação pareada, problema de duas amostras, teste de posição e dispersão de duas