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O PORTAL COMUNITÁRIO E O CONTRAPONTO ÀS TESES EQUIVOCADAS SOBRE COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA

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Academic year: 2021

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ÁREA TEMÁTICA: ( X) COMUNICAÇÃO ( ) CULTURA

( ) DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA ( ) EDUCAÇÃO

( ) MEIO AMBIENTE ( ) SAÚDE

( ) TRABALHO ( ) TECNOLOGIA

O PORTAL COMUNITÁRIO E O CONTRAPONTO ÀS TESES EQUIVOCADAS SOBRE COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA

ARTMANN, Mozart Souza 1 WOITOWICZ, Karina Janz2

RESUMO – O presente trabalho visa mostrar como o projeto de extensão Portal Comunitário, site existente desde 2008 que faz cobertura jornalística de comunidades como bairros, sindicatos, entidades e movimentos sociais da cidade de Ponta Grossa, contraria, em seu trabalho cotidiano, certas lógicas que formam teses equivocadas sobre a comunicação comunitária. Tendo como base o artigo de Marcos Palácios (1990) sobre comunidade e comunicação comunitária, este texto pretende abordar como a cobertura jornalística do site passa por cima de algumas ideias equivocadas sobre o assunto e, ainda, mostrar como as próprias comunidades que participam do projeto também superam teses limitadas vigentes na sociedade atual. Palácios comenta, no trabalho “Sete teses equivocadas sobre comunidade e comunicação comunitária”, pressupostos que são tidos como certos no debate sobre comunicação comunitária, como os de que a noção de comunidade acabaria diante do avanço do capitalismo e de que essas interagem apenas pelo contato físico (proximidade). Neste trabalho, busca-se mostrar que tais pressupostos não se aplicam às comunidades cobertas jornalisticamente pelo Portal Comunitário. Pensando no âmbito da comunicação, Palácios aponta como erradas as teses de que jornalistas profissionais não podem participar de comunicação comunitária, de que não se pode levar pautas de fora da comunidade para dentro, de que as universidades não formam profissionais adequados para o mercado comunitário, entre outras. O Portal Comunitário é um site que produz notícias sobre comunidades e entidades pontagrossenses, seguindo lógicas do jornalismo comunitário e estabelecendo a relação entre a perspectiva comunitária e a prática profissional na área. Desse modo, com base no questionamento das teses discutidas pelo autor no contexto de atuação do projeto, busca-se refletir sobre as características e contribuições do Portal Comunitário no fortalecimento de um jornalismo participativo e comprometido com as demandas sociais.

PALAVRAS-CHAVE – comunidades, jornalismo, extensão universitária.

1

Estudante do 3º ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), bolsista do projeto Portal Comunitário (mozart.artmann@gmail.com)

2

Professora Dra. do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), supervisora do projeto Portal Comunitário (karinajw@gmail.com)

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Introdução

A Comunicação Comunitária pretende dar voz às comunidades. Ao contrário da grande mídia, que faz notícias de maneira vertical, ou seja, a equipe de reportagem vai até as fontes com pautas e perguntas pré-escolhidas, no Jornalismo Comunitário a ideia é que as comunidades participem das notícias, desde as escolhas das pautas, passando por apuração, até o texto pronto e escrito. Marcos Palácios (1990), no artigo intitulado “Sete teses equivocadas sobre comunidade e comunicação comunitária”, remete às principais teses vigentes no debate do campo da comunicação comunitária e aponta suas limitações. O autor explica estas teses observando que, com a ascensão e expansão do capitalismo moderno, não se vê mais razão para a existência de comunidades como conhecia-se anteriormente, acredita-se também que elas funcionam apenas pela proximidade, ou seja, é impossível chamar de comunidade grupos de interesse formados sem a contato físico entre essas pessoas. No âmbito da comunicação, as teses equivocadas passam a acreditar que é desnecessária a participação de jornalistas nesse trabalho, pois ele deve ser feito apenas pelos integrantes dos grupos; que as escolas de Jornalismo não formam profissionais capacitados para tal trabalho, pois funcionam apenas formando para a grande mídia; que pautas devem surgir apenas de dentro da comunidade, nunca serem trazidas de fora; e que comunicação comunitária deve ser veiculada apenas em meios alternativos, como panfletos e jornais de bairros, televisão e rádio, por exemplo, não poderiam ser utilizados.

Palácios desmente essas teses. Para ele, as comunidades continuam existindo, pois existem demandas atuais que as fortalecem, mesmo com o capitalismo em estágio avançado. Quanto ao problema da proximidade, ele não prossegue, pois grupos de interesses se formam independente de contato físico e possuem força política nos mesmos moldes. Como ambientalistas, por exemplo, que estão em todo o planeta e usam meios como a internet para debater e propagar suas ideias, sem necessariamente contar com o contato face a face.

Pensando na comunicação, a presença de jornalistas no jornalismo comunitário só tende a acrescentar, pois são profissionais formados e, portanto, especializados nisso. Aí chega-se ao gancho de que as escolas de Jornalismo possuem ainda um papel importante neste processo, pois oferecem disciplinas e projetos de extensão que capacitam estudantes para essa função. Palácios lembra também que as pautas não precisam surgir apenas dos grupos comunitários, pois questões de fora também podem estar incluídas no cenário de determinado grupo, como, por exemplo, uma cidade que passa por epidemia e o jornalista faz uma matéria em determinado bairro sobre a situação da doença nesse local.

O berço da comunicação comunitária são realmente os meios alternativos, pois nestes espaços é possível, geralmente, propagar ideais sobre determinado grupo, mesmo que esse não tenha visibilidade na grande mídia. Por outro lado, Palácios não vê a comunicação comunitária exclusivamente nos meios alternativos como uma obrigação, pois se determinada comunidade tem acesso a um veículo de massa e a possibilidade de veicular notícias nesse, terá uma vantagem, pelo alcance maior do meio. Ou seja, um meio não substitui o outro, e pode haver comunicação comunitária em diferentes meios e formatos, seja em veículos massivos ou não.

Com base nestes debates sobre o conceito e as características da comunicação comunitária, busca-se problematizar como as teses equivocadas operam no trabalho realizado através do projeto Portal Comunitário, de modo a desmistificar determinadas ideias que limitam o campo de atuação em jornalismo comunitário.

Objetivos

O Portal Comunitário, mesmo inserido na internet, considerado um meio de massa, procura dar visibilidade a grupos que não possuem espaços na mídia convencional, como Organizações Não Governamentais (ONGs), associações de moradores, movimentos sociais e sindicatos. Visa fazer, também, com que estudantes de jornalismo tenham contato com esses grupos, acrescentando também aspectos sociais e culturais na formação dos profissionais. Os pilares são a comunicação horizontal, em que as ideias não surgem de alguém e são impostas a outro, mas sim em conjunto; de autonomia, já que o projeto não possui uma linha editorial vinculada a nenhum grupo, empresa, etc; e de valorização da cultura das entidades que cobre.

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O Portal Comunitário faz a cobertura das comunidades com equipes de reportagem formadas por alunos da terceira série do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa. As equipes são formadas por três ou quatro alunos.

O projeto faz uma relação interdisciplinar da escola de Jornalismo da UEPG, pois os alunos produzem conteúdo jornalístico para o site do Portal Comunitário nas disciplinas de Comunicação Comunitária, Webjornalismo e Telejornalismo II. Desse modo, se estabelece a relação entre ensino e extensão, canalizando a produção jornalística das aulas ao trabalho realizado pelo projeto.

Cada equipe é responsável pela cobertura de, no mínimo, três organizações da sociedade civil de Ponta Grossa. Sendo elas, obrigatoriamente, um sindicato, uma associação de moradores e uma entidade, de modo a conhecer diferentes demandas de informação dos grupos sociais.

Para este trabalho foi aplicado um questionário com perguntas semi-estruturadas (dirigidas, porém abertas às respostas) junto aos participantes do projeto, em que cada uma das dez equipes respondeu quatro perguntas subjetivas em relação à Comunicação Comunitária, para que se entendesse a opinião dos estudantes sobre essas teses. A partir das respostas, estabeleceu-se a relação com a produção para o site, para que fosse possível concluir se as teses sobre comunicação comunitária são equivocadas ou não, a partir das reflexões de Palácios.

As perguntas apresentadas às equipes foram as seguintes: “quais são as vantagens e desvantagens do Portal Comunitário estar inserido em um meio de comunicação de massa (internet) e não em um meio alternativo?”; “você vê a participação de estudantes de Jornalismo na produção de notícias das comunidades como algo vantajoso para estas? Por quê?”; “você levou problemáticas de fora que foram transformadas em notícias ou toda a produção foi baseada em questões identificadas pela comunidade?”; “com as experiências das disciplinas e de produção noticiosa para o Portal Comunitário, você acredita que estaria preparado para exercer a função de jornalista comunitário, caso quisesse/ precisasse?”

Além dos alunos da terceira série do curso de Jornalismo da UEPG que integram este trabalho, também foi aplicado o questionário, de forma complementar, junto a estudantes da quarta série, pois estes fizeram cobertura das comunidades para o site no ano de 2010.

Resultados

As informações que seguem, extraídas dos questionários aplicados aos estudantes da 3ª e da 4ª séries do curso de Jornalismo da UEPG, buscam ilustrar o debate sobre comunicação comunitária no âmbito do projeto Portal Comunitário. Entende-se que, através da prática do jornalismo comunitário, pode-se problematizar e até mesmo superar algumas concepções que costumam limitar a compreensão das características da comunicação comunitária, conforme se pode observar nas respostas obtidas.

Na análise dos questionários, quanto à primeira pergunta, sobre o veículo de comunicação adotado no projeto, 8 alunos (80% das equipes da terceira série) afirmam que o Portal Comunitário possui um alcance muito maior por estar na internet. Assim, além da tese equivocada de que um produto comunitário não pode estar inserido em um meio de massa, o Portal Comunitário também quebra a tese de que as comunidades existem apenas a partir da proximidade. Um exemplo é o Grupo Fauna, entidade pontagrossense que defende interesses ambientais, pois devido ao Portal Comunitário ser um site, suas notícias podem atingir ambientalistas de todo o país e até no exterior. Os alunos apontam, porém, desvantagem em relação a bairros mais carentes, 3 alunos (30% das equipes da terceira série) lembram que em algumas vilas são poucos os moradores que possuem acesso à internet. Este aspecto pode ser sintetizado na resposta abaixo, de um membro da equipe:

Vantagem: potencial de alcance, originado pela facilidade de acesso. Desvantagem: nem todos têm internet em casa. Muitos dos “atores” citados nas matérias acabam não vendo as notícias. (Questionário 3ª série, 2011)

Quanto à segunda pergunta, os estudantes afirmam dois pontos que colocam o Portal Comunitário como algo que vai contra, pragmaticamente, teses equivocadas sobre comunicação comunitária: O primeiro é que os estudantes conseguem buscar pontos de vista diferenciados, reinventar a comunicação, diferentemente da mídia convencional. O segundo diz respeito à qualidade da informação, que é maior sendo feita por profissionais treinados.

A terceira pergunta implica respostas diferentes entre a terceira série ano do curso de Jornalismo da UEPG, que iniciou o trabalho de produção no mês de março do corrente ano, e a quarta série, que parou de produzir no final de 2010. A maioria, 60% dos alunos da terceira série, respondeu que até o presente momento as pautas foram levantadas apenas pelas comunidades.

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Porém, 40% dizem que identificaram/colocaram alguma questão que posteriormente virou notícia. Segue resposta de um aluno:

Ambas as partes [comunidade e equipe do portal] colaboraram. Através da observação levamos possíveis pautas, que foram confirmadas pela comunidade em questão. Assim como éramos pautados por eles, com sugestões. (Questionário 4º série, 2011)

Contudo, na quarta série, 100% dos alunos que responderam ao questionário levaram pautas até os grupos. O que mostra que é uma questão de tempo e de conhecimento maior da disciplina de Comunicação Comunitária para que as equipes passem a levar pautas até as entidades. Portanto, o Portal Comunitário reforça novamente o trabalho de Palácios e, assim, vai contra mais uma das que ele chama de teses equivocadas, a de que as pautas devem surgir exclusivamente das comunidades.

Na última pergunta, 80% dos alunos da terceira série e 100% da quarta série acreditam que a experiência de produção noticiosa para o projeto de extensão Portal Comunitário prepara totalmente ou parcialmente para exercer a função de jornalista comunitário. Apenas dois estudantes reforçaram a tese que Palácios chama de equivocada, ao afirmar que a escola de Jornalismo forma apenas para o Jornalismo informativo e da mídia convencional.

Conclusões

A partir do trabalho de Marcos Palácios e da análise feita com as respostas subjetivas dos estudantes de Jornalismo da UEPG que participam ou participaram da produção de conteúdo noticioso para o Portal Comunitário, pode-se perceber que a Comunicação Comunitária não é uma área que tende a enfraquecer ou a deixar de ser imprescindível na sociedade, mas pelo contrário, faz-se necessária, mesmo em uma sociedade capitalista, a partir de novas demandas das comunidades e da obrigação que essas têm de se comunicar interna e externamente.

Percebe-se também uma melhoria de qualidade quando essa comunicação é feita a partir de profissionais da comunicação, pelo conhecimento técnico que adquirem, especialmente na faculdade. O projeto extensionista da UEPG Portal Comunitário pode ser considerado um veículo que articula essa comunicação de qualidade e horizontal nas comunidades da sociedade pontagrossense e ainda possui um alcance maior, em relação a veículos alternativos e locais, por estar inserido na internet.

O veículo, portanto, apresenta potencial de alcance em diferentes grupos e entidades que participam do projeto, o que revela que a internet representa um importante espaço que pode estar a serviço do jornalismo comunitário. Do mesmo modo, esta reflexão aponta para a necessidade da Universidade estar integrada aos interesses e demandas sociais, fortalecendo não apenas uma formação técnica voltada ao mercado tradicional, mas abrindo espaço para outras atuações do profissional da comunicação. É isso que, em certa medida, o Portal Comunitário busca desenvolver, ao articular ensino e extensão, promovendo uma formação multimídia e principalmente um maior comprometimento com os interesses dos grupos e setores sociais da cidade de Ponta Grossa.

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Referencias

GRINBERG, Máximo Simpson. A comunicação alternativa na América Latina. Petrópolis, RJ: Vozes, 1987.

PAIVA, Raquel. O espírito comum: comunidade, mídia e globalismo. Petrópolis: Vozes, 1998. PAIVA, Raquel (Org.) O retorno da comunidade: os novos caminhos do social. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007, p. 133-148.

PALACIOS, Marcos. Sete teses equivocadas sobre comunidade e jornalismo comunitário. Revista Comunicação & Política: comunicação pela América Latina. Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos. Ano 9, n 11, Abr-Jun. 1990. São Paulo: Editora Oito de Março, 1990, p. 103-110.

PERUZZO, Cicilia M.K. Comunicação nos movimentos populares: a participação na construção da cidadania. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

Referências

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