• Nenhum resultado encontrado

A influência das condições meteorológicas e do clima sobre doenças humanas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A influência das condições meteorológicas e do clima sobre doenças humanas"

Copied!
23
0
0

Texto

(1)

Renato A. C. Carvalho é meteorologista assessor principal do Ins-tituto de Meteorologia

A influência das condições meteorológicas

e do clima sobre doenças humanas

RENATO A. C. CARVALHO

Após algumas considerações gerais sobre as características humanas relativamente à sua adaptabilidade ao ambiente que envolve o homem, a sua variabilidade, como é o caso das condições meteorológicas que nele se integram, são também referidos alguns aspectos da adaptação fisiológica e comportamental do homem, que se tornarão determinan-tes para o seu bem-estar no próximo século, considerando as prováveis alterações do clima e do ambiente que lhes estarão associadas, devido essencialmente às influências de actividades antropogénicas, sendo destacada a importância dos estudos epidemiológicos e das suas relações com as condições meteorológicas e climáticas temporais.

Apresenta-se um resumo histórico da biometeorologia humana, com referências à influência das glaciações, a actividades na China, na Índia e na Grécia, na Antigui-dade, às influências do período de «clima óptimo», e já na Idade Média (séculos X a XIII), durante o «pequeno período de clima óptimo», em que os «Vikings» colonizaram a Gro-nelândia e a Islândia, acção que terminaria no século XV

devido às consequências da «pequena idade do gelo». Ainda no século XIX é referida a acção de Júlio Dinis nos estudos integrados da meteorologia em medicina, assim como de vários autores, em França, no início do 2.o quartel

do século XX; neste âmbito são igualmente apresentados alguns acontecimentos, já da segunda metade do século XX,

que foram determinantes no desenvolvimento da biometeo-rologia humana, em que se destaca a acção em Portugal do meteorologista Dr. Bento Rodrigues.

Apresentam-se alguns efeitos da influência das condições meteorológicas e do clima sobre algumas doenças humanas (tuberculose, asma brônquica, bronquites, cancro da pele, glaucoma agudo, conjuntivites agudas, doenças reumáti-cas, do coração — trombose coronária, enfarte do mio-cárdio e angina pectoris —, constipação comum, gripe, poliomielite, esquizofrenia, epilepsia, apoplexia, cólicas hepáticas e renais, cáries dentárias, diabetes, bócio, derma-toses, úlceras gástricas, úlceras pépticas e duodenais). Seguidamente comparam-se as taxas de mortalidade rela-tivas a algumas doenças com diferentes variações de condi-ções meteorológicas e climáticas em diferentes países, incluindo Portugal.

1. Introdução

A atmosfera é uma componente significativa do ambiente com a qual o organismo humano está em trocas contínuas a fim de assegurar o equilíbrio necessário para a concretização das funções vitais. As condições meteorológicas são caracterizadas pela sua grande variabilidade temporal; assim, os fenóme-nos de interesse em diferentes escalas temporais vão desde segundos a anos.

Os seres humanos saudáveis têm um grau de adapta-bilidade extraordinariamente grande (devido a

(2)

meca-nismos de regulação de funcionamento autónomo, como é a regulação térmica), mesmo com condições meteorológicas em que ocorrem variações grandes e rápidas. Este ajustamento, designado por adaptação fisiológica às perturbações externas, pode iniciar-se em segundos ou minutos. Através de maior exposição aos estímulos, ocorrem as adaptações de longa dura-ção, ou seja, a «aclimatação» do organismo humano às variações bioclimáticas.

A adaptação fisiológica é apoiada pela adaptação comportamental, como, por exemplo, vestuário, hábi-tos de vida, estrutura do ambiente, sendo estes facto-res essencialmente determinados pelas sensações. A adaptabilidade do organismo humano está conside-ravelmente dependente da idade, sexo, constituição, tipo de reacção e grau de aclimatação.

2. Resumo histórico da biometeorologia humana. Meteoropatologia

A evolução do clima da Terra mostra que existe um efeito apreciável sobre o homem e o seu ambiente devido às flutuações do clima

Durante o período das glaciações e, em particular, durante a última glaciação, as condições climáticas na maioria dos continentes eram desfavoráveis aos seres humanos, enquanto o período pós-glaciar recente corresponde ao período durante o qual se desenvolveu a civilização moderna.

De acordo com os dados relativos aos paleoclimas e com o apoio dos modelos globais da circulação geral da atmosfera foi possível reconstituir os aspectos essenciais do regime térmico do recente período da «idade do gelo». Foi, assim, possível estabelecer que a temperatura do ar à superfície no Verão era muito inferior à do presente, em média cerca de 5,3°C no hemisfério norte e 4,5°C no hemisfério sul. Este resultado indica que nesta época havia ausência de cobertura extensiva de vegetação e, portanto, não existiam condições de vida para o homem na região que se designa actual-mente por zona temperada.

As condições climáticas no período holocénico seguinte não eram homogéneas; há cerca de 6000 a 8000 anos iniciou-se um período longo de «clima óptimo» que permaneceu durante vários milhares de anos, sendo então as condições climáticas generaliza-damente mais favoráveis do que actualmente. O desenvolvimento da Gronelândia pelos «Vikings» iniciou-se noutro período de clima relativamente favorável durante os séculos X a XIII («pequeno

período de clima óptimo»); contudo, como aconteceu com tentativa semelhante para desenvolver a Islândia, tais empreendimentos terminaram devido à

deterio-ração do clima durante o período que é designado por «pequena idade do gelo», que se estendeu do século XIV ao século XIX.

Os povoamentos da Gronelândia terminaram no século XV, porque, após 1420, as comunicações entre

a Europa e algumas regiões da Gronelândia foram interrompidas, cada vez com maior frequência, devido às condições extremas de gelo no Atlântico Norte; de facto, durante o período entre o fim do século XV e o início do século XIX nenhum navio

europeu pôde alcançar a Gronelândia. Entre 1575 e 1600 até mesmo a Islândia ficou gravemente blo-queada pelo manto de gelo.

A conclusão dos povoamentos vikings na Gronelân-dia no século XIV foi em parte devido ao efeito directo

da mudança climática e também ao efeito indirecto relacionado com má nutrição, epidemias, etc. Nos finais do século XVIII na Europa, as condições

climáticas desfavoráveis foram responsáveis pelo decréscimo da população devido à redução do número de nascimentos e ao aumento das taxas de mortalidade.

Na segunda metade do século XIX, em especial na

Europa, houve grande desenvolvimento dos estudos que relacionavam algumas das principais doenças com as condições meteorológicas e climáticas regio-nais, que nalguns casos levaram à expansão da utili-zação das estâncias termais e também dos sanatórios; em Portugal deve referir-se, nesta época, o trabalho do médico Dr. Joaquim Guilherme Gomes Coelho, que ficou mais conhecido pela sua actividade literária com o nome de Júlio Dinis, que defendeu a tese «Da importância dos estudos meteorológicos para a medi-cina e, especialmente, das suas aplicações ao ramo cirúrgico» no seu doutoramento em Medicina, em 1861, na Universidade do Porto.

No início do 2.o quartel do século XX são vários os

autores que, essencialmente na França e na Alema-nha, desenvolvem estudos e publicam trabalhos sobre biometeorologia e bioclimatologia humana.

No início da segunda metade do século XX realiza-se,

em 1956, a 1.a Conferência Internacional de

Biome-teorologia, sob a égide da UNESCO, e é criada a Sociedade Internacional de Biometeorologia (SIB). Em 1975, por iniciativa da Organização Meteoroló-gica Mundial (OMM), da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da SIB, em Genebra, é criado o Grupo de Trabalho sobre Biometeorologia Humana, no âmbito da Comissão de Aplicações da Meteorolo-gia e ClimatoloMeteorolo-gia da OMM; em 1981 realiza-se o IX Congresso Internacional de Biometeorologia, que tem lugar na Alemanha.

Finalmente, deve referir-se a actividade desenvolvida recentemente em Portugal nos domínios da biome-teorologia e da bioclimatologia humana, durante os

(3)

anos 70 e 80, pelo meteorologista Dr. Bento Rodrigues, que publicou numerosos trabalhos neste domínio e apresentou várias comunicações em reu-niões especializadas, de que se refere como exemplo a comunicação ao Congresso Mundial sobre Doenças Coronárias (Bombaim, 1982), intitulada «Seasonal variations in developement of acute myocardyal infarction: study between Lisboa and Bombay».

3. Efeitos da influência das condições meteorológicas e do clima

sobre doenças humanas

Os efeitos da influência das condições meteorológi-cas e do clima foram largamente estudados ao longo dos tempos, sendo bem conhecidas as aplicações que eram feitas durante o Império Romano nas estâncias termais e mais tarde nos sanatórios, quer localizados em áreas com climas secos, em regra frios, que se localizavam em regiões montanhosas, quer localiza-dos à beira-mar, que tanta divulgação tiveram desde

a segunda metade do século XIX e até meados do

século XX, no apoio ao tratamento dos doentes com

tuberculoses; somente após a descoberta da penici-lina e da estreptomicina, em meados do século XX, foi

possível dispensar o apoio dos sanatórios no trata-mento destes doentes.

Em 1964 a Organização Meteorológica Mundial pro-moveu a publicação contida na nota técnica n.o 65

intitulada «Survey of human biometeorology», onde se apresentava a sinopse dos «Efeitos da influência do estado do tempo e do clima sobre as doenças». Nesta sinopse pode reconhecer-se que as crises de doenças do aparelho respiratório (tuberculose, asma brônquica, bronquites) estão, em regra, associadas ao tempo frio e húmido, com nevoeiros, ar poluído e quedas bruscas da temperatura do ar; também com tempo quente opressivo (antes de trovoadas e depois do Föhn) e com «vagas de calor» aumenta o número de hemoptises súbitas nos doentes com tuberculose pulmonar.

O cancro da pele é mais comum nas regiões e nas épocas em que o número de horas de Sol descoberto é maior e nas pessoas que têm maior exposição da pele ao Sol. A longo prazo a deplecção de ozono estratosférico conduzirá ao acréscimo significativo de casos de cancro da pele, em particular nas latitudes altas do hemisfério norte onde este efeito é mais evidente e onde as populações são mais vulneráveis devido a questões genéticas.

Também o glaucoma agudo (doença nos olhos) se apresenta com maior frequência nos dias muito frios, no Inverno, e pequena frequência no Verão. As con-juntivites agudas são mais frequentes em dias de sol

intenso e, por isso, na Europa têm maior incidência no Sul, isto é, na Península Ibérica e nos países medi-terrânicos.

As doenças reumáticas apresentam crises associadas a arrefecimento intenso, que ocorre com as descidas bruscas da temperatura do ar e com vento forte; tam-bém a humidade do ar elevada tem influência nega-tiva nestas doenças quando ocorre associada ao arre-fecimento e à subida da pressão atmosférica; na Europa ocidental as crises dos doentes reumáticos são mais comuns no Outono e no princípio do Inverno.

As doenças do coração, em particular a trombose coronária, o enfarte do miocárdio e a angina

pecto-ris, são mais frequentes após arrefecimento intenso,

sendo a mortalidade na Europa ocidental maior em Janeiro-Fevereiro (meses mais frios) e no Norte dos EUA menor em Julho-Agosto.

Nas regiões com climas quentes, como é o caso do Sul dos EUA, a mortalidade é mais alta no Verão e mais baixa no Inverno.

Em Lisboa, no Hospital de Santa Maria, verificou-se, nos anos de 1973 a 1977, grande incidência dos casos de enfarte agudo do miocárdio (72%) nos meses de Outubro a Maio (maior frequência de superfícies frontais).

Nas doenças infecciosas refere-se a constipação comum, que é mais frequente com mudanças bruscas de tempo, como, por exemplo, períodos de frio intenso seguidos de aquecimento repentino (o meca-nismo termorregulador é afectado, assim como a per-meabilidade das membranas); na Europa ocidental a sua frequência aumenta de Setembro até Fevereiro--Março, em que tem maiores frequências.

A ocorrência de gripe é favorecida com valores da humidade relativa inferior a 50% e intensidades fra-cas do vento, que facilitam o desenvolvimento e a transmissão do vírus da gripe.

Na Europa ocidental a gripe tem ocorrências crescen-tes a partir de Setembro, com o máximo de Dezem-bro a Fevereiro.

A poliomielite é mais frequente com tempo quente e húmido, favorecendo o desenvolvimento e a propaga-ção do respectivo vírus; no hemisfério norte, a sua frequência aumenta a partir de Maio e tem o máximo em Agosto-Setembro.

No domínio das doenças mentais refere-se a esquizo-frenia, em que o aumento de desassossego e da diu-rese ocorre mais frequentemente com a invasão de massas de ar quente; na Europa ocidental tem valores máximos em Novembro-Janeiro.

Os casos de ataques de epilepsia aumentam com as descidas de temperatura do ar, que estão associadas a passagens de frentes frias e à «chegada» de massas de ar polar ou árctico muito frio; no hemisfério norte

(4)

são máximos em Novembro-Dezembro e têm o mínimo no Verão.

Também os casos de apoplexia ocorrem com as mes-mas condições meteorológicas que favorecem os ata-ques de epilepsia e na Europa ocidental têm o máximo de mortalidade em Janeiro-Fevereiro e o mínimo em Julho-Agosto.

No que se refere aos nascimentos com deficiência mental, a sua frequência é maior em Janeiro-Março. As cólicas hepáticas e renais são mais frequentes com a ocorrência de massas de ar frio e húmido; na Europa ocidental ocorrem principalmente de Novem-bro a Março, após a passagem de superfícies frontais frias, isto é, com a chegada de ar polar marítimo frio, que vem de norte ou noroeste.

Há autores que associam o aumento do número de cáries dentárias ao pequeno número de horas de sol descoberto, o que desfavorece a produção de vita-mina D e o nível de fosfatos no soro.

Os diabéticos apresentam, em regra, condições mais deterioradas no fim do Outono e no Inverno, neces-sitando por isso de maiores doses de insulina. No bócio, com frio intenso e excesso de radiação UV, pode verificar-se o aumento de hipertiroidismo, sendo máxima a frequência de crises no Inverno. As doenças de pele são afectadas com as variações do estado do tempo que influenciam a taxa de trans-piração e a cobertura ácida da pele, podendo a luz solar causar dermatoses; na Europa ocidental há alta incidência de eczemas na Primavera e de furúnculos em Julho-Agosto.

Os doentes com úlceras gástricas devidas a acidez apresentam maior número de crises no Inverno devido ao aumento de hiperacidez e menor número de crises com a hipoacidez aumentada no Verão. Os doentes com úlceras pépticas apresentam perfura-ções mais frequentes com as passagens de superfícies frontais, sendo mais frequentes em Dezembro-Feve-reiro na Alemanha e em Maio e Setembro nos EUA. Os doentes com úlceras duodenais têm crises mais frequentes em Maio e em Novembro (na Alemanha).

4. Condições meteorológicas, clima e taxas de mortalidade

Como já foi apresentado, os efeitos da influência das condições meteorológicas e do clima sobre doenças humanas são mais acentuados no que se refere às doenças cérebro-vasculares, às doenças do aparelho circulatório e respiratório, às doenças de pele e tam-bém quando ocorrem variações súbitas e ou prolon-gadas de certos parâmetros meteorológicos: tempera-tura do ar, passagem de superfícies frontais, vagas de frio e de calor, pressão atmosférica (quedas bruscas

associadas à passagem de frentes), humidade do ar (valores muito altos associados à ocorrência prolon-gada de nevoeiro).

As taxas de mortalidade em Portugal devidas a doen-ças cérebro-vasculares nos anos de 1971 a 1975 apre-sentam valores mensais que variam entre 23 e 30/100 000 habitantes em Dezembro e Janeiro e 12 a 15/100 000 habitantes de Junho a Setembro

(Figura 1); estes valores estão de acordo com o que

se verifica no Japão (Figura 2a) e na Grã-Bretanha

(Figura 2b) em que as taxas mensais de mortalidade

são análogas e a sua variação ao longo do ano apre-senta a mesma configuração: menores valores no Verão (cerca de 50%) do que no Inverno. Nos EUA a variação ao longo do ano das taxas de mortalidade devidas a doenças cérebro-vasculares é análoga à de Portugal, Japão e Grã-Bretanha, mas os valores abso-lutos são significativamente mais baixos: 11 a 13 óbitos/100 000 habitantes, em cada mês, de Novem-bro a Fevereiro e 9 a 10 óbitos/100 000 habitantes, em cada mês, de Maio a Setembro (Figura 2c).

Figura 1

Variação da taxa de mortalidade em Portugal (conti-nente e ilhas adjacentes) nos anos de 1971 a 1975 devida a doenças cérebro-vasculares 30 29 28 27 26 25 24 23 22 21 20 19 18 17 16 15 14 13 12 11

Taxa de mortalidade (número de óbitos por 100

000 habitantes) 1971 1972 1973 1974 1975 J F M A M J J A S O N D

(5)

Figura 2a

Variação da taxa de mortalidade no Japão nos anos de 1969 a 1973 devida a doenças cérebro-vasculares (baseado em Momiyama e col.)

Figura 2b

Variação da taxa de mortalidade na Grã-Bretanha (Inglaterra e País de Gales) nos anos de 1968 a 1972 devida a doenças cérebro-vasculares (baseado em Momiyama e col.)

Figura 2c

Variação da taxa de mortalidade nos EUA nos anos de 1967 a 1971 devida a doenças cérebro-vasculares (baseado em Momiyama e col.)

27 26 25 24 23 22 21 20 19 18 17 16 15 14 13 12

Taxa de mortalidade (número de óbitos por 100

000 habitantes) 1969 1970 1971 1972 1973 J F M A M J J A S O N D 1967 1968 1969 1970 1971 15 14 13 12 11 10 9

Taxa de mortalidade (número de óbitos por 100

000 habitantes)

J F M A M J J A S O N D

Taxa de mortalidade (número de óbitos por 100

000 habitantes) J F M A M J J A S O N D 27 26 25 24 23 22 21 20 19 18 17 16 15 14 13 12 1968 1969 1970 1971 1972

(6)

Estes mesmos resultados, correspondentes à variação estacional do índice de mortalidade devido a lesões vasculares em diversos países, estão representados na

Figura 3; reconhece-se que a maior incidência de

óbitos devida a lesões vasculares ocorre no período mais frio, que vai de Novembro a Março, em

Portu-gal, na Itália e Reino Unido; de Novembro a Abril, na França; no Japão e nos EUA de Dezembro a Maio e na Suécia e na Dinamarca de Novembro a Abril. Estes resultados estão também representados grafica-mente na Figura 4 para os mesmos países já referen-ciados.

Figura 3

Variação estacional do índice de mortalidade em vários países, em 1950, devido a lesões vasculares, segundo Katayama e Momiyama. Para Portugal seguiu-se o mesmo processo com base nos dados estatísticos do INE quanto à mortalidade por doenças cérebro-vasculares, mas no período de 1971 a 1975

Figura 4

Modelos de variação estacional do índice de mortali-dade em vários países, em 1950, tendo em consideração a temperatura média mensal do ar, segundo Katayama e Momiyama. Para Portugal seguiu-se o mesmo pro-cesso com base nos dados estatísticos do INE quanto à mortalidade por doenças cérebro-vasculares, e do INMG quanto à temperatura média mensal do ar, mas no período de 1971 a 1975 160 150 140 130 120 110 100 100 100 100 100 100 100 100 80 Índice de mortalidade Portugal Itália Grã-Bretanha (Inglaterra e País de Gales) França Japão Dinamarca Suécia EUA J F M A M J J A S O N D 140 130 120 110 100 100 100 100 100 100 100 110 100 80 Índice de mortalidade Portugal Itália Grã-Bretanha (Inglaterra e País de Gales) França Japão Dinamarca Suécia EUA – 8 – 4 0 4 8 12 16 20 24 28 °C

(7)

Figura 5

Variação da taxa de mortalidade em Portugal (conti-nente e ilhas adjacentes) nos anos de 1971 a 1975 devida a doenças do aparelho circulatório (doenças reumáticas crónicas do coração, outras doenças do coração e doen-ças cérebro-vasculares)

Figura 6

Curvas representativas da mortalidade em Portugal (continente e ilhas adjacentes) devida a doenças do apa-relho respiratório (pneumonia, bronquite, asma e enfi-sema) em Portugal nos anos de 1971 a 1975 baseadas nos dados do INE

Também as taxas de mortalidade em Portugal devidas ao conjunto de doenças do aparelho circulatório (doenças reumáticas crónicas do coração e doenças cérebro-vasculares) (Figura 5) são mais altas de Outubro-Novembro a Março, com valores da ordem de 30 a 50 óbitos/100 000 habitantes, em cada mês, e são mais baixas de Abril a Setembro, com valores de 30 a 23 óbitos/100 000 habitantes, em cada mês. As doenças do aparelho respiratório em Portugal, designadamente as pneumonias, as bronquites, a asma e enfisema, provocam taxas de mortalidade

(Figura 6) que têm valores de 7 a 17 óbitos/100 000

habitantes em cada mês de Novembro a Março e de 4 a 6 óbitos/100 000 habitantes mensalmente de Abril a Outubro.

Como se reconhece, a incidência de maiores taxas de mortalidade relativas às doenças vasculares e às doenças do aparelho respiratório ocorre no período mais frio do ano, que nas latitudes médias e altas do hemisfério norte coincide com os meses de Novem-bro a Março.

Deve, no entanto, salientar-se que as vagas de calor, que correspondem a subidas significativas da tempe-ratura do ar, para além dos valores normais na res-pectiva época do ano, podem provocar aumentos importantes das taxas de mortalidade. O exemplo clássico consiste na vaga de calor que atingiu os EUA no Verão de 1966, particularmente na cidade de Nova Iorque, em que houve um acréscimo de 50% nas taxas de mortalidade quando a temperatura média

50 48 46 44 42 40 38 36 34 32 30 28 26 24 22

Taxa de mortalidade (número de óbitos por 100

000 habitantes) 1971 1972 1973 1974 1975 J F M A M J J A S O N D 17 15 13 11 9 7 5 3

Taxa de mortalidade (número de óbitos por 100

000 habitantes) 1971 1972 1973 1974 1975 J F M A M J J A S O N D

(8)

Figura 7

Excesso de óbitos causados por uma vaga de calor no Verão de 1966 em Nova Iorque. Em ordenadas, à esquerda, indica-se a taxa de mortalidade semanal, cuja variação está representada pela curva a traço cheio, e à direita indica-se a temperatura média semanal do ar, cuja curva de variação está representada a tracejado. Havia 95% de probabilidade de o número de óbitos estar compreendido entre os limites da área tracejada (segundo H. E. Landsberg)

semanal passou de 20°C para 30°C duas semanas depois (Figura 7).

Também em Portugal, em Junho de 1981 e em Julho de 1991, houve vagas de calor em que a temperatura do ar ultrapassou valores de 41°C em numerosas localidades (Lisboa, Castelo Branco, Beja) e que per-maneceram por mais de uma semana (Figuras 7a a

7f). Com efeito, em Junho de 1981 (Figuras 7a a 7c)

a temperatura do ar esteve acima dos valores normais no período de cerca de três semanas, que foi de 6 a 25, com as temperaturas mais altas de 11 a 18 de Junho, e nalguns locais até 20 de Junho, tendo então as temperaturas máximas diárias ultrapassado 30°C junto do litoral ocidental (Cabo Carvoeiro, Sines e

Taxa de mortalidade por 1000 habitantes

15 14 13 12 11 10 9 30°C 28 26 24 22 20 18

1966 Maio Junho Julho Agosto Setembro

20 3 17 1 15 29 12 26 9

(9)

Figura 7a

Vaga de calor em Junho de 1981 em Portugal (cabo Carvoeiro, Sines e Sagres) Valores diários da temperatura do ar

°C 35 30 25 20 15 10 5 0 °C 35 30 25 20 15 10 5 0 °C 35 30 25 20 15 10 5 0 Mín Máx Máx: 19,0°C CABO CARVOEIRO Mín: 14,9°C Máx: 19,9°C SINES Mín: 15,4°C Máx: 21,2°C SAGRES Mín: 15,4°C 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Dias 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Dias 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Dias 30,0 32,5 30,6

(10)

Figura 7b

Vaga de calor em Junho de 1981 em Portugal (Porto, Lisboa, Faro) Valores diários da temperatura do ar

°C 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 °C 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 °C 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Mín Máx Máx: 22,7°C PORTO Mín: 13,5°C Máx: 24,8°C LISBOA Mín: 15,6°C Máx: 25,4°C FARO Mín: 15,7°C 38,7 37,436,0 41,5 35,6 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Dias 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Dias 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Dias

(11)

Figura 7c

Vaga de calor em Junho de 1981 em Portugal (Bragança, Castelo Branco, Beja) Valores diários da temperatura do ar

°C 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 °C 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 °C 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Mín Máx Máx: 24,0°C BRAGANÇA Mín: 11,4°C Máx: 27,3°C CASTELO BRANCO Mín: 14,9°C Máx: 28,4°C BEJA Mín: 13,2°C 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Dias 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Dias 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Dias 43,3 40,743,0 41,2 41,2 35,0 35,6 36,4

(12)

Figura 7d

Vaga de calor em Julho de 1991 em Portugal (cabo Carvoeiro, Sines e Sagres) Valores diários da temperatura do ar

°C 40 35 30 25 20 15 10 5 0 °C 40 35 30 25 20 15 10 5 0 °C 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Mín Máx Máx: 20,3°C CABO CARVOEIRO Mín: 16,2°C Máx: 21,4°C SINES Mín: 16,7°C Máx: 22,9°C SAGRES Mín: 16,8°C 31,0 31,0 35,0 35,4 36,2 35,0 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Dias 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Dias 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Dias

(13)

Figura 7e

Vaga de calor em Julho de 1991 em Portugal (Porto, Lisboa, Faro) Valores diários da temperatura do ar

°C 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 °C 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 °C 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Mín Máx Máx: 24,7°C PORTO Mín: 15,0°C Máx: 27,4°C LISBOA Mín: 17,4°C Máx: 28,7°C FARO Mín: 17,9°C 37,4 35,6 40,6 35,7 35,6 35,7 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Dias 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Dias 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Dias

(14)

Figura 7f

Vaga de calor em Julho de 1991 em Portugal (Bragança, Castelo Branco, Beja) Valores diários da temperatura do ar

°C 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 °C 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 °C 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Mín Máx Máx: 28,3°C BRAGANÇA Mín: 13,9°C Máx: 31,5°C CASTELO BRANCO Mín: 17,2°C Máx: 32,5°C BEJA Mín: 15,1°C 36,7 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Dias 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Dias 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 Dias 35,3 35,5 35,7 35,0 35,0 41,1 41,2 42,1 43,3 41,7 43,7 43,4 41,6 40,5

(15)

Sagres) e 40°C no interior (Beira Baixa e Alentejo e Ribatejo) e em Lisboa.

Nestes locais, os maiores valores das temperaturas máximas diárias atingiram valores da ordem de 41°C em Castelo Branco (13 e 14 de Junho de 1981), Beja (11 de Junho de 1981) e Lisboa (14 de Junho de 1981) e de 43°C em Beja (13 e 14 de Junho de 1981); neste período de 11 a 18 de Junho de 1981 também as tem-peraturas mínimas diárias foram muito altas, parti-cularmente na Beira Baixa, Ribatejo, Alentejo e em Lisboa, em que estiveram acima de 20°C. Reconhece-se, portanto, a ocorrência de vaga de calor que atingiu Portugal, em especial a sul do sistema montanhoso Montejunto-Estrela, de 11 a 18 de Junho de 1981, com maior incidência nos dias 13 e 14 de Junho.

Em Julho de 1991 Portugal foi também atingido por tempo muito quente, que se manteve durante cerca de três semanas, isto é, de 7-8 a 27 de Julho; o período correspondente à vaga de calor centrou-se nos dias 12-13 a 18-19 de Julho de 1991, enquanto os valores das temperaturas máximas diárias estiveram, em regra, acima de 30°C, frequentemente acima de 35°C, tendo atingido 43,7°C em Beja, onde estiveram acima de 40°C de 12 a 18 de Julho de 1991, 41,2°C em Castelo Branco (14 de Julho de 1991) e 40,6°C em Lisboa (18 de Julho de 1991).

As situações meteorológicas correspondentes às vagas de calor (Figuras 7g a 7j) são caracterizadas por cristas de altas pressões ou anticiclones localiza-dos a norte da Península Ibérica que, associalocaliza-dos às depressões de origem térmica que se localizam no Norte de África e no Sul da Península Ibérica, deter-minaram sobre Portugal continental circulações na baixa troposfera de NE ou E de massas de ar tropical continental, muito quente e seco, que, associadas à presença de núcleos de altas pressões sobre a Penín-sula Ibérica em altitude (até 500 hPa a 300 hPa, cerca de 6000 m a 9000 m), determinam subsidência acen-tuada, que por vezes atinge a superfície, dando então origem a «excessos» na temperatura do ar de 10°C a 15°C.

Estas condições extremas levam-nos a considerar também o conforto humano neste mesmo domínio. Com efeito, são numerosos os critérios que têm sido utilizados para caracterizar as condições meteoroló-gicas que determinam o conforto e o desconforto humano, quer em condições naturais ao ar livre, em diferentes situações de esforço e com diferentes ves-tuários, quer no interior de edifícios, também com diferentes vestuários.

Apresentar-se-ão os diagramas correspondentes aos critérios de Yaglou e de Carrier, em que se reconhece, no primeiro (Figura 8), que a «zona de conforto» está limitada pelos valores da temperatura do ar de 17,5°-20°C a 26,5°-29,5°C e 70% a 30% para a

humidade relativa, com movimento do ar de 0,08 a 0,13 ms–1; os correspondentes valores para o conforto

no Inverno são de 18,5°-20,5°C a 20,2°-22,8°C e de 70% a 30%, enquanto para o conforto no Verão são de 23,8°-26,7°C a 26,5°-29,5°C e de 70% a 30%. No diagrama de Carrier (Figura 9), a «sensação de conforto» ocorre com valores da temperatura do ar de 20° a 32°C com 35% de humidade relativa, de 15° a 24°C com 60% de humidade relativa e inferior a 20°C com 90% de humidade relativa. A sensação «muito quente» ocorre com valores da temperatura do ar superiores a 33,5°C e com 30% de humidade relativa, enquanto para valores de 50% e 70% o «tempo quente» é definido para valores da tempera-tura do ar superiores a 27°C e a 22°C, respectiva-mente; com a humidade relativa de 90% o «tempo quente» é determinado com temperaturas do ar supe-riores a 25,5°C.

Quanto ao tempo «muito frio», é determinado pelos valores da temperatura do ar inferiores a 15°C e 19,5°C com humidades relativas do ar de 45% e de 25%, respectivamente.

5. Conclusões

Embora ainda não sejam completamente compreen-didas as interacções complexas entre o corpo humano e o ambiente natural que o envolve, há indicações evidentes dos efeitos directos e indirectos das condi-ções meteorológicas e do clima no desenvolvimento de muitas doenças que ocorrem.

Reconhecendo-se estatisticamente as relações entre as taxas de mortalidade e/ou agravamento de certas doenças com as condições meteorológicas/clima, a aplicação prática destes conhecimentos poderá ser particularmente importante em acções de planea-mento a curto e a longo prazo.

Com efeito, é reconhecido que as variações térmicas acentuadas são determinantes no agravamento de numerosas doenças. É assim que as descidas acentua-das da temperatura do ar (vagas de frio) provocam o agravamento de doenças, de que se destacam as res-piratórias, incluindo a asma, as reumáticas, incluindo a artrite reumatóide, e as cérebro-vasculares, as isquémicas do coração, incluindo o enfarte agudo do miocárdio.

No entanto, também as subidas acentuadas da tempe-ratura do ar com a duração de alguns dias (vagas de calor) podem provocar situações críticas na saúde pública, designadamente através do aumento do número de casos de desidratação e de enfartes agu-dos do miocárdio, associaagu-dos a descidas significati-vas da pressão atmosférica (passagem de superfícies frontais ou vales).

(16)

Figura 7g

Situação meteorológica relativa à vaga de calor de Junho de 1981. Cartas de superfície e de 700 hPa do dia 13, às 12 UTC

(17)

Figura 7h

Situação meteorológica relativa à vaga de calor de Junho de 1981. Cartas de 500 hPa e de 300 hPa do dia 13, às 12 UTC

(18)

Figura 7i

Situação meteorológica relativa à vaga de calor de Julho de 1991. Cartas de superfície do dia 15 de Julho às 00 UTC e às 12 UTC

(19)

Figura 7j

Situação meteorológica relativa à vaga de calor de Julho de 1991. Cartas de 850 hPa, 700 hPa e 500 hPa do dia 15 de Julho, às 12 UTC

(20)

Figura 8

Diagrama de conforto (Yaglou)

Figura 9

Curvas de conforto (segundo Carrier)

Movimento do ar ou turbulência

0,08 a 0,13 m s–1 Limite acima do qual o

pulso e a temperatura do corpo sobem rapidamente com uma exposição contínua. É provável um

«golpe de calor»

Zona média de conforto no Inverno Linha média de conforto no Inverno Zona média de conforto no Verão Linha média de conforto no Verão

Baseado no gráfico apresentado por Ashave Trans. 38: 416, 1932, e Handbook of Meteorology, Nova Iorque, 1945

5 10 15 20 25 30 35 40 T(°C) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 Muito quente Quente Sensação de conforto Frio Muito frio 15 20 25 30 35 40 T(°C) 90 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 35 30 25 Humidade relativa (percentagem) Percentagem

(21)

Finalmente, as alterações climáticas que se antevêem nos próximos 50 a 100 anos, resultantes de alterações significativas da composição natural da atmosfera, de que se destacam os aumentos de concentração de gases com efeito de estufa por efeito antropogénico, designadamente o dióxido de carbono, o metano e óxido nitroso e a redução da concentração do ozono estratosférico devido às emissões antropogénicas de CFCs, poderão vir a ter impactes significativos com aumento de frequência de vagas de calor, tempesta-des e cheias nas regiões tropicais, subtropicais e nas latitudes médias que poderão provocar milhares de óbitos, principalmente no Verão, nas megametrópoles dos EUA, da China e do Norte de África; no entanto, nestas mesmas regiões as taxas de mortalidade no Inverno poderão baixar como resultado de os Inver-nos passarem a ser mais ameInver-nos.

Reconhece-se, portanto, que haverá impactes na saúde humana, designadamente por aumento da fre-quência de doenças tropicais (dessimetria, malária, cólera. etc.) nas latitudes subtropicais e médias, e também o aumento de casos de cancro da pele e de cegueira nas latitudes altas, devido ao aumento da intensidade da radiação UV resultante da deplecção do ozono estratosférico nas latitudes altas.

Em consequência, o homem terá de se adaptar às novas condições; contudo, sem dúvida que haverá muitos problemas de natureza social e económica ligados a tais mudanças e adaptações. Assim, terão de ser desenvolvidas estratégias para a adaptação do homem às novas circunstâncias ambientais; em parti-cular, há necessidade de garantir registos epidemioló-gicos melhores que, associados às informações meteorológicas, permitirão aprofundar os conheci-mentos de apoio aos estudos de planeamento da saúde pública.

Agradecimentos

Cumpre agradecer à Dr.a Fátima Espírito Santo, do

Depar-tamento de Clima e Ambiente do IM, a disponibilidade dos gráficos relativos aos valores diários da temperatura do ar durante as vagas de calor estudadas e aos colegas Dr. Dia-mantino Henriques e Sr. Bernardo Diogo o apoio prestado na preparação do original.

Bibliografia

McMICHAEL, A. J. et al., ed. lit. — Climate change and human health: an assessment prepared by a Task Group on Behalf of WHO, WMO and UNEP. Geneva: World Health Organization, 1996.

RODRIGUES, Bento C. M. — Considerações a propósito da varia-ção estacional da mortalidade por doenças cérebro-vasculares em Portugal. Revista Portuguesa de Clínica e Terapêutica. 4 : 3 (1978).

RODRIGUES, Bento C. M. — Biometeorologia e a produtividade laboral. Revista do Instituto de Meteorologia e Geofísica. 1 : 1 (1978).

SARGENT, I. I., SOLCO, W. T. — A survey of human biometeorology. Geneva: World Meteorological Organization,1964 (Tech. Note; 65).

SYMPOSIUM ON CLIMATE AND HUMAN HEALTH — Climate and human health : proceedings of the Symposium in Leningrad, September 1986. Geneva:. World Meteorological Organization, United Nations Environment Programme. World Health Organization, 1987.

(22)

Summary

INFLUENCE OF WEATHER CONDITIONS AND CLI-MATE ON HUMAN DISEASES

After some general considerings on human characteristics re-lated with man’s adaptability to the environment surrounding him and its variability, as it is the case of weather conditions, reference is made to some aspects of man’s adaptation in terms of physiology and behaviour, which will be decisive for his well-being in next century, considering the probable climate change and associated changes in the environment, essentially due to the impact of antropogenic activities, stress being laid on the importance of epidemiological investigation and its re-lations with weather and climate conditions.

A historical summary of human biometeorology is presented, with references to glaciation impacts, activities in China, India and Greece, in the Antiquity, to the influence of the period of «optimal climate» and, already in the Middle Age (10th to 13th century), during the «short period of optimal climate», the colonisation of Greenland and Iceland by the Vikings, an ac-tion that ended in the 15th century due to the consequences of the «short ice age». Still in the 19th century, reference is made to the contribution of Júlio Dinis towards the integrated studies of meteorology in medicine, as well as to various authors in France in the beginning of the second quarter of the 20th cen-tury. Within this scope, some events, already in the second half of the 20th century, which were decisive for the development of human biometeorology, are also presented. Among them, stress is laid upon the contribution of Dr. Bento Rodrigues in Portugal.

Reference is made to some effects of the influence of weather conditions and climate on some human diseases (tuberculosis, bronchial asthma, bronchitis, skin cancer, acute glaucoma, acute conjunctivitis, rheumatic diseases, heart diseases, coro-nary thrombosis, myocardium infarct and angina pectoris, common cold, influenza, poliomyelitis, schizophrenia, epi-lepsy, apoplexy, renal and hepatic colic, dental caries, diabetes, goitre, dermatitis, gastric ulcers, peptic and duodenal ulcers). A comparison is then made between mortality rates respecting some diseases and different variations in weather and climate conditions in different countries, including Portugal.

(23)

Anexo 1

Resumo histórico da biometeorologia humana. Meteoropatologia

2650 a. C. China (imperador Huang Ti)

Séculos VI e V a. C. Índia (Sushruta)

Século IV a. C. Grécia (Hipócrates em «Dos Ares, Águas e Lugares»)

Séculos X a XIII Colonização da Gronelândia e da Islândia (Vikings)

Séculos XVII e XVIII Condições climáticas desfavoráveis: decréscimo de população (redução de

nasci-mentos e aumento da mortalidade)

1861 Universidade do Porto. Júlio Dinis (Joaquim Guilherme Gomes Coelho), no

dou-toramento em Medicina, defendeu a tese «Da importância dos estudos meteo-rológicos para a medicina e, especialmente, das suas aplicações ao ramo cirúr-gico»

1926 França. Vários autores

1928 França. Vários autores

1932 França. Vários autores

1956 1.a Conferência Internacional de Biometeorologia (UNESCO). Criação da

Socie-dade Internacional de Biometeorologia (SIB)

1975 OMM + OMS + SIB, Genebra, criam G. T. sobre biometeorologia humana, no

âmbito da Comissão de Aplicações da Meteorologia e Climatologia da OMM.

1981 IX Congresso Internacional de Biometeorologia (Universidades de Osnabrueck e

de Estugarda — Hohenheim)

1982 Comunicação do Dr. Bento Rodrigues («Seasonal variations in development of

acute myocardyal infarction: comparative study between Lisboa and Bombay») no Congresso Mundial sobre Doenças Coronárias (Bombaim).

1986 Simposium da OMM/OMS/PNOA sobre «Clima e saúde humana» Leninegrado)

Referências

Documentos relacionados

São muitas as doenças que podem causar estes sinais, mas as mais importantes, nas primeiras 2 semanas de vida, são: a sepsis (infecção no sangue); e o tétano.. O bebé que deixa

DALTO, Carlos Eduardo. Disponível em: https://www.noticiasagricolas.com.br/artigos/artigos-geral/188928-quando-a-carne-e- fraca-por-carlos-eduardo-dalto.html#.WRnux-srKM8>. A 

Levantamento de Demandas e Propostas nacionais para um Programa de Cooperação na área da Gestão Sustentável das Terras que tem como foco o fortalecimento de capacidades nacionais

Raquel Lopes Silva Judô Comunitário Instituto Reação

Portanto, para cumprir o propósito de medir o efeito de ter frequentado a creche ou pré-escola (educação infantil) sobre as habilidades cognitivas no ensino básico (nota

Além dos riscos expressamente excluídos na cláusula 5 das Condições Gerais, estão também excluídos desta cobertura , os eventos ocorridos em consequência, direta ou

Departamento de Economia, Gestão e Ciências Sociais – Universidade Católica Portuguesa, Polo de Viseu, em parceria com o Instituto Superior de Ciências Sociais

1 O REITOR DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FLUMINENSE - IFFLUMINENSE, no uso das atribuições legais conferidas, torna pública a RETIFICAÇÃO do