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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL

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Mod.015_02 DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL

Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde, nos termos do n.º 1 do artigo 4.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social;

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/054/2018;

I. DO PROCESSO

I.1. Origem do processo

1. A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou conhecimento em 5 de fevereiro de 2018, de uma reclamação subscrita por J.V., referente à atuação do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, E.P.E. (CHVNGE), entidade prestadora de cuidados de saúde inscrita no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 19965.

2. Na referida reclamação, à qual foi atribuída o número REC/12823/2018, o exponente alega, em suma, a queda do utente J.V. de um cadeirão da enfermaria, onde se encontrava internado.

(2)

3. Para uma averiguação preliminar dos factos enunciados, e ao abrigo das atribuições e competências da ERS, no dia 16 de março de 2018, procedeu-se à abertura do processo de avaliação registado sob o número n.º AV/057/2018.

4. No entanto, face à necessidade de uma averiguação mais aprofundada dos factos relatados, ao abrigo das atribuições e competências da ERS, o respetivo Conselho de Administração deliberou, por despacho de 29 de março de 2018, proceder à abertura do presente processo de inquérito, registado internamente sob o n.º ERS/054/2018, no sentido de apurar se os procedimentos internos do CHVNGE para prevenção de quedas são suficientes para a proteção dos direitos e interesses legítimos dos utentes, designadamente a prestação de cuidados de saúde de qualidade e com segurança.

5. Subsequentemente, em 23 de maio de 2018, foi apensada ao presente processo de inquérito a reclamação subscrita por C.G., em 11 de dezembro de 2017, no livro de reclamações do CHVNGE, por versar sobre a mesma temática em apreço.

6. A exposição de C.G. foi inicialmente tratada no âmbito do processo de reclamação n.º REC/42705/2018.

I.2. Diligências

7. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se as seguintes diligências instrutórias:

(i) Pesquisa no SRER da ERS relativa à inscrição do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho, E.P.E., constatando-se que o mesmo é um estabelecimento prestador de cuidados de saúde inscrito no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS;

(ii) Notificação de abertura de processo de inquérito enviada ao exponente J.V em 4 de abril 2018;

(iii) Notificação de abertura de processo de inquérito e pedido de elementos enviado ao prestador CHVNGE em 4 de abril de 2018, e análise da resposta datada de 30 de abril de 2018;

(iv) Notificação da apensação da reclamação n.º REC/91955/2018 aos presentes autos e pedido de elementos dirigido ao prestador CHVNGE, por ofício datado de 11 de janeiro de 2019, bem como análise da resposta rececionada pela ERS em 31 de janeiro de 2019.

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II. DOS FACTOS

II.1. Da reclamação do exponente J.V. – REC/12823/2018

8. Em 5 de fevereiro de 2018, a ERS tomou conhecimento de uma reclamação apresentada por J.V, na qualidade de filho de J.V., relativamente à queda deste último de um cadeirão da enfermaria, onde se encontrava internado.

9. Concretamente, cumpre destacar os seguintes factos alegados pelo exponente na sua reclamação, datada de 8 de dezembro de 2017:

“[…] está internado em […] acontece que fui visitá-lo no dia 7/12/2017 às 14:30 horas e não se encontrava na enfermaria mas entretanto chegou com um grande hematoma acima do sobrolho derivado a uma queda do cadeirão da enfermaria.

É uma pessoa com 90 anos e está acamado, amarraram-no à cama de mãos e pés não sei porquê e então põem-no no cadeirão e não o amarram com uma cinta, […] ele já tinha feito um TAC e que aguardavam o resultado.

[…]”.

10. Em resposta à referida reclamação, o CHVNGE remeteu ao reclamante, por ofício datado de 11 de janeiro de 2018, os seguintes esclarecimentos:

“[...]

Conforme exposição apresentada e por considerarmos a opinião do utente um elemento importante para melhorar o funcionamento dos nossos serviços, foram desencadeados todos os mecanismos necessários para a avaliação da situação,

Cumpre-nos informar, […] o seguinte:

“Começo por lamentar o sucedido com o pai de V. Exa. felizmente a queda não teve consequências de maior. As nossas condições estão longe do desejável, no que se refere a instalações, equipamentos e em relação a dotação de recursos humanos auxiliares da ação médica e de enfermagem que permitam maior e melhor vigilância, minimizando estas ocorrências e as consequências que dai possam advir. Tentamos fazer o nosso melhor, mas infelizmente este acidente, do qual assumimos a nossa quota parte de responsabilidade, ocorreu e apresentamos por isso as nossas desculpas.

[…]”.

11. Por ofício de 4 de abril de 2018, o CHVNGE foi notificado da abertura do processo de inquérito e para esclarecimento cabal dos factos alegados foi remetido o seguinte pedido de elementos: “[…]

(4)

(i) Descrição pormenorizada das circunstâncias em que se verificou a queda do utente e dos cuidados de saúde prestados nessa sequência;

(ii) Descrição, pormenorizada e documentalmente suportada dos procedimentos internos de avaliação do risco de queda dos utentes e de prevenção da ocorrência destes incidentes;

(iii) Descrição, pormenorizada e documentalmente suportada, dos procedimentos em vigor para o registo e comunicação de eventos adversos, aos serviços com responsabilidades nas áreas de gestão de risco e/ou qualidade e segurança, seja a nível interno, seja ao nível externo;

(i) Procedam ao envio de quaisquer outros esclarecimentos complementares que julguem necessários e relevantes para a análise do caso concreto.

[…].”

12. Nessa sequência, por ofício de 30 de abril de 2018, veio o prestador CHVNGE prestar os seguintes esclarecimentos:

“[…]

Ponto (i) - Descrição, pormenorizada das circunstâncias em que se verificou a queda do utente e dos cuidados de saúde prestados nessa sequência:

O doente (…), de 91 anos, foi internado […] e, de acordo com os registos clínicos, encontrava-se vígil, com discurso parco, pouco asencontrava-sertivo, cumprindo ordens erraticamente o que motivou a avaliação e intervenção no sentido de ser prevenido o risco de queda.

No entanto, no dia 07 de dezembro de 2017, perante a evolução favorável do estado clinico do doente e porque se mostrava mais colaborante, manifestando vontade de permanecer no cadeirão sem limitação física e admitindo-se que ficaria mais confortável sem a faixa de imobilização, o doente foi colocado no cadeirão. E, porque, por vezes, quando contrariada a vontade destes doentes, estes se tomam mais agitados ao aplicar medidas de contenção, o enfermeiro acabou por deixar o Sr. (…) no cadeirão sem a faixa de imobilização.

Porém, o doente sem avisar e sem que estivesse alguém nas proximidades, levantou-se, desequilibrando-se, acabando por cair […].

Pelo que, imediatamente, o doente foi assistido pela equipa de enfermagem e médica que solicitou a realização, urgente, de um TC Crânio cefálico que não revelou lesões […].

Ponto (ii) - Descrição, pormenorizada e documentalmente suportada dos procedimentos internos de avaliação do risco de queda dos utentes e prevenção da ocorrência destes incidentes:

(5)

Relativamente aos procedimentos internos de avaliação de risco de queda, encontra-se aprovado e em vigor neste Centro Hospitalar, um Procedimento Prevenção de Quedas, disponível para consulta de todos os profissionais na intranet, bem como através do Boletim Informativo Interno n.º 65, de 27.12.2016 e cuja cópia se anexa. (Doc. n.º 1)

Ponto (iii) - Descrição, pormenorizada e documentalmente suportada, dos procedimentos em vigor para o registo e comunicação de eventos adversos, aos serviços com responsabilidades nas áreas de gestão de risco e/ou qualidade e segurança, seja a nível interno, seja a nível externo;

Quanto ao procedimento de Notificação de Incidentes e Eventos Adversos também se encontra aprovado e em vigor, procedimento que procura estabelecer circuito de notificações de eventos no âmbito clinico e não clinico, estabelecer uma política de gestão de notificações e envolver os profissionais na notificação e gestão dos eventos do seu local de trabalho, disponível para consulta de todos os profissionais na intranet, bem como através do Boletim Informativo Interno n.º 35, de 13.07.2015 e cuja cópia se anexa. (Doc. n.º 2)

Deste modo pretendemos ver esclarecidas as questões suscitadas, ficando este CHVNGE disponível para qualquer outro esclarecimento adicional pretendido.

[…]”.

13. Em anexo à sua resposta, o CHVNGE enviou à ERS cópia dos seguintes documentos:

a) Procedimento Prevenção de Quedas, procedimento SGQRH.PR.14.10, de 22 de dezembro de 2016;

b) Procedimento de Notificação de Incidentes e Eventos Adversos, procedimento SGQRH.PR.09.10, de 9 de junho de 2015.

II.2. Da reclamação da exponente C.G. – REC/42705/2018

14. Em 23 de maio de 2018, a ERS tomou conhecimento de uma reclamação apresentada por C.G, relativamente à queda do utente C.A. de uma cadeira de rodas no serviço de urgência, e do abandono do serviço de urgência do utente N.N. após um período de espera de quatro horas.

15. Concretamente, cumpre destacar os seguintes factos alegados por C.G. na sua reclamação: “[…]

Deu entrada neste hospital às 19h09 do dia 11.12.2017, acompanhada por dois doentes com sintomas e queixas de gastroenterite ou intoxicações alimentar ou similar.

O doente (C.A.) foi colocado numa cadeira de rodas e colocado na ala laranja/amarela. Cerca de meia hora depois caiu da mesma. […]

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Indaguei a causa da queda, responderam-me que não era culpa deles. […]

Ao mesmo tempo o doente (N.N.) foi colocado no corredor numa maca, onde vomitou fortemente e teve que se dirigir à casa de banho por 3 vezes. Neste momento são 23.01h e não foi atendido. […] A pulseira amarela tem um tempo de espera médio de 60 minutos. Esperar 4 horas e após perguntar nas informações ter como resposta de que não houve nada a fazer senão esperar parece-me grave.

[…] O doente (N.N.) abandonou o serviço de urgência apesar de continuar com as mesmas queixas que o trouxeram aqui.

[…]”.

16. Em resposta à referida reclamação, o prestador remeteu à reclamante, por ofício datado de 27 de março 2018, os seguintes esclarecimentos:

“[...]

Conforme exposição apresentada e por considerarmos a opinião do utente um elemento importante para melhorar o funcionamento dos nossos serviços, foram desencadeados todos os mecanismos necessários para a avaliação da situação,

Apesar da constatação que as instalações de que dispomos são insuficientes, principalmente nos períodos de maior afluência, oferecemos o melhor de que dispomos que é o espaço e os meios existentes no Serviço de Urgência para acomodar os doentes.

O Sr. (C.A.) entrou às 19h09 do dia 11 Dezembro e foi observado às 19h55, em relação à queda foi possivelmente por estar desidratado pois os seus sinais vitais estavam dentro dos parâmetros normais.

[…]”.

17. Em anexo à sua resposta, o CHVNG remeteu a informação interna, exposição n.º 1612/2017, da Diretora do Serviço de Urgência, de 12 de março de 2018, que presta os esclarecimentos supra transcritos.

18. Assim, para esclarecimento cabal dos factos alegados foi remetido ao prestador, em 11 de janeiro de 2019 o seguinte pedido de elementos:

“[…]

1. Se pronunciem detalhadamente sobre as situações descritas na referida reclamação e forneçam esclarecimentos adicionais que entendam relevantes, acompanhado de toda a documentação de suporte;

2. Descrição pormenorizada das circunstâncias em que se verificou a queda do utente [CA] e dos cuidados de saúde prestados nessa sequência, mais se solicitando que esclareçam o tempo que mediou entre a queda do utente e o momento em que interveio a equipa de

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enfermagem e/ou médico responsável, com envio de relatório que inclua os registos clínicos e/ou os registos de enfermagem;

3. Descrição, pormenorizada e documentalmente suportada dos procedimentos internos de avaliação do risco de queda dos utentes e de prevenção da ocorrência de incidentes em vigor no serviço de urgência;

4. Confirmação, pormenorizada e documentalmente suportada, da existência de avaliação de risco, registada no processo clínico do utente [CA], caso a mesma tenha ocorrido;

5. Descrição, pormenorizada e documentalmente suportada, dos procedimentos em vigor para o registo e comunicação de eventos adversos, aos serviços com responsabilidades nas áreas de gestão de risco e/ou qualidade e segurança, seja a nível interno, seja ao nível externo;

6. Cópia do relatório, pormenorizado e documentalmente suportado, da comunicação de incidente ou evento adverso (a entidade externa e/ou interna);

7. Descrição, pormenorizada e documentalmente suportada dos procedimentos em vigor no serviço de urgência referentes à avaliação do estado clínico dos utentes que aí se deslocam e dos tempos médios de espera;

8. Indicação das medidas corretivas adotadas em ordem a evitar situações semelhantes às reportadas na reclamação supra citada, acompanhado do respetivo suporte documental; 9. Procedam ao envio de quaisquer esclarecimentos complementares julgados necessários e

relevantes à análise do caso concreto. […].”

19. Nessa sequência, por ofício de 28 de janeiro de 2019, veio o CHVNGE prestar os seguintes esclarecimentos:

“[…]

Ponto 1 - Pronúncia detalhada sobre a situação descrita na reclamação e esclarecimentos adicionais:

- Os doentes (…) e (…), deram entrada no Serviço de Urgência no dia 11 de dezembro de 2017, pelas 19:09 horas, por diarreia e/ou vómitos.

- Tendo o doente (C.A.) efetuado triagem às 19:16 horas e o (N.N.) às 19:25 horas, sendo atribuída a ambos a prioridade Amarelo - Urgente.

- Posteriormente, o doente (C.A.) foi encaminhado para a área amarela/Iaranja, em cadeira de rodas e iniciada observação às 19:55 horas (tempo preconizado pelo Grupo Triagem

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Manchester - GTM), apresentando-se prostrado e com desconforto à palpação. Durante a observação e tentativa de hidratação oral, o doente sofreu novo vómito alimentar.

- Considerando a situação clínica do doente, este foi mantido em vigilância e hidratação, efetuado estudo analítico sem alterações relevantes e após estabilização clínica e capacidade de tolerar alimentação oral, acabou por ter alta médica, com indicação para regressar em caso de agravamento.

- Sendo que, durante o tempo em que o doente (C.A.) esteve no Serviço de Urgência, não houve qualquer relato ou registos de queda, nem pedido de exames complementares de radiologia.

- Relativamente, ao doente (N.N.) não foi efetuada qualquer observação médica, atendendo que não respondeu à chamada nem se encontrava no corredor da urgência.

Quanto aos pontos 2. 3. 4. 5. e 6. atendendo que não houve qualquer relato ou registo de queda não foram desencadeados procedimentos para o registo e comunicação de eventos adversos.

No entanto, a Direção do Serviço de Urgência consciente da importância da implementação de procedimentos para incidentes relacionados com quedas, irá iniciar diligências no sentido de ser elaborado um procedimento adequado e em especifico para o Serviço de Urgência, relativo ao risco de quedas e suas notificações, de acordo com o preconizado na Norma n.° 015/2014 da Direção Geral da Saúde, atendendo neste Centro Hospitalar o procedimento em vigor é apenas aplicável ao internamento (Doc. n.º 1).

Ponto 7 - Descrição, pormenorizada e documentalmente suportada dos procedimentos em vigor no Serviço de Urgência referentes à avaliação do estado clinico dos utentes que aí se deslocam e dos tempos médios de espera:

No que diz respeito aos procedimentos em vigor referentes à avaliação do estado clinico dos utentes que procuram o Serviço de Urgência, são os preconizados pelo GTM, estando instituída a triagem de Manchester com atribuição de prioridade clinica de atendimento.

Os utentes que são alvo de tempo de espera superior ao preconizado e/ou sofrem alteração do seu estado clinico são submetidos a retriagem, conforme o instituído no procedimento anexo (Doc. n.º 2).

Deste modo pretendemos ver esclarecidas as questões suscitadas, ficando este CHVNGE disponível para qualquer outro esclarecimento adicional pretendido.

[…]”.

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c) Procedimento Prevenção de Quedas, procedimento SGQRH.PR.14.10, de 22 de dezembro de 20161;

d) Procedimento de Retriagem de Doentes, procedimento SU/Triagem IT.06, de 2 de outubro de 2017.

III. DO DIREITO

III.1. Das atribuições e competências da ERS

21. De acordo com o n.º 1 do artigo 5.º dos Estatutos da ERS, esta tem por missão “[…] a regulação da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde.”

22. Ainda, de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 5.º dos seus Estatutos, as atribuições da ERS compreendem “[…] a supervisão da atividade e funcionamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde no que respeita:

[…]

b) À garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde, à prestação de cuidados de saúde de qualidade, bem como dos demais direitos dos utentes;

c) À legalidade e transparência das relações económicas entre os diversos operadores, entidades financiadoras e utentes.”.

23. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º dos seus Estatutos “ [...] todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, do setor público, privado, cooperativo e social, independentemente da sua natureza jurídica, nomeadamente hospitais, clínicas, centros de saúde, consultórios, laboratórios de análises clinicas, equipamentos ou unidades de telemedicina, unidades móveis de saúde e termas.”;

24. Consequentemente, o CHVNGE é uma entidade pública empresarial, responsável por estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde hospitalares, pelo que está legalmente submetido aos poderes de regulação e supervisão da ERS, onde, aliás, está inscrito, sob o n.º 19965.

25. Acresce que, constituem objetivos da ERS, nos termos do disposto nas alíneas b), c) e d) do artigo 10.º do mencionado diploma, assegurar o cumprimento dos critérios de acesso aos cuidados de saúde, garantir os direitos e interesses legítimos dos utentes e zelar pela prestação de cuidados de saúde de qualidade.

1

Já junto aos presentes autos em sede de resposta à notificação de abertura e pedido de elementos em 30 de abril de 2018.

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26. Pelo que, no que concerne à garantia dos critérios de acesso aos cuidados de saúde a alínea a) do artigo 12.º do mesmo diploma legislativo estabelece ser incumbência da ERS “ assegurar o direito de acesso universal e equitativo à prestação de cuidados de saúde nos serviços e estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), nos estabelecimentos publicamente financiados, bem como nos estabelecimentos contratados para a prestação de cuidados no âmbito de sistemas ou subsistemas públicos de saúde ou equiparados, acrescentando a alínea b) do mesmo artigo o dever de “prevenir e punir as práticas de rejeição e discriminação infundadas de utentes nos serviços e estabelecimentos do SNS, nos estabelecimentos publicamente financiados, bem como nos estabelecimentos contratados para a prestação de cuidados no âmbito de sistemas ou subsistemas públicos de saúde ou equiparados”;

27. Por outro lado, no domínio da garantia da prestação de cuidados de saúde de qualidade, incumbe à ERS, entre outras, a garantia do direito dos utentes à prestação de cuidados de saúde qualidade, conforme estatuído na alínea c) do artigo 14.º dos Estatutos da ERS.

28. Podendo a ERS assegurar tais incumbências mediante o exercício dos seus poderes de supervisão, no caso mediante a emissão de ordens e instruções, bem como recomendações ou advertências individuais, sempre que tal seja necessário, sobre quaisquer matérias relacionadas com os objetivos da sua atividade reguladora, incluindo a imposição de medidas de conduta e a adoção das providências necessárias à reparação dos direitos e interesses legítimos dos utentes – cfr. alínea a e b) do artigo 19.º dos Estatutos da ERS.

III.2. Do direito à prestação de cuidados de saúde de qualidade e com segurança

29. A necessidade de garantir requisitos mínimos de qualidade e segurança ao nível da prestação de cuidados de saúde, dos recursos humanos, do equipamento disponível e das instalações, está presente no sector da prestação de cuidados de saúde de uma forma mais acentuada do que em qualquer outra área.

30. As relevantes especificidades deste setor agudizam a necessidade de garantir que os serviços sejam prestados em condições que não lesem os interesses nem os direitos dos utentes. 31. Sobretudo, importa ter em consideração que a assimetria de informação que se verifica entre

prestadores e utentes reduz a capacidade destes últimos de perceberem e avaliarem o seu estado de saúde, bem como, a qualidade e adequação dos serviços que lhe são prestados. 32. Além disso, a importância do bem em causa (a saúde do doente) imprime uma gravidade

excecional à prestação de cuidados em situação de falta de condições adequadas.

33. Por outro lado, os níveis de segurança desejáveis na prestação de cuidados de saúde devem ser considerados, seja do ponto de vista do risco clínico, seja do risco não clínico.

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34. Assim, o utente dos serviços de saúde tem direito a que os cuidados de saúde sejam prestados com observância e em estrito cumprimento dos parâmetros mínimos de qualidade legalmente previstos, quer no plano das instalações, quer no que diz respeito aos recursos técnicos e humanos utilizados.

35. Os utentes gozam do direito de exigir dos prestadores de cuidados de saúde o cumprimento dos requisitos de higiene, segurança e salvaguarda da saúde pública, bem como a observância das regras de qualidade e segurança definidas pelos códigos científicos e técnicos aplicáveis e pelas regras de boa prática médica, ou seja, pelas leges artis.

36. Os utentes dos serviços de saúde que recorrem à prestação de cuidados de saúde encontram-se, não raras vezes, numa situação de vulnerabilidade que torna ainda mais premente a necessidade dos cuidados de saúde serem prestados pelos meios adequados, com prontidão, humanidade, correção técnica e respeito.

37. A este respeito encontra-se reconhecido na Lei n.º 48/90, de 24 de agosto, que aprovou a Lei de Bases da Saúde (LBS), e, hoje, no artigo 4º da Lei n.º 15/2014, de 21 de março, o direito dos utentes a serem “tratados pelos meios adequados, humanamente e com prontidão, correção técnica, privacidade e respeito” – cfr. alínea c) da Base XIV da LBS.

38. Quando o legislador refere que os utentes têm o direito de ser tratados pelos meios adequados e com correção técnica está certamente a referir-se à utilização, pelos prestadores de cuidados de saúde, dos tratamentos e tecnologias tecnicamente mais corretas e que melhor se adequam à necessidade concreta de cada utente.

39. Por outro lado, quando na alínea c) da Base XIV da LBS se afirma que os utentes devem ser tratados humanamente e com respeito, tal imposição decorre diretamente do dever dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde de atenderem e tratarem os seus utentes em respeito pela dignidade humana, como direito e princípio estruturante da República Portuguesa.

40. De facto, os profissionais de saúde que se encontram ao serviço dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde devem ter “redobrado cuidado de respeitar as pessoas particularmente frágeis pela doença ou pela deficiência”.

41. E a qualidade dos serviços de saúde não se esgota nas condições técnicas de execução da prestação, mas abrange também a comunicação e informação ao utente, dos resultados dessa mesma prestação.

42. Para além destas exigências, os prestadores de cuidados de saúde devem ainda assegurar e fazer cumprir um conjunto de procedimentos, que tenham por objetivo prevenir e controlar a ocorrência de incidentes e eventos adversos, que possam afetar os direitos e interesses legítimos dos utentes.

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43. Em especial, devem ser observadas as regras constantes da Orientação da Direção-Geral da Saúde (doravante DGS) n.º 011/2012, de 30 de julho de 2012, referente à Análise de Incidentes e de Eventos Adversos2, bem como a Norma da DGS n.º 015/2014, de 25 de setembro de 2014, que cria o Sistema Nacional de Notificação de Incidentes - NOTIFICA3.

44. Os sobreditos documentos, aplicáveis a todas as entidades prestadoras de cuidados de saúde do Sistema de Saúde Português, estabelecem procedimentos que constituem instrumentos eficazes para a deteção de eventos adversos e para estimular a reflexão e o estudo sobre os mesmos, por forma a determinar a alteração de comportamentos e a correção e retificação de erros, em prol da qualidade, eficácia, eficiência e segurança dos cuidados de saúde a prestar aos utentes.

45. Assim, a Orientação da DGS n.º 011/2012, referente à Análise de Incidentes e de Eventos Adversos, estabelece concretamente o seguinte:

“Sempre que se verificar a ocorrência de um incidente potencialmente grave ou de um evento adverso, os serviços prestadores de cuidados de saúde devem:

1) promover a aprendizagem sobre as respetivas causas e prevenir a sua recorrência;

2) identificar as causas raiz do evento e procurar atuar sobre essas causas, indo além da mera resolução das manifestações dos problemas;

3) seguir a metodologia de desenvolvimento da Análise das Causas Raiz, elaborada a partir das experiências internacionais nesta área, anexa à presente Orientação e que dela faz parte integrante.”

46. Já relativamente à Norma da DGS n.º 015/2014, que cria o Sistema Nacional de Notificação de Incidentes – NOTIFICA, a mesma estabelece que:

“1. Todas as Unidades do Sistema de Saúde devem possuir uma estrutura responsável pela gestão e análise interna de incidentes de segurança do doente.

2. A indicação do gestor local e do seu substituto, junto desta Direção-Geral, deve obrigatoriamente:

a. conter os seus nomes completos, endereços eletrónicos e contactos telefónicos profissionais;

b. serem dirigidos ao endereço notifica@dgs.pt.

3. O gestor local ou o seu substituto ficam, obrigados a garantir:

2

A Orientação da DGS n.º 011/2012, de 30 de julho de 2012, pode ser consultada em https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs.aspx.

3

A Norma da DGS n.º 015/2014, de 25 de setembro de 2014, procurou reconfigurar e melhorar a estrutura e organização de conteúdos do antigo Sistema Nacional de Notificação de Incidentes e Eventos Adversos (SNNIEA), e pode ser consultada em https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs.aspx.

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a. que o acesso à sua página pessoal no NOTIFICA é intransmissível; b. reporte periódico à administração da instituição;

c. o respeito e o cumprimento dos procedimentos previsto no “Manual do Gestor local”, disponível na página www.dgs.pt.

4. Os incidentes reportados no NOTIFICA devem ser alvo de análise interna, pelo gestor local, de forma a garantir:

a. a validação das notificações;

b. a identificação de medidas de correção, de implementação imediata, se aplicável; c. a identificação dos fatores contribuintes;

d. a determinação de um plano de ação com medidas preventivas ou corretivas se e conforme aplicável.

5. O gestor local deve dar retorno de informação ao notificador, acedendo à plataforma NOTIFICA e transcrevendo para a notificação em análise, as medidas preventivas e/ou corretivas definidas.

6. Sempre que se verificar a ocorrência de um incidente cujo grau de dano para o doente é “grave” ou “morte”, o gestor local deverá:

a. promover a aprendizagem sobre as respetivas causas e prevenir a sua recorrência;

b. identificar as causas raiz do evento e procurar atuar sobre essas causas, indo além da mera resolução das manifestações dos problemas;

c. seguir a metodologia de desenvolvimento da Análise das Causas Raiz, elaborada a partir das experiências internacionais nesta área, no cumprimento da Orientação n.º 011/2012 de 30 de julho de 2012. […]

10. A notificação de um incidente, ocorrido numa instituição prestadora de cuidados de saúde exige a implementação de medidas corretoras sistémicas por parte da administração da instituição, de forma a evitar que situações geradoras de dano, real ou potencial, se venham a repetir. […]”.

47. Ainda com relevância para a matéria em análise, e no quadro da proteção dos direitos e interesses dos utentes, de acordo com a alínea a) do artigo 14.º dos Estatutos da ERS, incumbe a esta Entidade Reguladora “promover um sistema de âmbito nacional de classificação dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde quanto à sua qualidade global, de acordo com critérios objetivos e verificáveis, incluindo os índices de satisfação dos utentes”.

(14)

48. É neste enquadramento que a ERS se encontra a desenvolver o projeto SINAS (Sistema Nacional de Avaliação em Saúde), que consiste numsistema de avaliação da qualidade global dos serviços de saúde, em Portugal continental4.

49. Embora atualmente estejam apenas implementados os módulos relativos a estabelecimentos de saúde com internamento (SINAS@Hospitais) e a estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde oral (SINAS@Saúde.Oral), existe a pretensão de estender o sobredito sistema a todos os estabelecimentos de saúde (públicos, privados, cooperativos e sociais) sujeitos à regulação e supervisão da ERS.

50. Atendendo às dificuldades em uniformizar o conceito de “qualidade”, em cada módulo do SINAS são avaliadas diversas dimensões dos serviços prestados, algumas das quais são transversais a todos os módulos, como é o caso, por exemplo, da dimensão relativa à “segurança do doente”.

51. E nesta dimensão da “segurança do doente” incluem-se categorias de avaliação que merecem destaque para a matéria em análise nos autos, designadamente a implementação de planos, procedimentos, políticas ou protocolos para avaliação do risco de quedas dos doentes, o registo no processo clínico destes dos resultados dessa eventual avaliação, o registo de ocorrência de quedas e a avaliação do registo de ocorrência de quedas numa ótica de melhoria contínua, entre outros.

III.3. Do Despacho n.º 1057/2015, de 2 de fevereiro de 2015, do Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde e do Protocolo de Triagem de Manchester

52. O Despacho do Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, de 2 de fevereiro de 2015, motivado pela tentativa de melhorar a qualidade dos serviços prestados nos serviços de urgência, especialmente nas situações em que se encontravam ultrapassados os tempos de espera para atendimento naqueles serviços, prevê que “uma das formas de garantir cuidados adequados e de maior qualidade passa pela uniformização de procedimentos entre os diversos profissionais e equipas multidisciplinares que devem atuar sequencialmente ou simultaneamente consoante as situações […] existem situações urgentes que impõem uma identificação precoce e o encaminhamento correto em tempo útil, cuja abordagem imediata e eficaz exige protocolos de atuação e a formação do pessoal que permitam, por meios objetivos e expeditos, o apoio à decisão clínica em ambiente de urgência e a definição do papel de cada um na solução expedita de cada caso.”.

53. Note-se que o Despacho n.º 10319/2014, de 11 de agosto, referido supra tinha já reconhecido como obrigatória “[…] a implementação de sistemas de triagem de prioridades no Serviço de Urgência (SU), determinando que em todos os SU, qualquer que seja o nível, deve existir um

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sistema de triagem que permita distinguir graus de prioridade, de modo a que, se houver tempo de espera, se exerçam critérios preestabelecidos de tempo até à primeira observação.”.

54. Assim, o presente Despacho n.º 1057/2015, de 2 de fevereiro de 2015, do Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde vem determinar o seguinte: “[...] reconhecida a importância para a boa gestão de cuidados de saúde em contexto de urgência hospitalar, comprovada internacionalmente, do Sistema de Triagem de Manchester (MTS), enquanto instrumento de apoio à decisão clínica na triagem de doentes dos serviços de urgência, e que adaptado à realidade portuguesa, já é usado com resultados positivos […]”;

55. Ao que acresce que, “[…] o MTS permite identificar uma prioridade clínica com posterior alocação do doente à área de atendimento devida, podendo também ser desenhados e aplicados, na sequência da triagem, protocolos de atuação subsequente, tal como requisição de exames complementares de diagnóstico, com vista à redução do tempo do episódio de urgência e dotar o médico que realiza a primeira observação de mais elementos que o ajudem a decidir sobre a próxima intervenção.”;

56. Mais acrescentando que, “[…] o MTS é uma ferramenta que tem evoluído verifica[ndo-se] a necessidade de implementar a versão mais recente do MTS , fruto da ciência e das boas práticas atualmente existentes, nomeadamente no que se refere à possibilidade de integração das vias verdes e de protocolos pediátricos nos serviços de urgência, entre outros […] a sua implementação já se verifica em todos os tipos de urgência, pediátrica, ginecológica e de adultos, pelo que a sua generalização é possível e desejável e, constitui a única forma de comparabilidade entre níveis de procura e atendimento entre diferentes instituições prestadoras de cuidados de urgência.”;

57. Conclui o Despacho n.º 1057/2015, de 2 de fevereiro de 2015, do Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde que “[…] a escala de Triagem de Manchester prevê uma prática fiável, uniforme e objetiva ao longo do tempo sendo passível de ser auditada quer interna ou externamente, conforme previsto no Protocolo celebrado entre o Ministérios da Saúde e o Grupo Português de Triagem (em 12 de novembro de 2010) e a Declaração de Princípios a ele anexa.”.

58. Em suma, o aludido Despacho n.º 1057/2015, de 2 de fevereiro de 2015, veio determinar o seguinte:

“[…] 1 – Em episódios de urgência com apresentação tipificada na sequência da aplicação dos fluxogramas previstos no sistema de triagem, pode ser considerada a solicitação, pelo enfermeiro da triagem, de meios complementares de diagnóstico, mediante algoritmo autorizado pela direção clínica da unidade de saúde e sustentado em NOC elaborada pela DGS, a exemplo do que acontece nas vias verdes já existentes.

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2 – Este complemento de triagem é introduzido de forma voluntária e experimental, com duração de um ano, nas unidades que forem identificadas pelas ARS como aquelas onde se possa esperar maior benefício na redução de tempos de espera.

3 – Os algoritmos referidos no número um são sujeitos a avaliação trimestral, nomeadamente nos resultados obtidos na redução dos tempos de espera e permanência no serviço de urgência, segurança clínica e satisfação dos utentes.

4 – Compete à Direção Geral da Saúde (DGS) fazer a avaliação dos relatórios, determinar as medidas corretivas que considere pertinentes zelar pela sua implementação.

5 – Todos os SU devem assegurar, até 30 de setembro de cada ano, que usam a versão mais recente do Sistema de Triagem de Manchester.

6 – Sem prejuízo do disposto no número anterior, no ano de 2015, todos os SU que à data do presente despacho não tenham ainda implementado o Sistema de Triagem de Manchester devem proceder à sua implementação até 31 de dezembro de 2015.

7 – Todos os SU com o Sistema de Triagem de Manchester devem implementar auditorias internas mensais, como garante da qualidade da triagem que é efetuada nos seus serviços, nos termos previstos no Protocolo celebrado entre o Ministério da Saúde e o Grupo Português de Triagem e a declaração de princípios a ele anexa.

8 – Todos os SU com Sistema de Triagem de Manchester devem, pelo menos anualmente, ser alvo de auditoria externa, sendo os resultados comunicados aos conselhos de administração das respetivas unidades de saúde, ao Ministério da Saúde, à DGS e às Administrações Regionais de Saúde.

9 – A SPMS – Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, E.P.E. (SPMS), deve colaborar com os SU para garantia dos números 5 e 6 do presente despacho, com vista à máxima integração de registos clínicos em ambiente hospitalar.

10 – O licenciamento necessário ao uso do Sistema de Triagem de Manchester é assegurado pelas entidades hospitalares, devendo a SPMS organizar um processo de agregação de necessidades e compra centralizada com vista à minimização do seu custo. […]”.

III.4. Do Protocolo de Triagem de Manchester

59. De acordo com a informação prestada pelo Grupo de Triagem Português (GTP), e retirada do sítio eletrónico:

“[…] o Protocolo de Triagem de Manchester foi implementado com o objetivo expresso de estabelecer um consenso entre médicos e enfermeiros do Serviço de Urgência com vista à criação de normas de triagem.[…]”.

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Em termos gerais, um método de triagem pode tentar fornecer ao profissional não um diagnóstico, mas uma prioridade clínica baseada apenas na identificação de problemas. Uma vez identificados os temas de triagem comuns foi possível rapidamente chegar a acordo quanto a um novo sistema de nomenclatura e de definição. A cada uma das novas categorias foi atribuído um número, uma cor e um nome, sendo cada uma delas definida em termos de tempo-alvo aceitável até ao primeiro contacto com o médico de serviço. Conseguiu-se um consenso em torno da seguinte escala de triagem:

NÚMERO NOME COR TEMPO-ALVO

1 Emergente Vermelho 0

2 Muito urgente Laranja 10

3 Urgente Amarelo 60

4 Pouco urgente Verde 120

5 Não urgente Azul 240

Deverá ser atribuída a cor branca a todos os doentes que apresentam situações não compatíveis com o Serviço de Urgência, de que são exemplos os doentes admitidos para transplante, para técnicas programadas, etc. Nestes casos, deve ser registada a cor branca e a razão da sua atribuição. […]”.

III.5. Análise da situação concreta

60. Atenta as situações em apreço nos autos, importa aferir se o CHVNG respeitou o direito dos utentes J.V., C.A. e N.N. à prestação de cuidados de saúde de qualidade e com segurança; 61. E, bem assim, averiguar se tal direito se encontra devidamente acautelado pelo prestador,

concretamente ao nível da avaliação e prevenção do risco de queda de utentes, cabendo, pois, apurar se o prestador cumpre os procedimentos/protocolos, em observância e em estrito cumprimento dos parâmetros mínimos de qualidade legalmente previstos.

III.5.1. Da reclamação do exponente J.V. – REC/12823/2018

62. Ora, das diligências encetadas no presente processo resulta que o utente J.V., de 91 anos, foi internado no Serviço de Medicina Interna do CHVNGE no dia 2 de dezembro de 2017, e “de acordo com os registos clínicos, encontrava-se vígil, com discurso parco, pouco assertivo, cumprindo ordens erraticamente o que motivou a avaliação e intervenção no sentido de ser prevenido o risco de queda”;

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63. No dia 7 de dezembro de 2017, perante a evolução favorável de estado clínico, o utente foi colocado no cadeirão da enfermaria sem a faixa de imobilização;

64. Porém, e de acordo com os esclarecimentos do prestador, “o doente sem avisar e sem que estivesse alguém nas proximidades, levantou-se, desequilibrando-se, acabando por cair […]”. 65. O prestador informou que, após a queda, “o doente foi assistido pela equipa de enfermagem e

médica que solicitou a realização, urgente, de um TC Crânio cefálico que não revelou lesões […]”;

66. O prestador tem instituídos procedimentos internos para prevenção de quedas em utentes, nas áreas de internamento de adultos, que, de entre outras medidas, prevêem para pessoas com alto risco de queda as seguintes intervenções de enfermagem “[…] avaliar risco de queda; prevenir as quedas (providenciar um ambiente seguro, com espaço livre e desimpedido nas áreas de circulação; garantir a supervisão do doente aquando do levante, transferência, deambulação e permanência na casa de banho; manter as camas, macas, mesa-de-cabeceira, cadeiras de rodas e cadeirões travados; manter a cama ajustada em altura, na posição mais adequada, de forma a que o doente possa firmar os pés no chão e facilitar o equilíbrio; usar cadeiras/cadeirões com apoios de braço, manter sistema de chamada junto do doente e orientar para o seu uso, se necessário; orientar para o uso de calçado fechado e antiderrapante; colocar todos os itens necessários (exemplo: interruptor de luz, telemóvel, água, prótese dentária, prótese auditiva ou visual, auxiliares de marcha...) ao alcance do doente; garantir a luz de presença acesa durante a noite, se adequado; garantir a colocação de grades laterais de proteção, sempre que aplicável e explicar a sua necessidade ao doente/acompanhante, providenciar a sinalização de piso escorregadio); elevar grades da cama; manter grades da cama; vigiar comportamento; restringir atividade física. […].”;

67. Face à factualidade apurada constata-se, desde logo, que o CHVNG tem instituídos procedimentos internos para prevenção de quedas em utentes que, em abstrato, se revelam aptos a garantir a qualidade e a segurança ao nível da prestação de cuidados de saúde.

68. No entanto, e apenas considerando a evolução favorável do estado clínico, o prestador deixou o utente no cadeirão sem faixa de imobilização e sem monitorização;

69. Justificando a sua atuação com a indicação de que “quando contrariada a vontade destes doentes, estes se tornam mais agitados ao aplicar medidas de contenção”.

70. Não restando senão concluir que o CHVNGE não acautelou o devido acompanhamento do utente J.V., durante todo o período de internamento, garantido uma permanente e efetiva monitorização do mesmo, apta a garantir o cumprimento do dever de prestação de cuidados de saúde de qualidade e com segurança, imposto ao prestador;

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71. Facto assumido em sede de resposta ao exponente, na qual o prestador alega que as suas “[…] instalações, equipamentos [e] recursos humanos auxiliares de ação médica e enfermagem que permitam maior e melhor vigilância” estão longe do desejável.

72. Refira-se, ainda, que, em resposta ao pedido de informação da ERS, o prestador informou da existência do Procedimento de Prevenção de Quedas, destinado à avaliação do risco de queda e prevenção da ocorrência destes incidentes, já supra mencionado, e do Procedimento de Notificação de Incidentes e Eventos Adversos, que estabelece um circuito de notificação de eventos no âmbito clínico e não clínico, estabelece a política de gestão de notificações e envolve os profissionais na notificação e gestão dos eventos do seu local de trabalho, ambos já aplicáveis à data dos factos.

73. Não obstante, importa assegurar a eficácia de tais medidas para a garantia do direito dos utentes à prestação de cuidados de saúde integrados, de qualidade e com segurança, prevenindo-se a ocorrência de situações idênticas à denunciada.

74. Pois nenhuma vantagem se retira da existência de procedimentos, nas mais diversas áreas de intervenção, se não se garantir, paralelamente, que os mesmos são efetivamente aplicados.

III.5.2. Da reclamação da exponente C.G. – REC/42705/2018

75. Relativamente ao utente C.A., das diligências encetadas no presente processo resulta que o mesmo deu entrada no Serviço de Urgência no dia 11 de dezembro de 2017, pelas 19h09, tendo efetuado triagem às 19h16, sendo-lhe atribuída prioridade Amarelo-Urgente.

76. Posteriormente à triagem, o utente foi encaminhado para a área amarela/laranja, em cadeira de rodas e iniciada observação às 19h55, apresentou-se “prostrado e com desconforto à palpação. Durante a observação e tentativa de hidratação oral, o doente sofreu novo vómito alimentar.” 77. Ora, de acordo com a exponente, “cerca de meia hora depois” de ser encaminhado para a área

amarela/laranja caiu da cadeira de rodas.

78. Porém, de acordo com o prestador “não houve qualquer relato ou registos de queda, nem pedido de exames complementares de radiologia”, sendo que “considerando a situação clínica do doente, este foi mantido em vigilância e hidratação, efetuado estudo analítico sem alterações relevantes e após estabilização clínica e capacidade de tolerar alimentação oral, acabou por ter alta médica, com indicação para regressar em caso de agravamento”.

79. Deste modo, constata-se que in casu, face ao relato contraditório, não se pode afirmar a queda como factualidade provada, e, na sequência, concluir que os procedimentos assistenciais empregues pelo CHVNGE não foram garantísticos da proteção dos direitos e interesses legítimos do utente C.A., mormente do direito à prestação de cuidados de saúde de qualidade e com segurança.

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80. Sem prejuízo do exposto, no seguimento da intervenção da ERS, o prestador informou que “a Direção do Serviço de Urgência consciente da importância da implementação de procedimentos para incidentes relacionados com quedas, irá iniciar diligências no sentido de ser elaborado um procedimento adequado e em especifico para o Serviço de Urgência, relativo ao risco de quedas e suas notificações, de acordo com o preconizado na Norma n.º 015/2014 da Direção Geral da Saúde, atendendo neste Centro Hospitalar o procedimento em vigor é apenas aplicável ao internamento.”

81. Com efeito, e recorde-se, o direito à qualidade dos cuidados de saúde, que implica o cumprimento de requisitos legais e regulamentares de exercício, de manuais de boas práticas, de normas de qualidade e de segurança é, incontestavelmente, uma garantia de um acesso aos cuidados qualitativamente necessários, adequados e em tempo útil;

82. Sendo que a existência de procedimentos e o cumprimento dos mesmos promove uma melhor coordenação e articulação entre os serviços, bem como acautela qualquer impacto negativo na condição de saúde dos utentes.

83. Considera-se, assim, de extrema importância garantir a efetiva concretização da intenção manifestada pelo CHVNGE de adotar as diligências necessárias à implementação de procedimento interno para avaliação de risco de quedas e prevenção das mesmas para o serviço de urgências.

84. Por outro lado, da análise dos factos recolhidos no decurso das diligências encetadas pela ERS, resulta que o utente N.N. deu entrada no serviço de urgência no dia 11 de dezembro de 2017, pelas 19h09, por diarreia e/ou vómitos.

85. Foi efetuada triagem às19h25, sendo-lhe atribuída prioridade amarelo – urgente.

86. Ora, da reclamação da exponente, resulta que o utente “foi colocado no corredor numa maca, onde vomitou fortemente e teve que se dirigir à casa de banho por 3 vezes. Neste momento são 23.01h e não foi atendido. […] Esperar 4 horas e após perguntar nas informações ter como resposta de que não houve nada a fazer senão esperar parece-me grave. Os médicos e enfermeiros não se dignam sequer a dar informações como deve ser. O doente (N.N.) abandonou o serviço de urgência apesar de continuar com as mesmas queixas que o trouxeram aqui”.

87. Resulta do alegado, que o utente N.N., embora triado com pulseira amarela, a que corresponde um tempo médio de espera de 60 minutos, aguardou quatro horas, findas as quais optou por abandonar o serviço de urgência.

88. Factualidade não contestada pelo prestador, que esclareceu nos autos que “não foi efetuada qualquer observação médica, atendendo que não respondeu à chamada nem se encontrava no corredor de urgência”, abstendo-se de indicar a hora em que a mencionada chamada foi efetuada.

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89. Sendo de concluir que a conduta do CHVNGE não se revelou consentânea com a garantia dos direitos e interesses legítimos do utente N.N., em especial o direito à prestação integrada e continuada de cuidados de saúde, adequados à sua situação clínica e prestados em tempo útil. 90. Sem prejuízo do exposto, no seguimento da intervenção da ERS, o prestador informou que “os

utentes que são alvo de tempo de espera superior ao preconizado e/ou sofrem alteração do seu estado clínico são submetidos a retriagem”;

91. Nos termos do procedimento de retriagem junto aos autos, propõe-se a realização da mesma nas seguintes situações:

“[…]

 quando o tempo de espera exceda o limite previsto, e haja alteração na condição clínica do paciente que o justifique;

 De acordo com as características do doente, por iniciativa do profissional de saúde;  Sempre que a família/acompanhante o solicite”.

92. Não obstante, importa assegurar a eficácia de tais medidas para a garantia do direito dos utentes à prestação de cuidados de saúde integrados, de qualidade e com segurança, prevenindo-se a ocorrência de situações idênticas à denunciada.

93. Por todo o vindo de expor, considera-se necessária a adoção da atuação regulatória infra delineada, ao abrigo das atribuições e competências legalmente atribuídas à ERS, de modo a obviar a repetição de situações futuras de índole idêntica às ocorridas, devendo o CHVNGE adotar todos os comportamentos tendentes a garantir uma prestação de cuidados de saúde de qualidade e com segurança e assegurar que os cuidados de saúde prestados, no âmbito do serviço de urgência, sejam adequados e tecnicamente mais corretos, prestados humanamente, com respeito pelos utentes, com prontidão e num período de tempo clinicamente aceitável, dessa forma se procurando evitar a repetição futura de situações como a verificada nos presentes autos.

IV. DA AUDIÊNCIA DE INTERESSADOS

94. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados, nos termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 122.º do Código do Procedimento Administrativo (CPA), aplicável ex vi da alínea a) do artigo 24.º dos Estatutos da ERS, tendo sido chamados a pronunciarem-se, relativamente ao projeto de deliberação da ERS, o CHVNGE e os exponentes J.V. e C.G., ambos por ofícios datados de 15 de fevereiro de 2019.

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95. Contudo, decorrido o prazo concedido para o efeito, nenhum dos interessados veio aos autos pronunciar-se sobre o teor do projeto de deliberação da ERS, pelo que este deve ser integralmente mantido.

V. DECISÃO

96. Tudo visto e ponderado, propõe-se ao Conselho de Administração da ERS, nos termos e para os efeitos do preceituado na alínea a) do artigo 24.º e das alíneas a) e b) do artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, a emissão de uma instrução ao Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, E.P.E., no sentido de:

a) Garantir, em permanência, que, na prestação de cuidados de saúde, são respeitados os direitos e interesses legítimos dos utentes, nomeadamente, o direito aos cuidados adequados e tecnicamente mais corretos, os quais devem ser prestados humanamente, com respeito pelo utente, com prontidão e num período de tempo clinicamente aceitável, em conformidade com o estabelecido no artigo 4º da Lei n.º 15/2014, de 21 de março;

b) Cumprir, de forma permanente e efetiva, as medidas e/ou procedimentos internos, com o objetivo de garantir a qualidade e a segurança dos cuidados de saúde prestados, designada, mas não limitadamente, medidas e/ou procedimentos de avaliação do risco de queda dos utentes e de prevenção da ocorrência desse incidente;

c) Implementar um procedimento interno para a avaliação do risco de queda dos utentes e de prevenção da ocorrência desse incidente, no contexto de serviço de urgência;

d) Implementar procedimentos que assegurem que, em contexto de serviço de urgência, os utentes sejam devidamente monitorizados e acompanhados, de forma consentânea com a verificação de eventuais alterações do seu estado de saúde, assegurando dessa forma a qualidade e a segurança dos cuidados de saúde prestados;

e) Garantir, em permanência, através da emissão e divulgação de ordens e orientações claras e precisas, que os procedimentos sejam corretamente seguidos e respeitados por todos os profissionais;

f) Dar cumprimento imediato à presente instrução, bem como dar conhecimento à ERS, no prazo máximo de 30 dias úteis, após a notificação da presente deliberação, dos procedimentos adotados para o efeito.

97. A instrução ora emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º 1 do artigo 61.º dos Estatutos da ERS, aprovados em anexo ao Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, configura como contraordenação punível in casu com coima de € 1000,00 a € 44 891,81, “[….] o desrespeito de norma ou de decisão da ERS que, no exercício dos seus poderes

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regulamentares, de supervisão ou sancionatórios determinem qualquer obrigação ou proibição, previstos nos artigos 14.º, 16.º, 17.º, 19.º, 20.º, 22.º, 23.º ”.

Aprovado pelo Conselho de Administração da ERS, nos termos e com os fundamentos propostos. Porto, 14 de março de 2019.

Referências

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