• Nenhum resultado encontrado

UM POSSÍVEL DIÁLOGO ENTRE FUTEBOL E GÊNERO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: O ESTÁGIO NUMA ESCOLA MUNICIPAL DE GOIÂNIA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "UM POSSÍVEL DIÁLOGO ENTRE FUTEBOL E GÊNERO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: O ESTÁGIO NUMA ESCOLA MUNICIPAL DE GOIÂNIA"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

UM POSSÍVEL DIÁLOGO ENTRE FUTEBOL E GÊNERO NAS

AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: O ESTÁGIO NUMA ESCOLA

MUNICIPAL DE GOIÂNIA

Tiago Onofre da Silva1

Rafael Santos Nunes2

RESUMO: O presente artigo aborda o processo de estágio curricular realizado pelos autores, no ano de 2007, na Escola Municipal Profa. Dalísia Elisabete Martins Doles. A realização do estágio se encontra como uma exigência parcial para a obtenção do título de Licenciado em Educação Física. Busca evidenciar as estratégias didático-metodológicas construídas e utilizadas para abordar o tema gerador Gênero dentro do conteúdo proposto: o Futebol.

PALAVRAS-CHAVE: Estágio Curricular, Educação Física, Futebol e Gênero.

Introdução

Este trabalho originou-se da elaboração e desenvolvimento de uma estratégia metodológica no trato do tema gerador Gênero no conteúdo Futebol, elaborado durante o estágio curricular realizado pelos autores no ano de 2007, na Escola Municipal Dalísia Elisabete Martins Doles.

Para tanto, apresentaremos, inicialmente, de forma sucinta, a escola campo de estágio. Em seguida, o motivo da escolha do tema gênero e conteúdo futebol. Na sequência, ainda, apresentaremos as estratégias de ensino desenvolvidas. Por fim, apresentaremos nossas conclusões acerca dessa intervenção.

A escola utilizada para a realização do estágio supervisionado, situada na região Norte da cidade, na parte alta do Setor Goiânia II, entre os Setores São Judas Tadeu e Chácaras Retiro que conta com a presença de três condomínios de apartamentos populares de um conjunto habitacional, de onde vêem boa parte das crianças, inaugurada em 2004, atende alunos do ensino fundamental, estruturada no sistema de formação dos ciclos humanos (sistema de ciclos) implantado pela Rede Municipal de Educação, assim, a escola oferece vagas para os Ciclos I, II e III.

1 Licenciado em Educação Física pela Universidade Federal de Goiás. Professor do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada a Educação da UFG. tiagoonofre007@hotmail.com

2 Licenciado em Educação Física pela Universidade Federal de Goiás. Professor da Rede Municipal de Educação. rafael.nunes@atento.com.br

(2)

A escolha do tema gênero se deu por base nas observações do intervalo, onde percebemos que os meninos se apropriavam dos maiores espaços da escola (quadra, pátio, gramado) e as meninas ficavam mais em pequenos grupos, mas separadas dos meninos.

A questão da diversidade dentro da escola vem sendo bem trabalhada, pois já no seu PPP, menciona a criação de projetos como “Diversidade Cultural – Aprender a conviver”3 e o “Miscelânia”4, sendo estes juntamente com o projeto “Compromisso com a vida”, as prioridades para o ano letivo de 2007.

Essas prioridades escolares foram pensadas durante a construção do Planejamento Pedagógico 2007 analisando a diversidade que se apresenta hoje, define-se como temática – Viver: Sonhar e realizar nossas raízes e partindo deste tema será trabalhado um projeto a cada trimestre.

Todos os projetos apresentam um momento em que serão apresentados os trabalhos realizados, o professor é livre para trabalhar com seus alunos, elaborando seu Mini-projeto dentro do tema abordado e poderá trabalhar de forma interdisciplinar, além de socializar os trabalhos realizados com a Comunidade Escolar.

Diante o exposto, qual a melhor intervenção da educação física juntamente com esses projetos?

Gênero na Educação Física

Escolhemos a questão do gênero por ser primordial no trato com as diferenças, o gênero aqui é “entendido como a construção social que uma dada cultura estabelece ou elege em relação a homens e mulheres” (SOUZA; ALTMANN, 1999, p. 53), sendo que, historicamente, homens e mulheres são tratados de formas diferentes dentro da nossa sociedade.

Isso não é diferente em se tratando de educação física, entendida enquanto educação corporal, estabelecendo os comportamentos, os gestos, as atitudes de cada gênero, pois

Se os corpos assumem a organização social, a política e as normas religiosas e culturais, também é por seu intermédio que se expressam as estruturas sociais. Assim, há uma estreita e contínua imbricação entre o social e o biológico, um jeito de ser masculino e um jeito de ser feminino, com atitudes e movimentos corporais socialmente entendidos como naturais de cada sexo (SOUZA; ALTMANN, 1999, p. 54).

3 Tema que tem o objetivo de abordar as diferenças regionais, a questão racial e a inclusão como um todo. É um momento de resgatarmos nossas origens, falar sobre a diversidade que há no Brasil e principalmente abrirmos discussão para a inclusão (ANEXO I, pág. 22)

(3)

Vejamos então que os papéis de homem e mulher na sociedade vem determinando comportamentos, atitudes e valores frente as relações sociais, vem imbricando na postura corporal apropriada para cada gênero.

todo movimento corporal é distinto para os dois sexos: o andar balançando os quadris é assumido como feminino, enquanto dos homens espera-se um caminhar mais firme (palavra que no dicionário vem associada a seguro, ereto, resoluto – expressões muito masculinas e positivas), o uso das mãos [...], o posicionamento das pernas ao sentar, enfim, muitas posturas e movimentos são marcados, programados, para um e para outro sexo. (LOURO, 1992 apud SOUZA ; ALTMANN, 1999, p. 54-55.)

Nota-se que para cada gênero espera-se um determinado comportamento e postura determinados socialmente. Para Kunz (1993 apud SOUZA; ALTMANN, 1999, p. 56), “no contexto escolar, a educação física constitui o campo onde, por excelência, acentuam-se, de forma hierarquizada, as diferenças entre homens e mulheres”, pois

nas aulas de educação física esse processo é, geralmente, mais explícito e evidente. Ainda que várias escolas e professores/as venham trabalhando em regime de co-educação, a educação física parece ser a área onde as resistências ao trabalho integrado persistem, ou melhor, onde as resistências provavelmente se renovam, a partir de outras argumentações ou de novas teorizações. (LOURO, 1997 apud SOUZA; ALTMANN, 1999, p. 57)

Essa hierarquização é presente nas aulas de educação física principalmente no trato com o esporte, pois, historicamente, “o esporte é uma atividade predominantemente masculina e de fundamental importância na construção da identidade masculina” (B. CONNEL 1992, R. CONNEL et al. 1995 apud SOUZA ; ALTMANN, 1999, p. 58).

Segundo Souza e Altmann (1999), desde a introdução do ensino do esporte nas aulas de educação física no Brasil em 1930 as mulheres não tem espaço nessa prática. O esporte, como futebol, era ligado aos homens por ser uma prática que exigia maior esforço, confronto corpo a corpo e movimentos violentos e, se fosse praticado pelas mulheres poderia masculinizá-la alem da possibilidade de lhe provocar lesões, especialmente nos órgãos reprodutores.

Depois de alguns anos foi que as mulheres conseguiram conquistar seu espaço dentro do esporte, e consequentemente do futebol, mas ainda permanecem os preconceitos sobre a sua participação nestes, pois a mulher sempre teve sua imagem ligada à fragilidade e aos esportes “femininos” como a ginástica. Para Kunz (1993 apud SOUZA; ALTMANN, 1999, p. 61-62)

Na contraposição das possibilidades expressas pelos dois mundos esportivos, respectivamente para o feminino e masculino – cooperação/competição, sensibilidade/racionalidade, criatividade/ produtividade [agressividade/delicadeza] – evidenciam-se os pólos que o esporte, como praticado nas escolas, não deixa, por enquanto, conciliar.

(4)

O preconceito em relação à prática de determinados esportes não acontece somente com as mulheres, mas também como os homens, se forem privados da vivência da ginástica, por exemplo, o que viria a ferir a sua masculinidade.

Como poderíamos então desconstruir essa visão preconceituosa sobre as vivências corporais? Como superarmos essas barreiras que vem impedindo a vivencia e a apropriação do conhecimento acerca do esporte do(a) aluno(a)?

O futebol e as estratégias metodológicas

Escolhemos então o Futebol como conteúdo a ser trabalhado em nossas aulas para desmistificarmos essa diferenciação entre o esporte “feminino” e “masculino”, buscando refletir sobre como as relações de gênero vem influenciando as diferenças nas aulas de educação física e na cultura escolar. Em se tratando do futebol, Goeller (2000), vem destacando o papel da escola no sentido de promover a reflexão nos alunos sobre essas questões apontadas anteriormente.

Com relação ao futebol, alguém poderá dizer: mas os meninos são mais rápidos, têm mais habilidade, as meninas não sabem chutar, não têm força, correm todas atrás da bola ao mesmo tempo etc. Evidentemente que isto não está longe de acontecer. Afinal, desde cedo, criamos nossos filhos com a bola no pé e nossas filhas com a boneca na mão. Segregamos o mundo feminino do masculino, e a escola também, quando reafirma que o mundo do futebol é quase exclusividade do homem. (p. 91-92)

Se o trato pedagógico com o futebol acontecer no viés tecnicista, a citação acima se confirma, onde se prioriza as habilidades individuais. Para o nosso entendimento a Educação Física, baseado no Coletivo de Autores (1992, p. 61-62):

(...) é uma disciplina que trata, pedagogicamente, na escola do conhecimento de uma área aqui denominada de cultura corporal. Ela será configurada com temas ou formas de atividades, particularmente corporais, como as nomeadas anteriormente: jogo, esporte, ginástica, dança ou outras, que constituirão seu conteúdo. O estudo desse conhecimento visa aprender a expressão corporal como linguagem.

Buscamos mostrar em nossa intervenção, que o esporte e, consequentemente o futebol, podem ser tratados de maneira diferente dentro da escola. Buscamos oferecer aos alunos as vivências acerca dos conhecimentos produzidos no futebol e as possibilidades de reconstrução e ressignificação cotidiana dos alunos.

Dentro do conteúdo Futebol, foram trabalhados os aspectos técnicos e táticos, assim como aspectos sociais e econômicos, que afetavam diretamente na questão do gênero. Foram utilizados

(5)

Como uma maneira de superar as relações de Gênero dentro da escolar, utilizamos o jogo chamado “Futebol de Seis Quadrados”, no qual meninos e meninas podiam jogar no mesmo espaço. Durante as vivencias dentro da escola, há a separação de meninos e meninas, havendo pouco convívio entre os mesmos. Somente em poucos momentos durante o jogo de futebol na quadra há a participação das meninas, seja na torcida ou na partida, como observamos, duas meninas se juntaram aos times e discutiam as regras do jogo. Isso já constitui um avanço, tendo vista que é possível a convivência entre meninos e meninas num mesmo ambiente onde predomina a presença dos meninos.

Vejamos que as diferenças em relação ao gênero começam a ser superadas, embora de maneira isolada, neste caso citado acima. Podemos tratar a questão das diferenças dentro da escola entendendo-a como um espaço do conflito e da diversidade, conforme nos aponta o Projeto Político Pedagógico da escola:

A Escola é lugar de conflito, é nela que os alunos extravasam a emoção, a repressão, os problemas vivenciados no interior da família e as próprias mudanças, dúvidas e incertezas que carregam na infância e principalmente na adolescência. Para alguns desses alunos a Escola tem sido o único local de formação. (ANEXO I p. 17)

Não podemos nos limitar a identificar a escola enquanto campo de conflito, é preciso também

situar a escola na construção de um projeto político e cultural por um ideal democrático que reflita, ao mesmo tempo, a complexa diversidade de grupos,etnias, gêneros, demarcado não só por relações de perda, de exclusão,de preconceitos e discriminações, mas também por processos de afirmação de identidades, valores, vivências e cultura (ARROYO, 1996 apud SOUZA; ALTMANN, 1999, p. 53)

Considerações Finais

O presente artigo tratou o tema gênero e futebol dentro do processo de estágio curricular dos autores, realizado em 2007.

O tema futebol foi adequado para o trato com o gênero por ser um esporte mais masculinizado, por outro lado, durante as aulas percebemos a crescente participação das meninas no esporte.

Apesar da rejeição e apatia durante os primeiros dias de intervenção, no processo, se percebeu um maior envolvimento dos alunos junto as atividades e ao conhecimento.

Por fim, o processo de estágio curricular realizado por nós no ano de 2007, veio a qualificar a nossa atuação docente atual, veio a nos possibilitar o conhecimento sobre a escola e os temas/conteúdos que podem ser melhor trabalhados na Educação Física.

(6)

Referências Bibliográficas

ANDRÉ, M. E. D. A. de. Etnografia da prática escolar. Série Prática Pedagógica. 7. ed. Campinas, SP. Papirus, 1995.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

GARRIDO, S. A educação é um nobre processo de humanização; ABCEDUCATIO: a revista da educação. v. 6, n. 50, outubro/2005.

LÜDKE, M; ANDRÉ, M. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo. EDU, 1986.

SEVERINO, A. J. Projeto pedagógico e identidade educacional: o sentido da escola; ABCEDUCATIO: a revista da educação. v. 5, n. 38, setembro/ 2004.

SOUZA, Eustáquia Salvadora de; ALTMANN, Helena Meninos e meninas: expectativas corporais e implicações na educação física escolar. Cadernos CEDES, 1999, vol. 19, n. 48.

Disponível em: www.scielo.br Acesso em: 10/12/2007.

VEIGA, I. P. A. Projeto Político Pedagógico: Uma construção possível. Coleção Magistério: Formação e trabalho pedagógico. Campinas, SP: Papirus, 1995.

Referências

Documentos relacionados

¢ll', ™pe• oÙ m£qon œrga qalassopÒrwn ¡li»wn ka• buq…hj oÙk o‧da dolorrafšoj dÒlon ¥grhj, Leukoqšhj œce dîma baqÚrroon, e„sÒke pÒntou ka• s ka•

A análise dos dados meteorológicos foi dividida em três etapas a partir de um esquema de decomposição temporal-cronológica, iniciando pela série de dados de longo

Como eles não são caracteres que possam ser impressos normalmente com a função print(), então utilizamos alguns comandos simples para utilizá-los em modo texto 2.. Outros

200 ml de água de coco 200 ml de água de coco 1 folha de couve 1 folha de couve Hortelã a gosto Hortelã a gosto Modo de preparo Modo de preparo Bater todos os. Bater todos os

Anne Teresa De Keersmaeker e Jean-Guihen Queyras (o violoncelista que vai acompanhar ao vivo os bailarinos, tocando as suites de seguida, em tours de force de mais de duas

No entanto, expressões de identidade não são banidas da linguagem com sentido apenas porque a identidade não é uma relação objetiva, mas porque enunciados de identi- dade

Para a realização da análise fatorial, utilizaram-se 37 variáveis (Tabela 1) produzidas para o estudo, o que inclui dados presentes no ambiente pedonal de três bairros da cidade

Neste texto, abordamos a formação do conceito de número proposta por Kamii (1994), Kamii e Declark (1996), o valor posicional no SND e o número zero, com as pesquisas de Lerner e