IS
QIE DEVE SUSTENTAR
EM
NOVEMBRO
DE
1863. PARAOBTER
GRAU DE
DOUTOR
EM
MEDICI.U
PELA
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DjSl
BikHSâ,
EGAS
CARLOS
MONIZ
SODRÉ DE
ARAGÃO
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DA
NUSIIIA RiR@V01KI©ilA.ítféo (eoittuM "òo Couiiuuíòaàoi
JWouto
8etxão JlflíMMMe 3c „l>tiU)âío e ?e 2).JlWúa
JbDeíaiDtf ífoSté Jltauti.\
«Ce qu'ilfaut savoir avantdemettrelamain
« cominesímple ouvriera1'cdiflced'une BCtence
«est três considérable, etiln'yaguèredevrai «savant qui n'aitdepensé la moitiédesa vfe h « conquérirledroit d'ajouleruneverítc nouvel-« 1cauxdecoureitcsdesespredecesseurs.»
fjouffroy.—Nouveaux melanges
pfti-losophiq.ucs.—1'z.3)
Sitl-Zi-TYPOGRAPBIA
POGGETTI,
DE
TOURINUO
&
C.
Ku*
do Corpo
Santo
n.°
411
FACULDADE DE
MEDICINA
DA
BAHIA.
DIRECTOR
j
O
JE,or.mo
Snr.
Vo%t*eMheiro
M9r.•Fano Mtapti&ia
tios Attjoa.Ex.
m0
Snr. Conselheiro Dr. Vicente Ferreira de Magalhães.OSSI\S.DOUTORRS 1.'ANISO. MATRMASQUB LECCIONAM
,,„„„,,-„„ "5 Physica emgeral, cparticularmenteem suas
Cons. Vicente tenreirade Magalhães. ,j applieaçõrs áMedicina. FranciscoRodrigues daSilva ChimicaeMineralogia.
AdrianoAlvesdeLimaGordilho . . . Anatomiadescriptiva.
a.*ANNO.
J Antóniode Cerqueira Pinto Chimicaorgânica.
I Jeroiivmo Sodré Pereira Physiologia.
António MarianodoBotufim BolanicaeZoologia.
AdrianoAlves deLimaGordilho. . . . Repetiçãode Anatomiadescriptiva. 5.*ANNO.
Elias JoséPcdroza Anatomiageralepathologlea.
Joséde GóesSiqueira Pathologiageral.
JeronymoSodré Pereira Physiologia.
4/ ANNO.
Cons.ManoelLadislaoAranhaDantas. . Pathologia externa.
AlexandreJoíé deQueiroz Pathologia interna.
- .. . „,„ ) Partos, moléstiasde mulherespejadasede menino?
MathiasMoreiraSampaio
| rctciíinascidos.
S.oANNO.
AlexandreJosédeQueiroz ContinuaçãodePathologiainterna.
JoaquimAntóniod'01iveiraBotelho . . Matériamedicaetherapeutica.
, , . , . j„„„,,«. i Anatomia topographica, Medicinaoperatória, e
JoséAntónio deFreitas
\ apparelhos.
€.*ANNO,
AntónioJosé Ozorio Pharmacia.
Salusliano Ferreira Souto Medicinalegal.
Domingos Rodrigues Seixas Hygiene,eHistoriada Medicina.
AntónioJosé Alves Clinicaexternado3.*e
V
anno.AntónioJanuáriodeFaria Clinicainternado5.*e6.*anuo,
RozcndoApvigio PereiraGuimarães.
A
lgnacio JosédaCunha
(
PedroRibeiro deAraújo >Secção Accessoria.
José lgnacio de Barros Pimentel. . .\
VirgílioClymaco Damazio /
José AlTonso Paraizo deMoura, . . .\
Auausto Gonçalves Martins f
DomingosCarlosdaSilva jSccção Cirúrgica.
/
Demétrio CyriacoTourinho /
Luiz Alvares dos Santos \ SecçãoMedica.
JoãoPedro daCunhaValle. . . . ,y
O
Sr.Dr.Cincinnato Pinto
da
Silva.•DÍJUMM
a>JlB3B313íía\3íJa\O
Sr»Dr.
Thomaz
d'Aquino Gaspar.
DISSERTAÇÃO.
7Hil&(!h
E
todos os nossossentidos ccertamente o davista que mais praseres nos outorga, que mais sensações deliciosas nos fazexperimentar. Eisalli
um homem:—
éum
cegoIO
despontardo sol no orienteporentre cambiantes de ouro c purpura, o
seu descambarpara o occaso tão cheio de melancholia e de
amor, odeslisarda luapor uniceu puro c diáphano, oespectáculo do
firma-mento marchetadode milhares deastros, cadaqualmaisbello efulgurante, todas
essas manifestações sublimes do Crcador, nada dissopôde encantar ao coitado,
em
quem
seacha abolidaa funeção davista.Se aqui seextende
um
almargcal virente, por onde alegrementerclouçauma
alcateiadeovelhas, cujos cordeirinhos ora saltitam sobre a relva, ora sugam o
leitenas tetas matemaes:
—
se alli differentes arbustos, entretecendo seusra-mosos
galhos, deondependem
variegadas flores cheias deviçoefragrância,constituem
um
espesso bosque, ondeem
orchestra sentimental louvam asavesaomnipotência do
Eterno:—
se acoláeleva-se ás nuvens gigantesca serra, porcujos flancos pendorosos precipita-se
um
rio, cujas aguas refervemestrepitosa-mente
cm
turbilhões de espuma. . . . tudoissopassa-se desappercebido parao cego, nadad'isso pôde
mover
oseuespirito, pôde attrair a suacuriosidade.O
homem,
quenãovè, quasiquenão vive.A
vida se lhetornaum
fardoabhor-recido, o
mundo
não é mais para ellc queum
barathro caliginoso, onde vagaladeando, onde tropeçaa cada
momento,
onde cáemuita vez para não mais seerguer.
Um
vcu espesso, negro etenebroso trazdiante de si clheencobre parasempretodas ascreações admiráveis da naturesa. Viver no eclypse do
mundo,
c ser o mais desgraçado dos homens.
—
Vede allium
mancebo, ainda estánaprimavera davida, traz na face as rosas da mocidade, tem nos lábios o sorriso
da esperança;clleé forte, é robusto, é corajoso:
—
tirac-lbe, porém,avista,queellese tornarámaisfraco queosmaisfracos,que se tornará o alvo de todos os
remoqueseimpropérios:orisoda esperançaselheconverterá n'um transsudar
de angustias, as rosas damocidade trocar-sc-ão pela pallidez da descrença:
aquelle
mesmo,
que hápoucootemia e respeitava, agorapoderá insultal-oim-punemente, e elle se enfurecerá debalde, recuará espantado peranteasua
im-potênciacnada poderáfazer do que derramar lagrymas. Lagrymas!
—
sãoellasorefrigério doinfeliz, sãoellas que
pódem
mitigar ador do cego, o desesperoem
queseu coraçãosedebate!Amacs
uma
mulher;—
não é assim? Vós atendes continuamente ao vossola-do, sentis a sua
mão
que vos sustenta eencaminha, ouvis perto de vósasuarespiração suave, tocaes
com
osvossos lábios a sua face perfumosa, escutaesa sua voz toda
amor
eternura;mas
diantede vós nada mais vedesqueuma
es-curidãoprofunda. Quereiscontemplaresse anjo,quevos circumda
com
asuaau-réola de puresae piedade,quevos protegeevosconsola; vossa alma lueta
em-balde contra avossa organisaçáo, luetahorrível e desesperadora
em
queama-térialeva de vencidaoespirito. .
«Etre aveugle et être
aimé,—
âiz Victor Hugo,{*)—
Cesten effet, sur cette terreoii rienriest complet, unedesformes lesplus étrangement exquisesdu bo-nheur. » VictorHugo
não tem rasão. Sercegoe seramado
é o marlyrio deTântalo, é a angustia de Ixionatadoà suaroda de serpentes,éodesespero de
Promelheu amarradoao monteCáucaso!
O
cego possue oamor
deuma
mulher:—
éuma
venturaparaelle, não èver-dade?
—
mâs
éuma
ventura maldictae desesperadora; porisso quenão poderánunca contemplar essamulher, por issoque nãopoderáleras modificaçõesde seu coração nos traçosde seu semblante, no revolver de seus olhos. Mil
duvi-das o assaltam, crêe descrêna fidelidadedoanjo que idolatra, e
um
sómomen-to de descrença nelle abrange
um
infinito detorturas:—
é o espasmo docora-ção, é a epilepsia d'alma, éo desmaiar da rasão, é
um
enlouquecer deamar-guras.
«Lesuprême bonheurde lavie,—prosegue ainda o inimitável poeta,—c'est la
« convictionqrfon est aimé;aimé pour soi-même, disons mieux, aimé malgré
«.soí mème-. cettecnnviction, lamigle Va.it
—
Não
!—
O
cego não pode teressaconvicção!
—
O
amor
de
um
cego 6um
abysmo de ciúmes, éum
labyrinlho deincertesas. Elleduvida de tudo, ellepadece por tudo; crê o seu estado de
ce-gueira incompatível
com
a fidelidade da mulherque ama: todos osseuspensa-mentos são negros
como
a escuridão que o circumda; todas as suas aspiraçõeslimitadas
como
o espaçoque suasmãos
tocam.A
felicidade completaéimpos-sívelno cego; e, por mais quefaça a mulher queadora, ellejuíga sempre que
ella opôdeenganar, quesua affeiçãoseráephémera,quecila o despresarálogo
que viroutro individuo maisperfeitodo que elle9 que possuaa faculdade que
lhe falta.
O
cego, não tendo confiançaem
simesmo,
não pôdeconliar-seem
ninguém;
—
e oamor sem
confiançaéum
tormento de cada instante, éum
len-toagonisard'alma.A
vista éo mais nobre de todosos sentidos; 6 por ella que julgamos dabel-lesado universo,da harmonia eperfeiçãodas obrasdo Creador.
Sem
a vista, ohomem
é privado de innumeros conhecimentos, de noções importantíssimas sobre muitosphenomenos
naturaes. «Em
terra de cegosquem temum
olho érei:»
—
dizum
annexim popular, ondetranspirauma
verdade irrecusável, equeencontro sanecionado nasseguintes palavrasde
Thomas
Reid.—
«Supposons« pourun
moment,—
diz elle,—
qu'il fut aussi rare, parmiles honimes, denaU
t tre avec
unevue
sainequ'ilTestde naitre aveugle: le petitnombre
dMioin-«
mes
qui auraientróçule don rareet merveilleux delavue,ne paraitraient-ils« pasalorsà la multitude
commeautant
deprophètes,d'hommes
divins etins-« pirespourinstruire les autres? Nous savons que1'inspiration ne donne à
« 1'hommc aucunenouvelle faculte; ellelui cornmuniquc seulcment d'uue
ma-« nière particulièrcetpar des voies extraordinaires, ce que les facultes
coni-«
munes
au genrehumain peuvent comprendre, et ce qu'il peut communiquer.<\ aux autres parles
moyens
ordinaires.En
adniettant lasupposilion que nous« avonsfaite,le dondela vueparailrait aux
hommes
nós aveugles ce que le« donde1'inspiration nous paráit à nous
mèmes;
car lepetit nombre de ceux« qui 1'auraient réçu pourraient
communiquer
les connaissances qu'ils luide-• vraient, á ceux qui n'en jouiraient pas.
Á
lu verite, ils ne pourraientleu»« donner uneidêe bien dislincle de Iamanière dontite reçoivent
eux-mêmes
« ces connaissances; un petit corps sphérique, rcvètu de sou enveloppe, leur t paraitrait un instrument aussi peu propre á donner une science siétendue,
t qu'un songe ou une vision. La manière dont un
homme,
quivoit,discernat pour un avcugle, que pout1'òtre pour nous la manière dont unprophèle ap-« prend 1'avenii'dans1'inspiration. »(1)
Todasestas palavrasdo illustradophilosophoescossez são verdades
incontes-táveis;mas, paraqueesses
homens
fossem considerados prophetas, necessárioseriaque elles tivessem obtido a confiança d'essa turbamulta de cegos, seria
misterque ellespodessemfazer
com
que fossemcomprebendidosedemonstras-sem
de algummodo
todas asproposições, quelhes eram suggeridaspcloorgam que só ellespossuíam:—se isso nãotivesse logar, seriam julgados, nãopro-phetas,
mas
visionários; nãoinspirados, masfeiticeiros:não seriamindubitavel-mente os seus instruetores, seriam mágicos quetentavam embair por meiode
sortilégiose encantos, e ai delles que ou setornariam o alvodairrisãode
to-dosou omartyr da indignação geral.
Uma
das provasmais convincentes da existência deDeus c abellesa easma-ravilhasdouniverso:
—
poderáocego, quecerto não pôde appreciar essasma-ravilhas, acereditar conscienciosamentea existência de
Deus?—
Saunderson eraverdadciramenlcalheu.—« Eh,monsieur1
—
dizia elleao ministroGervásio Hol-tmes
pouco antesdemorrer—
laissez—lá tout ce beau spectaclequin^ajamaist été faitpour moi! J'aiété condamné àpasser
ma
vie dans les tenèbres; et« vous
me
citezdesprodiges que jeríentendspoint, et qui ne prouvent quepour• vous etquepour ceux qui voyent
comme
vous. Si vous voulez quejecroie en « Dieu, ilfaut que vousme
lefassieztoucher. » (2)Embalde
tentou o hábil ministro destruir o seu atbeismo, myrrharem
seu coração a planta venenosa da descrença:—calmae convencidamente o sábiomathematico rebate brilhantemente todas as objecções do ministro e termina
porestaspalavras que arrancaramaslagrymas do seu contendorc de todos que
se achavampresentes: «
—Voyez-moi
bien,31. Holmes,je rfaipoint d'yeux. « Qu' avions-nousfait à Dieu, vous etmoi, Vun pour avoir cetorgane,Vau-i tre pouren êtreprive? »
Se o cego de nascimento não pôde contemplar os prodígiosda naturesa visi-vel, o curso regulado dosastros, aluxuriosa vegetaçãodasplantas,adiversidade
dos animaes, a variedadeinfinitadascores,tudo oque há debelloegrandiosona
creação, e tirarda harmoniaeordem, que reinam entre essas creaturas, a
con-clusãodeque existe
uma
intelligencia suprema que foi creadôra de tudo;jul-gamos
todavia que outrasprovaspodem
actuar sobre elle para que a crençade Deus n'elle se desabroche claramente.
O
cego pode raciocinarcomo
nós,(1) Ocuvrescompletes—Trad. deJoulTroy.—TomoII—Pag.145 e sg. (2j Veja-seDiderot.—Lcllresurlesavcuglcs.
asprovasmoraes cmctaphysicas terãocertamente sobre elle a
mesma
influen-cia que sobre nóstecm.
A
luzé de absoluta necessidade paraquea visão se effectue: de nada servemolhosperfeitos e
bem
organisados no meio deuma
escuridão profunda.E
a luzo estimulante d'essc orgam, é cite c só ella queo põe en acção,
impressionan-do as suas parles sensíveis.
Condemnae
um homem
a vivernas trevas, seusolhos perderão de todo a faculdade natural de ver. Tão precisa é a luzparao
exercício do
orgam
visual,como
aperfeiçãodassuas partes constituentes. Assim,paraque possamos ver
um
objecto qualquer, é mister que elle desprendaraios luminosos que atravessem o globo ocular e vão impressionara retina, é
necessárioqueessa impressão seja transmittidaató o sensório, e que este a
re-ceba e aconverta
cm
sensação.Dividiremosonosso estudo
em
quatro secções: tractaremos primeiro dotra-jectodos raios luminososatravés os differentes meios do olho até a sua reunião
em
foco nasuperfíciedamembrana
nervosa:—oceupar-nos-emos depois da suatransmissão pelo nervo óptico:—
em
terceiro logar examinaremosos diversosphenómenos
queseligam àpercepção:-e finalmentebuscaremosanalysaro pa-pelque representa cadauma
de suas parles accessórias.É
esse o inethodoque nos parece mais natural e conseguintemente de
uma
exposição mais fácil.Sem
o conhecimento exactoda anatomia dosolhos,sem
o conhecimento daóptica no que «liz respeitoá ref.acção daluz, ninguémde
certo poderá
compre-hender sufíicientemente o mechanismo da visão:-devcriamos portanto, antes
de entrarno nosso ponto, oceupar-nos d'essasduas partesde importância
capi-tal—entretanto,
mau
gradonosso,é-nosforçosoommitlil-aspara nãotornarim.mensamente
longa a nossadissertação.Admitíamospois quea dioptnca e aana-tomiado olho são convenientemente sabidas c entremosjá e já
no estudo da
pbysioloiíia.
SECÇÃO
I.DÍK3IPIRESÍé ®£\ USE*
Felizmente vai-se extinguindoaraçados
systc-maticos, exclusivistas e emperrados, (verdadeiro
oiâium davinhascientifíca:) a medicina caminha
hojeabraçadacomabandeiradoprogressoem pro-cura daverdade,observaçãoeexperiência é a di-visaescriptanafachadadoseu templo,o
(Dr. A. J.de Faria.—Discurso da aberturado
cursode Physiologia em1802.
)
(1) Todosos raios luminosos emanados de
um
objecto, depois de haverem atravessado a substancia deuma
lente de crystal, concentram-se nrum
ponto,formandoahi a
imagem
desse objecto:—
estaimagem
approxima-se tantomaisda lentequantomais se affasta d'ella o objecto luminoso e reciprocamente.
O
globoocular pôdeser comparadoa
uma
lente;mâs
éuma
lente compostadedi-versos meios, cujo poder refrangente é variável
em
cadaum
delles:—uma
lente, cujo focoácha-sesempre no
mesmo
logar, qualquer que seja a distanciaem
que esteja o corpo quese pretende enxergar. Claro está por conseguinteque os raiosdaluz,quepercorremoglobo ocular, soffremuln certo
numero
derefracções e que esseorgam experimenta modificações intimas afim de que o
foco sempretenha logar sobre a retina.
(2)
Um
corpo, collocado noespaço, projecta raiosluminososem
todas asdi-recções:
—
quandoparaelle olhamos, cadaum
de seus pontos emitteum
feixede raios, queforma
um
verdadeiro cone luminoso tendo abase applicada sobrea córneatransparenteeo vértice correspondendo ao pontovisível.Osraios
com-prehendidosnaária da córnea são os únicosque servem para o grande
sobre seuspassos, seassim
me
posso exprimir, formandoum
angulo dereflexãocgual ao angulo deincidência.
Os
raiosluminosos, atravessando acórnea, experimentamuma
primeirare-fracção que depende não só de seu raio de curvadura, cujadimensão,segundo
Lamé, é de 7a8 millimetros;
mas
ainda de seu indicioderefracção (1)avalia-dopor Chossat
em
1,339.A
refracção, que soffrem os cones radiosos, tendepois aapproximal-osdoeixo antero-posteriordoolho: todavia
uma
pequenapor-çãoderaios creflectida pela superfície polida da córnea, e é
em
virtude d'essareflexãoque
vemos
a nossaimagem
pintada nosolhos dosoutros indivíduos.Passando do ar atmospherico na córnea, os raios de luzhão passadode
um
meiomenos
densoem
outromais denso;approximaram-se portanto da normal ouda perpendicular ao seuponto decontacto.O
humor
aquoso, noqual vão pe-netrar actualmente, tem, segundo Brewster,um
indicio de refracção egual a1,337: vê-sequeseu indiciodiÉfere muitopouco d'aquelle dacórnea; por
con-sequência
podemos
despresar a pequena divergência, que experimentam osraios,e consideral-os
como
progredindonamesma
direcção quetraziam.Continuandoasua derrota, os raiosencontram a face anterior dairis.
Aquel-les, que se
acham
na visinhançadoeixoantero-posterior do olho, entrampelapupilla, atravessam a câmara posterior sem experimentar modificação alguma
em
seutrajectoe vãoaltingir ocrystallino:—
os maisexcêntricos sãoreflectidospela iriscpercorrem
em
sentido contrarioa câmaraanterioreacórnea: são essesraios reflectidos que nos fazem conhecer o aspecto eacoloração dairis.
(3J
A
iris 6um
diaphragmacontractil, queserve a graduar a quantidade ou intensidade daluz, quevac teráretina.Quando
somos mergulhados naescu-ridão, a pupilla sedilatapoderosamenteafim de que oolhoapproveite apequena
quantidade deluz derramada noespaço ambiente: quando, aocontrario,nos
acha-mos
em
um
logardemasiado esclarecido, ella se constringepara que oexcessode luz não váirritar a
membrana
nervosa,dandoem
resultado aperturbaçãodavista epor vezes
uma
impressãodolorosa.A
retina tem necessidade,como
muitobem
diz J. Béclard, para funecionarcom
precisão, deuma
intensidade media de luz,áquem
ou alem da qualtorna-se imperfeita a sua funeção.É
airispor-tanto
quemgosada
importante attribuição de só deixarpenetrar até essamem-branaa quantidade de luzprecisa,pormeiode modificações que imprime ásua aberturacentral.
A
iriséuma
espécie de barómetro queindica as variações devivacidade daluz,
éo
photómetro dos olhos.(\)Chama-scindicioderefracção a relação constante einvariávelque guardam entre sios senos dos ângulos deincidência ederefracção.
«
A
estreitesa da pupilla, diz J. Muller,uma
justa distancia e unia luz viva» são as condições, que tornam a
imagem
Ião distincla e claraquanto épossi-ccvel; porisso que, n*esse caso, aquantidade de luzbasta,
mau
grado a pouca« aberturadajpupilla; e a estreitesa desta impede a formação de
uma
imagem
« sem claresados raios marginaes, quetcem outra distancia focal. » (1)
(4j
A
opinião de Blumembac, que considerava os movimentos dairiscomo
dependentes de
ume
força especial de que ella eradotada,como
aquclladeoutros physiologistas, taes
como
Aquapendente, Soemmerring, Portal, &c. . .que attribuiam esses movimentos a
uma
turgescência eréctil de seusvasos,não
podem
roais ser acceitas na sciencia, depoisque se ha demonstrado na suaestruetura a existência de fibras musculares de duas ordens.
A
dilatação dapupilla é produzida pela contracção das fibras irradiadas,
como
o seuaperta-mento dependeda contracção do esphinctcr.
Algumas pessoas, dizAdelon,(2) tcemadquirido a faculdade de contrahir a
suapupillapelaacção da vontade;
mas
esse facto é raríssimo.A
contracção dairisé geralmente involuntária ese manifesta debaixo dainfluenciada luz:
toda-via a luz applicada directamente sobre ella não determina contracção alguma,
como
Fontanao provou: airis é inteiramente insensível á impressão dos raiosluminosos. Paraque ella semova, é mister quea luz vá impressionar a retina,
é necessárioquea retinalogre de suas propriedades: todas as vezesque
uma
doença ou a secção do nervo óptico teem anniquilado as suas funeções, airis
paralysa-se immediatamente.
Os
movimentos da iris sãooccasionadosporuma
acção reflexa: a impressão, que tem logarsobre a retina, é, por intermédiodo nervo visual, transmittida ao encephalo que reage aseu turno eproduz, por
meiodo oculo-motor
commum,
a contracçãoprecisa.(5)
A
existênciade fibras musculares na irisdemonstra-sepelos factosphy-siologicos epathologicos. Fowler, Nynsten, e depois Longet, submettendo á
acção do galvanismo o nervo oculo-motor
commum,
determinaramem
cadá-veres contracções não equivocas da iris que se traduziam pela constricção e apertamento da pupilla:—omesmo
resultado obtem-se applicandodirecta-mente a electricidade sobreasfibras da
membrana.
Quando, nos animaes, corta-seo nervo do3.° par, ou quando é elle paraly-sado oucomprimido por algum tumor, nota-se, além daparalysia dos músculos
do olho, a dilataçãopermanente da pupilla; d'ahi
podemos
tiraruma
illação,éque o motor-ocular
commum
équem
preside ao estreitamento da pupilla,(1) Physiologle.—Trad.de Jourdan.—Ed.IV.—TomoII. !9) Physiologle.-Ed. 2."—TomoI.— Pag.415,
que é ello
quem
animao esphiueteririano e que este musculodeve sercon-sideradotalvez
como
pertencente á vidaanimal.Se oaperto da pupilla está sob adependênciado nervodo 3.c par, cumpre
saber de que nervo asua dilatação depende.
—
O
ganglio cervical superior, si-tuadopordiantedas 2.a e 3."vértebras cervicaes, alem dos ramos arteriacs cvisceraes e dos ramos que vão communicar-se
com
os pares e ganglioscervi-caes, dá origema
um
ramosuperior ou carotidiano e a ramos anteriores, quevão communicar-se
com
os pares cranianos. Os ramos anteriores seunem
ao glosso-pbaryngeu, ao grande bypoglosso e ao pneumo-gástrico: não noscom-pete fallard'ellcs.
O
ramo
carotidiano, porem, procura o canal de seu nome,divide-sc
cm
dous ramos queaccompanham
a carótidainterna evae attingir oseio cavernoso, ondedá nascimento ao plexus-cavernoso.
Além
dos filetes,quedo seu trajectopartem, filetespartem
também
d'esseplexus cavernoso, e,den-tre estes,
um
fileteque vaecommunicar-secom
o ganglio oplilhalmico,consti-tuindoasua raizganglionare contribuindoáformação dos nervos ciliares.
Quando,nos animaes, arranca-se o ganglio cervical superior ou corta-se o
ramo
carotidiano, produz-se immediatamentea constricçãoda pupilla: quandopelo contrario faradisa-se esse
mesmo
ganglioouoseuramo superiordetermi-na-se logo e logoa dilatação pupillar. D'aquipodemos concluir quea dilatação
dapupilla está debaixo das ordens do ganglio cervical superiorc por
conse-guinte do nervo grande sympathico; queas fibras radiadas dairissão animadas
poresse nervo c que
devem
ser consideradascomo
fibras musculares da vidavegetativa. Cláudio Bernard ha produzido, cortando o grande sympathico na
regiãocervical, além deoutras alterações no orgam visual, a constricção per•
sistente da pupilla.
De
onde vem, porem,essa forçamotriz do grande sympathico?Budge eWal-lertcem verificado pelas suas experiências que essa influencia do sympathico
sobre a irise tirada da região cilio-espinal da medulla, comprchendida entre a
1.»vértebracervical e a 7.a dorsal.
A
galvanisação d'essa região, estandoin-tactos osnervos sympathicos, determina a dilataçãopupillar; se porém forem
os nervos scindidos, a irritação da
mesma
região nãodespertará nasiris o maisleve
movimento.—
Bichat consideraum
signalcerto cindubitáveldamortereal afalta de contractilidadeeaimmobilidade da iris:—Brown-Séquard negaacer-tesa d'cssc signal.
(6) lia
uma
affecção,que poderemos reputaruma
nevrosedairis, a qual con«siste na dilataçãopermanente da pupilla,dilatação que nãopode ser modificada pela acção daluz, por maiorque sejaa suaintensidade, e que muitas vezes é
levada ao ponto de fazerdesappareccrtoda airis: é essa affecção a que dão os
pathologistas o
nome
de mydriase.Os
indivíduos, que delia padecem, nãoIO
<1hm ver nos lugaresmui esclarecidos, elles são deslumbrados pela luz do dia:
entretanto,
como
é fácil conceber, ellesvêem
claramente quando por diante deseus olhos colloca-se
um
cartão,cujo centrotrazum
pequeno orifício: essedia-phragma
substituo suflicientementeasuairisimpotente c prohibe a entrada nos olhos deuma
quantidade de luz demasiada, que váirritareincommodar
are-tina. Alguns sujeitos ha quese accostumam a enxergar dislinctamente
em
Jo-gares obscuros,onde olhos perfeitosnada poderiam ver: existe então
uma
es-pécie de nyctalopia.
A
mydriascépor vezesprecursora da amaurose. Ellade-ve serconsiderada
como
uma
paraiysia do esphincter iriano, originada de uniaalteração dos nervosciliares, do ganglioophthalmico ou do
motor-ocular-com-mum.
Uma
affecção, oppostaá mydriase, tem-se cgualinente manifestado nairis:—
éamyosis ou phtkysicapupillar, que consiste naconstricção persistenteda
pu-pilla. Aapplicação dabelladonasobre os olhosde
um
individuo atacado d'essaaffecção, o seu transporte de
um
logarmui illuminado paraum
logartrevoso. .nada disso pôde augmentaraabertura pupillar:—avisãoé sempre imperfeita c
confusa, e a cegueirapôdeser o resultado quando o malé levado até
um
pontoexagerado.
—
A
myosis deveser consideradacomo
uma
paralysia dasfibrasir-radiadasdairis,produzidapor
uma
alteração do grande sympathico, do gangliocervical superiorou do seuramo carotidiano: pôde
lambem
provirdeuma
alte-ração da raiz ganglionar do ganglio ophlhálmico ou dos nervos ciliares que
d'ella partem. Willebrandcita
um
casode myosis causada poruma
adenitecer-vicalendurecida que comprimiao grande sympathico.
A
myosis pôdeainda serproveniente de
um
espasmo doesphincter,como
amydriase deum
espasmo do musculo radiado.(7)
Os
raios luminosos centraes, que são osúnicos queairis deixaprogre-dire que vão servirá funeçãovisual, caem sobreasuperfícieanteriordo
crys-tallino.
Em
rasão de sua formalenticular e de seu indiciode refraeçãoavalia-do por Brcwster
em
1,384, maior portanto doque o indiciodohumor
aquosoe da córnea, o crystallino auginenta aconvergência dos raiosluminosos; elles
approximam-se da perpendicular ao pontode iiumergencia, approximando-se consequentementedo eixo antero-posteriordo olho.Todavia todosos raios, que tocama lente crystallina, não são refrangidos;
uma
porção é reflectida,retro-cede e vae encontrara face posteriorda iris, onde
uma
parte é absorvidapelaúveae o corpociliar, e outra parte atravessade novo a pupilla, concorrendo á
producção do brilho dos olhos.
(8)
Ao
sairem do crystallino, os raios luminosos entram ndcorpovitreo. Se-gundo Lamé, oraiode curvadura daface anteriordocrystallino é cgualá7
ou 8millimetros, odafaceposteriorá5ou
6:—
de ondeseconcluequeaconvexidadeposterior d'cssa lentesendomaior do que aanterior, os raiosdeluz
devem
expe-rimentarno
momento
da suaemergênciauma
refraeção maisforte do quei
aO
indicioderefracçãodo corpovitreo é representado, segundo Brewsler, pelo algarismo 1,339:—seu poder refrangeste,menor
«pie o do crystallino, équasisitnillianteáqnelles do
humor
aquoso e da cornou; o cryslallino poisesta cerca-do porunia atmospliera de líquidos, cuja densidade é pouco mais ou menosamesma.
Sc assim é, os raios luminosos, que oatravessaram, ao penetrarem nocorpo hyaloide deverão aílastar-seda perpendicular ao ponto de emergência;
ap-proximar-se-ão portanto do eixo antcro-poslcrior do globo ocular convergindo poderosamente. Cadacone luminoso emiltido de cada ponto doobjecto, quese
procura ver, irá rcunir-sc
em
um
foco na superfície da retina, reproduzindonYllaa
imagem
doobjecto;cadacone luminoso objectivo será representado, depoisdeterpercorrido o globo do olho, por outro cone que lheé oppostopela
base,tendocsla voltada para ocrystallino eovértice para a retina.
(D)
A
face internada eboroide, a faceposteriorda iris eosprocessosciliares,como
sabemos, sãocobertos porum
pigmento que, no apparelbo da visão,re-presentao
mesmo
papel que o induclo negro,com
quese tinge o interiordos instrumentos deóptica.Os
raiosdeluz, depois dehaverem impressionado a re-tina,atravessam-na divergindo: se cllesdeparassem pordelraz d'ellacom
uma
membrana
capaz de reflcclil-os,voltariamsobreseus passos, seguiriamdirecçõesvariadas,encontrariam differentespartesda
membrana
sensível c não somenteproduziriam o deslumbramento por excesso de luz, mas ainda aconfusão das imagens.
O
pigmento eboroideu tem a propriedade de prevenir essegrandein-conveniente, absorvendo enullificando todos os raios, que houveram impres-sionado a retina; e tanto isso éverdade que nos homens albinos,
em
quetalpigmentonãoexiste, a visão é imperfeita e sópôde effectuar-se na obscuridade.
Em
muitos animaes, que fogem daluz,que nãovêem
bem
duranteo dia,como
ogato,porexemplo, a eboroideêdesprovida
em
certos pontos dopigmentone-gro. Quanto ao uso do pigmento da iris e do corpociliar,jao enunciamoshá pouco:
—
elleabsorveosraiosreflectidos pelocryslallino.(10) Lccat e Màriotte- consideravam a eboroide
como
o orgam da impressãoda luz:
uma
experiência do 2.°auetor servia de base a essa opiniãoum
poucoextravagante.
A
eboroide éuma membrana
essencialmente vascular e só os ór-gãos nervosospodem
produzir na economiauma
impressão sensitiva. Daex-periência do abbadc Màriotte, cilada por Béclard e BéYaud nas suas
physiolo-gias e (pie não reproduziremos aqui, só se pode concluirque ha
um
pontonaretina, o ptmclum ca>cum,
em
que a sensibilidade visual é confusa; mas es.-a confusão depende indubitavelmente de que a eboroide eportanto opigmentonegro faltam ao nivel dopunctum ccecum, e de que, faltando esse pigmento, os
raios, que impressionarama retina n'esse ponto,
em
vez deserem absorvidos'são reflectidosearremessados de novosobre a
membrana
nervosa.Para provar que a
imagem
sedesenha naretina bastacitarmosuma
expe-riência deMagendie:
—
« Jeprends, dizelle, (1) desyeuxdelapin, de pigeou,de1*
t petitcliicn, de hibou, deduc, dans lcsquelsla choroíde et lasclérotiquesont
« apeuprés transparentes;jedepouille exactementleurpartie posterieuredela
« graisseetdes musclesquila recouvrent,etendirigeant Iacornée transparente
« vers des objets éclairés, jc vois"assez distinctement les images de ces
«
mêmes
objets surla retine. »Magendieemprega ainda para omesmo
fim osolbos dosaniinaes albinos,
como
aquelles dos coelhos e ratosbrancos,&c,
cujaescleróticaeehoroidesãomuidelgadasequasitransparentes.
O
mesmo
resulta-doja fôraobtido por Descartes
com
um
processoum
pouco differente.Lécatem-pregava olhos artificiaes.
(li)
A
imagem
deum
objecto,estampadanaretina, é inteiramente invertida:esta inversão da imagem,
como
nas lentes ordinárias, provem de que todososraiosmedianosdos cones luminosos cruzam-se
em
um
certo pontodoeixoan-tero-posterior do olho. Esse ponto é o centro óptico, cuja posição depende
não somente dosraios de curvadura da córnea e da esclerótica;
mas
tam-bém
do poderrefrangentedo crystallino e dos raios decurvadura de suas duasfaces.
Tomadas
em
consideração essas differentes condições, acha-se que o centro óptico é situado no interior do crystallino ao pé de suaface posterior.Entretantoessa opinião, sustentadapor largotempo, temsidorefutadapor Volk-mann, quelocalisaocentro ópticonointerior do corpovitreo, apequeno
inter-vallodafaceposteriordo crystallino. Sejalá
como
for, resultado cruzamento detodos os raios medianos queos inferioresvão reunir-se
em
cima da retina, ossuperiores
em
baixo, os daesquerdaá direita, osda direitaàesquerda:—aima-gem
de cada ponto doobjecto projecta-se semprena direcção do raio medianodoconeradioso,que d'elle emana: cadaraiomediano representa opapelde
um
eixo secundário.
12) Paraque o objecto sejavisto,
convém
repetil-o, é de rigorosanecessi-dade que a sua
imagem
sepintena retina; por quanto é ella a única parte doolho que possa desenvolvera impressão visual. Todos nós
podemos
verclara-mente objectos, que oceupam no espaço logares muidifferentes, que se
acham
em
distancias mui variadas; claro está que essephenomeno
não podeprodu-zir-se semquecertasmodificaçõesseeffectuemnointeriordoapparelho davisão.
Todaviadiz Lchot quenão há precisão deque a
imagem
se forme sobre areti-na;elle aftirma queas diversas partesdo corpo hyaloide gosam da propriedade
de transmittir ao sensório as impressões de luz, que recebem:
—
paraque seveja distinctamente
em
todas as distancias basta que asimagenssedesenhem
n'essecorpo. Esta theorianão merece por
sem
duvida as honras deuma
dis-cussão séria.
(13) Das suas diversas experiências sobre o olho dos animaesalbinos
Ma-gendie(1) concluo que osvolumesrelativosdos humores aquoso e vitreo,que
a existência da córneaedo crystallino sãonecessáriospara aintegridadeda
1»
são; por isso que aextracção de
uma
dessas partes diminúeconsideravelmen-te a claresa das imagens. Magendie verificaainda que agrandes» dasimagens é
proporcionalás distancias, oque estáde accordo
com
as indagaçõesde Lécat:po-rém, se o aíTastamcnto ou approximação dos objectos faz variar a grandesa
das imagens,a claresa doesta persiste sempre amesma, qualquer que seja a
dis-tancia d'aquelles. 15 sobre esta ultima experiência (pie se funda o illustrado
physiologistapara negaranecessidade de modificações no olho paraa visão
dis-tincta emdiversas distancias. Todaviaessa persistência da claresadas imagens,
segundoJ. Mullcr, não é real para todos os casos. Simonoff, astrónomorusso,
tira
também
de suasexperiênciasamesma
conclusãoqueMagendie, isto é, quenãoémisterqueoolho
mude
deforma afim deque se vejaclaramentecm
todas as distancias.(14)
Não
sãounicamente essesdous experimentadores, que emittem a pro-posição precedente: theorias, que n'cllas se basêam, têeinsido sustentadas porescriptores notáveis.
Jcan Mile pensaque os raios luminosos centraes, indo reunir-se por
dian-te da retina, não
podem
servir para a visão,em
quanto que os raiosmar-ginaes, passando pelosbordosda iris, sofTrerão
uma
inflexão, e, poressemo-tivo,
em
vezdeum
só, formarão muitosfocos: o objecto pôde entretantomudar
de posição no espaçosem que todavia a retina deixe de coincidir
com
um
des-ses focos. Assim pois, oolho vê distinctamente, por meiodos raios
diffracta-dos,
um
objectoquenão poderiaservisto pormeio dosoutros raios. Essa theo"via peccac pecca extensamente; porque, despresando-se o maior
numero
dosraios que penetram no olho sem serem diffractados, somente a pequena
quan-tidade, que passa pelosbordos dairis,éque váe constituir a imagem: a
imagem
portanto há de experimentar
um
desfalque,uma
diminuição enormena suacla-resa, a imagem, alem óVisso,deveser perturbada e obscurecidapelos raios
cen-traesque, depois de formarem o seu focopor diante da retina, se dispersarão
e virão cair sobre esta
membrana
em
círculos diffhsos.(15)
Uma
theoriapouco dilTerentetem sidocreadaporPouillet: cila se fundanaestrueturado crystallino, cuja densidade auginenta deforaparadentro,
como
também
nas variaçõesda abertura pupillar.O
crystallino, paraelle, éuma
len-tede muitosfocos; por isso queos raios luminosos, que atravessaram as suas
camadascentraes,experimentam
uma
refracção maior doqueaquelles,queatra-vessaram o cortical. Deixemos faltaropróprio Pouillet:
«
Quand
on veut regarderhla vue simple et sans diaphragme un objet dec plus en plusrapproché,onrétrécit de plus en plus 1'ouverture delápupille;
« c'est unfaitfacile àvérifier. Le but decerétrécissementest en effetderreter
« les rayonsquitomberaient troploin du centre du cristallin, et dont la con-« vergence nepourrait avoirlieuqu'audelade larótine.
€
Quand
onveutregarderau loin,on ouvre aucontrairelapupilleautant qu'il« estpossible, afinque le faisceau incident soit large et que ecs bords
exte-« rieurs tombentprès des bordsdwcristallin. pour converger cnsuitcsurla
14
t tine..Alors,il estvrai,lapartiecentrale dufaisccau converge irop tôt; mais * répanouisseinentqu'ellepeutprendre enallantdepuis sonpointdeconvergenco
« jusqu'àlaretineesttoujourstrês pelit,etpeutd'autantmoinstroublerlavision « que1'éclatde salumière esttoujours três laiblc par rapportà 1'éclat de la lu-« mièredesbords. » (1)
(16) Asexperiênciasde
De
Haldatvêm
de algumasorteaoapoioda theoria dePouillet.Dellaldat emprega, para esse fim,
um
tubo de latão,em
cuja facean-terior existe
uma
cápsula destinada a conterum
crystallino de boi:um
segundotubo, terminado por
uma
lamina devidro despolido, é recebido pelo primeiro.Senoemtantocolloca-seovidronofocodalenteocular, obteem-seimagens
egual-mente claras dos objectos exteriores, qualquer queseja a distancia
cm
queelles se
achem
situados. « Essasexperiências, dizBéclard, sãofáceis árepro-o duzirpor meio de
uma
pequena câmara negra de daguerreotypo disposta a« essecffeito. Podc-se convencer facilmente,porsi
mesmo,
que aimagem
recc-« bidano anteparo (écran) transparente que formafoco, ainda quevisível para
«
uma
posição invariável do anteparo e para as distancias variadas do objecto»« émuitomais clara
em
certasposições do queem
outras » (2)(17) Treviranus sustenta
uma
theoria quasisiinilbantcáprecedente. Assim,admittindoellcqueo crystallinoé
uma
lente,cujadensidade decresce do centropara aperipheria, etomando
em
consideração as variações dapupilla, conclue,permeiodecálculos, quen'esseapparelbo a distancia focal da
imagem
éinva-riávelpara as differentes distancias dos objectos e que nãoháprecisão deque mudanças se effectuem no interior do olho. Todas essas theorias fundam-se
principalmentena multiplicidade defocosdocrystallino, o que mais tarde
exa-minaremos,e na mobilidade dairis.
(18J
Na
verdade apupilla sedilatapara a visão dosobjectoslongínquos ese constringepara aquella dosobjectosapproximados: há portantouma
ligaçãoin-tima entre os movimentos da iris e a visãodistincta
em
differentes distancias.Essefacto todavia, sena generalidade doscasoséverdadeiro, algumas vezesnão
oé: seráfácil verificar que, quando olhamos
um
corpodistante,porém
muilu-minoso,a pupilla,
em
vezdedilatar-se, se estreita, e esseestreitamento élevadoaté oseu ultimo ponto, até a occlusão quasi completa, quando esse corpo,
a-pesar de muiapartado denós, é,
como
por exemplo o sol, dotado deuma
in-tensidade de luz extraordinária. Se, ao contrario, procuramos ver
um
objectoapproximado aocrepúsculo da tarde ou n'uin quarto ondepenetre aluz
em
pe-quenaquantidade, a pupilla não seconcentra mais, cila sedilata. D'aqui
pode-mos
concluir que as variações da aberturapupillar estãoem
relaçãocom
ainten-sidadedaluzenão
com
a distancia dos objectos, e que, seem
geral ella seam-(1) Physique—Ed. V.—Tomo2.°—Pag.250. (2) Op.cit—Pag.656.
15
plifíeapara avisão
cm
distancia cse constringe para avisão de perto, é porqueaintensidade daluzdecresce quasisempre
com
a distanciados objectos.Uma
experiênciabem
simples provaainda quea mobilidade dairis nãoinflúesobrea visão clara
em
diversas distancias.Tomemos uma
cartae façamos noseu centrouma
abertura pouco mais pequena que a pupilla, e, depois de havel-a applicado sobre o globo ocular o maisperto possível, olhemos pelaaberturaobjectos
em
distancias variadas:—
hemos
de ver claramente todos essesobjec-tos, e entretanto a abertura, queora nosserve depupilla, não se move; secila
Dão se
move
e vemosdistinctarnente os objectos, claro estaque a mobilidadedairis não tem influenciasobrea visão
em
differentes distancias. « Sc olho, diz J.« Muller, as lettrasde
um
livro, affaslado de 15 pollegadas, atravésum
buraco« de alfinete feito
em uma
carta, que^olloco immediatamente adiante da cór-« nea, depende deminha vontade,com
essa pupilla invariável, ver distincta« ou indistinctamente. » Se assim é, mudanças
devem
produzir-se no interiordo olho, c quetaes mudançasse produzem provam as experiências seguintes.
l.°
—
Quando
se olha durante muitotempoobjectosapproximados,a vistator-na-sc obscura quando sevae olhar objectos distantes: esse
phenómeno
temJo-gar,principalmente,quandoporlargotempo setem feitousodomicroscópio. Diz
Muller que todas as vezes,
em
que se serviadesse instrumento, ficava frequen-temente cisso por espaço de muitas horas, sem poderdistinguirbem
na ruaosobjectos collocadosá 20pés de distancia.
2.°
—
Quando
se procura verum
corpo imaginário situado entre os olhos cum
livro, quese lê,todas as lettras d'esselivro tornam-se indistinctas eappre-sentam-se debaixo dafórina de
uma
massa confusa (Bcclard.)3.°
—
Gollocae perpendicularmenteenamesma
linhasobreuma
régoadepau,queseconserva horisontalmente,dous alfinetes
em
distanciasdiflerentes. Visáecom
um
sóolho as extremidades dos dous alfinetes; logo que fitardes oque seacha maisapproximado,vcl-o-cis distinctarnente, ao
mesmo
tempo queomaisaffastadoparecerá confuso e nebuloso:—o contrarioterá logar quando fitardes
o que estiver mais longe.
A
imagem
do alfinete, que se fixa, vaepintar-se naretina"a
imagem
do outro, pelo contrario, pinta-se pordianted'ella evaeattin-gil-a por meio de círculos dediffusão. Paraque vejamos claramente ora
um,
ora outro é mister,
como
muitobem
diz Muller, deum
esforço voluntário, quese faz sentir noolho.
4>o_Scheinerpratica n'uin papel
com
uma
agulha dous buracos, separadospor
um
espaçomenor
que o diâmetro dapupilla, ecom
um
só olho fitaatra-vés os dous buracos
um
pequeno objecto: haveráuma
certa distanciaem
queesse objecto é visto simples,
áquem
ou alemda qualelle parecerá duplo.É
evidente queos pincéisluminosos, queatravessaramasduasaberturasdopapel,
depois de percorrerem isoladamente oglobo ocular, irão reunir-sc
em
um
cer-to ponto: quando esse ponto coincidir
com
a retina,o objecto parecerá único;10
atràz da
membrana
sensível. Se desprcsassemos opapel e olhássemosdirecta-menteo objecto, vel-o-iamos distinctamente
cm
todas essas diversas distancias.llã por conseguinte circumslancias,
em
queaimagem
não seproduz na retina:a visão não far-se-à clara e satisfatoriamente toda vez queo globo ocularnão
se poder adaptar convenientemente às distanciasdosobjectos.
(19) Admittindo
como
real o facto da adaptação dos olhos, exponhamos aspiincipacs theorias, quese têemcreado, e vejamos depois qual mereceanossa
preferencia. Antes, porém,de começarmosesse estudo, não nos parece
desne-cessáriosaber qual a extenção dasmudanças, que fazem-se mister no olho
pa-raavistadeperto edelonge; entretanto deixemos fallar o illustrc
physiolo-gista italiano:
« Referindo-se aos cálculosdeOlbers, dizMateucci, seriapreciso para que a
visão fosse egualmente distincta
em
distancias mui differentes, desde quatro« pollegadas até
um
numero
immensamente maior, que ointervallo docrystal-« lino á retina podesse variar pelo
menos
de^
de pollegada, persistindo a «mesma
a convexidade da córnea e do crystallino.O
mesmo
resultado seria« obtido, suppondo quevarieaconvexidade da córnea e do crystallino, ficando
« invariável a distanciado crystallino áretina. Olbers tem egualmente achado
t que avisãoseria distincta noslimites, que viemosdedizer, se o raio da
cór-« neapodesse
mudar
de-| de pollegada pouco mais ou menos. » (1).A
visãoem
todas as distancias será porsem
duvida distincta,quer variandoa distancia quevaedos meios refrangentesdo olhoàretina, quer
modificando-se acurvadura d'esses differentes meiose por tantoo seu poder de refracção.
(20) CriaOlbers queos músculos rectos, por meio de contracções
simultâ-neas, podiam comprimir o globodoolho, produzindo d'est'arte o allongamento
doeixoantero-posterior: será fácil, porém, demonstrar, attentando para as
in-serções d'essesmúsculos, quesimilhante allongamento não poderá jamais
ef-fectuar-se.
Os
músculosrectosteemuma
inserção posteriorfixae duasanterio-res,
uma
fixa norebordo orbitarioeoutra movei sobre a esclerótica. Se essesmúsculos secontrahirem simultaneamente, não poderãocomprimir o globo
o-cular;elleso attrairãoparao fundo da órbita: o globodo olho será pois
leva-do de encontro á aponevrose deTénon, que, r:ui fortee resistente, opporá
um
obstáculoá sua progressão,dando
em
resultado o seu achatamento.O
achata-mento doolho não poderá favorecer sinão á visão de
um
objecto affastado,noqualépequenaa distanciafocal daimagem:
quem
ignora,porém, que o esforçodeaccommodação dos olhossó se produz, quandobusca-severoscorpos appro-ximados?
E
demais, admittindomesmo
(o que nãoé verdade) que osmúsculosrectostenhampor acção o allongamento do globo ocular, para que víssemos
I*
bem
um
objecto collocadoá 3 pollegadas do olho, limite davisãodistincta,«se-« ria necessário,
como
dizHerscbcll(1), queo globooculartomassea forma de«
um
ellipsoide, cujogrande eixo fosse mais longo deum
septimo do que not estado ordinário, extensão queparece incompatível
com
a força eduresa da« esclerotica.
»
(21) Outrosphysiologistas, tacs
como
Lccamus, Rohault, Luchtman, Schroe-der van der Kolk... . etc, têemdespresado aacção dos músculos rectos eat-tribuidoaos oblíquos a compressão e oallongamento do globo ocular.
Exa-minando os pontos de inserção d'esses dous músculos, ver-se-á que
ambos
elles rodamoolho
em
torno do seu diâmetroantero-posterior: «seellesobram
« conjunctamente, diz Richet, seusmovimentos de rotação se neutralisam eo t olho seguea resultante de suas acções combinadas, isto é, projecta-se para
« dianteepara fora.»
É
possível que os músculos oblíquos tragamo globo ocular de encontro áparede interna da cavidade orbitaria, produzindo d'esse
modo
uma
compressãoe conseguintemente o seu allongamento. Certo
éque
na visão dos objectos ap-proximados os olhos convergem e essa convergênciapôde sero resultado da contracção simultânea e combinada d'esses músculos;mâs ainda aquipodemos
applicar a objecção de Herschcll acimacitada e, se essa nãofôr sufticiente,
di-remos que J. Mullcr, instillando algumas gottas deextracto de belladona sobre
a conjunctiva, alem da dilatação pronunciada da pupilla, ha determinado
uma
mudança
notável na adaptação dos olhos.Não
poder-se-á dizer que essamu-dança provenha da acção da belladona sobre osmúsculos oculares; porque
es-tes continuam a actuar livremente,
movendo
o olhoem
todas as direcções possíveis.(22) Algunsauetores têem fundido n'uma só asduas theorias precedentes, admittindo que os músculos rectos se contrahem produzindoo encurtamento
do eixo principal doolho,paraa visãoaolonge:
—
e que oallongamento d'esseeixoéproduzido pelascontracções dos músculosoblíquos, paraa visão de
per-to. Estalheoria é sujeitaás
mesmas
objecçõesqueas duas outras.(23)
Ramsden
pensa queosmúsculos ocularespodem
comprimiro globo doolho e que essa compressãoé transmittida aosfluidos interiores, que reagem
so-brea córnea, augmentando asua convexidade:
Home
e Englefield partilham da suaopinião.Na
verdade affirmaCramptonterencontrado naáguia eem
ou-tros pássaros
um
musculo, que, extendido do circulo anterior da escleroticaaté a córnea, pôde diminuir pela sua contracção a convexidade d'esta ultima
membrana
c augmenlal-a pelo seu relaxamento.Em
primeiro logar essemus-culo nãotem sido encontrado
cm
outros animaes,nem
tão pouco nohomem:
em
segundo logar vc-se, pelos resultados de Olbers, que é necessário quea(IJTraitedelalumiérc—Trad. de VerbulstcQuetclet.Tomo]-pag. 181.
curvadura da córneavaiiede
y-de pollegada para a visão distincta
em
distan-cias variadas: ora, os músculosnão possuem força conveniente para
promo-ver
uma
tal modificação.Pondode lado,porém,essasverdades,recorramos áauetoridade deDellaldat,
cujas experiências contradizempoderosamente a theoriade Ramsden.
—
O
sá-bio physico, submettendo a
uma
compressão methodica os olhos dos animaesafim deaugmentar a convexidade da córnea, verificou que esse augmento não
podia ser conseguido,
sem
que estamembrana
se tornasse mais oumenos
opaca: a opacidade, pois, da córnea é o resultado immediato e irrefragavel
do seu augmento de curvadura,e essa experiência só tem bastante energia
para lançar porterra a theoria que examinamos. Entretantonão paremos ahi,
vejamos
Thomaz Young
queacaba pordesmoronal-atotalmente.Young manda
um
individuo, que se conserva immovel, fitarcom
um
sóolho objectos collocados
em
distancias diversas enamesma
direcção, e aomesmo
tempo elle observacom
uma
lunetta microscópica de forçaconve-niente
uma
imagem
virtual reflectida sobrea córnea.É
evidente que, se variara convexidade destamembrana, as dimensões da
imagem
variarãoconjuncta-nitínte:
—
amudança
nasua grandesa seria appreciavel, quandoacurvadura dacórnea attingisse
~
depollegada. EntretantoYoung
não viu nunca modificaçãoalguma n'essa grandesa.
Aindapoderíamosobjectar ã theoria de
Ramsden
com
aexperiência deMúl-ler, anteriormente enunciada; detanto,porém, não precisamos nós.Vê-se
bem
que essa theoria é vulnerável
em
todos os sentidos;prosigamos, pois, no nossoitinerário.
(24)Pravaz tem formulado
uma
explicação, que poucodifferedasanteceden-tes.
A
contracção uniforme e simultâneade todos os músculosdoolho, rectos«
oblíquos, dáem
resultado oallongamento d'esseorgam
pela compressão quen^lle exerce, epor consequência não sófica mais convexaa córnea
transpa-rente;
mâs
aindatemlogaruma
impulsão paraadiante docrystallino, cujacur-vaduraéegualmente augmentada.
Os
músculos entramem
acção para a visãodos objectos approximados, ellesserelaxam para a visão
em
distancia.—
Bastaattentar
um
poucoparaver queda contracção dos músculos oculares nãopôderesultar oque Pravaz pretende: e demais,quasi todas as objecções, que temos
feito ás outras,
também
a esta theoriapodem
serapplieadas.(25) Depois de haver demonstradoa invariabilidadeda convexidade da córnea,
Th.
Young
attribue ao crystallino a faculdade demudar
de formaetomar-semais convexoparaavisãodeperto.
O
crystallino, para elle, éum
musculoque, pelas suas contracções,pode tornar o seu eixomais oumenos
longo.Young
basêa-se
em
Hunter, queadmittia a contractilidade d'essecorpo: se ha,porem, na economiaanimal,como
diz Béclard,uma
partenão muscular, éporcerto ocrystallino.E, na verdade,
ébem
difficileonceber-se contractilidadeem
um
f»
provado.
E
depois, qual será oagenteincumbido de pôrem
acção essacontrac-tilidade, quandoa lenteocular éinteiramente desprovida de nervos?Pôde
cor-trahir-se
um
tecido,um
musculomesmo, sem
ser influenciadoporum
excitan-te, eo excitanteporexcellenciadosmúsculos nãoé osystema nervoso?
Não
sa-be-sc que
um
musculo, apesar de ser contractil porsimesmo,
c todaviapa-ralysado, quando n'elle se extingue a influencianervosa?
Mau
grado aaueto-ridade deHerschell, (1) que, abraçando a opinião deYoung, busca
justifical-a, comparando o tecido do crystaHinoàquelte decertos animaes transparentes,
que pôde rnover-se e obedecer ao estimulo nervoso
sem
que n'elleexistammúsculose nervos,.
com
tudoessa theorianão nos pareceverosimil.(26)Forbes explica a
mudança
deforma do crystallinoporum
mechanismodifferente. Segundo este physico,
uma
lentede núcleoresistente e bordosgela-tinosos,
como
éo crystallino, devemudar
de curvadura ede foco, sendosub-mettidaá
uma
pressão hydrostaticauniformeem
toda asua peripheria.X
com-pressãodogloboocular,determinadapelacontracção de todosos seus músculos,
étransmittidaaosfluidos doolho: o crystallino, fluetuando livremente entre o
humor
aquosoe o corpo hyaloide, é comprimido de todos os lados por essasduas substancias, torna-se mais espherico e adquire
um
poder refrangentemais consideravol.
Esta theoria, por
sem
duvida ingenhosa, pecca; por isso que se funda nacontracção dos músculos oculares:—já vimos anteriormente que o extractode
belladona, deposto sobre a conjunctiva, difficulla eperturba a adaptação dos
olhos,
sem
abolir a acção dos músculos. Demais,como
o dizem Béraud (2) eLonget (3), as experiênciasfeitas pelo próprio Forbes sobre o crystallino do
boi não foram seguidas desuecesso.
(27) Outros auetores hão explicado a questão, que nos oceupa, pela
trans-lação para diantedatotalidade do crystallino:essa translação é causada,
segun-do Kepler, pelaacção do corpociliar:—Scheiuer, Lécat, Porterfleld...&c.
pro-fessam
uma
opinião pouco mais oumenos
similhante. Jacobson pretendeque essa progressão anterior do crystallino é facilitadapela passagem do
humor
aquoso da câmara posterior, através ocanalde Pétit, para o segmentoposteriordo olho, ondesevae pôr
em
contactocom
ocorpovítreo: o canal dePétit seriapois perforado de muitos orifícios.
Esta theoria foracertamenteadmissível, se a translação anteriorde
crystal-lino não fosse vedada pela adherencia intima da crystalloide ázona ciliarde
Zinn.Quantoà existência de orifícios no canal de Pétit, é apenas
uma
hype-theseainda não sanecionadapela experimentação: Blandin nãoospoudeverificar
com
o auxilioda insufflação.(1)Op.CiUT.1—Pag. 182.
(2) Phlslologie.-Ed.2-Tomo 2.—P«.T.02. (i)Phiiiologic.-Ed.2-Tomo2.-Pg,415.
»
o
(28)
A
progressãoanteriordo crystallinofoi rcgeitada por algunsphysiologis-tas,osquaes admiltiramasua locomoção para atraz:
—
é unia opinião estribadana existência
em
todos ospássaros damembrana
pente (pecten, marsupium.)Estamembrana, negra
como
a choroide, parte da retina, atravessa o centro docorpovitreo e vae sefixar nafaceposteriordo crystallino. Pelasua contracção
ella deve approxiraar essa lenteda retina e affastal-a ao contrariopelo seu
re-laxamento. Se Magendie (1)e Drappiez (2)
pensam
ser esta a sua acção, Des-moulinsa consideracomo
impedindo a luzde chegaraum
ponto particular daretina.
« Parece quec porerro, dizo sábio naturalista allemão C. G. Carus,(3) que
t hãoattribuido
uma
estructuramusculosa â esseorgam(pente,) cujos usosno« olho do pássaro são os
mesmos
que aquelles dos vasos centraes daretina« humana, que vão ao corpo vitreo e
em
parte ácápsula do crystallino. »Se-ja lá, porém,
como
for, essamembrana
não existe nohomem,
e édifficilcon-ceberedemonstrar
como
osprocessos ciliares, eminentemente vasculares,po-dem
imprimirmovimentos à lente crystallina.(29)
De
todas as theorias que conhecemos, aque nos parece melhor,maisrasoavele
menos
sujeita auma
objecção séria,ésem
duvida alguma aquellaemittida por Béclarde Longet nas suasphysiologias e baseada nas
experiên-cias deCramere de Helmhotz.
Collocae a
chamma
deuma
velaem uma
certa distancia do olho: heis deverdentrod'elletrêsimagens d'esta
chamma.
A
primeira eanterioréuma
imagem
virtuale originada peloespelho convexorepresentadopelacórnea; essa
imagem
seráconsequentementedireita.
A
segunda emediaéuma
imagem
realeinver-tida: asuaproducçãoédevidaá reflexão dosraios luminosos sobreaface
poste-riordo crystallino, que obra
como
um
espelho côncavo.A
terceira eposteriorserá outra vezvirtual e direita, resultando da reflexão da luz sobrea face an"
teriordocrystallino, querepresenta,
como
a córnea,um
espelho convexo.As
posiçõesd'essas imagens
dependem
indubitavelmentedo graudecurvadura dos espelhos, que asengendraram: se por ventura,n'um
momento
dado, variar a curvadura dealgum d'elles,uma
mudança
deposição terá logarnaimagem
cor-respondente. Cramer tem observado, por meio do ophtalmoscópio,
mandando
um
individuoora fitarum
objecto distante, oraum
approximado, que naoc-easião
em
que elle fixa o segundo, háuma
progessão para diante daimagem
posterior,progressãoque não pôdeeffectuar-se certamente,
sem
que afacean-terior do crystallino se projecte para diante.
As
duas outras imagens, ficandoem
suasposições respectivas, oobservador élevadoa crerque acórnea e afa-ce posteriordo crystallino se conservaram immoveis.
(1)Op. Cit—T. 1-Pg71.
(2)Diccionairc desseiences nalurcllcs—T. 8—Pg. 71. (3) Anatomie comparóe.Trad.de JouidanT. 1—Pg.249.
«I
Ilelmhotz confirma a experiência de Cramer; mas, não contente
com
isso,procura ver se não há
mudança
na grandesa das imagens: não foram vansassuas tentativas.
Com
o soccorro deum
instrumento de extrema precisão, oophtalmometro, elle verifica que, se não há
uma
locomoção daimagem
media,hátodavia
uma
diminuiçãode grandesa Ora, essadiminuição de grandesa nãopôdeprovir sinão de
uma
diminuição do raiode curvadura da face posteriordocrystallino.
Pela simples discussão de
uma
fórmulaalgehrica se pódc chegar á verificaçãod'eásc facto.
Supponhamos
que o representao objecto;í—
a suaimagem;r—
o
raiode curvadurado espelho;
í—
a distanciadoohjecto ao centro de curvadura;«—a
distancia daimagem
aessemesmo
centro, eu—
a distanciadaimagem
aoespelho:—teremos a proporção seguinte o: i:: t: v: logo
í=-j
:-E
claro quev=r—
u: substituindo, teremosi=
-2£=HL Suppondo que o valorderdiminua,necessariamente diminuiráo valor de i: representandor oraio de curvadurado
espelho ciaimagem, segue-seque o raiode curvadura diminuindo, diminuirá egualmcnteagrandesa daimagem: ora, a diminuição do raio de curvadura traz
comsigooaugmento de convexidade doespelho; por issoqueacurvadura de
um
segmentode esphera estána rasão inversa do seu raio. Esse augmento de con-vexidade do espelho, representado pela face posteriordocrystallino, foi
justa-mente oque teve logar, traduzindo-se pela diminuição da
imagem
correspon-dente.D'essas experiências sepódc concluir que, na visãode perto, ha não só
um
augmentode curvadura da superfície anteriordocrystallino,
como
odemonstrou Cramer;mas
ainda, segundo Ilelmhotz, asuasuperfície posterior participad'es-se augmento, se
bem
queem
menor
escala.O
crystallino poisse approxima dafórma°espherica, seus bordostendemá conchegar-separa o centro, seu tecido
torna-se mais denso emaisespesso.
O
espessamentoantero-posterior docrys-tallino êdepoucomais ou
menos
0,ra.m.-í, o que basta, segundo Helmhotz,para a visão distincta
cm
todas as distancias.(30) Certo ninguém desconhece que é na visão dos"corpos
approximados que
sentimosnointerior dos olhos
um
esforço, esforço quevae atéa converter-seem
dor, quandoé diminutaa distancia do objecto, que tentamosver: c issotanto éassim, que, quando porlargo tempofitando
um
corposituado aolonge,olhamos rapidamente para outro, que está visinho de nós, para distmgml-o
serámister
um
certo espaço de tempo. «A construcção óptica do olho,como
« diz Béclardcom
muitarasão, parece disposta detalsorte que, noseuestado « de repouso,o focodos raiosluminosos sobrearetina corresponde ávisaodos« objectosaftastados.
.-Quem
haquenãosintano orgamvisualum
estadode
bem
estar,uma
impressão suave e salutar, quando, depois de haver lidopor muitas horas ouexaminado attentamenteum
corpo pequenino,espairece asua
vista por
uma
campinaextensa?Admiltido que seja navisão depertoque tenha logar a adaptação dos olhos,
conclue-se que,sendo n'csse casomais longaa distancia focal daimagem, será
necessária nos meios doolho
uma
modificação que tenda a imprimir nosraiosluminosos
uma
convergência maior: ora, oauginento deesphencidade docrys-tallinotorna maispronunciado o seupoderrefrangente, diminúe por
conseguin-tea distanciafocal da
imagem
quevaecoincidircom
amembrana
nervosa.Provadoestando o augmento das curvaduras dalente ocular econcordando
esse facto exactamente
com
ophenómeno
daaccommodação
dos olhos, restaexaminarmosdeque meioserviu-seanaturesapara determinal-o.
O
annel ciliar dos auetores, sobre cuja estruetura hãosempredescordado os anatomistas, é actualmente considerado, conforme o demonstraram Brúcke eBowmann, como
um
verdadeiro musculo defibras lisas,musculo a que opri-meiro auetor deu o
nome
detensordachoroidee osegundodemusculo ciliar.Kõlliker, Rouget e Reeken
&c,
hão confirmado pelas suas experiências aopinião dos dous celebres anatomistas. Será fácil conceber que a contracção
d'essemusculodeve comprimiros bordos gelatinosos do crystallino,que cedem,
conchegam-se para o centro, dando
em
resultado o maiorabobadamento das duas curvaduras dalente.(31) Estatheoria, abraçada por Béclard eLonget,pôdenão ser averdadeira.
Ninguém
hacertamentequeaffiancecom
firmesa, segurança e consciência queanaturesa temfeitoisso e não aquillo.
O
universocum
Dédalo monstruoso, on-dese perdeaintelligencia humana: é omysterio osello gravado por Deusem
todasassuas cieaturas.
O
quehojecremos seruma
verdade,um
factoincontes-tável,
uma
conquista grandiosa do entendimento, amanhan,com
o avançar doprogresso, reconhecemos
com
dor seruma
mentira,uma
hypothese,uma
de-cepção.Após
Ptolomeusegue Copérnico; apósCopérnicovem
Galileu;apósGa-lileuapparece Kepler; após Kepler surgeNewton; após
Newton
vem
Laplace.E
quem
sabe se as própriasverdades irrecusáveis, incontestáveis,demonstra-das paranós,filhosdaTerra, não seriam absurdosinqualificáveis enão
exci-tariamorisodeseresmaisperfeitos, dos habitantes de
um
planeta superiorao nosso?Quem
sabequanto Deusnão se diverte ánossacusta, ácusta de nossas crenças?! Entretantoconvém
nãodescrerdetudo, e, tornando ao nossoassump-to, veremos que alguns factos faliam eloquentemente
em
prol da theoria queabraçamos.
Magendie temverificado que a extracção ou oabaixamento do crystallinofaz
com
que aimagem, quese formano fundodo olho, torne-se pelomenos
quá-drupla d'aquella que se produz
n'um
olho inteiro posto nasmesmas
relaçõescom
o objecto,mas
ella émal-terminada e a luzquea constitúe é muitofra-ca. Essa
má-
terminação da imagem, observada por Magendie, e a fraquesada luz, que a produz,
podem
fazer crerque os seus difterentes pontos focaesnão coincidiram realmente