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Revisitar o Castelinho

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Academic year: 2021

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(1)FACULDADE DE ARQUITETURA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA. REVISITAR O CASTELINHO Reabilitação e reconversão do Castelinho no centro de divulgação e ampliação do centro de investigação da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa Catarina Ferreira Ferreira (Licenciada em estudos arquitectónicos) Documento Final do projeto para a obtenção do grau de Mestre em Arquitetura Equipa de Orientação: Professora Doutora Bárbara Massapina Vaz Professor Doutor Miguel Baptista-Bastos Júri: Presidente: Professora Doutora Madalena Cunha Matos Vogal: Professor Doutor Daniel Jesus Lisboa, dezembro 2015.

(2) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. REVISITAR O CASTELINHO Reabilitação e reconversão do Castelinho no centro de divulgação e ampliação do centro de investigação da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Catarina Ferreira Ferreira (Licenciada em estudos arquitectónicos) Documento Final do projeto para a obtenção do grau de Mestre em Arquitetura. Equipa de Orientação: Professora Doutora Bárbara Massapina Vaz Professor Doutor Miguel Baptista-Bastos Júri: Presidente: Professora Doutora Madalena Cunha Matos Vogal: Professor Doutor Daniel Jesus Lisboa, dezembro 2015. I.

(3) REVISITAR O CASTELINHO. II.

(4) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. RESUMO Tí tulo Rev isi ta r o Castel inho Reabilitação e Reconversão do Castelinho no Centro de Divulgação e Ampliação do Centro de Investigação da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Nome. Este Projeto Final de Mestrado desenvolveu-se a partir de um interesse inicial por um edifício oitocentista, conhecido por Castelinho, inserido na Cidade Universitária de Lisboa, exposto ao abandono, apesar de ter correspondido à primeira ocupação da Cidade Universitária. Revisitar aquela memória da Cidade Universitária, fez compreender muitos dos problemas, ainda por solucionar. A contribuição para um debate sobre o que este campus necessita e sempre ambicionou é o objetivo desta análise e proposta arquitetónica.. Catarina Ferreira Ferreira. E qui pa de O ri entaç ão Professora Doutora Bárbara Massapina Vaz Professor Doutor Miguel Baptista-Bastos. Mestrado Integrado em Arquitectura Lisboa, dezembro 2015. Com o Castelinho em mente e o desejo de muitos de recuperar a sua memória, propõe-se intervir simbolicamente, no território da Faculdade de Farmácia, desenhando uma linha urbana que liga o polo principal, o novo edifício do Centro de Investigação e Auditório e o Castelinho. Esta regeneração urbana procura contribuir para melhorar a qualidade ambiental do campus universitário e para uma Cidade Universitária mais unificada. O Centro de Investigação, o Auditório e a reabilitação do Castelinho proposto são respostas às necessidades materiais e imateriais da Faculdade de Farmácia, uma ambição cultural e social que se pretendia há muito tempo. Sendo a Cidade Universitária uma parte integrante da cidade é preciso reconhecer o seu papel na nossa metrópole. Tendo sido decidido este campus na cidade, a sua reintegração urbana e funcional é imperativa. Neste gesto inicial proposto pretende-se o início de uma regeneração urbana unificante para a Cidade Universitária. Conceitos-Chave: Castelinho, Faculdade de Farmácia, Património, Reabilitação, Renovação, Centro de Investigação. III.

(5) REVISITAR O CASTELINHO. IV.

(6) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. ABSTRACT Ti tle Ca ste linho Rev isi te d Rehabilitation and transformation of Castelinho in Promotion Center and expansion of the Pharmacy Faculty Research Center of the Lisbon University. Na me Catarina Ferreira Ferreira. A dvisor Te am Teacher and Doctor Bárbara Massapina Vaz Teacher and Doctor Miguel Baptista-Bastos. Integrated master in Architecture Lisbon, december 2015. This Master´s degree Project was developed from an initial interest in a 19 thcentury building known as Castelinho that is encompassed within the current campus at the University City in Lisbon and which, despite having been ground zero of this campus, now finds itself effectively abandoned. By revisiting the memory of the University City, we can discover the solutions to many of today´s issues. To make a contribution to a debate on what this campus needs, and has always aspired to, is the aim of this analysis and architectonic proposal. With the Castelinho in mind, and the desire of many to restore its memory, a symbolic intervention is proposed within the Pharmacy Faculty area, drawing an urban line that connects the main building with a new Research Center and Auditorium, and the Castelinho. This urban regeneration is a contribution to improve towards a better environment and a more unified University City campus. The proposal for the Research Center and Auditorium and for the rehabilitation of the Castelinho responds to the material and non-material needs of the Pharmacy Faculty, a cultural and social ambition, so long awaited. With the City University being an integral part of the city of Lisbon it is important to recognize its role in our metropolis, and, having been deliberately envisaged as a city campus, its urban and functional reintegration is a must. This initial proposition seeks to be the first step towards achieving the start of a unifying urban regeneration of the University City campus in Lisbon.. Keywords: Castelinho, Pharmacy Faculty, Heritage, Rehabilitation, Renovation, Research Center. V.

(7) REVISITAR O CASTELINHO. 1. Fotografia da turma de 1984. A gratidão é a memória do coração. Antístenes. VI.

(8) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. AGRADECIMENTOS O trabalho final de mestrado, apesar de ser o culminar deste segmento da vida, não se resume à investigação de uns meses sobre o presente tema, mas sim um ponto e vírgula num processo de aprendizagem que se desenvolveu ao longo dos últimos cinco anos. Agradeço a todos os que puderam contribuir para o aumento do meu conhecimento e entusiasmo na arquitetura. Gostava de agradecer ao Professor Doutor José Aguiar, por me ter introduzido este tema pelo qual me apaixonei instantaneamente. Em primeiro lugar à Professora Doutora Bárbara Massapina e ao Professor Doutor Miguel Baptista-Bastos pela orientação, pelo empenho, pela dedicação e pela confiança que depositaram em mim e no meu trabalho, sem os quais isto não seria possível. Ao professor Paulo Pereira e ao professor Victor Lopes do Santos, que sempre que necessário davam o incentivo extra para a continuação da elaboração deste trabalho, que o torna mais rigoroso e completo. Em segundo lugar, gostaria de agradecer à Professora Matilde Fonseca e Castro, diretora da Faculdade de Farmácia de Lisboa, e a todos dentro desta instituição, pela sua disponibilidade e entusiasmo no meu tema e por toda a colaboração prestada no meu caso. À turma de 4º ano de interiores do Professor João Pernão e à turma do 4º ano C da Professora Bárbara Massapina, do ano lectivo 2014-2015, pelo levantamento efectuado ao Castelinho, que proporcionou uma base sólida para uma melhor compreensão do meu projeto. Ao Professor Doutor Hermenegildo Fernandes, pela paciente revisão, amizade e permanente acompanhamento desde sempre. Ao LPR – FAUL pela disponibilidade e simpatia, sempre com um resultado excelente para acompanhar e melhorar a rapidez do nosso trabalho. Aos amigos, que me acompanharam desde criança e aos que conheci no início e ao longo desta jornada, que dão cor aos momentos mais cinzentos. Quero agradecer também aos meus pais, quem sempre foram o meu grande apoio desde sempre, por todo o entusiasmo e palavras reconfortantes que me tornaram uma melhor pessoa, e à minha jovem irmã que sempre que era necessário explicava-me, novamente, a perspectiva mais naïf da vida, que este mundo pragmático por vezes não nos permite. Por fim, quero agradecer aquela pessoa que uma vez me disse para tirar os olhos das estrelas durante um dia da minha vida, e olhar para todo o mundo que me rodeia e que foi o ponto de viragem no meu interesse nesta terceira arte. Obrigada.. VII.

(9) REVISITAR O CASTELINHO. VIII.

(10) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. ÍNDICE. 1. INTRODUÇÃO. 3. 2. QUE CIDADE, QUE UNIVERSIDADE?. 7. 2.1 Breve História da Universidade na Cidade. 8. 2.2 Do Castelinho à Faculdade de Farmácia. 11. 2.3 Do Castelinho à Cidade Universitária de Lisboa. 19. 3. ESTADO DA ARTE. 36. 4. PHARMACIA AEDIFICARE. 43. 4.1 Ícone de Memória. 44. 4.2 Uma Nova Memória. 45. 4.2.1 O caso de estudo do Estúdio Fotográfico de Carlos Relvas. 46. 4.2.2 O caso de estudo do CAMB. 49. 4.3 Centro de Investigação Institucional. 52. 4.3.1 O caso de estudo do ICNAS | COIMBRA. 54. 4.3.2 O caso de estudo do Laboratório de Química | MIT. 56. 5. ...PODEMOS MUITO MAIS DO QUE IMAGINAMOS. 59. 5.1 Do Castelinho ao verdadeiro problema. 60. 5.2 Uma Universidade unida, uma Farmácia unida. 61. 5.3 O Amado Castelinho. 63. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS. 73. 6. FONTES E BIBLIOGRAFIA. 77. 7. ANEXO. 83. IX.

(11) REVISITAR O CASTELINHO. 2. Fotografia de um detalhe do torreão do Castelinho, 2015. X.

(12) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. ÍNDICE DE IMAGENS 1. Fotografia da turma de 1987-88, in CENTAEFFUL; AEFFUL; uma história feita de estórias; 1ª Edição; Lisboa; Multitema; 2015. 2. Fotografia de um detalhe do torreão do Castelinho elaborada pela autora, 2015 3. Terreno da antiga quinta das freiras, Vendo-se a Faculdade de Farmácia, Fernando Matias, 1959, in Arquivo fotográfico de Lisboa. 4. Detalhe da atual zona da Cidade Universitária ilustrada no levantamento Silva Pinto, 1911, in VIEGAS, Inês Morais; TOJAL, Alexandre Arménio Maia; Catálogos do Arquivo de Lisboa – Levantamento da Planta de Lisboa: 19041911; Lisboa; Câmara Municipal de Lisboa – Direcção Municipal de Cultura – Arquivo Municipal de Lisboa. 5. Obras de pavimento, construção da Avenida das Forças Armadas, Com a Faculdade de Farmácia e o Hospital Santa Maria ao fundo, Judah Benoliel, 195_, in Arquivo fotográfico de Lisboa. 6. Fotografia da tapeçaria mural de Manuel Lima, presente na Faculdade de Letras, Ana Pascoal, 2011, in memoria.ul.pt. 7. Fotografia da Faculdade de Letras e Academia das Ciências de Lisboa, in Dores, Hugo; A História na Faculdade de Letras de Lisboa (1911-1930); Lisboa: FLUL; 2008. 8. Fotografia tratada da Faculdade de Ciências, 1911, in museus.ulisboa.pt. 9. Fotografia da Escola Médico-cirúrgica, onde a Escola de Farmácia funcionava em anexo, autor desconhecido, 1911, in CENTAEFFUL; AEFFUL; uma história feita de estórias; 1ª Edição; Lisboa; Multitema; 2015. 10. Fotografia da fachada principal, 1933, in CENTAEFFUL; AEFFUL; uma história feita de estórias; 1ª Edição; Lisboa; Multitema; 2015. 11. Quinta da Torrinha, parcela N9 do levantamento Silva Pinto, 1911, in VIEGAS, Inês Morais; TOJAL, Alexandre Arménio Maia; Catálogos do Arquivo de Lisboa – Levantamento da Planta de Lisboa: 19041911; Lisboa; Câmara Municipal de Lisboa – Direcção Municipal de Cultura – Arquivo Municipal de Lisboa. 12. Esboço da Reitoria in Arquivo Pardal Monteiro arquitectos. 13. Fotografia da Galeria da Reitoria, 2012, elaborada pela autora 14. Esboço da Cidade Universitária, in Arquivo Pardal Monteiro arquitectos. 15. Blueprint do projecto do Castelinho, autor desconhecido, 1892, in Arquivo Municipal de Lisboa. 16. Aguarelas da proposta para a Escola de Farmácia pelo Arquiteto Amílcar Silva, in memoria.ul.pt. 17. Fotografia do Laboratório do Pavilhão de Biologia, s/d, Ana Pascoal, in Biblioteca Faculdade de Farmácia, UL. 18. Fotografia do Laboratório de alunos de Farmacognósia, in Biblioteca Faculdade de Farmácia, UL. XI.

(13) REVISITAR O CASTELINHO. 19. Fotografia do Pavilhão de Tecnologia, in CENTAEFFUL; AEFFUL; uma história feita de estórias; 1ª Edição; Lisboa; Multitema; 2015. 20. Fotografia interior de um laboratório do Pavilhão de Tecnologia, in Direção de Serviços de Documentação e Arquivo da Secretaria-Geral do Ministério da Educação e Ciência, s/d. 21. Fotografia do Pavilhão de Biologia, in Direção de Serviços de Documentação e Arquivo da Secretaria-Geral do Ministério da Educação e Ciência, 1970-71. 22. Planta da Faculdade de Farmácia, 1997, in FERREIRA, Raúl H.; Raúl Hestnes Ferreira projectos 1959 – 2002; Porto: Asa; 2002. 23. Planta da Faculdade de Farmácia representando a parte construída do projecto, 1997 in FERREIRA, Raúl H.; Raúl Hestnes Ferreira projectos 1959 – 2002; Porto: Asa; 2002. 24. Maquete à escala 1:1000 com a envolvente urbana próxima do Castelinho, elaborada pela autora 25. Fachada Principal da Villa Chiericati, Palladio, elaborada pela autora, 2012 26. Divisão interna da Villa, obdecendo a todas as premissas clássica que Palladio tratou, elaborada pela autora, 2012 27. Perspectiva Geral da Villa, elaborada pela autora, 2012 28. Opere di Giovanni Battista Piranesi, Francesco Piranesi e d’Altri; Firmin Didot; Freres, Paris, 1835-39 29. Fotografia do Castelinho, 1968, in CENTAEFFUL; AEFFUL; uma história feita de estórias; 1ª Edição; Lisboa; Multitema; 2015. 30. Fotografia de um laboratório do Castelinho, autor desconhecido, 1935 31. Fotografia de Carlos Relvas, elaborada pelo próprio, 1870 in Coleção Carlos Relvas. 32. Fotografia do estúdio de Carlos Relvas, elaborada pelo próprio, 188-, in Coleção Carlos Relvas. 33. Fotografia do estúdio adaptado para habitação, de autor desconhecido, s/d 34. Fotografia da reabilitação elaborada pelos arquitectos VM-SA, FG+SG, 2007 in CAMPOS, Nuno; Guia de Arquitectura Espaços e Edifícios Reabilitados; 1ª Edição eVida; 2012. 35. Publicidade relativa à Casa-Museu-Estúdio Carlos Relvas, patrocinada pela Câmara da Golegã, 1981 in Câmara Municipal da Golegã. 36. Ampliação derivada da reabilitação da Casa-Estúdio Carlos Relvas, FG+SG, 2007 in CAMPOS, Nuno; Guia de Arquitectura Espaços e Edifícios Reabilitados; 1ª Edição eVida; 2012. 37. Fotografia da fachada principal da Casa-Estúdio Carlos Relvas, FG+SG, 2007 in CAMPOS, Nuno; Guia de Arquitectura Espaços e Edifícios Reabilitados; 1ª Edição eVida; 2012. 38. Pormenor da parte do estúdio em ferro e vidro, FG+SG, 2007 in CAMPOS, Nuno; Guia de Arquitectura Espaços e Edifícios Reabilitados; 1ª Edição eVida; 2012. 39. Escada em caracol do interior da Casa-Estúdio, FG+SG, 2007 in CAMPOS, Nuno; Guia de Arquitectura Espaços e Edifícios Reabilitados; 1ª Edição eVida; 2012. 40. Postal ilustrado do Palácio Anjos, autor desconhecido, 1910 in oeirascomhistória.pt. 41. Fotografia da Farmácia Polycarpo Anjos, autor desconhecido, 1896 in oeirascomhistória.pt. 42. Aguarela do Chalet de Miramar, XII.

(14) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. in ANTUNES, Alexandra de Carvalho Antunes; O veraneiro da família Anjos – Diário de Maria Leonor Anjos (1885-1887); Oeiras, Câmara Municipal de Oeiras, 2004 - Espólio da família. 43. 44. Imagens da maquete elaborada pelo Atelier Entreplanos, 2004 in CAMPOS, Nuno; Guia de Arquitectura Espaços e Edifícios Reabilitados; 1ª Edição eVida; 2012. 45. 46. 47. Fotografias da ampliação e da reabilitação, FG+SG, 2006 in CAMPOS, Nuno; Guia de Arquitectura Espaços e Edifícios Reabilitados; 1ª Edição eVida; 2012. 48. Esquisso de compreensão do programa dos laboratórios, elaborado pela autora 49. Maquete do projecto elaborada pela dupla de arquitetos João Serôdio e Isabel Furtado, 2000 50. 51. Imagens do edifício, FG+SG in CAMPOS, Nuno; Guia de Arquitectura Espaços e Edifícios Reabilitados; 1ª Edição eVida; 2012. 52. 53. Cortes do projecto elaborado pelos arquitectos João Serôdio e Isabel Furtado, 2000 in CAMPOS, Nuno; Guia de Arquitectura Espaços e Edifícios Reabilitados; 1ª Edição eVida; 2012. 54. Imagem do corredor dos laboratórios que anuncia os sistemas mecânicos através da claraboia, in NEVES, José Manuel das; Archibook 60’; Cascais; Trueteam; 2009. 55. 56. Fotografias do exterior do Laboratório, Goody, Clancy and Associates, 2003 in http://www.goodyclancy.com/projects/dreyfus-chemistry-building-renovation/. 57. 58. 59. Fotografias do interior do Laboratório, Goody, Clancy and Associates, autor desconhecido, década de 60 in http://www.goodyclancy.com/projects/dreyfus-chemistry-building-renovation/. 60. 61. Fotografias do interior do Laboratório, Goody, Clancy and Associates, 2003 in http://www.goodyclancy.com/projects/dreyfus-chemistry-building-renovation/. 62. 63. Fotografias do interior do Laboratório, Goody, Clancy and Associates, 2003 in http://www.goodyclancy.com/projects/dreyfus-chemistry-building-renovation/. 64. Esquisso da fachada principal do Castelinho, elaborado pela autora, 2014 65. Esquisso urbano do local de intervenção, elaborado pela autora, 2015 66. Esquisso da proposta virada para sul, elaborado pela autora, 2015 67. Esquisso com a implantação dos edifícios envolventes e zonas verdes, elaborado pela autora, 2015 68. Planta de cheios e vazios, elaborado pela autora, 2015 69. Esquisso da primeira abordagem do centro de investigação e auditório, elaborado pela autora, 2015 70. Perspectiva da primeira abordagem do centro de investigação e auditório, elaborada pela autora, 2015 71. Estudos do auditório, elaborados pela autora, 2015 72. Esquissos de composição espacial do Castelinho, elaborados pela autora, 2015 73. Corte perspectivado do Castelinho, elaborado pela autora, 2015 74. Axonometria explodida do Castelinho para a explicação programática do mesmo, elaborada pela autora, 2015. XIII.

(15) REVISITAR O CASTELINHO. XIV.

(16) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. 03. Terreno da antiga quinta das Freiras, vendo-se a faculdade de farmácia, Fernando Matias, 1959. “Le voyageur qui franchit sa montagne dans la direction d’une étoile, s’il se laisse trop absorber par ses problèmes d’escalade, risque d’oublier quelle étoile le guide. S’il n’agit plus que pour agir, il n’ira nulle part.” (SAINT-EXUPÉRY, Lettre à un otage, 1943). 1.

(17) REVISITAR O CASTELINHO. 4. Detalhe da atual zona da Cidade Universitária ilustrada no Levantamento Silva Pinto, 1911. 2.

(18) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho opera sobre a área da Universidade de Lisboa, mais especificamente no perímetro onde se inscreve a Faculdade de Farmácia. O desafio parte do entendimento do lugar abrangendo uma investigação topográfica e teórica para evolução do território do que hoje constitui a Cidade Universitária, e direcionase à formulação de uma proposta de arquitetura para valorização da infraestrutura universitária atual. Investigámos a evolução da universidade na cidade de Lisboa, cujo desenvolvimento acabou por se concentrar nas quintas agrícolas sediadas a ocidente do Campo Grande. Apesar desta zona territorial de então ter sido englobada no perímetro urbano da capital há pouco mais de um século, a sua proximidade de então fazia dela excelente candidata a um futuro bairro universitário. Foi a partir do tema Construir no (e com) o construído apresentado na disciplina de Laboratório de Projeto VI (com o Professor José Aguiar e o Professor Pedro Pacheco), que se desenvolveu o interesse da reconversão e reabilitação de um novo olhar surgido. Apesar de não prosseguir com o tema apresentado em aula, a Frente Ribeirinha, este mote constitui uma linha de pensamento abrangente que se enquadra com a presente proposta. Este lugar, inicialmente pensado como uma aglomeração de parcelas, nunca foi alvo de um plano total urbano, o que fez com que as várias fases de construção nem sempre se relacionassem umas com as outras, sem uma linha visual de pensamento, sendo apenas um apanhado urbano de várias épocas, durante o século passado, construindo quando era necessário, com a visão de cada instituição, independente das camadas de tempos e história da universidade. Procura-se neste trabalho aprofundar os temas do Património, Reabilitação, Renovação, Regeneração Urbana e Arquitectónica e Memória do Lugar. Existiram várias propostas para este troço de cidade, mas são poucas as que se edificaram. Vários arquitetos, como João Simões, Norberto Corrêa, Carlos Ramos, Amílcar Silva, Porfírio Pardal Monteiro e António Pardal Monteiro, Raul Hestnes Ferreira, pensaram na Cidade Universitária, mas são poucos os que a pensaram como um todo.. 3.

(19) REVISITAR O CASTELINHO. A Cidade Universitária procurou criar um modelo baseado nos campi de Inglaterra, escolas com tradição, existindo também a separação das várias escolas, espalhadas pela cidade. As várias questões que se colocaram ao longo dos anos, foi se a universidade deve existir na cidade ou deve ser um polo mais deslocado. Como Nuno Portas e J. P. Martins Barata apontam no artigo “A Universidade na Cidade: problemas arquitectónicos e de inserção no espaço urbano” que sugerem a forma de inserção das universidades no tecido urbano e a flexibilidade indispensável às suas instalações e criticam a. “atomização dos conhecimentos, à extrema especialização, a que, nomeadamente nos países neo-capitalistas, as pressões económicas tendem a reduzir a ideia de reforma do ensino. Penso que esta criação de um meio social, interdepartamental e não-hierarquizada é, neste momento um ponto-chave” (PORTAS, 1968:497) as ideias que a universidade é um agregado de conhecimento foi o mote de criação da Universidade de Lisboa, espaço de intervenção desta proposta. A proposta centra-se na Faculdade de Farmácia. Sendo o Castelinho o primeiro edifício existente no local e pelo facto de estar ao abandono, torna este tema uma prioridade de abordagem. Lisboa e a Cidade Universitária tornam-se o ponto-chave desta investigação. Em 2. QUE CIDADE, QUE UNIVERSIDADE? (MATOS, 2009:111) interessa questionar esta relação, quase simbiótica, entre estes dois temas. Considera-se imprescindível para a construção de uma proposta clara para compreender a evolução histórica que este processo urbano desencadeou na cidade. Esta zona urbana, que acompanha o Jardim do Campo Grande, influenciou em grande parte o crescimento habitacional, comercial e delimitou uma nova Lisboa. Logo, a problemática que é necessária compreender neste capítulo são as várias fases, desorganizadas, que foram acontecendo nesta construção de campus. Hoje, a Cidade Universitária, um dos centros desta nossa cidade, encontra-se com défice de ligação interior e várias instituições carecem de espaços e condições para o bom funcionamento dos cursos, como a Faculdade de Farmácia. A evolução da Escola Superior de Farmácia sempre encontrou obstáculos na sua evolução e melhoramento e pretende-se agora responder a esse défice.. 4.

(20) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. No 3. ESTADO DA ARTE, explica-se as várias evoluções dos paradigmas da Reabilitação, Conservação e Restauro, expondo todos os factos e autores cuja relevância ajudou a consolidar estes conceitos para as decisões de projeto na arquitetura. Tendo em conta que este projeto se debruça na reabilitação do Castelinho e num centro de investigação para a Faculdade de Farmácia, considerou-se importante estudar a evolução da reabilitação e a memória de um lugar reinventada num centro de divulgação e arquivo e os complementos técnicos que acompanham o centro de estudo. Em 4. PHARMACIA AEDIFICARE, explica-se todas as noções necessárias que acompanharam este projecto, desde os elementos mais técnicos como os laboratórios e regulamentos, que explicam os recursos que seriam necessários para o bom desenvolvimento das valências de Farmácia. Em conversas com a diretora, Professora Matilde Fonseca e Castro, compreende-se a ânsia que acompanha os docentes e estudantes de farmácia em revisitar o seu ícone de memória e devolver, de forma cuidada, uma parte do património da Universidade de Lisboa. Para apoiar este capítulo explica-se quatro casos de estudo, dois para compreender a importância da reabilitação – o Estúdio Fotográfico de Carlos Relvas e o Centro de Arte Manuel Brito – em que se compreende de que forma foi aplicada a reabilitação e a importância da mesma nos dois casos. Para o novo edifício do centro de investigação utilizaram-se os casos de estudo do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde da Universidade de Coimbra (ICNAS) e o Laboratório de Química do Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde se compreende que estes testemunhos volumétricos não existiu apenas a preocupação de cumprir os condicionamentos regulamentares, mas sim exemplos de como o espaço técnico é ele também pretexto para o exercício de composição arquitectónica. Por fim, no capítulo 5. ...PODEMOS MUITO MAIS DO QUE IMAGINAMOS (Citação completa: “Sabemos muito mais do que julgamos, podemos muito mais do que imaginamos” SARAMAGO, 1998 in. El Mundo - Outubro) pretendemos percorrer, em forma de memória descritiva, como um pequeno elemento pictórico pode desencadear uma história que faz compreender as necessidades sociais, culturais e mesmo elementos físicos que uma instituição necessita e como pode essa oferta melhorar as condições de uma Faculdade, e por conseguinte, da Cidade Universitária.. 5.

(21) REVISITAR O CASTELINHO. 5. Obras de pavimento, construção da Avenida das Forças Armadas. Com a Faculdade de Farmácia e o Hospital Santa Maria ao fundo, Judah BENOLIEL, 195-. 6.

(22) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. 2. QUE CIDADE, QUE UNIVERSIDADE? O crescimento da universidade inclui-se na história da expansão de Lisboa. Por isso, pretende-se neste capítulo explicar a importância que a universidade teve na evolução do tecido urbano da cidade e como isso entronca no seu processo de crescimento. Apesar de nos debruçarmos no caso particular da Faculdade de Farmácia, é importante compreender as suas relações com a envolvente, sendo que a proposta intervenção parcial virá a influenciar o conjunto adjacente.. 7.

(23) REVISITAR O CASTELINHO. 2.1 Breve História da Universidade na Cidade O conceito universidade advém da palavra latina universitas que significa universalidade. Esta instituição tem sete séculos de história associados à capital Lisboeta. Fundada por D. Dinis em 1288/1290 representou a introdução do ensino universitário em Portugal. Transferida para Coimbra no século XVI, o ensino universitário manteve-se através de escolas controladas pelas ordens para reaparecer de forma organizada no século XIX. Dividida por várias Escolas Régias e Institutos, as instalações que acolhiam as várias instituições encontravam-se pontuadas pela cidade, muitas vezes utilizando antigos conventos (no caso da Academia de Belas-Artes, o Convento de São Francisco). Durante o século XIX a expansão universitária foi significativa. Foi durante este período que se criaram várias escolas, que ainda hoje são a fundação de várias Faculdades. Em 1825, cria-se a Real Escola de Cirurgia de Lisboa, que continua a funcionar no Hospital de São José. Onze anos mais tarde, foi criada a Escola de Farmácia, que se inicia em instalações anexas à Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa (nova designação da antiga Escola Real). As valências eram agrupadas entre si, de forma a complementarem-se e a permitir a utilização docente nas duas disciplinas. A universidade, como a conhecemos hoje, foi fundada na Primeira República, em 1911. Apesar das reformas na educação se terem iniciado no ensino primário (março de 1911) devido à necessidade da instrução popular, com a baixa frequência escolar no país, não houve muito sucesso. A taxa de alfabetização, nos primeiros 16 anos de república, não apresentou o aumento significativo que era esperado, e tendo em conta que os professores destes graus de ensino ainda não tinham tido formação na Universidade de Lisboa republicana, foi cada vez mais claro que a prioridade nestas reformas era o ensino superior.. 6. Fotografia da Tapeçaria Mural de Manuel Lapa, presente na Faculdade de Letras 7. Fotografia da Faculdade de Letras e Academia das Sciencias de Lisboa, 1916 8. Faculdade de Ciências, 1911. 8. “Na verdade, os republicanos reformaram profundamente e alargaram o ensino superior: estava em causa a formação das elites políticas e intelectuais, dos quadros de que o aparelho de Estado necessitava para o funcionamento público, o exercício da justiça, as forças armadas e o sistema de instrução pública.” (RAMOS DO Ó, 2013:87) Nos anos seguintes, devido a esta medida, a UL recolhe um orçamento mais significativo e abre-se espaço à discussão da necessidade de melhorar as condições materiais que suportam a atividade de vários cursos. As Escolas são renomeadas Faculdades e a Universidade de Lisboa passa a incluir a Faculdade de.

(24) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. Medicina, a Faculdade de Ciências e a Faculdade de Letras. Nos anos seguintes, várias Escolas passam a Escolas Superiores, como é o caso da Escola de Farmácia, que em 1920 (ano de aquisição da Quinta da Torrinha) passa a denominar-se Faculdade de Farmácia.. “E, a partir de 1921-22, a UL tornou-se a maior universidade do país também em número de estudantes, captando maiores fatias dos orçamentos de Estado relativamente às suas congéneres”(RAMOS DO Ó, Idem, Ibidem). Na década de 1920 procede-se à aquisição de terrenos e propriedades para o que virá a ser o início do Bairro Universitário, hoje conhecido por Cidade Universitária.. Na década seguinte sucede-se a discussão em torno da possibilidade de criar um grande bairro universitário, com um planeamento urbano susceptível de integrar todas as Faculdades que foram englobadas ou que se queriam englobadas no sistema de ensino público. Cinco anos mais tarde, o arquiteto Porfírio Pardal Monteiro foi contratado para realizar a reitoria, a Faculdade de Letras e a Faculdade de Direito. O Ministro das Obras Públicas e Comunicações, Engenheiro Duarte Pacheco, explica que a obra realizada no. 9. Fotografia da Escola Médico-Cirúrgica, onde a Escola de Farmácia fuincionava em anexo. Autor desconhecido, 1911 10. Fotografia da Fachada Principal do Castelinho, 1933 11. Quinta da Torrinha, parcela N9 do Levantamento Silva Pinto, 1911. “(Instituto Superior Técnico) IST era suficiente para que Pardal Monteiro pudesse ser considerado o arquitecto mais qualificado para a tarefa de projectar e construir as instalações para a Universidade de Lisboa” (PEDROSA, 2009:105).. 9.

(25) REVISITAR O CASTELINHO. Porém, após anos de sucessivos anteprojetos, apenas em 1957 foi concluída a obra. Foi só na década de 1950-60 que a Cidade Universitária começa a ganhar a forma atual, com a maioria das propostas veiculadas pelo projeto de Pardal Monteiro finalmente construídas. Ainda assim, pese embora a existência de um suporte arquitectónico adequado no período anterior ao 25 de Abril, o ensino universitário manter-se-ia um privilégio seleto, longe da acessibilidade que é hoje seu apanágio.. “A população universitária portuguesa nesta época (e até aos anos 60 do século XX) era uma elite extremamente reduzida, mesmo quando comparada com a espanhola. O que não invalida o profundo significado da fundação da UL na transformação do panorama universitário nacional” (RAMOS DO Ó, 2013:88). 12. Esboço da Reitoria à escala 1:1000 13. Fotografia da Galeria Exterior da Reitoria, 2012 14. Esboço da Cidade Universitária, com as duas faculdades (Direito e Letras) e a Reitoria. 10.

(26) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. 2.2 Do Castelinho à Faculdade de Farmácia A Quinta da Torrinha era uma quinta agrícola do final do século XIX, situada em Lisboa (Campo Grande). O projeto inicial remonta a 1892, tendo sido o projecto aprovado apresentado pelo proprietário José Simões Ferreira Machado. Tratava-se de um projeto simples, apenas com um piso edificado e um torreão, sendo a distribuição interior compartimentada, de forma diversa face ao desenho atual. Não existe qualquer referencia ao arquiteto responsável pela sua concepção, tendo apenas sobrevivo um blueprint do que viria a ser o futuro “Castelinho de Farmácia”. O desenho que se refere apresenta uma planta tripartida nas duas direções. A entrada, rebaixada em relação ao resto da casa, proporciona três opções de ingresso. As primeiras salas, à direita e à esquerda, apenas têm ligação com este compartimento inicial, insinuando-se a existência de um escritório ou biblioteca, e uma pequena sala de espera para receber visitas, de forma a não comprometerem a privacidade no resto da casa. Na continuidade do eixo principal da casa, na sala central encontram-se dois pequenos reservatórios de água. Na continuidade do eixo encontra-se o maior espaço da casa. Como é perceptível na planta, este espaço tem uma relação muito demarcada com o espaço anterior, com um grande vão a permitir a sua ligação visual. Neste salão encontra-se uma escadaria cénica. Nos espaços adjacentes ao núcleo central existem duas salas com uma subcompartimentação modular, cuja finalidade se desconhece. O compartimento do torreão certamente seria aproveitado para uma sala mais privada de onde se lançava um acesso à cobertura (pelas escadas em caracol).. 15.Blueprint do projeto do Castelinho, 1892. 11.

(27) REVISITAR O CASTELINHO. O aspecto exterior da habitação já denota referências estilísticas próximas do atual Castelinho, pois é rematado nos cantos com as pequenas torres decorativas e coroado, em todo o entorno, com um murete de ameias. Os vãos na fachada principal assemelham-se aos existentes, ao contrário do que acontece nos outros alçados, em que os vãos são reduzidos e retangulares. No torreão encontramos aberturas mais imponentes, com arcos ogivais divididos por uma coluna (serliana), de forma a destacar a pequena torre de menagem como o ícone da quinta. Não existe referência sobre se a construção do projeto terá sido elaborada segundo o projecto inicial de 1892 e a única referência existente é que em 1897 a Quinta já possuía outro proprietário, Cosme Simão Dias.. “É um pitoresco chalet, final do século, com sugestões neo-góticas, revestido de azulejos coloridos, de que destaco, pela sua qualidade artística e por serem um padrão figurativo, os que envolvem a porta da entrada” (CAETANO, 2000:187) Sabe-se porém que a quinta, como é hoje conhecida, deve o seu aspecto presente ao terceiro proprietário, Augusto de Albuquerque, apresentando uma fisionomia diferente do projecto inicial, agora com dois pisos completos sob o piso do torreão. Revestido a azulejos com um padrão vegetalista em tons de verde, a porta principal foi adornada com um painel, também em azulejo, elaborado em estilo art nouveau. A distribuição interior também difere do desenho original conhecido, apesar de continuar a ser uma planta tripartida, com nove compartimentos. Dentro de cada compartimento o espaço é amplo e não apresenta as subdivisões visíveis no blueprint inicial. O percurso que se desenvolve, com a comunicação vertical no centro, materializa um gesto a acentuar a centralidade e a verticalmente do conjunto escultural. A parte mais funcional da casa e as zonas menos nobres ficam situadas no tardoz da casa, a norte, enquanto as zonas nobres e mais decoradas se situam na fachada sul. O mesmo acontece no segundo piso, onde se localiza a maior e mais decorada sala da casa, a sul e a poente, articulada com um jardim de inverno com uma pequena varanda exterior no eixo principal da casa. A transição dos materiais do pavimento entre pedra, mosaico hidráulico e madeira sugere as várias valências da habitação. Apesar do Castelinho ter sido integrado na Escola Superior de Farmácia, esta instituição foi criada praticamente um século antes, em 1836, por Passos Manoel. Até 1911 funcionava anexa às instalações da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa.. 12.

(28) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. Após esta data, foi transferida para a Faculdade de Medicina (Hospital de São José). Com o Decreto de Lei nº 4653 de 14 de Julho de 1918, foi aprovado que o ensino de farmácia teria lugar numa instituição independente, sob a designação de Escola Superior de Farmácia, que faria parte integrante das várias universidades do país (Coimbra, Lisboa e Porto). Apenas em 1919 seria reconhecido pelo Estado, que a Escola Superior de Farmácia (ESF) não tinha condições para funcionar naquelas instalações. Em 1920 foi então adquirida a Quinta da Torrinha, por 225 000 escudos (parte da verba admitida para a ESF, 500 000 escudos). Sendo o local eleito devido ao seu afastamento ao centro da cidade, na cercania do Campo Grande. Com a rápida expansão da cidade, este espaço deixaria de ser uma periferia, adquirindo sentido a ideia de transformar esta zona no Bairro Universitário. A verba destacada para a aquisição de terrenos, edificação e material necessário para a autonomia da Escola Superior de Farmácia não era então suficiente para a construção de uma nova instituição. Entretanto uns anos mais tarde, o arquiteto Amílcar Pinto elabora um projeto para as novas instalações da ESF, que não contempla o Castelinho como parte integrante do projeto, mas este acaba por não ser concretizado.. 16. Aguarelas da proposta para a Escola Superior de Farmácia pelo Arquiteto Amílcar Silva. 13.

(29) REVISITAR O CASTELINHO. Durante um período de 50 anos, o Castelinho casa mãe da quinta e sede principal de farmácia, alberga a secretaria, a biblioteca, salas de aula e laboratórios. Esta adaptação deveu-se como se descreve, à falta de orçamento, e à invasão do terreno que foi cedido para a o prolongamento da Avenida das Forças Armadas e para a construção dos blocos habitacionais que se encontram do outro lado da avenida (1953). Poucos anos mais tarde, ainda seria necessário ceder outra parcela para a construção do Instituto de Física e Matemática, e outra parte para a Cantina Nova. Com a necessidade de espaço para o bom funcionamento do curso, e as adaptações requeridas pelo desenvolvimento tecnológico, em 1961, foi construído o Pavilhão de Tecnologia, e seis anos mais tarde, o Pavilhão de Biologia. Vários laboratórios e espaços de investigação encontram-se assim em edifícios préfabricados, com cariz temporário, mas que resistem ao tempo e se fora tornando parte integrante do edificado de farmácia por motivos contingentes.. ‘. 17. Fotografia do laboratório do Pavilhão de Biologia, s/d, Ana Pascoal 18. Fotografia do Laboratório de alunos de Farmacognósia, s/d, Ana Pascoal 19. Fotografia do Pavilhão de Tecnologia 20. Fotografia interior de um laboratório do Pavilhão de Tecnologia. 14.

(30) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. 21. Fotografia do Pavilhão de Biologia. Com o passar do tempo, a Faculdade de Farmácia, apesar de já contemplar mais dois pavilhões, continuava a não ser suficiente para o aumento do número estudantil. O início da execução de novos estudos iniciou-se na década de 70, poucos anos depois da construção dos dois pavilhões referidos, mas só na década de 90 é construído o novo edifício principal de farmácia: este iria contemplar a biblioteca, os novos auditórios, laboratórios e salas de aula. Foi projetado pelo arquiteto Raul Hestnes Ferreira, tendo sido agregado ao Pavilhão de Biologia. Devido à falta de orçamento, o projeto não viu a sua execução total, tendo sido necessário readaptar a concepção à situação financeira possível.. “(...) Tendo em atenção vários factores, entre os quais referiremos a integração do Complexo na estrutura geral e viária da Cidade Universitária, a edificação baseou-se num esquema rectangular, limitado exteriormente por dois corpos paralelos, nos lados maiores, a nascente e poente, e com outros no interior. Os corpos periféricos contêm espaços de ensino, laboratoriais, administrativos e de docentes, enquanto os centrais, para além de laboratórios, a sul, integram, a norte, um corpo onde se situa o Auditório principal da Faculdade, a Biblioteca, a Cantina e as Instalações dos estudantes. A aparência exterior do conjunto coaduna-se com a linearidade da solução adoptada, baseando-se na articulação de corpos de acordo não só com o sistema geométrico que os rege, mas também com as soluções estruturais e construtivas escolhidas, baseadas em paredes e estruturas em betão branco alternando com superfícies de mosaico de vidro. Os conceitos gerais de composição e construção referidos estiveram na base das variantes espaciais que o edifício documenta na sua Fase 1, até agora edificada,. 15.

(31) REVISITAR O CASTELINHO. de acordo com a funcionalidade, iluminação e outros factores atribuídos a cada compartimento do edifício. O Corpo Central Norte, já edificado, com três pisos, inclui como espaços principais o Auditório, com cerca de 300 lugares, núcleo da Cantina, com instalações para os estudantes, e a Biblioteca da Faculdade de Farmácia. A área pública da Biblioteca converge num espaço central octogonal, com pédireito elevado, focalizado numa escada que interliga a zona da entrada com as outras áreas” (VÁRIOS, 2002:131-133). 22. Planta da Faculdade de Farmácia, projeto elaborado por Raul Hestnes Ferreira, 1997. O edifício foi praticamente amputado pela metade do seu projecto, o que impediu o uso que tinha sido planeado. Devido a isto, os espaços que se pensavam incorporar à instituição viram-se mais uma vez reduzidos, pelo que foi necessário perpetuar o uso dos edifícios de construção temporária que ainda hoje são parte integrante e importante da Faculdade isto, apesar das parcas condições que apresentam. Com a construção ainda que parcial, deste edifício, o Castelinho fechou portas e permanece desde então esquecido da perspectiva do seu uso, subsistindo apenas como símbolo que marca a história da instituição.. “Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que cativaste. Tu és responsável pela tua rosa...” (SAINT-EXUPÉRY, 1943:74). 16.

(32) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. Parte construída do projeto inicial. 23. Planta da Faculdade de Farmácia, projeto elaborado por Raul Hestnes Ferreira, 1997. 17.

(33) REVISITAR O CASTELINHO. 18.

(34) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. 2.3 Do Castelinho à Cidade Universitária de Lisboa. “A quinta fez-se castelo, pequeno de nome, enorme em essência. Ponto zero da expansão universitária em seu redor. Epicentro do saber académico bebido por tantos, de tantas épocas, com tantas ambições. O castelo fez-se casa, fez-se mãe e fez-se pai. Protegeu, cuidou, cresceu, educou. Sem retorno esperado, sem exigências nem contrapartidas. Ensinou” (CENTAEFFUL, 2015:194) Para completar a parte teórica de análise da evolução das quintas agrícolas e da sua futura colonização por parte da universidade, foi executado um estudo cronológico de expansão e concentração do polo universitário. Os 100 anos de existência da Universidade de Lisboa foram pontuados ao longo do tempo com conquistas, como é o caso da sua fundação republicana, e por vezes com derrotas, devido às precárias condições que assolaram muitas Faculdades durante anos, pela falta de verba e pelo embargo de obras durante a parte inicial do Estado Novo. Mas a forma como a cidade se viria a desenvolver, a pretexto da consolidação da Universidade adquiriu, a cada década mais relevância, até à formalização atual que hoje se testemunha. Os mapas seguintes, onde se destaca a evolução morfológica através de uma caracterização de cheio-vazio, explicam a expansão que ocorreu neste troço de cidade. A sequencia gráfica fornece aqui uma caracterização necessária e suficiente, para ilustrar esse processo de crescimento.. 19.

(35) REVISITAR O CASTELINHO. LEVANTAMENTO SILVA PINTO 1911 20.

(36) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. 21.

(37) REVISITAR O CASTELINHO. LEVANTAMENTO (CÂMARA) 1950 22.

(38) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. 23.

(39) REVISITAR O CASTELINHO. VOO 1958 24.

(40) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. 25.

(41) REVISITAR O CASTELINHO. LEVANTAMENTO (CÂMARA) 1970 26.

(42) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. 27.

(43) REVISITAR O CASTELINHO. VOO 1987 28.

(44) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. 29.

(45) REVISITAR O CASTELINHO. CARTA MILITAR 1993 30.

(46) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. 31.

(47) REVISITAR O CASTELINHO. ORTOFOTOMAPA 2001 32.

(48) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. 33.

(49) REVISITAR O CASTELINHO. 24. Maquete 1:1000 com a envolvente urbana próxima do Castelinho, elaborada pela autora. 34.

(50) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. 35.

(51) REVISITAR O CASTELINHO. 3. ESTADO DA ARTE “A evolução da teoria da conservação diz-nos, hoje, que temos de preservar o físico, mas também o intangível (os saberes, as práticas culturais, as funções e as atividades históricas da cidade), verificando-se uma grande ampliação no que hoje consideramos como «património»” (AGUIAR, 2002:1) Em primeiro lugar pode-se afirmar que a intervenção na arquitetura e na construção apresenta-se à reabilitação com a necessidade de preservar a história, o património e a cultura da polis. A compreensão destes valores guiam a consciência colectiva da cidade, assim a degradação do património cultural e da sua identidade inerente foram condicionantes para uma mudança da forma de pensar. Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, património é o “conjunto dos bens materiais e imateriais transmitidos pelos antepassados e que constitui uma herança colectiva. Compete ao estado e a cada cidadão a salvaguarda e valorização do património (…) artístico, arquitectónico, cultural” . Para esta salvaguarda ser possível, existe um reconhecimento da qualidade do “conjunto de bens” e a necessidade de mantê-los íntegros é o gerador do surgimento na Reabilitação. O conceito de Monumento já estava presente na história, mas apenas se idealizou no século XIX, a introdução da Cidade Histórica. A teoria do Restauro surge também neste século, principalmente na era do Renascimento, apenas se enfatizou a noção de preservação dos monumentos clássicos, aparecendo as primeiras teorias clássicas de reabilitação. Em contexto nacional só em 1907 foi feita uma listagem de edifícios, com 14 itens, entre eles o Mosteiro dos Jerónimos e da Batalha e o Convento de Tomar. Um ano depois a lista é estendida para 465 monumentos pelo Conselho dos Monumentos Nacionais. O reaproveitamento de estruturas utilizou-se nas camadas de história da civilização, a economização dos meios através de aproveitamento do material marcaram a construção durante vários séculos. Este método foi utilizado em forma de Reabilitação. Este tipo de intervenções, com a Reutilização mais em mente formava as bases de construção de qualquer tipo de edifício.. 36.

(52) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. A perspetiva atual do património enquanto forma intocável, não se aplicava noutros tempos, o que acontecia era o reaproveitamento das estruturas. Através dos processos construtivos da época em questão, que sofreram poucas alterações, este reaproveitamento podia ser feito com várias camadas de construção. A mudança significativa nos paradigmas da Reabilitação aconteceu no Renascimento. Com o crescente interesse na arte e arquitetura da Antiguidade Clássica, e utilizando o restauro, a teoria da época (Renascimento) pode compreender as proporções, a beleza estética e a função deste edifício, os paradigmas da firmitas, utilitas e venustas como foi explicado no Vitrúvio sendo a fórmula correta necessária à arquitetura. Esta reintegração do Clássico foi aplicado por Andrea Palladio, nas suas conhecidas villas e por Leon Battista Alberti, que na tratadística, explicam a forma de fazer arquitetura utilizando os modelos clássicos.. 25. Fachada Principal da Villa Chiericati, Palladio, elaborada pela autora, 2012 26. Divisão interna da Villa, obdecendo a todas as premissas clássica que Palladio tratou, elaborada pela autora, 2012 27. Perspectiva Geral da Villa, elaborada pela autora, 2012. 37.

(53) REVISITAR O CASTELINHO. Esta mudança de pensamento transformou aconteceu devido aos estudos renascentistas, começando a Reabilitação numa alternativa viável à Reutilização. Apesar destes avanços de pensamento no século XIX é que se começa a explorar melhor as valências destes paradigmas que moldaram a arquitetura e a cultura.. “A visão romântica deste século introduz, por vezes, atitudes excessivamente puristas e redutoras na prática do Restauro” (AGUIAR, 2002:6). Em primeiro lugar seria importante introduzir os dois autores que estudaram estes paradigmas, e como na cultura europeia foram explicado e interpretados de forma diferente. Estes autores são John Ruskin e Eugéne Viollet le Duc, que exploram as suas diferentes visões da Conservação (termo utilizado pelos ingleses) e do Restauro (termo utilizado pelos italianos e pelos franceses). Estas teorias vão explicar o papel participativo que a Reabilitação terá na arquitetura e construção. Por um lado temos John Ruskin, que explica o que entende por Conservação. Através de The Seven Lamps of Architecture dá-nos a conhecer a sua visão, bastante conservadora e apoiada no pensamento a ideologia Vitruviana, que se relaciona com o pensamento Romântico, ou seja, a emoção está sempre acima da razão.. “(…) the greatest glory of a building is not in its stones, nor in its gold. Its glory is in its Age, and in that deep sense of voicefullness, of stern matching of mysterious sympathy, may, even of approval or condemnation, which me feel in walls that have long been washed by the passing waves of humanity.” (RUSKIN, 1849:149).. 38. 28. Opere di Giovanni Battista Piranesi, Francesco Piranesi e d’altri. Firmin Didot, Freres, Paris, 1835-39.

(54) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. A ruína era o valor da memória, e por isso não deveria ser reabilitada, pois agora, no presente, era assim e a reabilitá-la seria como ressuscitar um ser morto. Viollet Le Duc, em oposição a Ruskin, pretendia romper a forma romântica que este apresentava da Reabilitação. Le Duc considerava que a arquitetura do século XIX deveria ser audiciosa e notável, com Revolução Industrial na Europa os novos materiais e técnicas de construção vão moldar a arquitetura, numa época em que o tempo acelera a velocidade da inovação. O objetivo seria que o edifício reabilitado demonstrasse o seu esplendor mais áureo. Mesmo que para atingir este esplendor fosse necessário modificar o edifício com o objetivo final de retratar esse momento áureo. Esta noção de reabilitação foi a mais seguida no velho Continente, de forma a enaltecer as qualidades dos monumentos de cada país. Apesar de antitéticos, ambos os autores são relevantes para a evolução dos paradigmas da reabilitação. Com a simbiose desta duas teorias, Alöis Riegl elaborou estudos sobre a Conservação que equilibraram o que de melhor elas nos podiam dar. Entre o final do Século XIX e o início do século XX, Riegl explica a necessidade de uma postura mais assente nos valores da memória mas aplicada no contemporaneidade associadas ao presente. Era a classificação do edifício e a sua qualidade, que definia que tipo de postura se deveria adotar ( AGUIAR , 2002:48) Os conceitos foram evoluindo e começaram a expandir-se para outras áreas, tais como o Urbanismo, a Antropologia e a Sociologia. Estas valências influenciaram os paradigmas da Reabilitação, Conservação e Restauro. Em consequência, a evolução do conceito de Monumento estendeu a sua importância além do objeto, para a envolvente, população e identidade designando-se por Património Intangível. Segundo José Aguiar ( AGUIAR, 2008:20-23) Ruskin explica estes paradigmas através da Cidade Memorial, sendo um repositório das ligações “memoriais”, como refere José Aguiar. Camilo Sitte estuda as cidades antigas in situ, desenvolvendo a ideia da desadequação destas nos usos modernos da cidade. Giovannoni explica que os antigos núcleos históricos têm de se enquadrar no urbanismo da cidade atual, dando forma ao conceito de valor de uso.. 39.

(55) REVISITAR O CASTELINHO. As Cartas de Restauro, iniciadas no final do século XIX, salvaguardam os Monumentos e suas pré-existências e começam a estabelecer regras para a prática destes paradigmas a nível internacional. A Prima Carta del Restauro (dirigida por Camillo Boito, em 1883, no III Congresso de Engenharia e Arquitetos Italianos) combinava as teorias de Ruskin e Viollet-le-Duc, assumindo as intervenções, existindo uma diferença de materiais em relação às pré-existências. A Carta de Atenas (1931 ), aborda o tema anterior de forma mais pública, com. relevância pragmática do novo uso (devendo este ser pertinente) e preservar as várias camadas de tempos colocadas. No IV congresso do CIAM (Novembro de 1933) adopta-se uma postura mais urbana, enquadrando os Monumentos num vazio urbano circundante, ou espaço verde. A Lei de Malraux (1962) explica a importância do Restauro Urbano, esta carta tem como intenção apoiar e financiar este tipo de intervenções, considerando estes espaços parte integrante do património francês. A Carta de Veneza (II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos dos Monumentos Históricos) expõe a igualdade da importância dos Monumentos e dos Sítios. Um lugar identifica-se como parte integrante da memória. Cesari Brandi escreve sobre a Teoria do Restauro e o Restauro Crítico. Esta teoria foi influenciar a Carta de Veneza (onde foi criado o ICOMOS – International Council on Monuments and Sites) e a nova Carta del Restauro (1972). Refere que a preservação e manutenção são as melhores práticas de Reabilitação, pois estamos a priori a defender a salvaguarda do edifício e prolongar a sua imagem. Os paradigmas que definem a conservação das cidades históricas foram clarificados na Carta de Washington (1987), com o fim de desenvolver os parâmetros sócio-económicos e o planeamento urbano. Esta carta primaziao tecido social como parte integrante da cidade, Património Social.. 40.

(56) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. Jane Jacobs (1916-2006) dedicou-se a estudos de urbanismo e sociologia. Centrada no caso dos Estados Unidos da América, tenta compreender como podem os edifícios históricos enquadrar-se nos atuais planos urbanos. Defende como melhor forma de preservar os centos históricos através de “combinações ou misturas de uso, não os usos separados” (JACOBS, 2000: 158). Françoise Choay (1925-) apresentou um importante contributo para a reabilitação no século XX, defendendo que cada situação deveria ser cuidadosamente avaliada, existindo sempre uma imperatividade na ação de salvaguarda. Em A Alegoria do Património, expõe várias práticas que acompanharam o Património ao longo da história. Examinando teorias mais antigas através de vários pontos de vista, consegue compreender as vantagens e desvantagens, abordando os termos Monumento e Monumento Histórico, e como se relacionam com a cidade, tempo e memória. Outro autor, José Aguiar, em Cor e Cidade História, Estudos Cromáticos e Conservação do Património, apresenta-nos as principais ideias e metodologias que surgem e evoluem com a prática da Reabilitação, Conservação e Restauro. Esta prática de busca da origem do edifício é determinante na reabilitação para se compreender como a arquitetura foi pensada e de novo apresentada respeitando o património. O direito à história e ao património foi possível devido à prática da reabilitação e do restauro. Em 100 anos de património: memória e identidade , de Jorge Custódio, compreendemos a evolução dos conceitos e estratégias da reabilitação a nível nacional. É apresentada toda a evolução do carácter do património em Portugal, realçando o seu interesse recente. A temática do património tem sido cada vez mais estudada por vários autores e executada pelos vários arquitetos.. 41.

(57) REVISITAR O CASTELINHO. 42.

(58) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. 4. PHARMACIA AEDIFICARE “Fervilha o conhecimento em cada tubo de ensaio, volatizavam-se conceitos, condensavam-se saberes. As palavras eram reagentes levados à ebulição filtradas a vácuo para um entendimento real” (CENTAEFFUL, 2015:197). Neste capítulo procurou desenvolver-se um pouco da história dos edifícios que acompanharam a Faculdade de Farmácia, desde a sua implementação até aos dias de hoje, e do que poderá vir a ser. Divide-se em duas partes, a primeira pretende confrontar a instituição com a sua história, a partir do ícone de memória que a fundou, o Castelinho, apresentando a evolução conceptual da Casa-Museu e dois casos de estudo: o Estúdio Fotográfico Carlos Relvas e o Centro de Arte Manuel Brito (CAMB). Na segunda parte procurou desenvolver-se o conceito de centro de investigação, explorando as exigências técnicas que advêm deste programa e todas as valências necessárias para o completarem. Para uma melhor compreensão utilizaram-se, mais uma vez, dois casos de estudo: o ICNAS, em Coimbra e o Laboratório de Química, no MIT. Estes conceitos e exemplos serão a base conceptual e teórica que irá acompanhar a proposta do centro de investigação e a reabilitação do Castelinho, apresentadas neste projeto de arquitetura.. 43.

(59) REVISITAR O CASTELINHO. 4.1 Ícone de Memória. “E a quinta se fez castelo, que se fez casa, que se fez escola, deixa de ser lição de vida para ser hoje arquivo de coisas mortas. Da história que se escreveu restam páginas dispersas de livros despedaçados. Epicentro de escombros, saudade feita refém, guardada pelo passar inexorável do tempo. Eternamente à espera que um heroico milagre a resgate do abandono.” (CENTAEFFUL, 2015:198) Apesar do Castelinho ter sido o edifício habitacional de uma quinta agrícola, é importante compreender que esta reabilitação é uma revisitação da memória de quem aqui estudou. Para compreender a importância da reabilitação deste ícone de memória é necessário compreender a evolução da reabilitação e o seu desempenho na sociedade. A ocupação das quintas agrícolas, antes situadas na periferia da cidade, passou pelo aproveitamento das estruturas originais, como a habitação, cavalariças, adegas, para outros tipos de usos, institucionais, por exemplo. A razão é fácil de compreender, de natureza prática e económica, pela fácil adaptação e a sua execução de baixo custo. Para responder a esta possibilidade, desenvolveram-se soluções de reabilitação, à medida que a sociedade desenvolve uma percepção mais atenta aos centros históricos e à sua sensibilidade. A Faculdade de Farmácia também viria a adoptar a estratégia da compra de uma antiga quinta agrícola para as suas instalações iniciais, pois ficavam abertas as possibilidade de expansão devido aos amplos limites da quinta e às infraestruturas existentes, como foi explorado no capítulo 2.2 Da Escola Superior à Faculdade de Farmácia. Com a expansão do curso foi necessário construir novos pavilhões e com a construção destes o Castelinho foi cada vez mais redundante, até deixar de ter uso, e ficar ao abandono. A memória do seu uso habitável estaria cada vez menos presente no quotidiano dos alunos, ficando a sua marca pictórica como mera referencia espacial. Entende-se que a reabilitação é necessária para conseguir suportar novos usos, teria apenas que realçar as características principais do edifício pré-existente, adicionando-lhe uma infraestruturação mínima – ao mesmo tempo que mantinha inalterado o seu carácter simbólico representativo. Apenas com reutilização dos sítios e o direito ao seu usufruto se consegue criar os mecanismos de conservação 44.

(60) CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015. material suficientes, que reciprocamente garantem uma perpetuação prática e simbólica.. 4.2 Uma Nova Memória. “Era a memória ardente a inclinar-se à giesta do tempo por frescura mas o que em seu espelho se figura vê que está só e a mesma dor foi dar-se noite e dia e silente de amargura uma saudade em febre o viu queimar-se até vir por um "sim" a consolar-se e do perdão mudo hino lhe assegura (...)” Walter Benjamin, in “Sonetos”, Trad. Vasco Graça Moura. Como se expôs anteriormente, a possibilidade de reabilitação, para além de sustentar um apreço ou uma quantidade baseada num juízo de valores, torna-se na forma de ressuscitar algo que se julgava perdido. O objetivo desta reanimação não é trazer de volta o Castelinho com a sua vocação utilitária prévia – agora ultrapassada materialmente por novos requisitos de uso – mas requalifica-lo como ícone da instituição, atribuindo-lhe uma importância social para a comunidade académica de farmácia. Esta revisitação ao passado será sublinhada com a instalação de um pequeno museu, a fazer justiça à memória deste lugar. Outra valência possível dentro da mesma lógica seria a adaptação de parte dos seus espaços como sala de leitura/arquivo, para lhe assegurar um uso quotidiano mais informal. Existem várias estratégias de possibilidade para a museologia: enquanto os museus tradicionais são representantes de uma aglomeração inerte, uma nova museologia apresenta o museu com um novo papel social, mais interativo e participativo, com o reforço da dimensão educativa. Este movimento iniciou-se na segunda metade do século XX, no pós-guerra, quando a necessidade de reabilitação e conservação do património se tornou num imperativo cultural, social e económico.. 45.

(61) REVISITAR O CASTELINHO. Não se pretende reabilitar um Castelinho tornado Casa-museu, que materializa um fotograma estático de história; o objetivo é mostrar e relembrar um tempo dinâmico, retratando a evolução da Faculdade e explicando o Castelinho como soma de todas as fases anteriores que a estrutura albergou. Na reabilitação explica-se que a utilização contínua de um edifício é parte da sua lógica de preservação, surgindo a sala de leitura/arquivo a garantir esse uso quotidiano, destinaoa a todos aqueles que necessitam de um espaço dedicado ao estudo dos temas correlativos à farmácia, neste caso, com ênfase nos livros mais raros e importantes da instituição. O objetivo passa pela transformação deste espaço em centro de divulgação principal, não só da Faculdade, mas também do mundo de Farmácia. Um centro de divulgação entendido como espaço polivalente, capaz de promover através de conferências, exposições ou demonstrações públicas. Normalmente, isto implica a configuração de um foyer, um espaço expositivo e uma pequena sala de conferências. Os dois casos de estudo que se apresentam testemunham uma apropriação equiparável, com as evoluções históricas em cada caso, que cada um sofreu até ao seu estado atual.. 4.2.1 O caso de estudo do Estúdio Fotográfico de Carlos Relvas O Estúdio Fotográfico de Carlos Relvas (1838 - 1894), na Golegã, foi construído na propriedade da família, no jardim da casa do Outeiro projetado pelo arquiteto Henrique Carlos Afonso. A sua execução demorou quatro anos, inaugurado em 1876 correspondendo ao segundo estúdio fotográfico do fotógrafo amador, tornando-se um exemplo conceituado no estrangeiro e um marco importante para a história da fotografia.. 31. Fotografia de Carlos Relvas, 1880, elaborada pelo próprio. 46. O edifício retrata bem a transição das épocas, com os materiais mais clássicos, como a pedra e o estuque em concordância com uma estrutura de ferro e vidro, com uma tecnologia de controlo da luz com várias cortinas com um sistema de cordas e roldanas. No piso térreo encontravam-se os laboratórios e a receção e no primeiro piso estava o estúdio e todos os acompanhamentos necessários, como o espaço de maquilhagem. Existiam todos os adereços necessários, à construção de uma cenografia de enquadramento ao retrato, como mobiliário ou telas pintadas. O.

Referências

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