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Uma Nova Memória

No documento Revisitar o Castelinho (páginas 60-62)

Cesari Brandi escreve sobre a Teoria do Restauro e o Restauro Crítico Esta teoria foi influenciar a Carta de Veneza (onde foi criado o ICOMOS –

4.2 Uma Nova Memória

“Era a memória ardente a inclinar-se à giesta do tempo por frescura mas o que em seu espelho se figura vê que está só e a mesma dor foi dar-se noite e dia e silente de amargura uma saudade em febre o viu queimar-se até vir por um "sim" a consolar-se e do perdão mudo hino lhe assegura (...)”

Walter Benjamin, in “Sonetos”, Trad. Vasco Graça Moura

Como se expôs anteriormente, a possibilidade de reabilitação, para além de sustentar um apreço ou uma quantidade baseada num juízo de valores, torna-se na forma de ressuscitar algo que se julgava perdido. O objetivo desta reanimação não é trazer de volta o Castelinho com a sua vocação utilitária prévia – agora ultrapassada materialmente por novos requisitos de uso – mas requalifica-lo como ícone da instituição, atribuindo-lhe uma importância social para a comunidade académica de farmácia. Esta revisitação ao passado será sublinhada com a instalação de um pequeno museu, a fazer justiça à memória deste lugar. Outra valência possível dentro da mesma lógica seria a adaptação de parte dos seus espaços como sala de leitura/arquivo, para lhe assegurar um uso quotidiano mais informal.

Existem várias estratégias de possibilidade para a museologia: enquanto os museus tradicionais são representantes de uma aglomeração inerte, uma nova museologia apresenta o museu com um novo papel social, mais interativo e participativo, com o reforço da dimensão educativa. Este movimento iniciou-se na segunda metade do século XX, no pós-guerra, quando a necessidade de reabilitação e conservação do património se tornou num imperativo cultural, social e económico.

REVISITAR O CASTELINHO

Não se pretende reabilitar um Castelinho tornado Casa-museu, que materializa um fotograma estático de história; o objetivo é mostrar e relembrar um tempo dinâmico, retratando a evolução da Faculdade e explicando o Castelinho como soma de todas as fases anteriores que a estrutura albergou.

Na reabilitação explica-se que a utilização contínua de um edifício é parte da sua lógica de preservação, surgindo a sala de leitura/arquivo a garantir esse uso quotidiano, destinaoa a todos aqueles que necessitam de um espaço dedicado ao estudo dos temas correlativos à farmácia, neste caso, com ênfase nos livros mais raros e importantes da instituição.

O objetivo passa pela transformação deste espaço em centro de divulgação principal, não só da Faculdade, mas também do mundo de Farmácia. Um centro de divulgação entendido como espaço polivalente, capaz de promover através de conferências, exposições ou demonstrações públicas. Normalmente, isto implica a configuração de um foyer, um espaço expositivo e uma pequena sala de conferências.

Os dois casos de estudo que se apresentam testemunham uma apropriação equiparável, com as evoluções históricas em cada caso, que cada um sofreu até ao seu estado atual.

4.2.1 O caso de estudo do Estúdio Fotográfico de Carlos Relvas

O Estúdio Fotográfico de Carlos Relvas (1838 - 1894), na Golegã, foi construído na propriedade da família, no jardim da casa do Outeiro projetado pelo arquiteto Henrique Carlos Afonso. A sua execução demorou quatro anos, inaugurado em 1876 correspondendo ao segundo estúdio fotográfico do fotógrafo amador, tornando-se um exemplo conceituado no estrangeiro e um marco importante para a história da fotografia.

O edifício retrata bem a transição das épocas, com os materiais mais clássicos, como a pedra e o estuque em concordância com uma estrutura de ferro e vidro, com uma tecnologia de controlo da luz com várias cortinas com um sistema de cordas e roldanas. No piso térreo encontravam-se os laboratórios e a receção e no primeiro piso estava o estúdio e todos os acompanhamentos necessários, como o espaço de maquilhagem. Existiam todos os adereços necessários, à construção de 31. Fotografia de Carlos Relvas, 1880,

CATARINA FERREIRA FERREIRA | DEZEMBRO 2015

47 edifício de planta longitudinal, que se articulava com corpos laterais, era distinguido

pelos seus telhados de duas águas e um pavilhão.

A sua imagem romântica e única tornaram a casa-estúdio num ícone muito apreciado e singular na sua utilização. Em 1887 teve de ser adaptada para residência o que fez com que existissem grandes alterações no seu conjunto e aspecto visual.

Em 1981, o edifício foi cedido à Câmara Municipal da Golegã e tornou-se na Casa Museu Carlos Relvas, mas teve de encerrar em 1996, devido à má condição do edifício.

Por isso, em 2003, o projeto de reabilitação foi entregue à dupla de arquitetos VM/SA (Victor Mestre e Sofia Aleixo) a quem coube decidir o que seria mais importante e com maior valor patrimonial realçar: se o estúdio de fotografia ou a residência do fotógrafo.

“O restauro do Estúdio decorreu após a estabilização de uma proposta de intervenção mínima devidamente suportada numa explícita ética de intervenção.”

(CAMPOS, 2012: 186)

Levando em conta que este foi um dos primeiros estúdios fotográficos de Portugal e que a utilização de arquitetura da época para o conseguir foi inovadora, foi reconstruído e reabilitado o estúdio para dar a conhecer às pessoas o trabalho do fotógrafo.

“O restauro implicou o desmonte, (para arquivo), de uma fase acumulativa (espaços recriados para habitação) e que, em nosso entender, era comprometedora do equilíbrio formal e funcional do edifício. Um meticuloso restauro em todas as partes construtivas do edifício desenvolveu-o ao seu esplendor original, constituindo hoje, pelo seu detalhe, silhueta e transparência, um objecto arquitectónico de invulgar expressão” (CAMPOS, 2012: 186).

O Pavilhão do Jardim foi adaptado para o museu, de forma a coordenar as várias áreas necessárias para o bom funcionamento. Foi realizada uma passagem subterrânea que liga o pavilhão e a casa-estúdio, que serve de Galeria para Exposições Temporárias.

32. Fotografia do estúdio de Carlos

No documento Revisitar o Castelinho (páginas 60-62)

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