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Caracterização de áreas prioritárias para conservação de Callicebus coimbrai (Primates) na Mata Atlântica nordestina

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA

ALEXANDRE RIBEIRO MIRANDA

Caracterização de áreas prioritárias para conservação de Callicebus coimbrai (Primates) na Mata Atlântica Nordestina

NATAL-RN 2018

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ALEXANDRE RIBEIRO MIRANDA

Caracterização de áreas prioritárias para conservação de Callicebus coimbrai (Primates) na Mata Atlântica Nordestina

Monografia apresentada como pré-requisito para a conclusão do curso de graduação em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Orientadora: Profa. Dra. Adriana Monteiro de Almeida

NATAL-RN 2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - -Centro de Biociências - CB Miranda, Alexandre Ribeiro.

Caracterização de áreas prioritárias para conservação de Callicebus coimbrai (Primates) na Mata Atlântica Nordestina /

Alexandre Ribeiro Miranda. - Natal, 2018. 41 f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Curso de Graduação em Ecologia.

Orientadora: Profa. Dra. Adriana Monteiro de Almeida.

1. Espécie ameaçada - Monografia. 2. Análise da paisagem - Monografia. 3. Primata neotropical - Monografia. I. Almeida, Adriana Monteiro de. II. Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. III. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 502.172

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ALEXANDRE RIBEIRO MIRANDA

Caracterização de áreas prioritárias para conservação de Callicebus coimbrai (Primates) na Mata Atlântica Nordestina

Monografia apresentada como pré-requisito para a conclusão do curso de graduação em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

APROVADA EM ____/____/ 2018

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________ Profa. Adriana Monteiro de Almeida

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Orientadora)

_______________________________________________________________ Profa. Priscila Fabiana Macedo Lopes

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Membro)

_______________________________________________________________ Adriana Almeida de Lima

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Membro)

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AGRADECIMENTOS

A minha orientadora, Dra. Adriana Monteiro de Almeida, agradeço por aceitar me orientar. Por ter me incentivado a continuar nos momentos que eu tive baixa produtividade. Por ter calma, humor e respeitar minhas limitações ao me orientar no momento mais difícil da minha vida. Também sou grato pela oportunidade de ser monitor na disciplina Ecologia da Conservação na qual revisei conteúdo, aprendi novas coisas e transmiti conhecimento.

A todos os professores do curso de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pois amam o que fazem assim como eu amo nosso curso. Eu tenho plena consciência da sua importância ambiental, social e econômica. Ao professor Magdi Aloufa que aceitou minha participação no Laboratório de Bioconservação de Espécies Nativas (LABCEN) no qual participei de inúmeros projetos e pude realizar atividades técnicas. Ao professor Alexandre Fadigas e a professora Priscila Lopes que aceitaram me orientar e que por motivos pessoais eu desapareci. Aos dois, peço perdão.

Agradeço a minha banca avaliadora que dedicou seu tempo para avaliar o meu trabalho e realizar críticas que são muito bem importantes para o meu processo de aprendizagem.

Ao apoio dos colegas e amigos que me alegraram durante toda minha longa jornada da graduação: Luana, Maria, Giesta, Roseline, Luan, Adriana, Marlene, Bruna, Barbara, Erika e tantos outros. A Biblioteca Central Zila Mamede por eu ter sido bolsista de apoio técnico por anos. A Kátia que me acolheu como bolsista de apoio técnico na Biblioteca Setorial do CB.

Aos meus queridos clientes que compram meus doces e ajudam a complementar a minha renda e me fazem sorrir um bocado.

E, por fim, a minha mãe, Ana Maria Ribeiro Miranda, por todo o amor, dedicação, compreensão e apoio incondicional. Por ter segurado a barra de me criar sozinha.

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RESUMO

O objetivo do estudo foi caracterizar as áreas prioritárias para a conservação de Callicebus coimbrai, também conhecido como guigó de Coimbra-Filho, espécie endêmica da Mata Atlântica nordestina e classificada como em perigo de extinção. Ao todo 12 áreas prioritárias previamente definidas foram analisadas através de métricas de paisagem no programa RStudio. A área dos polígonos de áreas prioritárias variou entre 2.192,77 ha e 120.935,43 ha. O uso do solo dominante, determinando sua cobertura, em todas as áreas prioritárias, com uma exceção, foram agricultura e pastagem. Grande parte (87,93%) dos fragmentos de floresta densa presente nas 12 áreas estudadas são inferiores a 3 ha. Aproximadamente 86,18% dos fragmentos de floresta não apresentaram área nuclear, contendo apenas borda (considerando 90m de borda). Apenas três áreas prioritárias tiveram um total de área nuclear maior que a área de borda dos fragmentos. Polígonos de áreas prioritárias com maior área apresentaram os maiores remanescentes de Mata Atlântica (rs = 0,939; gl = 3; p = 0,001), e menor densidade de fragmentos (rs = -0,664; p

= 0,001; gl = 3, resultado para todos os fragmentos). Ao analisar a área dos fragmentos, tanto a mediana (0,27-0,54 ha) quanto a média (2,28-13,5 ha) do tamanho dos fragmentos foram bastante influenciados pelo grande número de fragmentos muito pequenos, estando muito abaixo do estimado para a área de vida da espécie (9,8 e 13,5 ha). Após a exclusão dos fragmentos menores que 3 ha, 97,52% da floresta permaneceu e tanto a mediana (6,21 e 9,18 ha) quanto a média (10,30 e 120,99 ha) dos tamanhos dos fragmentos aumentaram. Apenas 23 fragmentos existentes nos polígonos de áreas prioritárias são de tamanhao igual ou maior a 1.000 ha e estão presentes em apenas metade das áreas prioritárias. As áreas estudadas, historicamente impactadas, se apresentam bastante fragmentadas se comparadas com toda extensão de Mata Atlântica. Por isso são necessárias medidas de urgência para que essas áreas sejam conservadas e também que seja realizado um manejo voltado para a restauração focado na conexão entre os grandes fragmentos, pois esses correspondem a uma pequena porção na paisagem e são essenciais para a conservação de Callicebus coimbrai.

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ABSTRACT

The objective of the study was to characterize the priority areas for the conservation of Callicebus coimbrai (known in english as Coimbra´s Titi or guigó de Coimbra-Filho in portuguese), an endangered, endemic species of the Northeastern Atlantic Forest. A total of 12 predefined priority areas were analyzed for landscape metrics in the RStudio program. The area of the priority areas polygons ranged from 2,192.77 ha to 120,935.43 ha. The dominant land use in all priority areas, with one exception, were agriculture and pasture. Most of the dense forest fragments (87.93%) occurring in the 12 studied areas measure less than 3 ha. Approximately 86.18% of the forest fragments had no core area, containing only border (considering a border width of 90 m). Only three priority areas had a total core area larger than the border area of the fragments. Polygons of larger priority areas showed the highest number of Atlantic Forest remnants (rs = 0.939, gl = 3, p = 0.001), and lower fragment density (rs = -0.664, p = 0.001, gl = 3, result for all the fragments). When analyzing the area of the fragments, both the median (ranging from 0.27 ha to 0.54 ha) and the mean (ranging from 2.28 ha to 13.5 ha) of the size of the fragments were strongly influenced by the large number of fragments smaller than the estimated area of life of the species (9.8 ha and 13.5 ha). After exclusion of the fragments smaller than 3 ha, 97% of the forest remained and both the median (ranged between 6.21 ha and 9.18 ha) and the mean (10.30 ha and 120.99 ha) of fragments sizes increased. Only 23 fragments in the polygons of priority areas are equal to 1,000 ha or larger, and are present in only half of the priority areas. Historically, the areas studied are environmentally impacted and very fragmented when compared to the entire Atlantic Forest. For this reason, it is necessary to take urgent measures to preserve these areas and also to carry out a restoration-oriented management focused on the connection of the large fragments, since these correspond to a small portion in the landscape and are essential for the conservation of Callicebus coimbrai.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Indivíduo de C. coimbrai (Kobayashi; Langguth, 1999), endêmico da Mata Atlântica.

12

Figura 2 – Localização das áreas prioritárias para conservação de C. coimbrai. As doze áreas prioritárias são observadas pelos polígonos em verde escuro (C1 a C12), a área de distribuição da espécie segundo a IUCN é representada pelo polígono verde claro, dentro de sua área de distribuição na Mata Atlântica do Nordeste brasileiro entre Bahia (BA) e Sergipe (SE).

14

Figura 3 – Polígonos C08 com 2.192,77 ha e C10 com 120.935,43 ha (respectivamente o menor e o maior em área) de áreas prioritárias para conservação de C. coimbrai...

19

Figura 4 – Área das coberturas de solo para cada área prioritária. Temos floresta em cor verde, floresta aberta (verde claro), água (azul), infraestrutura urbana (preto), agricultura e pastagem (amarelo), campos (cinza) e outros em azul escuro.

21

Figura 5 – Relação entre área total de cada polígono e área total de floresta densa (rs = 0,930; P <0,001; gl = 3).

22

Figura 6 - Frequência do número de fragmentos distribuídos por área (ha) nos polígonos de áreas prioritárias para conservação de Callicebus coimbrai.

22

Figura 7 - Regressão da variação dos dados entre áreas prioritárias e o seu tamanho (R2= 0,5679; p<0,05).

23

Figura 8 - Relação do tamanho da área prioritária e do maior fragmento (R2 = 0,597; p<0,05).

23

Figura 9 – Área total de núcleo e borda (90m) para cada polígono de área prioritária, apenas para a cobertura de floresta densa...

24

Figura 10 - Número de fragmentos por área dos polígonos de áreas prioritárias. Considerando apenas os fragmentos de tamanho igual ou superior a três ha (rs =

0,939; gl = 3; p = 0,001).

26

Figura 11 - Relação da densidade de fragmentos (> 3 ha) por área de áreas prioritárias para conservação de C. coimbrai (R2 = 0,2101; p = 0,001).

27

Figura 12 - Boxplot da área dos fragmentos de floresta densa de áreas prioritárias para a conservação de Callicebus coimbrai, considerando apenas os fragmentos com tamanho igual ou superior a três hectares...

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Agrupamento das classes de cobertura e uso do solo. 15

Tabela 2 – Matriz de confusão da cobertura de solo das áreas prioritárias, com os valores observados nas imagens classificadas e nas imagens de satélite do Google Earth.

16

Tabela 3 - Métricas utilizadas. 17

Tabela 4 - Área coberta por classe de uso do solo (ha) das áreas prioritárias para conservação de Callicebus coimbrai.

20

Tabela 5 - Resultados das métricas das áreas prioritárias para conservação de C.

coimbrai.

25

Tabela 6 - Métricas das áreas prioritárias para conservação de C. coimbrai considerando apenas os fragmentos de floresta densa com tamanho igual ou superior a três hectares.

25

Tabela 7 - Intervalo de tamanhos de fragmentos (> 3 ha) de áreas prioritárias para a conservação de Callicebus coimbrai. Constam nessa tabela apenas os intervalos encontrados, os demais foram excluídos para melhor visualização dos dados.

(10)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 9

2 MATERIAL E MÉTODOS 12

2.1 Caracterização da espécie estudada 12

2.2 Área de estudo

2.3 Reclassificação e validação das imagens de satélite

14 15

2.4 Análise da paisagem 17

3 RESULTADOS 20

3.1 Uso do solo nas áreas prioritárias 20

3.2 Métricas para floresta densa 21

3.3 Métricas para fragmentos com mais de três hectares de floresta densa 25

4 DISCUSSÃO 29

4. 1 Uso do solo nas áreas prioritárias 29

4.2 Floresta densa 30

4.3 Fragmentos acima de três hectares de floresta

5 CONCLUSÕES

32

34

REFERÊNCIAS 35

(11)

1 INTRODUÇÃO

Um dos grandes desafios da Biologia da Conservação é compreender a dinâmica espacial das populações de espécies ameaçadas em paisagens irregulares ou fragmentadas, buscando respostas de como o padrão espacial da paisagem influencia os processos populacionais. Sabemos que perturbações na paisagem, como a perda de habitat e a fragmentação, modificam a dinâmica populacional das espécies (BENDER; CONTRERAS; FAHRIG, 1998). Por isso se faz necessário avaliar as consequências dessas perturbações nos habitats a fim de descobrir quais características da paisagem permitem a continuidade das espécies em seus habitats e os riscos de extinção aos quais estão vulneráveis (BENDER; CONTRERAS; FAHRIG, 1998).

A perda de habitat é a destruição ou redução de uma área. Quando ocorre a destruição, o habitat é perdido por completo e ele deixa de existir, assim como as espécies que nele habitavam, caso não sejam removidas ou ocorra migração. Quando reduzido, o habitat sofre diminuição de sua área disponível e consequentemente diminuição dos recursos disponíveis (FAHRIG, 2003). Em geral, espécies que habitavam uma área perdida, quando sobrevivem são deslocadas e sofrem redução populacional (BENDER; CONTRERAS; FAHRIG, 1998).

A fragmentação é um processo no qual um habitat contínuo é transformado em uma série de fragmentos menores e isolado por uma matriz que difere em composição do original (FAHRIG, 2003). Esse processo diminui o recurso disponível e também dificulta a dispersão entre manchas de habitats, pois algumas espécies evitam a exposição às áreas abertas e consequentemente ficam isoladas em seus fragmentos, o que pode interromper o fluxo gênico entre as populações (DIXO et al., 2009).

Fragmentação também produz efeitos secundários. Um deles é o efeito de borda, no qual a ação do vento, alteração de luminosidade, exposição a espécies invasoras, entre outros fatores, causam alterações na estrutura e composição das margens dos fragmentos (BENDER; CONTRERAS; FAHRIG, 1998). A fragmentação também causa aumento na aproximação das espécies a matriz, causando um agravamento na vulnerabilidade às ameaças antrópicas, como a caça, atropelamentos por veículos, exposição a produtos químicos e queimadas entre outros efeitos que podem penetrar fragmentos florestais por dezenas de metros ou até quilômetros (RODRIGUES; NASCIMENTO, 2006).

Fragmentos pequenos perdem qualidade de habitat, o que pode levar ao declínio de alimento e abrigo disponível para espécies em geral, resultando no decréscimo das

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10

taxas reprodutivas e na abundância da espécie nesses habitats (LINDENMAYER e FISCHER, 2006). Por outro lado, além de possuir melhor qualidade, os grandes fragmentos florestais são vitais para o suporte a espécies e facilitam a recolonização de pequenos fragmentos circundantes, podendo atuar como áreas de origem para programas de conservação e restauração (RODRIGUES et al., 2009).

A Mata Atlântica é um hotspot de biodiversidade, área de alta biodiversidade e endemismo que sofre grande perda de habitat (MYERS, N. et al, 2000). Atualmente estima-se que restam entre 11,4 e 16% de sua extensão original, considerando florestas secundárias e pequenos fragmentos (RIBEIRO, et al, 2009). Mais de 80% dos seus fragmentos são menores que 50 ha e unidades de conservação protegem apenas 1% da área de floresta original e 9% do número de remanescentes, representados em sua maior parte por pequenos fragmentos e florestas em estado secundário (RIBEIRO, et al, 2009). Esse estado de degradação é resultado de um histórico de exploração neste bioma que teve início com a colonização do Brasil, onde ocorreu exploração de recursos naturais ao longo da costa brasileira, como o pau-brasil, cana-de-açúcar, cacau, café e posteriormente com o crescimento populacional e a industrialização (DEAN, 1996).

Primatas, como outras espécies que ocorrem em ambientes arbóreos, são bastante afetados por um ambiente altamente fragmentado, pois precisam de caraterísticas específicas para sobreviver, como áreas grandes de florestas contínuas que podem suprir as necessidades da espécie em seu núcleo, protegendo assim dos riscos da matriz e do efeito de borda (ARROYO-RODRÍGUEZ; DIAS, 2010). Espécies arborícolas apresentam dificuldades para transitar em matrizes não arbóreas, pois são influenciados pelo grau de permeabilidade da matriz e distância entre os fragmentos (DIXO et al., 2009). Não existindo a possibilidade de transitar entre fragmentos, a população fica isolada, impedindo o fluxo gênico, podendo diminuir a variabilidade genética e consequentemente comprometendo sua adaptabilidade (DIXO et al., 2009).

Atualmente existem aproximadamente 504 espécies de primatas de 79 gêneros e 16 famílias distribuídas nos Neotrópicos (171 espécies), África (111 espécies), Madagascar (103 espécies) e Ásia (119 espécies). Primatas não humanos estão presentes naturalmente em 90 países, mas apenas quatro concentram dois terços das espécies (Brasil, Madagascar, Indonésia e República Democrática do Congo), por isso esses países são áreas de alta prioridade para a conservação de primatas (IUCN , 2014). Estimativas indicam que 60% das espécies de primatas, de todas as famílias, estão ameaçadas de

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extinção devido ao impacto das atividades humanas insustentáveis e que 75% das espécies então em declínio populacional globalmente (IUCN, 2014).

Callicebus coimbrai é um pequeno primata arbóreo que se alimenta predominantemente de frutas. Possui comportamento monogâmico e de migração dos juvenis ao atingir idade reprodutiva. Atualmente encontra-se em perigo de extinção, em declínio populacional (IUCN, 2014). Sua área de distribuição ocorre em uma pequena parcela de Mata Atlântica entre os estados de Sergipe e Bahia. No passado a monocultura de cana-de-açúcar foi a principal atividade responsável pela devastação de áreas de florestas nesta região. Essa atividade ainda persiste em menor escala e é acompanhada principalmente pela pecuária extensiva e monocultura de eucaliptos que atualmente ocupa extensas áreas no litoral centro-norte baiano e no litoral sul de Sergipe (JERUSALINSKY, 2013).

Especialistas em primatas no Brasil definiram um conjunto de 12 áreas prioritárias para C. coimbrai em sua distribuição geográfica. A seleção ocorreu em uma reunião no Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros. As áreas prioritárias foram definidas de acordo com os pontos de ocorrência da espécie, assim como existência de fragmentos grandes em seu interior.

As áreas prioritárias para conservação de C. coimbrai são de extrema importância para a manutenção da espécie, por apresentarem as melhores características para a conservação da espécie em estudo. Sem a um devido manejo para conservação, C.

coimbrai, assim como outras espécies ameaçadas podem correr maior risco de extinção

em um futuro próximo.

Para que seja realizado algum tipo de manejo nessas áreas prioritárias assim como a conservação dessas, é preciso que tenhamos o conhecimento da configuração da paisagem nessas áreas para que os esforços e recursos sejam aplicados da melhor forma. Por isso esse trabalho tem como objetivo caracterizar e comparar as áreas prioritárias para a conservação de Callicebus coimbrai.

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12

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Caracterização da espécie estudada.

O guigó de Coimbra-Filho (Figura 1), Callicebus coimbrai (KOBAYASHI; LANGGUTH, 1999), foi descrito em 1999. Um adulto dessa espécie pesa em média 1,2 kg e mede por volta de 82 cm de comprimento (KOBAYASHI; LANGGUTH, 1999).

São caracterizados pela face preta, assim como suas patas, orelhas e a parte superior da cabeça. Possuem listra branca na lateral esquerda e direita da face, nuca branca, listras na porção anterior das costas, cauda acastanhada enquanto o resto do corpo é coberto por uma mistura de preto, branco e avermelhado, produzindo na pelagem um aspecto geral amarronzado ou acinzentado (KOBAYASHI; LANGGUTH, 1999). Os indivíduos dessa espécie não possuem dimorfismo sexual, sendo machos e fêmeas indistinguíveis fenotipicamente (BAIÃO, 2013). Possuem comportamento monogâmico, formam grupos familiares de 3 a 6 indivíduos, com um casal de adultos e sua prole (JERUSALINSKY et. al., 2006). Ao atingir a maturidade sexual os jovens se dispersam do grupo para novas áreas (JERUSALINSKY et. al., 2006).

Figura 1 – Indivíduo de C. coimbrai (Kobayashi; Langguth, 1999), endêmico da Mata Atlântica. Foto: João Pedro de Souza-Alves

(15)

Callicebus coimbrai é endêmico da Mata Atlântica e ocorre em florestas tropicais

primárias, florestas sazonais e secas e florestas com influência da Caatinga (JERUSALINSKY, 2013). Essa espécie é preferencialmente frugívora, porém sua alimentação sofre alterações sazonais, entre as estações chuvosas e secas também podem se alimentar de folhas e flores (SOUZA-ALVES, 2010). Toda sua área de distribuição geográfica cobre aproximadamente 30.000 km² e está distribuída entre o litoral do Sergipe na margem sul do Rio São Francisco, e o litoral norte da Bahia (até o recôncavo baiano). Os limites oriental (Oceano Atlântico) e setentrional (Rio São Francisco) são grandes barreiras físicas que impossibilitam a dispersão dessa espécie, e até o momento não existem registros de ocorrência fora desses limites (JERUSALINSKY, 2013). Sua área de vida é estimada entre 9,8 e 13,5 ha (SOUZA-ALVES et al., 2013) e o tamanho de fragmento necessário para manter populações geneticamente viáveis de 200 indivíduos por 100 anos é de 1.000 ha (JERUSALINSKY, 2013).

Está espécie está classificada pela International Union for Conservation of Nature (IUCN) (VEIGA et al, 2017) e pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) como em perigo de extinção (VEIGA, L. M. et al, 2008; BRASIL, 2014). Os critérios estabelecidos para tal classificação baseiam-se principalmente na distribuição geográfica restrita (severamente fragmentada, com declínio da área de ocupação e da qualidade do habitat) e no declínio continuo das populações (considerando o número de indivíduos maduros em subpopulações) dessa espécie (VEIGA, L. M. et al, 2008). No entanto, a caça e a captura desses animais para criação também contribuem para a suscetibilidade da espécie à extinção (JERUSALINSKY et. al., 2006). Estima-se que existam entre 500 e 1000 indivíduos (VEIGA, L. M. et al, 2008) distribuídos em uma paisagem altamente fragmentada e isolada devido à pecuária, agricultura e a urbanização contínua (IUCN, 2017; JERUSALINSKY et. al., 2006). Por esse motivo, podemos considerar que os maiores riscos a essa espécie são genéticos e demográficos (FERRARI et al. 2013). Callicebus coimbrai tem como característica a dispersão de jovens ao atingir a maturidade

sexual. Com o isolamento causado pela fragmentação, a dispersão é impedida, e consequentemente o fluxo gênico entre as populações, o que aumenta o risco de endogamia nas populações e a queda na adaptabilidade dos indivíduos (FERRARI et al. 2013).

(16)

14

2.2 Área de estudo

Durante a “Reunião para definição de áreas prioritárias para a conservação de primatas”, que ocorreu entre os dias 05 e 07 de outubro de 2016 no Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros, em João Pessoa (PB), especialistas em primatas definiram 12 polígonos de áreas prioritárias para a conservação de C. coimbrai (Figura 2). Os 12 polígonos é a área de estudo do atual trabalho. Essas áreas estão distribuídas no bioma Mata Atlântica, dentro da área de distribuição da espécie, entre o litoral do Sergipe, da margem sul do Rio São Francisco ao litoral norte da Bahia, próximo a capital Salvador.

Figura 2 – Localização dasáreas prioritárias para conservação de C. coimbrai. As doze áreas prioritárias são observadas pelos polígonos em verde escuro (C1 a C12), a área de distribuição da espécie segundo a IUCN é representada pelo polígono verde claro, dentro de sua área de distribuição na Mata Atlântica do Nordeste brasileiro entre Bahia (BA) e Sergipe (SE).

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2.3 Reclassificação e validação das imagens de satélite

Para analisar a paisagem de cada área prioritária de C. coimbrai, foram utilizadas imagens do Bioma Mata Atlântica do Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MAPBIOMAS, versão 2, 2016). Essas imagens foram obtidas dos satélites Landsat 5, 7 e 8 em formato TIFF, com resolução espacial de 30m correspondente ao ano de 2016, e foram classificadas com algoritmo Randon Forest, em 27 classes para o Brasil, em que cada classe corresponde a um tipo de cobertura do solo. As imagens obtidas do MapBiomas foram sobrepostas com os polígonos das áreas prioritárias então foi realizado um recorte das imagens para cada polígono. Assim obteve-se 12 imagens no formato TIFF, referente a cada polígono de área prioritária. Posteriormente, as 23 classes de cobertura do solo encontradas em nossos polígonos foram agrupadas em sete classes de acordo com a semelhança entre elas (Tabela 1; ver Figura 3 para passos do geoprocessamento, exemplificados pelas áreas C08 e C10). Para isso os valores dos pixels nas imagens foram alterados e as classes originais receberam um novo valor de pixel e também um novo nome para cada agrupamento de classes, como exibido na Tabela 1. O agrupamento foi realizado para facilitar o processamento de dados.

Tabela 1 – Agrupamento das classes de cobertura e uso do solo.

Após o agrupamento das classes foi realizada uma validação para checar se os valores dos pixels correspondiam à realidade apresentada na área de estudo. Para tal, foram gerados aleatoriamente 50 pontos para cada uma das 12 áreas prioritárias, somando um total de 600 pontos. Desse total foram descartados 45 pontos que não foram identificados devido à má qualidade da imagem, por ser imagem antiga, ou pela alta cobertura de nuvens na imagem impedindo a identificação da cobertura. Então, as

Classe Valor original Classe e valor

reclassificado Floresta, formações florestais naturais e floresta densa 1, 2 e 3 Floresta densa (1)

Floresta aberta e mangue 4 e 5 Floresta aberta (2)

Corpos d’água 26 Água (3)

Infraestrutura urbana 24 Infraestrutura urbana

(4)

Silvicultura, agricultura, pastagem e outras atividades humanas

9, 14, 15, 16, 18, 19, 20, 21 e 28

Agricultura e pastagem (5) Formações naturais não florestadas, áreas úmidas

naturais não florestadas e vegetação campestre 10, 11 e 12 Campos (6) Áreas não vegetadas, praias e dunas 22, 23 e 25 Outras (7)

(18)

16

imagens reclassificadas foram comparadas com as imagens de satélite disponíveis em Google Earth®. Foi verificado, para cada ponto gerado aleatoriamente, se havia congruência entre as imagens classificadas e as imagens de satélite. Para avaliar a adequabilidade da classificação, foi calculado o índice Kappa (LANDIS; KOCH, 1977) com a fórmula a seguir:

Índice Kappa = Observado – Esperado 1 – Esperado

O índice Kappa permite a avaliação do nível de concordância ou reprodutibilidade entre as nossas imagens reclassificadas e as imagens de satélite do Google Earth. O resultado da classificação apresentou um Kappa ponderado de 4,492, considerado “moderado” (LANDIS; KOCH, 1977).

A partir da matriz de confusão do índice Kappa, a porcentagem de acertos entre as imagens do MapBiomas e as imagens do Google Earth foi de 56,22%, ou seja, 312 pontos de um total de 555 (Tabela 2). Ao analisar a porcentagem de acerto apenas para floresta densa (75,9%) foi encontrado “concordância substancial” dos dados. Na validação realizada pelo projeto MapBiomas foi observado 84,1% de acerto para a Mata Atlântica como um todo. Esta diferença mostra que a classificação gerada pelo projeto MapBiomas para a área de distribuição de C. coimbrai está com uma validação abaixo da encontrada para a Mata Atlântica como um todo (MAPBIOMAS, versão 2, 2016). Tal observação é esperada já que estamos trabalhando em um recorte da paisagem como um todo. Porém se considerar apenas a validação para floresta densa que é o importante para a espécie o resultado da validação melhora bastante.

Tabela 2 – Matriz de confusão da cobertura de solo das áreas prioritárias, com os valores observados nas imagens classificadas e nas imagens de satélite do Google Earth.

Imagens de Satélite Im ag en s C lass if icad as Floresta densa Floresta aberta Água Infraestrutura urbana Agricultura e

pastagem Campos Outras Total

Floresta densa 76 44 0 1 16 2 0 139 Floresta aberta 0 19 0 0 1 1 0 21 Água 0 0 18 0 1 0 0 19 Infraestrutura urbana 0 0 0 1 0 0 0 1 Agricultura e pastagem 36 79 5 14 198 42 0 374

(19)

Campos 0 0 0 0 0 0 0 0

Outras 0 0 0 0 1 0 0 1

Total 112 142 23 16 217 45 0 555

2.4 Análise da paisagem

Para caracterizar a paisagem nos 12 polígonos de áreas prioritárias, métricas de paisagem foram calculadas (Tabela 3). Foram estimadas a área total de cada uma das sete classes de cobertura do solo em hectares (ha) e a riqueza e a diversidade de Shannon da cobertura de solo para cada área prioritária (Tabela 3). Para saber se existia relação entre a área total e a área de floresta densa dos polígonos, foi realizado uma análise de correlação de Spearrman no software Systat 12.0.

Tabela 3 – Métricas utilizadas.

Métrica Descrição e Observação

Área da paisagem Área total da paisagem (área prioritária) em (ha) Área da classe Somatório da área de uma classe específica (ha)

Riqueza Número de classes de cobertura do solo

Diversidade de Shannon H' = ∑ (pi)(ln pi)

Área central Soma da área central do fragmento (ha), área total menos a área de borda (90 m). Porção menos impactada do fragmento Área de borda Área total da borda (90m) em (ha) de cada fragmento Número de fragmento Número de fragmentos em cada polígono de área prioritária Área dos fragmentos Área em (ha) de cada fragmento de cada polígono de área prioritária

C. coimbrai vive em copas de árvores e raramente desce para o solo, por esta razão

foram geradas imagens contendo apenas floresta densa (Figura 3), habitat principal de C.

coimbrai, para isso apenas os pixels da classe 1 foram utilizados para criar novas imagens.

Considerando apenas essa classe de cobertura do solo, foi calculado o número, o tamanho médio (ha), o desvio padrão (ha) e a mediana (ha) dos fragmentos de floresta de cada um dos 12 polígonos de área prioritária. Foi estimada também a área total nuclear e área total de borda, devido a limitações durante o processamento dos dados, uma vez que valores inferiores a 3 pixels (900m2) não eram processados. O valor de 90m é considerado um

(20)

18

2000). Ao considerar 90m de borda, automaticamente os fragmentos de tamanho igual ou inferior a 2,54 ha passam a ser considerados apenas borda. Dessa forma novas imagens contendo apenas fragmentos de floresta densa com área igual ou superior a 3 hectares foram geradas (Figura 3). Fragmentos com menos de 3ha foram excluídos devido ao tamanho muito pequeno, uma vez que esses podem ter sido gerados por erro na classificação e/ou má qualidade das imagens e também foram excluídos em outros estudos de Mata Atlântica (RIBEIRO et al., 2009), além disso, são de baixa qualidade para a espécie em estudo por possuir uma pequena área de núcleo (fragmentos de três hectares com formato circular apresentam uma área nuclear de 0,46 ha ou 4600m²). Para as novas imagens, contendo apenas fragmentos de floresta densa com no mínimo 3 hectares, foi estimado o número, tamanho médio (ha), desvio padrão (ha), mediana e o tamanho do menor e maior fragmento (ha) em todas as áreas prioritárias.

Devido aos dados apresentaram distribuição não normal e um grande número de outliers, foram utilizados testes não paramétricos, uma vez que estes se baseiam em comparações entre medianas, e são mais indicados para dados dessa natureza. As medianas das áreas dos fragmentos de floresta densa iguais ou superiores a 3 ha foram comparadas através do teste de Kruskall-Wallis e para verificar quais pares de áreas prioritárias diferem em área foi aplicada a análise de Mann-Whitney. Para verificar se existe relação entre o número de fragmentos de floresta densa e a área total de floresta densa nos polígonos foi realizada uma análise de correlação de Spearman. As analises estatísticas foram utilizadas o software Systat 12.0 (WILKINSON, 2007).

(21)

Figura 3 – Polígonos C08 com 2.192,77 ha e C10 com 120.935,43 ha (respectivamente o menor e o maior em área) de áreas prioritárias para conservação de C. coimbrai. Os polígonos (A e B) foram reclassificados para 7 classes de cobertura de solo, neles a floresta densa é representada pelos pixels brancos. Os polígonos (C e D) representam apenas a classe de cobertura de floresta densa (em verde escuro) e os pixels excluídos (em branco). Os polígonos (E e F) representam a cobertura de floresta densa considerando apenas fragmentos maior ou igual a 3 ha. Na legenda as diferentes cores indicam diferentes fragmentos e a escala pode ser observada nos eixos x e y da figura.

(22)

20

3 RESULTADOS

3.1 Uso do solo nas áreas prioritárias

Foi observada uma grande variação no tamanho das áreas prioritárias para conservação de C. coimbrai. As áreas dos polígonos variam entre 2.192,77 ha e 120.935,43 ha (áreas prioritárias C8 e C10, respectivamente), dessa forma a área do maior fragmento é aproximadamente 55 vezes maior que a área do menor fragmento (Tabela 4). A cobertura de solo dominante em todas as áreas prioritárias, com exceção da área C12, foi agricultura e pastagem. Esta classe de uso do solo cobre 60% de todas as áreas juntas e variou entre 32,77% e 83,73% (C12 e C2 respectivamente; Figura 4 e Tabela 4). As proporções de floresta densa variaram entre 12,59% e 47,20% (C2 e C10, respectivamente; Figura 4 e Tabela 4). Apenas a área C12 teve cobertura de floresta maior que cobertura de agricultura e pastagem. Esta área também difere das demais por possuir uma alta proporção de corpos d’água em seu interior (Figura 4 e Tabela 4). Apenas o polígono C8 não apresentou a classe de campos, e, portanto, apresentou riqueza de classe de cobertura de solo igual a seis, as demais áreas tiveram riqueza igual a sete, apresentando todas as classes de cobertura (Tabela 4). A diversidade da paisagem em cada polígono, medida pelo índice de Shannon variou entre as 12 áreas prioritárias (Tabela 4). Os menores valores de diversidade foram 0,571 em C8 e 0,582 em C2, enquanto os mais altos foram 1,404 na área C6 e 1,316 na área C12 (Tabela 4).

Tabela 4 – Área coberta por classe de uso do solo (ha) das áreas prioritárias para conservação de Callicebus coimbrai. Área prioritária Floresta densa (ha) Floresta aberta (ha) Água (ha) Infraestrutura urbana (ha) Agricultura e pastagem (ha) Campos (ha) Outras (ha) Área total (ha) Riqueza Diversidade Shannon C1 5.026,23 59,13 739,35 720,63 32.792,22 63,81 73,62 39.474,99 7 0,595 C2 1.585,71 21,96 111,24 138,78 10.529,19 162,18 28,89 12.577,95 7 0,582 C3 5.125,32 20,43 7,02 595,71 22.739,22 6,66 39,42 28.533,78 7 0,588 C4 3.563,37 1.405,71 442,98 456,84 13.396,41 192,96 78,93 19.537,20 7 0,999 C5 14.603,22 4.861,44 4.346,82 2.958,39 49.009,86 474,75 438,57 76.693,05 7 1,126 C6 3.075,30 2.718,45 1.566,99 63,36 3.720,33 75,24 3,24 11.222,91 7 1,404 C7 1.663,74 12,33 45,81 103,14 4.143,06 0,72 2,25 5.971,05 7 0,733 C8 365,22 2,97 31,59 13,95 1.778,85 0,00 0,18 2.192,77 6 0,571 C9 6.383,88 65,43 174,06 1.198,62 12.582,18 15,48 59,04 20.478,69 7 0,909 C10 57.061,80 327,96 1.192,95 1.317,60 60.503,04 95,58 436,50 120.935,43 7 0,837 C11 19.313,19 148,86 859,86 903,24 65.780,91 13,77 47,97 87.067,80 7 0,655 C12 27.280,53 4.459,59 17.784,81 422,46 24.656,31 390,78 239,76 75.234,24 7 1,316

(23)

Figura 4 – Área das coberturas de solo para cada área prioritária. Temos floresta em cor verde, floresta aberta (verde claro), água (azul), infraestrutura urbana (preto), agricultura e pastagem (amarelo), campos (cinza) e outros em azul escuro.

3.2 Métricas para floresta densa

A cobertura de floresta densa nas áreas prioritárias variou entre 365,22 ha em C8 e 57.061,80 ha em C10 (Tabela 4). As maiores áreas prioritárias (com maior área) tiveram maior cobertura de floresta densa (rs = 0,930; P <0,001; gl = 3; Figura 5). Os fragmentos

de floresta densa das 12 áreas prioritárias, quando somados ocupam área igual a 145.047,51 ha de um total de 499.919,85 ha, ou seja, aproximadamente 29,1% de toda extensão das áreas prioritárias é coberta por floresta densa. Porém 87,93% dos fragmentos de floresta densa apresentaram tamanho muito pequeno, ou seja, de um total de 22.255 fragmentos presentes nas 12 áreas prioritárias 19.570 deles apresentaram área menor que 3 ha (Figura 6; Tabelas 5 e 6). A área que teve o menor número de fragmentos, considerando também os menores que 3 ha, foi C08 com 140 fragmentos e com maior número foi C10 com 4.340.

(24)

22

Figura 5 – Relação entre área total de cada polígono e área total de floresta densa (rs = 0,930; P <0,001; gl = 3).

Figura 6 – Frequência do número de fragmentos distribuídos por área (ha) nos polígonos de áreas prioritárias para conservação de Callicebus coimbrai.

A densidade de fragmentos por hectare teve relação negativa com a área total dos polígonos entre 0,0035 em C10 e 0,0785 em C03, sendo significativa com 57% da

Área total do polígono (ha)

Á

rea

t

ota

l de

fl

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es

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den

sa

(h

a)

Log da área do fragmento (ha)

N

úm

er

o de

fr

ag

m

en

to

s

(25)

variação dos dados de densidade entre áreas prioritárias explicada pelo seu tamanho (R2

= 0,5679; p<0,05; Figura 7).

Figura 7 – Regressão da variação dos dados entre áreas prioritárias e o seu tamanho (R2= 0,5679; p<0,05). O tamanho do maior fragmento de cada área prioritária variou entre 93,60 ha na área C08 e 12.607,11 ha em C10, com seu maior fragmento sendo aproximadamente 134 vezes maior que o maior fragmento de C08 (Tabela 5).

Foi identificada relação significativa entre o tamanho da área prioritária e o tamanho do maior fragmento (R2 = 0,597; p<0,05). Sendo assim, aproximadamente 60 % da variação do tamanho do maior fragmento de cada área é explicado pela área do polígono (Figura 8).

Figura 8 – Relação do tamanho da área prioritária e do maior fragmento (R2 = 0,597; p<0, 05). y = -4E-07x + 0,0651 R² = 0,5679 0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09 0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000

D

ens

ida

de

de F

ra

g

m

ento

s

Área total do polígono (ha)

y = 0,0885x - 883,83 R² = 0,5973 -2000 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000

M

a

io

r

F

ra

g

m

ento

(26)

24

As áreas C1, C2, C3, C4 e C8 tiveram o tamanho médio dos seus fragmentos inferior a 3 ha, as demais áreas apresentaram tamanho médio de fragmentos variando entre 3,75 ha na área prioritária C5 e 13,15 ha na área prioritária C10 (Tabela 5). Já as medianas mostravam valores bem abaixo das médias, variando entre 0,27 ha em C06 e 0,54 ha em C01, C02, C04, C07.

Ao analisar a influência da borda, quando examinados todos os fragmentos de floresta densa, uma alta proporção de fragmentos (86,18%) não apresentou área nuclear, sendo considerados apenas borda (considerando 90m de borda), uma vez que tiveram área menor que 2,55 ha (Tabela 5). Apenas as áreas prioritárias C6, C10 e C12 tiveram um total de área nuclear maior que a área de borda dos fragmentos. O polígono C12 teve a maior proporção de área nuclear, aproximadamente 60,38% da sua cobertura vegetal está no núcleo dos fragmentos (Figura 9 e Tabela 5). As demais áreas tiveram a soma das bordas superior à soma dos núcleos dos fragmentos. A área C8 tem a área de borda mais que três vezes maior que o centro do fragmento.

Figura 9 – Área total de núcleo e borda (90m) para cada polígono de área prioritária, apenas para a cobertura

de floresta densa. A primeira coluna (cor verde) corresponde ao somatório da área em ha dos núcleos de todos os fragmentos do polígono e a segunda coluna (cor vermelha) exibe o somatório total da área de borda em ha de todos os fragmentos do polígono.

(27)

Tabela 5 – Resultados das métricas das áreas prioritárias para conservação de C. coimbrai.

Área prioritária Área total do polígono (ha) Floresta densa (ha) Número de fragmentos Menor fragmento (ha) Maior fragmento (ha) Tamanho médio (ha) Desvio padrão Mediana (ha) Área central (ha) Área de borda (ha) C1 39.474,99 5.026,23 1.822 0,09 510,21 2,76 15,05 0,54 1.274,85 3.751,38 C2 12.577,95 1.585,71 686 0,09 112,86 2,31 9,02 0,54 291,51 1.294,20 C3 28.533,78 5.125,32 2.242 0,09 630,45 2,28 17,66 0,45 1.404,45 3.720,87 C4 19.537,20 3.563,37 1.234 0,09 687,69 2,89 22,33 0,54 1.040,94 2.522,43 C5 76.693,05 14.603,22 3.893 0,09 2.005,02 3,75 38,19 0,45 4.754,34 9.848,88 C6 11.222,91 3.075,30 553 0,09 1.296,27 5,56 60,97 0,27 1.633,50 1.441,80 C7 5.971,05 1.663,74 401 0,09 281,34 4,15 19,46 0,54 471,06 1.192,68 C8 2.192,77 365,22 140 0,09 93,60 2,61 9,38 0,45 86,67 278,55 C9 20.478,69 6.383,88 788 0,09 1.456,29 8,10 75,74 0,36 3.046,77 3.337,11 C10 120.935,43 57.061,80 4.34 0,09 12.607,11 13,15 242,79 0,45 29.980,08 27.081,72 C11 87.067,80 19.313,19 3.821 0,09 2.267,82 5,05 55,94 0,45 7.776,99 11.536,20 C12 75.234,24 27.280,53 2.335 0,09 11.669,31 11,68 261,87 0,36 16.474,59 10.805,94

3.3 Métricas para fragmentos com mais de três hectares de floresta densa

Ao analisar os fragmentos maiores que 3ha, que possuem área de núcleo para a espécie, observa-se uma nova configuração da paisagem (Tabelas 6).

A soma da área da cobertura floresta densa de todas as áreas prioritárias foi igual a 133.380,18 ha, o que corresponde a 26,68% da área total das 12 áreas prioritarias.

A redução da área de floresta densa, ao excluir os fragmentos menores que 3 ha, foi maior em C2 com 27,14% de floresta perdida, e menor em C10, que teve apenas 3,83% de floresta densa perdida ( Tabelas 5 e 6).

Tabela 6 – Métricas das áreas prioritárias para conservação de C. coimbrai considerando apenas os fragmentos de floresta densa

com tamanho igual ou superior a três hectares.

Área prioritária Área total (ha) Número de fragmentos Menor fragmento (ha) Maior fragmento (ha) Tamanho médio (ha) Desvio padrão Mediana C1 4.005,54 274 3,06 510,21 14,62 36,65 6,30 C2 1.155,33 79 3,06 112,86 14,62 23,21 6,21 C3 3.911,22 198 3,06 630,45 19,75 56,67 7,24 C4 2.891,16 158 3,06 687,69 10,30 60,34 6,39 C5 12.517,02 484 3,06 2.005,02 25,86 105,79 6,97 C6 2.849,40 47 3,15 1.296,27 60,62 203,03 7,02

(28)

26 C7 1.446,48 67 3,15 281,34 21,59 43,85 7,20 C8 285,03 17 3,60 93,60 16,77 22,75 9,18 C9 6.004,17 81 3,06 1.456,29 74,12 226,97 7,74 C10 54.874,44 585 3,06 12.607,11 93,80 656,06 8,37 C11 17.307,27 479 3,06 2.267,82 36,13 154,60 7,74 C12 26.133,12 216 3,06 11.669,31 120,99 855,10 7,11

O número de fragmentos que possuem área nuclear essencial para a espécie alvo, é pequeno se compararmos com o numero de fragmento em toda área prioritária (de 22.255 para 2.685).

O número de fragmentos ≥ 3ha nas áreas prioritárias teve relação com o tamanho total da área de floresta densa do polígono, onde quanto maior a área floresta densa maior o número de fragmentos maiores que 3 ha (rs = 0,939; gl = 3; p = 0,001; Figura 10). O

polígono C06 perdeu a maior proporção de floresta, ficando com apenas 8,4% dos seus fragmentos e C07 perdeu a menor porcentagem em número de fragmentos com 16,7% dos fragmentos totais (Tabelas 5 e 6). A área prioritária C12 não acompanha a tendência geral das outras áreas, com menor número de fragmentos em relação a sua área (Figura 10).

Figura 10 – Número de fragmentos por área dos polígonos de áreas prioritárias. Considerando apenas os fragmentos de tamanho igual ou superior a três ha (rs = 0,939; gl = 3; p = 0,001).

N

úm

er

o de

fr

ag

m

en

to

s (

> 3

h

a)

(29)

A relação entre a densidade de fragmentos de tamanho igual ou superior a 3 ha e a área total do polígono foi significativa (R2 = 0,2101; p = 0,001), similar a relação

encontrada para todos os fragmentos, porém os pontos explicam apenas 21% da variação (Figura 11).

Figura 11 – Relação da densidade de fragmentos (> 3 ha) por área de áreas prioritárias para conservação de C. coimbrai (R2 = 0,2101; p = 0,001).

Aproximadamente 90% dos fragmentos maiores que 3 ha são inferiores a 50 ha. Apenas 23 fragmentos existentes nos polígonos de áreas prioritárias são de tamanhao igual ou maior a 1.000 ha, dez desses fragmentos estão na área prioritaria C10 (Tabela7). Percebe-se grande aumento no tamanho médio dos fragmentos nas áreas prioritárias quando analisados os fragmentos com três ou mais hectares, variando entre 10,3 ha em C04 e 120,99 ha em C12 (comparar Tabelas 5 e 6).

A mediana do tamanho dos fragmentos maiores que 3ha sofreu aumento após a exclusão dos fragmentos de baixa qualidade que são os inferiores a 3 ha (comparar Tabelas 5 e 6).

As áreas prioritárias para conservação de C. coimbrai diferiram em relação a área dos fragmentos (K-W = 37.402; P <0,001; Figura 12). A diferença pode ser observada entre onze pares de área (Anexo 1 e Figura 7), sendo que as áreas C10 e C11 apresentaram maior número de diferenças entre as comparações par-a-par do teste de Mann-Whitney. As áreas C06, C07, C08 e C09 não diferiram das demais em relação à área dos fragmentos (Anexo1). y = -3E-08x + 0,0073 R² = 0,2101 0 0,002 0,004 0,006 0,008 0,01 0,012 0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000

D

ens

ida

de

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(>

3

ha

)

(30)

28

Figura 12 – Boxplot da área dos fragmentos de floresta densa de áreas prioritárias para a conservação de Callicebus coimbrai, considerando apenas os fragmentos com tamanho igual ou superior a três hectares. As linhas horizontais que cortam os retângulos são as medianas de cada área. Os retângulos representam 50% dos dados. Os asteriscos são valores atípicos e os círculos são valores discrepantes (outliers).

Tabela 7 – Intervalo de tamanhos de fragmentos (> 3 ha) de áreas prioritárias para a conservação de Callicebus coimbrai. Constam nessa tabela apenas os intervalos encontrados, os demais foram excluídos para melhor visualização dos dados.

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 C11 C12

Á

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do

s fr

ag

m

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c

ad

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)

Área Prioritária

Pares que diferem em teste

Mann-Whitney C01 e C05 C01 e C10 C01 e C11 C02 e C10 C02 e C11 C03 e C10 C04 e C05 C04 e C10 C04 e C11 C05 e C10 C10 e C12

(31)

4 DISCUSSÃO

4. 1 Uso do solo nas áreas prioritárias

As áreas prioritárias para conservação de Callicebus coimbrai estão inseridas em uma paisagem altamente fragmentada e dominada pela cobertura agricultura e pastagem, que cobre mais de 60% das 12 áreas prioritária para conservação de Callicebus coimbrai. As áreas prioritárias apresentam diferentes proporções de cobertura de floresta denta (entre 12,59 e 47,20), indicando que essas são diferentes e apresentam características próprias que podem ou não serem benéficas para a nossa espécie alvo.

A Mata Atlântica brasileira foi o ambiente por onde se iniciou a colonização do país. Em perspectiva histórica de a substituição da floresta ocorre na Mata Atlântica há alguns séculos, por meio da substituição da cobertura vegetal (floresta) para uso humano (agricultura, pasto e silvicultura) assim como sobre-exploração de recursos florestais (madeira, frutos e caça) (DEAN, 1996). Em algumas das áreas prioritárias para a conservação de Callicebus coimbrai a substituição da floresta densa chega a atingir mais de 80% de toda área apenas com agricultura e pastagem. Ainda hoje há bastante alteração na cobertura dessas áreas, aproximadamente 23,08% do plantio de eucaliptos no Brasil concentra-se na região de Mata Atlântica no Estado da Bahia (BRACELPA, 2002). Plantio de eucaliptos podem impactar ainda mais essas áreas e as populações de C.

coimbrai, já que nunca foi avistado nenhum indivíduo em plantio de eucalipto, segundo

Jerusalinsky (comunicação pessoal)1 Plantios de eucalipto também podem causar

confusão para pesquisadores que realizam estudos de geoprocessamento com mapeamento de vegetação, pois plantações de eucaliptos podem ser confundidas com florestas, podendo levar a uma superestimativa da cobertura de floresta densa.

Não apenas na Mata Atlântica brasileira, mas no mundo todo primatas perdem área de floresta. Um levantamento recente indica que as principais ameaças às espécies de primatas no mundo são a perda de habitat devido à agricultura (que atinge 76% das espécies), extração e colheita de madeira (60%) e pecuária (31%) (IUCN, 2014).

A influência da matriz pode ter fortes efeitos em muitos processos ecológicos florestais (PARDINI, 2007). As áreas prioritárias de C. coimbrai estão bastante vulneráveis devido à alta cobertura de agricultura e pastagem, atingindo até 83,73% de

1 Informação fornecida por Jerusalinsky, em conversa informal com a profa. Adriana Monteiro do Departamento de Ecologia da UFRN.

(32)

30

cobertura em uma das áreas. Uma das influências provocada por uma matriz de agricultura e/ou pastagem é a baixa permeabilidade entre fragmentos (MORAES, 2017). Dessa forma, a dispersão de C. coimbrai fica limitada, impedindo a migração dos indivíduos jovens, e podendo comprometer o fluxo gênico entre populações.

Apenas uma das áreas prioritárias não apresentou uma das coberturas de uso do solo, não possuindo a cobertura campos. Esse dado é pouco relevante para nosso estudo, pois a nossa espécie alvo é arbórea e vive essencialmente em ambientes naturais de floresta, usando pouco o solo. Observando os valores dos índices de diversidade obtidos para a diversidade de coberturas, não foi identificada relação entre a diversidade de coberturas e a qualidade das áreas prioritárias para a espécie alvo. Algumas das áreas mais diversas apresentaram baixa cobertura de floresta densa quando comparadas com outras áreas menos diversas. Dessa forma o índice de Shannon conseguiu descrever bem a diversidade das coberturas de solo existentes nas áreas prioritárias, mas seu resultado não indica quais áreas são melhores para a espécie foco desse estudo, pois o melhor para C. coimbrai é que suas áreas prioritárias sejam menos diversas e que exista dominância da cobertura floresta densa.

4.2 Floresta densa

A proporção total de floresta densa encontrada nas áreas prioritárias corresponde a 29,1% da área total, esse valor está acima do que foi encontrado por Ribeiro (2009), onde cerca de 16% de toda extensão de Mata Atlântica e 17,7% na sub-região da Bahia corresponderam a floresta. Isso sugere que as áreas prioritárias para conservação de C. coimbrai sofreram menos impacto em relação à extensão total original de Mata Atlântica. No trabalho atual pode-se observar que as maiores áreas prioritárias apresentam maior cobertura de floresta densa. Em um estudo realizado na Amazônia foi identificada uma relação positiva entre área de floresta e riqueza de primatas em fragmentos (BOYLE; SMITH, 2010). Como C. coimbrai vive exclusivamente nas copas das árvores, essa cobertura é fundamental para sua existência e pode indicar boa qualidade das áreas maiores.

A densidade de fragmentos teve relação negativa com a área do polígono, onde as maiores áreas tiveram menor densidade de fragmentos, demonstrando que essas possuem fragmentos mais contínuos, maiores. Esses atendem melhor as necessidades da espécie

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alvo, pois quanto maior o fragmento maior será a área disponível para locomoção, forrageio e descanso da espécie.

O tamanho do polígono de área prioritária ajuda a prever se a área terá um grande fragmento. Esse dado indica que os maiores remanescentes de floresta se encontram nas maiores áreas prioritárias, sendo assim essas possuem fragmentos capazes de proteger a espécie de adversidades antrópicas como queimadas, caça e atropelamentos (RODRIGUES; NASCIMENTO, 2006).

As áreas prioritárias de C. coimbrai apresentam altas proporções de fragmentos menores que três hectares (87,93% do total de fragmentos de floresta densa). Esse valor foi um pouco superior ao que Ribeiro (2009) encontrou para a Mata Atlântica como um todo (83,4%). Apesar de sua grande abundância na região estudada, os fragmentos menores que 3 ha correspondem apenas a 2,42% de toda cobertura de floresta das 12 áreas estudadas. Ribeiro (2009) analisando toda a extensão de Mata atlântica observou que 20,1% da área estava em fragmentos menores que 3 ha. Comparando o resultado desse estudo ao dele, observa-se que apesar das áreas prioritárias apresentarem maior proporção de fragmentos menores que três ha que os observados na Mata Atlântica como um todo, eles correspondem a uma porção bastante pequena da cobertura total de floresta densa. A área prioritária C12 mostrou uma baixa relação entre área e número de fragmentos se comparado com as demais áreas prioritárias. Essa área possui um diferencial de apresentar 23,64% de água como cobertura, proporção bastante superior ao observado nas outras áreas. Todo esse volume de água pode promover a manutenção da área verde, que é pouco fragmentada nesta região, se comparada com os outros polígonos. Uma explicação pode ser que a cobertura água funcione como barreira de exploração.

Os maiores fragmentos encontrados nas áreas prioritárias para conservação de C. coimbrai são 92 vezes inferiores ao maior fragmento identificado por Ribeiro (2009) localizado na Serra do Mar em São Paulo, mostrando o alto grau de fragmentação da nossa área de estudo em relação a outras áreas de Mata Atlântica. Apesar de C. coimbrai também ser encontrado em alguns fragmentos inferiores a 10 ha (JERUSALINSKY, 2013), sabe-se que quanto menor o fragmento, maior sua vulnerabilidade às ameaças antrópicas, como caça, queimadas, atropelamentos e ao efeito de borda que compromete a qualidade do fragmento (RODRIGUES; NASCIMENTO, 2006). Isto é principalmente para espécies como o guigó, que possuem dinâmica de migração de juvenis para novas áreas (FAHRIG, 2007; CROUZEILLES et al., 2014).

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A mediana de tamanho de fragmentos nas áreas prioritárias foi bastante baixa e foi influenciada pelo elevado número de fragmentos de baixa qualidade, os menores que 3 ha. Os valores observados são muito inferiores ao estimado por Souza-Alves; et al. (2013), que estimaram a área de vida variando entre 9,8 e 13,5 ha para esta espécie.

A maioria das áreas prioritárias apresentaram fragmentos de floresta densa com área de borda superior à área nuclear (considerando 90m de borda). Isso ocorreu devido ao grande número de fragmentos inferiores ou iguais a 2,54 ha (86,18% do total de fragmentos). Em um estudo na Floresta Amazônica, Gascon (2000) conclui que a maioria das espécies de plantas e animais apresentam impactos detectáveis até 300 m de borda de floresta. Em relação a estes valores a nossa borda é modesta. A capacidade de a borda regenerar e manter a integridade do núcleo do fragmento depende em grande parte da capacidade destrutiva da matriz (GASCON, 2000). Áreas como a Mata Atlântica apresentam condições mais severas que as em geral observadas na Amazônia. Na Mata Atlântica os fragmentos de floresta estão em sua maioria imersos em grandes extensões de monocultura de eucaliptos e de pecuária extensiva. Nessas áreas o uso do fogo e o uso intenso de herbicidas são procedimentos de rotina, tornando os fragmentos incapazes de regenerar em suas bordas e amortecer o seu interior (GASCON, 2000). No estudo realizado por Ribeiro (2009) para toda a Mata Atlântica foi observado que 70% dos fragmentos de Mata Atlântica estão sujeitos a intenso efeito de borda devido à proximidade a áreas abertas.

4.3 Fragmentos acima de três hectares de floresta

Ao analisar os fragmentos de tamanho igual ou superior a três hectares, observa-se que 26,68% da cobertura das 12 áreas prioritárias corresponde a floresta densa. Na análise para todos os fragmentos tivemos como resultado (29,1% de cobertura floresta densa. Comparando os dois resultados observou-se que apenas 2,42% da área de floresta estão em fragmentos pequenos (menores que 3 ha).

Em relação ao número de fragmentos, há uma grande diferença, já que nas áreas prioritárias analisadas, apenas 12,07% de todos os remanescentes são maiores que 3 ha. Após a exclusão dos fragmentos menores que 3 ha, duas áreas prioritárias apresentaram proporção de floresta densa abaixo do encontrado. Ribeiro (2009) afirma em sua estimativa que da extensão original de Mata Atlântica, atualmente existe entre 11,4 e 16%

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de toda extensão. Isso porque apresentam mais de 83% de cobertura composto por agricultura e pastagem que é globalmente a cobertura de maior ameaça para primatas (IUCN, 2014).

As relações área e número de fragmentos, densidade de fragmentos e área do maior fragmento, foram observados os mesmos padrões encontrados para todos os fragmentos. A área prioritária C12 não acompanha a tendência geral dos outros polígonos quanto à área e o número de fragmentos como já observado. A ampla cobertura de água neste polígono de área prioritária está interferindo na proporção de outras coberturas, como já descrito acima.

Mais de 90,2% dos fragmentos dos doze polígonos de áreas prioritárias estão entre 3 e 50 ha. Este valor é maior que o (83,4%) encontrado por Ribeiro (2009). Já as proporções dos fragmentos acima de 50 ha (Tabela 7) existentes nas áreas prioritárias foram inferiores as proporções existentes para toda a Mata Atlântica Ribeiro (2009). Tornando evidente que essa extensão entre o Estado da Bahia e do Sergipe possui fragmentos pequenos se comparado com toda extensão de Mata Atlântica. Um exemplo disso é que o maior fragmento encontrado nas áreas prioritárias para conservação de C. coimbrai tem 12.607 ha e é 95 vezes menor que o maior fragmento de Mata Atlântica que tem 1.200.000 ha. Isso não quer dizer que as áreas prioritárias para conservação de C. coimbrai estão bastante impactadas e por isso pode-se abandoná-las. Pelo contrário, só demonstra que elas são prioridade para conservação, pois são as melhores dentro da extensão de ocorrência da espécie alvo.

A mediana de tamanho dos fragmentos maiores que 3 ha variou entre 6,21ha e 9,18ha. Apesar do aumento significativo quando comparada com a variação da mediana para todos os fragmentos (0,27 e 0,52 ha), essa também está abaixo da área de vida (9,8 e 13,5 ha) dessa espécie (SOUZA-ALVES et al., 2013). Exibindo que a paisagem é dominada por fragmentos de baixa qualidade, esses são mais de 90% do total e pesam bastante para esse resultado.

Apenas metade das áreas prioritárias apresentaram fragmentos com tamanho igual ou superior a 1.000 ha. Considerando que o tamanho de fragmento necessário para manter populações geneticamente viáveis de 200 indivíduos por 100 anos é de 1.000 ha JERUSALINSKY (2013), então apenas 1,38% (23) dos fragmentos das áreas prioritárias para conservação de Callicebus coimbrai podem manter essa estimativa. Porém os fragmentos menores podem funcionar na paisagem como stepping stones, promovendo a

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conectividade entre os fragmentos maiores, facilitando a dispersão da espécie que tem como característica comportamental a dispersão de jovens ao atingir a maturidade sexual. Com base em nossos resultados sugere-se indicar as maiores áreas prioritárias como as melhores para C. coimbrai. Elas possuem maior cobertura de floresta densa, maiores fragmentos e menor densidade de fragmentos.

5 CONCLUSÕES

Callicebus coimbrai, também conhecido como guigó de Coimbra-Filho, é uma espécie de primata brasileiro que é endêmico e está em perigo de extinção. Essa espécie não é a única no Brasil e no mundo classificado em algum grau de vulnerabilidade, existem inúmeras outras. Porém, existem algumas características de C. coimbrai que o torna mais vulnerável, como o comportamento migratório de juvenis em idade reprodutiva. Devido à baixa qualidade do ambiente em sua área de ocorrência tal comportamento por muitas vezes pode não ser possível, comprometendo o comportamento reprodutivo e a manutenção das populações dessa espécie que já está em declínio populacional.

As áreas prioritárias para a conservação de Callicebus coimbrai estão inseridas em uma área de Mata Atlântica historicamente impactada. A cobertura de solo que domina essas paisagens atualmente é agricultura ou pastagem. Esse tipo de matriz produz grande impacto e muitas vezes impede a regeneração das bordas do fragmento, comprometendo o amortecimento dos impactos que podem chegar à área de núcleo e gerar um empobrecimento da área nuclear do fragmento. As áreas prioritárias apresentam em sua maioria fragmentos pequenos que são mais expostos aos efeitos citados acima. Isso torna evidente que o primeiro passo é estabelecer as melhores áreas como unidades de conservação, mas que só isso não iria garantir que essa espécie seja salva, não em curto prazo. Além de conservar, essas áreas é preciso que seja realizado um manejo voltado para a restauração focado na conexão entre os grandes fragmentos. Os fragmentos menores, que são maioria, podem ser restaurados visando a formação de corredores ecológicos entre os grandes fragmentos e também como stepping stones.

O fragmento de tamanho necessário para manter populações geneticamente viáveis de 200 indivíduos por 100 anos é de 1.000 ha (JERUSALINSKY, 2013) somam apenas 23 fragmentos, considerando toda a paisagem das áreas prioritárias, isso mostra que eles devem ser prioridade para a conservação. Tanto os que tiverem presença

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confirmada da espécie, quanto os que não têm presença mais são aptos para que a mesma se estabeleça.

Apesar de muito impactadas essas são as melhores áreas para se tentar salvar essa espécie, esse é o motivo pelo qual elas são áreas prioritárias e precisam de empenho para descobrir como elas de fato são e quais as consequências disso para C. coimbrai, assim proteger esse guigó da extinção.

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