• Nenhum resultado encontrado

Características da tomada de decisão para o acesso ao crédito rural na bovinocultura de corte

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Características da tomada de decisão para o acesso ao crédito rural na bovinocultura de corte"

Copied!
70
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

LUIZ HENRIQUE DE ALMEIDA

CARACTERÍSTICAS DA TOMADA DE DECISÃO PARA O

ACESSO AO CRÉDITO RURAL NA BOVINOCULTURA DE

CORTE

Campinas

2019

(2)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

LUIZ HENRIQUE DE ALMEIDA

CARACTERÍSTICAS DA TOMADA DE DECISÃO PARA O

ACESSO AO CRÉDITO RURAL NA BOVINOCULTURA DE

CORTE

Prof. Dr. Bastiaan Philip Reydon – orientador

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Econômico, na área de Economia Agrícola e do Meio Ambiente.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO LUIZ HENRIQUE DE ALMEIDA E ORIENTADA PELO PROF. DR. BASTIAAN PHILIP REYDON.

Campinas

2019

(3)
(4)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

LUIZ HENRIQUE DE ALMEIDA

CARACTERÍSTICAS DA TOMADA DE DECISÃO PARA O

ACESSO AO CRÉDITO RURAL NA BOVINOCULTURA DE

CORTE

Prof. Dr. Bastiaan Philip Reydon – orientador

Defendida em 18/03/2019

COMISSÃO JULGADORA

Prof. Dr. Rodrigo Lanna Franco da Silveira - PRESIDENTE Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Prof. Dr. Sergio de Zen

Universidade de São Paulo (USP)

Prof. Dr. Vitor Bukvar Fernandes

Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer

A Ata de Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

(5)

AGRADECIMENTOS

Antes de tudo agradeço à minha família pelo suporte e apoio durante toda a minha jornada. À minha mãe por ter enfrentado um mundo para criar dois filhos, superando todas as barreiras e nos incentivando sempre a ler, estudar, e por ter me dado as bases para me tornar um homem independente (tudo isso é resultado de seu esforço). Ao meu pai, que segue vivo em mim e no meu irmão e nas lembranças de seus amigos e familiares. Pela inspiração na leveza e bom humor com que enfrentava os problemas, por ter me ensinado como fazer e manter amigos. Ao meu irmão pela parceria eterna desde antes do nascimento, imediata compreensão, por acreditar em mim e por ser uma metade indissociável. À minha avó Dona Linda que não viveu para ver esse projeto concluído, mas segue viva em mim e em minhas memórias, por sempre ter dito que a maior riqueza era o conhecimento, que nunca podia ser roubado por ninguém e por ter me amado incondicionalmente. Ao meu avô, José Luiz que me ensinou sobre a importância do esforço e trabalho duro, sem esquecer de amar e de encontrar a felicidade nas pequenas coisas. Ao meu tio Shigueo por ser um importante exemplo de inteligência e sabedoria, sem deixar de lado o bom humor perspicaz e os valores essenciais. À minha tia Dalva, pelo exemplo de doçura, compreensão e bondade. Avós maternos sempre presentes, sempre importantes. Agradeço à minha namorada Raquel pela compreensão nos momentos estressantes durante a elaboração desse trabalho, por todo o apoio, por sempre acreditar e torcer por mim e por todo amor e carinho durante o tempo que estivemos juntos, te amo linda.

Aos amigos da vida que nos lembram de quem somos de verdade: agradeço à GMR Xapadão, por ter sido a família que escolhi e que me acolheu. Obrigado por tudo, e por manter essa casa viva, dando oportunidades para que outros também possam viver muitas histórias para contar. Aos amigos do Aldeia por terem me proporcionado a melhor infância e adolescência imaginável e por continuarem na minha vida com a mesma amizade. Ao Bandeira e ao Lucas, amigos de infância de muitas risadas e muitas histórias que seguem para sempre comigo, independentemente de onde estejam, Santos ou Portugal. A todos os colegas da 5ª turma de Gestão Ambiental da Esalq/USP, por seguirem juntos na batalha pelos mesmos ideais e por terem compartilhado a mesma realidade de um momento único, em que os problemas do mundo pareciam possíveis de serem solucionados. Aos amigos do Colégio Maria Imaculada, pela amizade verdadeira em um momento de grandes incertezas, carrego cada um no coração e na lembrança.

(6)

Ao Professor Bastiaan Philip Reydon, pela orientação e paciência durante a elaboração desse trabalho e por ter apresentado diversas oportunidades de colaboração e parcerias durante o mestrado. Às amizades que fiz durante minha trajetória profissional na Vigna, Cepea, TNC e P4F, pelo sangue suor e lágrimas a cada projeto desenvolvido e a cada conquista obtida. À TNC pela colaboração nessa pesquisa e por ter me apresentado o universo das ONGs e a oportunidade de combater em lutas que valem à pena. Por fim, dedico este trabalho a todos que se interessam e que lutam por um mundo que seja socialmente justo e ambientalmente sustentável. A luta é nossa e a vitória é certa.

(7)

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo responder a seguinte questão: Quais fatores interferem na decisão para tomada de crédito por pecuaristas de diferentes sistemas produtivos? O trabalho divide-se em duas partes. A primeira é uma revisão da literatura que inicia com um resumo das transformações da bovinocultura de corte no Brasil e as alterações que têm levado gradualmente a inovações nos sistemas produtivos. A revisão abrange também as linhas de crédito rural disponíveis com foco na cadeia pecuária e as diferentes divisões dos sistemas produtivos da cadeia de produção. Por fim, a segunda parte apresenta os resultados da aplicação da metodologia de um questionário elaborado pela The Nature Conservancy, e os resultados de uma análise de cluster com os dados obtidos na pesquisa. A pesquisa entrevistou 98 produtores pecuaristas com interesse em obter crédito de 11 estados brasileiros em diversos ciclos produtivos. Após validação estatística, a análise foi realizada nas respostas de 48 destes pecuaristas identificando agrupamentos de perfis por meio de suas respostas no questionário. Na perspectiva do produtor, a análise identificou que o acesso ao crédito é constrangido pelo excesso de burocracia na solicitação de crédito e insatisfação com as taxas de juros (embora sejam as menores do mercado para financiar as atividades de interesse). As atividades para financiamento de maior interesse foram o manejo do pasto (essencial para o aumento da produtividade no setor) e a implantação de Sistemas de Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF). Fatores socioeconômicos como classificação do produtor, tamanho do rebanho e os sistemas produtivos também evidenciaram contribuição na formação dos agrupamentos hierárquicos pela similaridade entre as respostas às questões apresentadas.

(8)

ABSTRACT

This essay has the objective of answering the following question: Which factors interfere in the decision for hiring credit by cattle ranchers producing in different production systems? The essay is divided in two parts. The first is a literature review that begins with a summary of the transformation in the livestock production in Brazil, with changes that gradually brought innovations in the production systems and a discussion on the evolution of cattle ranching productivity. The review also encompasses the rural credit lines available in Brazil focusing in the livestock production chain and different divisions in the production systems. The second part presents the results of the application of a Questionnaire developed by The Nature Conservancy, and the results of a cluster analysis with the data obtained through the field research. The research applied a questionnaire to 98 producers located in 11 Brazilian states, specialized in different livestock production cycles and with interest in obtaining credit. After statistical validation, a cluster analysis was performed with the answers from 48 of these cattle ranchers identifying profile groups based on their answers at the questionnaire. In these producers` perspective, the analysis identified that the credit access is constrained by the pointed excessive bureaucracy in the process of credit request and by a dissatisfaction with the available interest rates (even though they are the lowest in the rural credit markets). Most cited activities of interest to be financed are pasture management (essential for sectorial productivity improvements) and forest-crop-livestock integrated models. Socioeconomic factors such as producer classification (large, medium and smallholders) and cattle herd also contributed to the formation of the hierarchical groups by the similarity of their answer to the proposed questionnaire.

(9)

Lista de Ilustrações

Figura 1 – Comparação da evolução dos recursos do PAP com o crescimento do PIB do Agronegócio 2010-2018 (dados nominais). ... 14 Figura 2 – Evolução da área de pastagem e do número de animais no Brasil (1985 – 2017) em milhões de animais e milhões de hectares. ... 18 Figura 3 – Evolução da taxa de lotação em área de pastagem (cabeças por hectare) no Brasil (1985 – 2017) ... 19 Figura 4 – Evolução do peso médio dos animais abatidos em @ de carcaça. ... 19 Figura 5 – Evolução das exportações do agronegócio e representatividade da carne bovina (bilhões de US$) ... 21 Figura 6 - Definição de Custo Operacional Efetivo e diferenças entre Pecuária e

Agricultura ... 22 Figura 7 – Comparação do valor acumulado (Jan/2013 a 05/2018) dos contratos de custeio para produção agrícola e pecuária (bovinocultura), por UF ... 24 Figura 8 – Valor contratado para o Programa ABC por Finalidade de Investimento 2015/16 e 2016/17 ... 28 Figura 9 – Montantes desembolsados pelo Programa ABC para as safras 2011/12 até a safra 2016/17, por fonte financiadora. ... 28 Figura 10 – Custos de transação para Instituições Financeiras em contratos de crédito rural ... 29 Figura 11 – Critérios para classificação de risco do devedor e da operação e crédito ... 31 Figura 12 – Origens dos custos de transação aos produtores na obtenção de crédito rural ... 32 Figura 13 – Estrutura do Sistema completo de produção de bovinos de corte no Brasil 34 Figura 14 – Categorias de questões no questionário elaborado pela TNC ... 41 Figura 15 – Representatividade relativa dos estados na amostra. ... 47 Figura 16 – Distribuição dos produtores por faixas de dimensão do rebanho ... 48 Figura 17 – Distribuição dos produtores por faixas de lotação animal em

cabeças/hectare ... 48 Figura 18 – Distribuição dos produtores com relação à ação que devem realizar para aumentar sua produção ... 49 Figura 19 – Distribuição dos produtores em Sistemas Produtivos ... 49

(10)

Figura 20 – Dendrograma gerado a partir da análise de Cluster ... 53 Figura 21 – Clusters formados após primeiro corte ... 53 Figura 22 – Clusters formados após segundo corte ... 54

(11)

Lista de Tabelas

Tabela 1 – Prazos de pagamento e taxas de juros para a safra 2018-2019 das linhas de

crédito de custeio do Plano Agrícola e Pecuário do MAPA. ... 24

Tabela 2 - Prazos de pagamento e taxas de juros para a safra 2018-2019 das linhas de crédito de Investimento do Plano Agrícola e Pecuário do MAPA ... 26

Tabela 3 – Linhas de financiamento e finalidades no Programa ABC ... 27

Tabela 4 – Variáveis na análise e respectivos nomes ... 45

Tabela 5 – Frequência das modalidades para a variável de Sistemas de Produção ... 51

Tabela 6 – Frequência das modalidades para fatores que desmotivam no acesso a crédito ... 51

Tabela 7 – Frequência das modalidades para Itens de Importância para Financiamento ... 51

Tabela 8 – Frequência das modalidades para a variável de Classificação do Produtor .. 52

Tabela 9 – Frequência das modalidades para a variável de Tamanho do Rebanho ... 52

Tabela 10 – Frequência das modalidades para a variável de Tamanho do Rebanho ... 52

(12)

Sumário

1. Introdução ... 13

1.1 Pergunta ... 15

1.2 Objetivos Específicos... 15

2. Contextualização histórica ... 16

2.1 Transformações tecnológicas na agropecuária ... 16

3. Crédito Rural e problemas no estimulo à produtividade da agropecuária ... 22

3.1.1 Crédito Rural no Brasil: Crédito para Custeio ... 22

3.1.2 Crédito Rural no Brasil: Crédito para Investimento ... 25

3.1.3 Crédito atrelado à critérios ambientais ... 26

3.2 Lacunas da Governança e fricções no mercado de crédito ... 29

4. Características dos Sistemas de produção na pecuária ... 34

4.1 Sistemas de Produção quanto a caracterização das atividades no manejo do rebanho. ... 34

4.2 Sistemas de Produção quanto ao regime alimentar. ... 36

4.2.1 Sistemas de Produção extensivos ... 37

4.2.2 Sistemas de Produção Semi-intensivos ... 37

4.2.3 Sistemas de Produção intensivos ... 38

4.3 Sistemas de Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) ... 38

5. Metodologia ... 40

5.1 Metodologia de Pesquisa ... 40

5.2 Análise de Cluster (Análise de Agrupamentos Hierárquicos) ... 44

6. Resultados e Discussão ... 47

6.1 Resultados da Pesquisa ... 47

6.2 Resultados da Análise de Cluster ... 50

6.3 Discussão dos resultados ... 56

7. Considerações Finais ... 58

8. Referências Bibliográficas ... 59

(13)

1. Introdução

As contradições da pecuária brasileira são sintomas de um processo de desenvolvimento histórico lento e cujos gargalos seguem sendo de grande importância para o seu processo de modernização. Enquanto nos últimos anos a atividade apresentou ganhos significativos de produtividade, questões básicas envolvidas em sua modernização permanecem paradigmas para o setor, como a administração rural com previsão de gastos e receitas e o manejo adequado da pastagem com a utilização adequada de insumos.

Nas últimas décadas, o aumento da relevância do setor agropecuário no crescimento econômico nacional se deu principalmente em decorrência do estímulo a um modelo agroexportador baseado na grande propriedade e na expansão da fronteira produtiva para o cerrado (e mais recentemente para a Amazônia). A pecuária que sempre foi a atividade de expansão da fronteira, seguiu desempenhando um importante papel nessa dinâmica, como a atividade chave na ocupação do território recém desbravado.

Nesse sentido, a existência de linhas de crédito que sejam direcionadas para estimular um modelo mais sustentável e para o aumento da produtividade contribuem para uma mudança de direção neste desenvolvimento agropecuário nacional. Para a pecuária brasileira, avessa ao risco, tradicionalmente realizada de forma extensiva com baixa produtividade e baixa utilização de insumos, o desafio reside no desenvolvimento de uma atividade que seja viável o bastante para cobrir o custo de oportunidade com o uso predatório e especulativo da terra.

Nesse sentido, não só a disponibilidade dos itens financiáveis e o acesso a este recurso configuram aspectos essenciais. Ademais, os fatores por trás da escolha pela tomada de crédito também configuram importante objeto de estudo, buscando identificar as características do “espírito animal” do produtor rural e compreender o que move sua perspectiva de ganhos em longo prazo.

No lado da oferta, a dinâmica também é complexa e sua eficiência restringe ou propicia essa mudança. No cenário brasileiro, a política de crédito rural é operada de forma mista, com marcante controle estatal, mas também com participação do setor privado marcadamente como repassador de recursos do plano agrícola e pecuário (PAP). A terceirização do repasse justifica-se na medida em que justifica-se terceirizam os custos de transação na oferta do crédito (ex.: análijustifica-se de crédito, administração, monitoramento, riscos) e se descentraliza a administração de um processo de alta complexidade. A eficiência dessa dinâmica afeta positiva ou negativamente no crescimento da produção e da produtividade agropecuária, e em última instância no produto Interno Bruto do setor (Figura 1).

(14)

Figura 1 – Comparação da evolução dos recursos do PAP com o crescimento do PIB do Agronegócio 2010-2018 (dados nominais).

Fonte: BRASIL, Plano Agrícola e Pecuário 2010 a 2019; CEPEA, 2019.

Em uma década, o crescimento do volume de crédito rural desembolsado pelo PAP foi de 110%, saindo de 92 bilhões de reais na safra 2009/2010 para 194 bilhões na safra 2018/2019, um crescimento médio de 9,9% ao ano. No entanto, analisando somente a razão entre a evolução dos recursos de crédito rural público do PAP com a evolução do PIB do agronegócio, observa-se um salto de 11% para 14% no período, o que dá indícios de uma estagnação do crédito como fator de estímulo ao crescimento.

De um lado, cabem dúvidas sobre as dificuldades da demanda para acessar e gerir de forma eficiente os recursos em direção à absolutamente necessária modernização de um setor econômico chave. De outro lado, a questão reside na capacidade de desembolso do crédito, com as incertezas ligadas ao estímulo de uma transição complexa e desafiadora.

Este trabalho irá analisar as principais características do desenvolvimento da bovinocultura de corte no país e quais os fatores que interferem na busca por crédito por pecuaristas brasileiros. Para tanto, serão utilizados os resultados de um questionário elaborado e aplicado pela The Nature Conservancy (TNC) com o objetivo de delinear as demandas e dificuldades no acesso a crédito de diferentes produtores com interesse em modernizar suas propriedades. Com os resultados, serão analisadas as características dos grupos e seu perfil de escolha frente ao sistema produtivo em que se especializaram, aos itens que possuem interesse em financiar e o que desmotiva no acesso ao crédito.

10.00% 10.50% 11.00% 11.50% 12.00% 12.50% 13.00% 13.50% 14.00% 14.50% 200,000 400,000 600,000 800,000 1,000,000 1,200,000 1,400,000 1,600,000 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

PIB Agronegócio (em mil reais) Recursos PAP (em mil reais) Participação do crédito no PIB (em %)

(15)

Para alcançar o objetivo, o trabalho possui sete capítulos. O primeiro integra esta introdução e os objetivos. O segundo é uma análise do mercado de crédito rural no Brasil. O terceiro é uma descrição dos diversos sistemas de produção da bovinocultura de corte. O quarto é a metodologia utilizada nos questionários, a análise de agrupamentos hierárquicos (Análise de Cluster). O quinto capítulo apresenta e discute os resultados. Por fim, o sexto capítulo apresenta as considerações finais e uma agenda de continuidade do estudo.

1.1 Pergunta

A pergunta que este trabalho quer responder é:

1 – Quais fatores interferem na decisão para tomada de crédito por pecuaristas de diferentes sistemas produtivos?

1.2 Objetivos Específicos

Os objetivos específicos são divididos em dois eixos: o primeiro, busca discutir como a baixa produtividade da pecuária está relacionada com paradigmas históricos. E o segundo é verificar quais as características da demanda e quais fatores interferem no acesso a crédito em diferentes sistemas produtivos.

(16)

2. Contextualização histórica

O presente capítulo analisa a relação entre o desenvolvimento tecnológico da pecuária por meio de sua evolução recente. É apresentado um breve histórico das principais transformações com base na evolução dos índices zootécnicos e sua representatividade na economia.

2.1 Transformações tecnológicas na agropecuária

Durante todo o período colonial a pecuária brasileira esteve ligada ao suprimento das necessidades atreladas à sua principal atividade econômica, a produção canavieira. A pecuária tem sua utilidade tanto no provimento de animais para tração como para a subsistência da população (FURTADO, 1959). Assim como a cana-de-açúcar, a pecuária ocorre inicialmente no Nordeste, expandindo o território da colônia em direção ao interior do sertão. Além de poucas instalações como curral e vivendas, a atividade produtiva era empenhada por poucos empregados com alguma especialização entre as tarefas produtivas. O cuidado nutricional dos animais era feito da forma mais rudimentar possível, baseado na incipiente vegetação forrageira do sertão nordestino (PRADO JR, 2010).

Nos séculos seguintes, a expansão da atividade e das áreas de produção seguem em direção ao desenvolvimento das áreas urbanas, acompanhando o crescimento da importância das regiões mineradoras. Em Minas Gerais a atividade se desenvolveu em condições mais apropriadas, com melhores pastagens e distante das secas frequentes que açoitava a produção na Região Nordeste. A criação de gado solto, tradicional na produção nordestina, passa a ocorrer delimitada por cercas, dividindo os pastos em uma lógica racional de aproveitamento dos pastos e forragens de maior qualidade para o gado durante o ano todo.

Na região Sul, a produção também se desenvolve, com maior destaque para produção de couro e de charque. De forma similar à região nordeste, a produção pecuária no Sul ocorre sistema rudimentar, mas beneficiada por um regime de chuvas abundante e pastagens de melhor qualidade (PRADO JR, 2010).

Após o declínio da mineração, a pecuária passa a abastecer o mercado consumidor estimulado pelo crescimento da produção cafeeira. No entanto, a atividade não passa por grandes transformações tecnológicas e se baseia na expansão das áreas de pasto até as primeiras décadas século XX, com a chegada de iniciativas estrangeiras, para investimento em frigoríficos

(17)

e abatedouros. Somente a partir da década de 1930, iniciam os cruzamentos das espécies zebuínas com animais nativos adaptados ao clima tropical (PEIXOTO, 2010).

A evolução da produtividade no meio rural brasileiro inicia mudanças a partir da década de 50 e com mais intensidade a partir da década de 60. Os fatores que corroboraram para essa transformação foram a Revolução Verde (processo de modernização agrícola), a evolução tecnológica e científica, e o crescimento puxado pela demanda mundial de alimentos (BUAINAIN et al, 2014).

Sem grandes sucessos, na década de 50 iniciam as tentativas de implementação de forragens mais nutritivas para o rebanho bovino. Já na década seguinte, descobre-se a cultivar que inovou a pecuária nacional: a australiana Basilisk de B. decumbens, popularmente chamada de “capim-braquiária”, demonstrando excelente resultados nos solos pobres do Cerrado.

A criação da Embrapa em 1973 foi essencial para impulsionar o desenvolvimento tecnológico da agropecuária. Isso porque o principal pilar da instituição sempre foi viabilizar soluções para o desenvolvimento sustentável por meio da geração, adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias ao setor produtivo (GASQUES et al., 2010).

Em 1984, é desenvolvido o capim Brachiaria brizantha cv Marandu (capim-brachiarão), pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que se torna o mais utilizado no Brasil até os dias atuais (KARIA et al, 2006).

Seria impossível não ressaltar que a profunda transformação da produtividade agropecuária contou com o Estado como grande articulador do processo de modernização, não só pelos os órgãos públicos de pesquisa e extensão, mas também pela política oficial de crédito rural. Cardoso (1994) considera este o principal instrumento de política pública que possibilitou a consolidação do modelo de desenvolvimento agrícola brasileiro.

Entre 1997 e 2008 as tecnologias implementadas cresceram bruscamente, estimulando o retorno social para toda a economia. Com isso, surgem melhores condições produtivas e aumento de renda para os agricultores (GASQUES et al., 2010).

Na bovinocultura de corte, tradicionalmente o boi foi mais utilizado como reserva de valor do que propriamente como resultado de um sistema produtivo. As oscilações dos preços na cadeia da carne bovina são explicadas tanto pela história econômica recente do País quanto pelo avanço das pesquisas científicas. Nesse sentido, em muitas ocasiões, o papel de reserva de valor exerceu função tão ou mais importante do que o atendimento das necessidades de consumo do mercado. Nos momentos de instabilidade política e/ou econômica, os agentes tendem a procurar ativos reais como forma de garantir o valor de seus patrimônios. Novamente,

(18)

a elevada liquidez da produção animal, o baixo custo de manutenção da atividade e a flexibilidade temporal na negociação do boi explicam o fato de a bovinocultura ser, frequentemente, a opção escolhida pelo produtor (DE ZEN et al., 2017). Ou seja, configura-se em atividade produtiva exercida por agentes majoritariamente avessos a riscos tanto produtivos quanto financeiros.

O desenvolvimento mais relevante da agropecuária ocorre a partir do final da década de 90. Nesse período, o país tornou-se um importante player mundial e se estabeleceu como um dos quatro maiores exportadores de commodities como: açúcar, soja, milho, suco de laranja, café, algodão, suínos, aves e bovinos (BUAINAIN et al, 2014; NAVARRO & CAMPOS, 2014). Tal desenvolvimento pode ser analisado pela evolução dos índices de produtividade na Figura 2, Figura 3 e na Figura 4.

Figura 2 – Evolução da área de pastagem e do número de animais no Brasil (1985 – 2017) em milhões de animais e milhões de hectares.

Fonte: Mapbiomas (2018), IBGE, (2018a).

De acordo com dados do Mapbiomas (2018) e do IBGE (2018a), de 1985 a 2017, o crescimento do rebanho bovino brasileiro foi de 67,3% e o crescimento da área de pastagem foi de 43,3% (Figura 2). Ou seja, o crescimento do número de animais maior do que o crescimento da área destinada à pastagem evidencia um aumento da produtividade da atividade no período. A Figura 3 apresenta a evolução da taxa de lotação.

95.82 137.32 128.42 214.90 70 90 110 130 150 170 190 210 230 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 Milh õ es

(19)

Figura 3 – Evolução da taxa de lotação em área de pastagem (cabeças por hectare) no Brasil (1985 – 2017)

Fonte: Mapbiomas (2018), Sidra IBGE (2018a).

De forma objetiva, a taxa de lotação em pasto (em animais por hectare), aumentou em 16% em 32 anos, de acordo com dados da Pesquisa Pecuária Municipal do IBGE (2018a). Se analisarmos a evolução do peso médio dos animais abatidos em 20 anos (1997 – 2017), vemos uma evolução menor (Figura 3). Com relação ao peso médio de abate, evoluções no melhoramento genético e nutrição animal resultaram em um aumento de 11% no peso médio da carcaça proveniente de abates realizados entre 1997 e 2017.

Figura 4 – Evolução do peso médio dos animais abatidos em @ de carcaça1.

1 Medida de referência de mercado: “@” = 15 kg 1.34 1.56 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 14.93 16.59 14 14.5 15 15.5 16 16.5 17 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

(20)

Fonte: IBGE (2018b).

O desafio na evolução da produtividade da pecuária tem como uma de suas explicações o problema da descoordenação na cadeia produtiva. A fragilidade das relações entre produtores e frigoríficos e o histórico de uma relação de conflitos e desconfiança mútua no passado recente, dificultam a articulação de transações eficientes. Tais características da cadeia refletem em problemas como por exemplo as operações com prazo de pagamento de 30 dias, que geram elevados custos de capital de giro ao produtor. Tal fator expõe toda a cadeia a um risco de solvência em decorrência da grande variação do preço do boi (ZEN, 2005), já que a cadeia produtiva não se caracteriza pelo uso de mecanismos de proteção financeira (hedge).

O exato oposto ocorre na cadeia produtiva de grãos, em que a coordenação ocorre principalmente por meio das conexões financeiras entre os produtores e os outros agentes da cadeia como traders e fornecedores de insumos. Essa coordenação na agricultura por meio de arranjos de barter2, e a emissão de títulos creditícios como a Cédula do Produtor Rural (CPR) e o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), não só protegem a cadeia contra variações de preço, como aumentam a velocidade na adoção de tecnologias de ponta, já que as próprias empresas que fornecem os pacotes tecnológicos estão diretamente interessadas no ganho de produtividade do produtor.

Adicionalmente, Reydon (2012), propõe que a falta de limites e de regulação no acesso à terra faz com que o agronegócio (em especial a pecuária) não tenha incentivo suficiente para atingir o seu máximo potencial, mantendo-se em grande quantidade de terras, mas sem aumentos produtivos. Sparovek (2010) ressalta o imenso potencial produtivo do país desperdiçado em áreas de pastagem degradada. O autor conclui que, se as áreas de pastagem degradadas fossem utilizadas para produção de grãos, as mesmas áreas incrementariam em um volume igual à atual produção brasileira, sem necessidade de derrubar sequer uma árvore.

Essas peculiaridades negativas nas características da produção pecuária brasileira interferem na sua representatividade como parte integrante do crescimento produtivo do modelo agroexportador. Diversos estudos têm analisado a sustentabilidade e a segurança alimentar na cadeia produtiva de carne e a relevância destes fatores para a sua competitividade no mercado internacional (MCALPINE, 2008; GIANEZINI, 2014; RUVIARO, 2012; RUVIARO, 2014; SILVA, 2015).

(21)

Figura 5 – Evolução das exportações do agronegócio e representatividade da carne bovina (bilhões de US$)

Fonte: DAC/SRI/MAPA, Agrostat Brasil a partir de dados da SECEX/MDIC, 1997 - 2017; ABIEC, 1997 - 2017.

Em 20 anos, a balança comercial do agronegócio apresentou desempenho expressivo no crescimento positivo de seu saldo, passando de US$ 15,1 bilhões em 1997 para US$ 81,8 bilhões em 2017. No entanto, tal crescimento não sofreu grande influência do crescimento da exportação de carne bovina. A representatividade da exportação de carne bovina no total de exportações do agronegócio passa de 2% em 1997 e atinge 6,5% em 2017, um crescimento de 4,5% em 20 anos (Figura 5). No período em questão, embora as exportações de carne bovina praticamente dobrem (crescimento de 92,5%), em nenhum ano sua representatividade ultrapassa os 8% no total de exportações do agronegócio.

2.00% 7.97% 6.55% 0.00% 1.00% 2.00% 3.00% 4.00% 5.00% 6.00% 7.00% 8.00% 9.00% 20,000,000.00 40,000,000.00 60,000,000.00 80,000,000.00 100,000,000.00

Exportações do Agronegócio (em mil US$) Exportações de carne (em mil US$)

(22)

3. Crédito Rural e problemas no estimulo à produtividade da agropecuária

O terceiro capítulo deste trabalho irá discutir sobre as relações entre crédito e produtividade na pecuária. Serão analisados as características do mercado de crédito com as principais linhas de financiamento para pecuária e os problemas atuais do mercado de crédito de acordo a literatura. Serão discutidos as fricções no mercado de crédito e os problemas que irão desencadear em uma maior percepção de risco pelos agentes e por fim, maiores custos de transação.

3.1.1 Crédito Rural no Brasil: Crédito para Custeio

Para a administração da propriedade rural, o crédito para custeio é um item de importância fundamental. Há diferenciações de sua relevância financeira, no entanto, a depender da atividade realizada na propriedade. A Figura 6 apresenta o conceito de Custo Operacional Efetivo e as diferenças para a pecuária e agricultura.

Figura 6 - Definição de Custo Operacional Efetivo e diferenças entre Pecuária e Agricultura

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em Matsunaga (1976).

Uma especificidade da administração de uma propriedade agropecuária é a dificuldade na previsibilidade dos custos e receitas durante o ciclo produtivo. Enquanto um sistema

(23)

produtivo fabril controla de forma satisfatória as variáveis do ambiente, na agropecuária a unidade produtiva (terra) está à mercê das intempéries e variações climáticas que irão afetar os custos de produção e as receitas das vendas dos produtos3.

Afora às diferenças nos custos de produção que irão compor o custo operacional efetivo, cabe ressaltar que a dimensão dos ciclos produtivos da pecuária e da agricultura diferem profundamente. Enquanto na agricultura cultivos temporários com maior importância econômica como o milho e a soja, possuem um ciclo produtivo de 90 a 100 dias e 100 a 160 dias, respectivamente (EMBRAPA, 2013), para a pecuária utiliza-se como padrão 36 meses, dependendo da tecnologia do sistema produtivo.

Portanto, um problema a mais para a pecuária quanto ao crédito para custeio, recai principalmente na questão do ciclo produtivo e dos prazos de amortização, já que no período de 3 anos existe variação significativa na inflação comparando os valores de custos de produção na formação do estoque e na venda dos animais, que em última instância resultarão em ganhos não realizados na administração da propriedade (MARION, 2017). Além disso, se o prazo total de amortização do empréstimo for inferior ao ciclo produtivo da pecuária, para cumprir suas obrigações o produtor estará utilizando receitas provenientes de outras fontes que não à receita da venda de animais nascidos após a data da tomada da dívida, dificultando o processo de avaliação da viabilidade da obtenção de crédito.

Para a agricultura, variações no COE são mais restritas à dificuldade na previsibilidade climática que pode afetar o desenvolvimento dos cultivos tanto nos requisitos de temperatura e disponibilidade hídrica, até a proliferação de pragas e doenças. A proliferação de pragas e doenças irá acarretar variações no custo de produção dado aumento na aplicação de defensivos agrícolas (inseticidas, fungicidas, acaricidas), e na receita, já que há um impacto direto na produtividade por hectare. Para a temperatura e disponibilidade hídrica, as tecnologias disponíveis possuem caráter mais restritivo. Sistemas produtivos irrigados não são predominantes nas áreas com maior produção no Brasil, ainda que existam.

Existem diversas linhas de crédito para custeio disponibilizadas no mercado de crédito (Tabela 1), e são acessadas tanto por pecuaristas como por agricultores, embora diferenças nas

3 Exceto granjas de aves tecnificadas em modelos integrados, que exigem um isolamento e um controle térmico constante nas unidades produtivas.

(24)

proporções de acesso estejam ligadas com a cultura produtiva local e a aversão ao risco dos produtores de uma determinada região.

Tabela 1 – Prazos de pagamento e taxas de juros para a safra 2018-2019 das linhas de crédito de custeio do Plano Agrícola e Pecuário do MAPA.

Linha de Crédito Prazo Taxa de Juros

Custeio agrícola (geral) 14 meses 8,5%

Estocagem de álcool 270 dias 7,0

Funcafé 90 dias após a colheita 7,0%

LCA Negociado 7,0%

Pronamp 14 meses 7,0%

Recursos livres 14 meses Livres

Fonte: Plano Agrícola e Pecuário 2018 – 2019, Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento - MAPA, 2017.

As linhas de crédito oficial existentes, apresentam uma grande variedade de taxas e prazos para pagamento dos empréstimos tomados, buscando englobar as características dos produtores em todas as fases produtivas e sistemas de produção. A Figura 7 apresenta uma comparação entre os volumes desembolsados para o custeio da agricultura e da pecuária.

Figura 7 – Comparação do valor acumulado (Jan/2013 a 05/2018) dos contratos de custeio para produção agrícola e pecuária (bovinocultura), por UF 4

4Na definição da categoria de Custeio da pecuária foram excluídas da conta os contratos de avicultura, suinocultura e outras atividades não relacionadas com a bovinocultura de corte.

(25)

Fonte: Banco Central do Brasil (Bacen), 2018.

Na finalidade de custeio, dados do Banco Central (Figura 7) mostram uma predominância da agricultura no acesso a esta modalidade de crédito. Para ilustrar, o montante acumulado dos contratos para pecuária (R$ 99,5 bilhões) foi de apenas 35,7% do montante acumulado nos contratos agrícolas. Nestes, apenas a soja e o milho representavam 58% (R$ 160 bilhões) do valor total dos contratos de financiamento de custeio para a agricultura (R$ 278 bilhões).

3.1.2 Crédito Rural no Brasil: Crédito para Investimento

O manual de crédito rural do Banco Central define o crédito para investimento como “O financiamento com predominância de verbas para inversões fixas e semifixas em bens e serviços relacionados com a atividade agropecuária, ainda que o orçamento consigne recursos para custeio”. Na administração agropecuária, obter crédito de investimento relaciona-se com a aquisição de serviços e bens para melhoria ou expansão da capacidade produtiva da fazenda. Nesse sentido, é imprescindível que o produtor elabore um projeto no qual esteja incluso (com algum nível de previsibilidade) as receitas adicionais advindas da aquisição da dívida com o banco. O Sistema de crédito oficial oferece diversas alternativas de crédito com características específicas de itens financiáveis, prazos de pagamento e taxas de juros Tabela 2.

R$10,000,000,000.00 R$20,000,000,000.00 R$30,000,000,000.00 R$40,000,000,000.00 R$50,000,000,000.00 AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO

(26)

Tabela 2 - Prazos de pagamento e taxas de juros para a safra 2018-2019 das linhas de crédito de Investimento do Plano Agrícola e Pecuário do MAPA

Linha de Crédito Prazo (meses) Taxa de Juros

ABC 12 5,25%

Aquisição de Ativos (Prodecoop) 10 TJLP+3,7%

Bancoob e Sicredi 12 8,5%

BNDES – Agro Negociável TJLP + 3,7%

Inovagro 10 6,5% Moderagro 10 8,5% Moderfrota 7 7,5 e 9,5% Moderinfra 10 7,5% PCA 15 5,25% Procap-Agro 2 TJLP+3,7% Prodecoop 10 8,5% Pronamp 8 6,0% Prorenova Rural 6 TJLP + 3,7%

Fonte: Plano Agrícola e Pecuário 2017 – 2018, Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento - MAPA, 2017.

Conforme apontado em relatório do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES (LOPES et.al, 2016), como a maior parte do crédito disponível não cobre investimentos específicos com bens duráveis e mudanças de médio e longo prazo, a maior parte dos recursos não contribui para estimular uma transição da pecuária extensiva. Contudo, mudanças importantes têm sido feitas principalmente com relação às linhas de crédito disponíveis atreladas a critérios ambientais.

3.1.3 Crédito atrelado à critérios ambientais

Embora não seja uma denominação específica do Manual de Crédito Rural, o presente trabalho refere-se a crédito para sustentabilidade como o crédito cujo desembolso pela instituição financeira esteja intrinsecamente atrelado a um resultado ambiental positivo (incluindo proteção de ambiente natural) por parte do tomador do crédito. A única linha oficial de investimento para tal finalidade é o Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono) que também figura como a mais relevante para modernização da produção agropecuária e melhoria da produtividade.

(27)

O Programa ABC é um programa voltado ao direcionamento de recursos do BNDES para financiar a redução da emissão de gases de efeito estufa na agropecuária. O programa apresenta as seguintes linhas de financiamento e finalidade (Tabela 3)

Tabela 3 – Linhas de financiamento e finalidades no Programa ABC

Nome Finalidade

ABC Recuperação Recuperação de pastagens degradadas

ABC Orgânico Implantação e melhoramento de sistemas orgânicos de produção agropecuária

ABC Plantio Direto Implantação e melhoramento de sistemas de plantio direto “na palha”

ABC Integração Implantação e melhoramento de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta e de sistemas agroflorestais

ABC Florestas

Implantação, manutenção e melhoramento do manejo de florestas comerciais, inclusive aquelas destinadas ao uso industrial ou à produção de carvão vegetal

ABC Ambiental

Adequação ou regularização das propriedades rurais frente à legislação ambiental, inclusive recuperação de reserva legal, áreas de preservação permanente, recuperação de áreas degradadas e implantação e melhoramento de planos de manejo florestal sustentável

ABC Tratamento de dejetos

Implantação melhoramento e manutenção de sistemas de tratamento de dejetos e resíduos oriundos da produção animal para geração de energia e compostagem

ABC Dendê Implantação, melhoramento e manutenção de florestas de dendezeiro, prioritariamente em áreas produtivas degradadas

ABC Fixação Estímulo ao uso da fixação biológica do nitrogênio Fonte: Banco Central do Brasil, Manual do Crédito Rural.

(28)

A Figura 8 abaixo apresenta os desembolsos contratados para as safras 15/16 e 16/17 por Subprograma do Programa ABC.

Figura 8 – Valor contratado para o Programa ABC por Finalidade de Investimento 2015/16 e 2016/17

Fonte: Relatório do Programa ABC, Observatório do Clima, 2017 (Manzoni, et al. 2017)

Na comparação estabelecida pela Figura 8, é possível verificar que os desembolsos para as atividades de Recuperação de Pastagens e Plantio direto são as mais significativas em termos de volume direcionado. Esta segunda, já bastante difundida na agricultura nacional. Se observarmos o total dos recursos contratados desde 2010, é possível verificar uma diminuição considerável nos recursos totais desembolsados. A Figura 9 apresenta esses dados por fonte financiadora.

Figura 9 – Montantes desembolsados pelo Programa ABC para as safras 2011/12 até a safra 2016/17, por fonte financiadora.

(29)

Fonte: Relatório do Programa ABC, Observatório do Clima, 2017 (Monzoni, et al. 2017)

Em comparação, nos últimos dois anos, os montantes desembolsados pelo Programa ABC vêm diminuindo drasticamente, como é possível verificar na Figura 9. Em compensação, os montantes desembolsados para as outras linhas dentro do Plano Agrícola e Pecuário Nacional (PAP), foram consideravelmente maiores. Em uma comparação ilustrativa, a diferença entre o volume total desembolsado para o PAP (R$ 150,25 bilhões) com o volume total desembolsado para o Plano ABC (R$ 38,13 bilhões) atingiu aproximadamente R$ 120 bilhões na safra 2017/18 (Manzoni, et.al; 2018). Isso reflete o viés político no direcionamento dos recursos para o estímulo de atividades mais sustentáveis no Brasil. Com a produção agropecuária no centro do crescimento econômico nacional, o direcionamento do crédito no setor orienta parte considerável do crescimento econômico nacional para atividades com menores exigibilidades em termos de sustentabilidade.

3.2 Lacunas da Governança e fricções no mercado de crédito

Considerando o mercado de crédito rural, Mundo Neto & Souza Filho (2005) estabeleceram bases para uma análise institucional do mercado de crédito rural do ponto de vista do credor e do tomador do crédito, destacando as principais dificuldades existentes para a ocorrência das transações (Figura 10).

Figura 10 – Custos de transação para Instituições Financeiras em contratos de crédito rural

(30)

Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado de MUNDO NETO & SOUZA FILHO, 2005.

Particularmente para a bovinocultura de corte, é fácil inferir que as dificuldades para uma transição de um sistema produtivo extensivo, de baixa tecnologia e baixo investimento, para um sistema produtivo intensivo, com alta tecnologia e alto investimento aumentam de forma considerável os riscos na tomada de crédito. As incertezas que surgem para as instituições financeiras recaem na capacidade do produtor em realizar este processo de transição de forma planejada e eficiente. Para o produtor, as incertezas recaem na incapacidade de previsão da suficiência do retorno de sua atividade para cobrir os altos custos do capital.

Nesse sentido, as principais barreiras são as iniciais de custos de informação onde a instituição financeira quantifica esse risco de transição. O Artigo 2 da Resolução 2.682 de 1999,

(31)

estabelece os critérios para definição do nível de risco do devedor e de seus garantidores, bem como da operação de crédito (Figura 11).

Figura 11 – Critérios para classificação de risco do devedor e da operação e crédito

Fonte: BRASIL (1999).

A profundidade na análise dos critérios para classificação do risco do devedor está intimamente ligada com os critérios de risco da operação e vice-versa. Para acessar tais informações, diversos processos burocráticos, solicitação de documentações e a verificação da existência de garantias que assegurem o empréstimo são medidas mitigatórias dos riscos associados na transação.

Do lado do pecuarista, a necessidade de passar por este processo para solicitação do crédito é exaustiva e muitas vezes vista como sem sentido, ou ineficiente. A eficiência do processo também irá depender do nível de compreensão dos conceitos, jargões e ferramentas financeiras do produtor, ou seja, o alcance e as limitações de sua racionalidade na tomada de crédito. Mundo Netto & Souza Filho (2003) definem os seguintes itens como problemas (origens de custos de transação) na obtenção do crédito rural para o produtor5 (Figura 12).

5 Mundo Netto e Souza Filho (2003) discutem a situação para obtenção de crédito com foco no produtor rural familiar. No entanto, as características da pecuária tradicional, com baixa tecnologia e uso de insumos, assemelham-se em grande parte às fragilidades do produtor familiar.

(32)

Figura 12 – Origens dos custos de transação aos produtores na obtenção de crédito rural

Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado de MUNDO NETTO & SOUZA FILHO, 2003.

Na Figura 12, os itens “1”, “2” e “5” ligados respectivamente à assimetria de informações, à racionalidade limitada e à incerteza do produtor, conferem aspectos profundamente relacionados com a atividade pecuária tradicional. A falta de controle financeiro das atividades agropecuárias dentro da porteira, e a enorme aversão ao risco financeiro causador do distanciamento dos produtores, são gargalos profundos para a modernização da produção pecuária nacional. Soma-se a isso a desregulamentação do mercado de terras que, ao favorecer seu uso especulativo (Conforme discutido no capítulo 2) gera estímulos negativos à busca por crédito e à inovação no setor agropecuário.

North (1993), sobrepõe os incentivos para a tomada de decisão pelos atores e organizações (ambiente institucional), à questão do próprio desenvolvimento tecnológico, na

(33)

análise do desenvolvimento econômico. São as instituições que regem essa dinâmica que irão direcionar o desenvolvimento rural para uma maior produtividade, ou privilegiar uma postura rentista, de uso especulativo e predatório da terra.

Nesse sentido, os custos de transação refletem exatamente as fragilidades das instituições legais que regulam as transações para obtenção de serviços financeiros. O acesso ao crédito rural é diretamente afetado, já que a ineficiência de mecanismos como a governança de terras gera estímulos negativos para os produtores assumirem uma postura em empreendedora como tomadores de empréstimos, que potencialmente poderia trazer ganhos de produtividade. Para a agricultura, tais características fizeram com que houvesse a ascensão de alternativas de crédito junto a traders, cooperativas e especuladores, agentes intermediários da cadeia que enxergaram oportunidade nas lacunas legais (SILVA, 2012). Na pecuária de corte, as relações de financiamento entre pecuaristas e frigoríficos não ocorre da mesma forma, dados problemas históricos nas relações entre os agentes.

(34)

4. Características dos Sistemas de produção na pecuária

O quarto capítulo deste trabalho apresentará de forma breve as características dos sistemas de produção da bovinocultura de corte quanto a atividades no manejo do gado e categorias de animais comercializados (Sitemas de Cria, Recria, Cria-Recria, Recria-Engorda, Engorda e Ciclo Completo) e segundo o regime alimentar (sistemas extensivos, semi-intensivos e intensivos).

4.1 Sistemas de Produção quanto a caracterização das atividades no manejo do rebanho.

A bovinocultura de corte é dividida em fases com suas características distintas e que podem ser realizadas na mesma propriedade, ou em propriedades diferentes especializadas em uma, ou mais fases do processo produtivo (Figura 13). Os itens a seguir apresentam essas fases, desde a criação de fêmeas para reprodução e venda de animais desmamados (Cria), até a finalização do animal à pasto para terminação e abate (engorda). Para tanto, será utilizada a abordagem de classificação da Embrapa por meio dos trabalhos de Cezar (2005), Euclides Filho (2000) e Correa, et. al (2000).

Figura 13 – Estrutura do Sistema completo de produção de bovinos de corte no Brasil

Fonte: EUCLIDES FILHO, 2000.

Cabe ressaltar que as fases do sistema produtivo da bovinocultura apresentam características de rentabilidade próprias, ligadas inclusive com a demanda tecnológica no

(35)

processo produtivo, até a exposição às características de negociação e exposição de risco na variação de preços de mercado (CEZAR, 2005).

• Cria

Sistema de produção caracterizado pela predominância de fêmeas para reprodução, incluindo a recria de fêmeas visando à venda e à reposição do rebanho. Os bezerros permanecem com as mães até os 6-7 meses de idade, quando geralmente são marcados à ferro (VIEIRA, 2000). Animais machos são vendidos em até 9 meses. Com base no peso aos 205 dias de idade, as fêmeas apresentam de forma mais proeminente as características raciais desejáveis o que possibilita a realização da seleção das fêmeas que servirão como reprodutoras para repor o rebanho. Arranjos do sistema podem comercializar bezerras desmamadas, novilhas, vacas e touros. Animais mais jovens geralmente são comercializados com destino à reprodução e animais mais velhos são vendidos para abate (CEZAR, 2005).

• Cria/Recria

A grande diferença entre o anterior é a idade de venda do animal, que passa a ser comercializado com até 18 meses de idade. Após a desmama, animais machos e fêmeas são criados separados na unidade produtiva (VIEIRA, 2000). A rentabilidade da produção concentra-se no ganho de peso do animal até a venda, o que pode gerar uma receita maior do que a fase anterior, mas também ocasiona uma maior utilização dos pastos, o que demanda um planejamento maior no manejo do rebanho.

• Recria

Propriedades especializadas apenas na Recria são quase extintas na bovinocultura de corte brasileira. É um modelo de aluguel de pasto, em que o produtor recebe bezerros desmamados e os engorda, sendo remunerados com uma taxa referente ao ganho de peso do animal no período. A partir daí o animal segue para fazendas com produção mais intensiva, no qual ocorrerá a finalização do animal (CEZAR, 2005). A dependência por uma genética de qualidade dos animais obtidos, e o uso de insumos na alimentação para um melhor ganho de peso em outros estágios tornaram essa especialização de pouco interesse ao produtor.

(36)

• Recria/Engorda

A atividade inicia com o bezerro desmamado e termina com o boi gordo. Pode também começar com garrotes, o que a depender da qualidade genética e da alimentação, pode diminuir a idade de abate, aumentando a rentabilidade. Sistema produtivo predominantemente de machos, mas também pode ter a ocorrência de fêmeas.

• Ciclo Completo (Cria, Recria, Engorda)

A atividade tem as características das anteriores, mas neste caso a categoria de animal vendido é o boi gordo para abate com idade entre 15 a 42 meses, dependendo de outros fatores do sistema produtivo com qualidade genética, manejo de pasto e nutrição, entre outros (CEZAR, 2005). É um sistema de alta complexidade, no qual o manejo de pasto e os aspectos nutricionais se somam à complexidade do manejo reprodutivo do rebanho. Pode garantir ganhos econômicos relevantes se o controle das atividades ocorrer de forma eficiente e coordenada.

• Engorda

Historicamente realizada em áreas de pastagens de melhor qualidade, os chamados “invernistas” localizavam-se em regiões com melhor oferta de boi magro, com 24 a 36 meses, a depender do sistema produtivo. Atualmente encontra-se bastante restrita como atividade isolada. A atividade tem características das anteriores, mas especializa-se na venda do boi gordo para abate com idade entre 15 a 42 meses, dependendo de outros fatores do sistema produtivo.

4.2 Sistemas de Produção quanto ao regime alimentar.

Os sistemas de produção na bovinocultura de corte também se diferem de forma significativa quanto às características do regime alimentar aplicado no manejo do rebanho bovino. Cézar (2005), e Euclides Filho (2000) dividem os sistemas de produção em extensivos (com alimentação somente à pasto), semi-intensivo (com o uso de suplementação nutricional e pastagem) e intensificado (com uso de suplementação nutricional e engorda em confinamento). As diferenças dos sistemas de produção quanto ao regime alimentar, não só afetam o desempenho econômico da atividade, dados os custos a depender da utilização maior de ração,

(37)

ou pasto. O padrão de alimentação também afeta as emissões de metano e a qualidade da carne (FERRAZ, 2010). Suas características estão descritas a seguir.

4.2.1 Sistemas de Produção extensivos

Sistemas de produção extensivos são baseados somente na utilização da pastagem (nativa ou cultivada) como fonte de alimento ao gado. A variação da qualidade do pasto ao longo do ano devido aos regimes climáticos, os níveis de utilização do pasto e a taxa de lotação, o manejo do pasto e do gado, a sanidade animal e a capacidade administrativa da fazenda interferem diretamente no desempenho produtivo. Estes fatores também geram um ambiente pouco uniforme quanto à produtividade e eficiência produtiva. Cézar (2005) separa os sistemas extensivos em duas subcategorias:

• Sistema extensivo com pastagem natural

Nos sistemas de pastagem natural, as espécies nativas são utilizadas para cobrir as demandas nutricionais do gado. A produtividade e o potencial de ganho de peso diário são limitados pelas características nutricionais das pastagens disponíveis no ambiente. A qualidade da pastagem nos biomas brasileiros difere largamente quanto as características nutricionais e capacidade de suporte (variando de 0,5 a 1 UA/hectare), o que explica em partes heterogeneidade da produtividade entre as regiões. Sistemas extensivos são adotados majoritariamente pelas propriedades especializadas nas atividades da fase da cria, já que a qualidade das pastagens não é adequada para realizar a engorda dos animais.

• Sistema extensivo com pastagem cultivada

Com produtividade também bastante dependente dos regimes de chuva, nas propriedades especializadas na fase de pastagens cultivadas, os produtores se baseiam em espécies apropriadas para nutrição o gado. Nas áreas tropicais, a variação da taxa de suporte média anual fica em torno de 0,5 a 2,5 UA/ha. As pastagens cultivadas permitem que seja realizada qualquer uma das fases da pecuária, inclusive a engorda.

4.2.2 Sistemas de Produção Semi-intensivos

São baseados no uso de pastagens nativas ou cultivadas e no uso de insumos nutricionais como suplementos minerais e ração. A ideia desse sistema é diminuir o tempo de vida para

(38)

abate e garantir que os animais recebem a quantidade ideal de nutrientes no processo de ganho de peso. As fontes energéticas são diversas e podem ser o milho, o sorgo, o milheto, a aveia, entre outros. Em um sistema semi-intensivo, os animais podem ser alimentados com sal proteico (para evitar a perda de peso), e concentrado que é uma ração composta por alimentos energéticos e proteicos. Com quantidades fornecidas variando entre 2 a 12 kg por dia. Fazendas que produzem nesse sistema ocorrem em todas as fases de produção.

4.2.3 Sistemas de Produção intensivos

Os sistemas de produção intensivos diferenciam-se dos anteriores pela realização de confinamento na última fase antes do abate, a engorda. Os sistemas estão ligados a um uso mais intensivo de pastagens cultivadas, bem como no uso de insumos nutricionais como suplementos minerais e ração. O objetivo nesse sistema produtivo é gerar o máximo possível de ganho de peso na terminação dos animais, aderindo mais valor à carne. A duração do confinamento vai depender do regime de chuvas do local, mas via de regra, os produtores utilizam o confinamento nos períodos de seca, quando a qualidade das pastagens e sua capacidade de lotação variam negativamente.

4.3 Sistemas de Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF)

Segundo Balbino et.al (2011), a ILPF é uma estratégia que visa à produção sustentável, que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais realizadas na mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotacionado, e busca efeitos sinérgicos entre os componentes do agroecossistema, contemplando a adequação ambiental, a valorização do homem e a viabilidade econômica.

Sistemas integrados com outras atividades produtivas na bovinocultura de corte, visam aumentar a eficiência no uso da terra e dos recursos naturais. É um sistema intensivo alinhado com as recentes preocupações quanto ao desenvolvimento sustentável da agropecuária. Segundo o mesmo autor, a viabilidade técnica desse arranjo de sistemas produtivos depende da consideração de premissas ligadas com condições edafoclimáticas favoráveis, como solo com acidez corrigida, pluviometria adequada, temperatura e luz não limitantes, e água disponível em quantidade e qualidade adequada. Já a viabilidade econômica vincula-se à otimização dos recursos de produção imobilizados na propriedade rural e o nível de sinergia entre as atividades

(39)

agrícola e pecuária. Em suma, a realização das atividades em conjunto tem um grande potencial de ampliar as receitas.

Em trabalho de Santos (2015), a análise econômico-financeira da atividade pecuária nos vários sistemas produtivos permitiu verificar que os arranjos de ILPF apresentavam não só melhores resultados econômicos por safra/período produtivo, mas também uma menor relevância da valorização da terra no resultado econômico do investimento.

(40)

5. Metodologia

Para atingir os objetivos do trabalho, a metodologia divide-se em duas partes, a primeira engloba um questionário aplicado a 98 pecuaristas de 11 estados brasileiros para verificar os fatores que interferem no acesso a crédito para o pecuarista que possui intenção de acessar crédito. A segunda parte é uma análise de agrupamentos hierárquicos (Análise de Cluster) na qual os produtores cujas respostas foram validadas de acordo com a metodologia (48 produtores) foram agrupados em grupos de semelhança de acordo com seus perfis.

5.1 Metodologia de Pesquisa

Para inferir sobre os fatores que interferem na demanda por crédito para os pecuaristas nos diferentes sistemas produtivos, serão utilizados dados de um questionário elaborado pela The Nature Conservancy Brasil aplicado no segundo semestre de 2017 e primeiro semestre de 2018, junto a 98 pecuaristas de 11 estados brasileiros, coletando dados sobre as características de suas propriedades e sua propensão à obtenção de crédito nas diversas modalidades e categorias.

A pesquisa buscou compreender as demandas de crédito na bovinocultura de corte, uma das categorias de atividades abrangidas pelo Programa Collaboration for Forests and

Agriculture 6(CFA). O objetivo do levantamento da TNC foi identificar as demandas para desenvolver modelos de financiamento para aumento da produtividade da pecuária, almejando à eliminação do desmatamento associado à produção de soja e à bovinocultura de corte na Amazônia e no Cerrado Brasileiros. A escolha da pecuária justifica-se pela baixa produtividade em comparação à agricultura, e também pelo fato de a pecuária tradicional no Brasil, com baixo uso de tecnologias produtivas, estar intrinsecamente relacionada ao desmatamento pela abertura da fronteira agropecuária e ocupação do território.

Os dados utilizados no estudo foram coletados pela TNC, com o objetivo de delinear os diferentes perfis de pecuaristas frente às demandas e gargalos no acesso a crédito para melhoria de seu sistema produtivo. Para realização da pesquisa foi realizada uma amostragem não probabilística e intencional envolvendo três critérios em que os pecuaristas precisavam: (1) ser

6 Programa financiado pela Moore Foundation, para eliminar o desmatamento associado à produção de soja e pecuária na Amazônia, Cerrado e Chaco Paraguaio e Argentino. Mais informações disponíveis em:

(41)

alfabetizados, (2) ter acesso à internet, (3) ter interesse em financiar sua produção para aumento da produtividade. Ou seja, compreende um recorte de produtores que já possuem uma inclinação para melhoria dos sistemas produtivos e uso de novas tecnologias. Foram entrevistados 98 pecuaristas, sendo que após a aplicação dos critérios de corte. Com relação ao recorte geográfico, a TNC já havia feito levantamento sobre problemas no acesso a crédito com os produtores de São Félix do Xingu – PA em 2015. Outros trabalhos também já haviam concluído na mesma direção com relação à irregularidade fundiária e acesso a crédito para sustentabilidade na região (SILVA, 2012; SCHMINK et.al, 2017). Portanto, priorizou-se a realização da pesquisa em outras regiões que não a região do Sudeste Paraense.

A pesquisa foi elaborada por meio da aplicação de um questionário composto por 28 questões para pecuaristas de diversos estados brasileiros. As questões colocadas no questionário, encontram-se no Anexo 1. A Figura 14 agrupa as perguntas em categorias e ilustra a quantidade de questões para cada categoria. O questionário foi divulgado junto a lideranças do setor, em diversos encontros de sindicatos de produtores rurais, cooperativas e em eventos de tecnologia voltados aos pecuaristas.

Os produtores selecionados acessaram os links para os questionários e responderam às perguntas individualmente, sem interferência do pesquisador. O questionário foi respondido de forma eletrônica, por meio de formulários de preenchimento online. As respostas foram armazenadas em planilha eletrônicas e posteriormente, os dados foram tratados nos softwares Microsoft Excel® e Stata®.

(42)

Fonte: Elaborado pelo autor.

Nem todas as questões do questionário foram analisadas na pesquisa, visto que as relações dos grupos frente a algumas variáveis – por exemplo nível de escolaridade e sexo dos produtores – não são objeto direto deste estudo. Portanto a análise cobriu apenas as relações entre as variáveis socioeconômicas como a classificação entre pequeno, médio ou grande produtor, dimensão do rebanho, sistemas de produção, fatores que desmotivam no acesso a crédito e atividades de interesse para financiamento.

No contexto do crédito rural para bovinocultura de corte, os conceitos dos fatores que desmotivam no acesso a crédito pelos pecuaristas, encontram-se descritos a seguir:

• Burocracia

Refere-se aos procedimentos de análise do tomador de crédito pelas instituições financeiras para classificá-lo em uma categoria de risco, e à aprovação do crédito. Embora seja um conceito amplo, a desburocratização é uma demanda constante do setor nas discussões para ampliar o acesso à crédito rural.

• Juros

Refere-se ao custo do capital a ser obtido por meio do empréstimo. Juros elevados geram uma percepção negativa, principalmente a produtores acostumados a realizar uma atividade produtiva de baixa produtividade e rentabilidade.

(43)

A exigência de documentação como o título da terra e o cadastro ambiental rural na obtenção de crédito podem ser uma dificuldade na obtenção de crédito principalmente no Bioma Amazônico, onde os níveis de irregularidade são altos e existem exigências adicionais.

• Exigência de Garantias

De acordo com a classificação de risco da atividade e do potencial tomador de crédito, a exigência de garantias ocorre como forme de mitigar o risco associado ao empréstimo para as instituições financeiras. Em geral, solicita-se a terra em hipoteca.

• Prazo de Carência

O prazo de carência é o prazo dado para início da amortização dos pagamentos do financiamento. Menores prazos de carência aumentam a urgência da obtenção de renda. • Percepção de Risco

Refere-se à percepção de risco financeiro para o produtor, relacionada com o custo do capital e outras condições atreladas ao crédito. A percepção de risco é subjetiva e individual, de acordo com o perfil de risco do próprio produtor.

• Tempo de Liberação

Refere-se à previsão do tempo de liberação do recurso após a solicitação e aprovação a do crédito junto à instituição financeira.

• Margem de lucro

Refere-se ao incremento da margem de lucro em decorrência da tomada do crédito, frente a uma situação base.

• Problemas de credibilidade

Histórico de inadimplência e problemas jurídicos dos produtores são barreiras iniciais na obtenção de crédito.

Referências

Documentos relacionados

Quando os Cristais são colocados a menos de 20 cm do nosso corpo, com uma intenção real, eles começam a detectar o que está a mais no físico, no emocional, no mental e no

O canabidiol é um composto presente na planta Cannabis sativa, que promove diversos benefícios à saúde humana, como por exemplo sobre as doenças neurológicas como epilepsia,

Dessa forma, este trabalho traz a importância de se trabalhar a pediculose, um problema de saúde publica que é transmitido principalmente em creches e escolas, devido a

Este trabalho se refere ao instituto processual conhecido como fundamentação das decisões judiciais, que em razão da divergência doutrinária quanto a nomenclatura

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

Box-plot dos valores de nitrogênio orgânico, íon amônio, nitrito e nitrato obtidos para os pontos P1(cinquenta metros a montante do ponto de descarga), P2 (descarga do

Autor: Pedro Bandeira O SANDUÍCHE DA MARICOTA Autor: Avelino Guedes A ONÇA E O SACI Autora: Eva Furnari O BOLO DE NATAL Autora: Elza Fiúza ROSAURA DE BICICLETA Autora: