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OS PÉS DESCALÇOS DE GEN – HISTÓRIA, MEMÓRIA

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE FILOSOFIA E CIENCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

CURSO DE HISTÓRIA

RAFAEL SEIZ PAIM

OS PÉS DESCALÇOS DE GEN – HISTÓRIA, MEMÓRIA

FLORIANÓPOLIS

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RAFAEL SEIZ PAIM

OS PÉS DESCALÇOS DE GEN – HISTÓRIA, MEMÓRIA

Trabalho de conclusão de curso submetido à Universidade Federal de Santa Catarina como parte dos requisitos necessários para obtenção do Grau de Bacharel e Licenciado no curso de História, sob orientação do Professor Henrique Luiz Pereira de Oliveira.

FLORIANÓPOLIS

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar a obra de Keiji Nakazawa, Gen Pés Descalços em seus dois primeiros volumes, e problematizar a obra dentro da análise das histórias em quadrinhos como fonte documental e histórica, analisando-a em seus detalhes, buscando compreender as perspectivas utilizadas pelo autor para tratar da explosão atômica de Hiroshima.

Palavras-chave: Hiroshima, histórias em quadrinhos, Keiji Nakazawa, Gen Pés descalços

ABSTRACT

This work aims to analyze the work of Keiji Nakazawa , Barefoot Gen in his first two volumes , and discuss the work in the analysis of comics as documentary and historical sources , analyzing it in detail , trying to understand the perspectives used by the author to discuss the atomic explosion in Hiroshima.

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LISTA DE FIGURAS Fig.1: Volume 1, p. 29 e 30…...13 Fig.2: Volume 1, p. 79 ………14 Fig.3: Volume 1, p. 153 ...16 Fig.4: Volume 1, p. 72 ...17 Fig.5: Volume 1, p. 113 ...18 Fig.6: Volume 1, p. 63 ...19 Fig.7: Volume 2, p. 182 ...23 Fig.8: Volume 1, p. 90 ...25

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 9

ANÁLISE DA OBRA ... 12

CONCLUSÃO... 28

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INTRODUÇÃO

UMA PEQUENA REFLEXÃO SOBRE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

Quando nós, leitores de HQ’s, falamos em quadrinhos para outras pessoas em nosso país, e aqui separo ‘pessoas’ em dois grupos, entre as que consomem quadrinhos no mínimo semanalmente das que eventualmente os têm nas mãos, muitas delas que pertencem a este segundo grupo ainda tem a ideia de que quadrinhos foram produzidos pensando no mercado infantil e à ele estão restritos. A ideia que boa parte destas pessoas tem de quadrinhos é a de que se resumem às obras de Mauricio de Sousa ou os quadrinhos dos personagens Disney, ou ainda, ao universo dos super-heróis. Inclusive, percebi este sentimento entre alguns de meus colegas acadêmicos de História, que além de pensarem desta forma, sentem dificuldade em tratar de quadrinhos como fonte de pesquisa. Essa espécie de desconfiança e desinformação aumenta ainda mais quando separamos os quadrinhos entre categorias. Para o leitor eventual, não existe diferença entre o comics americano, o mangá japonês e os demais estilos.

Os quadrinhos japoneses tem se tornado cada vez mais comuns entre as pessoas no Brasil. Barato, pequeno e com uma grande variedade de histórias, o mangá tem se consolidado e difunfido no mercado brasileiro como alternativa1 a histórias norte-americanas e, em menor numero, europeias, não só no segmento de histórias de ação e aventura.Boa parte dessa difusão se deve à animação destas obras, pois o meio audiovisual ainda é mais conhecido entre as pessoas em geral. Assim, as pessoas em algum momento vão ouvir que as animações que estão assistindo são não são desenhos animados, e sim animês, baseados não em quadrinhos, mas em mangás, que são produzidos no Japão, e que chegam ao Brasil, muitas vezes, de forma não autorizada.

Sobrevivendo por muito tempo nos fóruns da internet, muitos mangás foram traduzidos e distribuídos de forma ilegal, simplesmente para a apreciação dos fãs destas obras. E grande parte dos scanlators2paravam de traduzir estas obras se elas passassem

1Levando em consideração que a imensa maioria de títulos que chegam as nossas mãos tratam de

histórias envolvendo super-humanos.

2

Palavra originada na internet que mistura scans e translator, ou, tradução de páginas escaneadas. Uma rede formada por leitores japoneses, que compravam obras para soltar as páginas e escaneá-las, colocando-as na internet, para que nipo-americanos ou quaisquer pessoas que tivessem

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a ser serializadas por uma editora brasileira, alimentando e incentivando um mercado que tem crescido muito nos últimos anos. Inclusive, obras que anteriormente foram canceladas aqui no Brasil continuaram a ser lidas pela internet e recentemente foram republicadas por editoras, tornando-se um sucesso de vendas3.

O público brasileiro convive com os mangás há muitos anos, desde uma época em que a internet não era algo disponível para uso doméstico:

Já mencionamos que no Brasil já se lia mangás, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, por causa dos imigrantes japoneses e seus descendentes, que além de terem criado escolas japonesas, utilizavam também outros recursos para manter contato permanente com a língua, tais como livros e também mangás. Estes serviram, portanto, nãos só como mantenedores, mas também instrumento de atualização.4

A obra que será analisada neste trabalho, também é usada até hoje em escolas do Japão, e cada vez mais em escolas do ocidente.

Quando tratamos de quadrinhos como fonte, de uma forma geral, muitos pesquisadores analisam-nos com a mesma ideia de que tratam obras de arte ou literatura. Mas os quadrinhos são um tipo de fonte diversificada, que vai além de uma justaposição de texto e imagens. A linguagem do quadrinho é especifica e tem suas próprias complexidades e características. Posto desta forma, fica a necessidade de definirmos o que são quadrinhos. Scott McCloud em sua obra “Desvendando os quadrinhos” faz uma grande análise tentando responder esta pergunta, e, um pouco insatisfeito chega à conclusão que :

Histórias em quadrinhoss. pl., usado como um verbo. 1. Imagens pictóricas e justapostas em sequência deliberada destinadas a transmitir informações e/ou a produzir uma resposta no espectador5

McCloud assume que sua definição é abrangente demais, mas não se conseguiu chegar a outro lugar. Porém, antes de tudo, histórias em quadrinhos podem ser definidas como um meio de comunicação. E como documentos.

fluência em japonês tivessem acesso às páginas para traduzi-las para as mais variadas línguas, entregava as obras traduzidas para leitura digital a um grande número de leitores.

3 Especificamente, a obra de Eiichiro Oda, One Piece, é um ótimo exemplo. A obra foi lançada

em 1997 no Japão e é publicada até hoje. Em 2002, a editora Conrad lançou a obra no Brasil dividindo cada volume japonês em duas edições, para diminuir os preços. Mesmo assim, a obra foi cancelada em 2008. Porém, a editora JBC comprou os direitos da obra e a relançou em formato original em 2012, lançando simultaneamente o primeiro volume e também a partir de onde a obra havia parado em 2008, o volume 35.

4 LUYTEN, 2012, p. 190. 5 MCCLOUD, 2005, p. 20

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Parece ser uma tarefa mais fácil utilizar como fonte um quadrinho de cunho histórico, que se propõe a narrar um fato histórico, baseado em fontes historiográficas, documentos e história oral, além de ser uma autobiografia,o que pode não ser verdade. Não por esse tipo de quadrinho ter tratamento diferente, mas por ser tentador: quadrinhos, e também filmes ou romances históricos tendem a fazer com que os historiadores tentem analisar e provar o que há de realmente histórico na obra, fazendo com que voltem, sem perceber, a antiga ideia de que fazer história era analisar se os documentos eram falsos ou não, e só atribuindo-lhes valor caso sejam considerados “verdadeiros”.6

Este trabalho, portanto, tenta fazer esta análise crítica sobre o que são documentos históricos e, principalmente, busca analisar quais são as perspectivas que Keiji Nakazawa, o autor de Gen – Pés descalços, apresenta-nos sobre o episódio da explosão atômica de Hiroshima, analisando as construções de personagens e a estrutura do quadrinho como obra de arte e fonte histórica no eixo da história das representações7. Novamente citando Le Goff, principal articulador teórico deste trabalho:

Uma explicação histórica eficaz deve reconhecer a existência do simbólico no interior de toda realidade histórica (incluída a econômica), mas também confrontar as representações históricas com as realidades que elas representam e que o historiador apreende mediante outros documentos e métodos – por exemplo, confrontar a ideologia política com a práxis e os eventos políticos. E toda história deve ser uma história social.8

Muitas obras foram consultadas para formar este trabalho, mas penso situá-lo sobre um tripé formado pela obra de Jacques Le Goff, como referencial teórico sobre historiografia e memória, Scott McCloud, para o estudo estrutural das histórias em quadrinhos, e partindo de suas perspectivas e ideais do que são as histórias em quadrinhos, e de Sonia Bide Luyten, estudiosa brasileira especialista em comunicação e novas mídias, especificamente, sobre mangá.

Assim, pensando na ideia de novas abordagens documentais, valorização da história vivida e, possivelmente, considerada não cientifica (e caberia aqui um debate sobre a cientificidade da história), este trabalho procura trazer à tona a discussão sobre história narrativa e sobre o uso de novas fontes. Os videogames, os quadrinhos, a pichação, todas estas novas mídias e formas de expressão artística estão à disposição

6LE GOFF, 2013, p.115. 7

CHARTIER, 2002, p. 17

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para serem estudadas e analisadas, e ouso dizer que nem só os historiadores do tempo presente podem pisar em seus domínios.

Dito isto, falemos então da obra de Nakazawa.

ANALISE DA OBRA

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Japão viveu um período de dominação política por parte dos Estados Unidos. Mesmo com censuras9, as condições para a impressão e comercialização do mangá, que já estava se tornando popular desde antes da guerra, foram favoráveis o suficiente para que uma cultura de leitura de quadrinhos fosse firmada entre grande parcela da população.

Nos primeiros anos do pós-guerra, encontrava-se dificuldade até para conseguir papel, mas isso foi resolvido com a utilização de papel jornal para as revistas, costume seguido até hoje, apesar da mudança da economia, dando uma característica singular na forma de editoração. Mesmo hoje o preço de uma revista de quadrinhos no Japão é equivalente ao de uma passagem de trem, metrô ou ônibus, e, justamente por serem feitas com esse tipo de papel, monocromadas e grossas – entre 200 e 500 páginas -, alcançam preço mínimo por página impressa.10

Os quadrinhos japoneses são lançados em antologias semanais, onde cada história tem um capítulo dentro da revista. Portanto, o leitor tem acesso a cerca de vinte histórias por semana. As histórias são sempre desenhadas em preto e branco, e as imagens coloridas são privilégios de séries que estejam começando, ou, quando uma série está com alta popularidade. Essas páginas coloridas são consideradas como páginas de comemoração, geralmente quando a série alcança determinado número de capítulos, ou também quando se encerra. Quando uma série alcança sucesso satisfatório e fica bem colocada entre suas concorrentes de revista, ela ganha a versão encadernada de colecionador, com vários capítulos compilados em um volume, produzido com um papel de melhor qualidade e capa exclusiva. São essas edições que o público japonês guarda para si. As antologias, após serem lidas, são comumente encontradas em locais públicos, onde outras pessoas as pegam para ler. Ou vão para o lixo. E são as versões

9 Filmes de samurais, obras que mostrassem o lado sombrio dos Estados Unidos ou menções ao

envolvimento do governo dos EUA na reformulação governamental do Japão estavam entre os temas proibidos. Ver HENSHALL, 2008, p. 208.

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encadernadas que chegam às nossas mãos, aqui no Brasil. Gen – Pés Descalços, de Keiji Nakazawa, passou por este mesmo processo.11

A obra de Keiji Nakazawa, lançada no semanário de quadrinhos Shonen Jump na década de 70 tratou o tema da explosão atômica de forma bastante explícita. Mesclando ficção e autobiografia, a obra mostra como era a vida do personagem Gen Nakaoka e seus familiares antes e depois do lançamento da bomba atômica em Hiroshima.

Filho de uma família com muitos filhos, Gen e seus irmãos vivem em uma situação um tanto crítica por conta da guerra. Seu pai, um ilustrador, tem claras posições anti-guerra, e por isso é considerado um anti-patriota, um pária. A vizinhança o vê como um louco, como que um pecador que vai contra as orientações do sagrado imperador.

A mãe de Gen está grávida, perto de parir. Moram na casa a irmã mais velha de Gen e seu irmãozinho mais novo. O irmão mais velho é enviado para uma fábrica para trabalhar no esforço de guerra, e mais um de seus outros irmãos, um ano mais velho que Gen, é enviado ao interior por uma campanha de evacuação, tornando-se uma boca a menos para os Nakaoka alimentarem.

A história, dividida em dez volumes, aborda a vida de Gen conforme o personagem cresce e se torna um adulto, mostrando inúmeras situações, e alternando entre tons de humor, desde a tristeza profunda até a euforia. Neste trabalho analisarei os dois primeiros volumes, que tratam da vida da família Nakaoka antes da explosão atômica, da explosão em si e seus efeitos imediatos, e das dificuldades que vão aparecendo nas semanas seguintes à explosão.

A primeira parte, antes da explosão atômica, possui um humor sempre presente . Mesmo nas situações difíceis, o autor passa a sensação de que, apesar de tudo, a família tinha forças pra continuar e tentava viver da forma mais feliz possível. Nos primeiros capítulos, o autor ambienta os personagens no contextoda cidade de Hiroshima, que estava, assim como o resto do país, sofrendo com a falta de alimentos e outros suprimentos básicos, apresentando ao leitor o cotidiano da família Nakaoka. Baseado em suas próprias memórias e vivencias, Nakazawa nos mostra a história a partir da perspectiva de Gen, personagem alter-ego de Nakazawa.

11OBATA; OHBA, 2011, vol. 1 ao 20. - Uma obra de referência é a obra Bakuman, de autoria do

ilustrador Takeshi Obata e do escritor Tsugumi Ohba. A obra trata da história de dois garotos que sonham em se tornar mangakás, ou seja, produtores/criadores de mangá. Esta história faz uso da metalinguagem para mostrar como funciona o mercado dos quadrinhos japoneses, e como são alguns caminhos que os artistas tomam para tentarem ser publicados. É interessante ressaltar que, a própria obra Bakuman era serializada em uma revista semanal, e disputava com outras histórias para continuar sendo serializada. As obras que não alcançam bom desempenho são canceladas, abrindo vagas para novas obras.

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Na primeira fase da história, o personagem que mais se destaca, além do protagonista, é o pai, Daikichi Nakaoka. Daikichi se posiciona contra o governo militar e contra a guerra. Suas atitudes frente aos militaristas são de escárnio e protesto. Percebe-se que o autor utilizou a figura do pai para exteriorizar idéias que podem muito bem ser suas. Não temos como saber quais foram as atitudes do pai real, o pai de Nakazawa, mas na história em quadrinhos, a figura do pai é a de um homem esclarecido, idealista, que tem claras noções do que defende, e que se preocupa com o futuro do país. Muitas vezes durante o desenrolar da história, o personagem parece estar falando diretamente com o leitor, e não com os outros personagens com os quais divide a cena. Daikichi é um instrumento do autor para seus discursos políticos. Essas são as perspectivas do autor, que era já um adulto quando começou a escrever a história, Nesta fase do quadrinho, penso ser o pai, e não Gen, o personagem a falar por Nakazawa, onde ele consegue expressar sua ideologia política e suas opiniões sobre a guerra, que se misturam com o que ele carrega das memórias do pai, e que pareceriam incoerentes se viessem de uma criança de seis anos.

O autor expõe, através do personagem Gen suas percepções sobre seu pai. Gen é um garoto que não entende completamente os ideais de seu pai. Em alguns momentos, fica bravo com ele por ser um ‘antipatriota’ e por as outras crianças do bairro implicarem com ele e sua família. Mesmo assim, presta bastante atenção quando seu pai fala sobre a guerra e sobre suas consequências negativas. A figura do pai também é um pilar para a família. É ele quem mantém os ideais anti-guerra da família acesos. Daikichi tem o papel de um educador. Em momentos em que o pai está preso ou não está presente, os outros membros da família questionam-se se não seria melhor simplesmente ser a favor da guerra, como todo mundo, para evitar os problemas.A ideia primeira que o governo japonês tinha de iniciar um combate e conseguir vitorias rápidas e, em seguida, propor acordos para conseguir bons ganhos, foi aos poucos sendo trocada por uma ambição descuidada e desorganizada, como aponta Keneth Henshall12:

Os militares ficaram cada vez mais impacientes para demonstrar a superioridade dos japoneses. No estrangeiro, tentaram deliberadamente provocar incidentes e, por vezes, conseguiram-no. No país, interferiram na política, não hesitando no assassínio quando era preciso. Também contribuíram para desviar a economia em recuperação para um esforço de guerra sob o seu controlo. Aliás, controlavam o imperador, conseguindo

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habitualmente a sua “autorização” mediante a omissão de críticas ao seu comportamento.13

Na imagem abaixo, podemos perceber o destaque para as formas pontiagudas das inúteis lanças de bambu, em que o autor se utiliza do elemento gráfico para exprimir hostilidade. Ainda podemos observar pequenos detalhes, como as bochechas convexasdo comandante, aparentando ser um homem gordo, que não tem sofrido os reveses da guerra, ao contrário de Daikichi, que tem suas bochechas encovadas, côncavas, denotando fome.

Fig. 1

Os irmãos de Gen têm características diferentes, mas todos eles trazem perspectivas próprias sobre o cotidiano antes do lançamento da bomba. A família Nakaoka e seus vários membros foram a forma que Nakazawa encontrou para demonstrar vários dos aspectos negativos da guerra.

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Shinji, o irmãozinho mais novo, é uma criança bastante ativa e enérgica. Está sempre com Gen, aprontando travessuras e reclamando da fome. Shinji é usado para ilustrar crianças mais novas que não entendiam o que de fato era a guerra. Shinji não queria entender se os pais não tinham dinheiro, se a comida precisava ser enviada para os soldados ou se os vizinhos não queriam lhes vender arroz por que achavam que seu pai era antipatriota. Shinji tinha fome, e isso era tudo. O personagem é muito utilizado pelo autor para falar da escassez e das dificuldades nos tempos da guerra.

Fig. 2

Sobre a cena acima, podemos destacar o amplo uso de gotas de suor, na figura da mãe, artifício quadrinhístico característico às obras japonesas para expressar ansiedade ou nervosismo, e os dentes grandes de Shinji, um recurso bastante usado para ilustrações de crianças pequenas.Muitas figuras de linguagem próprias ao Japão podem

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passar despercebidas para o leitor que não está habituado. Afinal, a própria estrutura do quadrinho japonês pode parecer estranha ao leitor acostumado com o quadrinho ocidental.

A arte e a literatura do ocidente não divagam muito. Nós temos uma cultura muito orientada pelo objetivo. Já o oriente, tem uma tradição de obras de arte cíclicas e labirínticas. Os quadrinhos japoneses parecem herdar essa tradição, enfatizando mais o estar lá. Com essas e outras técnicas, os japoneses demonstram uma visão dos quadrinhos bem diferente da nossa. Lá, mais do que em outro qualquer lugar, quadrinho é uma arte de intervalos.14

Akira é um ano mais velho do que Gen. Ele é enviado para uma região rural do interior para viver e estudar. Lá, os professores comiam escondidos os melhores alimentos e os alunos basicamente só trabalhavam na roça. A intenção de seus pais era mantê-lo protegido dos bombardeios. Também tinham a esperança de que no interior talvez ele pudesse ter mais comida e conforto. Porém, cansado da rotina diária de trabalho e dos castigos impostos por seus professores, Akira foge e volta para casa. Seus pais pensam em manda-lo de volta para o interior, mas ele se recusa. No fim, acaba pensando que seus pais não o querem por perto. Akira é um garoto que estava se tornando amargurado e confuso. Nakazawa utiliza este personagem como um recurso para demonstrar a aflição que se batia dentro das próprias famílias, e de que até mesmo as áreas rurais passaram por racionamentos.

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Fig.3

Eiko é a irmã mais velha de Gen. Ela é uma personagem bastante passiva, geralmente dando bronca nos meninos e se preocupando com a mãe grávida. Ela protagoniza um episódio bastante problemático. Aos ser acusada de roubo na escola, os professores tiram sua roupa e a humilham. Ela volta pra casa inconformada e não querendo mais voltar pra escola. Seu pai descobre e ao tirar satisfação, fica sabendo que a denúncia era mentira, apenas para humilhar a família dos antipatriotas. Em outros momentos, Eiko é a irmã que ajuda nos negócios da família e se propõe a trabalhar para ajudar em casa.

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Fig.4

Kouji é o filho mais velho da família. É convocado a trabalhar em fábricas de armamentos para ajudar no esforço de guerra. Sua mãe sempre está preocupada com a possibilidade de sua fábrica ser bombardeada e ele acabar morrendo. Chateado com a situação de sua família, e pensando em livrá-los da alcunha de antipatriotas, Kouji se alista na marinha imperial do Japão, mesmo não tendo esta vontade, o que pode ser percebido pelas expressões faciais usadas pelo autor. Seu pai se põe veementementecontra sua ida, chegando a bater no filho no intuito de demovê-lo de sua escolha. Quando chega para se alistar, encontra dois outros soldados do esquadrão Kamikaze que tentam fazê-lo desistir de sua idéia de alistar-se. O autor mostra através destes soldados, e posteriormente, do treinamento de Kouji, que os próprios soldados muitas vezes não estavam satisfeitos com suas escolhas. Mostra que muitos deles se alistavam por achar que a carreira militar era bonita e que traria status, ou que seguiam

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por esse caminho para não serem chamados de covardes, ou no caso de Kouji, para limpar o nome da família

.

Fig. 5

Kimie é a mãe da família. Grávida, ela ajuda o marido com o trabalho e tenta da melhor forma possível administrar os recursos da família. Kimie sofre com a falta de comida pela qual seus filhos passam e tenta encontrar formas de fazer a pouca comida render. Mesmo grávida, é retratada como uma personagem forte. Chega a enfrentar o líder do bairro com uma faca para proteger os filhos na época em que seu marido estava preso. Kimie acaba sofrendo com a desnutrição, levando Gen e Shinji a se passarem por mendigos para conseguir algum dinheiro. A personagem se torna o ponto de atenção depois da morte do resto da família. Logo após a explosão seu bebe nasce, e uma nova etapa de desafios se inicia para que a bebe não passe fome.Kimie é uma personagem forte, que está sempre pensando na família, mesmo grávida e com problemas de saúde.

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Nakazawa retrata a personagem de forma cândida e respeitosa, deixando transparecer o respeito e o reconhecimento que carrega pela memória de sua mãe real.

Fig. 6

Gen, o protagonista, é o alter-ego de Nakazawa. Garoto enérgico, Gen faz de tudo para não desanimar frente às dificuldades. O personagem protagoniza a maior parte das cenas onde podemos fazer análises de memória e história. Enquanto os momentos com os outros personagens tendem a ser mais imaginativos, os momentos vividos por Gen são também pautados nas memórias de Nakazawa. Segundo o Dicionário de Filosofia, Memória pode ser tanto

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1 conservação e persistência de conhecimentos passados que, por serem passados, não estão mais à vista: é a retentiva. 2 possibilidade de evocar quando necessário, o conhecimento passado e de torna-lo atual ou presente: é propriamente a recordação.15

Neste caso, o personagem Gen é recordação, onde nakazawa, ao transformar suas memórias em quadrinhos, tem em Gen tanto a representação em si, como personagem, quanto a representação de suas recordações, como ferramenta de reconstrução memorial e narrativa histórica. Porém, para além disso, Gen é o personagem usado para ancorar toda a reflexão histórica presente na obra. Por mais que tenha perdido espaço para a maneira historiográfica de se fazer história através de documentos e para a chamada história-problema, a história narrada é também história. Me amparo em Le Goff para afirmar isto:

Mas nas línguas românicas (e noutras), “história” exprime dois, se não três, conceitos diferentes. Significa:

1) A investigação das ações realizadas pelos homens”(Heródoto) que se esforça por se constituir em ciência, a ciência histórica;

2) O objetivo da investigação é o que os homens realizaram. Como diz Paul Veyne, a “história é quer uma série de acontecimentos, quer a narrativa desta série de acontecimentos.(1968, p.423).

Mas a história pode ter ainda um terceiro sentido, o de narrativa. Uma história é uma narrativa, verdadeira ou falsa, com base na “realidade histórica” ou puramente imaginária – pode ser uma narrativa histórica ou uma fábula.16

A figura do narrador também aparece como a voz de Nakazawa. O narrador geralmente é usado para informar dados e fatos históricos ao leitor, mas também faz comentários ácidos e de protesto no decorrer da história:

“A cúpula da guerra divulgava notícias falsas pelo rádio e pelos jornais, para que o povo acreditasse na supremacia japonesa... No resto do tempo, discutiam como incitar mais ainda a guerra. E quem saía prejudicado era o povo, exposto diariamente aos bombardeios inimigos.”17

15 ABBAGNANO, 2007, p. 657 16 LE GOFF, 2013, p. 22 17 NAKAZAWA, 2011, volume 01, pág 128.

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Diferentemente de outras obras de quadrinhos japoneses, comumente conhecidas pela palavra japonesa mangá, o narrador em Gen aparece com frequência, pontuando e comentando fatos e fazendo juízos sobre as ações tomadas tanto pelo povo japonês quanto pela alta cúpula militar das forças armadas nipônicas. Em outras obras o narrador não aparece muito, apenas em raros casos, como no início da história ou nas últimas páginas de uma série. Ressalto aqui que me refiro ao narrador que aparece em palavras, fora dos balões da fala. Pois, quando tratamos com quadrinhos, tudo é narrativa. Até mesmo as cenas onde não há falas, apenas ilustrações, são partes da comunicação do narrador. Inclusive o espaço entre os quadros, chamado vulgarmente de sarjeta, é ferramenta de narração. Esta, aliás, é uma das ferramentas mais importantes e características dos quadrinhos. É nesse espaço que o leitor preenche com sua própria imaginação a história, tornando-se, ao mesmo tempo, participante e autor.18

A explosão atômica acontece nas últimas páginas do primeiro volume, e a partir do segundo a história muda de tom. As dificuldades, antes representadas principalmente pela família Nakaoka, agora aparecem de maneira generalizada. O autor mostra os efeitos imediatos da explosão, como pessoas com a pele derretida vagando pelas ruas, sem os olhos, com pedaços de vidro grudados pelo corpo, e os efeitos que passam a acontecer com as pessoas contaminadas pela radiação, referidos no quadrinho como sintomas da “doença da bomba”. A fome se acentua, e as cidades vizinhas à Hiroshima começam a ter problemas de ordem social e conflitos com as pessoas sobreviventes da bomba. Essa mudança psicológica na história é um indício do que o autor pode considerar como a fase mais difícil pela qual passou. Apesar de que não trabalharei com os volumes seguintes, vale citar que a partir do terceiro volume os momentos de humor vão gradativamente voltando. Porém, do momento da explosão até o fim do segundo volume, a história segue pesada e melancólica. Os poucos momentos de humor são seguidos de momentos negativos, como na parte em que Gen se alegra ao reencontrar seus familiares, mas estava apenas sonhando.

Um ponto que pode chamar bastante atenção ao leitor mais atento é a falta de menções ao Imperador nos primeiros volumes. Em outros volumes, o personagem o menciona e o culpabiliza por muitas coisas sobre a guerra, mas nos dois primeiros volumes analisados, essa crítica não aparece. Talvez deliberado, esse silêncio diz muitas coisas. Talvez a intenção do autor foi a de demonstrar que, por ser criança, Gen ainda

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não teria feito as conexões de culpa entre o que lhe aconteceu e o quanto disso foi causado pelo Imperador. De certa forma, podemos afirmar que esse tipo de pensamento seria muito precoce nesta etapa da história, e isto não ocorre nem aos personagens adultos. As pessoas estavam se preocupando com o que comer e onde dormir, e não com política nestes dois volumes abordados, que leva a história até algumas semanas após a detonação atômica. Nakazawa condena por muitas vezes as ações de toda a alta cúpula das forças armadas japonesas, mas em nenhum momento, nos volumes analisados, é feita uma acusação ao Imperador. Hirohito aparece nas páginas de Gen apenas em algumas passagens, como na fala de alguns cidadãos de Okinawa que se jogam no mar para não morrer nas mãos dos ‘bárbaros americanos’, ou quando o irmão mais velho de Gen, Akira, faz uma reverência em direção à Tóquio, juntamente com sua turma do colégio.

Mesmo para os japoneses, o não julgamento do imperador Hirohito foi uma surpresa. Segundo Henshall:

O grande salvador de Hirohito foi MacArthur. Encontraram-se em privado no fim de Setembro e MacArthur ficou muito impressionado com ele. Parece ter havido uma forte afinidadepessoal entre ambos. Em especial, partilhavam o ódio ao comunismo. MacArtur pensou que manter pessoalmente Hirohito, e não apenas a instituição imperial, constituiria a salvaguarda mais eficaz contra a anarquia e o comunismo.19

Importante frisar algumas coisas sobre a historiografia japonesa. Nesta etapa da pesquisa, o acesso às fontes ocidentais se mostrou mais fácil, porém, os japoneses não mantiveram silêncio sobre esta questão. A historiografia japonesa, desde as primeiras décadas, tem denunciado e documentado as ações do governo japonês e do imperador na guerra. Não se pode afirmar quais eram as opiniões pessoais de Nakazawa sobre o imperador e sua permanência no poder. Hirohito renunciou em público sua divindade e se assumiu como humano, passando a visitar e ter contato com as pessoas de seu país. A contragosto, apesar de tudo. 20Se Nakazawa acreditava ou não no que a mídia tentava colocarretratando como um senhor gentil que fora enganado pelos militares, não se pode afirmar através dos volumes analisados. A princípio, parece ser difícil que o autor compactue com essas idéias.

19

HENSHALL, 2008, p.203

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O autor coloca em algumas passagens comentários sobre luta de classes. Utilizando-se principalmente do narrador para estas colocações, Nakazawa denuncia o esforço de guerra, que levou tantos jovens a se sacrificarem nas fábricas e nos campos de batalha, principalmente das classes mais baixas, enquanto os generais ficavam confortáveis fazendo seus jogos de guerra. Denunciou também o trabalho escravo ao qual coreanos e chineses eram submetidos para abastecer as tropas japonesas.

Fig. 7

Um personagem coreano aparece durante os capítulos. Trazido para trabalhar no Japão, Senhor Pak está sempre usando um uniforme muito parecido com o dos militares japoneses. É uma figura pacífica, mas que sofre discriminações por toda parte. A família Nakaoka sempre o tratou bem, apesar de ser um coreano. Porém, quando outras crianças vêem os irmãos Nakaoka conversando com Pak, caçoam deles.

O preconceito com os coreanos é de longa data. Henshall comenta sobre a atitude nipônica em relação aos coreanos após o grande terremoto de Tóquio, em 1923:

Alguns japoneses chegaram a acreditar que o próprio terramoto fora causado por coreanos, que irritaram os deuses com a sua presença em solo japonês. No estado de relativa ausência de lei dos dias que se seguiram imediatamente

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ao terramoto (de facto, fora declarada a lei marcial), estima-se que tenham sido mortos por milícias populares cerca de 6.000 coreanos.21

Sempre presente nestes assuntos, Daikichi aparece para fazer uma fala educativa. O personagem Gen muitas vezes corrobora com o senso comum apresentado pelo autor, mas logo é ‘educado’, muitas vezes de forma bastante enérgica, por seu pai. Daikichi sempre tenta apelar à razão com seus filhos, para que eles não reproduzam as idéias militaristas e preconceituosas propagadas pelos jornais e mídia japonesas da época.

A participação do Senhor Pak se encerra no meio do segundo volume. Saindo de sua atitude pacífica, grita e briga com Gen, dizendo odiar todos os japoneses. Gen o ajuda a construir o caixão do pai de Pak, que havia morrido porque os médicos se recusaram a tratar de um coreano. O garoto promete que, quando for adulto, jamais desprezará os coreanos.

O senhor Pak foi um personagem utilizado para demonstrar que os japoneses causaram muito mal aos povos que dominaram durante a guerra. É uma tentativa de evitar o revisionismo histórico sobre a guerra. Em outros volumes, Nakazawa faz referências às outras atrocidades cometidas pelo exército japonês, dentre elas, o Massacre de Nanquim, mas o personagem coreano é a primeira referência ao assunto. Vale ressaltar que os ressentimentos por parte dos coreanos com os japoneses ainda existe, haja vista que os governantes japoneses, dentre eles o atual primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, continuam visitando o templo Yasukuni, erigido em memória dos heróis de guerra japoneses, dentre eles, alguns criminosos de guerra.22

21

HENSHALL, 2008, p. 153

22 LUSA. Diário de notícias globo. Visita de PM japonês a templo Yasukunisob críticas.

Disponível em: http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=3604794&seccao=%C1sia

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Fig. 8

Talvez o exemplo mais conhecido de revisionismo historiográfico seja o que envolveu o candidato ao prêmio Nobel da Paz, o historiador Saburo Ienaga. Saburo foi um professor universitário durante o período da guerra. Em sua autobiografia, Japan's

Past, Japan's Future: One Historian's Odyssey, o autor relata toda a odisseia jurídica

pela qual sua obra passou, além de comentar sobre como a historiografia japonesa foi tratada pelo governo, tanto as obras denunciantes, quanto as revisionistas. Ienaga teve seu livro lançado pelo ministério da educação japonês, mas com a condição de que aceitasse os mais de duzentos cortes feitos pelo governo. Ienaga não aceitou e entrou na justiça para que sua obra fosse lançada integralmente. Recebeu apoio de comunidades internacionais, como da China e Coréia do Sul, e Noam Chomsky o indicou para o Nobel. Sua luta jurídica se arrastou até a década de noventa.

A obra de Nakazawa se estende por muitos temas, e, como em todo trabalho de história, tive que fazer escolhas para elencar nesta redação. As histórias-narrativa tem tido seu espaço renovado pelos avanços da microhistória e da história oral, diversificando o campo documental ao qual os historiadores podem se debruçar. Nakazawa, ao escrever sobre sua própria história e sobre a história de sua cidade, e em

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certa medida, de seu país, não está apenas produzindo uma obra artística e/ou de entretenimento. Nakazawa faz uma análise histórica de seu tempo, aproximando-se bastante do ofício do historiador. Mesmo tendo sido testemunha ocular, preocupou-se em buscar nos documentos históricos e nos arquivos os detalhes necessários para dar veracidade e autenticidade à sua obra. Assim como os historiadores, buscou a verdade, mesmo que para tentar alcança-la, tenha lançado mão a ferramentas de narrativa ficcional. Em maior ou menor medida, não é isso que os historiadores fazem? Não é toda história, além do fato em si, também uma narrativa? Outro ponto a ser pensado é sobre a categorização das histórias em quadrinhos no rol das “novas fontes”. Ora, se este meio de comunicação já data de mais de um século de existência, porque os historiadores levaram tanto tempo para dar-lhes a atenção devida? Este tipo de provocação é necessária para tirar-nos de nosso lugar comum e incitar –nos ao uso de fontes mais variadas do que as comumente encontradas em arquivos públicos e depósitos documentais. Não que não tenham sua importância, mas estas que constituem as novas fontes da história também tem muitas coisas a nos dizer, e nós temos muito mais coisas a lhes perguntar.

CONCLUSÃO

Este trabalho buscou problematizar as noções de documento histórico e analisar quais foram as perspectivas que Nakazawa abordou para contar a história da explosão atômica de Hiroshima, levando em conta todas as particularidades que as histórias em quadrinhos tem e que devem ser levadas em consideração e, principalmente, tomando o cuidado de não trata-las como uma mera junção de textos e imagens. Percebeu-se que, através de ideias simples transparecidas nos personagens, o autor tratou de todos os problemas sociais e filosóficos de que sua memória o lembrou.

Outros trabalhos poderiam ser feitos sobre esta obra, e as reflexões de cunho historiográfico poderiam ser estendidos, haja vista que tudo que foi pensado partiu de alguns fragmentos de apenas dois volumes.

Nos oito volumes restantes, temas como a ocupação americana, o mercado negro e o fortalecimento da máfia japonesa, a reestruturação econômica do Japão e os

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contínuos efeitos negativos da radiação atômica se fazem presentes e poderão servir de fonte para ampliar o estudo sobre a obra de Nakazawa.

Uma análise cruzada entre o quadrinho e os filmes que foram produzidos baseados na obra seria um dos caminhos, assim como o confrontamento com outras obras artísticas que tratam deste tema. Destaco entre elas o livro Chuva Negra, de Masuji Ibuse, e o filme O Cemitério dos Vagalumes, de Hayao Miyazaki, ambos tratando dos temas da guerra no Pacífico e suas consequências.

Vale também uma reflexão futura sobre o uso dos quadrinhos na educação, e uma investigação especifica sobre o uso da obra Gen nas escolas japonesas. Citando Adriane Sobanski:

Valorizar a empatia que os quadrinhos causam nos jovens em relação aos conhecimento histórico é fundamental. Segundo estudantes investigados, o uso de histórias em quadrinhos por si só já permite uma aprendizagem histórica significativa, pois eles gostam e lêem esses artefatos culturais. Os quadrinhos promovem um aprendizagem divertida e com facilidade de leitura, que permite ua melhor emorização dos conteúdos.23

As possibilidades de continuar a pesquisa são encorajadoras, e as perguntas a serem feitas, inúmeras.

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REFERÊNCIAS

CHARTIER, Roger. A História Cultural – Entre práticas e representações. Algés: Difel, 2002.

HENSHALL, Kenneth. História do Japão. Lisboa: Edições 70, 2008.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Editora da Unicamp, 2013

LUYTEN, Sonia Bide. Mangá: o poder dos quadrinhos japoneses. São Paulo: Hedra, 2011

MCCLOUD, Scott. Desvendando os quadrinhos. São Paulo: M. books, 2005

NAKAZAWA, Keiji. Genpés descalços – volume um: o nascimento de Gen o trigo verde. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2011

NAKAZAWA, Keiji. Gen pés descalços – volume dois: o Trigo é pisoteado. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2011

OBATA, Takeshi; OHBA, Tsugumi.Bakuman – volumes 1 ao 20. São Paulo: JBC, 2011.

SAKURAI, Célia. Os Japoneses. São Paulo: Contexto, 2008.

SOBANSKI, Adriane de Quadros, et al. Ensinar e aprender História: histórias em quadrinhos e canções. Curitiba: Base, 2009.

ZIERER, Otto. Pequena história das grandes nações: Japão. São Paulo: Círculo do Livro, 1976.

Referências

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